Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
João Batista Vieira Bonome Mestrando em Administração Pública com ênfase em Políticas Sociais pela Fundação João Pinheiro. Especialista em Relações de Trabalho e Negociações pelo Instituto de Educação Conti- nuada (IEC) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Bacharel em Admi- nistração de empresas pela PUC-Minas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental Muito embora todas as teorias vistas até agora reflitam sobre a elabora- ção de métodos e técnicas desenvolvidas em torno de um objetivo comum – a busca pela eficiência – a abordagem inaugurada pela Teoria Compor- tamental da Administração (também denominada de Teoria Behaviorista) significou um novo direcionamento e uma nova perspectiva para a teoria administrativa, pois incorporou as bases teóricas das ciências do comporta- mento, abandonando de vez as posições prescritivas das teorias anteriores e passando a adotar uma posição mais descritiva e explicativa. Um somatório de estudos culminou com o surgimento dessa teoria. Foi a partir dos trabalhos a respeito de questões relacionadas às dinâmicas de grupo, desenvolvidos por Kurt Lewin, juntamente com a divulgação do livro de Chester Barnard e, logo após, com os estudos de George Homans, ambos versando sobre sociologia institucional de grupo, e culminando com a publi- cação do livro de Herbert Simon sobre o comportamento administrativo, que uma nova configuração teórica passou a dominar a teoria administrativa. Outros expoentes também contribuíram intensamente para a Teoria Comportamental da Administração tais como Douglas McGregor, Chris Argyris e Rensis Likert. Já estritamente quanto à motivação humana su- blinham-se as propostas de Abraham Maslow, de Frederick Herzberg e de David McClelland. Mesmo sabendo que as bases dessa teoria tenham sido lançadas ante- riormente, é a partir da década de 1950 que se desenvolveu, tendo como ponto de partida os Estados Unidos, essa nova concepção de Administração, que incluiu novos e diversos conceitos, novas variáveis, além de tudo, uma nova visão da teoria administrativa que era baseada na análise do compor- tamento humano nas empresas. Foi através da abordagem comportamental que se enfatizou as ciências do comportamento na teoria administrativa, bem como a busca por soluções flexíveis e mais democráticas para a problemática empresarial. A abordagem comportamental originou-se das ciências comportamentais, particularmen- te da psicologia organizacional. 105Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 106 Abordagem comportamental A existência de tantos autores como também de tantos conceitos fomen- tou na teoria administrativa um múltiplo conjunto de conclusões acerca da natureza e das características do ser humano, considerado no seu papel de trabalhador, a saber: os seres humanos são considerados animais sociais que possuem al- gumas necessidades. Entre essas necessidades as mais latentes são as necessidades gregárias, ou seja, os indivíduos procuram desenvolver relacionamentos cooperativos e interdependentes que os levam a vi- ver em grupos ou em organizações sociais; os seres humanos são animais que possuem um sistema psíquico, quer dizer, têm condições de organizar suas percepções, seus sentimentos de maneira integrada, permitindo-lhes uma organização cognitiva e perceptiva comum a todos; os seres humanos conseguem articular a linguagem com raciocínio abstrato, pois possuem a capacidade de se comunicar; os seres humanos possuem aptidão para aprender, e esse fato leva a crer que podem mudar o seu comportamento e as suas atitudes dire- cionando-as para padrões de maior grau de eficácia; os seres humanos comportam-se orientados para o alcance de obje- tivos, mesmo que esses objetivos se alterem e sejam complexos. Vem daí a importância em compreender os objetivos sociais dos indivídu- os, pois é isso que faz com que se possa entender claramente os seus comportamentos; os seres humanos possuem um padrão de comportamento dualista, ou seja, eles tanto podem cooperar quanto competir entre si. A coope- ração surge quando os objetivos individuais forem alcançados através do esforço coletivo comum, e a competição ocorre quando os objeti- vos são disputados. Decorre dessa análise que o conflito faz parte de todos os aspectos da vida humana. Mediante todas essas observações passou-se a enfatizar as pessoas (ênfase esta que havia sido inaugurada pela Escola de Relações Humanas e ainda se mantinha), contudo considerando-as em um contexto organizacio- nal. Foi mediante a abordagem comportamental que a preocupação se des- locou da estrutura para os processos e para a dinâmica organizacional, ou seja, para o comportamento organizacional. Porém, é preciso compreender Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 107 as origens dessa abordagem para que se possa saber como suas contribui- ções auxiliaram (e ainda auxiliam) os administradores em suas atividades de gerenciamento. Origens da Teoria Comportamental As origens da Teoria Comportamental da Administração são as seguintes: A intensa oposição entre a Escola de Relações Humanas (que enfati- zava as pessoas) e a Teoria Clássica (com ênfase nas tarefas e na estru- tura organizacional) desdobrou-se e passou para uma segunda etapa: a abordagem comportamental. Essa abordagem representava uma nova oportunidade de sintetizar as propostas de análise da organiza- ção formal, mas com ênfase nas relações humanas. A Teoria Comportamental é, em sua essência, uma consequência dire- ta da Escola de Relações Humanas, com a qual divide alguns concei- tos importantes (pessoas, grupos sociais, emoções etc.), utilizando-os como pontos de referência e reformulando-os profundamente. Por outro lado, a abordagem comportamental rejeitou as visões ingênuas e romantizadas presentes na Escola de Relações Humanas. A Teoria Comportamental apresenta uma severa crítica à Teoria Clás- sica, aos pressupostos de organização formal, aos princípios gerais de administração, ao conceito de autoridade formal, e também à posição rígida e mecanicista defendida pelos autores clássicos. Mediante o estudo da Teoria Comportamental ocorreu a incorporação da Sociologia da Burocracia, e esse fator ampliou o campo de aplica- ção da teoria administrativa. Todavia ainda em relação à Teoria da Bu- rocracia, a abordagem comportamental mostrou-se bastante crítica, principalmente no que tange ao “modelo de máquina” que é tão ca- racterístico dessa sociologia. Finalmente, em 1947, foi escrito nos Estados Unidos um livro que mar- cou definitivamente o início da abordagem comportamental na admi- nistração. Esse livro era O Comportamento Administrativo, de Herbert A. Simon, e teve grande repercussão, pois se constituiu em um ataque aviltante aos princípios da Teoria Clássica e a inegável aceitação – com algumas correções – das ideias defendidas pela Escola de Relações Humanas. Esse livro constituiu-se também no início da denominada Teoria das Decisões, que será vista adiante. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 108 Abordagem comportamental Foi, portanto, a abordagem comportamental que redefiniu totalmente os conceitos administrativos. Quando adotou uma postura crítica em relação às teorias anteriores, o comportamentalismo não somente reescalonou todas as abordagens, mas principalmente ampliou o conteúdo que elas abrangiam como também diversificou a sua natureza. Procurando explicar o comportamento organizacional, a abordagem comportamental fundamentou-se na análise do comportamento individualdas pessoas. Tentando explicar como funciona o mecanismo de comporta- mento das pessoas, foi preciso realizar um estudo sobre a motivação humana. Um dos temas fundamentais da Teoria Comportamental da Administração é, desse modo, a motivação humana, área na qual a teoria administrativa rece- beu significativa contribuição. A proposta inaugurada pela Escola de Relações Humanas revelou que os indivíduos podem ser considerados seres complexos e possuidores de ne- cessidades também complexas e bem diferenciadas. De maneira geral, são essas necessidades que orientam o comportamento humano na direção dos objetivos pessoais. Nesse sentido, a compreensão de que as necessidades humanas aparecem sob forma de um processo contínuo, que não se esgota, proporcionou aos au- tores comportamentalistas verificar que os administradores têm que conhecer sobre as necessidades humanas, e, com isso, compreender adequadamente o comportamento humano. Dessa maneira o conhecimento sobre a motivação é um meio bastante eficiente tanto para melhorar a qualidade de vida dentro das empresas quanto para conquistar a adesão dos que lá trabalham. É por isso que é preciso compreender como essas necessidades se dis- põem, como elas surgem e como elas são satisfeitas, pois a partir dessa com- preensão é que os gestores terão condições de motivar seus trabalhadores. Um dos primeiros estudiosos desses aspectos foi Maslow, que brindou a ci- ência da Administração com várias contribuições, como será visto a seguir. Teorias sobre a motivação humana Hierarquia das necessidades de Maslow Abraham H. Maslow era psicólogo e consultor norte-americano, e foi um dos primeiros a apresentar uma teoria da motivação que preconizava que Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 109 as necessidades humanas estavam dispostas em categorias, obedecendo a uma hierarquia de importância e de influência. Nessa hierarquia das necessidades, também denominada de Pirâmide de Maslow, encontram-se cinco níveis específicos de necessidades: Necessidades fisiológicas – são as necessidades de alimentação, de sono, de abrigo, de desejo sexual etc. Essa categoria de necessidades está relacionada com a sobrevivência dos indivíduos e com a preser- vação da espécie humana. Necessidades de segurança – correspondem às necessidades de se- gurança, estabilidade (inclusive contra o desemprego), busca de pro- teção contra a ameaça ou privação, e a fuga ao perigo. Necessidades sociais – é a necessidade de associação, de aceitação por parte dos amigos, colegas, de participação, de afeto e de amor. Necessidades de estima – são aquelas relacionadas à maneira pela qual os indivíduos se veem e se avaliam. É uma categoria que envolve a autoestima, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social, de status, de prestígio. Necessidades de autorrealização – são as necessidades humanas de ordem mais elevadas, ou seja, que estão no topo da hierarquia. Cor- respondem às necessidades que cada indivíduo tem em realizar, em desenvolver o seu potencial. Autorrealização (S TO N ER ; F RE EM A N , 1 99 9, p . 3 0- 3 2) Estima Autorrealização Sociais Orgulho Autodesenvolvimento Segurança Relacionamento Autorrespeito Autossatisfação Fisiológicas Proteção contra: Aceitação Progresso Alimento Perigo Amizade Confiança Repouso Doença Compreensão Reconhecimento Abrigo Desemprego Consideração Admiração Sexo Figura 1 – Hierarquia das necessidades, segundo Maslow. Essa proposta de Maslow pode também ser compreendida de acordo com a seguinte categorização: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 110 Abordagem comportamental Necessidades primárias – que correspondem às necessidades fisio- lógicas e às necessidades de segurança. Necessidades secundárias – relacionadas às necessidades sociais, necessidade de estima e necessidades de autorrealização. A contribuição de Maslow para a abordagem comportamental foi, sem dúvida alguma, muito significativa para que pudéssemos entender um pouco mais sobre a motivação humana. Contudo, o simples escalonamento das necessidades não se mostra suficientemente capaz de fazer com que os gestores elaborem métodos e desenvolvam ações que motivem e satisfa- çam os trabalhadores. É preciso entender como essas necessidades operam, como elas se dispõem. Daí decorrem alguns pressupostos dessa teoria: Somente quando um nível inferior de necessidades estiver satisfeito ou suficientemente atendido é que o nível imediatamente acima será acionado, causando impactos no comportamento. Ou seja, quando uma necessidade de um nível inferior é atendida, ela não será mais motivadora, e dará oportunidade para que uma necessidade de nível mais elevado se desenvolva. Nem todos os indivíduos chegam ao topo da pirâmide de necessi- dades. Somente algumas pessoas – que possuem boas condições de vida – se preocupam com as necessidades de autorrealização. Já ou- tras ficam nas necessidades de estima, e outras ainda nas necessidades sociais, enquanto que várias outras ficam exclusivamente ocupadas com necessidades de segurança e fisiológicas, sem mesmo conseguir satisfazê-las adequadamente. Quando as necessidades de uma categoria mais baixa forem parcial- mente satisfeitas, as necessidades localizadas nos níveis mais elevados começarão a orientar o comportamento. Entretanto, se alguma neces- sidade de uma categoria mais baixa deixar de ser satisfeita, ela voltará a orientar o comportamento, e o resultado poderá gerar conflitos. A necessidade mais importante ou mais latente monopoliza o indivíduo de maneira automática, e este, por sua vez, tenderá a se organizar de forma a mobilizar-se para atendê-la. Quando uma necessidade não for satisfeita, não significará que o indivíduo irá permanecer frustrado; de alguma forma essa necessidade será transferida ou até mesmo