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Fichamento Formação Econômica do Brasil de Celso Furtado

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Formação Econômica do Brasil de Celso Furtado
PARTE UM: Fundamentos econômicos da ocupação territorial
1. Da expansão do comércio (...)
Expansão comercial na Europa. “O início da ocupação do território brasileiro é (...) consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações européias”. Portugal e Espanha não tinham direito ao espaço que não houvessem ocupado efetivamente. Se não fossem ocupadas as terras seriam perdidas. Narra o autor o investimento espanhol em torno do México e outras regiões para a exploração do ouro e da mão de obra nativa. Pressão para a exploração do ouro. O direito às terras latinas é contestado pela Holanda, França e Inglaterra. Os espanhóis se concentram onde se extraem mais metais.
Contexto do continente europeu era de constante expansão comercial e a pressão que recaiu sobre Espanha e Portugal para ocupar as novas terras. Enquanto a Espanha ocupava visando expulsar invasores e explorar metais, Portugal fazia uma exploração agrícola na parte que lhe cabia nas Américas e foi a primeira nação a explorar o comércio fora da Europa.
2. Fatores de êxito da empresa agrícola
Portugal quebrou o monopólio do açúcar que havia até então, e os holandeses teriam estruturados o mercado açucareiro. Por outro lado, Portugal era grande conhecedor do mercado de escravos africanos, o que facilitou o empreendimento com relação à mão de obra.
3. Razões do monopólio
Decadência política da Espanha.
4. Desarticulação do sistema
Portugal – açúcar
Espanha – Metais
Holanda – comércio/mercado
Quebra da Espanha; exploração do açúcar pela Holanda 
5. As colônias de povoamento no hemisfério norte
Transporte de mão de obra européia para a America do norte para colonização e exploração de terras.
6. Consequência da penetração do açúcar nas Antilhas
Foi a especialização extrema da economia antilhana que estimulou o povoamento e desenvolvimento das colônias da América do norte. Os antilhanos não utilizavam suas terras e seus escravos senão para produzir açúcar, o que facilitou o intercâmbio comercial com as colônias norteamericanas, impulsionando seu desenvolvimento.
PARTE DOIS: Economia escravista de agricultura tropical
8. Capitalização e nível de renda
O rápido desenvolvimento da indústria açucareira indica o investimento português neste concentrado setor; aos colonos que se aventurassem o governo concedia privilégios tais quais isenção de tributos e garantias contra penhora. Nesse contexto, a escravidão é vista como condição de sobrevivência à empreitada, de onde vinha a força de trabalho. A captura de indígenas foi a primeira atividade a que se dedicavam aqueles que não se dedicavam à economia açucareira – o índio permitia uma sobrevivência marginal à do açúcar. O escravo africano torna o sistema que já estava estabelecido mais eficiente e mais densamente capitalizado, eis que havia todo um investimento em seu torno. A colônia açucareira se desenvolve mais rapidamente do que o governo português havia estabelecido.
Havia muita riqueza para uma população tão ínfima – constituída, em suma, pelos proprietários do engenho.
Pequena parte do lucro gerado se revertia para a manutenção da empresa, outra para consumo de artigos importados.
A economia açucareira era suficientemente rentável para se auto duplicar duas vezes. O crescimento da indústria foi governado pela possibilidade de absorção dos mercados compradores. Sugere o autor que boa parte do lucro açucareiro ficaria em mãos dos comerciantes – permanecendo fora da colônia.
9. Fluxo de renda e crescimento
Formação do capital: atuação em grande escala desde o início com capitais importados (equipamentos e mão de obra européia especializada). Depois de instalada a indústria o engenho tratava de se auto abastecer. Crescia a renda da coletividade em quantidade idêntica a ela mesma porque a inversão pagaria fatores de manutenção da empresa. 
“O fluxo de renda se estabelecia, portanto, entre a unidade produtiva, considerada em conjunto, e o exterior”. 
O autor ressalta que a economia da época não era feudal, uma vez que o feudalismo seria um sistema de economia atrofiada e isolada, o que não era o caso. Se o mercado externo absorvesse quantidades crescentes de açúcar num nível adequado de preços, o sistema poderia crescer até ocupar todas as terras disponíveis. Dada a relativa abundância delas, é de admitir que a possibilidade de expansão fosse ilimitada. A rentabilidade era suficiente para permitir que a indústria se auto financiasse ainda mais. Tudo indica que o aumento da capacidade produtora foi regulado com vistas a evitar colapso nos preços ao mesmo tempo que se tentava tornar o produto conhecido e ampliar a área de consumo. O crescimento foi considerável e persistiu durante um século. Não havia nenhuma possibilidade de que o crescimento com base no impulso externo originasse um processo de desenvolvimento de auto propulsão. O mecanismo da economia não permitia uma articulação direta entre produção e consumo. A economia escravista dependia, praticamente, da procura externa.
10. Projeção da economia açucareira: a pecuária
Havia surgido um mercado capaz de justificar a existência de outras atividades econômicas.
A economia do açúcar era de elevadíssimo coeficiente de importações, com grau de comercialização igualmente elevado, sendo de se esperar que os empresários não quisessem desviar seus fatores de produção para atividades secundárias. Mas a economia açucareira era tão grande que podia estimular o desenvolvimento de outras regiões do país evitando economias que concorressem com a metrópole.
