Buscar

DIONISIO DE HALICARNASSO - Tratado da Imitação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

I I 
B I B L I O T E C A E V P H R O S Y N E - 1 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o 
T R A T A D O 
D A I M I T A ( ; Ä O 
" 
; · \ 
' o ' , . . . . . . . ·~ I 
. . , . . . 
' ( . - I J , -~----- - --------~ 
- - - , . • . _ _ _ . . . . a _ _ , - - - · . · ' ' • j 
I n s t i t u t o N a . c i ö - n a l d e Trivestiga~o C t e n t i f i c a 
DIONtSIO DE HALICARNASSO 
TRATADO DA IMITA<;XO 
ffO. q 
BIBLIOTECA EVPHROSYNE -1 lJs-CJ :v, Y-
Dionisio de Halicarnasso 
TRATADO 
DA IMITA~ÄO 
Editado por 
Raul Miguel Rosado Fernandes 
U.F.M.G •• BIBLIOTECA UNIVERSITARIA 
~111111111111111\lllllllllllllllllll 
390650910 
NÄO DANIFIQUE ESTA ETIQUETA 
19?' 
Instituto Nacional de lnvestiga~ao Cientffica 
Centro de Estudos Chissicos das Universidades de Lisboa 
LISBOA 
1986 
Com a colaborac;äo de: 
MARIA FILIPA MENESES CORDEIRQ 
ARNALDO MONTEIRO DO ESPJRITO SANTO 
lOSE SJLV/0 MORE/RA FERNANDES 
MANUEL AUGUSTO NAIA DA SILVA 
NOTA PR:EVIA 
Esta edir;iio e o resultado do trabalho do Seminario 
de Problematica da Literatura do Mestrado em Litera-
turas Classica.') (1982-1984) da Universidade de Lisboa. 
Os quatro capitulos introdut6rios foram redigidos, 
respectivamente, pelo orientador do Seminario, Professor 
Doutor Raul Miguel Rosado Fernandes, e pelos alunos 
Dr. lose Silvio Moreira Fernandes, Dr. Manuel Augusto 
Naia da Silva e Dr.a Maria Filipa Meneses Cordeiro. 
As notas ao texto ficaram a cargo do Dr. Arnaldo Mon-
teiro do Espirito Santo, tambem aluno deste Seminario. 
A tradur;ao - de que foi preparada uma versao provi-
s6ria por Arnaldo Espirito Santo para ser discutida nas 
sessöes do Seminario - e, na sua forma definitiva, da 
autoria do Prof. Rosado Fernandes. 
A apresentar;ao final beneficiou das pertinentes obser-
var;öes da Professara Doutora Maria H elena da Rocha 
Pereira, a quem deixamos aqui expresso o nosso reconhe-
cimento pelo Parecer dado ao INIC sobre a oportunidade 
de publicar;iio do De imitatione em portugues. 
9 
INTRODU{_;ÄO 
I 
CONCEP<;öES E FORMAS DE IMITAR: 
UM ENQUADRAMENTO 
PARA DIONtSIO DE HALICARNASSO 
1. Imita~äo em geral 
Mimesis {port. mimese), imitatio, imita9äo, eis um termo cuja 
riqueza semäntica passa despercebida ao Ieitor moderno, uma vez 
que desde ha muito tempo o acto de imitar passau a ser conotado 
com a reprodu~äo ou c6pia servil de um modelo. A pr6pria moda 
intelectual da actualidade repudia qualquer imita~äo, pois todos 
pensam atingir certa originalidade e pensam que a originalidade, 
embora potencialmente ligada a modelos, a arquetipos, aparece 
como que flutuante e ligada ao artista que a criou. Dai a criati-
vidade ser en tendida como original, sem que j amais se macule 
com qualquer ideia de imita~äo. Cremos que esta no~äo romäntica 
e recente, se atendermos a hist6ria do mundo, de originalidade, 
sempre existiu, s6 que existiu a paredes meias com a imita~äo, 
como processo em si, como forma de reproduzir artisticamente 
o real, ou como forma de aproveitar de modelos, para neles incluir 
algo de pessoal, inevitavelmente existente, quando provem de um 
artista criativo. Imitar significa, agora, para qualquer cultor das 
11 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a ( , ; a o 
a r t e s o m e s m o q u e p l a g i a r ; s i g n i f i c a v a c o n t u d o n a a n t i g u i d a d e 
e a t e a o s e c u l o X V I I I , a l g o d e d i f e r e n t e , d e f o r m a l m e n t e d i f e r e n t e , 
a i n d a q u e n a e s s e n c i a t u d o s e j a , a n t e s e a g o r a , p r o f u n d a m e n t e 
o m e s m o . S 6 o a c i d e n t a l m u d o u , c o m o m u d o u a m o d a , c o m o s e 
a l t e r a r a m o s p r e c e i t o s , q u e n o m u n d o m o d e m o p a r e c e m m e n o s 
e v i d e n t e s , c o m o o s v e l h o s c ä n o n e s . M u d o u a a t i t u d e , o q u e e s i g n i -
f i c a t i v o , m a s n ä o h a d u v i d a d e q u e o s a u t o r e s o u o s a r t i s t a s c o n t i -
n u a m a p e r t e n c e r a e s c o l a s , c o n t i n u a m a e s c o l h e r m o d e l o s , c o n -
t i n u a r i a m a i m i t a r , s e a p a l a v r a e a n o c ; ä o , s e o s i g n i f i c a n t e e o 
s i g n i f i c a d o e s t i v e s s e m e m u s o , s e o s r e a l i s t a s o u o s n e o - r e a l i s t a s 
s e r e o l a m a s s e m d o s s e u s m o d e l o s , s e o s c u l t o r e s d o n o u v e a u - r o m a n 
a f i r m a s s e m a p a t e r n i d a d e d o s e u d i s c u r s o , s e o s q u e s e g u e m c u i d a -
d o s a m e n t e a s e s t r u t u r a s n a r r a t i v a s d e u m J a m e s J o y c e a d m i t i s s e m 
q u e c l a r a m e n t e o i m i t a m , s e m q u e c o m i s s o o r e p r o d u z a m e d e l e 
f a c ; a m « C e n t ö e s » . T u d o i s s o p a s s o u ; f a l a - s e d e « r e e s c r i t a » , d e « i n t e r -
t e x t u a l i d a d e » , q u a n d o h a u m m o d e l o e v i d e n t e , c o m o e o c a s o d e 
H o m e r o p a r a o V l y s s e s d e J o y c e , o u d e H o r a c i o p a r a o R i c a r d o 
R e i s d e P e s s o a 
1
, m a s j a n ä o s e f a l a d e i m i t a 9 d o . N a a n t i g u i d a d e 
1 
A i m i t a < ; ä o t e m p r e o c u p a d o d e s d e s e m p r e o s e s t u d i o s o s d a a n t i g u i -
d a d e , e m b o r a o a c e r v o b i b l i o g n i f i c o n ä o s e j a d e s m e d i d o , c o m o a c o n t e c e 
c o m a l g u n s t e m a s q u e e n t r a r a m n a m o d a , o c a s o d a r e t 6 r i c a , p o r e x e m p l o . 
C i t a m o s o s t r a b a l h o s q u e s e r v i r a m d e f u n d a m e n t o a o n o s s o e s t u d o e q u e 
p o d e r ä o s e r d e u t i l c o n s u l t a a q u e m o q u i s e r a p r o f u n d a r . 
E . N o r d e n , D i e a n t i k e K u n s t p r o s a , D a r m s t a d t , 1 9 5 9 ( s o b r e e d . d e 1 9 0 9 
e 1 9 1 5 ) : e u m p i 0 1 1 1 e i r o d o s e s t u d o s d a t e o r i z a < ; ä o l i t e n i . r i a n a a n t i g u i d a d e , 
b e m c o m o n a I d a d e M e d i a e H u m a n i s m o . 0 p r o b l e m a d a i m i t a < ; ä o e a f l o r a d o 
f r e q u e n t e s v e z e s e c o m g r a n d e a u t o r i d a d e . 
E . S t e m p l i n g e r , D a s P l a g i a t i n d e r g r i e c h i s c h e n L i t e r a t u r , L e i p z i g e 
B e r l i m , 1 9 1 2 : o A . e s t u d a p o r m e n o r i z a d a m e n t e a n o < ; ä o d e p l a g i a t o t a l c o m o 
e l a e r a c o n c e b i d a p e l o s t e o r i z a d o r e s e c o m e n t a d o r e s g r e g o s , m a s n ä o s e 
l i m i t a a a n t i g u i d a d e , p o i s f a z f r e q u e n t e s e x c u r s ö e s p e l o s t e m p o s m o d e r n o s 
e p e l o H u m a n i s m o . E u m a e x c e l e n t e o b r a d e c o n s u l t a c o n c e b i d a c o m g r a n d e 
v i v a o i d a d e a p e s a r d o s e u p e s a d o a p a r a t o e r u d i t o . 
H . P e t e r , W a h r e i l u n d K u n s t , G e s c h i c h t s s c h r e i b u n g u n d P l a g i a t i m k l a s s i -
s c h e n A l t e r t u m , L e i p z i g e B e r l i m , 1 9 1 1 : t r a t a - s e d e u m e s t u d o s o b r e o v a l o r 
e m e t o d o s d o s h i s t o r i a d o r e s a n t i g o s , o b r a a i n d a h o j e v a l i d a p e l a s u a c r i t i c a 
e e r u d i < ; ä o . T e m u m c a p i t u l o ,o X I I I , i n t i t u l a d o P l a g i a t o , p p . 4 1 6 - 4 5 5 . 
J . B o m p a i i ' e , L u c i e n E c r i v a i n , I m i t a t i o n e t c r e a t i o n , P a r i s , 1 9 5 8 : o b r a d e 
f u n d o s o b r e L u o i a n o , o r l i g i n a l e i m i t a d o r , c o m i n U : m e r a s r e f e r e n c i a s a o f e n 6 -
m e n o d a i m i t a < ; ä o e m g e r a l , t a n t o e n t r e o s G r e g o s c o m o e n t r e o s R o m a n o s . 
1 2 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicamasso 
näo era assim, nos tempos antigos, se assim podemos dizer, tam-
bem näo. Vamos tentar mostn}...lo e examinar a opiniäo de alguns 
teorizadores da literatura atraves dos seculos. 
2. Mimese entre os Gregos 
Ja na antiguidade havia a noc;;äo de que a mimese ou imita9äo 
era expressa com varios matizes semänticos, conforme a posic;äo 
fiJos6fica do teorizador. Para P·latäo mimeisthai - que no fundo 
significa em grego «representar por mimica» a realidade, desde 
A primeira parte e dedicada inteiramente, pp. 13-153, a La Doctrine de la 
Mimesis. A informa~äo do A. e excelente, bem como e correcta a perspeotiva 
qrue nos da. 
W. Kroll, Studien zum Verständnis der Romischen Literatur, Estugard:a, 
1924: escrito IPQr este grande mestre da Hteratura latina, encontmmos o 
ess·encial sobre a imita~äo nas letras romanas, no cap. VII, Originalität und 
Nachahmung (Originalidade e Imita9ao). Introduz o Ieitor moderno neste 
aspecto da literatura latina, cujos maiores representantes nunca esconderam 
seguirem os >modelos gregos. 
Creative Imitation and Latin Literature, edited by Davd.d West & Tony 
Woodman, Cambridge, s.d. (1979): excelente recolha de artigos sobre a imita-
~äo na literatura latina, bern oomo na. literatur.a eruropeia que foi influen-
ciada pelos modelos romanos (ChatUcer, J. Donne e Shakespeare versus Ovidio). 
