Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
I I B I B L I O T E C A E V P H R O S Y N E - 1 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o T R A T A D O D A I M I T A ( ; Ä O " ; · \ ' o ' , . . . . . . . ·~ I . . , . . . ' ( . - I J , -~----- - --------~ - - - , . • . _ _ _ . . . . a _ _ , - - - · . · ' ' • j I n s t i t u t o N a . c i ö - n a l d e Trivestiga~o C t e n t i f i c a DIONtSIO DE HALICARNASSO TRATADO DA IMITA<;XO ffO. q BIBLIOTECA EVPHROSYNE -1 lJs-CJ :v, Y- Dionisio de Halicarnasso TRATADO DA IMITA~ÄO Editado por Raul Miguel Rosado Fernandes U.F.M.G •• BIBLIOTECA UNIVERSITARIA ~111111111111111\lllllllllllllllllll 390650910 NÄO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA 19?' Instituto Nacional de lnvestiga~ao Cientffica Centro de Estudos Chissicos das Universidades de Lisboa LISBOA 1986 Com a colaborac;äo de: MARIA FILIPA MENESES CORDEIRQ ARNALDO MONTEIRO DO ESPJRITO SANTO lOSE SJLV/0 MORE/RA FERNANDES MANUEL AUGUSTO NAIA DA SILVA NOTA PR:EVIA Esta edir;iio e o resultado do trabalho do Seminario de Problematica da Literatura do Mestrado em Litera- turas Classica.') (1982-1984) da Universidade de Lisboa. Os quatro capitulos introdut6rios foram redigidos, respectivamente, pelo orientador do Seminario, Professor Doutor Raul Miguel Rosado Fernandes, e pelos alunos Dr. lose Silvio Moreira Fernandes, Dr. Manuel Augusto Naia da Silva e Dr.a Maria Filipa Meneses Cordeiro. As notas ao texto ficaram a cargo do Dr. Arnaldo Mon- teiro do Espirito Santo, tambem aluno deste Seminario. A tradur;ao - de que foi preparada uma versao provi- s6ria por Arnaldo Espirito Santo para ser discutida nas sessöes do Seminario - e, na sua forma definitiva, da autoria do Prof. Rosado Fernandes. A apresentar;ao final beneficiou das pertinentes obser- var;öes da Professara Doutora Maria H elena da Rocha Pereira, a quem deixamos aqui expresso o nosso reconhe- cimento pelo Parecer dado ao INIC sobre a oportunidade de publicar;iio do De imitatione em portugues. 9 INTRODU{_;ÄO I CONCEP<;öES E FORMAS DE IMITAR: UM ENQUADRAMENTO PARA DIONtSIO DE HALICARNASSO 1. Imita~äo em geral Mimesis {port. mimese), imitatio, imita9äo, eis um termo cuja riqueza semäntica passa despercebida ao Ieitor moderno, uma vez que desde ha muito tempo o acto de imitar passau a ser conotado com a reprodu~äo ou c6pia servil de um modelo. A pr6pria moda intelectual da actualidade repudia qualquer imita~äo, pois todos pensam atingir certa originalidade e pensam que a originalidade, embora potencialmente ligada a modelos, a arquetipos, aparece como que flutuante e ligada ao artista que a criou. Dai a criati- vidade ser en tendida como original, sem que j amais se macule com qualquer ideia de imita~äo. Cremos que esta no~äo romäntica e recente, se atendermos a hist6ria do mundo, de originalidade, sempre existiu, s6 que existiu a paredes meias com a imita~äo, como processo em si, como forma de reproduzir artisticamente o real, ou como forma de aproveitar de modelos, para neles incluir algo de pessoal, inevitavelmente existente, quando provem de um artista criativo. Imitar significa, agora, para qualquer cultor das 11 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a ( , ; a o a r t e s o m e s m o q u e p l a g i a r ; s i g n i f i c a v a c o n t u d o n a a n t i g u i d a d e e a t e a o s e c u l o X V I I I , a l g o d e d i f e r e n t e , d e f o r m a l m e n t e d i f e r e n t e , a i n d a q u e n a e s s e n c i a t u d o s e j a , a n t e s e a g o r a , p r o f u n d a m e n t e o m e s m o . S 6 o a c i d e n t a l m u d o u , c o m o m u d o u a m o d a , c o m o s e a l t e r a r a m o s p r e c e i t o s , q u e n o m u n d o m o d e m o p a r e c e m m e n o s e v i d e n t e s , c o m o o s v e l h o s c ä n o n e s . M u d o u a a t i t u d e , o q u e e s i g n i - f i c a t i v o , m a s n ä o h a d u v i d a d e q u e o s a u t o r e s o u o s a r t i s t a s c o n t i - n u a m a p e r t e n c e r a e s c o l a s , c o n t i n u a m a e s c o l h e r m o d e l o s , c o n - t i n u a r i a m a i m i t a r , s e a p a l a v r a e a n o c ; ä o , s e o s i g n i f i c a n t e e o s i g n i f i c a d o e s t i v e s s e m e m u s o , s e o s r e a l i s t a s o u o s n e o - r e a l i s t a s s e r e o l a m a s s e m d o s s e u s m o d e l o s , s e o s c u l t o r e s d o n o u v e a u - r o m a n a f i r m a s s e m a p a t e r n i d a d e d o s e u d i s c u r s o , s e o s q u e s e g u e m c u i d a - d o s a m e n t e a s e s t r u t u r a s n a r r a t i v a s d e u m J a m e s J o y c e a d m i t i s s e m q u e c l a r a m e n t e o i m i t a m , s e m q u e c o m i s s o o r e p r o d u z a m e d e l e f a c ; a m « C e n t ö e s » . T u d o i s s o p a s s o u ; f a l a - s e d e « r e e s c r i t a » , d e « i n t e r - t e x t u a l i d a d e » , q u a n d o h a u m m o d e l o e v i d e n t e , c o m o e o c a s o d e H o m e r o p a r a o V l y s s e s d e J o y c e , o u d e H o r a c i o p a r a o R i c a r d o R e i s d e P e s s o a 1 , m a s j a n ä o s e f a l a d e i m i t a 9 d o . N a a n t i g u i d a d e 1 A i m i t a < ; ä o t e m p r e o c u p a d o d e s d e s e m p r e o s e s t u d i o s o s d a a n t i g u i - d a d e , e m b o r a o a c e r v o b i b l i o g n i f i c o n ä o s e j a d e s m e d i d o , c o m o a c o n t e c e c o m a l g u n s t e m a s q u e e n t r a r a m n a m o d a , o c a s o d a r e t 6 r i c a , p o r e x e m p l o . C i t a m o s o s t r a b a l h o s q u e s e r v i r a m d e f u n d a m e n t o a o n o s s o e s t u d o e q u e p o d e r ä o s e r d e u t i l c o n s u l t a a q u e m o q u i s e r a p r o f u n d a r . E . N o r d e n , D i e a n t i k e K u n s t p r o s a , D a r m s t a d t , 1 9 5 9 ( s o b r e e d . d e 1 9 0 9 e 1 9 1 5 ) : e u m p i 0 1 1 1 e i r o d o s e s t u d o s d a t e o r i z a < ; ä o l i t e n i . r i a n a a n t i g u i d a d e , b e m c o m o n a I d a d e M e d i a e H u m a n i s m o . 0 p r o b l e m a d a i m i t a < ; ä o e a f l o r a d o f r e q u e n t e s v e z e s e c o m g r a n d e a u t o r i d a d e . E . S t e m p l i n g e r , D a s P l a g i a t i n d e r g r i e c h i s c h e n L i t e r a t u r , L e i p z i g e B e r l i m , 1 9 1 2 : o A . e s t u d a p o r m e n o r i z a d a m e n t e a n o < ; ä o d e p l a g i a t o t a l c o m o e l a e r a c o n c e b i d a p e l o s t e o r i z a d o r e s e c o m e n t a d o r e s g r e g o s , m a s n ä o s e l i m i t a a a n t i g u i d a d e , p o i s f a z f r e q u e n t e s e x c u r s ö e s p e l o s t e m p o s m o d e r n o s e p e l o H u m a n i s m o . E u m a e x c e l e n t e o b r a d e c o n s u l t a c o n c e b i d a c o m g r a n d e v i v a o i d a d e a p e s a r d o s e u p e s a d o a p a r a t o e r u d i t o . H . P e t e r , W a h r e i l u n d K u n s t , G e s c h i c h t s s c h r e i b u n g u n d P l a g i a t i m k l a s s i - s c h e n A l t e r t u m , L e i p z i g e B e r l i m , 1 9 1 1 : t r a t a - s e d e u m e s t u d o s o b r e o v a l o r e m e t o d o s d o s h i s t o r i a d o r e s a n t i g o s , o b r a a i n d a h o j e v a l i d a p e l a s u a c r i t i c a e e r u d i < ; ä o . T e m u m c a p i t u l o ,o X I I I , i n t i t u l a d o P l a g i a t o , p p . 4 1 6 - 4 5 5 . J . B o m p a i i ' e , L u c i e n E c r i v a i n , I m i t a t i o n e t c r e a t i o n , P a r i s , 1 9 5 8 : o b r a d e f u n d o s o b r e L u o i a n o , o r l i g i n a l e i m i t a d o r , c o m i n U : m e r a s r e f e r e n c i a s a o f e n 6 - m e n o d a i m i t a < ; ä o e m g e r a l , t a n t o e n t r e o s G r e g o s c o m o e n t r e o s R o m a n o s . 1 2 Um Enquadramento para Dionisio de Halicamasso näo era assim, nos tempos antigos, se assim podemos dizer, tam- bem näo. Vamos tentar mostn}...lo e examinar a opiniäo de alguns teorizadores da literatura atraves dos seculos. 