Nas regiões que não se dedicavam ao açúcar, buscou-se explorar o trabalho indígena, voltando-se o foco para o interior, constituindo a atividade numa exploração militarizada que instigou a ocupação das regiões centrais do continente sul americano. O único artigo de relevância que poderia ser produzido internamente era a carne, cuja demanda cresceu na medida em que se expandiu a economia açucareira. Assim, ante a incompatibilidade da criação de gado simultânea à produção do açúcar, surgiu paralelamente a criação de gado para suprir as necessidades internas, inicialmente no nordeste e posteriormente no sul. 
A criação tinha uma dinâmica diferente da economia do açúcar e foi fator fundamental para a penetração e ocupação do interior brasileiro, apesar de ser, inicialmente, uma economia de baixa rentabilidade. A sua perspectiva de crescimento era a expansão territorial, e na medida em que a criação ia se distanciando ia ficando mais onerosa. Por outro lado, a pecuária era uma economia de pequenas dimensões se comparada à economia principal e q produzia certa parte para sua própria subsistência.
11. Formação do complexo econômico nordestino
As unidades produtivas tendiam a manter sua forma original nas etapas de expansão e de contração.
Ao se reduzir o estímulo externo, a economia açúcar entra em relativa prostração, reduzindo sua rentabilidade. No século XVIII a situação se agravou em razão do aumento do preço do escravo e da imigração européia em razão da busca pelo ouro. Com a decadência da empresa do açúcar, a pecuária, não regredindo, passou a ser um setor de subsistência, fornecendo artigos que outrora eram importados.
Do final do século XVII ao começo do século XIX, a economia nordestina sofreu um longo processo de atrofiamento, inclinando a renda per capita. Neste quadro a população livre tendia a migrar para o interior em busca de novas atividades dentro da pecuária; mas como esta dependia em maior parte da demanda da economia do açúcar, que entrava em declínio, o contingente populacional que se agregou só fez intensificar ainda mais a pecuária como economia de subsistência naquele período.
“No nordeste brasileiro, como as condições de alimentação eram melhores (...) na região pecuária, as etapas de prolongada depressão em que se intensificava a migração do litoral para o interior teriam de caracterizar-se por uma intensificação no crescimento demográfico”.
A expansão daeconomia nordestina nesse período consistiu num processo de involução econômica: o setor de alta produtividade ia perdendo importância relação e a produtividade da pecuária declinava à medida que crescia (havia pouca demanda externa e pouca demanda interna; ou seja, havia muita gente se agregando à pecuária e pouca economia externa à essa atividade para dinamizá-la e estimulá-la).
O nordeste foi se tornando uma economia em que grande parte da população produzia apenas o mínimo necessário para poder subsistir.
12. Contração econômica e expansão territorial
O século XVII constitui a etapa de maiores dificuldade na vida política da colônia. Em sua primeira metade, o desenvolvi da economia do açúcar foi interrompida pelas invasões dos holandeses (que subtraíram produção e produtos e sabotaram o fisco português). Depois, tem início a baixa dos preços provocada pela perda do monopólio. A rentabilidade da colônia baixou na medida em que crescia seu encargo para Portugal.
Narra o autor a grande dificuldade da colônia do Maranhão para sobreviver a partir de um quadro de desorganização política que levou sua população a subsistir parcamente por si só e com a caça de escravos indígenas. 
A medida que ia caçando autóctones para escravizar, os colonos iam adentrando na floresta e a conhecendo melhor, podendo a partir de então comercializar produtos florestais. Os jesuítas, no entanto, intervieram na predação dos indígenas, uma vez que tinham meios mais eficazes de incorporá-los à civilização colonizadora.
Ante a decadência do açúcar e a elevação do preço dos escravos, na região sul os couros passaram a ter maior importância.
PARTE TRÊS: Economia escravista mineira
13. Povoamento e articulação das regiões meridionais
Portugal tornou à idéia de buscar metais preciosos no seu quinhão americano. Com o conhecimento dos interiores pelos homens que ali residiam e com novos fluxos migratórios advindos da Metrópole começava, então, a busca pelo ouro. Até então as imigrações européias haviam sido escassas e financiadas pela Coroa com objetivos políticos, quando não era caso de imigração para investimento ou trabalho remunerado na indústria açucareira.
Não se exploravam grandes minas e sim o metal de aluvião que se encontrava no fundo de grandes rios.
O financiamento dessas correntes imigratórias se dava pelos próprios imigrantes. Estava presente ainda o trabalho escravo, mas como havia maior articulação e complexidade social, comparado ao período açucareiro, posto que agora a população era mais densa pela decorrência das migrações, os escravos não chegam a constituir a maior parte da população e pode até mesmo trabalhar por conta própria pagando certa renda periodicamente ao seu proprietário, existindo a possibilidade de comprar a sua liberdade.