E Ullll livro estimulante pela forma despretenciosa, embora altamente critica 
e erudita, como apresenta os assuntos. Apontamos como essencial o artigo 
nwnero I de D. A. Russel, De imitatione, pp. 1-16, que com muita brevidade 
coloca o Ieitor moderno dentro de um problema que ele, moderno, tem difi-
ou1dades em compreender. 
AnibaJ. Pinto de Castro, Ret6rica e Teoriza9ao Literaria em Portugal, 
Coitmbra, 1973: .ainda que seja uma obra muito especializada, e extremamente 
importante para o conhecimento das ati1Judes e sensibil>idades dos teorizadores 
·portrugueses quanto a imita~äo, mUJito especia1mente da orat6ria religiosa. 
Obras genericas sobre literatura la:tina e ilmita~äo, fundamentais para 
quem desejar abarcar o problema em todas as sruas vertentes, säo: 
Gordon Wiilliams, Tradition and Originality in Roman Poetry, Oxford, 1968; 
Andree Thill, Alter ab illo- Recherehes sur l'imitation dans la poesie 
personneUe a l'epoque augusteenne, Paris, 1979. 
Quanto as influencias dos temas classicos na poesia portuguesa e, por 
consequencia, quanto as tais fontes de imita~äo de ,que se fala, e extrema-
mente util a leitrura de M. H. Rooha Pereira, Temas Classicos na Poesia 
Portuguesa, Lisboa, 1972, bem como da m·esma A., «A Aprecia~äo dos Tn1gicos 
13 
Usuario
Highlight
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a Imita~äo 
o c a n t o d o p a s s a r o a f a l a d e a l g u e m - e , p o r t a n t o , a m i m e s z s , 
r e l a c i o n a t r a n s c e n d e n t a l m · e n t e a a r t e h u m a n a c o m o a r q u e t i p o 
o u a I d e a , s o q u e a r e l a < ; ä o n ä o e p e r f e i t a , p o r q u e p e r f e i t o s 6 
o a r q u e t i p o . P l a t ä o e x e m p l i f i c a a t e o p r o c e s s o , d e u m a f o r m a 
c o m e z i n h a m a s e x t r e m a m e n t e e l u c i d a t i v a , n o q u e d i z r e s p e i t o a 
i m i t a < ; ä o d a r e a l i d a d e p a l p a v e l . N o l i v r o X d a R e p u b l i c a , q u a n d o 
d i s c u t e o s m a l e s q u e p o d e m v i r d a imita~äo p o e t i c a , o q u e o l e v a 
a e x o l u i r o s p o e t a s d a s u a c i d a d e i d e a l , i l u s t r a c o m o e x e m p l o 
d a c a m a o s t r e s t i p o s d e c a m a s q u e p o d e m e x i s t i r : « U m a q u e 
e a f o r m a n a t u r a l , e d a q u a l d i r e m o s , s e g u n d o e n t e n d o , q u e D e u s 
a c o n f . e c c i o n o u . ( . . . ) O u t r a , a q u e e x e c u t o u o m a r c e n e i r o . ( . . . ) O u t r a , 
f e i t a p e l o p i n t o r 
2
» . T u d o i s t o l e v a o f i l 6 s o f o a d e d u z i r q u e : « P o r 
c o n s e g u i n t e , a a r t e d e i m i t a r e s t a b e m l o n g e d a v e r d a d e 
3
» . A m a 
v o n t a d e d e P l a t ä o e e n o r m e , v i s t o c o n s i d e r a r q u e o s p o e t a s , p o i s 
e 0 c a s o q u e m a i s l h e i n t e r e s s a , n ä o p u d e r a m t e r f e i t o t u d o 0 q u e 
d e s c r e v e m e i m i t a m . T a l e o c a s o d e H o m · e r o , q u e e c r i t i c a v e l , 
p o r q u e d e t u d o f a l a s e m r t e r r e a l i z a d o t u d o ( o q u e n a t u r a l m e n t e 
t e r a d e s e r a d m i s s i v e l , a m e n o s q u e q u e i r a m o s s e g u i r a f a l a c i a 
p l a t 6 n i c a n i t i d a m e n t e m a x i m a l i s t a ) , e o q u e p a r a q u a l q u e r d e n 6 s 
s e r i a n o r m a l , p a r a P l a t ä o n ä o o · e . E s t a s i m p l e s d i s s o c i a < ; ä o e n t r e 
i m i t a < ; ä o e r e a l i d a d e l e v a - o a a f i r m a r s e m m a i s d e l o n g a s : « O c r i a d o r 
d e f a n t a s m a s , o i m i t a d o r ( . . . ) n a d a e n t e n d e d a r e a l i d a d e , m a s s 6 
d a a p a r e n c i a 
4
» . O r a a i l u s ä o e p e r i g o s a . . . e q u e m a p r o v o c a d e v e 
s e r p r o i b i d o d e e s t a r n a r e p u b l i c a i d e a l . 
J a A r i s t 6 t e l e s c o n s i d e r a , c o m o n a t u r a l i s t a q u e e , a i m i t a < ; ä o 
n a s s u a s d i v e r s a s f o r m a s , e s e m e s q u e c e r a r e l a < ; ä o i m i t a < ; ä o / · r e a l i -
d a d e , r e a l i d a d e q u e p o d e s e r a p r 6 p r i a n a t u r e z a d a s c o i s a s o u 
G r e g o s p e l o s P o e t a s e T e o r i z a d o r e s P o r t u g u e s e s d o S e c u l o X V I I I » , h M e m 6 -
r i a s d a A c a d e m i a d e C i e n c i a s d e L i s b o a ( C l a s s e d e L e t r a s ) , t o m o X X I V ( 1 9 8 5 ) , 
p p . 2 1 - 4 1 . 
A r e s p e i t o d e i n t e r t e x t u a l i d a d e , v i d . C a r l o s R e i s , T e c n i c a s d e A n d l i s e d o 
T e x t o L i t e r d r i o , C o i m b r a , 1 9 7 6 , p p . 2 8 1 - 2 8 3 ; q u a n t o a r e e s c r i t a , v i d . e n t r e o u t r o s , 
R . B a r t h e s , 0 G r ä o d a V o z , L i s b o a , s . d . ( 1 9 8 1 ) , p . 5 3 , p a s s i m ; M . A n g e n o t , 
G l o s s d r i o d a C r i t i c a C o . n t e m p o r a n e a , L i s b o a , s . d . ( 1 9 8 2 ) , s . v . r e e s c r i t a ( t e r m o 
d e g r a m . g e n e r a t i v a ) . 
2 
R e p . , X , 5 9 7 b , p . 4 5 5 (tradu~äo d e M . H . R o c h a P e r e i r a e r n P l a t ä o , 
A R e p u b l i c a , i n t r o d . , t r a d . e n o t a s d e . . . . ~isboa, G u l b e n k . i a n , s . d . ( 1 9 7 2 ) ) . 
3 R e p . , X , 5 9 8 b , p . 4 5 7 
4 R e p . , X , 6 0 1 b , p . 4 6 4 . 
1 4 
Usuario
Highlight
Usuario
Highlight
Usuario
Highlight
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnassodas aq;öes humanas e outras. Naturalmente que essa imita~äo 
e pr6pria de muitas artes, como a musica, o canto, a pintura 
(que servini como exemplo em Horacio para a pr6pria poesia, 
A.P., 361, ut pictura poesis) e, obviamente, da poesia. Ha contudo 
uma rela~äo directa com a realidade, que chega ao ponto de fazer 
afirmar a Arist6teles que a arte imita a natureza 5• Naturalmente 
que o imitar näo significa aqui copiar, mas sim fazer como ou 
fazer como a natureza faz, na medida em que o verbo mimeisthai 
que inegavelmente significa imitar, nem sempre pode ser tradu-
zido como tal, como e o caso da afirma~äo contida na Poetica 
em que o fil6sofo nos explica qual a diferen~a entre a tragedia 
e a comedia: «esta quer representar (mimeisthai) os homens piores, 
ao passo que a outra os quer representar melhores do que na 
realidade 6». E evidente que näo e possivel simplificar demasiada-
mente o processo imitativo, na medida em que säo varios os cami-
nhos seguidos por quem tenta reproduzir a realidade e comunica-la 
ao leitor, ao destinatario em geral, e na medida tambem em que 
a pr6pria inten~äo varia, näo sem que o poeta o queira fazer sentir 
a quem o le. A c6pia näo e servil e permite varia<;öes importantes 
ditadas pela percep~äo pessoaJ do narrador ou poeta: «Porque 
0 poeta e imitador, tal como 0 pintor ou qualquer outro artista 
plastico, necessario se torna que adopte sempre uma das tres 
maneiras de imitar: ou representa as coisas tais como foram e säo; 
ou tais como as dizem e parecem ser; ou entäo tais como deveriam 
ser 7 ». 
Ao contrario do que acontecia com Platäo, considera Arist6-
teles ~que existe uma rela~äo autentica entre o poeta e a realidade 
e que o resuJtado dessa rela~äo manifestado por um processo 
imitativo renecte näo uma palida imagem de uma ideia longinqua, 
mas uma uoluntas imediata, que vai ser sentida pelo destinatario. 
Por outro lado a mimese aristotelica dificilmente pode ser enten-
dida como simples c6pia, valor semäntico que mantera atraves 
dos seculos, sobretudo quando passar a ser divulgada pela cultura 
latina, que a vira a transmitir as literaturas ocidentais europeias. 
5 Physica, 194 a, 22. Vid. o comentario de Liberato Santoro, «Some 
Remarks on Aristotle's Concept of Mimesis», REA, LXXXII (1980), 35 e ss. 
6 Poetica, 1448 a, 17-19. 
7 Poetica, 1460 b, 8. 
rutru•. r'•culd•i• •• \.--- J ll'tHetaat _ 
-----
15 
Usuario
Highlight
Usuario
Highlight
Usuario
Highlight
Usuario
Highlight
D i o n i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a I m i t a { : ä o 
P o u c o a p o u c o v i n i a f o r r n a r - s e a t e o r i a d a imita~äo q u e c o m -
p r e e n d e n i a imita~o « e m s i p r 6 p r i a » , i s t o e , c o m o transposi~äo 
d a r e a l i d a d e e n v o l v e n t e p o r m e i o d e u m c a t a l i z a d o r , q u e e o 
p r 6 p r i o a r t i s t a , q u e t r a n s m i t e o q u e a p r e n d e d o s h o m e n s , d a s 
c o i s a s . e d o s a c o n t e c i m e n t o s a o d e s t i n a t a r i o , p a r a q u e m e s c r e v e , 
p i n t a o u dan~a. M a s n ä o e e s t a a u n i c a f o r m a d e imita~äo, e m b o r a 
e m A r i s t 6 t e l e s s e j a a p r e v a l e c e n t e . N a s e p o c a s p o s t e r i o r e s v i r a 
a c r i a r - s e a t e o r i a d a imita~äo d e m o d e l o s , n o f u n d o , d o s c l d s s i c o s , 
d o s q u e s e ~eem n a c l a s s e , n a e s c o l a , p o r s e r e m u n i v e r s a i s . C o r n o 
s e d e v e c o m p o r t a r o a r t i s t a p a r a c o m o s m o d e l o s a i m i t a r , e o q u e 
s e e x p l i c a r a a s e g u i r . 
