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5/21/17 1 Filosofia Moderna Jusnaturalismo Moderno Professora Maria Elisa Soares Rosa Ruptura com teocracia • A filosofia escolástica exaltava a existência de uma lei divina. Dentro desta concepção, tal lei não possuiria erro ou falha, em função de sua natureza transcendente; dessa forma, além de perfeita, superior, seria também eterna e imutável. Essa idéia surge, de modo cristalino, nas concepções de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. • A Cidade de Deus é o lugar regido pela lei divina que contrasta com a cidade dos homens, regida pela lei humana. • A tarefa de incorporar a lei divina no âmbito da lei humana é o que deve ser realizado pelo direito na idade média. Ressalte-se que se trata de uma tarefa dificílima. • Na concepção tomista há uma lei eterna, uma lei natural e uma lei humana. A lei eterna regula toda a ordem cósmica (céu, estrelas, constelações, etc.) e a lei natural é decorrente desta lei eterna. Fica claro nas duas concepções, sinteticamente resenhadas anteriormente (Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino), que a lei divina emana de uma força sobre-humana: DEUS 5/21/17 2 Modernidade • Na Modernidade temos o renascimento cultural, e com ele a volta das discussão filosóficas e demais valores das civilizações grega e romana, o HUMANISMO e o ANTROPOCENTRISMO (homem passa a ser o centro do universo, a VIDA ATIVA PRÁTICA é mais importante que a contemplativa) surgiu em conflito e oposição com o teocentrismo, o RACIONALISMO e o INDIVIDUALISMO ganham força e cada vez mais a razão se sobrepõe à fé, até que os dois objetos de estudos são separados. • O RENASCIMENTO do SÉC. XIV: expressava certa transcendentalidade religiosa, exaltava a natureza e os benefícios da vida terrena, ainda que fossem eles o êxtase religioso ou outro prazer da vida social. • Inicia-se um processo de dessacralização da Igreja e pouco a pouco a Igreja passa a ser apenas mais uma das instituições sociais existentes e estudadas, ela passa a ser objeto de estudo dos homens. Esse ANTROPOCENTRISMO vai retomar os SOFISTAS: “O homem é a medida de todas as coisas” e não mais DEUS, mas sim o SER HUMANO, é ele que aparece agora no centro das discussões, valorizado e muito precisamente representado. Davi de Donatello Mona Lisa de Leonardo Da Vinci 5/21/17 3 • Na idade média o homem era visto como ser miserável, que tenta se reconectar à Deus. O corpo humano nu nesse período da história era tido como pecado e uma ofensa aos olhos de Deus. • O pensamento moderno retoma a noção de dignidade do ser humano e o homem passa a ser visto como um ser perfeito, cuja beleza deve ser retratada e com grande perfeição na cópia da imagem humana, retratando no seu nu, todas as formas e músculos. A Divina Comédia de Dante Alighieri • Dante estudou a filosofia de Tomás de Aquino, e também estudou os antigos filósofos, principalmente de Aristóteles e o matemático e filósofo Pitágoras. • O poema a Divina Comédia de Dante Alighieri descreve uma viagem imaginária onde se sucedem diversos acontecimentos passando pelo inferno, purgatório e paraíso, sempre considerando o simbolismo do número 3, da santíssima trindade. • Na obra o autor encontra um padre no inferno, o que seria impensável até então. Ele também mistura temas como a mitologia grega, personagens históricos da Antiguidade e de sua época, pessoas que ele conheceu e ouviu falar e personagens bíblicas. • Enquanto a Tragédia começa mal e acaba mal, a Comédia trás momentos nos quais as personagens passam por maus bocados, mas, no fim são salvos. Na sua obra, Dante começa no Inferno e acaba no Céu, vencendo os obstáculos de sua viagem e os perigos e tormentos que vivenciou para chegar ao Paraíso. Ele “brinca” com as ideias bíblicas contrariando a Igreja. 