com- pensada. Percebe-se com isso que a motivação é um estado cíclico e constante na vida dos indivíduos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 111 As pessoas possuem sempre mais de uma motivação. Todas as cate- gorias de necessidades atuam de forma conjunta com o organismo; há, entretanto, um domínio das necessidades superiores sobre as inferiores, desde que estas estejam razoavelmente satisfeitas. Toda e qualquer necessidade está intimamente relacionada com o estado de satisfação ou insatisfação das outras necessidades, e o efeito sobre o organismo é sempre global e concomitante, mas nunca isolado. O comportamento motivado pode ser considerado um canal através do qual as necessidades fundamentais podem ser satisfeitas conjunta- mente. A frustração da satisfação de alguma necessidade pode ser considerada uma ameaça psicológica, e é essa perspectiva ameaçadora que produz as reações de emergência sobre o comportamento humano. Vários foram os estudos desenvolvidos para confirmar, de modo cien- tífico, a teoria proposta por Maslow, mas nenhum conseguiu esse mérito (outros inclusive a invalidaram). Mas mesmo assim essa é uma teoria muito bem estruturada, e é capaz de ofertar um esquema muito útil para orientar as ações dos gestores das empresas. É por esses motivos que devemos conhecer outras propostas, de outros autores. Teoria dos Dois Fatores de Herzberg Frederick Herzberg foi o autor que formulou a denominada Teoria dos Dois Fatores, que buscava explicar melhor o comportamento dos indivíduos, mais especialmente dos trabalhadores. Segundo Herzberg, existem dois fa- tores que orientam o comportamento das pessoas, são eles: Fatores higiênicos ou fatores extrínsecos – aqueles que selocalizam no ambiente em torno das pessoas e abrangem as condições nas quais desempenham seu trabalho. Como essas condições são gerenciadas e decididas pela empresa, os fatores higiênicos estão fora do controle dos trabalhadores. Entre os principais fatores higiênicos pode-se ci- tar: o salário, os benefícios sociais, as condições físicas e ambientais de trabalho, o tipo de supervisão que os trabalhadores recebem de seus chefes superiores, as políticas e diretrizes da empresa, o clima das re- lações na empresa e as pessoas que nela trabalham, os regulamentos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 112 Abordagem comportamental internos etc. Quando esses fatores são péssimos ou precários, eles pro- vocam a insatisfação dos empregados. Porém, como são satisfatórios, não levam à satisfação, somente impedem a insatisfação. Fatores motivacionais ou fatores intrínsecos – são os fatores rela- cionados com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que o trabalhador executa no seu típico dia de trabalho. Estes já estão sob o controle do próprio indivíduo, pois relacionacionam-se com a sua tarefa, envolvendo sentimentos de crescimento individual e de reco- nhecimento profissional. Esses fatores dependem das tarefas que os trabalhadores realizam no seu trabalho. O impacto dos fatores moti- vacionais sobre o comportamento das pessoas é muito profundo e es- tável, pois quando são ótimos provocam a satisfação, mas quando são precários eles evitam a satisfação. Vejamos no quadro 1, um comparativo entre esses fatores: Quadro 1 – Fatores motivacionais e fatores higiênicos Fatores motivacionais Fatores higiênicos (H A M PT O N , 1 97 3) Conteúdo do cargo (Como o indivíduo se sente em relação ao seu cargo) Contexto do cargo (Como o indivíduo se sente em relação à sua empresa) O trabalho em si Realização Reconhecimento Progresso profissional Responsabilidade As condições de trabalho Administração da empresa Salário Relação com o supervisor Benefícios e serviços sociais Para proporcionar motivação contínua no ambiente de trabalho, Herz- berg propõe o chamado “enriquecimento de tarefas” (também chamado de “enriquecimento do cargo”), que consiste em substituir constantemente ta- refas mais simples e elementares do cargo por tarefas mais complexas, tendo em vista o acompanhamento do crescimento individual de cada um dos tra- balhadores, pois esse fator oferece-lhe condições de desafio e de satisfação profissional no cargo. De acordo com Herzberg, o enriquecimento de tarefas produz uma série de efeitos altamente desejáveis, tais como, redução do absenteísmo (faltas e atrasos), redução da rotatividade de pessoal (demissões) e o aumento da motivação e da produtividade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 113 Teoria X e Teoria Y e os estilos de administração A abordagem comportamental procurou diversas formas de demonstrar a variedade de estilos de administração que estão à disposição do administrador. Contudo, notou-se que muitos conceitos apresentados sobre o comporta- mento humano no ambiente de trabalho ainda eram inadequados ou mesmo deficientes. Refletindo a respeito dessa ocorrência, Douglas McGregor, outro psicólogo industrial de renome, propôs uma análise da motivação humana no trabalho que se baseia nos estilos de administração desenvolvidos. Por seu turno os estilos de gerenciamento dependem significativamen- te das convicções que os gestores possuem a respeito do comportamento humano. Essas convicções moldam não somente a maneira de direção dos trabalhadores, como também a maneira pela qual o trabalho é dividido, pla- nejado e organizado. McGregor, por meio de suas pesquisas, encontrou dois estilos opostos e antagônicos de gerenciamento que denominou de Teoria X e Teoria Y. A Teoria X Essa teoria parte do pressuposto de que as convicções dos gestores ba- seiam-se nas seguintes hipóteses: o trabalhador mediano (típico) não gosta de trabalhar, evitará o traba- lho o máximo que puder e, portanto, realizará o mínimo possível; a esse tipo de trabalhador, falta-lhe ambição, gosto pela realização e não é afeto à liderança. Por isso prefere ser mandado, dirigido; esse trabalhador de inteligência mediana é indolente e indiferente com os objetivos da empresa. Antes de tudo pensa em si mesmo; ele ainda não gosta de mudanças/modificações, sejam de qualquer natureza; ele é levado a acreditar e acredita em demagogia, charlatanismo, reve- lando-se, assim, pouco brilhante. Mediante essas convicções, justifica-se uma liderança formal, rígida, ame- açadora, punitiva e que estabelece um nível de controle severo, isto é, um estilo de administração impositivo, controlador e forte. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 114 Abordagem comportamental A Teoria Y Por outro lado, McGregor sugere outro estilo de administração, cha- mando-o de Teoria Y, que apresentava um gestor que possuía as seguintes convicções: a administração da empresa é responsável por organizar pessoas, re- cursos materiais, financeiros, entre outros, para atingir objetivos; os trabalhadores são passivos e resistentes aos objetivos da empresa. O administrador conscientiza as pessoas para que não sejam insensí- veis a essas questões; os trabalhadores são dotados de senso de responsabilidade, têm po- tencial de inteligência a ser explorado; os trabalhadores estão mais dispostos a cooperar e contribuir com as atividades da empresa do que podemos imaginar. A Teoria Y pressupõe o desenvolvimento de um estilo de administração aberto e dinâmico, bastante democrático, pelo qual a tarefa de administrar assemelha-se a um processo de criação de oportunidades, de liberação dos potenciais, das habilidades, das aptidões dos trabalhadores, de remoção dos obstáculos, de encorajamento do crescimento individual, proporcionando orientação ao alcance dos objetivos. De acordo com McGregor, a Teoria Y pode ser aplicada nas empresas utili- zando-se de um estilo de gerenciamento baseado em várias medidas huma- nistas, entre as quais salienta as seguintes: descentralização das decisões e delegação de responsabilidades (em- powerment); ampliação do cargo para dar mais significado ao trabalho; participação nas decisões estratégicas e administração consultiva; autoavaliação do desempenho. Uma vez estabelecidos esses parâmetros, pode-se realizar uma compara- ção clara a respeito dessas convicções, como será apresentado no quadro 2: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 115 Quadro 2 – As Teorias X e Y como diferentes concepções a respeito da natureza humana Pressuposições da Teoria X Pressuposições da Teoria Y (M AX IM IA N O , 2 00 0) As pessoas são preguiçosas e indolentes. As pessoas evitam o trabalho. As pessoas evitam a responsabilidade, a fim de se sentirem mais seguras. As pessoas precisam ser controladas e dirigidas. As pessoas são ingênuas e sem iniciativas. As pessoas são esforçadas e gostam de ter o que fazer. O trabalho é uma atividade tão natural como brincar ou descansar. As pessoas procuram e aceitam responsabilida- des e desafios. As pessoas podem ser automotivadas e autodi- rigidas. As pessoas são criativas e competentes. Enquanto que a Teoria Y propõe um estilo de administração abertamente participativo, e que se baseia em valores humanos e sociais, a Teoria X sugere que o gerenciamento ocorra mediante a utilização de controles externos im- postos ao indivíduo. Nesses termos, a Teoria Y pode serconsiderada como uma administração por objetivos capaz de realçar a iniciativa individual. As duas são opostas entre si e apresentam intervenções gerenciais bem distin- tas, como pode ser visto no quadro a seguir: Quadro 3 – O antagonismo entre as Teorias X e Y Características de X Características de Y (M AX IM IA N O , 2 00 0) Controle intenso de autoridade. Autocontrole e autodireção para o empregado. Centralização de autoridade. Descentralização da autoridade. Planejamento feito pela gerência. Ambos participam (empregado e chefia), per- mitindo ao primeiro a compreensão de suas responsabilidades. Satisfação das necessidades sociais fora da em- presa. Realização pessoal e social fora e na própria em- presa. A chefia avalia o desempenho do operário. A chefia auxilia o empregado, que se autoavalia. Assim, poderá ver suas falhas e os acertos. Na empresa não há lugar para outra teoria; o empregado resiste a mudanças. A Teoria Y não dá certo porque é percebida num clima de Teoria X. Administrar corretamente é o mesmo que con- trolar o empregado tanto quanto possível, não deixando tempo sequer para relacionamentos sociais e particulares. Administração correta deve dispor de meios que permitam liberar potenciais dos emprega- dos, encorajá-los no crescimento e orientá-los na remoção de obstáculos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 116 Abordagem comportamental Sistemas de administração Seguindo a mesma linha de pensamento que pregava que os estilos de administração (gerenciamento) causam forte impacto no processo motiva- cional dos trabalhadores, Rensis Likert, outro autor da Teoria Comportamen- tal da Administração, propôs uma classificação por Sistemas de Administra- ção (modelos de liderança), que era mais abrangente e definia a existência de quatro perfis organizacionais, oriundos de outras quatro variáveis de cunho organizativo: processo decisorial; sistema de comunicação; relacionamento interpessoal; sistema de recompensas e punições. Pode-se verificar abaixo esses sistemas: liderança autoritário-coercitiva – possui poder centralizador, pouca comunicação, desconfiança e recompensas salariais; liderança autoritário-benevolente – iniciativa, poder centralizador com pequena delegação, comunicação precária, pune sem muita arbi- trariedade; liderança consultiva – o líder consulta os subordinados antes de tomar decisões. As punições são raras, e as recompensas são frequentes; liderança participativa – descentralização do poder, boa comunica- ção, trabalho em equipe. Punições raras e definidas pelo grupo. Esses sistemas administrativos informam que o modelo de liderança de- senvolvido nas empresas frequentemente encontra uma justificativa estru- tural que o subsidia, que o valida e que, portanto, também o influencia. O formato de liderança, na perspectiva apresentada por Likert, é decorrente do estilo desenvolvido pelo gestor, de suas convicções, mas, com certeza, recebe influências diretas de elementos formais, estruturais e processuais da empresa que gerencia. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 117 Teoria das Decisões Uma outra vertente da abordagem comportamental concebe a empresa como o local privilegiado dos sistemas de decisões, ou seja, todos os traba- lhadores de uma empresa, em qualquer que seja a sua área de atividade, em qualquer um dos níveis hierárquicos e também em todas as situações que operam, estão continuamente tendo que tomar decisões relativas ou não com o seu trabalho. A Teoria das Decisões surgiu com Herbert Simon (Prêmio Nobel de Econo- mia em 1978), e foi utilizada como base para explicação do comportamento humano nas empresas. Nessa proposta, cada indivíduo participa de forma racional e consciente, podendo escolher e tomar decisões individuais a res- peito de alternativas mais ou menos racionais de comportamento. Decisão pode ser considerada como um processo de análise e escolha entre várias alternativas disponíveis, do curso de ação que o indivíduo deverá seguir para alcançar um objetivo predeterminado. O processo decisorial nor- malmente é complexo e depende tanto das características pessoais daquele que toma as decisões quanto da situação em que está envolvido e a maneira pela qual percebe essa situação. Toda decisão envolve necessariamente seis elementos, a saber: Tomador de decisão – a pessoa que faz uma escolha entre várias al- ternativas de ação. Objetivos – é o que o tomador de decisão pretende alcançar através de suas ações. Preferências – são os critérios que o tomador de decisão utiliza para fazer sua opção. Estratégia – é o rumo da ação que o tomador de decisão escolhe para atingir os objetivos da melhor forma. O rumo de ação é o caminho escolhido e depende dos recursos disponíveis. Situação – são os vários aspectos ambientais que envolvem o toma- dor de decisão, sendo que vários destes estão fora do seu controle, de seu conhecimento ou da sua compreensão e afetam sua escolha. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 118 Abordagem comportamental Resultado – é o resultado de uma dada estratégia. Exposto dessa maneira é possível verificar que o processo decisorial é um procedimento complexo e depende não somente das características pesso- ais daquele que toma as decisões mas também da situação em que se en- contra envolvido e da forma como percebe essa situação. A rigor, o processo decisorial desenvolve-se através de sete etapas, a saber: percepção da situação que envolve algum problema; análise e definição do problema; definição dos objetivos; procura de alternativas de solução ou de cursos de ação; escolha (seleção) da alternativa mais adequada ao alcance dos objetivos; avaliação e comparação dessas alternativas; implementação da alternativa escolhida. Simon salienta que o processo decisorial começa com o tomador de deci- são, procurando solucionar problemas, defrontando-se com as mais variadas situações. Mesmo sendo um processo racional e planejado, a subjetividade presente nas situações é muito acentuada, e, por isso, Simon aponta algu- mas decorrências da Teoria das Decisões: Racionalidade limitada – o indivíduo que vai decidir raramente pos- sui todas as informações necessárias para tomar a melhor decisão. Imperfeição nas decisões – não existem decisões perfeitas, mas é possível que umas sejam melhores que outras. Relatividade das decisões – toda decisão é uma proposta de aco- modação, pois não há alternativa que permita a completa e perfeita realização dos objetivos almejados. Os níveis de realização procuram ser satisfatórios, mas não ótimos. Hierarquia das decisões – o comportamento é planejado sempre que é guiado por objetivos e é racional quando escolhe as alternativas mais adequadas que levam à consecução dos objetivos (meio X fim). Racionalidade administrativa – o comportamento dos indivíduos nas organizações é planejado, ou seja, orientado para alcançar objetivos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 119 Influência organizacional – a organização retira de seus participan- tes a faculdade de decidir de forma independente sobre determinados assuntos e substitui essa faculdade por um processo decisório próprio e previamente estabelecido. As decisões que a empresa toma pelo in- divíduo consistem em: Divisão de tarefas; Padrões de desempenho; Sistemas de autoridade; Canais de comunicação; Treinamento e doutrinação. Apreciação crítica da abordagem comportamentalA Teoria Comportamental apresentou fragilidades assim como as demais teorias anteriormente estudadas. Entre esses pontos de inflexão críticos, po- de-se citar: Ênfase nas pessoas A abordagem comportamental delimita a transferência da ênfase na estrutura da organização para a ênfase nas pessoas. Contudo, ao transferir essa ênfase dos aspectos estruturais da empresa para os aspectos compor- tamentais ela tenta realinhar e redefinir os conceitos de tarefa e de estrutura utilizando um ponto de vista bem mais democrático e humano, o que nem sempre quer dizer que é o mais eficiente modelo. Abordagem mais descritiva e menos prescritiva A análise descritiva e a análise prescritiva também foram aspectos rele- vantes no estudo do comportamento organizacional. Enquanto a aborda- gem da Teoria Clássica e da Escola de Relações Humanas tendia à prescrição e à normatização, a abordagem comportamental foi muito mais descritiva e explicativa. Embora a análise descritiva seja predominante no estudo do Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 120 Abordagem comportamental comportamento organizacional, percebe-se alguns traços de uma posição prescritiva, enfatizando o que é “melhor” para as empresas e também para os trabalhadores, como é o caso da Teoria Y de McGregor, do Sistema Parti- cipativo de Likert etc. Profunda reformulação na filosofia administrativa A definição de empresa baseada em um esquema autocrático, coercitivo e de diferenciação de poder (autoridade X obediência) foi profundamente analisada e criticada. A abordagem comportamental privilegiou as empresas mais democráticas, com menor grau de hierarquização baseadas no equilí- brio de poder. Os principais meios para desenvolver condições satisfacientes nas orga- nizações são os seguintes: delegação real de responsabilidades para objetivos conjuntos; utilização de grupos de trabalho semiautônomos; ampliação do cargo (amplitude de variedade e de significado); retroação (feedback), como elogios, críticas construtivas etc., sobre o desempenho; promoções progressivas para pessoal não gerencial; treinamento mais amplo no cargo; simplificação do cargo pelo próprio ocupante. Dimensões bipolares da Teoria Comportamental Os principais temas da abordagem comportamental foram permeáveis entre si e geralmente abordados em dimensões antagônicas, tais como: Análise teórica X empírica. Análise macro X micro. Organização formal X informal. Análise cognitiva X afetiva. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 121 Profunda influência das ciências do comportamento sobre a administração As ciências do comportamento marcaram, através da abordagem com- portamental, uma profunda influência sobre a Administração, seja através de novas definições sobre o trabalhador e suas respectivas motivações ou mesmo sobre a organização e seus objetivos. A teoria das organizações sempre precisou delimitar um modelo de homem que melhor explicasse e justificasse seus principais conceitos. Assim, três aspectos são importantes na abordagem comportamental: As empresas surgem quando os objetivos a serem alcançados são dema- siado complexos para que um indivíduo sozinho consiga alcançá-los. Os indivíduos são, por si só, organismos complexos. Produzem e exe- cutam atividades para uma empresa só se isso representar algum tipo de vantagem para si mesmo. As vantagens dos indivíduos estão inscri- tas na satisfação de suas próprias necessidades. Há uma extensa variedade de conceitos sobre as necessidades e ou- tras