2. Mimese entre os Gregos Ja na antiguidade havia a noc;;äo de que a mimese ou imita9äo era expressa com varios matizes semänticos, conforme a posic;äo fiJos6fica do teorizador. Para P·latäo mimeisthai - que no fundo significa em grego «representar por mimica» a realidade, desde A primeira parte e dedicada inteiramente, pp. 13-153, a La Doctrine de la Mimesis. A informa~äo do A. e excelente, bem como e correcta a perspeotiva qrue nos da. W. Kroll, Studien zum Verständnis der Romischen Literatur, Estugard:a, 1924: escrito IPQr este grande mestre da Hteratura latina, encontmmos o ess·encial sobre a imita~äo nas letras romanas, no cap. VII, Originalität und Nachahmung (Originalidade e Imita9ao). Introduz o Ieitor moderno neste aspecto da literatura latina, cujos maiores representantes nunca esconderam seguirem os >modelos gregos. Creative Imitation and Latin Literature, edited by Davd.d West & Tony Woodman, Cambridge, s.d. (1979): excelente recolha de artigos sobre a imita- ~äo na literatura latina, bern oomo na. literatur.a eruropeia que foi influen- ciada pelos modelos romanos (ChatUcer, J. Donne e Shakespeare versus Ovidio). E Ullll livro estimulante pela forma despretenciosa, embora altamente critica e erudita, como apresenta os assuntos. Apontamos como essencial o artigo nwnero I de D. A. Russel, De imitatione, pp. 1-16, que com muita brevidade coloca o Ieitor moderno dentro de um problema que ele, moderno, tem difi- ou1dades em compreender. AnibaJ. Pinto de Castro, Ret6rica e Teoriza9ao Literaria em Portugal, Coitmbra, 1973: .ainda que seja uma obra muito especializada, e extremamente importante para o conhecimento das ati1Judes e sensibil>idades dos teorizadores ·portrugueses quanto a imita~äo, mUJito especia1mente da orat6ria religiosa. Obras genericas sobre literatura la:tina e ilmita~äo, fundamentais para quem desejar abarcar o problema em todas as sruas vertentes, säo: Gordon Wiilliams, Tradition and Originality in Roman Poetry, Oxford, 1968; Andree Thill, Alter ab illo- Recherehes sur l'imitation dans la poesie personneUe a l'epoque augusteenne, Paris, 1979. Quanto as influencias dos temas classicos na poesia portuguesa e, por consequencia, quanto as tais fontes de imita~äo de ,que se fala, e extrema- mente util a leitrura de M. H. Rooha Pereira, Temas Classicos na Poesia Portuguesa, Lisboa, 1972, bem como da m·esma A., «A Aprecia~äo dos Tn1gicos 13 Usuario Highlight D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a Imita~äo o c a n t o d o p a s s a r o a f a l a d e a l g u e m - e , p o r t a n t o , a m i m e s z s , r e l a c i o n a t r a n s c e n d e n t a l m · e n t e a a r t e h u m a n a c o m o a r q u e t i p o o u a I d e a , s o q u e a r e l a < ; ä o n ä o e p e r f e i t a , p o r q u e p e r f e i t o s 6 o a r q u e t i p o . P l a t ä o e x e m p l i f i c a a t e o p r o c e s s o , d e u m a f o r m a c o m e z i n h a m a s e x t r e m a m e n t e e l u c i d a t i v a , n o q u e d i z r e s p e i t o a i m i t a < ; ä o d a r e a l i d a d e p a l p a v e l . N o l i v r o X d a R e p u b l i c a , q u a n d o d i s c u t e o s m a l e s q u e p o d e m v i r d a imita~äo p o e t i c a , o q u e o l e v a a e x o l u i r o s p o e t a s d a s u a c i d a d e i d e a l , i l u s t r a c o m o e x e m p l o d a c a m a o s t r e s t i p o s d e c a m a s q u e p o d e m e x i s t i r : « U m a q u e e a f o r m a n a t u r a l , e d a q u a l d i r e m o s , s e g u n d o e n t e n d o , q u e D e u s a c o n f . e c c i o n o u . ( . . . ) O u t r a , a q u e e x e c u t o u o m a r c e n e i r o . ( . . . ) O u t r a , f e i t a p e l o p i n t o r 2 » . T u d o i s t o l e v a o f i l 6 s o f o a d e d u z i r q u e : « P o r c o n s e g u i n t e , a a r t e d e i m i t a r e s t a b e m l o n g e d a v e r d a d e 3 » . A m a v o n t a d e d e P l a t ä o e e n o r m e , v i s t o c o n s i d e r a r q u e o s p o e t a s , p o i s e 0 c a s o q u e m a i s l h e i n t e r e s s a , n ä o p u d e r a m t e r f e i t o t u d o 0 q u e d e s c r e v e m e i m i t a m . T a l e o c a s o d e H o m · e r o , q u e e c r i t i c a v e l , p o r q u e d e t u d o f a l a s e m r t e r r e a l i z a d o t u d o ( o q u e n a t u r a l m e n t e t e r a d e s e r a d m i s s i v e l , a m e n o s q u e q u e i r a m o s s e g u i r a f a l a c i a p l a t 6 n i c a n i t i d a m e n t e m a x i m a l i s t a ) , e o q u e p a r a q u a l q u e r d e n 6 s s e r i a n o r m a l , p a r a P l a t ä o n ä o o · e . E s t a s i m p l e s d i s s o c i a < ; ä o e n t r e i m i t a < ; ä o e r e a l i d a d e l e v a - o a a f i r m a r s e m m a i s d e l o n g a s : « O c r i a d o r d e f a n t a s m a s , o i m i t a d o r ( . . . ) n a d a e n t e n d e d a r e a l i d a d e , m a s s 6 d a a p a r e n c i a 4 » . O r a a i l u s ä o e p e r i g o s a . . . e q u e m a p r o v o c a d e v e s e r p r o i b i d o d e e s t a r n a r e p u b l i c a i d e a l . J a A r i s t 6 t e l e s c o n s i d e r a , c o m o n a t u r a l i s t a q u e e , a i m i t a < ; ä o n a s s u a s d i v e r s a s f o r m a s , e s e m e s q u e c e r a r e l a < ; ä o i m i t a < ; ä o / · r e a l i - d a d e , r e a l i d a d e q u e p o d e s e r a p r 6 p r i a n a t u r e z a d a s c o i s a s o u G r e g o s p e l o s P o e t a s e T e o r i z a d o r e s P o r t u g u e s e s d o S e c u l o X V I I I » , h M e m 6 - r i a s d a A c a d e m i a d e C i e n c i a s d e L i s b o a ( C l a s s e d e L e t r a s ) , t o m o X X I V ( 1 9 8 5 ) , p p . 2 1 - 4 1 . A r e s p e i t o d e i n t e r t e x t u a l i d a d e , v i d . C a r l o s R e i s , T e c n i c a s d e A n d l i s e d o T e x t o L i t e r d r i o , C o i m b r a , 1 9 7 6 , p p . 2 8 1 - 2 8 3 ; q u a n t o a r e e s c r i t a , v i d . e n t r e o u t r o s , R . B a r t h e s , 0 G r ä o d a V o z , L i s b o a , s . d . ( 1 9 8 1 ) , p . 5 3 , p a s s i m ; M . A n g e n o t , G l o s s d r i o d a C r i t i c a C o . n t e m p o r a n e a , L i s b o a , s . d . ( 1 9 8 2 ) , s . v . r e e s c r i t a ( t e r m o d e g r a m . g e n e r a t i v a ) . 2 R e p . , X , 5 9 7 b , p . 4 5 5 (tradu~äo d e M . H . R o c h a P e r e i r a e r n P l a t ä o , A R e p u b l i c a , i n t r o d . , t r a d . e n o t a s d e . . . . ~isboa, G u l b e n k . i a n , s . d . ( 1 9 7 2 ) ) . 3 R e p . , X , 5 9 8 b , p . 4 5 7 4 R e p . , X , 6 0 1 b , p . 4 6 4 . 1 4 Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassodas aq;öes humanas e outras. Naturalmente que essa imita~äo e pr6pria de muitas artes, como a musica, o canto, a pintura (que servini como exemplo em Horacio para a pr6pria poesia, A.P., 361, ut pictura poesis) e, obviamente, da poesia. Ha contudo uma rela~äo directa com a realidade, que chega ao ponto de fazer afirmar a Arist6teles que a arte imita a natureza 5• Naturalmente que o imitar näo significa aqui copiar, mas sim fazer como ou fazer como a natureza faz, na medida em que o verbo mimeisthai que inegavelmente significa imitar, nem sempre pode ser tradu- zido como tal, como e o caso da afirma~äo contida na Poetica em que o fil6sofo nos explica qual a diferen~a entre a tragedia e a comedia: «esta quer representar (mimeisthai) os homens piores, ao passo que a outra os quer representar melhores do que na realidade 6». E evidente que näo e possivel simplificar demasiada- mente o processo imitativo, na medida em que säo varios os cami- nhos seguidos por quem tenta reproduzir a realidade e comunica-la ao leitor, ao destinatario em geral, e na medida tambem em que a pr6pria inten~äo varia, näo sem que o poeta o queira fazer sentir a quem o le. A c6pia näo e servil e permite varia<;öes importantes ditadas pela percep~äo pessoaJ do narrador ou poeta: «Porque 0 poeta e imitador, tal como 0 pintor ou qualquer outro artista plastico, necessario se torna que adopte sempre uma das tres maneiras de imitar: ou representa as coisas tais como foram e säo; ou tais como as dizem e parecem ser; ou entäo tais como deveriam ser 7 ». Ao contrario do que acontecia com Platäo, considera Arist6- teles ~que existe uma rela~äo autentica entre o poeta e a realidade e que o resuJtado dessa rela~äo manifestado por um processo imitativo renecte näo uma palida imagem de uma ideia longinqua, mas uma uoluntas imediata, que vai ser sentida pelo destinatario. Por outro lado a mimese aristotelica dificilmente pode ser enten- dida como simples c6pia, valor semäntico que mantera atraves dos seculos, sobretudo quando passar a ser divulgada pela cultura latina, que a vira a transmitir as literaturas ocidentais europeias. 5 Physica, 194 a, 22. Vid. o comentario de Liberato Santoro, «Some Remarks on Aristotle's Concept of Mimesis», REA, LXXXII (1980), 35 e ss. 6 Poetica, 1448 a, 17-19. 7 Poetica, 1460 b, 8. rutru•. r'•culd•i• •• \.--- J ll'tHetaat _ ----- 15 Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight Usuario Highlight D i o n i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a I m i t a { : ä o P o u c o a p o u c o v i n i a f o r r n a r - s e a t e o r i a d a imita~äo q u e c o m - p r e e n d e n i a imita~o « e m s i p r 6 p r i a » , i s t o e , c o m o transposi~äo d a r e a l i d a d e e n v o l v e n t e p o r m e i o d e u m c a t a l i z a d o r , q u e e o p r 6 p r i o a r t i s t a , q u e t r a n s m i t e o q u e a p r e n d e d o s h o m e n s , d a s c o i s a s . e d o s a c o n t e c i m e n t o s a o d e s t i n a t a r i o , p a r a q u e m e s c r e v e , p i n t a o u dan~a. M a s n ä o e e s t a a u n i c a f o r m a d e imita~äo, e m b o r a e m A r i s t 6 t e l e s s e j a a p r e v a l e c e n t e . N a s e p o c a s p o s t e r i o r e s v i r a a c r i a r - s e a t e o r i a d a imita~äo d e m o d e l o s , n o f u n d o , d o s c l d s s i c o s , d o s q u e s e ~eem n a c l a s s e , n a e s c o l a , p o r s e r e m u n i v e r s a i s . C o r n o s e d e v e c o m p o r t a r o a r t i s t a p a r a c o m o s m o d e l o s a i m i t a r , e o q u e s e e x p l i c a r a a s e g u i r . C o n t i n u a n d o a i n d a n a G r e c i a s e r i a p o s s i v e l o b s e r v a r a p e r m a - n e n c i a d a t e o r i a d a m i m e s e p o r t o d a a e p o c a a 1 e x