5/21/17 4 Origem da filosofia moderna • São 5 os fatores fundamentais para o surgimento da FILOSOFIA MODERNA: • PLANO ECONÔMICO: através das feiras de escambo (troca) surgem as primeiras cidades ou Burgos o que possibilitou o desenvolvimento da economia monetária (moeda), das corporações de oficio e dos instrumentos de credito. Surge um CAPITALISMO COMERCIAL voltado para a produção e para o comércio, para a expansão comercial e marítima, para a circulação crescente de mercadorias e para o consumo de bens materiais visando o lucro. As grandes navegações expandem esse modelo europeu para o restante do mundo. • PLANO RELIGIOSO: sob a proteção da burguesia e dos reis, surge uma nova religião, o protestantismo (calvinismo, luteranismo, anglicanismo). • PLANO SOCIAL: desenvolvimento de uma nova classe social, a burguesia, desestabilizando a sociedade estratificada feudal e possibilitando a mobilidade social; • PLANO CULTURAL: o renascimento cultural, a volta aos valores das civilizações grega e romana, o antropocentrismo surgiu em conflito com o teocentrismo, o racionalismo e o individualismo ganham força. • PLANO POLÍTICO: enfraquecimento do senhor feudal o que contribuiu para centralização de poder para os reis, apoiados pela burguesia; Direito Natural • Para colocar um NOVO CENTRO nessa concepção é que surge o Direito Natural, dentro do espectro da LAICIZAÇÃO DA CULTURA MODERNA. • Marcado pela ideia do século XVI de que a verdade das ciências estava confiada à razão matemática e geométrica, o JUSNATURALISMO MODERNO elege a reta RAZÃO como guia das ações humanas. • Grócio assim define o DIREITO NATURAL: – “O mandamento da razão que indica a lealdade moral ou a necessidade moral inerente a uma ação qualquer mediante o acordo ou o desacordo desta com a natureza racional.” 5/21/17 5 Mudança de centro • Essa MUDANÇA DE CENTRO através da LAICIZAÇÃO DA CULTURA MODERNA foi uma verdadeira revolução copérnica na esfera do DIREITO, indicando um novo caminho a ser percorrido pela Ciência Jurídica, que deixa de estar ligada a concepção místico-religiosa da FÉ, para buscar seu FUNDAMENTO ÚLTIMO NA RAZÃO. Evolução histórica do direito natural • O DIREITO NATURAL surge pela primeira vez na história do pensamento com os gregos, essa é a primeira fase, a FASE ANTIGA DO DIREITO NATURAL. A NATUREZA como fonte da lei que “tem imensa força em toda parte e independe da diversidade das opiniões”. Sua grande contribuição é mostrar a ligação do Direito com as forças e as leis da natureza. Trata-se do JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO. • Na IDADE MÉDIA DEUS É A FONTE DO DIREITO NATURAL e a perfeição da lei divina reflete na consciência humana a apreensão de um direito natural.O DIREITO NATURAL fica à mercê da LEI DIVINA e das verdades revelada por Deus, JUSNATURALISMO TEOCÊNTRICO OU TEOCENTRISMO . 5/21/17 6 • Na próxima oportunidade que vem à tona, no século XVII, o DIREITO NATURAL aparece como reação racionalista à situação teocêntrica na qual o Direito fora colocado durante a idade medieval. Deus deixa de ser visto como emanador das normas jurídicas, ou como última justificação para a existência das mesmas, e a natureza racional humana passa a ocupar esse lugar. Trata-se da acentuada passagem do pensamento teocêntrico ao antropocêntrico e ao racionalismo. • Na MODERNIDADE Grócio inaugura uma NOVA CONCEPÇÃO DO DIREITO NATURAL, segundo a qual o princípio último de todas as coisas não seria mais Deus, nem a natureza, mas a RAZÃO. • Estava criada a ESCOLA CLÁSSICA DO DIREITO NATURAL, que teve diversos representantes, entre eles, serão objeto de nosso estudo: Hugo Grócio, Samuel Pufendorf e John Locke. • Esse é o JUSNATURALISMO MODERNO. • No JUSNATURALISMO MODERNO a natureza não dá aos homens o entendimento do DIREITO NATURAL, nem Deus, é ele mesmo, o próprio homem por meiode uso da RAZÃO, que apreende esse conhecimento e o coloca em prática na sociedade. • Segundo Hugo Grócio: – “O DIREITO NATURAL existiria mesmo que Deus não existisse, ou ainda que Deus não cuidasse das coisas humanas.” • Este novo pensamento prepara as bases intelectuais da Revolução Francesa (1789), que rompe, de modo definitivo e prático, com a teocracia e afirma, categoricamente, os direitos naturais. 