C o n t i n u a n d o a i n d a n a G r e c i a s e r i a p o s s i v e l o b s e r v a r a p e r m a -
n e n c i a d a t e o r i a d a m i m e s e p o r t o d a a e p o c a a 1 e x a n d r i n a , e e e s t a 
q u e p o r c e r t o i n f l u e n c i a r a H o n i c i o , t e o r i a q u e a n o s s o v e r s e 
a f a s t a r a c a d a v e z m a i s d o s m o l d e s p l a t 6 n i c o s p a r a s e g u i r a h u m a -
niza~äo q u e l h e i n j e c t o u A r i s t 6 t e l e s e , m a i s a i n d a , p a r a a t o r n a r 
c a d a v e z m a i s c o n c e b i v - e l e p e r c e p t i v e l e m m o l d e s p r a t i c o s . H a v i a 
a n~äo d e q u e o s t e o r i z a d o r e s p o d i a m i n f . l u e n c i a r o s a r t i s t a s , 
f a c t o d e q u e m u i t o s d u v i d a m o s n o s t e m p o s m o d e r n o s , a m e n o s 
q u e , t a l c o m o n o s t e m p o s i d o s , a r t i s t a e t e o r i z a d o r s e j a m u m a 
e a m e s m a c o i s a . Q u e r i n f l u e n c i e m o u n ä o , h a q u e o b s e r v a r n o 
e n t a n t o o s t e o r i z a d o r e s , p o 1 1 q u e p e l o m e n o s s ä o e l e s q u e r e f l e c t e m 
d o p o n t o d e v i s t a h i s t 6 r i c o a s c o r r e n t e s q u e e s t a v a m e m u s o n o 
s e u t e m p o . N a v : e r d a d e , u m a d a s o b r a s q u e p o s t e r i o r m e n t e v e i o 
a in~luenciar m u i t o d o p e n s a m e n t o t e 6 r i c o d a cria~äo l i t e r a r i a 
f o i u m a o b r a t a r d i a , d o s e c u l o I d . C . , a t r i b u i d a a u m L o n g i n o d e 
d i f i c i l identifica~äo p o r f a l t a d e p r o v a s c o n c l u d e n t e s , i n t i t u l a d a 
D o S u b l i m e , · e · q u e a l e m d e r e f l e c t i r a predisposi~äo a n t i g a p a r a 
p r i v i l e g i a r o s g r a n d e s m o d e l o s e o e s ü l o s u b l i m e d a e p o p e i a , d a 
t r a g e d i a o u d o d i s c u r s o p o l i ü c o , e m oposi~äo, p o r e x e m p l o , a o 
e s t t l o o b s c c e n u m ( a r e p r e s e n t a r f o r a d a c e n a ) d o r o m a n c e , n o s 
t r a n s m i t e i m p o r t a n t e s r e E l e x ö e s s o b r e o q u e e n t e n d e o a u t o r s e r 
a m i m e s e . D e s d e o s t e m p o s h e l e n i s t i c o s e m u i t o e s p e c i a l m e n t e 
d e s d e o d o m i n i o r o m a n o s e t i n h a come~ado a esb~r u m a t e n -
d e n c i a p a r a o r e t o r n o a o s g r a n d e s a u t o r e s d o p a s s a d o , t e n d e n c i a 
a q u e p o d e r i a m o s c h a m a r a r c a i z a n t e d o p o n t o d e v i s t a l i n g u i s t i c o 
e q u e s e v a i a c e n t u a r c a d a v e z m a i s e a t i n g i r o s e u a u g e c o m 
a s e g u n d a S o f i s t i c a d o s e c u l o I I d . C . 0 p s e u d o - L o n g i n o , e m b o r a 
1 6 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso 
näo seja um exemplo tipico desse arcaismo, nem por isso deixa 
de recomendar no seu tratado Do Sublime as diversas formas de 
atingir a suhlimidade do pensamento, tendo para isso presente 
a teoria plat6nica das tres fases da imitac;äo, em que o terceiro 
imitador bem Ionge ficava do arquetipo. Assim Longino aconselha 
«a imi tac;äo e a emulac;äo dos grandes prosadores e poetas dos 
velhos tempos 8 », mimesis e zelosis dos antigos modelos, portanto. 
Quanto aos modelos dignos de serem imitados, nada admira: 
ja ha muito se irnstitufra a ~pratica. Mas Longino acrescenta mais 
um dado, que e a zelosis, lat. remulatio, 0 despique ri.müativo ins-
pirado pelos ch1ssicos. Existe pois um novo conceito que implica 
quase que inveja e competic;äo, defeitos parece que saudaveis para 
atingir a sublimidade da composic;äo liteniria. Mais adiante Longino 
avanc;a mesmo a descric;äo dessa luta competitiva entre imitador 
e modelo, afirmando que Platäo näo teria atingido täo grandesbelezas se näo 1ives·se, tal como um atleta moc;o, «1utado oom toda 
a al1ma contra Homero, para ficar depois no primei,ro lugar 9». 
E pois com esta nota de imitac;äo que nos deixa Longino, que e, 
ao firne ao cabo, o tipo de imitac;äo que todos acabaräo por defen-
der, com matizes mais ou menos profundos, pelos s~eculos fora. 
Tambem Dionisio de HaHcamasso falara de mimesis junta-
mente com zelos, s6 que este ultimo näo seni concebido täo subli-
memente como o de Longino, sera sim «uma actividade do espirito 
que o move no sentido da admirac;äo daquilo que lhe parece ser 
belo 10». Ternos aqui uma emulac;äo ao alcance de muitos, sem 
a preocupac;äo aristocratica de um Longino, que certamente exagera 
no platonismo, e como plat6nico tudo coloca a distäncias s6 
atingiveis quase que pela fe, que näo pelo espirito do artista menos 
religioso. 
Ernbora näo encontremos grande novidade nas teorias expen-
didas por Dionis·io de Halicamasso, nem por i~sso temos de deixar 
de reconhecer que o canicter pratico dos seus ensinamentos e, 
dirfamos ate, das suas parabolas, nos da uma ideia concreta, muito 
longe da inspirac;äo plat6nica e, mantemos, religiosa, de Longino. 
2 
8 Do Sublime, XIII, 2. 
9 Do Sublime, XIII, 4. 
to Da I mita~äo, I, 3. 
17 
D i o n : i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a Imit~äo 
A h i s t 6 r i a d o c a m p o n e s q u e p a r a t e r f i l h o s b o n i t o s , q u e a s i p r 6 p r i o 
n ä o p o d e r i a m s a i r p o i s e r a f e i o , f a z v e r a m u l h e r q u a d r o s d e g e n t e 
b e l a , p a r a q u e a o p r o c r i a r t r a n s m i t i s s e e s s a m e s m a b e l e z a 
1 1
, e l u c i -
d a - n o s s o b r e a n e c e s s i d a d e d e c o n t e m p l a r e i m i t a r o s m e l h o r e s 
m o d e l o s d a a r t e q u e c u l t i v a m o s . A s s i m t a m b e m a h i s t 6 r i a d e 
Z e u x i s , o c e l e b r e p i n t o r g r e g o q u e e m C r o t o n a c o n s e g u i u r e c o l h e r 
d e v a r i o s m o d e l o s f e m i n i n o s e n u s o q u e e m c a d a u m h a v i a d e 
m a i s b e l o , m o s t r a - n o s , p e l a i m a g e m , q u e o i m i t a d o r t e m u m a 
fun~äo i n d i v i d u a l i m p o r t a n t e , q u e p r e s s u p ö e e s c o l h a e u o l u n t a s 
e e x i g e , p o r c o n s e g u i n t e , u m a interven~äo p e s s o a l q u e n ä o s e 
c o a d u n a c o m o s e r v i i l i s m o e a i d e i a d e c 6 p i a q u e e s t ä o n o f u n d a -
m e n t o d a s n~öes d e i m i t a 9 ä o - p l d g i o . P o d e r - s e - a i n f e r i r , i s s o s i m , 
q u e t o d a a imita~äo t e r i a d e s e r r e a l i s t a e q u e o r e a l i s m o s e r i a 
a c o n s t a n t e d a l i t e r a t u r a a n t i g a , o q u e n ä o e a c e i t a v e l , n a m e d i d a 
e m q u e a p r 6 p r i a i d e i a d e composi~äo t i r a d a · d e v a r i o s m o d e l o s 
p o d e r a t e r r e s u l t a d o s p e s s o a i s q u e n ä o r e f l i c t a m n e c e s s a r i a m e n t e 
o r e a l , t a n t o m a i s q u e o s c ä n o n e s e s t r e i t o s t a n t a s v e z e s i m p o s t o s 
s ä o , a n o s s o v e r , a p r i m e i r a e m a i s i m p o r t a n t e p r o v a d e q u e n ä o 
s e p r o c u r a e s s e n c i a l m e n t e a r e a l i d a d e , m a s a s v e z e s a t e , c o m o 
v i m o s e m A r i s t 6 t e l e s 
1 2
, m e l h o r a - 1 a o u p i o r a . ; l a . 0 f a c t o d e s e a c o n -
s e l h a r a r i v a l i d a d e e emula~äo m a i s n o s c o n v e n c e d e q u e o i n d i -
v i d u o t e m u m p a p e l i m p o r t a n t e n o p r o c e s s o d e m i m e s e e c o m o 
t a l d e v e r a s a i r d a c 6 p i a r e a J i s t a q u e , a l i a s , d i f i c i l m e n t e e x i s t e 
d e v i d o a o m o v i m e n t o e d r a m a d e t u d o o q u e n o s r o d e i a . 
N a e p o c a d e D i o n i s i o d e H a J i c a r n a s s o , s e c . I d . C . , a i n d a s e 
f a z i a s e n t i r o c a l o r d a p o l e m i c a e n t r e o a s i a n i s m o e o a t i c i s m o , 
q u e m a i s n ä o e d o q u e a d i s c u s s ä o e n t r e n e o t e r i s m o e a r c a i s m o , 
a s d u a s v e r t e n t e s d a s e m p r e n o v a e d a s e m p r e v e l h a q u e s t ä o e n t r e 
a n t i g o s e m o d e r n o s , c o m r e f . l e x o s e v i d e n t e s n o c i r c u l o d e e s c r i t o r e s 
l a t i n o s d a e p o c a f i n a l d a r e p u b l i c a , c o m o v e r e m o s , m a s q u e c o n t i -
n u a r a n a e p o c a i m p e r i a l , n a s d i v e r s a s f a s e s e m q u e A t e n a s p r o c u r a 
r e n a s c e r c u l t u r a l m e n t e p o r m e i o d o esfor~o d e t e o r i z a d o r e s l i t e -
r a r i o s e d e d e c a d e n t e s r e n o v a d o r e s n o c a m p o d a o r a t 6 r i a 
1 3
• Q u a n d o 
1 8 
n D a I m i t a r ; ä o , l i , 6 . 
1 2 V i d . p . 1 5 , n . 7 . 