muitas concepções distintas acerca da profundidade em que elas existem. Os indivíduos são orientados em satisfazer as suas necessida- des e são influenciados pelo contexto empresarial, como o conteúdo ou o contexto do cargo que ocupam. A organização como um sistema de decisões A Teoria das Decisões de Simon não considera os processos interpessoais quando se refere aos efeitos dos processos formais sobre a tomada de deci- sões. Uma vez que esse fato é notado, parece que a empresa tem exclusiva- mente um objetivo: o de enfrentar e de resolver questões problemáticas à medida que surgem. Análise organizacional a partir do comportamento A abordagem comportamental analisou a empresa sob o ponto de vista dinâmico do seu comportamento e estava profundamente preocupada com o indivíduo enquanto indivíduo. Entretanto, a análise organizacional varia conforme o autor, como pode ser visto: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 122 Abordagem comportamental Há autores cuja preocupação centrava-se no indivíduo e na sua perso- nalidade em um contexto organizacional. Há autores que consideram a empresa como um meio que propor- ciona ao trabalhador várias recompensas com diferentes graus de sa- tisfação. Esses mesmos autores sublinham que as empresas deveriam oferecer aos seus membros toda a motivação possível, como é o caso de Maslow e de Herzberg. Há autores que consideram que a empresa é como um conjunto de trabalhadores que estão absolutamente comprometidos com os pro- cessos de tomada de decisões. Conclusão Partindo das análises e das observações expostas neste capítulo, os ges- tores não terão motivos em exigir resultados expressivos de seus subordina- dos, mas somente respostas satisfatórias. Essa é uma posição diametralmen- te oposta à perspectiva clássica e aos estilos democratizantes que buscaram obter sempre o máximo de desempenho dos trabalhadores. O estilo da abordagem comportamental resulta na relação humana, cele- brada pela mútua cooperação entre empregador e empregado, mesmo que seus objetivos sejam diferentes. Por isso devem-se considerar as seguintes decorrências dessa abordagem. Organização como um sistema social cooperativo Antes mesmo do surgimento da abordagem comportamental, Chester Barnard, um executivo norte-americano, publicou na década de 1930 um livro que propunha uma teoria da cooperação para explicar a existência das empresas. Para esse autor, os trabalhadores não agem de maneira isolada, mas sim mediante interações com outros trabalhadores, pois somente dessa forma é que poderiam alcançar os seus objetivos. Nessas interações, há uma mútua influência: estabelecem-se as relações sociais. É através da participação pes- soal e da cooperação que surgem as organizações. Entendido dessa forma, as organizações podem ser categorizadas como sistemas cooperativos, que têm por base a racionalidade, isto é, as organizações são sistemas sociais Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 123 baseados na cooperação entre as pessoas. Daí tem-se que uma organização somente existe quando três condições são percebidas: há interação entre duas ou mais pessoas; há o desejo e a disposição para a cooperação; existe a vontade de alcançar objetivos comuns. Homem administrativo A abordagem comportamental enfatizou o homem administrativo em vez do homem econômico (da Teoria Clássica), do homem social (da Teoria das Relações Humanas) ou do homem organizacional (da Teoria da Burocracia). Esse modelo de homem administrativo não procura a melhor maneira (the best way) para realizar uma tarefa, mas apenas a maneira satisfatória de fazê- -la. As empresas procuram uma resposta satisfatória e não a ótima resposta: esse comportamento de procura somente encerrará no momento em que for encontrado um padrão considerado aceitável ou pelo menos razoavel- mente bom. Dito dessa maneira, o processo decisorial em que o homem ad- ministrativo encontra-se envolvido caracteriza-se por: o que toma decisõesquer evitar a incerteza e, portanto, segue regras padronizadas para as deci- sões. Para adquirir maior segurança em todas as suas decisões ele mantém essas regras e as repensa em momentos de intensa pressão, como exemplo, em momentos em que o ambiente subitamente se altera sugerindo novas si- tuações. Nesses termos, as empresas nem sempre conseguem acompanhar essas mudanças na mesma velocidade. Ampliando seus conhecimentos A cogestão (SILVA, 1991. Adaptado.) Introdução A pretensão do empregado em participar da direção da empresa e tomar parte em sua condução é tão antiga como a própria história do trabalho Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 124 Abordagem comportamental humano. Onde quer que se tenha trabalho em uma unidade organizada, ali existe uma natural tendência dos trabalhadores em dirigir, junto com o empre- endedor ou empresário, a atividade da empresa. Devido a esse fato, movido por pressões e diversas alterações no ambiente e à luz das consequentes mo- dificações concretas na organização do processo de trabalho, os países capi- talistas mais avançados institucionalizam formas de administração e controle do conflito entre os trabalhadores e a direção na hora da tomada de decisões. Consolidam-se, distante, as formas indiretas de participação, citando-se: ne- gociação coletiva, comitê de empresa, cogestão e autogestão. As formas de participação, entre as quais a mais avançada é a cogestão, coin- cidem com o desenvolvimento do capitalismo democrático. Objetiva-se com esse trabalho, a explicitação de uma das formas participativas de gestão, a co- gestão, para que juntamente com os trabalhos feitos por outros grupos, possa- mos melhor entender o processo de participação nas decisões das empresas. Conceito de cogestão Como podemos ver, a cogestão compreende a representação institucional dos funcionários na administração da empresa. Os funcionários podem ser re- presentados pelas comissões de representantes de funcionários, igualmente formados pelos colegas eleitos. A comissão de funcionários, chamada comissão de fábrica quando representa apenas o pessoal de linha de produção, não tem assento na diretoria, mas pode participar de decisões importantes na empresa, por meio de um contrato de cogestão. A cogestão compreende ainda casos em que a administração de um departamento de qualquer natureza é partilhada com outras pessoas ou instituições que não aquelas vinculadas direta ou perma- nentemente à estrutura da direção ou propriedade da empresa. Por exemplo: participação de representantes discentes na congregação da escola; formação de conselhos consultivos ou de orientação de negócios pri- vados ou governamentais; participação da Associação de