5/21/17 7 Jusnaturalismo • A CORRENTE JUSNATURALISTA (jusnaturalismo) defende que o direito existe independente da vontade humana, aliás, ele existe antes mesmo do homem e está acima das leis positivadas pelo homem. • Para os jusnaturalistas o direito é algo natural e tem como pressupostos os valores do ser humano, e busca sempre um ideal de justiça. O direito natural é universal, imutável e inviolável, é a lei imposta pela natureza a todos aqueles que se encontram em um estado de natureza. Juspositivismo • Ao contrário da corrente JUSNATURALISTA (jusnaturalismo), a corrente JUSPOSITIVISTA (juspositivismo) acredita que só pode existir o direito e conseqüentemente a justiça através de NORMAS POSITIVADAS, ou seja, normas emanadas pelo Estado social com poder coercivo, podemos dizer que são todas as normas escritas, criadas pelos homens, por intermédio do Estado. • O DIREITO POSITIVO é aquele criadas pelos homens, que obedecem um tramite expresso de criação e que uma vez válidas e em vigor, o Estado impõe à coletividade coercitivamente. 5/21/17 8 HUGO GRÓCIO Primeira parte Hugo Grócio – vida e obra • Nascido na Holanda, na cidade de Delf, no ano de 1583, filho de pai protestante e mãe católica. • Seus primeiros trabalhos intelectuais versaram sobre: filologia, poesia, histórica e teologia. • A partir de 1607, ano em que inicia o exercício da advocacia na cidade da Haia (sede do governo holandês), passa a interessar-se pelas questões do Direito. • Sua principal obra, na qual expõe sua concepção do Direito Natural, é De Jure Belli ac Pacis, publicada no ano de 1625. 5/21/17 9 Autonomia em relação à Teocracia • A doutrina do Direito Natural de Hugo Grócio reflete o desejo de autonomia em relação à Teocracia e se manifesta na Escola Clássica do Direito Natural. • Não é mais Deus ou a ordem divina o substrato do Direito, mas a natureza humana e a natureza das coisas. • Não há possibilidade de uma sanção religiosa. • O Direito Natural não mudaria seus ditames na hipótese da inexistência de Deus, nem poderia ser modificado por ele. – “Portanto, não há nada de arbitrário no direito natural, como há arbitrariedade na aritmética. Os ditames da reta razão são o que a natureza humana das coisas ordenam.” Contribuição de Grócio para o direito internacional • Grócio contribuiu, de modo decisivo, para a criação do DIREITO INTERNACIONAL. Segundo ele, a LEI NATURAL que regulamente a convivência de diversas nações é o DIREITO DAS GENTES e esse direito é um fragmento destacado da LEI NATURAL. • Para Grócio, tanto as relações entre os indivíduos, como a relações entre esses indivíduos e seus governantes, assim como a relações entre os diversos Estados soberanos baseiam-se na ideia de um CONTRATO. • Esses contratos comuns, são pactos de cumprimento obrigatório porque impostos pelas próprias partes que o assinam: – “PACTA SUNT SERVANDA”- “os pactos existem pra serem cumpridos” - o pacto faz lei entre as partes signatárias do próprio pacto. 5/21/17 10 Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 • Declara-se não o que é oculto e imperceptível, mas o que é de fácil acesso à razão humana. • A contundente afirmação de direitos, contrária ao desrespeito desses direitos e esperançosa na construção de um novo estado de coisas é o que leva à elaboração de Declarações como a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948: – Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; – Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do homem conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do homem; – Considerando que é essencial a proteção dos direitos do homem através de um regime de direito, para que o homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão; Método dedutivo e racional • O MÉTODO DEDUTIVO, cuja influência se dá pelo raciocínio matemático e geométrico tão consagrado na modernidade, é o que possibilita à reta razão alcançar as regras invariáveis da natureza. • A natureza não dá aos homens esse entendimento; é ele mesmo, o próprio homem, por meio de uso da razão, RACIONALIDADE, que apreende esse conhecimento e o coloca em prática na sociedade. 