1 3 V i d . E . N o : r d e n , D i e a n t i k e K u n s t p r o s e , v o l . I , p . 2 5 8 s s . 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso 
chega a Segunda Sofisica e esta dominada pelos mestres de Ret6-
rica e por especialistas em exercicios literarios (progymnasmata) 
que, apesar da repugnäncia que por tais actividades possamos 
sentir, näo deixaram de ter enorme releväncia no seu tempo, 
representantes que säo de um certo culto da forma e do empenho 
em executar os preceitos te6ricos das artes de bem falar. Naturai-
rnente que tinham os seus modelos e, como os tinham, täo-pouco 
lhes era estranha a imita~äo, como teoria e pnitica. Luciano e um 
contemporäneo condigno dessa epoca de gvande teoriza<;äo, sobre-
tudo no campo da ret6rica e, como e de esperar, toma uma posi<;äo 
no respeitante a mimese, tanto mais que se mostra incredulo quanto 
a inspira~äo, tal como demonstra na Discussäo com H esiodo 14• 
Desta sorte e a imita~äo que deve recorrer quem escreve seguindo 
os escritores antigos como modelos, se bem que utilizando expres-
söes correntes. Ernbora aticista, näo o e do ponto de vista grama-
tical, mas täo-s6 de espfrito, no r·espeito dos grandes nomes e 
modelos da antiguidade ateniense 15• 
Luciano e um, entre outros, dos que se movimentaram inte-
lectualmente durante essa epoca de decadencia, sem duvida, mas 
altamente produtiva e que preparou parte importante do que vini 
a ser o legado bizantino. E um mundo ligado ao paganismo que 
depois vini a desaparecer quando a religiäo cristä se implanta 
no imperio do Oriente. A sua influencia sobre a cultura ocidental 
exerceu-se fortemente, mas näo se pode comparar com a persis-
tencia dos ensinamentos colhidos na cultura latina que, sempre 
influenciada pela grega, conseguiu no entanto perpetuar-se na 
teoriza~äo liteniria ate aos nossos dias. 
3. «Imitatio» entre os Romanos 
Ernbora a sociedade culta romana estivesse informada da 
teoriza~äo liteniria logo a seguir a vit6ria romana sobre os Carta-
gineses, a verdade e que näo chegaram ate n6s autores em que 
14 Hesiodo, 7-9. 
15 J. Bompaire, Lucien .. . , pp. 100 ss. em que se ooupa da doutrina da 
mimesis na epoca de Luciano e em Luoiano. 
19 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a c ; ä o 
a t e o r i a d a i m i t a t i o a p a r e 9 a j a f o r m u l a d a . T e r n o s d e e s p e r a r p e l o 
f i n a l i z a r d a r e p u b l i c a p a r a e n c o n t r a r r n o s , t a l c o r n o n a G r o c i a d ar n e s r n a e p o c a , a l g u r n c o r p o d e d o u t r i n a e r n q u e s e d i g a o q u e 
p e n s a v a r n o s R o r n a n o s d o p r o c e s s o i r n i t a t i v o . E r n p r i n c i p i o n ä o 
v ä o p e n s a r m u i t o dif,er~entem,ente d o s G r e g o s , m~as t a r n b e r n n ä o 
e p o s s i v e l i g n o r a r q u e v ä o s e g u i r c a m i n h o s r n a i s p r a g r n a t i c o s e 
r n u i t o m a i s p e d a g 6 g i c o s , n ä o c o n t r a s t a n d o n e s t e a s p e c t o c o r n o 
p e n d o r g e n e r a l i z a d o d o R o m a n o e r n s e g u i r a p a s s o f i r m e p e l o s 
c a r n i n h o s d a p r a t i c a . H a u r n a n o 9 ä o c a d a v e z m a i s s e g u r a d o q u e 
s e p o s s a c h a r n a r b o a o u m a i r n i t a 9 ä o . E p r e c i s o l e r r n u i t o ~e t e r 
o u v i d o r n u i t o p a r a s e r u m b o m o r a d o r , d i z C i c e r o n o D e O r a t o r e 
1 6
, 
e H o r a c i o a c o n s e l h a a c o r n p u l s a r d i a e n o i t e o s e x e m p l a r i a G r c e c a 
1 7
, 
n ä o p o r q u e e s t e s s e j a r n g r e g o s , d i z D . A . R u s s e ! , m a s p o r q u e e r a m 
d e q u a l i d a d e 
1 8
• D e f a c t o a l e i t u r a d o s c l a s s i c o s e o p r i n c i p i o u n i -
v e r s a l m e n t e a d m i t i d o e a g o r a a c o n s e l h a d o d e f o r m a c a t e g 6 r i c a 
p e l o s t e o r i z a d o r e s e , n o s d o i s c a s o s i n d i c a d o s , a r t i s t a s i g u a l m e n t e . 
N o e n t a n t o h a f o r r n a s r n e n o s s u b t i s d e i r n i t a r , t a J . c o m o a c o n t e c e 
c o m o s o r a d o 1 : 1 e s m a i s f r a c o s q u e s 6 i m i t a m o q u e e f a c i l , a d v e r t e 
C i c e r o : « C o n h e c i f r e q u e n t e m e n t e m u i t o s o r a d o r e s , q u e p e r s i s t i a r n 
e r n i r n i t a r o u a s s u n t o s f a c e i s d e c o p i a r o u r n e s m o q u a s e d e f e i t o s 
b e r n c o n h e c i d o s . N a d a e r n a i s f a c i l d o q u e i r n i t a r a f o r m a d e v e s t i r 
d e a l g u e m , o u a s u a p o s i 9 ä o o u o s e u a n d a r 
1 9
» . E s s e s s ä o i r n i t a -
d o r e s a q u e m H o r a c i o c h a r n a d e g a d o s e r v i l , s e r u u m p e c u s 
2 0
, e 
c o n t r a o s q u a i s n ä o s e e s q u e c e d e a l e r t a r n a A r t e P o e t i c a o c a n d i -
d a t o · a b o a p o e s i a : « E t ä o - p o u c o p r o c u r a r a s , c o r n o s e r v i l . i n t e r p r e t e , 
t r a d u z i r p a l a v r a p o r p a l a v r a , n e r n e n t r a r a s , c o r n o i r n i t a d o r , e m 
q u a d r o r n u i t o e s t r e i t o d e o n d e t e i r n p e d i r ä o d e s a i r a t i r n i d e z e a 
e c o n o m i a d a o b r a 
2 1
» . 
N a v e r d a d e i m i t a 9 ä o n ä o s u p ö e s e r v i l i s m o , p o i s o s b o n s m o d e -
l o s s ä o , n a t e o r i a h o r a c i a n a , p u b l i c a m a t e r i e s p r i u a t i i u r i s 
2 2
, i s t o e , 
2 0 
1 6 I , 2 1 8 ; I I , 8 5 , 1 3 1 . 
1 7 A r t e P o e t i c a , 2 6 8 - 9 . 
1 8 D . A . R u s , s e l , a r t . c i t . , p . 1 . 
1 9 D e o r a t o r e , I I , 9 0 - 1 . 
2 o E p i s t . , I , 1 9 , 1 9 . 
2 1 A r t e P o e t i c a , 1 3 3 - 1 3 5 . 
2 2 A r t e P o e t i c a , 1 3 1 . 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso 
mat·eria a todos pertencente que seni legitima perten<;a do poeta, 
caso ele näo se Iimite a copiar. Havia na verdade espa~o bastante 
no esfon;o imitativo para que o autor nele pusesse algo de seu 
(priuati iuris). 
Um pouco mais pessimista quanto a possibilidade de preservar 
o poder criativo e Quintiliano, que aconselha a imitatio, porque 
«·e necessario que sejamos iguais ou diferentes dos bons. Raramente 
a natureza permite que a:lguem seja igual, frequenterneute e a 
imita~äo que o permite 23 ». Poucos podem por conseguinte igualar 
os modelos e tambem imitar somente näo basta. Se assim fasse, 
nada teria sido inventado. Ha qua~lidades do orador que a tecnica 
e a imita~äo por si s6s näo podem dar. Ha que ter inteligencia 
e a capacidade de compreender por que e o modelo escolhido 
täo bom. 0 bom orador näo segue a peugada de ninguem. Procura 
sim aproveitar da obra dos que o precederam para tentar ultra-
passar as suas deficiencias. Säo pois imitatio e cemulatio, como ja 
preconizavam os teorizadores gregos, as duas formas, segundo 
Quintiliano, de granjear capacidade criativa em rela~äo aos mode-
los e face aos destinatarios. 
Ao recolhermos a opiniäo de tres dos mais celebres criticos 
da antiguidade romana, procuramos apresentar as posi~öes basicas 
sobre o problema da imitac;äo, que näo exclui a ideia de imitac;äo 
servil. A fa1lta de qualidade na imitac;äo, certa consanguinidade 
que se manifesta nas escolas de retores, a pr6pria situa~äo politica 
de quebra da Hberdade em certas fases do imperio, tudo isso vai 
conrt:ribuir para a decadencia da oratöda, por um lado, e para a 
futiHza~äo e barroquismo da poesia, por outro. E evidente que 
por mais que procuremos näo e facil encontrar epoca em que mais 
se tenha abertamente imitado e que seja mais original do que o 
seculo de VirgiHo e de Horacio, o que prova a saciedade que näo 
foi devido a i,m,i ta~äo, conf.essada täo candidamen te por Horacio 
que ate dela se gaba, que a poesia, ou qualquer outro genero 
literario romano, se encaminhou para a decadencia que caracte-
rizou tantas ocasiöes da longa vida cultural do imperio. 0 espa~o 
23 De institutione oratoria, X, 2, 3. 0 capitulo 2 do liv,ro X trata da 
imita~äo e apresenta grandes 1semelhan~s com a teoria defendida po:r 
Dionisio de Halicarnasso, julga-se que por existir fonte comum. 
21 
D i o n i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a I m i t Q . f i i o 
p r i v a d o e c r i a t i v o p o d i a c o m e f e i t o p r e s e r v a r - s e d e n t r o d e u m a 
t e c n i c a q u e p e r m i t i a a i m i t a c ; ä o d e o l a r a d a , a o i n v e s d o q u e s e 
p a s s a c o m o s a u t o r e s d o s n o s s o s t e m p o s . I s s o n ä o i m p e d i a , c o n -
t u d o , q u e j a n a p r 6 p r i a a n t i g u i d a d e s e t i v e s s e m l e v a n t a d o p r o b l e -
m a s d e i n d o l e e t i c a e a r t i s t i c a c o m o o s q u e h o j e s ä o c o n h e c i d o s 
d a n o s s a s e n s i b i l i d a d e 
2 4
• 
4 . 0 « p l a g i o » n a a n t l g u i d a d e 
A i d e i a d e k l o p e ( f u r t o , p l d g i o ) o u d e p l a g i u m ( r o u b o d e g a d o , 
d e e s c r a v o s , p l d g i o ) j a e x i s t i a n a a n t i g u i d a d e a p a r d a d e m i m e s i s 
e d e i m i t a t i o . A o f i r n e a o c a b o , q u e m c o p i a v a d e m a i s r o u b a v a o 
m o d e l o . C o r n o e r n t o d o s o s r o u b o s h a v i a e v i d e n t e m e n t e g r a u s d e 
g r a v i d a d e d o c r i m e , t a n t o m a i s q u e o s c r i t i c o s , a o i m p u t a r e m - n o , 
n e m s e m p r e e s t ä o l i v r e s d e c e r t o f a c c i o s i s m o e s u b j e c t i v i s m o . 