A mineração era um empreendimento incerto no qual qualquer um podia se arriscar, com menos ou mais recursos. Não havia ligação à terra, pois a vida de uma lavra era incerta, e havia grande possibilidade de ascensão ou declínio social. A elevada lucratividade do negócio induzia a concentrar na própria mineração todos os recursos disponíveis. A excessiva concentração de recursos nos trabalhos mineratórios conduzia sempre a grandes dificuldades de abastecimento. A elevação do preço dos alimentos e animais de transporte nas regiões vizinhas constituiu o mecanismo de irradiação dos benefícios econômicos da mineração. A pecuária passa por uma verdadeira revolução com o advento da economia mineira.
Sistema de transporte: a região minera era montanhosa e distante do litoral, razão pela qual se via em dificuldades quanto aos meios de transporte – dificuldade essa que fora superada pela criação de tropas de mulas.
“(...) a economia mineira, através de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem as diferentes regiões do sul do país”.
14. Fluxo da renda
Em algumas regiões a curva de produção subiu e baixou rapidamente, gerando grandes fluxos e refluxos de população; em outras, essa curva foi menos abrupta, gerando um desenvolvimento demográfico regular e fixação definitiva de importantes núcleos de população.
Se bem que a renda média da economia mineira haja sido mais baixa do que a do açúcar, seu mercado apresentava potencialidade muito maiores – tinha dimensões superiores porque a importação representava proporção menor do dispêndio total, além de a renda estar muito menos concentrada, dado que a proporção da população livre era maior. A população estava em grande parte reunida em grupos urbanos e semi-urbanos. A distância entre os portos e a região mineira encarecia os artigos importados. Tais fatores favoreceram o mercado interno. No entanto, não houve grande desenvolvimento manufatureiro, em parte porque não havia precedentes para tal e os imigrantes não tinham capacidade técnica, e em parte também porque o governo imperial coibia (mesmo Portugal carecia de desenvolvimento necessário nesse aspecto).
Situação de Portugal: primeiro, havia firmado um acordo com a Inglaterra que garantia prioridade dos vinhos portugueses com a contrapartida do não protecionismo com relação aos tecidos ingleses (mas os tecidos eram mais caros do que os vinhos, o que criava um déficit na balança comercial portuguesa). Nesse momento, começa a fluir ouro da colônia, havendo grande deslocamento populacional para a América, o que deixou a população local escassa, e havendo ainda investimentos não retornáveis feitos em obras públicas. Assim, com o déficit populacional e com o fluxo monetário não sendo retornável, Portugal não desenvolveu o setor manufatureiro, encontrando-se vulnerável quando da Revolução Industrial, sendo uma extensão agrícola da Inglaterra. A Inglaterra foi o único país da Europa que conseguiu efetivar investimentos no setor manufatureiros, por aspectos internamente favoráveis.
15. Regressão econômica e expansão da área de subsistência
Era natural que, com o declínio da era do ouro, viesse uma rápida e geral decadência. O sistema ia se atrofiando até se desagregar-se novamente em uma economia de subsistência. O trabalho escravo impediu que a crise criasse fricções sociais de maior vulto. Em poucas décadas o sistema mineiro se desarticulou completamente.
PARTE QUATRO: Economia de transição para o trabalho assalariado do século XIX
16. O Maranhão e a falsa euforia do fim da época colonial
“Observada em conjunto a economia brasileira se apresentava como uma constelação de sistemas em que alguns se articulavam entre si e outros permaneciam isolados. As articulações se operavam em torno do açúcar e do ouro, e articulada de forma mais frouxa ao núcleo do açúcar estava a pecuária”.
O único sistema que teve relativa prosperidade no final do século XVIII foi o Maranhão, que teve atenção do governo português para erradicar os jesuítas. Pombal ajudou a região criando uma companhia de comércio que financiaria o desenvolvimento da região (erradicou a escravidão indígena a que os jesuítas se dedicavam através de importação de escravos africanos, mudando a fisionomia étnica da região). Com a mudança no mercado mundial (independência dos EUA e Revolução Industrial), os dirigentes da campanha perceberam o crescimento na demanda pelo algodão e pelo arroz. Assim, o Maranhão teve excepcional prosperidade no período.
17. Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política
Ocupado o reino português pelas tropas francesas, desapareceu o entreposto que representava Lisboa para o comércio da colônia. A abertura dos portos de 1808 segue pelos tratados de 1810 que transformavam a Inglaterra em potência privilegiada (que limitam a autonomia do governo brasileiro). A separação definitiva de Portugal em 1822 consolida a posição da Inglaterra, fazendo que o Brasil assuma a posição passiva que antes assumia Portugal. A única elite presente era a agrícola. “O desaparecimento do entreposto lusitano logo se traduziu em baixa de preços nas mercadorias importadas (...), facilidade de crédito mais amplas e outras óbvias vantagens para os agricultores”.
O governo agrícola brasileirocomeçou a se embater com a Inglaterra que, apesar de pregar uma economia política liberalista, exigia muitos privilégios de seus produtos no mercado brasileiro sem contudo dar contraprestação na mesma medida. Assim, ante a resistência brasileira nesse sistema, e com a necessidade antilhana de superar o Brasil na produção de açúcar, a Inglaterra tentou vedar a importação de escravos africanos, vedação esta que em muito fora frustrada.