5/21/17 11 Características do Direito Natural da Escola Clássica do Direito Natural • A ideia de que é o próprio homem, por meio da razão que apreende as regras invariáveis da natureza, cara à Escola Clássica do Direito Natural, faz dele um Direito Natural: – imutável, – perene às transformações históricas, – universal, – não suscetível aos diversos costumes e tradições dos diferentes povos. Oposição de Miguel Reale à Escola Clássica do Direito Natural • Esta divisão difere radicalmente da de Miguel Reale, que advoga a existência não de um Direito Natural imutável, mas a existência de um Direito Natural problemático e conjetural, que vai acolhendo diversos valores no percurso da história: – “De tais paradigmas axiológicos resultam determinadas normas que são consideradas idéias diretoras universais da conduta ética, costumeira e jurídica. A essas normas, que nos permitem compreender a natureza e os limites do Direito Positivo, é que denomino Direito Natural, de caráter problemático- conjetural.” 5/21/17 12 Oposição à Escola Clássica do Direito Natural • Os diferentes autores da Escola Clássica do Direito Natural não necessariamente concordavam entre si. • Os opositores de Grócio, autores como Henrique e Samuel Coccejo, Leibiniz e Joan Cristian Von Wolf adotaram uma posição anti-racionalista afirmando, categoricamente, que Deus é a fonte última do Direito Natural, o que contrariava a famosa assertiva de Grócio: – “O Direito Natural existiria mesmo que Deus não existisse, ou ainda que Deus não cuidasse das coisas humanas.” Contratualistas • Também escreveram sobre o DIREITO NATURAL, próprio do homem em estado de natureza e sobre o DIREITO POSITIVO, instituído através de um PACTO ou CONTRATO entre os homens os seguintes autores: 1. Hobbes 1588- 1679 2. John Locke 1632-1704 3. Jean Jacques Rousseau 1712-1778 • Suas teorias são parecidas, porém eles discordavam em diversos aspectos 5/21/17 13 THOMAS HOBBES (1588 a 1679) Jusnaturalismo moderno, direito natural para Thomas Hobbes • Thomas Hobbes é conhecido entre os autores do jusnaturalismo moderno racional como o teórico do poder soberano e seu grande defensor. • Contrariando toda uma tradição que remonta a Aristóteles, Hobbes é pessimista e se distancia da aceitação da hipótese de que o homem é uma animal político por natureza. • Na obra Leviatã, falou sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos soberano e sociedades civis construídas artificialmente, como artifício humano para o aperfeiçoamento da natureza. • Isso porque, paraHobbes, o homem em estado natural vive em guerra, guerra de todos contra todos. • Assim, o homem é o lobo do próprio homem, morde o próprio rabo, acaba com o próprio semelhante, destrói aquele que poderia acabar por auxiliá-lo na defesa, caça, construção da moradia. 5/21/17 14 • Em estado natural alguns homens podem ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, mas nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Cada homem tem direito a tudo, mas as coisas são escassas e assim existe uma constante guerra de todos contra todos. No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a GUERRA PRÓPRIA DO ESTADO NATURAL. • A criação do PACTO SOCIAL sob a autoridade de um soberano forte o suficiente para se erguer acima dos demais é condição necessária para acabar com a guerra e com as mortes. • A sociedade natural necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum sendo essa construção humano o meio para regular o caos natural e viabilizar a própria vida humana. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembléia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. • Assim se dá a SUPERAÇÃO do estado de natureza, o acordo de vontades, o pacto ou convenção humana que cria o Estado, a sociedade civil se dá no sentido de abolir a guerra de todos contra todos e por isso se sobrepõe à sociedade natural. 5/21/17 15 JOHN LOCKE (1632 a 1704) Jusnaturalismo moderno, direito natural para John Locke 1632-1704 • Pensador inglês, filosofo, idealizador e defensor do EMPIRISMO, crítico do INATISMO, um dos principais idealizadores e teóricos do CONTRATO SOCIAL. • Ele também defendeu que os homens em ESTADO DE NATUREZA seriam livres, iguais e independentes, podendo dispor de seu corpo para o que desejassem, e agir livremente desde que isso não prejudique nenhum outro homem. Segundo Locke, todos são iguais, e a cada um deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. • A sociedade teria uma base contratual resultante da livre associação entre os indivíduos, dotados de razão e vontade própria. • O surgimento do contrato que dá origem à vida social esta ligado à idéia de que é imprescindível um terceiro para a decisão das lides surgidas na vida social. 