S e j a c o m o f o r , i n t e r e s s a s a b e r q u e a n~äo d e p l a g i a t o e x i s t i a , 
e m b o r a d e u m a f o r m a m a i s d i f u s a , p o r v e z e s m a i s p e s s o a l e c o l e -
r i c a , n o r e s p e i t a n t e ao s a c u s a d o r e s , m a s s e m q u e u m a u t o r , p o r 
e x e r n p l o , d e h i s t 6 r i a , s e s e n t i s s e s e m p r e n a o b r i g a t o r i e d a d e d e c i t a r 
a s s u a s f o n t e s . D e r e s t o , e m t o d a s a s a r t e s s e p ö e o m e s m o p r o -
b l e m a d a d e p e n d e n c i a d e a r t i s t a s l i t e r a r i o s o u p l a s t i c o s d o s m o d e -
l o s q u e p o r v e n t u r a ' l h e s s ä o a t r i b u i d o s e n a d a i m p e d i u , c o m o j a 
s e d i s s e a p r i n c i p i o , q u e a r t i s t a s m o d e r n o s b u s c a s s e m m o d e l o s 
a n t i g o s , e s o b r e e l e s f i z e s s e m « v a r i a c ; ö e s » , s e m q u e p o r i s s o p e r -
d e s s e m a s u a o r i g i n a l i d a d e ( P e s s o a , J o y c e , e t c . ) . L e m b r a m o s a 
p r o p 6 s i t o a s p e c ; a s d e J . S . B a c h s o b r e t e m a s d e V i v a l d i , q u e n u n c a 
f o r a m c o n s i d e r a d a s p o r n e n h u m c r i t i c o , o u p o r q u a l q u e r c o l e g a , 
c o m o t e n d o s i d o f u r t a d a s a o c o m p o s i t o r i t a l i a n o . J u l g a m o s d e 
f a c t o q u e o t e r m o v a r i a 9 ö e s , q u e v e m d o ä m b i t o m u s i c a l , p o d e 
d e c e r t a f o r m a i l u s t r a r o q u e s e p r e t e n d i a c o m a i m i t a c ; ä o , s a b e n d o 
n 6 s t o d o s d e a n t e m ä o q u e q u a n t o m e n o s f o r e m a s v a r i a 9 ö e s , 
m a i s s e a p r o x i m a a o b r a a n a l i s a d a d o f u r t o e d o p l a g i a t o . 
P a r a c o l i g i r a s o p i n i ö e s a n t i g a s q u e a b o n a v a m o u n ä o a o r i g i -
n a l i d a d e d o s a r t i s t a s , s ä o d e e x c e p c i o n a l u t i l i d a d e o s c o m e n t a d o r e s 
2 4 
V i d . C . 0 . B r J n k , H o r a c e o n P o e t r y , v o l . I , C a m b r i d g e , 1 9 7 1 , c o m e n -
t a r i o a o v . 1 3 4 d a A . P . 
2 2 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso 
e os escoliastas. Tanto na Grecia como em Roma~ esses fil6~ogosl 
juntamente com os teorizadoresl expendem juizos sobre os grandes 
nomes da literatura 1 e por vezes fazem-no com algum veneno. 
Escapavam automaticamente a quaisquer criticas os chamados 
inventores dos generos liteniriosl como Homero para a epical 
modelo de todas as gera~öes vindouras 1 näo sabemos se por serem 
os primeiros (do ponto de vista escolar~ e 6bvio)~ se por se des-
conhecerem os seus antecedentes. Entre os inumeros exempJos 
ooligidos de aousa~öes de plagiato a varios autores da antiguidadel 
lembremosl s6 para exempHficar e sobretudo para mostrar que 
nem os grandes nomes estavam ao abrigo de acusa~öes desse genero, 
que Ateneu nos transmite a opiniäo do historiador Teopompo 
de Quiosl no seu Ataque a Escola de Platäo, que afirma perempto-
riamente: «Poder-se-ia descobrir que, em grande parte, os dialogos 
säo inuteis e falsos; na maior parte säo de autoria diversal sendo 
alguns tirados dos discursos de Aristipo e muitos tambem dos 
de Brison de Heraaleia 25». Corno vemos nem Platäo escapou a 
acusa~öes, o que :iJlustra o facto de que mesmo os antigos corriam 
os mesmos perigos que os nossos contemporäneosl ainda que hou-
vesse maior liberdade de imitar e ate a ideia clara de que imitar 
os grandes modelos era positivo. Nem assim contudo se deixavam 
os intelectuais da antiguidade de se mimosear uns aos outros com 
requintes identticos ao usadopelos arüstas do nosso tempo ... 
Assim näo admira que os difamadores de Virgilio, do genero 
de AuJo Gelio e de Macr6bio1 se comprazam em lhe apontar passos 
imitados de Homero e mal imitados I segundo eles I ou mesmo em 
dar a entender que de furta se trata~ como Macr6bio~ que depois 
de apresentar uma lista de passos imitados por Virgilio~ nos diz: 
«Ha outros passos de muitos versos que Maräo transferiu dos 
velhos poetas para a sua obra apenas mudando poucas palavras. 
E porque leva muito tempo a transcrever inumeros versos de ambosl 
assinalarei os livros antigos, para que quem o deseje possa rele-los 
e admirar-se ao conferir a semelhan~a entre os dois passos 26». 
25 Deipnosofistas, 508 c. 
26 Esta e, entre muitas, uma das a1usöes malevalas de Macr6bio, Satur-
nalia, 6,2,30. Mas tcxlo o livro 5 esta recheado de compara~öes {com Homero) 
e alusöes congeneres. A mesma atitude se encontra em Allio Gelio em diver-
sos passos das Noctes Atticre, 9,9,12-16 e passim. Vid. Rene Marache, La criti-
23 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a t ; ä o 
N a o e r a m o s a n t i g o s t ä o c e r i m o n i o s o s c o m a s acusa~öes d e 
p l d g i o , c o m o p o d e m o s s e n t i r n o v i t u p e r i o lan~ado p o r C i c e r o 
c o n t r a o s e u i l l e n o s t e r E n n i u s , t ä o l o u v a d o n o P r o A r c h i a , m a s 
n e m m e s m o a s s i m p o u p a d o n o B r u t u s : « M u i t a s c o i s a s d e N e v i o 
o u t o m a s t e , s e o c o n f e s s a r e s , o u s u r r i p i a s t e , s e o n e g a s 
2 7
» . 
I l u s t r a m e s t e s e x e m p l o s o q u e s e p a s s a v a n a a n t i g u i d a d e , 
a f i r n d e q u e o l e i t o r m o d e 1 : 1 n o n ä o s e conven~a d e q u e e n t ä o s e 
i m i t a v a s e m l i m i t e s , e m b o r a s e a p r e n d e s s e o p r o c e s s o n a e s c o l a . 
A imita~äo n o s t e m p o s a c t u a i s e m a i s c o m p l i c a d a , p o r q u e , t e n d o 
d e i x a d o d e s e r r e g r a , m a s d e f e i t o e c r i t i c a v e l v i c i o , e p o r v e z e s 
m e n o s f a c i l m e n t e d e t e c t a v e l . 
S e j a c o m o f o r , o s e n t i m e n t o d o s a n t i g o s e r a p o l a r i z a d o e n t r e 
a n e o e s s i d a d e d e s e g u i r o s b o n s m o d e l o s e o c r i t e r i o d e q u e a 
imita~äo d e v i a s e r f e i t a n ä o s 6 c o m o c o n h e c i m e n t o d o e s p i r i t o 
e d a f o r m a d a q u e l e s , m a s t a m b e m c o m a c o m p o n e n t e c r i a t i v a 
d o p r 6 p r i o a r t i s t a . N ä o s e m u d o u e s s e n c i a l m e n t e a a t i t u d e n o 
d e c o r r e r d o s s e c u l o s , c o m o p o d e m o s a v a l i a r p o r a l g u n s e x e m p l o s 
e s c o l h i d o s d o H u m a n i s m o e d a s e p o c a s p o s t e r i o r e s a t e a o s e c . X I X . 
5 . A « i m i t a « ; ä o » n a l i t e r a t u r a c r l s t ä 
S e r i a e r r a d o p e n s a r q u e o s g r a n d e s e s c r i t o r e s c r i s t a o s t i v e s s e m 
d a d o m e n o s i m p o r t ä n c i a a o s m o d e l o s q u e i m i t a v a m , b e m c o m o 
a s u a n o v a r e a l i d a d e r e l i g i o s a . M o d e l o e r e a l i d a d e e s p i r i t u a l e r a m 
d i c o t o m i a q u e o s p r e o o u p a v a , n a m e d i d a e m q u e a l g u n s , e d u c a d o s 
n a admira~äo d o s g r a n d e s c l a s s i c o s p a g ä o s , t i n h a m d i f i c u l d a d e 
e m d e l e s s e l i b e r t a r e m . E e s s e u m d o s a s p e c t o s m a i s m a r c a n t e s 
n a posi~äo n o v a d a s a u t o r e s c r i s t ä o s f a o e a o s v e l h o s e n o v o s 
m o d e l o s , f a c e a o p r a z e r p u r o I i t e r a r i o c o n t r a p o s t o a a c t i v i d a d e 
a r t i s t i c a a o servi~o d e u m a c a u s a e s p i r i t u a l . V a m o s c o n t e n t a r - n o s 
q u e l i t t e r a i r e d eI a n g u e l a t i n e e t l e d e v e l o p p e m e . n t d u g o u t a r c h a " i s a n t a u 
I J e s i e c l e d e n o t r e e r e , R e n n e s , 1 9 5 2 , q u e d e m o n s t r a s e r a a t i t u d e d e A u l a 
G e l i o e s p e c i a l m e n t e m o t i v a d a , q u a n t o a V i r g i H o , p e l a s u a p r e f e r e n c i a p e l o s 
e s c r i t o r e s a r c a i c o s . 
2 7 B r u t u s , 7 6 : « A N r e u i o u e l s u m p s i s t i m u l t a , s i f a t e r i s , u e l , s i n e g a s , 
s u r r i p u i s t i » . 
2 4 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso 
com os testemunhos de S. Agostinho e de S. Jer6nimo, que pensa-
mos exprimem o essencial dessa atitude recente e que tentava, 
em väo, cortar com o passado, tal como acontece geralmenie com 
as viragens revolucionarias. 
S. Agostinho aponta bem a aherac;äo, que se tinha dado no 
seu espirito quanto a tudo o que tinha aprendido da literatura 
pagä, e insiste na bondade das letras cristäs em relac;äo as que 
conhecera nos tempos em que andava no erro e desviado do bom 
caminho. Por isso, na sua paixäo de ne6fito, näo deixa de impres-
sionar o leitor moderno mais atento pela ingratidäo que revela 
para com a cultura que o tinha, por que näo dize-lo, amamentado. 
Lemos de facto nas Confissoes: «Na verdade eram de qualquer 
forma melhores, porque mais pr6ximas da verdade, as primeiras 
letras que me formaram e permitiram ter capacidade de ler, se 
algo de escrito encontro, e de eu pr6prio escrever o que quero. 
Säo melhores do que as outras, pelas quais era obrigado a aprender 
os errores de um tal Eneias, esquecido dos meus pr6prios errores, 
e a chorar a morte de Dido, porque se matou por amor, enquanto, 
pobre de mim, eu pr6prio permitia nesse tempo que, de olhos 
enxutos, eu estivesse de ti afastado, 6 Deus, minha vida! 28 » Eis a 
mudanc;a radical demodelos a imitar, e, como na antiguidade pagä, 
näo s6 se pretendia imitar a letra mas o espirito tambem, s6 que 
o espirito näo era mais profano, mas sim reHgioso e regido por 
um s6 livro, a Biblia. 
