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Doenças Neurológicas em Equinos

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Medicina de Grandes Animais II - Equinos 
Prof. Dr. Neimar Roncati 1 
SISTEMA NERVOSO 
 
As doenças neurológicas são comuns nos equinos, mas a grande maioria das afecções do 
sistema nervoso apresenta clinicamente sintomas muito semelhantes e, portanto passíveis 
de confusão. Portanto o conhecimento anatomo-funcional deste sistema é de fundamental 
importância para, através da abordagem clínica correta, definir-se a localização das 
possíveis lesões, nos pacientes doentes. 
 
O exame físico é escasso e dificultado pela grande proteção do sistema nervoso central em 
“envoltórios” ósseos, o que dificulta o acesso a este sistema. Mas se detalharmos 
minuciosamente a anamnese e histórico, além de realizarmos a inspeção e palpação, 
baseado nos reflexos funcionais podemos obter sinais relacionados a disfunções ou lesões 
de determinadas regiões anatômicas nervosas, facilitando o diagnóstico. 
 
Portanto o exame neurológico deve basear-se na avaliação do comportamento (estado 
mental), postura e movimentos, pares de nervos cranianos e avaliação dos reflexos 
espinhais. 
Como auxiliar ao exame físico podemos utilizar alguns exames complementares como: 
análise do líquido cefalorraquidiano, radiologia simples ou contrastadas e até ressonância 
magnética e tomografia computadorizada. 
O diagnóstico correto deve ter como objetivo a adoção de medidas preventivas para que 
outros animais não adoeçam, além da instituição de possíveis terapias na dependência da 
etiologia da doença. 
 
As lesões neurológicas provocam, basicamente, quatro síndromes distintas: cerebral, 
cerebelar, vestibular e medular/nervos periféricos. 
 
 
SÍNDROME CEREBRAL 
 
Muitas enfermidades podem apresentar sintomas compatíveis com esta síndrome como, por 
exemplo, os traumatismos cranianos e os processos degenerativos (mieloencefalopatia 
degenerativa eqüina, leucoencefalomalacia), mas os processos mais importantes na clínica 
de eqüinos restringem-se às encefalites (processo inflamatório do encéfalo) causadas por 
agentes infecciosos bacterianos e virais. 
A raiva é uma doença rara nos eqüinos, causada por um vírus da família Rhabdoviridae, e 
apesar do seu potencial zoonótico não existe descrição da transmissão a partir de cavalos 
doentes para outras espécies, muito menos ao homem. A principal forma de contaminação 
dos eqüinos é através da mordida de morcegos hematófagos contaminados. Existem 
diferentes demonstrações clínicas na dependência da região anatômica acometida, 
resultando numa ampla variedade dos sinais clínicos. A classificação da raiva, nos cavalos, 
pode estar sob três formas: furiosa (cerebral), obscura (tronco encefálico) e paralítica 
(espinhal). 
Outro importante agente viral causador de encefalite nos eqüinos é um togavírus 
subdividido em três importantes variantes: a encefalomielite leste, a oeste e a 
venezuelana. Assim como a raiva tem importância zoonótica e seu ciclo depende da 
Medicina de Grandes Animais II - Equinos 
Prof. Dr. Neimar Roncati 2 
existência de animais selvagens como reservatórios naturais assim como de insetos vetores 
que podem transmitir tanto para eqüinos como para humanos suscetíveis. Não existem 
tratamentos específicos e eficazes para estas afecções nervosas virais, mas a terapia 
fundamenta-se no tratamento de suporte, utilização de antiinflamatórios não esteróides e até 
esteroidais, assim como dimetilsulfóxido (DMSO) na dose de 1g/kg. As convulsões podem 
ser controladas pelo emprego de benzodiazepínicos como, por exemplo, o Diazepan® (0,05 
a 2,2mg/kg, IV). 
É relevante a importância de adequado programa profilático vacinal nestas doenças, já que 
o tratamento na maioria das vezes é ineficaz e as vacinas são bastante eficientes 
principalmente quando associadas ao controle dos vetores. Existem vacinas comerciais 
indicadas para prevenção através da aplicação anual nos cavalos adultos. 
 
A leucoencefalomalacia eqüina é uma doença de ocorrência esporádica e sazonal causada 
pela micotoxina fumonisina B1 (FB1), um metabólito do Fusarium moniliforme. Os 
eqüinos são acometidos ao ingerir milho infectado pelo fungo produtor da micotoxina, mas 
existem relatos da ingestão de concentrados contaminados causando a doença. Existem 
duas síndromes clínicas clássicas descritas pela ingestão deste metabólito, a neurotóxica, 
que é a mais comum, além da síndrome hepatotóxica. Neurologicamente pode-se encontrar 
sintomas como incoordenação, letargia, depressão, assim como hiperexcitabilidade e 
delírio. Podem ocorrer convulsões clônico-tônicas antes da morte. O diagnóstico 
geralmente associa-se aos achados de necropsia e aos relatos de ingestão de milho mofado, 
o qual pode ser analisado por cromatografia para detecção do FB1. 
 