5/21/17 16 • Convivem simultaneamente o “ESTADO DE NATUREZA” e “ESTADO SOCIAL” ou CIVIL, este segundo erigido para garantir a vigência e proteção dos direitos naturais que corriam grande perigo no estado de natureza, por encontrarem-se totalmente desprotegidos. • Em ciência JURÍDICA pode-se dizer que Locke é adepto do JUSNATURALISMO MODERNO porque acredita que existe um DIREITO NATURAL próprio da natureza humana (fundamentado na razão humana), um direito captado racionalmente pelo homem e que não foi escrito pelo homem, ele já existe e o homem o compreende através de seu exercício racional. • Diferente de Rousseau, Locke acreditava que entre os direitos individuais estava o respeito à propriedade. • Para Locke o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele, ao acrescentar seu trabalho aos recursos naturais. • A “CLÁUSULA LOCKEANA DA PROPRIEDADE TRABALHO ” - teoria da propriedade-trabalho de John Locke: os indivíduos têm direito de se apropriar privadamente de parte da terra comum a todos desde que trate-se da terra em que trabalham e desde isso não cause prejuízo aos demais porque ainda existe bastante [terra] igualmente boa para aqueles ainda não providos pudessem usar. • Em outras palavras, que o indivíduo não pode simplesmente apropriar-se dos recursos naturais mas também tem que considerar o bem comum. 5/21/17 17 • O CONTRATO SOCIAL para Locke regulava as formas de poder e visava garantir as liberdades individuais próprias do estado natural. • A preservação do direito a propriedade que era um direito individual e por isso passa a significar o próprio fim da atividade do Estado. • Prevê o DIREITO A RESISTÊNCIA, já que a autoridade dos magistrados está fundamentada na proteção dos direitos naturais, eles não podem desrespeitar essa lei natural e se o fizerem cabe a legitima resistência do cidadão. • Rousseau e Locke, por encararem a SOCIEDADE como uma matéria em desenvolvimento e de origem natural (não divina) contribuíram para o pensamento sociológico. • O cerne do seu pensamento é o indivíduo e a coletividade. JEAN JACQUES ROUSSEAU Jusnaturalismo moderno, direito natural para 5/21/17 18 Jean Jacques Rousseau 1712-1778 • Foi um CONTRATUALISTA e descreveu como teria sido o HOMEM EM ESTADO DE NATUREZA, buscou reconstruir a história da humanidade desde o primitivo até a sociedade complexa; • Na sua obra “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” Rousseau dizia que o homem em estado natural se completa com a natureza , portanto o estado natural não é um estado a ser superado, como para Locke e Hobbes. Rousseau afirma que • “a maioria de nossos males é obra nossa e (…) os teríamos evitado quase todos conservando a maneira de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza”. • O homem em estado de natureza vivia livre, solitário, feliz e em paz pelas florestas, era orientado pelo seu instinto de sobrevivência e autopreservação e atendia aos seus prazeres elementares: comer, beber, relações sexuais sem formar família e fugia da dor. Ele desejava apenas aquilo que o rodeava, não pensava, desejava apenas satisfazer suas necessidades físicas. • O “bom selvagem” teria uma qualidade potencial inata que o distingue dos outros animais, a faculdade de aperfeiçoar-se. • Para Rousseau o homem tem o instinto natural que é individualista, ele não induz a qualquer vida social. Para viver em sociedade, é preciso a razão ao homem natural. 5/21/17 19 • A RAZÃO, para Rousseau, é o instrumento que enquadra o homem, nu, ao ambiente social, vestido. Assim como o INSTINTO é o instrumento de adaptação humana à natureza, a RAZÃO é o instrumento de adaptação humana a um meio social e jurídico. • Segundo Rousseau, o homem selvagem é anti-social, mas é associável: – "não é hostil à sociedade, mas não é inclinável a ela. Foram os germes que se desenvolveram, e podem se tornar as virtudes sociais, tendências sociais, mas eles são apenas potenciais."