Com a estagnação econômica generalizada no cenário mundial, o governo central se enfraquece e cresce a insatisfação por todo o país. Rebeliões armadas no norte e a guerra civil no extremo sul.
Surge o café como fonte d riqueza em 1830. “Graças a essa nova riqueza forma-se um sólido núcleo de estabelecimento na região central mais próxima da capital, o qual passa a constituir verdadeiro centro de resistência contra forças de desagregação”.
Era quase inexistente um aparelho fiscal; o governo central não consegue arrecadar recursos para coibir seus gastos.
Emissões de papel moeda criavam um déficit comercial que afetava principalmente a população urbana, acarretando em seu empobrecimento.
18. Confronto com o desenvolvimento dos EUA
Os EUA, que tiveram uma situação em muito semelhante com a do Brasil – iniciara na qualidade de colônia agrícola – tivera um desenvolvimento industrial notável enquanto o do Brasil era rudimentar ou inexistente. Isso se deve segundo o autor, de início pela diferença na estrutura social – aqui havia grandes latifundiários enquanto lá havia pequenos produtores, além de os fluxos migratórios atuarem de formas diversas. Os EUA foi em certa medida estimulada pela Inglaterra até certo ponto de seu desenvolvimento agro-industrial para suprir as faltas de mercado da Metrópole, enquanto que no caso brasileiro a Metrópole servia de comerciário e intermediário dos produtos doravante produzidos. Além disso, muito precocemente os colonos norte-americanos se voltaram para o mar, sendo que cedo em sua história eles já produziam e se utilizavam de seus próprios navios.
19. Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do século XIX
Houve tentativas de fomentar a indústria, seja por investimentos nesse setor (que foram infrutíferos posto que não havia mercado), seja pelo estímulo ao consumo de produtos nacionais, o que também teve dificuldade para se concretizar, ante o quadro de generalizada estagnação.
A industrialização teria sido possível se fossem fortes as exportações. Contudo, o Brasil crescia em um ritmo maior do que exportava, e seus produtos sofriam desvalorizações no mercado internacional gradualmente.
20. Gestão da economia cafeeira
A primeira metade do século XIX fora caracterizada por um crescimento vegetativo lento e estagnação econômica. “Para superar a etapa de estagnação, o Brasil precisava reintegrar-se à economia mundial em crescente expansão”, o que era difícil ante a tendência declinante dos produtos brasileiros. O algodão se torna produto que serve apenas para complementar a economia de subsistência até que a guerra de secessão dos EUA tire a produção norteamericana do mercado.
No meio do mesmo século começa o ciclo do café. O produto, explorado principalmente na região do Rio de Janeiro, atendia às necessidades locais, porque introduzia ao mercado mundial um produto necessariamente agrícola, cultivado por mão de obra e escrava e adaptável ao sistema local. Com o café surge uma nova classe empresária, formada principalmente por homens com experiência comercial.
21. O problema da mão de obra: I. Oferta interna potencial
Inicialmente, a mão de obra se constituía integralmente pelo trabalho escravo – cerca de 1,5 milhão de indivíduos, cuja perspectiva de vegetabilidade e natalidade eram curtas. Com as dificuldades impostas pela Inglaterra no comércio de escravos africanos, começou a haver procura interna, drenando escravos de regiões relativamente estabilizadas para regiões de economia crescente, como o fluxo do Maranhão para o Sul. Enquanto isso, países mais desenvolvidos tinham processos de industrialização que aumentavam a população urbana com mão de obra qualificada excedente. No Brasil, o sistema econômico de subsistência era caracteristicamente disperso e rudimentar, ligado ao sistema pecuário. Também nas zonas urbanas encontrava-se uma massa de população que dificilmente encontrava ocupação permanente e que tinha difícil adaptabilidade à vida rural. Assim, ante a dificuldade em se recrutar mão de obra livre dentro do país e com a escassez de mão de obra escrava, passou-se a cogitar a importação de mão de obra asiática em regime de semi servidão.
22. O problema da mão de obra: II. A imigração européia
Uma alternativa proposta ao problema da escassez de mão de obra foi a imigração européia, ao exemplo dos EUA para onde se dirigiam grandes contingentes populacionais da Europa anualmente, embora a migração na América do norte se desse por razões distintas. “As colônias criadas em distintas partes pelo Brasil pelo governo imperial careciam de fundamento econômico, se baseando mormente na suposta superioridade racial do trabalhador europeu, mesmo sobre os colonizadores originários, e incutiam fortes investimentos e subsídios do governo para muitas vezes definharem. 
Inicialmente, se adotou um modelo de servidão disfarçada, à exemplo do que fizera a Inglaterra com os colonos ingleses que se dirigiam às Antilhas; depois, com a má repercussão desse sistema nos Estados germânicos, com a expansão da economia do café e com a crise da economia do algodão na América do norte – que fez aumentar a demanda no Brasil – a necessidade de mão de obra se tornou urgente de tal modo que se passou a adotar o sistema assalariado ao trabalhador europeu, sendo que o governo imperial arcaria com os custos de transporte. Além disso, era cedido ao imigrante um pedaço de terra onde ele poderia cultivar gêneros primários para a subsistência sua e de sua família. Esse conjunto, assomado à instabilidade política pela qual passava a Itália em decorrência do excedente de população agrícola, deu impulso a um intenso fluxo de imigração européia ao Brasil.