a n d r i n a , e e e s t a q u e p o r c e r t o i n f l u e n c i a r a H o n i c i o , t e o r i a q u e a n o s s o v e r s e a f a s t a r a c a d a v e z m a i s d o s m o l d e s p l a t 6 n i c o s p a r a s e g u i r a h u m a - niza~äo q u e l h e i n j e c t o u A r i s t 6 t e l e s e , m a i s a i n d a , p a r a a t o r n a r c a d a v e z m a i s c o n c e b i v - e l e p e r c e p t i v e l e m m o l d e s p r a t i c o s . H a v i a a n~äo d e q u e o s t e o r i z a d o r e s p o d i a m i n f . l u e n c i a r o s a r t i s t a s , f a c t o d e q u e m u i t o s d u v i d a m o s n o s t e m p o s m o d e r n o s , a m e n o s q u e , t a l c o m o n o s t e m p o s i d o s , a r t i s t a e t e o r i z a d o r s e j a m u m a e a m e s m a c o i s a . Q u e r i n f l u e n c i e m o u n ä o , h a q u e o b s e r v a r n o e n t a n t o o s t e o r i z a d o r e s , p o 1 1 q u e p e l o m e n o s s ä o e l e s q u e r e f l e c t e m d o p o n t o d e v i s t a h i s t 6 r i c o a s c o r r e n t e s q u e e s t a v a m e m u s o n o s e u t e m p o . N a v : e r d a d e , u m a d a s o b r a s q u e p o s t e r i o r m e n t e v e i o a in~luenciar m u i t o d o p e n s a m e n t o t e 6 r i c o d a cria~äo l i t e r a r i a f o i u m a o b r a t a r d i a , d o s e c u l o I d . C . , a t r i b u i d a a u m L o n g i n o d e d i f i c i l identifica~äo p o r f a l t a d e p r o v a s c o n c l u d e n t e s , i n t i t u l a d a D o S u b l i m e , · e · q u e a l e m d e r e f l e c t i r a predisposi~äo a n t i g a p a r a p r i v i l e g i a r o s g r a n d e s m o d e l o s e o e s ü l o s u b l i m e d a e p o p e i a , d a t r a g e d i a o u d o d i s c u r s o p o l i ü c o , e m oposi~äo, p o r e x e m p l o , a o e s t t l o o b s c c e n u m ( a r e p r e s e n t a r f o r a d a c e n a ) d o r o m a n c e , n o s t r a n s m i t e i m p o r t a n t e s r e E l e x ö e s s o b r e o q u e e n t e n d e o a u t o r s e r a m i m e s e . D e s d e o s t e m p o s h e l e n i s t i c o s e m u i t o e s p e c i a l m e n t e d e s d e o d o m i n i o r o m a n o s e t i n h a come~ado a esb~r u m a t e n - d e n c i a p a r a o r e t o r n o a o s g r a n d e s a u t o r e s d o p a s s a d o , t e n d e n c i a a q u e p o d e r i a m o s c h a m a r a r c a i z a n t e d o p o n t o d e v i s t a l i n g u i s t i c o e q u e s e v a i a c e n t u a r c a d a v e z m a i s e a t i n g i r o s e u a u g e c o m a s e g u n d a S o f i s t i c a d o s e c u l o I I d . C . 0 p s e u d o - L o n g i n o , e m b o r a 1 6 Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso näo seja um exemplo tipico desse arcaismo, nem por isso deixa de recomendar no seu tratado Do Sublime as diversas formas de atingir a suhlimidade do pensamento, tendo para isso presente a teoria plat6nica das tres fases da imitac;äo, em que o terceiro imitador bem Ionge ficava do arquetipo. Assim Longino aconselha «a imi tac;äo e a emulac;äo dos grandes prosadores e poetas dos velhos tempos 8 », mimesis e zelosis dos antigos modelos, portanto. Quanto aos modelos dignos de serem imitados, nada admira: ja ha muito se irnstitufra a ~pratica. Mas Longino acrescenta mais um dado, que e a zelosis, lat. remulatio, 0 despique ri.müativo ins- pirado pelos ch1ssicos. Existe pois um novo conceito que implica quase que inveja e competic;äo, defeitos parece que saudaveis para atingir a sublimidade da composic;äo liteniria. Mais adiante Longino avanc;a mesmo a descric;äo dessa luta competitiva entre imitador e modelo, afirmando que Platäo näo teria atingido täo grandesbelezas se näo 1ives·se, tal como um atleta moc;o, «1utado oom toda a al1ma contra Homero, para ficar depois no primei,ro lugar 9». E pois com esta nota de imitac;äo que nos deixa Longino, que e, ao firne ao cabo, o tipo de imitac;äo que todos acabaräo por defen- der, com matizes mais ou menos profundos, pelos s~eculos fora. Tambem Dionisio de HaHcamasso falara de mimesis junta- mente com zelos, s6 que este ultimo näo seni concebido täo subli- memente como o de Longino, sera sim «uma actividade do espirito que o move no sentido da admirac;äo daquilo que lhe parece ser belo 10». Ternos aqui uma emulac;äo ao alcance de muitos, sem a preocupac;äo aristocratica de um Longino, que certamente exagera no platonismo, e como plat6nico tudo coloca a distäncias s6 atingiveis quase que pela fe, que näo pelo espirito do artista menos religioso. Ernbora näo encontremos grande novidade nas teorias expen- didas por Dionis·io de Halicamasso, nem por i~sso temos de deixar de reconhecer que o canicter pratico dos seus ensinamentos e, dirfamos ate, das suas parabolas, nos da uma ideia concreta, muito longe da inspirac;äo plat6nica e, mantemos, religiosa, de Longino. 2 8 Do Sublime, XIII, 2. 9 Do Sublime, XIII, 4. to Da I mita~äo, I, 3. 17 D i o n : i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a Imit~äo A h i s t 6 r i a d o c a m p o n e s q u e p a r a t e r f i l h o s b o n i t o s , q u e a s i p r 6 p r i o n ä o p o d e r i a m s a i r p o i s e r a f e i o , f a z v e r a m u l h e r q u a d r o s d e g e n t e b e l a , p a r a q u e a o p r o c r i a r t r a n s m i t i s s e e s s a m e s m a b e l e z a 1 1 , e l u c i - d a - n o s s o b r e a n e c e s s i d a d e d e c o n t e m p l a r e i m i t a r o s m e l h o r e s m o d e l o s d a a r t e q u e c u l t i v a m o s . A s s i m t a m b e m a h i s t 6 r i a d e Z e u x i s , o c e l e b r e p i n t o r g r e g o q u e e m C r o t o n a c o n s e g u i u r e c o l h e r d e v a r i o s m o d e l o s f e m i n i n o s e n u s o q u e e m c a d a u m h a v i a d e m a i s b e l o , m o s t r a - n o s , p e l a i m a g e m , q u e o i m i t a d o r t e m u m a fun~äo i n d i v i d u a l i m p o r t a n t e , q u e p r e s s u p ö e e s c o l h a e u o l u n t a s e e x i g e , p o r c o n s e g u i n t e , u m a interven~äo p e s s o a l q u e n ä o s e c o a d u n a c o m o s e r v i i l i s m o e a i d e i a d e c 6 p i a q u e e s t ä o n o f u n d a - m e n t o d a s n~öes d e i m i t a 9 ä o - p l d g i o . P o d e r - s e - a i n f e r i r , i s s o s i m , q u e t o d a a imita~äo t e r i a d e s e r r e a l i s t a e q u e o r e a l i s m o s e r i a a c o n s t a n t e d a l i t e r a t u r a a n t i g a , o q u e n ä o e a c e i t a v e l , n a m e d i d a e m q u e a p r 6 p r i a i d e i a d e composi~äo t i r a d a · d e v a r i o s m o d e l o s p o d e r a t e r r e s u l t a d o s p e s s o a i s q u e n ä o r e f l i c t a m n e c e s s a r i a m e n t e o r e a l , t a n t o m a i s q u e o s c ä n o n e s e s t r e i t o s t a n t a s v e z e s i m p o s t o s s ä o , a n o s s o v e r , a p r i m e i r a e m a i s i m p o r t a n t e p r o v a d e q u e n ä o s e p r o c u r a e s s e n c i a l m e n t e a r e a l i d a d e , m a s a s v e z e s a t e , c o m o v i m o s e m A r i s t 6 t e l e s 1 2 , m e l h o r a - 1 a o u p i o r a . ; l a . 0 f a c t o d e s e a c o n - s e l h a r a r i v a l i d a d e e emula~äo m a i s n o s c o n v e n c e d e q u e o i n d i - v i d u o t e m u m p a p e l i m p o r t a n t e n o p r o c e s s o d e m i m e s e e c o m o t a l d e v e r a s a i r d a c 6 p i a r e a J i s t a q u e , a l i a s , d i f i c i l m e n t e e x i s t e d e v i d o a o m o v i m e n t o e d r a m a d e t u d o o q u e n o s r o d e i a . N a e p o c a d e D i o n i s i o d e H a J i c a r n a s s o , s e c . I d . C . , a i n d a s e f a z i a s e n t i r o c a l o r d a p o l e m i c a e n t r e o a s i a n i s m o e o a t i c i s m o , q u e m a i s n ä o e d o q u e a d i s c u s s ä o e n t r e n e o t e r i s m o e a r c a i s m o , a s d u a s v e r t e n t e s d a s e m p r e n o v a e d a s e m p r e v e l h a q u e s t ä o e n t r e a n t i g o s e m o d e r n o s , c o m r e f . l e x o s e v i d e n t e s n o c i r c u l o d e e s c r i t o r e s l a t i n o s d a e p o c a f i n a l d a r e p u b l i c a , c o m o v e r e m o s , m a s q u e c o n t i - n u a r a n a e p o c a i m p e r i a l , n a s d i v e r s a s f a s e s e m q u e A t e n a s p r o c u r a r e n a s c e r c u l t u r a l m e n t e p o r m e i o d o esfor~o d e t e o r i z a d o r e s l i t e - r a r i o s e d e d e c a d e n t e s r e n o v a d o r e s n o c a m p o d a o r a t 6 r i a 1 3 • Q u a n d o 1 8 n D a I m i t a r ; ä o , l i , 6 . 1 2 V i d . p . 1 5 , n . 7 . 1 3 V i d . E . N o : r d e n , D i e a n t i k e K u n s t p r o s e , v o l . I , p . 2 5 8 s s . Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso chega a Segunda Sofisica e esta dominada pelos mestres de Ret6- rica e por especialistas em exercicios literarios (progymnasmata) que, apesar da repugnäncia que por tais actividades possamos sentir, näo deixaram de ter enorme releväncia no seu tempo, representantes que säo de um certo culto da forma e do empenho em executar os preceitos te6ricos das artes de bem falar. Naturai- rnente que tinham os seus modelos e, como os tinham, täo-pouco lhes era estranha a imita~äo, como teoria e pnitica. Luciano e um contemporäneo condigno dessa epoca de gvande teoriza<;äo, sobre- tudo no campo da ret6rica e, como e de esperar, toma uma posi<;äo no respeitante a mimese, tanto mais que se mostra incredulo quanto a inspira~äo, tal como demonstra na Discussäo com H esiodo 14• Desta sorte e a imita~äo que deve recorrer quem escreve seguindo os escritores antigos como modelos, se bem que utilizando expres- söes correntes. Ernbora aticista, näo o e do ponto de vista grama- tical, mas täo-s6 de espfrito, no r·espeito dos grandes nomes e modelos da antiguidade ateniense 15• Luciano e um, entre outros, dos que se movimentaram inte- lectualmente durante essa epoca de decadencia, sem duvida, mas altamente produtiva e que preparou parte importante do que vini a ser o legado bizantino. E um mundo ligado ao paganismo que depois vini a desaparecer quando a religiäo cristä se implanta no imperio do Oriente. A sua influencia sobre a cultura ocidental exerceu-se fortemente, mas näo se pode comparar com a persis- tencia dos ensinamentos colhidos na cultura latina que, sempre influenciada pela grega, conseguiu no entanto perpetuar-se na teoriza~äo liteniria ate aos nossos dias. 3. «Imitatio» entre os Romanos Ernbora a sociedade culta romana estivesse informada da teoriza~äo liteniria logo a seguir a vit6ria romana sobre os Carta- gineses, a verdade e que näo chegaram ate n6s autores em que 14 Hesiodo, 7-9. 15 J. Bompaire, Lucien .. . , pp. 100 ss. em que se ooupa da doutrina da mimesis na epoca de Luciano e em Luoiano. 19 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a c ; ä o a t e o r i a d a i m i t a t i o a p a r e 9 a j a f o r m u l a d a . T e r n o s d e e s p e r a r p e l o f i n a l i z a r d a r e p u b l i c a p a r a e n c o n t r a r r n o s , t a l c o r n o n a G r o c i a d ar n e s r n a e p o c a , a l g u r n c o r p o d e d o u t r i n a e r n q u e s e d i g a o q u e p e n s a v a r n o s R o r n a n o s d o p r o c e s s o i r n i t a t i v o . E r n p r i n c i p i o n ä o v ä o p e n s a r m u i t o dif,er~entem,ente d o s G r e g o s , m~as t a r n b e r n n ä o e p o s s i v e l i g n o r a r q u e v ä o s e g u i r c a m i n h o s r n a i s p r a g r n a t i c o s e r n u i t o m a i s p e d a g 6 g i c o s , n ä o c o n t r a s t a n d o n e s t e a s p e c t o c o r n o p e n d o r g e n e r a l i z a d o d o R o m a n o e r n s e g u i r a p a s s o f i r m e p e l o s c a r n i n h o s d a p r a t i c a . H a u r n a n o 9 ä o c a d a v e z m a i s s e g u r a d o q u e s e p o s s a c h a r n a r b o a o u m a i r n i t a 9 ä o . E p r e c i s o l e r r n u i t o ~e t e r o u v i d o r n u i t o p a r a s e r u m b o m o r a d o r , d i z C i c e r o n o D e O r a t o r e 1 6 , e H o r a c i o a c o n s e l h a a c o r n p u l s a r d i a e n o i t e o s e x e m p l a r i a G r c e c a 1 7 , n ä o p o r q u e e s t e s s e j a r n g r e g o s , d i z D . A . R u s s e ! , m a s p o r q u e e r a m d e q u a l i d a d e 1 8 • D e f a c t o a l e i t u r a d o s c l a s s i c o s e o p r i n c i p i o u n i - v e r s a l m e n t e a d m i t i d o e a g o r a a c o n s e l h a d o d e f o r m a c a t e g 6 r i c a p e l o s t e o r i z a d o r e s e , n o s d o i s c a s o s i n d i c a d o s , a r t i s t a s i g u a l m e n t e . N o e n t a n t o h a f o r r n a s r n e n o s s u b t i s d e i r n i t a r , t a J . c o m o a c o n t e c e c o m o s o r a d o 1 : 1 e s m a i s f r a c o s q u e s 6 i m i t a m o q u e e f a c i l , a d v e r t e C i c e r o : « C o n h e c i f r e q u e n t e m e n t e m u i t o s o r a d o r e s , q u e p e r s i s t i a r n e r n i r n i t a r o u a s s u n t o s f a c e i s d e c o p i a r o u r n e s m o q u a s e d e f e i t o s b e r n c o n h e c i d o s . N a d a e r n a i s f a c i l d o q u e i r n i t a r a f o r m a d e v e s t i r d e a l g u e m , o u a s u a p o s i 9 ä o o u o s e u a n d a r 1 9 » . E s s e s s ä o i r n i t a - d o r e s a q u e m H o r a c i o c h a r n a d e g a d o s e r v i l , s e r u u m p e c u s 2 0 , e c o n t r a o s q u a i s n ä o s e e s q u e c e d e a l e r t a r n a A r t e P o e t i c a o c a n d i - d a t o · a b o a p o e s i a : « E t ä o - p o u c o p r o c u r a r a s , c o r n o s e r v i l . i n t e r p r e t e , t r a d u z i r p a l a v r a p o r p a l a v r a , n e r n e n t r a r a s , c o r n o i r n i t a d o r , e m q u a d r o r n u i t o e s t r e i t o d e o n d e t e i r n p e d i r ä o d e s a i r a t i r n i d e z e a e c o n o m i a d a o b r a 2 1 » . N a v e r d a d e i m i t a 9 ä o n ä o s u p ö e s e r v i l i s m o , p o i s o s b o n s m o d e - l o s s ä o , n a t e o r i a h o r a c i a n a , p u b l i c a m a t e r i e s p r i u a t i i u r i s 2 2 , i s t o e , 2 0 1 6 I , 2 1 8 ; I I , 8 5 , 1 3 1 . 1 7 A r t e P o e t i c a , 2 6 8 - 9 . 1 8 D . A . R u s , s e l , a r t . c i t . , p . 1 . 1 9 D e o r a t o r e , I I , 9 0 - 1 . 2 o E p i s t . , I , 1 9 , 1 9 . 2 1 A r t e P o e t i c a , 1 3 3 - 1 3 5 . 2 2 A r t e P o e t i c a , 1 3 1 . Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso mat·eria a todos pertencente que seni legitima perten<;a do poeta, caso ele näo se Iimite a copiar. Havia na verdade espa~o bastante no esfon;o imitativo para que o autor nele pusesse algo de seu (priuati iuris). Um pouco mais pessimista quanto a possibilidade de preservar o poder criativo e Quintiliano, que aconselha a imitatio, porque «·e necessario que sejamos iguais ou diferentes dos bons. Raramente a natureza permite que a:lguem seja igual, frequenterneute e a imita~äo que o permite 23 ». Poucos podem por conseguinte igualar os modelos e tambem imitar somente näo basta. Se assim fasse, nada teria sido inventado. Ha qua~lidades do orador que a tecnica e a imita~äo por si s6s näo podem dar. Ha que ter inteligencia e a capacidade de compreender por que e o modelo escolhido täo bom. 0 bom orador näo segue a peugada de ninguem. Procura sim aproveitar da obra dos que o precederam para tentar ultra- passar as suas deficiencias. Säo pois imitatio e cemulatio, como ja preconizavam os teorizadores gregos, as duas formas, segundo Quintiliano, de granjear capacidade criativa em rela~äo aos mode- los e face aos destinatarios. Ao recolhermos a opiniäo de tres dos mais celebres criticos da antiguidade romana, procuramos apresentar as posi~öes basicas sobre o problema da imitac;äo, que näo exclui a ideia de imitac;äo servil. A fa1lta de qualidade na imitac;äo, certa consanguinidade que se manifesta nas escolas de retores, a pr6pria situa~äo politica de quebra da Hberdade em certas fases do imperio, tudo isso vai conrt:ribuir para a decadencia da oratöda, por um lado, e para a futiHza~äo e barroquismo da poesia, por outro. E evidente que por mais que procuremos näo e facil encontrar epoca em que mais se tenha abertamente imitado e que seja mais original do que o seculo de VirgiHo e de Horacio, o que prova a saciedade que näo foi devido a i,m,i ta~äo, conf.essada täo candidamen te por Horacio que ate dela se gaba, que a poesia, ou qualquer outro genero literario romano, se encaminhou para a decadencia que caracte- rizou tantas ocasiöes da longa vida cultural do imperio. 0 espa~o 23 De institutione oratoria, X, 2, 3. 0 capitulo 2 do liv,ro X trata da imita~äo e apresenta grandes 1semelhan~s com a teoria defendida po:r Dionisio de Halicarnasso, julga-se que por existir fonte comum. 21 D i o n i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a I m i t Q . f i i o p r i v a d o e c r i a t i v o p o d i a c o m e f e i t o p r e s e r v a r - s e d e n t r o d e u m a t e c n i c a q u e p e r m i t i a a i m i t a c ; ä o d e o l a r a d a , a o i n v e s d o q u e s e p a s s a c o m o s a u t o r e s d o s n o s s o s t e m p o s . I s s o n ä o i m p e d i a , c o n - t u d o , q u e j a n a p r 6 p r i a a n t i g u i d a d e s e t i v e s s e m l e v a n t a d o p r o b l e - m a s d e i n d o l e e t i c a e a r t i s t i c a c o m o o s q u e h o j e s ä o c o n h e c i d o s d a n o s s a s e n s i b i l i d a d e 2 4 • 4 . 