Mais conhecida pelas variac;öes que provocou atraves dos 
seculos e a atitude de S. Jer6nimo, que ele conta nas cartas, 
descrevendo de forma enternecedora o como tinha comec;ado a 
custo a abandonar o gosto das letras pagäs, forc;ado pelo seu amor 
a Cristo. Na Carta a Eust6quio conta-nos S. Jer6nimo que, depois 
de ter abandonado todos os bens do mundo e a pr6pria familia, 
näo conseguia deixar de ter ternura pela biblioteca que, com tanto 
carinho, tinha constituido, nem deixar de sentir prazer na leitura 
dos autores pagäos, como Plauto, no meio de uma noite de vigilia, 
influenciado por certo pela Senpente do mal. Sente-se doente na 
Quaresma e tem uma visäo, em que o seu ente culpado esta pre-
sente diante de um tribunal, e ai o Juiz supremo o interroga, 
28 Confissöes, I, 13, 20. 
25 
D i o n i s i o d e H a l i c a m a s s o : T r a t a d o d a Imita~iio 
f a z e n d o a p e r g u n t a h a b i t u a l q u a n t o a s u a cren~a (condi~äo). E e i s 
o d i a . l o g o : « A c a r i a d o q u a n t o a m i n h a condi~äo, r e s p o n d i q u e e r a 
c r i s t ä o . E n t ä o o q u e p r e s i d i a disse~me: ' E s t a s a m e n t i r . E c i c e r o -
n i a n o q u e t u e s , m a s n ä o c r i s t ä o ' ( . . . ) » . E S . J e r 6 n i m o e c a s t i g a d o , 
a t e q u e f a z a p r o m e s s a : « S e n h o r , s e a l g u m a v e z p o s s u i r o b r a s 
p r o f a n a s , o u m e s m o s e a s l e r , e c o m o s e t e r e n e g a s s e 
2 9
» . 
D e s d e e s t a a l t u r a a imita~äo l i t e r a r i a p a s s a u a t e r a n o v a 
c o m p o n e n t e c r i s t ä n a e s c o l h a d e m o d e l o s . E e v i d e n t e q u e p a s s a d o 
o f e r v o r d e S . J e r 6 n i m o , come~ou a o p e r a r - s e n a s l e t r a s o c i d e n t a i s 
u m a h a b i l combina~äo e n t r e a s l i t e r a t u r a s s a g r a d a s e p r o f a n a s , 
c o m o v i r a a s e r o c a s o d o H u m a n i s m o , c o m o r e t o r n o a o s t e x t o s 
e o a b a n d o n o d o s c o m e n t a d o r e s . 
6 . 0 « H u m a n i s m o » , O S s e c u l o s X V I I e X V I I I e O S i m i t a d o r e s 
0 m o v i , m e n t o h u m a n i s t a , q u e n a B u r o p a s e com~ a es~ 
n o s f i n s d o s e c u l o X I V e s e a c e n t u a n a e p o c a d o R e n a s c i m e n t o d o 
s e o u l o X V e X V I , c o n h e c e o s e u a u g e e m P o r t u g a l e n t r e 1 5 0 0 - 1 6 0 0 , 
d a t a n ä o i n a m o v i v e l m a s q u e f a c i l i t a a situa~äo d e s t e f e n 6 m e n o 
c u l t u r a l n o t e m p o . J a Louren~o V a l a f a z , n o p r e f a c i o a o l i v r o I I 
d a s E l e g a n t i r e 3 ( ) , cons~dera~öes s o b r e o p l a g i u m e p l a g i a r i u s ( p l a -
g i a d o r s e r a p a l a v r a d o s e c u J o X I X ) 
3 1
• N o e n t a n t o , d o p o n t o d e 
v i s t a d a i m i t a t i o j u l g a m o s s e r d e real~ar a q u e r e l a e n t r e C i c e r o -
n i a n o s , c h e f i a d o s p e l o C a r d e a l B e m b o , e A n t i c i c e r o n i a n o s , c h e f i a d o s 
p o r E r a s m o e J u s t o L i p s i o 
3 2
• A f r a s e d e acusa~äo a S . J e r 6 n i m o 
f o i i n v e r t i d a p e l o s h u m a n i s t a s q u e , p e l a b o c a d e E r a s m o , d i z e m 
« C h r i s t i a n u s s u m , n o n C i c e r o n i a n u s - e c r i s t ä o q u e S O U e n ä o 
c i c e r o n i a n o » . S e j a c o m o f o r a imita~äo e a c o n s e l h a d a , e s e g u i d a , 
p o r v e z e s m e s m o e p r e g a d a c o m a r d o r , c o m o e m J e r 6 n i m o V i d a , 
2 9 C a r t a X X I I a E u s t 6 q u i o , 3 0 ; S . J e r ö m e , L e t t r e s , v o l . I , P a r i s , B e i l e s 
L e t t r e s , p p . 1 4 4 - 1 4 5 . 
3 ( ) L o r e n z o V a l l a , E l e g a n t i r e , P a r i s , 1 5 3 2 . 
3 1 V i d . E . S t e m p l i n g e r , D a s P l a g i a t . . . p . 1 , n . 1 . 
3 2 V i d . E . N o r d e n , o b . c i t . , v o l . I l , p . 7 7 3 s s . E c o s d a q u e r e l a e m 
A . R e s e n d e , O r a 9 ä o d e S a p i e n c i a ( O r a t i o p r o r o s t r i s ) , L i s b o a , 1 9 5 6 ( P i n t o 
d e M e n e z e s ) , p . 4 2 ( e d i t a d a e m 1 5 3 4 ) , e m q u e R e s e n d e , p . 4 0 , r e c o r d a o s 
p r e c e i t o s h o r a c i a n o s d a imita~äo. ( V i d . n . 1 7 ) . 
2 6 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicamasso 
em 1527, que nos diz: «Atentai na maneira de adaptar a n6s os 
despojos e as insignias dos antigos. Deles tomamos ora a inven~äo 
brilhante dos temas, ora o encadeamento e o sentido das palavras 
e ainda as pr6prias palavras. E näo temos vergonha de falar as 
vezes pela boca de outrem. Quando praticais os vossos furtos 
em poetas conhecidos, deveis avan~ar com mais cautela. Näo vos 
esque~ais de ocultar o roubo, voltando noutra direc~äo o rasto 
das palavras, e assim enganai os leitores, alterando-lhe a ordern 33». 
As palavras de Vida recordam-nos que nem sempre foi nem 
e nitida a fronteira equivoca entre imita~äo e originalidade e que 
as repugnäncias eticas säo menos fortes quando se lan~a um movi-
mento Iiterario no meio de um entusiasmo que depois come~ara 
a esfriar. De facto, em 1561 Escaligero vem a aconselhar a imita~äo 
em termos mais brandos: «Primeiramente, para que escolhamos 
para imi tar os passos melhores; em segundo lugar, para que tudoo que for por n6s realizado seja por n6s minuciosamente pesado 
e examinado e meditado como se fosse obra alheia 34 ». 
Säo estas as atitudes que prevalecem e que väo ser respeitadas, 
naturalmente com variantes que reflectem sensibilidades diversas, 
no seculo XVII, em que V6ssio vai publioar em Ameste.ndäo e em 
1647 um tratado sobre a i·mita~äo, no qual se ocurpa em t·ra~ar 
erudita hist6ria da teoriza~äo sobre este a:ssunto, tanto no que 
respeita a Poetica como a Ret6rica, fornecendo grandes listas de 
autores que devem ser Iidos, näo ao acaso, mas quando tem algum 
ponto de contacto com a nossa sensibilidade: «Para imitar e neces-
sario quese leia o mais notavel, e por vezes s6 a ele; seguidamente 
o que for mais parecido; finalmente mesmo os que näo forem 
parecidos, mas que se distingam por um louvor qualquer. Nem 
sempre por n6s deve ser escolhido o melhor como modelo, mas 
näo raro um que näo seja täo bom, mas que melhor se adapte 
a nossa Capaeidade 35 ». 
33 Marci Hieronymi Vidre Cremonensis, De arte poetica lib. /I/, Roma, 
1527, 111, 213-220 (traduc;äo a publicar por Arnaldo do Espirito Santo). 
34 Julii Cresaris Scaligeri, Poetices libri septem, V, cap. I, 561, p. 214. 
35 Gerardi Joannis Vossii, De imitatione cum Oratoria, tum prcecipue 
Poetica deque recitatione ueterum liber, Amesterdäo, 1647, p. 5. Trata-se de 
uma obra extremamente ordenada, com um excelente indice de materias 
e com uma intenc;äo taxin6mica e pedag6gica evidente. 
27 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a 9 a o 
A s i n d i c a c ; ö e s d e V 6 s s i o e x p r i m e m u m a p o s i c ; ä o e q u i l i b r a d a 
e u m a a s s u n c ; ä o 6 b v i a q u a n t o a n e c e s s i d a d e d e i m i t a r . 0 s e c . X V I I I 
n ä o s e n i d i f e r e n t e , a i n d a q u e a p o l e m i c a p o e t i c a e r e t 6 r i c a s e 
a n i m e , n u m a e p o c a f e r t i l e m p a l a v r a s , q u e p a r a o m o d e r n o I e i t o r 
c a i u u m p o u c o e m d e s u s o , m a s q u e c o n t i n u a a s e r u m m a n a n c i a l 
d e e n s i n a m e n t o s p a r a t o d o s . A i m i t a c ; ä o e e s t u d a d a e a c o n s e l h a d a 
e m d i v e r s a s m e d i d a s e a r t e s p e l o s t e o r i z a d o r e s . E s c r e v e - s e c a d a 
v e z m a i s e m v e r n a c u l o , e a s s i m l i m i t a m o - n o s a e x e m p l o s p o r t u -
g u e s e s q u e n o s p a r e c e m s u f i d e n t e s , p o r q u e m u i t o i n f l u e n c i a d o s 
p e l a l t a l i a , p e l a F r a n c ; a e , p o r m e i o d e s t a s , p e l a B u r o p a e m g e r a l
3 6
, 
a l e m d e a p r e s e n t a r e m u m a t e n d e n c i a d e r e t o r n o a o s t e o r i z a d o r e s 
c l ä s s i c o s e v i d e n t e . E a s s ] m q u e L e v t ä o F e r r e i r a a f i r m a s e m r o d e i o s : 
« E a i m r i t a c ; ä o ( S e n h o r e s ) a a n t i g a m e s t r a d o s r a c i o n a i s e o s e u 
e x e r c i c i o e a e s c o l a o n d e a p r e n d e m o s t o d o s . C o m n e n h u m v i v e n t e 
s e m o s t r o u a n a t u r e z a m ä e m a i s a v a r a q u e c o m o h o m e m ; q u e r e n d o 
q u e c o m r i g o r o s o t r a b a l h o s e j a u m d i s c i p u l o d e o u t r o , n a q u i l o 
m e s m o e m q u e e l a e m e s t r a p r 6 d i g a e p r 6 v i d a d o s b r u t o s 
3 7
» . 
C o m e s t a i n t r o d u c ; ä o I i g a - s e o a u t o r , a e s c o l a a r i s t o t e l i c a e c o n t i n u a 
a d i s c r e t e a r s o b r e i m i t a r a o I i v r e e i m i t a r a o s e r v i l , r e p r o d u z i n d o , 
n a t u r a l m e n t e c o m a s p e c t o s i n d i v i d u a i s , a s t e o r i a s d o s a n t i g o s . 