23. O problema da mão de obra: III. Transumância amazônica
Dado que houve um aumento súbito na procura pela borracha, produto oriundo de plantas da região amazônica, o que estimulou a migração da região nordeste para a região da Amazônia, o que foi possível graças ao excedente criado pela imigração européia para a economia cafeeira.
Ante a excelente qualidade de terra das regiões dos estados do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o cultivo de alimentos por parte dos imigrantes europeus cria um enriquecimento alimentar que faz a região crescer econômica e vegetativamente, fortalecendo a região sul em detrimento das outras e causando admiração entre visitantes estrangeiros.
Na região das minas, por outro lado, a baixa qualidade de terras faz com que as populações empreendam em longos deslocamentos, direcionando boa parte da população para a região de São Paulo e do Mato Grosso.
24. O problema da mão de obra: IV. Eliminação do trabalho escravo
A escravidão envolvia questões econômicas e sociais amplas muito entrelaçadas. Prevalecia a idéia de que um escravo era uma riqueza e que a abolição da escravidão acarretaria em empobrecimento da população. Contudo, afirma o autor que a abolição constitui apenas a redistribuição de propriedade entre a coletividade. 
Libertados, os ex escravos encontraram dificuldades em sobreviver na sociedade brasileira como se apresentava no período; por um lado, havia um excedente urbano já em estado caótico que dificultava sua adaptação; por outro, a economia de subsistência se expandia cada vez mais, se afastando de modo a ficar inacessível. Em grande parte – tanto na economia açucareira quanto na cafeeira – o que se buscou foi seguir regimes que se assemelhassem ao da escravidão, como os que forneciam salários muito baixos aos trabalhadores ex escravos.
Ainda assim, com as inovações técnicas e novos padrões de consumo, a procura pormão de obra na indústria do açúcar diminuiu significativamente. E quanto à economia cafeeira, justamente quando essa buscava novas terras para se expandir e criava estradas de ferro, vieram contingentes de imigrantes europeus, sendo que houve preferência do trabalho estrangeiro ao ex-escravo.
O ex escravo, inapto ao convívio social e desestimulado economicamente, tendia a preferir o ócio. “Cabe tão somente lembrar que o reduzido desenvolvimento mental da população submetida à escravidão provocará a segregação parcial desta após a abolição, retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país”.
A abolição da escravidão visava apenas eliminar uma das vigas do colonialismo que entorpecia o desenvolvimento econômico do país.
25. Nível de renda e ritmo de crescimento na segunda metade do século XIX
“Considerada em conjunto, a economia brasileira parece ter encontrado uma taxa relativamente alta de crescimento na segunda metade do século XIX”. Entre 1940 e 1890 o quantum das exportações brasileiras aumentaram 214%, nesse número crescendo também o preço médio dos produtos. No nordeste, no entanto, os produtos exportados não tiveram grande valorização, o que depreende que a prosperidade não se deu em todo o país.
Divide a economia brasileira em três setores principais:
O primeiro, a economia do açúcar e algodão e a economia de subsistência a eles ligada; é formado pela faixa que se estende de Sergipe até o Maranhão, cuja população na época era um terço do total nacional, cujo crescimento era superior à renda. Havia um sistema litorâneo de exportações e mediterrâneo de subsistência.
O segundo, formado pela economia de subsistência do sul, e se beneficiou indiretamente da expansão das exportações. Alguns setores da economia de subsistência puderam expandir a faixa monetária de suas atividades produtivas. 
“Na região paranaense, p. ex., a grande expansão da produção de erva-mate para exportação trouxe um duplo benefício à economia de subsistência, em grande parte constituída de populações transplantadas da Europa (...). Os colonos que se encontravam mais no interior puderam dividir seu tempo entre a agricultura de subsistência e a extração de folhas de erva mate, aumentando substancialmente a sua renda. Os colonos mais próximos ao litoral se beneficiaram da expansão do mercado urbano, expansão essa que tinha seu impulso primário no desenvolvimento das exportações”.
“No RS, coube o impulso dinâmico ao setor pecuário, através de suas exportações para o mercado interno do país. Essas exportações passaram a constituir a metade das vendas totais do estado para os mercados internos e externos, em fins do século XIX”.
E o terceiro, tendo como centro a economia cafeeira. Compreende o Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Teve um crescimento de cerca de 2,2% e uma grande movimentação demográfica.
Duas regiões demográficas permaneceram fora desse sistema: a região da Bahia, que possuía 13% da população do país, que sobrevivia da economia do cacau e do fumo, e a Amazônia, que correspondia a 3% da população e se valia da economia da borracha.
O nordeste parece ser a única região cuja renda per capta diminuiu.