0 « p l a g i o » n a a n t l g u i d a d e A i d e i a d e k l o p e ( f u r t o , p l d g i o ) o u d e p l a g i u m ( r o u b o d e g a d o , d e e s c r a v o s , p l d g i o ) j a e x i s t i a n a a n t i g u i d a d e a p a r d a d e m i m e s i s e d e i m i t a t i o . A o f i r n e a o c a b o , q u e m c o p i a v a d e m a i s r o u b a v a o m o d e l o . C o r n o e r n t o d o s o s r o u b o s h a v i a e v i d e n t e m e n t e g r a u s d e g r a v i d a d e d o c r i m e , t a n t o m a i s q u e o s c r i t i c o s , a o i m p u t a r e m - n o , n e m s e m p r e e s t ä o l i v r e s d e c e r t o f a c c i o s i s m o e s u b j e c t i v i s m o . S e j a c o m o f o r , i n t e r e s s a s a b e r q u e a n~äo d e p l a g i a t o e x i s t i a , e m b o r a d e u m a f o r m a m a i s d i f u s a , p o r v e z e s m a i s p e s s o a l e c o l e - r i c a , n o r e s p e i t a n t e ao s a c u s a d o r e s , m a s s e m q u e u m a u t o r , p o r e x e r n p l o , d e h i s t 6 r i a , s e s e n t i s s e s e m p r e n a o b r i g a t o r i e d a d e d e c i t a r a s s u a s f o n t e s . D e r e s t o , e m t o d a s a s a r t e s s e p ö e o m e s m o p r o - b l e m a d a d e p e n d e n c i a d e a r t i s t a s l i t e r a r i o s o u p l a s t i c o s d o s m o d e - l o s q u e p o r v e n t u r a ' l h e s s ä o a t r i b u i d o s e n a d a i m p e d i u , c o m o j a s e d i s s e a p r i n c i p i o , q u e a r t i s t a s m o d e r n o s b u s c a s s e m m o d e l o s a n t i g o s , e s o b r e e l e s f i z e s s e m « v a r i a c ; ö e s » , s e m q u e p o r i s s o p e r - d e s s e m a s u a o r i g i n a l i d a d e ( P e s s o a , J o y c e , e t c . ) . L e m b r a m o s a p r o p 6 s i t o a s p e c ; a s d e J . S . B a c h s o b r e t e m a s d e V i v a l d i , q u e n u n c a f o r a m c o n s i d e r a d a s p o r n e n h u m c r i t i c o , o u p o r q u a l q u e r c o l e g a , c o m o t e n d o s i d o f u r t a d a s a o c o m p o s i t o r i t a l i a n o . J u l g a m o s d e f a c t o q u e o t e r m o v a r i a 9 ö e s , q u e v e m d o ä m b i t o m u s i c a l , p o d e d e c e r t a f o r m a i l u s t r a r o q u e s e p r e t e n d i a c o m a i m i t a c ; ä o , s a b e n d o n 6 s t o d o s d e a n t e m ä o q u e q u a n t o m e n o s f o r e m a s v a r i a 9 ö e s , m a i s s e a p r o x i m a a o b r a a n a l i s a d a d o f u r t o e d o p l a g i a t o . P a r a c o l i g i r a s o p i n i ö e s a n t i g a s q u e a b o n a v a m o u n ä o a o r i g i - n a l i d a d e d o s a r t i s t a s , s ä o d e e x c e p c i o n a l u t i l i d a d e o s c o m e n t a d o r e s 2 4 V i d . C . 0 . B r J n k , H o r a c e o n P o e t r y , v o l . I , C a m b r i d g e , 1 9 7 1 , c o m e n - t a r i o a o v . 1 3 4 d a A . P . 2 2 Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso e os escoliastas. Tanto na Grecia como em Roma~ esses fil6~ogosl juntamente com os teorizadoresl expendem juizos sobre os grandes nomes da literatura 1 e por vezes fazem-no com algum veneno. Escapavam automaticamente a quaisquer criticas os chamados inventores dos generos liteniriosl como Homero para a epical modelo de todas as gera~öes vindouras 1 näo sabemos se por serem os primeiros (do ponto de vista escolar~ e 6bvio)~ se por se des- conhecerem os seus antecedentes. Entre os inumeros exempJos ooligidos de aousa~öes de plagiato a varios autores da antiguidadel lembremosl s6 para exempHficar e sobretudo para mostrar que nem os grandes nomes estavam ao abrigo de acusa~öes desse genero, que Ateneu nos transmite a opiniäo do historiador Teopompo de Quiosl no seu Ataque a Escola de Platäo, que afirma perempto- riamente: «Poder-se-ia descobrir que, em grande parte, os dialogos säo inuteis e falsos; na maior parte säo de autoria diversal sendo alguns tirados dos discursos de Aristipo e muitos tambem dos de Brison de Heraaleia 25». Corno vemos nem Platäo escapou a acusa~öes, o que :iJlustra o facto de que mesmo os antigos corriam os mesmos perigos que os nossos contemporäneosl ainda que hou- vesse maior liberdade de imitar e ate a ideia clara de que imitar os grandes modelos era positivo. Nem assim contudo se deixavam os intelectuais da antiguidade de se mimosear uns aos outros com requintes identticos ao usadopelos arüstas do nosso tempo ... Assim näo admira que os difamadores de Virgilio, do genero de AuJo Gelio e de Macr6bio1 se comprazam em lhe apontar passos imitados de Homero e mal imitados I segundo eles I ou mesmo em dar a entender que de furta se trata~ como Macr6bio~ que depois de apresentar uma lista de passos imitados por Virgilio~ nos diz: «Ha outros passos de muitos versos que Maräo transferiu dos velhos poetas para a sua obra apenas mudando poucas palavras. E porque leva muito tempo a transcrever inumeros versos de ambosl assinalarei os livros antigos, para que quem o deseje possa rele-los e admirar-se ao conferir a semelhan~a entre os dois passos 26». 25 Deipnosofistas, 508 c. 26 Esta e, entre muitas, uma das a1usöes malevalas de Macr6bio, Satur- nalia, 6,2,30. Mas tcxlo o livro 5 esta recheado de compara~öes {com Homero) e alusöes congeneres. A mesma atitude se encontra em Allio Gelio em diver- sos passos das Noctes Atticre, 9,9,12-16 e passim. Vid. Rene Marache, La criti- 23 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a t ; ä o N a o e r a m o s a n t i g o s t ä o c e r i m o n i o s o s c o m a s acusa~öes d e p l d g i o , c o m o p o d e m o s s e n t i r n o v i t u p e r i o lan~ado p o r C i c e r o c o n t r a o s e u i l l e n o s t e r E n n i u s , t ä o l o u v a d o n o P r o A r c h i a , m a s n e m m e s m o a s s i m p o u p a d o n o B r u t u s : « M u i t a s c o i s a s d e N e v i o o u t o m a s t e , s e o c o n f e s s a r e s , o u s u r r i p i a s t e , s e o n e g a s 2 7 » . I l u s t r a m e s t e s e x e m p l o s o q u e s e p a s s a v a n a a n t i g u i d a d e , a f i r n d e q u e o l e i t o r m o d e 1 : 1 n o n ä o s e conven~a d e q u e e n t ä o s e i m i t a v a s e m l i m i t e s , e m b o r a s e a p r e n d e s s e o p r o c e s s o n a e s c o l a . A imita~äo n o s t e m p o s a c t u a i s e m a i s c o m p l i c a d a , p o r q u e , t e n d o d e i x a d o d e s e r r e g r a , m a s d e f e i t o e c r i t i c a v e l v i c i o , e p o r v e z e s m e n o s f a c i l m e n t e d e t e c t a v e l . S e j a c o m o f o r , o s e n t i m e n t o d o s a n t i g o s e r a p o l a r i z a d o e n t r e a n e o e s s i d a d e d e s e g u i r o s b o n s m o d e l o s e o c r i t e r i o d e q u e a imita~äo d e v i a s e r f e i t a n ä o s 6 c o m o c o n h e c i m e n t o d o e s p i r i t o e d a f o r m a d a q u e l e s , m a s t a m b e m c o m a c o m p o n e n t e c r i a t i v a d o p r 6 p r i o a r t i s t a . N ä o s e m u d o u e s s e n c i a l m e n t e a a t i t u d e n o d e c o r r e r d o s s e c u l o s , c o m o p o d e m o s a v a l i a r p o r a l g u n s e x e m p l o s e s c o l h i d o s d o H u m a n i s m o e d a s e p o c a s p o s t e r i o r e s a t e a o s e c . X I X . 5 . A « i m i t a « ; ä o » n a l i t e r a t u r a c r l s t ä S e r i a e r r a d o p e n s a r q u e o s g r a n d e s e s c r i t o r e s c r i s t a o s t i v e s s e m d a d o m e n o s i m p o r t ä n c i a a o s m o d e l o s q u e i m i t a v a m , b e m c o m o a s u a n o v a r e a l i d a d e r e l i g i o s a . M o d e l o e r e a l i d a d e e s p i r i t u a l e r a m d i c o t o m i a q u e o s p r e o o u p a v a , n a m e d i d a e m q u e a l g u n s , e d u c a d o s n a admira~äo d o s g r a n d e s c l a s s i c o s p a g ä o s , t i n h a m d i f i c u l d a d e e m d e l e s s e l i b e r t a r e m . E e s s e u m d o s a s p e c t o s m a i s m a r c a n t e s n a posi~äo n o v a d a s a u t o r e s c r i s t ä o s f a o e a o s v e l h o s e n o v o s m o d e l o s , f a c e a o p r a z e r p u r o I i t e r a r i o c o n t r a p o s t o a a c t i v i d a d e a r t i s t i c a a o servi~o d e u m a c a u s a e s p i r i t u a l . V a m o s c o n t e n t a r - n o s q u e l i t t e r a i r e d eI a n g u e l a t i n e e t l e d e v e l o p p e m e . n t d u g o u t a r c h a " i s a n t a u I J e s i e c l e d e n o t r e e r e , R e n n e s , 1 9 5 2 , q u e d e m o n s t r a s e r a a t i t u d e d e A u l a G e l i o e s p e c i a l m e n t e m o t i v a d a , q u a n t o a V i r g i H o , p e l a s u a p r e f e r e n c i a p e l o s e s c r i t o r e s a r c a i c o s . 2 7 B r u t u s , 7 6 : « A N r e u i o u e l s u m p s i s t i m u l t a , s i f a t e r i s , u e l , s i n e g a s , s u r r i p u i s t i » . 2 4 Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso com os testemunhos de S. Agostinho e de S. Jer6nimo, que pensa- mos exprimem o essencial dessa atitude recente e que tentava, em väo, cortar com o passado, tal como acontece geralmenie com as viragens revolucionarias. S. Agostinho aponta bem a aherac;äo, que se tinha dado no seu espirito quanto a tudo o que tinha aprendido da literatura pagä, e insiste na bondade das letras cristäs em relac;äo as que conhecera nos tempos em que andava no erro e desviado do bom caminho. Por isso, na sua paixäo de ne6fito, näo deixa de impres- sionar o leitor moderno mais atento pela ingratidäo que revela para com a cultura que o tinha, por que näo dize-lo, amamentado. Lemos de facto nas Confissoes: «Na verdade eram de qualquer forma melhores, porque mais pr6ximas da verdade, as primeiras letras que me formaram e permitiram ter capacidade de ler, se algo de escrito encontro, e de eu pr6prio escrever o que quero. Säo melhores do que as outras, pelas quais era obrigado a aprender os errores de um tal Eneias, esquecido dos meus pr6prios errores, e a chorar a morte de Dido, porque se matou por amor, enquanto, pobre de mim, eu pr6prio permitia nesse tempo que, de olhos enxutos, eu estivesse de ti afastado, 6 Deus, minha vida! 28 » Eis a mudanc;a radical demodelos a imitar, e, como na antiguidade pagä, näo s6 se pretendia imitar a letra mas o espirito tambem, s6 que o espirito näo era mais profano, mas sim reHgioso e regido por um s6 livro, a Biblia. Mais conhecida pelas variac;öes que provocou atraves dos seculos e a atitude de S. Jer6nimo, que ele conta nas cartas, descrevendo de forma enternecedora o como tinha comec;ado a custo a abandonar o gosto das letras pagäs, forc;ado pelo seu amor a Cristo. Na Carta a Eust6quio conta-nos S. Jer6nimo que, depois de ter abandonado todos os bens do mundo e a pr6pria familia, näo conseguia deixar de ter ternura pela biblioteca que, com tanto carinho, tinha constituido, nem deixar de sentir prazer na leitura dos autores pagäos, como Plauto, no meio de uma noite de vigilia, influenciado por certo pela Senpente do mal. Sente-se doente na Quaresma e tem uma visäo, em que o seu ente culpado esta pre- sente diante de um tribunal, e ai o Juiz supremo o interroga, 28 Confissöes, I, 13, 20. 