(Segundo Discurso, Parte I). • Rousseau acreditava que os homens associaram-se para realizar alguma tarefa que precisava de várias mãos, o que aconteceu repetidas vezes e os homens perceberam como essa união facilitava sua sobrevivência e assim, os homens decidiram viver juntos em um ESTADO PRÉ SOCIAL, sendo necessário atividades de socialização na medida em que os sentimentos foram se refinando. • Acreditava que a ORIGEM DAS DESIGUALDADES SOCIAIS ESTAVA NA PROPRIEDADE PRIVADA. • Para ele, o verdadeiro fundador da desigualdade na sociedade civil foi aquele que primeiro cercou um terreno fazendo surgir a propriedade privada, dividindo ricos e pobres: – “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassinatos, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes:Defendei-vos de ouvir esse impostor, estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém.” 5/21/17 20 • A transição do ESTADO DE NATUREZA para a ESTADO DE ORDEM CIVIL transforma a liberdade do sujeito, ocorrendo durante um período de “guerra de todos contra todos” que se iniciou com o estabelecimento da PROPRIEDADE PRIVADA e da AUSÊNCIA DE INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E DE REGRAS QUE IMPEDISSEM A EXPLORAÇÃO ENTRE AS PESSOAS. • Não havia cidadania neste ESTADO PRÉ SOCIAL (esse período, existente antes do contrato social, se caracterizava por uma vida comum de disputas pela propriedade e pela riqueza). • Os primeiros ocupantes das terras entraram em guerra entre si, os mais ricos percebendo a possibilidade de grandes perdas idealizaram o contrato social. Prometendo paz, justiça e segurança para todos e garantindo que manteriam seus bens, ricos enganaram os fáceis de seduzir: – “é razoável crer-se ter sido uma coisa inventada antes por aqueles a quem é útil, do que por aqueles a quem causa mal. Os pobres, não tendo senão sua liberdade para perder, fizeram uma tremenda loucura ao destituir-se voluntariamente do único bem que lhes restava, para nada ganhar em compensação.” • Essa obra chama “Contrato Social” onde Rousseau afirma: – A base da vida social está no interesse comum e no consentimento unânime dos homens em renunciar as suas vontades particulares em favor da coletividade; • Através da assinatura desse CONTRATO SOCIAL os homens entram na fase ou ESTADO SOCIAL. • Mas se o CONTRATO SOCIAL era a princípio uma burla, como legitimá-lo? • Acreditando na bondade humana no estado de natureza, defendia o povo como soberano e reconhecia a igualdade como elemento essencial na vida social. Assim, defendia princípios igualitários e uma sociedade organizada em uma base livre e contratual; • Sua intenção é estabelecer um padrão das leis (que seria uma forma de superar as oposições entre indivíduo e Estado), baseado na igualdade, sendo esse critério indispensável para o contrato social. • A justiça estabelecida na lei deve ter reciprocidade entre os indivíduos, cada um tendo seus direitos e deveres, tanto o soberano quanto os súditos. Por isso, as leis devem representar toda a sociedade, sendo consideradas como VONTADE GERAL (não no sentido de uma união das vontades individuais e sim da vontade do corpo político ). • O povo tem interesses que são nomeados “VONTADE GERAL”, que é o que mais beneficia a sociedade. O “SOBERANO” tem que agir de acordo com essa vontade do povo o que representa o limite do poder de tal governante: ele não pode ultrapassar a SOBERANIA DO POVO ou a VONTADE GERAL. 