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FUNDAÇÃO CECIERJ. CONSÓRCIO CEDERJ TEORIA DA LITERATURA II PROF. DIANA KLINGER AVALIAÇÃO A DISTANCIA 2 - 2º SEMESTRE DE 2015 GABARITO Questão 1 - Destaque a recorrência, a preponderância e a repetição de fonemas e vogais no poema "Tecendo a manhã" de João Cabral de Melo Neto. • Por que o poeta teria intensificado o uso de certos sons/fonemas? • Em que parte do poema essa intensificação é mais perceptível e por quê? Eis abaixo o poema. Leia-o em voz alta para observar melhor a sonoridade a que nos referimos. Tecendo a Manhã 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. *************************** Questão 1 - O poema de João Cabral mostra um trabalho artesanal dos galos a compor (tecer) a teia da manhã, que vai sendo tecida através da integração de todos os galos e de forma gradativa, num movimento que avança e recua, repetidas vezes, tal qual o de um tear, na ação inicial de lançar e apanhar de um galo para outro. Nota-se que a tessitura empreendida vai ganhando ritmo, e dando ritmo às estrofes, à medida que o grito de muitos galos se cruza “para que a manhã, desde uma teia tênue, / se vá tecendo, entre todos os galos”. Assim, entre a primeira e a segunda estrofes, há uma espécie de aumento da gradação desse ritmo pela intensificação dos sons em relação ao trabalho realizado. No plano sonoro da primeira estrofe, há a recorrência da assonância com as vogais a, e, o, ao mesmo tempo em que a repetição de termos (galo, grito, lance, apanhe, um, outro) revela como surge a organização dessa tessitura coletiva. Na segunda estrofe, a intensificação de tal artesania dá-se pela assonância com a vogal e, inclusive a sua nasalização incide em diversos termos e no uso do gerúndio (encorpando/ erguendo/ entretendendo) a produzir na ação contínua o despontar da manhã firmada num “toldo de um tecido tão aéreo”. A aliteração (com maior destaque nos versos 10,11,12 e 13) também se faz fortemente presente com a entrada de “tecendo/ tela/ todos/ tenda/ toldos/ tecido”, no resultado final da cena. A repetição da palavra “todos” – a retomar “os galos” na sua comunhão e reiterar o anonimato desses protagonistas – é vista em diferentes arranjos: "entre todos", "entrem todos", "para todos"... "no toldo". Questão 2 - Resuma as ideias centrais de Todorov sobre a gramática da narrativa em função da discussão apresentada no vídeo. Questão 2 – Todorov apoia-se no fato das línguas apresentarem uma estrutura comum, apesar de suas diferenças, a qual contribuiria com a hipótese da existência de uma gramática universal, cuja unidade serviria de base para todo o mundo. No entanto, tal gramática não se limitaria ao campo linguístico, porque ela possui uma “realidade psicológica” que faz com que a estrutura alcance dimensões fora da língua. Essa ideia permite ao autor procurar a incidência dessa gramática no estudo das atividades simbólicas do homem, o que equivale dizer, no próprio discurso literário, do qual a narrativa faz parte. Todorov, então, procura analisar as estruturas narrativas a fim de estabelecer para elas uma gramática geral ou universal. Essa proposta tenta dar conta das obras particulares a partir de um aspecto estrutural que as fundamenta, podendo, inclusive, ocorrer uma comparação entre as diversas obras. Vale dizer que, no prefácio, o autor esclarece que o seu “objetivo continua sendo sempre não o conhecimento de tal romance ou de tal novela, mas o esclarecimento de um problema geral da literatura ou mesmo dos estudos literários”. (Todorov: 2006, p. 19). O capítulo em questão trata de mostrar o modo de aplicar o método em sua análise através de alguns exemplos extraídos de Decameron, de Boccacio. Para tanto, o autor trata de problemas das partes do discurso narrativo, o que corresponde à distinção entre descrição e denominação; à incidência maior de adjetivos e verbos na intriga; à recorrência de dois tipos de episódios existentes, entre outros elementos. Com isso, Todorov procura estabelecer uma função específica dos aspectos gramaticais e sintáticos estudados na língua nos textos literários. No final do artigo, Todorov explica: Esses poucos exemplos podem bastar para dar uma ideia da gramática da narrativa. Poder-se-ia objetar que, assim fazendo, não chegamos a “explicar” a narrativa, a tirar dela conclusões gerais. Mas o estado atual dos estudos sobre a narrativa implica que nossa primeira tarefa seja a elaboração de um aparato descritivo: antes de poder explicar os fatos, é preciso aprender a identificá-los. (Ibidem, p. 135)
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