25 D i o n i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a Imita~iio f a z e n d o a p e r g u n t a h a b i t u a l q u a n t o a s u a cren~a (condi~äo). E e i s o d i a . l o g o : « A c a r i a d o q u a n t o a m i n h a condi~äo, r e s p o n d i q u e e r a c r i s t ä o . E n t ä o o q u e p r e s i d i a disse~me: ' E s t a s a m e n t i r . E c i c e r o - n i a n o q u e t u e s , m a s n ä o c r i s t ä o ' ( . . . ) » . E S . J e r 6 n i m o e c a s t i g a d o , a t e q u e f a z a p r o m e s s a : « S e n h o r , s e a l g u m a v e z p o s s u i r o b r a s p r o f a n a s , o u m e s m o s e a s l e r , e c o m o s e t e r e n e g a s s e 2 9 » . D e s d e e s t a a l t u r a a imita~äo l i t e r a r i a p a s s a u a t e r a n o v a c o m p o n e n t e c r i s t ä n a e s c o l h a d e m o d e l o s . E e v i d e n t e q u e p a s s a d o o f e r v o r d e S . J e r 6 n i m o , come~ou a o p e r a r - s e n a s l e t r a s o c i d e n t a i s u m a h a b i l combina~äo e n t r e a s l i t e r a t u r a s s a g r a d a s e p r o f a n a s , c o m o v i r a a s e r o c a s o d o H u m a n i s m o , c o m o r e t o r n o a o s t e x t o s e o a b a n d o n o d o s c o m e n t a d o r e s . 6 . 0 « H u m a n i s m o » , O S s e c u l o s X V I I e X V I I I e O S i m i t a d o r e s 0 m o v i , m e n t o h u m a n i s t a , q u e n a B u r o p a s e com~ a es~ n o s f i n s d o s e c u l o X I V e s e a c e n t u a n a e p o c a d o R e n a s c i m e n t o d o s e o u l o X V e X V I , c o n h e c e o s e u a u g e e m P o r t u g a l e n t r e 1 5 0 0 - 1 6 0 0 , d a t a n ä o i n a m o v i v e l m a s q u e f a c i l i t a a situa~äo d e s t e f e n 6 m e n o c u l t u r a l n o t e m p o . J a Louren~o V a l a f a z , n o p r e f a c i o a o l i v r o I I d a s E l e g a n t i r e 3 ( ) , cons~dera~öes s o b r e o p l a g i u m e p l a g i a r i u s ( p l a - g i a d o r s e r a p a l a v r a d o s e c u J o X I X ) 3 1 • N o e n t a n t o , d o p o n t o d e v i s t a d a i m i t a t i o j u l g a m o s s e r d e real~ar a q u e r e l a e n t r e C i c e r o - n i a n o s , c h e f i a d o s p e l o C a r d e a l B e m b o , e A n t i c i c e r o n i a n o s , c h e f i a d o s p o r E r a s m o e J u s t o L i p s i o 3 2 • A f r a s e d e acusa~äo a S . J e r 6 n i m o f o i i n v e r t i d a p e l o s h u m a n i s t a s q u e , p e l a b o c a d e E r a s m o , d i z e m « C h r i s t i a n u s s u m , n o n C i c e r o n i a n u s - e c r i s t ä o q u e S O U e n ä o c i c e r o n i a n o » . S e j a c o m o f o r a imita~äo e a c o n s e l h a d a , e s e g u i d a , p o r v e z e s m e s m o e p r e g a d a c o m a r d o r , c o m o e m J e r 6 n i m o V i d a , 2 9 C a r t a X X I I a E u s t 6 q u i o , 3 0 ; S . J e r ö m e , L e t t r e s , v o l . I , P a r i s , B e i l e s L e t t r e s , p p . 1 4 4 - 1 4 5 . 3 ( ) L o r e n z o V a l l a , E l e g a n t i r e , P a r i s , 1 5 3 2 . 3 1 V i d . E . S t e m p l i n g e r , D a s P l a g i a t . . . p . 1 , n . 1 . 3 2 V i d . E . N o r d e n , o b . c i t . , v o l . I l , p . 7 7 3 s s . E c o s d a q u e r e l a e m A . R e s e n d e , O r a 9 ä o d e S a p i e n c i a ( O r a t i o p r o r o s t r i s ) , L i s b o a , 1 9 5 6 ( P i n t o d e M e n e z e s ) , p . 4 2 ( e d i t a d a e m 1 5 3 4 ) , e m q u e R e s e n d e , p . 4 0 , r e c o r d a o s p r e c e i t o s h o r a c i a n o s d a imita~äo. ( V i d . n . 1 7 ) . 2 6 Um Enquadramento para Dionisio de Halicamasso em 1527, que nos diz: «Atentai na maneira de adaptar a n6s os despojos e as insignias dos antigos. Deles tomamos ora a inven~äo brilhante dos temas, ora o encadeamento e o sentido das palavras e ainda as pr6prias palavras. E näo temos vergonha de falar as vezes pela boca de outrem. Quando praticais os vossos furtos em poetas conhecidos, deveis avan~ar com mais cautela. Näo vos esque~ais de ocultar o roubo, voltando noutra direc~äo o rasto das palavras, e assim enganai os leitores, alterando-lhe a ordern 33». As palavras de Vida recordam-nos que nem sempre foi nem e nitida a fronteira equivoca entre imita~äo e originalidade e que as repugnäncias eticas säo menos fortes quando se lan~a um movi- mento Iiterario no meio de um entusiasmo que depois come~ara a esfriar. De facto, em 1561 Escaligero vem a aconselhar a imita~äo em termos mais brandos: «Primeiramente, para que escolhamos para imi tar os passos melhores; em segundo lugar, para que tudoo que for por n6s realizado seja por n6s minuciosamente pesado e examinado e meditado como se fosse obra alheia 34 ». Säo estas as atitudes que prevalecem e que väo ser respeitadas, naturalmente com variantes que reflectem sensibilidades diversas, no seculo XVII, em que V6ssio vai publioar em Ameste.ndäo e em 1647 um tratado sobre a i·mita~äo, no qual se ocurpa em t·ra~ar erudita hist6ria da teoriza~äo sobre este a:ssunto, tanto no que respeita a Poetica como a Ret6rica, fornecendo grandes listas de autores que devem ser Iidos, näo ao acaso, mas quando tem algum ponto de contacto com a nossa sensibilidade: «Para imitar e neces- sario quese leia o mais notavel, e por vezes s6 a ele; seguidamente o que for mais parecido; finalmente mesmo os que näo forem parecidos, mas que se distingam por um louvor qualquer. Nem sempre por n6s deve ser escolhido o melhor como modelo, mas näo raro um que näo seja täo bom, mas que melhor se adapte a nossa Capaeidade 35 ». 33 Marci Hieronymi Vidre Cremonensis, De arte poetica lib. /I/, Roma, 1527, 111, 213-220 (traduc;äo a publicar por Arnaldo do Espirito Santo). 34 Julii Cresaris Scaligeri, Poetices libri septem, V, cap. I, 561, p. 214. 35 Gerardi Joannis Vossii, De imitatione cum Oratoria, tum prcecipue Poetica deque recitatione ueterum liber, Amesterdäo, 1647, p. 5. Trata-se de uma obra extremamente ordenada, com um excelente indice de materias e com uma intenc;äo taxin6mica e pedag6gica evidente. 27 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a 9 a o A s i n d i c a c ; ö e s d e V 6 s s i o e x p r i m e m u m a p o s i c ; ä o e q u i l i b r a d a e u m a a s s u n c ; ä o 6 b v i a q u a n t o a n e c e s s i d a d e d e i m i t a r . 0 s e c . X V I I I n ä o s e n i d i f e r e n t e , a i n d a q u e a p o l e m i c a p o e t i c a e r e t 6 r i c a s e a n i m e , n u m a e p o c a f e r t i l e m p a l a v r a s , q u e p a r a o m o d e r n o I e i t o r c a i u u m p o u c o e m d e s u s o , m a s q u e c o n t i n u a a s e r u m m a n a n c i a l d e e n s i n a m e n t o s p a r a t o d o s . A i m i t a c ; ä o e e s t u d a d a e a c o n s e l h a d a e m d i v e r s a s m e d i d a s e a r t e s p e l o s t e o r i z a d o r e s . E s c r e v e - s e c a d a v e z m a i s e m v e r n a c u l o , e a s s i m l i m i t a m o - n o s a e x e m p l o s p o r t u - g u e s e s q u e n o s p a r e c e m s u f i d e n t e s , p o r q u e m u i t o i n f l u e n c i a d o s p e l a l t a l i a , p e l a F r a n c ; a e , p o r m e i o d e s t a s , p e l a B u r o p a e m g e r a l 3 6 , a l e m d e a p r e s e n t a r e m u m a t e n d e n c i a d e r e t o r n o a o s t e o r i z a d o r e s c l ä s s i c o s e v i d e n t e . E a s s ] m q u e L e v t ä o F e r r e i r a a f i r m a s e m r o d e i o s : « E a i m r i t a c ; ä o ( S e n h o r e s ) a a n t i g a m e s t r a d o s r a c i o n a i s e o s e u e x e r c i c i o e a e s c o l a o n d e a p r e n d e m o s t o d o s . C o m n e n h u m v i v e n t e s e m o s t r o u a n a t u r e z a m ä e m a i s a v a r a q u e c o m o h o m e m ; q u e r e n d o q u e c o m r i g o r o s o t r a b a l h o s e j a u m d i s c i p u l o d e o u t r o , n a q u i l o m e s m o e m q u e e l a e m e s t r a p r 6 d i g a e p r 6 v i d a d o s b r u t o s 3 7 » . C o m e s t a i n t r o d u c ; ä o I i g a - s e o a u t o r , a e s c o l a a r i s t o t e l i c a e c o n t i n u a a d i s c r e t e a r s o b r e i m i t a r a o I i v r e e i m i t a r a o s e r v i l , r e p r o d u z i n d o , n a t u r a l m e n t e c o m a s p e c t o s i n d i v i d u a i s , a s t e o r i a s d o s a n t i g o s . A l i n g u a g e m b a r r o c a , i n f l u e n c i a d a p e l o i t a l i a n o T e s a u r o , r e p r e s e n t a b e m o e s t i l o d a e p o c a , b e m c o m o o s c o n c e i t o s , q u e s ä o o t e r m o q u e a p a r e c e n o t i t u l o : N o v a A r t e d e C o n c e i t o s , r e c o l h i d o s d a s l i c ; ö e s p r o f e r i d a s n a A c a d e m i a d o s A n 6 n i m o s d e L i s b o a e p u b l i c a d a e m 1 7 1 8 . L e i t ä o F e r r e i r a n ä o s 6 s e p r e o c u p a c o m o s m o d e l o s e f o r m a s d e i m i t a r c o m o t a m b e m c o m o s p r e c e i t o s a s e g u i r p a r a o b t e r a m u t a c ; ä o 3 8 , q u e d i f e r e n c i e a o b r a i m i t a d a d o o r i g i n a l . T e r e m o s E i n a l m e n t e d e e s p e r a r m a i s a l g u n s a n o s p e l a o b r a d e F r a n c i s o o J o s e F r e i r e , C ä n d i d o L u s i t a n o , q u e n a s u a A r t e P o e t i c a d e 1 7 4 7 , p a r a e n c o n t r a r m o s u m t e x t o t e 6 r i c o v e r d a d e i r a m e n t e r e p r e - s e n t a t i v o d o s e c u l o X V I I I p o r t u g u e s l i g a d o a o p e n s a m e n t o f r a n c e s 3 6 V i d . A n i b a l P i n t o d e C a s t r o , R e t 6 r i c a e T e o r i z a 9 a o . . . , a p a r t i r d o c a p . I I , p p . 