A l i n g u a g e m b a r r o c a , i n f l u e n c i a d a p e l o i t a l i a n o T e s a u r o , r e p r e s e n t a 
b e m o e s t i l o d a e p o c a , b e m c o m o o s c o n c e i t o s , q u e s ä o o t e r m o 
q u e a p a r e c e n o t i t u l o : N o v a A r t e d e C o n c e i t o s , r e c o l h i d o s d a s 
l i c ; ö e s p r o f e r i d a s n a A c a d e m i a d o s A n 6 n i m o s d e L i s b o a e p u b l i c a d a 
e m 1 7 1 8 . L e i t ä o F e r r e i r a n ä o s 6 s e p r e o c u p a c o m o s m o d e l o s e 
f o r m a s d e i m i t a r c o m o t a m b e m c o m o s p r e c e i t o s a s e g u i r p a r a 
o b t e r a m u t a c ; ä o 
3 8
, q u e d i f e r e n c i e a o b r a i m i t a d a d o o r i g i n a l . 
T e r e m o s E i n a l m e n t e d e e s p e r a r m a i s a l g u n s a n o s p e l a o b r a 
d e F r a n c i s o o J o s e F r e i r e , C ä n d i d o L u s i t a n o , q u e n a s u a A r t e P o e t i c a 
d e 1 7 4 7 , p a r a e n c o n t r a r m o s u m t e x t o t e 6 r i c o v e r d a d e i r a m e n t e r e p r e -
s e n t a t i v o d o s e c u l o X V I I I p o r t u g u e s l i g a d o a o p e n s a m e n t o f r a n c e s 
3 6 V i d . A n i b a l P i n t o d e C a s t r o , R e t 6 r i c a e T e o r i z a 9 a o . . . , a p a r t i r d o 
c a p . I I , p p . 1 4 3 s s . 
3 7 F r a n c i s c o L e i t ä o F e r r e i r a , N o v a A r t e d e C o n c e i t o s , P r i m e i r a P a r t e , 
L i s b o a , 1 7 1 8 , p . 1 5 0 s s . ( e l i 9 a o s e t i m a § I , D a I m i t a 9 a o , q u i n t a e u l t i m a 
e s p e c i e d e e x e r c i c i o ) . N a p . 1 7 7 com~a a l i 9 a o o i t a v a e m q u e v a i e s t a d a r 
a s r e g r a s p a r a q u e a s i m i t a 9 8 e s n a o p a r e 9 a m f u r t o s , p . 1 7 9 . 
3 8 O b . c i t . , p . 1 8 5 s s . 
2 8 
Um Enquadramento para Dionisio de Halicarnasso 
e italiano, tenta despegar-se dos conceitos do barroco e procura 
a nivel da teoria como que um neo-classicismo. Assim Cändido 
Lusitano considera a imitac;äo nas suas duas vertentes. A primeira 
surge quando define a essencia da Poesia, ao afirmar: «que a 
essencia desta Arte e a imitac;äo das coisas, com as quais criam 
eles (poetas) novas imagens e se fazem deste modo criadores ( ... ), 
o que e certo ( ... ) e que consiste a essencia da Poesia na imitac;äo 
da natureza ( ... ) 39». 
Mais adiante dedica Cändido Lusitano dois capitulos a imita-
c;äo 40, em que repete a definic;äo ja dada e a desenvolve, ainda 
que as considerac;öes essenciais se reHrarn a imitac;äo da Naturr,eza. 
Os universais da imitac;äo, como podemos ver, tem sido man-
tidas sem que haja demasiadas ~ugas ou qualquer recusa a este 
prooesso que pelos vistos pode ser criativo. 0 soculo XIX dei~ara 
pouco a pouco os preceitos da imitac;äo, mas nem mesmo assim 
deixamos de ver em 1830 a posic;äo de Alfred de Musset, que con-
trasta com a atitude que cada vez mais se ira impor, quando o 
poeta frances muito claramente defende a imitac;äo dentro dos 
parametras tradicionais: «Pourquoi desavouer l'imitation, si eile 
est belLe? Bien plus, si eile est originale ene .. meme? Virgile est 
d'Homere et le Tasse est fils de Virgile. Il y a une imitation sale, 
indigne d'un esprit releve, c'est celle qui se cache et ,g.e renie, vrai 
metier de voleur; mais l'inspiration, quelle que soit la source est 
sacree 41 ». 
Nem mesmo esta declarac;äo lucida evitara que a imitac;äo 
como pnitica aberta caia em desuso, pois ja Byron comentava com 
grac;a que um Poeta facilmente poderia (com exclusäo de dinheiro) 
tudo pedir emprestado a outro, excepto os seus pensamentos, por-
que estes viräo sempre a ser reclamados 42 • 
Com efeitoa propriedade artistica passou a ser cada vez mais 
individualizada e aparentemente intocavel, o que naturalmente em 
39 Francisco Jose Freire, Arte Poetica ou Regras da Verdadeira Poesia, 
Lisboa, 1748, p. 16. 
4<l Ob. cit., cap. 5 e 6, pp. 25-32. 
41 Melanges de litterature et de critique, Paris, 1899, p. 14. Citado por 
E. Stemplinger, Das Plagiat, p. 162. 
42 E. Stemplinger, Das Plagiat, p. 2. 
29 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a f _ ; ä o 
n a d a a l t e r a a s d i s p o s i < ; ö e s a n t i g a s , q u e t ä o - p o u c o a d m i t i a m o f u r t o 
o u o p l a g i o . D e m o m e n t o t u d o o q u e e i m i t a d o , o u « i n f l u e n c i a d o 
p o r » , o u d a « e s c o l a d e » , e t c . , f o i c l a s s i f i c a d o c o m o t e n d o s i d o , 
c a s o h a j a a l g u m a m o d e l o i d e n t i H c a v e l , u m f e n 6 m e n o d a r e e s c r i t a , 
d a i n t e r t e x t u a l i d a d e , a d m i r a v e i s n e o l o g i s m o s , e m q u e s e r e f l e c t e 
t o d a a a m b i g u i · d a d e q u e p r e s s u p ö e a rela~äo d a c r i a t i v i d a d e c o m 
o s M o d e l o s q u e a t o r n a r a m p o s s i v e l . P e l o s v i s t o s a imita~äo c o n -
t i n u a , n e m o u t r a c o i s a s e r i a d e e s p e r a r , s 6 q u e a p a l a v r a f o i e n v o l -
v i d a p o r u m i n v 6 l u c r o s e m ä n t i c o q u e n o s f a z p e n s a r d u a s v e z e s 
a n t e s d e a e l a r e c o r r e r m o s c o m o p r o c e s s o l i t e r ä r i o . P r e f e r i m o s 
p o r i s s o d e i x a - l a d e b a n d a , n e m p e n s a r n e l a e , s e p o s s i v e l e q u a n d o 
f o r d i s s o o c a s o , r e e s c r e v e r . E i s c o m o a s p a l a v r a s s e r e n o v a m 
c o m o a s f o l h a s d u r a n t e a mudan~a d e esta~äo, j a d i z i a o v e l h o 
p o e m a h o r a d a n o . 
R . M . R O S A D O F E R N A N D E S 
3 0 
TI 
DIONiSIO DE HALICARNASSO 
1. Vida 
Dionisio nasceu em Halicamasso, na Asia M·enor, talvez entre 
60 e 55 a.C., e f.oi viver para Roma durante a realiza<;äo da 
187 .a OHmpiada, na altura em que Augusto tinha acabado de por 
termo a guerra civil (30 a.C.), Segundo nos informa no prefacio 
das Antiguidades Romanas, chegou a Roma com o firme prop6sito 
de escrev·er a hist6ria antiga da cidade, desde a funda<;äo ate a 
Primeira Guerra Ptl.nica, precisamente ate ao ponto em que Polibio 
a oome<;ara (264 a.C.). Dedicou os vinte e dois anos seguintes a 
reoolha minuciosa e exaustiva de todas as fontes disponiv·eis para 
oons·egui•r rea1izar com exito o projecto amhicioso a que se tinha 
devotado. 
Para garantir a sobrevivencia, exeroeu a actividade de mestre 
de ret6rica, o que lhe proporcionou estabeleoer estreitos contactos 
com os circulos culturais mais influentes de Roma, oomo era o caso 
do circulo dos Tuberöes, familia politicamente poderosa e versada 
no ~estrudo do Direito e da Hist6ria. Outros interlocutoDes e amigos 
soHdtavam frequenterneute as aprecia<;öes de Dionisio sobre assun-
tos mais ou menos polemkos que resuhavam ineV~itavelmente da 
critica literaria insevida nos seus Escritos Ret6ricos. E pouco mais 
se sabe das condi<;öes em que v.iveu em Roma. 
31 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a l m i t a f ä o 
2 . 0 H i s t o r i a d o r 
A f a c e t a d o h i s t o r i a d o r m a n i J i e s t a - - s e e s s e n c i a l m e n t e n a e l a b o -
va~äo d a s A n t i g u i d a d e s R o m a n a s , o b r a e m 2 0 liv~ros d e q u e r e s t a r n 
o s 1 0 p n i m e i r o s . D i o n i s i o , a d m i m d o r f e r v o r o s o d a v i r t u s r o m a n a , 
o o m p ö s u m a h i s t 6 d a q u e p r e t e n d i a o o n s t i t u i t r u m a introdu~äo a 
P o l i b i o . N o e n t a n t o , t a l i n t e n t o e n o o n i r o u p r o b l e m a s d e reaHza~äo 
p o r a b v a n g e a : - u m p e r i o d o h i 1 s t 6 r i c o q u e a i n d a h o j e s e m a n t e m 
n e b u l o s o . C o n H a n d o e x c e s s h n a m e n t e n o s a 1 1 1 a l i s t a s r o m a n o s a o a b o u 
p o r p~roduzürr u m a o b r a q U J e p e c a p e l 1 a q u a s e t o t a l a u s e n c : ü a d e 
s e n t i d o c r i m o o e p e l a utiHza~äo e m : g e r a d a d e d i s c u v s o s a m a n e i m 
h e l e n i s t i c a . E n e s t e a s p e c t o q u e , a p e s a r d e 1 r u d o , d e m o n s t r a a : s 
s u a s q u a l i d a d e s d e r e t o r a o r e a l i m r u m e x o e l e n t e e x e K i c i o d e 
imita~äo. A e x o e s s l i v a venera~äo p e l a p a t r c i a a d o p t i v a r e f l e c t e - s e 
n a s c a r a c t e r f s ü o a s m o r a l i z a n t e s e p o 1 i t : ü c a m e n 1 J e t e n d e n a i o s a s d e s t a 
o b D a q u e p o u o o i n t e r e s s e s U J s c i t o u n o s r s e u s c o m r p a t r i o t a s g r e g o s , 
a q u e m e r a d e s t i n a d a , r p o r p a r t i l h a r e m oonrvic~öes ~totalmente o p o s -
t a s a s s u a s , f a c t o a q u e n ä o . t e r a s i d o a 1 h e i o o t r a t a r - s e d a h i , s t 6 r i a 
d o p o v o s e u o c u p a n t e . N o e n t a n t o , o f u n d a m e n t a l e m D i o n f , s i o 
e t e r s i d o o p d m , e 1 ] } o g r e g o a e s o r e v e r s o b r e e s t e a s s u n t o c o m a 
d i m e n s ä o : e a m p l i t u d e q u e m e r e c i a . 
3 . 0 R e t o r 
F o i n o s d i v , e r s o s e s o n i t o s r e t 6 r i o o s q u e D i o n i l s i o m e l h o r m a n i -
f e s t o u a s s u a s q u a l i d a d e s d . e c r i t k o l i t e r a r i o . A a o t i v i d a d e d e ! I ' e t o r 
l e v o u - o , f r e q u e n t e s ve~es, a e s o r e v e r t n a t a d o s d e r e t 6 1 I ' i c a , o o r r e s -
pondent~e a n t i g o d a m o d e r n a c r i t i c a l i t e n i r i a , q u e e r a m e l a b o r a d o s 
o u p o r i n i o i , a t i v a p r o p r i a , o u p a r a s a t i s f a z e r soLicita~öes d e a m , i g o s 
e i n t e r l o o u t o r e s i n t e r e s s a d o s e m o o n h e c e r o s s e u s p o n t o s d e v i s t a 
s o b J 1 e q u e s t ö e s l h e r e : W i : a s d e m u t u o i n t e r e s s e . 