5/21/17 21 • O povo é submisso à lei porque foi ele quem a criou; sendo a lei a condição essencial para a associação civil. • Quanto às FORMAS DE GOVERNO, são elas a DEMOCRACIA, a ARISTOCRACIA e a MONARQUIA. Mas qual forma de governo funciona melhor – para Rousseau, a democracia é boa em cidades pequenas, a aristocracia em Estados médios e a monarquia em Estados grandes e em todas elas o abuso dos governos pode degenerar o Estado. A corrupção dos governantes quanto à vontade geral é criticada, garantindo-se o direito de tirar do poder tal governante corrupto. • As principais decorrências do estabelecimento da vida comunitária, segundo Rousseau, se dão tanto no desenvolvimento (da consciência, da afetividade e dos desejos) de cada indivíduo. No que tange ao indivíduo a sua forma de viver é alterada quando a vida coletiva potencializa as suas capacidades intelectuais, os indivíduos têm de ter uma consciência e um amor não apenas de si, como outrora, como também devem pensar nas consequências de seus atos em relação a outros indivíduos e reconhecer a necessidade da convivência com estes outros indivíduos. Os utopistas - As utopias 1. Thomas Morus (1478-1535 Inglaterra) - Utopia 2. Tommaso Campanella (1568-1639 Itália) - Cidade do Sol 3. Francis Bacon (1561-166 Inglaterra) - New Atlantis (ou Nova Atlântida) • criaram sociedades utópicas que são: sociedades que não existem mas que eles gostariam que existissem. O que revela: – Forte crítica velada em relação à realidade à sua volta. – Falso afastamento do real: apresentam o que não é, estão informando o que deveria ser. – Visão política que privilegia a noção de justiça e apresenta soluções práticas para os problemas enfrentados. • Expressão UTOPIA: ! do grego “topos”, significa “não-lugar” ou “nenhum lugar”, ! lugar que não existe. ! ficou famosa por causa do livro Utopia de Thomas Morus. 5/21/17 22 Thomas Morus e a sua obra: Utopia • Thomas Morus, forma alatinada por que é literariamente conhecido Thomas Moore, Grande Chanceler da Inglaterra. • Nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em 1535. Foi pensador, estadista, advogado e membro da Câmara dos Comuns. Intensa participação na vida política de seu país. Humanista, estudou antiguidade clássica. • Obra: Utopia = reflexão sobre situação da Inglaterra do início do SEC. XVI: decadência do feudalismo, consolidação do absolutismo e o início da propriedade privada e do capitalismo. • A “Utopia” representa a primeira crítica fundamentada do regime burguês e encerra uma análise profunda das particularidades inerentes ao feudalismo em decadência. A forma é uma conversação durante a qual Morus aborda as questões mais novas e mais difíceis. Sua palavra, às vezes satírica e jovial, outras, de uma sensibilidade comovedora, é sempre cheia de força. • A primeira parte é o espelho fiel das injustiças e misérias da época; o povo inglês sob o reinado de Henrique VII, a avareza do rei, a nobreza e o clero com a maior parte do solo e das riquezas públicas. Além disso, nessa época, os grandes senhores mantinham uma multidão de vassalos, o terror do camponês e do trabalhador. • De outro lado, o comércio e a indústria da Inglaterra não tinham muita expansão antes das descobertas de Vasco da Gama e Colombo. E assim, as gerações se sucediam sem finalidade, sem trabalho e sem pão. A agricultura estava em ruínas desde que a nascente indústria da lã, prometendo lucros espantosos, fez com que terras imensas fossem transformadas em pastagens para carneiros. Em conseqüência disto uma multidão de camponeses viu-se reduzida à miséria, trazendo uma multiplicação de mendicidade, vagabundagem, roubos e assassínios. • A lei inglesa era de uma severidade inaudita, punindo com a morte, indistintamente o pobre, o ladrão, o vagabundo e o assassino. Retrato de uma sociedade tão profundamente desorganizada e injusta. 5/21/17 23 • O livro todo se passa entre conversas do autor com Rafael Hitlodeu, navegador junto com Américo Vespúcio, sendo que, depois de ter feito uma sátira a todas as instituições da época, na primeira parte do livro, o autor conta no livro segundo ou segunda parte do livro, um relato de Rafael, onde ele menciona uma SOCIEDADE IMAGINÁRIA, ideal, perfeita, chamada a ilha da Utopia, que Rafael teria encontrado em uma suposta expedição de Américo Vespúcio. • Nessa ilha os cidadãos vivem de forma ideal, em perfeita harmonia, em um estado ideal de perfeição imaginária totalmente oposta àquela sociedade imperfeita e ruim, descrita na primeira parte do livro. • Na verdade representa uma análise crítica da sociedade presente, consistindo em uma denuncia velada dos problemas dessa realidade atual. – Nessa ilha: 1. não há propriedade privada, os bens são comuns, comunidade de bens e do solo, tudo pertence a todos. 