1 4 3 s s . 3 7 F r a n c i s c o L e i t ä o F e r r e i r a , N o v a A r t e d e C o n c e i t o s , P r i m e i r a P a r t e , L i s b o a , 1 7 1 8 , p . 1 5 0 s s . ( e l i 9 a o s e t i m a § I , D a I m i t a 9 a o , q u i n t a e u l t i m a e s p e c i e d e e x e r c i c i o ) . N a p . 1 7 7 com~a a l i 9 a o o i t a v a e m q u e v a i e s t a d a r a s r e g r a s p a r a q u e a s i m i t a 9 8 e s n a o p a r e 9 a m f u r t o s , p . 1 7 9 . 3 8 O b . c i t . , p . 1 8 5 s s . 2 8 Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso e italiano, tenta despegar-se dos conceitos do barroco e procura a nivel da teoria como que um neo-classicismo. Assim Cändido Lusitano considera a imitac;äo nas suas duas vertentes. A primeira surge quando define a essencia da Poesia, ao afirmar: «que a essencia desta Arte e a imitac;äo das coisas, com as quais criam eles (poetas) novas imagens e se fazem deste modo criadores ( ... ), o que e certo ( ... ) e que consiste a essencia da Poesia na imitac;äo da natureza ( ... ) 39». Mais adiante dedica Cändido Lusitano dois capitulos a imita- c;äo 40, em que repete a definic;äo ja dada e a desenvolve, ainda que as considerac;öes essenciais se reHrarn a imitac;äo da Naturr,eza. Os universais da imitac;äo, como podemos ver, tem sido man- tidas sem que haja demasiadas ~ugas ou qualquer recusa a este prooesso que pelos vistos pode ser criativo. 0 soculo XIX dei~ara pouco a pouco os preceitos da imitac;äo, mas nem mesmo assim deixamos de ver em 1830 a posic;äo de Alfred de Musset, que con- trasta com a atitude que cada vez mais se ira impor, quando o poeta frances muito claramente defende a imitac;äo dentro dos parametras tradicionais: «Pourquoi desavouer l'imitation, si eile est belLe? Bien plus, si eile est originale ene .. meme? Virgile est d'Homere et le Tasse est fils de Virgile. Il y a une imitation sale, indigne d'un esprit releve, c'est celle qui se cache et ,g.e renie, vrai metier de voleur; mais l'inspiration, quelle que soit la source est sacree 41 ». Nem mesmo esta declarac;äo lucida evitara que a imitac;äo como pnitica aberta caia em desuso, pois ja Byron comentava com grac;a que um Poeta facilmente poderia (com exclusäo de dinheiro) tudo pedir emprestado a outro, excepto os seus pensamentos, por- que estes viräo sempre a ser reclamados 42 • Com efeitoa propriedade artistica passou a ser cada vez mais individualizada e aparentemente intocavel, o que naturalmente em 39 Francisco Jose Freire, Arte Poetica ou Regras da Verdadeira Poesia, Lisboa, 1748, p. 16. 4<l Ob. cit., cap. 5 e 6, pp. 25-32. 41 Melanges de litterature et de critique, Paris, 1899, p. 14. Citado por E. Stemplinger, Das Plagiat, p. 162. 42 E. Stemplinger, Das Plagiat, p. 2. 29 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a f _ ; ä o n a d a a l t e r a a s d i s p o s i < ; ö e s a n t i g a s , q u e t ä o - p o u c o a d m i t i a m o f u r t o o u o p l a g i o . D e m o m e n t o t u d o o q u e e i m i t a d o , o u « i n f l u e n c i a d o p o r » , o u d a « e s c o l a d e » , e t c . , f o i c l a s s i f i c a d o c o m o t e n d o s i d o , c a s o h a j a a l g u m a m o d e l o i d e n t i H c a v e l , u m f e n 6 m e n o d a r e e s c r i t a , d a i n t e r t e x t u a l i d a d e , a d m i r a v e i s n e o l o g i s m o s , e m q u e s e r e f l e c t e t o d a a a m b i g u i · d a d e q u e p r e s s u p ö e a rela~äo d a c r i a t i v i d a d e c o m o s M o d e l o s q u e a t o r n a r a m p o s s i v e l . P e l o s v i s t o s a imita~äo c o n - t i n u a , n e m o u t r a c o i s a s e r i a d e e s p e r a r , s 6 q u e a p a l a v r a f o i e n v o l - v i d a p o r u m i n v 6 l u c r o s e m ä n t i c o q u e n o s f a z p e n s a r d u a s v e z e s a n t e s d e a e l a r e c o r r e r m o s c o m o p r o c e s s o l i t e r ä r i o . P r e f e r i m o s p o r i s s o d e i x a - l a d e b a n d a , n e m p e n s a r n e l a e , s e p o s s i v e l e q u a n d o f o r d i s s o o c a s o , r e e s c r e v e r . E i s c o m o a s p a l a v r a s s e r e n o v a m c o m o a s f o l h a s d u r a n t e a mudan~a d e esta~äo, j a d i z i a o v e l h o p o e m a h o r a d a n o . R . M . R O S A D O F E R N A N D E S 3 0 TI DIONiSIO DE HALICARNASSO 1. Vida Dionisio nasceu em Halicamasso, na Asia M·enor, talvez entre 60 e 55 a.C., e f.oi viver para Roma durante a realiza<;äo da 187 .a OHmpiada, na altura em que Augusto tinha acabado de por termo a guerra civil (30 a.C.), Segundo nos informa no prefacio das Antiguidades Romanas, chegou a Roma com o firme prop6sito de escrev·er a hist6ria antiga da cidade, desde a funda<;äo ate a Primeira Guerra Ptl.nica, precisamente ate ao ponto em que Polibio a oome<;ara (264 a.C.). Dedicou os vinte e dois anos seguintes a reoolha minuciosa e exaustiva de todas as fontes disponiv·eis para oons·egui•r rea1izar com exito o projecto amhicioso a que se tinha devotado. Para garantir a sobrevivencia, exeroeu a actividade de mestre de ret6rica, o que lhe proporcionou estabeleoer estreitos contactos com os circulos culturais mais influentes de Roma, oomo era o caso do circulo dos Tuberöes, familia politicamente poderosa e versada no ~estrudo do Direito e da Hist6ria. Outros interlocutoDes e amigos soHdtavam frequenterneute as aprecia<;öes de Dionisio sobre assun- tos mais ou menos polemkos que resuhavam ineV~itavelmente da critica literaria insevida nos seus Escritos Ret6ricos. E pouco mais se sabe das condi<;öes em que v.iveu em Roma. 31 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a l m i t a f ä o 2 . 0 H i s t o r i a d o r A f a c e t a d o h i s t o r i a d o r m a n i J i e s t a - - s e e s s e n c i a l m e n t e n a e l a b o - va~äo d a s A n t i g u i d a d e s R o m a n a s , o b r a e m 2 0 liv~ros d e q u e r e s t a r n o s 1 0 p n i m e i r o s . D i o n i s i o , a d m i m d o r f e r v o r o s o d a v i r t u s r o m a n a , o o m p ö s u m a h i s t 6 d a q u e p r e t e n d i a o o n s t i t u i t r u m a introdu~äo a P o l i b i o . N o e n t a n t o , t a l i n t e n t o e n o o n i r o u p r o b l e m a s d e reaHza~äo p o r a b v a n g e a : - u m p e r i o d o h i 1 s t 6 r i c o q u e a i n d a h o j e s e m a n t e m n e b u l o s o . C o n H a n d o e x c e s s h n a m e n t e n o s a 1 1 1 a l i s t a s r o m a n o s a o a b o u p o r p~roduzürr u m a o b r a q U J e p e c a p e l 1 a q u a s e t o t a l a u s e n c : ü a d e s e n t i d o c r i m o o e p e l a utiHza~äo e m : g e r a d a d e d i s c u v s o s a m a n e i m h e l e n i s t i c a . E n e s t e a s p e c t o q u e , a p e s a r d e 1 r u d o , d e m o n s t r a a : s s u a s q u a l i d a d e s d e r e t o r a o r e a l i m r u m e x o e l e n t e e x e K i c i o d e imita~äo. A e x o e s s l i v a venera~äo p e l a p a t r c i a a d o p t i v a r e f l e c t e - s e n a s c a r a c t e r f s ü o a s m o r a l i z a n t e s e p o 1 i t : ü c a m e n 1 J e t e n d e n a i o s a s d e s t a o b D a q u e p o u o o i n t e r e s s e s U J s c i t o u n o s r s e u s c o m r p a t r i o t a s g r e g o s , a q u e m e r a d e s t i n a d a , r p o r p a r t i l h a r e m oonrvic~öes ~totalmente o p o s - t a s a s s u a s , f a c t o a q u e n ä o . t e r a s i d o a 1 h e i o o t r a t a r - s e d a h i , s t 6 r i a d o p o v o s e u o c u p a n t e . N o e n t a n t o , o f u n d a m e n t a l e m D i o n f , s i o e t e r s i d o o p d m , e 1 ] } o g r e g o a e s o r e v e r s o b r e e s t e a s s u n t o c o m a d i m e n s ä o : e a m p l i t u d e q u e m e r e c i a . 3 . 