O s E s c r i t o s R e t 6 r i c o s d e D i o n i s i o o o n s t a m d e c i n c o t r a t a d o s 
e t r e s c a r t a s : S o b r e o s O r a d o r e s A n t i g o s , D i n a r c o , T u c i d i d e s , 
S o b r e a C o l o c a f a o d a s P a l a v r a s , D a I m i t a g a o , C a r t a a P o m p e i o 
e C a r t a s a E m e u . 
0 t r a t a d o s o b r e o s o r a d o r e s a n t i g o s e f o r m a d o p e l a r e u n i ä o 
d e d o i s e s t u d o s q u e c i J x m l a v a m ~separardamente, u m s o b r e L i s i a s 
3 2 
Dionisio de Halicarnasso 
e outro sobre Is6crates, aos quais se juntou um terceiro sobre Iseu. 
Segundo o plano de Dionisio, estes tres estudos sobre a primei~ra 
gerac;äo de orador;es deveria constituir o pdme:Lro volume de uma 
obra .maJ.s vasta sobre a antiga eloquenoi·a a:tica. 0 segundo volume 
abarcania os estudos sobre Dem6stenes, Esquines e Hiperides 
oradores da segunda gerac;äo. Deste volume possufmos apenas o 
esorito sobroe Dem6stenes, considerado rpor Dionisio como o orodor 
que deV>eria •ser tomado por modelo. 0 prologo que preoede o 
prime.iJro volume e de extrema importä:ncia para a hist6ria do 
at1cismo por oonter aquilo a que se pode11i.a chamar uma v·erda-
de1:m .cartade intenc;öes dos ati.cistas- a escola antiga- sujcitos, 
entäo, a violentos ataques por parte da escola moderna, os asiänicos. 
0 tratado sobre Dinarco e um estudo critico sobre o estHo 
deste orador de segundo plano que imi tou Lisias, Hiper~des e 
Dem6stenes, e cuja ohra oolocava problemas de autenticidade. 
A um pedido de Elio Tuberäo, Dionisio escreveu um t:mtado 
de cri tica Hter{wia sobre Tucidides, oonsiderado por ele o maior 
historiador grego. De facto, alem do ·seu valor historico intrinseco, 
este estudo revela.,se de exoopcional importäncia por conter refe-
rendas a um escrito de Dionisio em deEesa da H1osoEia politica. 
DefendendQ-ose dos que o ataoavam, em especial dos epicuristas, 
adopta a opiJniäo, herdada de Is6crates e partilhada pelos est6icos, 
segundo a qua! ~a ret6rica deveria servir a formac;äo moral do 
o11ador e näo ser apenas um mero formuhivio de receitas para 
fazer vingar as causas injustas. 
Sobre a Colocafäo das Palavras e um tratado de ret6rica 
prop11iamente dito que corresponde a um estudo m~inucioso e por-
menorizado sobre o sentido da 1ingua:gem entTe os antigos, va1ori-
zando, em particular, a intima associac;äo da musicalidade da 
pal,avra oom o seu signi.fioado. Considerado um dos melhores 
t11abalhos de Dionisio, este tratado oontem a:inda fragmentos doo 
li11ioos que de outro modo nunca teri:am chegado ate n6s. 
Do importante tratado sobre a imitac;äo oonservou-se apenas 
uma pequena parte. Na cart~a a Pompeio (oap. 3), Dionus.io afirma 
que este tratado ·cLeverüa ser constituido por tres livros: o primeko 
aborda11ia o problema da imitac;äo em geral; o segundo indicaria 
os pr,iJncipais autores a serem tomados oomo modelos; o terceko 
estabelecerua os prooeitos sobre a arte de imitar. Ent:retanto, tmns-
33 
3 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a 9 ä o 
o r e v . e u m a part~e s i g n i f i c a t i v a d o l i v r o I I s o b r e o s historiado~es. 
0 t e x : t o d o D a I m i t a f i i o c h e g a d o a t e n o s o o n s t a d o C o d e x P a r i -
s i l e n s i s 1 7 4 1 d o s e c . X . p , e n s a - s e q u e s e t r a t a d e u m f m g m e n t o 
a c v e s c e n t a d o e o o p i a d o n o s e c . V . 0 C o d e x V e n e t u s M a r o i a n u s 5 0 8 
( s e c . X V ) , o C o d e x M o n a o e n s i s n . o 1 7 0 e a E d i t i o P r i n o o p s d e 
H . S t · e p h a n u s d e 1 5 4 4 s ä o d e e x t r e m a i m p o r t ä n c i a p a r a a fixa~äo 
d o t e x t o d o T r a t a d o d a l m i t a f i i o . 
O s o u r t r o s ~estudos p e D d e r a m - s e o o m p l e t a m e n t e . A p e n a s t~emos 
n o t f c i a d e t r e s o b r a s c r i H c a s i n d i v i d u a l i l J a d a m e n t e c o n s a g r a d a s 
a L i s i a s , I s 6 o r a t e s · e D e m , 6 s t e n e s , d e u m e s c r i t o e m d e f e s : a d a 
f i l o s o f i a p o l i t l i c a e d e u m t r a t a d o s o b r e a s fi~as d e e s t i l o . 
N o q u e d i z 1 1 e s p e i t o a o o ! 1 I i e s p o n d e n c i a d e Dioni~s~o, a p r i m e i r a 
c a r t a a E m e u r e f u t a o s a r g u r n e n t o s d o s p e r i p a t e t i c o s q u e p r e t e n -
d i a m · e n o o n t r a r e m D e m o s t e n e s ' i n f l u e n c i a s d i r e c t a s d a R e t 6 r i c a 
d e A r i s t . Q t , e l e s . A s e g u n d a , e s c r i t a d e p o i s d a publica~äo d o T u c i d i d e s , 
t e n t a o o m p l e t a r a a n a 1 i s e d o e s t i l o d o h i s t o r i a d o r g , r e g o o o n t i d a 
n o t 1 1 a t a d o a ~e1e c o n s , a g 1 1 a d o . A C a r t a a P o m p e i o , a d m i r a d o r f e r v o -
v o s o d e P l a t ä o , p r e t e n d e r e s p a n d e r a o s e s c l a r e o i m e n t o s ~solioi.tados 
p e l o d e s t i n a : t a n i o s o b r e o r i t i c a s s e v e r a s q u e D i o n i s i o h a v i a f e i t o 
a l i n g u a g e m d o f i l 6 s o : 5 o g r e g o . A l e m d e a m e n i z a r o s e n t i d o d a s u a 
c r i t i o a a o e s ü l o , d e P 1 a t ä o , a p r o V 1 e i t a a o p o r t u n i d a d e p a r a a p r e -
s e n t a T o p l a n o d o D a I m i t a f i i o . 
N ä o e p o s s i v e l d e s c o b 1 1 i r n o s E s c r i t o s R e t 6 r i c o s u m a d o u t T i n a 
l i t e r a r : i t a . o o e r e n t e e s~ist.ematizada. M e n o s p r e z a r e s t e a J S p e c t o d a 
produ~äo d e D i o n i s i o e . o o m e t e r a i m p r u d e n c i a d e n ä o r e c o n h e c e T 
n e 1 e a evolu~äo q u e v · a i a p 1 1 e s e n t a n d o d e e s c r i t o p a r a e s c r i t o . 
E s t a evolu~äo e o , 1 1 e s u h a d o d e u m t r a b a l h o s e r i o e a t u m d o q u e 
s e p 1 1 o L o n g a p o r m a i s d e 2 2 a n o s , d u r a n t~e o s q u a ä s h o u v e c o n s -
t a r r l t r e s altena~öes d o s o b j e c t i v o s p r o g : r a m a t i o o s d a s e s o o l a s e t a m -
b e m d a p r a t i c a f o v e n s 1 e . E r n f , a o e d e posi~öes t~e6riea:s e x t r e m a s , 
a d o p t o u u m a posi~äo i n t e r m e d i a e n t r e a t k i s t a : s e a s i ä n i o o s . A s u a 
o b r a a H g u r a - s e d e · e x t r e m a i m p o r t ä n c i a p a r a o e s t u d o d a h i s t O . r i a 
d o a t i c i s m o e t a m b e m d a p r o p r i a evolu~äo d a r e t o r i o a n o s f i n a i s 
d o s e c . I a . C . 
3 4 
III 
0 TRATADO DA IMITA(:AO E A SUA ESTRUTURA 
Tres livros dedicou Dionisio de Halicarnasso ao problema da 
«imita<;äo» na antiguidade: do prim·eiro restarn alguns fragmentos, 
do segrundo, grande parte, nada se conservou do teroeko. Sobre 
diversos fragmentos, chegaram ate n6s panifrases de alguns comen-
tadores que a «Editio Stereotypa Editionis Prioris (MCMIV-
-MCMXXIX)» da Teubner, Estugarda, 1965, de qrue nos servimos, 
of,er·ooe ao leitor, e br<eves oomentarios ha registados, que, a 
mingua dos respectivos fragmentos, constituem noticia unica dos 
frags. IV, V, VIII e XI. 
0 primeiro livro aborda « a pr6pr<ia pesquisa aoerca da i1mita-
<;äo», ·Corno afirma o autor na frase em epi.g:r.afe, proven1ente de 
«A Garta a Pompeio». Mas apenas tres questöes nos säo apre-
sentadas: 
1-A defini<;äo daquilo que o autor entende por «Ret6Dioa» 
e dissecada no respectivo comentario, tendo ,em oonta o «genero» 
e as «diferen<;as» que a caracterizam, em ordern a um pos:ioiona-
mento claro em rela<;äo as outras cienci.Jas. 
2- Seguidamente, foca «as tres ooisas» («natureza», «aprendi-
zagem» e «exeroita<;äO»), isto e, OS factores que fu.zem emergJir 
«O mailis a:lto grau de destreza nos discursos politicos». Ao orador 
Dem6stenes, segundo a opiniäo do comentador, falta o ultimo 1dieles. 
35 
D i o n i s i o d e H a l i c a r n a s s o : T r a t a d o d a I m i t a 9 ä o 
3 - P o r f i r n , D i o n i s i o debru~a-se s o b r e o s c o n c e i t o s d e « : i , m i -
ta~äo» e «emula~äo». S e a r e s p e i t o d e «imita~äo» d i z q u e e l a 
« I i e f u n d e u m m o d e l o » , o c o m . e n t a d o r d o t e x t o , p o r s u a v e z , p r e c i s r a 
o c o n o e i t o , a c r . e s o e n t a n d o q u e « r e f u n d e a semelhan~a d o s p e . n s a -
m e n t o s » . E , p o i s , p o s s i v e l a H r m a r - s e q u e o u s o d a semelhan~ 
o o n s t i t u i o s e g r e d o d o b o m i m i t a d o r , o o m o , a l i a s , o h a v i a m d e 
a c e n t u a r , t a m b e m , o s n o s s o s d o u t r i n a d o r e s d e r e t 6 r i o a , a p a r t i r 
d o R e n a s c i m e n t o . 
0 s e g u n d o l i v

Outros materiais