Pais e Mestres ou dos próprios alunos na direção das escolas; comissões formadas por representantes do governo, funcionários e empresários de ramos industriais específicos, para decidir ou fazer su- gestões sobre preços, salários e impostos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 125 Contextualização A cogestão surge na Alemanha, e as principais leis que regulamentam as suas possibilidades de prática foram estabelecidas na Emenda de Regu- lamentação das Manufaturas de 1891 e na Lei sobre as Comissões de Traba- lhadores de Indústria Extrativa de 1892. Um importante fato ocorrido que influenciou no processo de implantação da cogestão alemã foi a instituição da organização obrigatória de comissões de trabalhadores e empregados para toda a economia. No final da Segunda Guerra Mundial, a união sindical alemã elaborou um programa exigindo a cogestão dos empregados orga- nizados em todas as questões econômicas, sociais e de recursos humanos. Foi elaborada a Lei Empresarial Constitucional, que ajudaria a regulamentar o modelo de cogestão, garantindo aos trabalhadores o direito de acessar informações e documentos, expor seu ponto de vista, debater, aperfeiçoar seus conhecimentos, fiscalizar, prestar consultoria, dar sugestões e recla- mações, aprovar contextos e vetar decisões. A cogestão foi sendo progres- sivamente regulamentada nos diversos setores da economia alemã e em iniciativa mais recente, os sindicatos reivindicaram uma ampliação dos di- reitos de cogestão, abrangendo também as demissões e a introdução de novas tecnologias. Característica da cogestão A cogestão é caracterizada pela participação ativa dos membros eleitos pelos trabalhadores e empregadores, que os representarão nas tomadas de decisões sobre regulamentação e medidas de questões político-sociais, recur- sos humanos ou gestão administrativa. Finalidade da cogestão A finalidade da cogestão é personalizar para o fim específico de atuação dentro da empresa a comunidade dos trabalhadores para que, à semelhan- ça dos sindicatos no mundo externo, possam reivindicar coletivamente seus direitos e estabelecer novas conquistas efetivas, entre as quais se situam as diferentes formas de gestão, que oferece para tal objetivo os instrumentos jurídicos adequados: o conselho de empresa e todos os demais órgãos repre- sentativos do trabalhador. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 126 Abordagem comportamental Meio de exercício da cogestão na empresa A empresa enquanto atividade é conceito sociológico que recebe perso- nificação jurídica através do direito societário. Individualmente o empregado não dispõe de mecanismos de pressão; é necessária a criação de um órgão especial e representativo para efetuar as reivindicações dos trabalhadores no âmbito da empresa. O desenvolvimento da cogestão nas empresas é necessá- rio para que se levem a cabo as enormes tarefas econômicas de nosso tempo, com base na iniciativa privada. A mera propriedade dos meios de produção não mais justifica que o resultado de uma atividade tão complexa flua sim- plesmente para o bolso de quem as possua sem levar em conta a intervenção dos outros fatores que dela participaram. Os interesses dos acionários, dos trabalhadores e da coletividade hão de ser considerados nos resultados para os quais contribuíram. A cogestão alemã Foi adotada a partir de 1976 na Alemanha Ocidental, sendo que iniciou- -se de participação indireta na qual completa um modelo muito avançado, pois entre as experiências internacionais de implantação a mais célebre é a da Alemanha. Em 1920, a legislação previu a criação de conselhos empresariais nas or- ganizações que contavam com no mínimo 20 trabalhadores. Com ascensão do nacional-socialismo, em 1933, toda iniciativa rumo à adoção da cogestão foi proibida. Somente com o fim da Segunda Guerra Mundial os conselhos empresariais reapareceram, em virtude de uma lei decretada pelas forças de ocupação. Em 1949 surgiu a primeira lei pós-guerra elaborada pela União Sindical Alemã, exigindo a cogestão dos empregados organizados em todas as questões eco- nômicas, sociais e de recursos humanos. Já no ano seguinte a maioria dos empresários estava disposta a delegar o direito de cogestão aos empregados. Nessa época foi elaborada a lei que ajudaria a regulamentar o modelo de co- gestão garantindo aos trabalhadores o direito de acesso à informações e do- cumentos, exposição de ponto de vista, aperfeiçoamento de conhecimento, fiscalização, prestação de consultoria. Os trabalhadores alemães elegem os membros dos conselhos empresariais da empresa em número proporcional Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 127 ao do quadro de funcionários permanente. Os direitos de cogestão e de parti- cipação dos empregados são exercidos: no local de trabalho; na empresa comoum todo através de conselhos empresariais e do conselho fiscal; em discussões entre os empregados e empregadores; em termos de conquistas mais recentes, em julho de 1976, entrou em vigor a lei dos empregados, que regulamenta empreendimentos atu- antes em diversos setores da economia alemã, responsáveis por um total de 4,5 milhões de empregados. A cogestão no Brasil A questão foi suscitada pela primeira vez na Constituição de 1967, através do artigo 158, item V, situado no título 111 da Ordem Econômica e Social, com a seguinte redação: “Integração do trabalhador na vida e no desenvol- vimento da empresa com a participação nos lucros e excepcionalmente, na gestão, nos casos e condições que forem estabelecidos.” Existem duas obser- vações importantes a serem tratadas. A primeira diz respeito à preocupação do legislador constituinte em ressaltar o caráter trabalhista social da cogestão, retirando a ordem econômica e social, para colocá-la como direito do traba- lhador urbano e rural. A segunda observação se refere à insistência em tratar a cogestão juntamente com a participação nos lucros, desde a primeira vez que foi constitucionalmente prevista, em 1967. Portanto, no Brasil a cogestão e autogestão tornaram-se alternativas contra a falência do empreendimento e contra o desemprego. Considerações importantes A cogestão não personifica uma visão conservadora do fator trabalho, ao contrário, o reveste de nova perspectiva condizente com o capitalismo mo- derno, igualando-o em importância social, política e econômica com o capi- tal. A cogestão não propõe a extinção do regime capitalista, ao contrário, só é possível dentro de sua própria estrutura. Caso contrário haveria autogestão. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 128 Abordagem comportamental É um aperfeiçoamento do regime capitalista. A cogestão nada tem a ver com os métodos de formação dos sindicatos e são deles, independentes, desde que se constitua através de órgão autônomo e de representação, o que não impede um trabalho conjugado entre ambos. A cogestão diferencia-se da autogestão pelo fato de que nesta última é a administração da empresa que convoca seu quadro de funcionários a par- ticipar da sua gestão. Já na cogestão, são os trabalhadores que elegem seus membros para a representação nas tomadas de decisão da empresa. A auto- gestão também determina a autocoordenação e autocontrole coletivo, em todos os níveis, na cogestão não existe o mesmo poder e participação de todos os funcionários. Conclusão Instituindo a divisão do poder do empregado através da participação, tem-se um novo modelo de organização do estabelecimento e da empresa onde os interesses em conflito assumem forma participativa, o que importa na democratização e no fortalecimento das relações de trabalho, substituin- do-se a subordinação, como característica da relação de trabalho tradicional, pela cooperação, sua marca mais moderna e atual. Começando pelo estabelecimento, onde se discutem de forma dialogada todas as condições de trabalho, a cogestão se estende à própria atividade em- presarial, com a participação do empregado na própria direção e gerencia- mento da atividade produzida. Atividades de aplicação 1. O que pressupõe a hierarquia de necessidades proposta por Maslow? 2. Explique e dê exemplos de fatores motivacionais. 3. Quais são os elementos que compõem o processo decisório? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Abordagem comportamental 129 Gabarito 1. Pressupõe que as necessidades humanas estavam dispostas em cate- gorias, obedecendo a uma hierarquia de importância e de influência. 2. São os fatores relacionados com o conteúdo do cargo e com a nature- za das tarefas que o trabalhador executa no seu típico dia de trabalho. Estes já estão sob o controle do próprio indivíduo, pois relacionacio- nam-se com a sua tarefa, envolvendo sentimentos de crescimento individual e de reconhecimento profissional. Esses fatores dependem das tarefas que os trabalhadores realizam no seu trabalho. O impacto dos fatores motivacionais sobre o comportamento das pessoas é mui- to profundo e estável, pois, quando são ótimos provocam a satisfação, mas quando são precários, eles evitam a satisfação. Exemplos: reco- nhecimento, realização, responsabilidade. 3. Tomador de decisão: a pessoa que faz uma escolha entre várias alter- nativas de ação. Objetivos: é o que o tomador de decisão pretende alcançar através de suas ações. Preferências: são os critérios que o tomador de decisão utiliza para fazer sua opção. Estratégia: é o rumo da ação que o tomador de decisão escolhe para atingir os objetivos da melhor forma. O rumo de ação é o caminho escolhido e depende dos recursos disponíveis. Situação: são os vários aspectos ambientais que envolvem o tomador de decisão, sendo que vários destes estão fora do seu controle, de seu conhecimento ou da sua compreensão e afetam sua escolha. Resultado: é o resultado de uma dada estratégia. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 130 Abordagem comportamental Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Referências BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reynaldo C. Teoria Geral da Administração. Gerenciando organizações. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. CAMPOS, Vicente Falconi. TQC – Controle da Qualidade Total (no estilo Japonês). 5. ed. Rio de Janeiro: Bloch, 1992. CERTO, Samuel C. Administração Moderna. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. _____. Administração de Empresas: uma abordagem contingencial. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 1991. _____. Introdução à Teoria Geral da Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. _____. Introdução à teoria geral da administração. In: Teoria das Relações Huma- nas. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. DAFT, Richard L. Administração. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. DAY, George S. Estratégia Voltada para o Mercado. Rio de Janeiro: Record, 1990. DRUCKER, Peter F. Desafios Gerenciais para o Século XXI. São Paulo: Pioneira, 1999. ETZIONI, Amitai. Organizações Modernas. São Paulo: Pioneira, 1967. EXAME. Ideias, Evoluções, Revoluções. (06 maio 2002). Disponível em: <http:// portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0766/gestao/m0052109.html>. Acesso em: 27 fev. 2008. FAYOL, Henry. Administração Industrial e Geral: previsão, organização, coman- do, coordenação, controle. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1989. GARCIA, F. Coutinho. Democracia Organizacional: uma visão heterodoxa da “práxis” administrativa. Belo Horizonte: UFMG, 1975. HAMPTON, David (Org.). Conceitos de Comportamento na Administração. São Paulo: EPU, 1973. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Referências KOONTZ, Harold; O’DONNELL, Cyrill. Fundamentos da Administração. São Paulo: Pioneira, 1981. KWASNICKA, Eunice Lacava. Teoria Geral da Administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991. LACOMBE, Francisco J. M.; HEILBORN, Gilberto L. J. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003. LAWRENCE, P. R.; LORSCH, J. W. As Empresas e o Ambiente. Petrópolis: Vozes, 1973. MAXIMIANO, Antonio C. A. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 2000. MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Da Escola Científica à Competitividade na Economia Globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. MEGGINSON, Leon C.; MOSLEY, Donald C.; PIETRI JR, Paul. Administração: concei- tos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Harbra, 1998. REENGENHARIA. Disponível em:<http://www.dec.isel.ipl.pt/anexos_disciplinas/ Geco/Ficheiros/CadleiturCapIIIW.doc>. Acesso em: 28 fev. 2008. ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2000. SEMLER, Ricardo. Virando a Própria Mesa. São Paulo: Best Seller, 1988. SILVA, Antônio Álvares. Cogestão no Estabelecimento e na Empresa. São Paulo: Pioneira, 1991. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thom- son Learning, 2002. SIMON, Herbert A. Comportamento Administrativo. Rio de Janeiro: FGV, 1970. SOARES, Luiz Francisco T. A Empresa Viva. Disponível em: <www.uol.com.br/ca- nalexecutivo/artigosd.htm>. Acesso em: 10 dez. 2007. STONER, James A. F.; FREEMAN, R. Edward. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de Administração Científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990. VASCONCELOS, Eduardo; HEMSLEY, James R. Estrutura das Organizações. São Paulo: Pioneira, 1996. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
Compartilhar