0 R e t o r F o i n o s d i v , e r s o s e s o n i t o s r e t 6 r i o o s q u e D i o n i l s i o m e l h o r m a n i - f e s t o u a s s u a s q u a l i d a d e s d . e c r i t k o l i t e r a r i o . A a o t i v i d a d e d e ! I ' e t o r l e v o u - o , f r e q u e n t e s ve~es, a e s o r e v e r t n a t a d o s d e r e t 6 1 I ' i c a , o o r r e s - pondent~e a n t i g o d a m o d e r n a c r i t i c a l i t e n i r i a , q u e e r a m e l a b o r a d o s o u p o r i n i o i , a t i v a p r o p r i a , o u p a r a s a t i s f a z e r soLicita~öes d e a m , i g o s e i n t e r l o o u t o r e s i n t e r e s s a d o s e m o o n h e c e r o s s e u s p o n t o s d e v i s t a s o b J 1 e q u e s t ö e s l h e r e : W i : a s d e m u t u o i n t e r e s s e . O s E s c r i t o s R e t 6 r i c o s d e D i o n i s i o o o n s t a m d e c i n c o t r a t a d o s e t r e s c a r t a s : S o b r e o s O r a d o r e s A n t i g o s , D i n a r c o , T u c i d i d e s , S o b r e a C o l o c a f a o d a s P a l a v r a s , D a I m i t a g a o , C a r t a a P o m p e i o e C a r t a s a E m e u . 0 t r a t a d o s o b r e o s o r a d o r e s a n t i g o s e f o r m a d o p e l a r e u n i ä o d e d o i s e s t u d o s q u e c i J x m l a v a m ~separardamente, u m s o b r e L i s i a s 3 2 Dionisio de Halicarnasso e outro sobre Is6crates, aos quais se juntou um terceiro sobre Iseu. Segundo o plano de Dionisio, estes tres estudos sobre a primei~ra gerac;äo de orador;es deveria constituir o pdme:Lro volume de uma obra .maJ.s vasta sobre a antiga eloquenoi·a a:tica. 0 segundo volume abarcania os estudos sobre Dem6stenes, Esquines e Hiperides oradores da segunda gerac;äo. Deste volume possufmos apenas o esorito sobroe Dem6stenes, considerado rpor Dionisio como o orodor que deV>eria •ser tomado por modelo. 0 prologo que preoede o prime.iJro volume e de extrema importä:ncia para a hist6ria do at1cismo por oonter aquilo a que se pode11i.a chamar uma v·erda- de1:m .cartade intenc;öes dos ati.cistas- a escola antiga- sujcitos, entäo, a violentos ataques por parte da escola moderna, os asiänicos. 0 tratado sobre Dinarco e um estudo critico sobre o estHo deste orador de segundo plano que imi tou Lisias, Hiper~des e Dem6stenes, e cuja ohra oolocava problemas de autenticidade. A um pedido de Elio Tuberäo, Dionisio escreveu um t:mtado de cri tica Hter{wia sobre Tucidides, oonsiderado por ele o maior historiador grego. De facto, alem do ·seu valor historico intrinseco, este estudo revela.,se de exoopcional importäncia por conter refe- rendas a um escrito de Dionisio em deEesa da H1osoEia politica. DefendendQ-ose dos que o ataoavam, em especial dos epicuristas, adopta a opiJniäo, herdada de Is6crates e partilhada pelos est6icos, segundo a qua! ~a ret6rica deveria servir a formac;äo moral do o11ador e näo ser apenas um mero formuhivio de receitas para fazer vingar as causas injustas. Sobre a Colocafäo das Palavras e um tratado de ret6rica prop11iamente dito que corresponde a um estudo m~inucioso e por- menorizado sobre o sentido da 1ingua:gem entTe os antigos, va1ori- zando, em particular, a intima associac;äo da musicalidade da pal,avra oom o seu signi.fioado. Considerado um dos melhores t11abalhos de Dionisio, este tratado oontem a:inda fragmentos doo li11ioos que de outro modo nunca teri:am chegado ate n6s. Do importante tratado sobre a imitac;äo oonservou-se apenas uma pequena parte. Na cart~a a Pompeio (oap. 3), Dionus.io afirma que este tratado ·cLeverüa ser constituido por tres livros: o primeko aborda11ia o problema da imitac;äo em geral; o segundo indicaria os pr,iJncipais autores a serem tomados oomo modelos; o terceko estabelecerua os prooeitos sobre a arte de imitar. Ent:retanto, tmns- 33 3 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a 9 ä o o r e v . e u m a part~e s i g n i f i c a t i v a d o l i v r o I I s o b r e o s historiado~es. 0 t e x : t o d o D a I m i t a f i i o c h e g a d o a t e n o s o o n s t a d o C o d e x P a r i - s i l e n s i s 1 7 4 1 d o s e c . X . p , e n s a - s e q u e s e t r a t a d e u m f m g m e n t o a c v e s c e n t a d o e o o p i a d o n o s e c . V . 0 C o d e x V e n e t u s M a r o i a n u s 5 0 8 ( s e c . X V ) , o C o d e x M o n a o e n s i s n . o 1 7 0 e a E d i t i o P r i n o o p s d e H . S t · e p h a n u s d e 1 5 4 4 s ä o d e e x t r e m a i m p o r t ä n c i a p a r a a fixa~äo d o t e x t o d o T r a t a d o d a l m i t a f i i o . O s o u r t r o s ~estudos p e D d e r a m - s e o o m p l e t a m e n t e . A p e n a s t~emos n o t f c i a d e t r e s o b r a s c r i H c a s i n d i v i d u a l i l J a d a m e n t e c o n s a g r a d a s a L i s i a s , I s 6 o r a t e s · e D e m , 6 s t e n e s , d e u m e s c r i t o e m d e f e s : a d a f i l o s o f i a p o l i t l i c a e d e u m t r a t a d o s o b r e a s fi~as d e e s t i l o . N o q u e d i z 1 1 e s p e i t o a o o ! 1 I i e s p o n d e n c i a d e Dioni~s~o, a p r i m e i r a c a r t a a E m e u r e f u t a o s a r g u r n e n t o s d o s p e r i p a t e t i c o s q u e p r e t e n - d i a m · e n o o n t r a r e m D e m o s t e n e s ' i n f l u e n c i a s d i r e c t a s d a R e t 6 r i c a d e A r i s t . Q t , e l e s . A s e g u n d a , e s c r i t a d e p o i s d a publica~äo d o T u c i d i d e s , t e n t a o o m p l e t a r a a n a 1 i s e d o e s t i l o d o h i s t o r i a d o r g , r e g o o o n t i d a n o t 1 1 a t a d o a ~e1e c o n s , a g 1 1 a d o . A C a r t a a P o m p e i o , a d m i r a d o r f e r v o - v o s o d e P l a t ä o , p r e t e n d e r e s p a n d e r a o s e s c l a r e o i m e n t o s ~solioi.tados p e l o d e s t i n a : t a n i o s o b r e o r i t i c a s s e v e r a s q u e D i o n i s i o h a v i a f e i t o a l i n g u a g e m d o f i l 6 s o : 5 o g r e g o . A l e m d e a m e n i z a r o s e n t i d o d a s u a c r i t i o a a o e s ü l o , d e P 1 a t ä o , a p r o V 1 e i t a a o p o r t u n i d a d e p a r a a p r e - s e n t a T o p l a n o d o D a I m i t a f i i o . N ä o e p o s s i v e l d e s c o b 1 1 i r n o s E s c r i t o s R e t 6 r i c o s u m a d o u t T i n a l i t e r a r : i t a . o o e r e n t e e s~ist.ematizada. M e n o s p r e z a r e s t e a J S p e c t o d a produ~äo d e D i o n i s i o e . o o m e t e r a i m p r u d e n c i a d e n ä o r e c o n h e c e T n e 1 e a evolu~äo q u e v · a i a p 1 1 e s e n t a n d o d e e s c r i t o p a r a e s c r i t o . E s t a evolu~äo e o , 1 1 e s u h a d o d e u m t r a b a l h o s e r i o e a t u m d o q u e s e p 1 1 o L o n g a p o r m a i s d e 2 2 a n o s , d u r a n t~e o s q u a ä s h o u v e c o n s - t a r r l t r e s altena~öes d o s o b j e c t i v o s p r o g : r a m a t i o o s d a s e s o o l a s e t a m - b e m d a p r a t i c a f o v e n s 1 e . E r n f , a o e d e posi~öes t~e6riea:s e x t r e m a s , a d o p t o u u m a posi~äo i n t e r m e d i a e n t r e a t k i s t a : s e a s i ä n i o o s . A s u a o b r a a H g u r a - s e d e · e x t r e m a i m p o r t ä n c i a p a r a o e s t u d o d a h i s t O . r i a d o a t i c i s m o e t a m b e m d a p r o p r i a evolu~äo d a r e t o r i o a n o s f i n a i s d o s e c . I a . C . 3 4 III 0 TRATADO DA IMITA(:AO E A SUA ESTRUTURA Tres livros dedicou Dionisio de Halicarnasso ao problema da «imita<;äo» na antiguidade: do prim·eiro restarn alguns fragmentos, do segrundo, grande parte, nada se conservou do teroeko. Sobre diversos fragmentos, chegaram ate n6s panifrases de alguns comen- tadores que a «Editio Stereotypa Editionis Prioris (MCMIV- -MCMXXIX)» da Teubner, Estugarda, 1965, de qrue nos servimos, of,er·ooe ao leitor, e br<eves oomentarios ha registados, que, a mingua dos respectivos fragmentos, constituem noticia unica dos frags. IV, V, VIII e XI. 0 primeiro livro aborda « a pr6pr<ia pesquisa aoerca da i1mita- <;äo», ·Corno afirma o autor na frase em epi.g:r.afe, proven1ente de «A Garta a Pompeio». Mas apenas tres questöes nos säo apre- sentadas: 1-A defini<;äo daquilo que o autor entende por «Ret6Dioa» e dissecada no respectivo comentario, tendo ,em oonta o «genero» e as «diferen<;as» que a caracterizam, em ordern a um pos:ioiona- mento claro em rela<;äo as outras cienci.Jas. 2- Seguidamente, foca «as tres ooisas» («natureza», «aprendi- zagem» e «exeroita<;äO»), isto e, OS factores que fu.zem emergJir «O mailis a:lto grau de destreza nos discursos politicos». Ao orador Dem6stenes, segundo a opiniäo do comentador, falta o ultimo 1dieles. 35 D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a 9 ä o 3 - P o r f i r n , D i o n i s i o debru~a-se s o b r e o s c o n c e i t o s d e « : i , m i - ta~äo» e «emula~äo». S e a r e s p e i t o d e «imita~äo» d i z q u e e l a « I i e f u n d e u m m o d e l o » , o c o m . e n t a d o r d o t e x t o , p o r s u a v e z , p r e c i s r a o c o n o e i t o , a c r . e s o e n t a n d o q u e « r e f u n d e a semelhan~a d o s p e . n s a - m e n t o s » . E , p o i s , p o s s i v e l a H r m a r - s e q u e o u s o d a semelhan~ o o n s t i t u i o s e g r e d o d o b o m i m i t a d o r , o o m o , a l i a s , o h a v i a m d e a c e n t u a r , t a m b e m , o s n o s s o s d o u t r i n a d o r e s d e r e t 6 r i o a , a p a r t i r d o R e n a s c i m e n t o . 0 s e g u n d o l i v
Compartilhar