2. sociedade sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção.3. todos são iguais e responsáveis pelas mesmas tarefas divididas em um sistema de rodízio, todos possuem a mesma renda, igual condição de vida, todos trabalham, os habitantes se revezam na agricultura e artesanato atividades duram 6 horas, 4. sacerdotes (culto) e literários (estudo) tem espaço especial, não há apenas uma religião e um Deus, existe um profundo respeito das diferenças, não existe ganância por dinheiro já que tudo é de todos, hábitos saudáveis de vida simples, sem luxo, etc. 5. Vida comunitária é garantida por uma monarquia constitucional (30 famílias = 1 representante para o Conselho = que elegem imperador para mandato vitalício acompanhado pelo Conselho). 5/21/17 24 Tommaso Campanella (1568-1639) • Vida: padre dominicano e filosofo italiano. • Acusado de heresia, foi perseguido e torturado diversas vezes. • Também escreveu sobre uma sociedade utópica. • Ele organizou uma revolta camponesa na Calábria onde pretendia fundar uma República, a cidade Mágica do Sol, que acabou levando-o para prisão por 27 anos. • Obra: Cidade do Sol: idealiza uma sociedade teocrática onde não existe propriedade privada, nem divisão de trabalho, nem divisão de classes sociais ou mesmo qualquer divisão de família, a vida se organiza de acordo com a ordem da natureza. • Trata-se de uma construção geométrica procurando retratar a ordem do universo. Francis Bacon (1561-1626) • Vida: político, membro do Parlamento inglês, família rica, frequentava a corte inglesa. Contemporâneo de William Shakespeare (1564-1616). Utopista como Thomas Morus (1478-1535) e Tommaso Campanella (1568-1639). • O renascimento foi importante para a sociologia enquanto ciência, apenas seria possível pensar na investigação de uma sociedade com base no conhecimento científico a partir da razão, da racionalidade, ademais, instigou pensadores a buscar compreender as transformações que estavam ocorrendo. • Francis Bacon parte da idéia que a teologia deveria ser substituída pelo método da dúvida no estudo da sociedade. • Para ele, o método de conhecimento deveria estar baseado na observação e na experimentação. 5/21/17 25 • Obra: New Atlantis (ou Nova Atlântida): Francis Bacon idealizou uma comunidade utópica, feliz, que vive na paz e na fatura. Criou a Casa de Salomão, que reúne os sábios da cidade e realizava pesquisas e experimentos voltados para o domínio da natureza, visando o bem estar dos homens. • A cidade totalmente naturalista voltada para o bem supremo da luz da comunidade, além de não ofender o que é natural. Viviam em harmonia com a natureza, prima por um igualitarismo social, baseado na harmonia com tudo o que é natural e em harmonia também com o cientificismo, logo, apesar de haver algumas semelhanças com o pensamento religioso, privilegia a ciência. • Bacon apresenta uma civilização igualitária, onde todos têm seus direitos e também o seus deveres. • O contexto histórico se baseia na época do cristianismo em decadência. No livro Nova Atlântida os homens que chegaram na ilha de Bensalém, desconhecida pelo mundo, uma ilha que só possuía uma civilização cristã. • Quando chegaram lá, um sacerdote perguntou se eles eram cristãos, como avistaram uma imagem de uma cruz vermelha, falaram que eram, ou seja, assim como os bárbaros, eles fingiram ser cristãos para não morrerem. • Fala também sobre o começo do capitalismo, ou seja, Francis Bacon diz que eles não deixam a natureza de lado, eles têm a necessidade dela, não deixam ela de escanteio, eles vivem em torno dela. • Ele acha que com o avanço capitalista a natureza estava deixada de lado e passaram a viver em um mundo artificial entendia que as pessoas tem que se voltar mais no que é natural. 5/21/17 26 Bibliografia dessa Apostila ! BITTAR, Eduardo Carlos B. Curso de Filosofia do direito. São Paulo: Atlas nos capítulos Jusnaturalismo, Hugo Grócio, Hobbes, Locke, Rousseau. ! Livros de Hugo Grócio, Hobbes, Locke, Rousseau. ! Plataforma UNIP. ! Observações da professora Maria Elisa Soares Rosa
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