26. O fluxo de renda da economia de trabalho assalariado
“O fator de maior relevância ocorrido na economia brasileira do último quartel do século XIX foi o aumento da importância relativa do setor assalariado”. A expansão anterior se fizera seja através do crescimento do setor escravista, seja pela multiplicação dos núcleos de subsistência. A nova expansão tem lugar no setor que se baseia no trabalho assalariado (economia cafeeira). Dentro dessa economia, se destacam-se dois grupos: os assalariados, que revertem sua renda em gastos de consumo, e os proprietários, cujo nível de consumo é muito superior, retém parte de sua renda para aumentar seu capital. Os gastos de consumo constituem a renda dos pequenos produtores e comerciantes (que também transformam parte de sua própria renda em gastos de consumo). A soma de todos esses gastos excede necessariamente a renda monetária criada pela atividade exportadora. Isso quer dizer que com o trabalho assalariado surgiu um mercado interno. “A massa de salários pagos no setor exportador vem a ser, por conseguinte, o núcleo de uma economia em condições de crescer mais intensamente que a economia de exportação”.
“A estabilidade do salário real médio no setor exportador não significava que o mesmo ocorresse no conjunto da economia”. “Como a população crescia muito mais intensamente no setor monetário que no conjunto da economia, a massa de salários monetários – base da economia – aumentava mais rapidamente que o produto global”.
27. A tendência ao desequilíbrio externo
Problemas do novo sistema econômico: 
Impossibilidade de adaptar-se às regras do padrão-ouro, base da economia internacional que radicava que cada país devia valer-se de uma reserva metálica suficientemente grande para cobrir os déficits ocasionais de sua balança de pagamentos. Uma reserva metálica constituía uma inversão improdutiva, que era na verdade a contribuição de cada país para o financiamento a curto prazo das trocas internacionais.
As exportações representavam grande parte da economia nacional, sendo que as oscilações no mercado mundial podiam traumatizar o sistema interno. No momento em que se deflagrava a crise nas economias industriais, os preços dos produtos primários caiam bruscamente, reduzindo-se de imediato a entrada de divisas nos países de economia dependente.
28. A defesa do nível de emprego e a concentração da renda
A reserva de uma mão de obra dentro do país permitiu que a economia cafeeira se expandisse durante um longo período sem que os salários tendessem para a alta. Assim, uma vez que os lucros eram constantes (de acordo com as oscilações do mercado externo) e não havia reivindicações para o aumento do salário dos trabalhadores, os proprietários da indústria cafeeira optavam por expandir as plantações de café, dada a abundância de terras disponíveis, em vez de investir em melhoria das técnicas de cultivo e produção, não havendo preocupação com a sustentabilidade do solo.
O desequilíbrio externo decorria de uma série de fatores ligados à própria natureza do sistema econômico. A contração do sistema exportador traduzia-se em redução da margem de lucro. “A contração da renda global resultante da crise se manifestaria numa redução da remuneração das classes não assalariadas”. Para corrigir o desequilíbrio externo recorria-se ao encarecimento de produtos importados, já que os produtos nacionais tinham baixa nos preços e consequentemente a moeda sofria desvalorização no exterior, e tributava-se a inversão de capitais ao exterior.
“O processo de correção do desequilíbrio externo significava uma transferência de renda daqueles que pagavam as exportações para aqueles que vendiam as exportações”.
Quando havia alta cíclica nos lucros, a renda tendia a concentrar-se nas mãos dos empresários, uma vez que os lucros aumentavam e os salários permaneciam estáveis; na depressão os prejuízos da baixa de preços tendiam a concentrar-se nos lucros do empresário do setor exportador.
29. A descentralização republicana e a reforma de novos grupos de pressão
Os núcleos mais prejudicados no processo de depreciação cambial eram as populações urbanas. “Ao depreciar-se a moeda reduzia-se a importância ad valorem do imposto, acarretando dois efeitos de caráter regressivo: por um lado, a redução real do gravame era maior para os produtos que pagavam maior imposto – artigos de consumo das classes de alta renda; por outro, a redução relativa das receitas públicas obrigava o governo a emitir para financiar o déficit, e as emissões operavam como um imposto altamente regressivo, pois incidiam particularmente sobre as classes assalariadas urbanas”. Para defender o câmbio o governo contraía excessivos e onerosos empréstimos externos, cujo exercício acarretava uma sobrecarga fiscal imcompressível. O fato de que se reduzisse a carga fiscal ao depreciar-sea moeda operava evidentemente como fator compensatório da pressão deflacionária externa. A redução da carga fiscal se fazia principalmente em benefício dos grupos sociais de renda elevada. Por outro lado, a cobertura dos déficits com emissões de papel-moeda criava uma pressão inflacionária cujos efeitos imediatos se sentiam mais fortemente nas zonas urbanas. Assim, a depressão externa transformava-se internamente em um processo inflacionário.
O sistema monetário de que dispunha o país demonstrava ser totalmente inadequado para uma economia baseada no trabalho assalariado.
Com as correntes e outros fatores que incrementaram a economia, observou-se uma crescente disparidade no desenvolvimento econômico das regiões do país; enquanto na região norte se expandia a economia de subsistência, no Sul o desenvolvimento e crescimento eram tais que havia uma demanda cada vez maior ao governo imperial para que se investisse no setor público e para que houvesse uma descentralização administrativa. Tais anseios foram realizados quando da proclamação da república, quando foram criados os governos de estados.
“Se por um lado a descentralização administrativa deu maior flexibilidade político-administrativa ao governo no campo econômico, em benefício dos grandes interesses agrícola-exportadores, por outro, a ascensão política de novos grupos sociais – facilitada pelo regime republicano – cujas rendas não derivavam da propriedade, veio reduzir substancialmente o controle que antes exerciam aqueles grupos agrícola-exportadores sobre o governo central”.
PARTE CINCO: Economia de transição para um sistema industrial – século XX
30. A crise da economia cafeeira
A grande expansão da cultura cafeeira do final do século XIX teve lugar praticamente somente dentro do Brasil. As condições excepcionais que oferecia o país para essa cultura valeram aos empresários brasileiros a oportunidade de controlar ¾ da oferta mundial de café. Quando vem a tona a superprodução do café, ante a baixa constante nos preços e a desvalorização da moeda, foram definidas bases para a revalorização do produto, com a compra do excedente de produção por parte do governo, com financiamento de empréstimos estrangeiros, que seriam cobertos com um novo imposto (em ouro) sobre a saca exportada, e, em longo prazo, os governos estaduais deveriam desencorajar as expansões das plantações. 
Nessa época, com a expansão do café veio o crescimento da classe média urbana e sobrevieram os interesses regionais e os interesses de grupos civis e militares ligados ao governo, bem como os comerciantes importadores e os industriais, cujos interesses se opunham aos dos cafeicultores.
A compra dos excedentes da produção com capital estrangeiro foi executada por governos regionais (liderados por São Paulo), o que garantiu a hegemonia da economia cafeeira até 1930. A defesa dos preços proporcionava à cultura do café uma situação privilegiada entre os produtos primários que entravam no comércio internacional; essa vantagem relativa tendia a aumentar.
A produção de café, em razão de estímulos artificiais recebidos, cresceu fortemente na segunda metade do terceiro decênio do século XX. “Existia, portanto, uma situação perfeitamente caracterizada de desequilíbrio entre oferta e procura”. O equilíbrio entre oferta e procura dos produtos coloniais obtinha-se, do lado desta última, quando se atingia a saturação do mercado, e do lado da oferta quando se ocupavam todos os fatores de produção – mão de obra e terras – disponíveis para produzir o artigo em questão. Em tais condições era inevitável que os produtos coloniais apresentassem uma tendência, a longo prazo, à baixa de seus preços.
A política de acumulação de estoques de café criara uma pressão inflacionária. Com a crise de 1929, se evadiram todas as reservas resultantes de conversibilidades feitas pelo governo.
31. Os mecanismos de defesa e a crise de 1929
A produção máxima de café se daria em 1933, no ponto mais baixo da depressão como reflexo das plantações de 1927-28.
A solução que se apresentava de imediato seria a de abandonar os cafezais, sobrevindo ainda o dilema sobre como curar o mercado interno. A grande acumulação de estoques de 1929, a rápida liquidação das reservas metálicas brasileiras e as precárias perspectivas de financiamento das grandes safras previstas para o futuro aceleraram a queda do preço internacional do café, iniciada conjuntamente com a de todos os produtos primários em fins de 1929.
A baixa brusca do preço internacional do café e a conversibilidade acarretaram na queda do valor externo da moeda. A depreciação da moeda induzia o empresário brasileiro a continuar colhendo o café e a manter pressão sobre o mercado, o que acarretava nova depreciação da moeda e nova baixa nos preços, agravando ainda mais a crise.
Fazia-se indispensável evitar que os estoques invendáveis pressionassem sobre os mercados acarretando maiores baixas de preços. Era essa a única forma de evitar que o equilíbrio fosse obtido à custa do abandono puro e simples da colheita, isto é, com perdas concentradas no setor cafeeiro. A destruição dos excedentes das colheitas se impunha como uma consequência lógica da política de continuar colhendo mais café do que se podia vender. Para induzir o produtor a não colher, os preços teriam que baixar muito mais, particularmente se se tem em conta que os efeitos da baixa nos preços eram parcialmente anulados pela depreciação da moeda. O preço do café era condicionado pelos fatores que prevalecem ao lado da oferta, uma vez que a demanda era praticamente estável.
Ao garantir preços mínimos de compra, remuneradores para a grande maioria dos produtores, estava-se na realidade mantendo o nível de emprego na economia exportadora e, indiretamente, nos setores produtores ligados ao mercado interno.
Ao evitar-se uma contração de grandes proporções na renda monetária do setor exportador, reduziam-se proporcionalmente os efeitos do multiplicador de desemprego sobre os demais setores da economia.
32. Deslocamento do centro dinâmico
A política de defesa do café contribuiu para manter a procura efetiva e o nível de emprego nos outros setores da economia.
Nos anos da depressão, ao mesmo tempo em que se contraíam as rendas monetárias e real, subiam os preços relativos das mercadorias importadas, conjugando-se os dois fatores para reduzir a procura das importações. Em 1929, no ponto mais baixo da depressão, a renda monetária se reduziu entre 25 e 30% enquanto o índice de produtos importados subiu 33%. Passou-se a satisfazer a procura interna com oferta interna de parte do que antes era coberto com importações.
Ao manter-se a procura interna com mais firmeza que a externa, o setor que produzia para o mercado interno passa a oferecer melhores oportunidades de inversões que o setor exportador. Surge a preponderância do setor ligado ao mercado interno no processo de formação do capital. A capacidade reprodutiva dos cafezais foi reduzida à metade nos 15 anos que se seguiram da crise. Parte dos capitais desinvertidos foram destinados a outros setores – como o algodão, que se manteve estável durante a crise.
O fator dinâmico principal passa a ser o mercado interno. Durante a crise, ante o aumento nos preços dos produtos importados que teve como consequência o aumento na procura, os setores de produção interna se mantiveram estáveis ou se expandiram. O seu crescimento se dava ao mesmo tempo que decrescia o setor exportador, o que explica o desvio de verbas de um setor para outro.
Na primeira fase da expansão se aproveitou a estrutura já instalada no país, adquirindo-se equipamentos de segunda mão, posteriormente, de países industrializados em crise.
O crescimento da procura de bens de capital e a forte elevação dos preços de importação desses bens criaram condições propícias à instalação no país de uma indústria de bens de capital. Contudo, a procura desses bens coincide com a expansão das exportações, e em razão do tamanho do mercado, apresentava-se desvantagens relativas ao processo deindustrialização.
Nas etapas em que aumenta a procura de bens de capital, tem-se um quadro de reduzido estímulo que existe para instalar as referidas indústrias nos países de economia dependente. “A procura de bens de capital cresceu exatamente numa época em que as possibilidades de importação eram as mais precárias possíveis”. A economia não somente havia encontrado estímulo dentro dela mesma para anular os efeitos depressivos vindos de fora e continuar crescendo, mas também havia conseguido fabricar parte dos materiais necessários à manutenção e à expansão de sua capacidade produtiva.
Possibilitando um melhor aproveitamento dos recursos de terra e mão de obra pré existentes, o impulso externo aumentou a produtividade que é o ponto de partida no processo de acumulação de capital. A massa de salários e outras remunerações criadas no setor de exportação representam o embrião do mercado interno. Ao reduzir-se o impulso externo, a contração conseqüente da renda monetária tende a criar desemprego ou subutilização da capacidade no setor ligado ao mercado interno.
Contudo, esse crescimento ou desenvolvimento do mercado interno gerou certos desequilíbrios. Quando se desenvolvia o mercado interno e se revalorizava a moeda no exterior, criava-se uma dmanda maior por produtos importados, diminuindo a demanda de produtos nacionais, o que gerava desempregos. Assim, a nascente economia de capitais no país se mostrava instável desde o seu momento embrionário.
33. O desequilíbrio externo e sua propagação
A alta taxa cambial reduziu praticamente na metade o poder aquisitivo externo da moeda brasileira. Esta situação permitiu um ampla barateamento relativo das mercadorias de produção interna.
A possibilidade de perdas de grandes proporções, ocasionada pelo brusco barateamento de mercadorias concorrentes importadas, desencorajaria as inversões no setor ligado ao mercado interno.
A pequena valorização externa da moeda brasileira entre 1934 e 1937 trouxe transtornos a setores industriais internos. 
Como o preço do café era fixado em acordos internacionais, a valorização da moeda significava prejuízos para a economia cafeeira. Assomava-se a isso os interesses dos produtores internos, e o governo mantinha taxas cambiais sobre a mercadoria importada. Ao se fixar a taxa cambial, sustentava-se o nível de renda monetária; na economia interna, criava-se o fluxo de poder de compra dentro da economia sem uma contrapartida na oferta de bens e serviços.
O índice de preços da exportação cresceu 75% entre 1937 e 1942, sendo muito forte o estímulo externo. Não sendo possível evitar a contração da oferta de produtos importados, todo o aumento de renda monetária e mais uma parte dessa renda que antes se gastava com importações eram representadas no mercado interno.
A queda na procura relativa das divisas acarretava (ou devia) na depreciação destas, evitando-se que o desequilíbrio externo se propagasse em toda a sua extensão ao sistema econômico. Por outro lado, significava que o fluxo de renda criado no setor exportador não tinha uma contrapartida real adequada na oferta de bens importados, sendo esse o ponto de partida do desequilíbrio.
AO reduzir-se a procura de divisas abaixo da oferta dessas, haveria uma baixa nos preços das mesmas, recebendo os exportadores menores somas por suas cambiais e reduzindo-se a renda monetária criada no setor de exportação. Essa redução de renda viria contrapesar a contração na oferta de bens e serviços importados, corrigindo-se assim o desequilíbrio.
O valor das reservas cambiais era aproximadamente igual ao excesso de renda criado no setor exportador sobre a contrapartida de bens e serviços importados.
O desequilíbrio se formava na medida em que se acumulavam as reservas; era inevitável que a pressão resultante do desequilíbrio entre o nível de renda monetária e o de oferta de bens e serviços se resolvesse em alta de preços, que se refletia nos custos do setor exportador e dificultava a execução de qualquer política tendente a conservar o nível de renda nesse setor. O desquelíbrio se teria formado com ou sem revalorização monetária.
34. Reajustamento do coeficiente de importações
35. Os dois lados do processo inflacionário
36. Perspectiva dos próximos decênios

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