 
SÍNDROME CEREBELAR 
 
O cerebelo é essencial para coordenação dos movimentos, sendo responsável pela 
regulação da força e variação dos andamentos, assim como da noção espacial, que inclui 
equilíbrio e postura. As informações aferentes surgem dos sistemas proprioceptivos gerais e 
especiais (vestibulares) e dos sistemas somáticos especiais (auditivo e visual). Os sinais das 
doenças cerebelares podem variar bastante incluindo ataxia, dismetria (hipo e hipermetria) 
e tremor intencional da cabeça. 
As afecções cerebelares são raras nos equinos, sendo a Abiotrofia Cerebelar a mais 
freqüentemente relatada. Esta doença refere-se à degeneração prematura de neurônios por 
problemas intrínsecos a determinadas raças como a Árabe e algumas raças de pôneis. Em 
geral acomete potros de até um ano de idade, sendo mais comum até os seis meses. No 
geral os animais nascem normais e desenvolvem sinais clínicos que incluem tremor 
intencional da cabeça, ataxia, dismetria e espasticidade. 
As lesões são progressivas e podem levar à morte. Há lesões encontradas nos exames 
histopatológicos de degeneração das células de Purkinje do cerebelo. Não existe tratamento 
para esta afecção. 
 
 
SÍNDROME VESTIBULAR 
 
Medicina de Grandes Animais II - Equinos 
Prof. Dr. Neimar Roncati 3 
O sistema vestibular é responsável pela posição adequada dos olhos, tronco e dos membros, 
além do posicionamento e referência aos movimentos da cabeça. Portanto o conhecimento 
da anatomia e sinais relacionados são importantes no auxílio ao clínico para detecção da 
localização das lesões, incluindo a doença vestibular central e a periférica. 
Os sinais tanto de doença vestibular periférica (otites) como central (abcesso, mielite 
protozoótica, encefalites por trauma) incluem inclinação da cabeça, nistagmo, queda, 
marcha em círculos, ataxia assimétrica e relutância para caminhar. Os equinos acometidos 
por problemas vestibulares podem demonstrar agressividade em decorrência à 
desorientação. A inclinação da cabeça caracteriza-se por desvio ventral do topo da cabeça 
para o lado acometido. Além de um minucioso exame clínico é importante a colheita de 
líquido céfalorraquidiano (LCR) para realização de um diagnóstico preciso, e assim, 
adequar a melhor conduta terapêutica. 
 
 
SÍNDROME ESPINHAL E DE NERVOS PERIFÉRICOS 
 
Apesar de muitas doenças nos eqüinos causarem alterações cerebrais e na medula espinhal 
(mieloencefalopatia pelo herpes vírus, mieloencefalite causada por protozoário), na maioria 
das vezes denota-se alterações clínicas compatíveis com lesões principalmente na medula. 
Apesar do botulismo ser uma afecção de grande importância na clínica de ruminantes, 
dificilmente encontra-se eqüinos acometidos por esta doença, que nada difere 
sintomatologicamente entre as espécies. Já o tétano, que também não difere da descrição 
em ruminantes, é bastante importante na clínica de eqüinos por ser a espécie animal mais 
suscetíveis à estadoença. 
 
A mieloencefalite equina causada por protozoário (Sarcocystis neurona) é uma afecção 
que pode causar lesões multifocais e assimétricas no encéfalo e particularmente na medula 
espinhal. Apesar de ser uma doença infecciosa não ocorre a transmissão entre os eqüinos. 
Os Sarcosystis produzem oocistos esporulados na parede intestinal do hospedeiro definitivo 
(ex.: gambá - predador), que o elimina nas fezes. O hospedeiro intermediário pode ingerir 
alimentos ou água contaminados (ex. aves - presa), os quais liberaram esporocistos que 
penetram no intestino deste animal, migrando para vários órgãos para completar o ciclo. Os 
eqüinos são hospedeiros terminais aberrantes, que quando infectados podem desenvolver a 
afecção com sinais clínicos bastante variáveis, desde um simples tropeçar, até exibir 
fraqueza, cair, além de apresentarem ataxia e incoordenação em um ou mais membros. Não 
é raro, com a evolução do quadro, encontrarmos atrofia de músculos como os glúteos. 
As lesões, pela presença do parasita, podem ser tanto na substância branca como cinzenta 
(multifocal e difusa) do cérebro, tronco cerebral e mais freqüentemente da medula espinhal. 
O diagnóstico deve incluir anamnese detalhada, já que é comum animais passarem por 
fatores estressantes previamente a se tornarem doentes, além de exame clínico completo do 
sistema nervoso. A análise do sangue e LCR podem detectar a presença de anticorpos para 
o protozoário. 
Existem diferentes esquemas para o tratamento desta afecção, incluindo a utilização de 
sulfonamidas combinadas (sulfa e trimetoprim – 15-30mg/kg, VO, BID) associadas à 
antiprotozoáricos como a piremetamina (0,25 a 1,0mg/kg, VO, SID); além disso, é 
importante a utilização de terapia antiinflamatória com agentes como o flunexin-meglumine 
Medicina de Grandes Animais II - Equinos 
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ou fenilbutazona. A utilização de dimetilsulfóxido tem demonstrando melhora dos sintomas 
inflamatórios do sistema nervoso na dose de 1g/kg, diluído em soro a 10%, a cada 12 horas 
por três aplicações. Drogas mais recentes vêem sendo investigadas para utilização no 
tratamento da mieloencefalite protozoótica, como o Diclazuril e o Toltrazuril, ambos 
agentes coccidiostáticos, 5mg/kg e 10mg/kg, por via oral, respectivamente. 
 
A mieloencefalopatia equina é causada pelo herpes vírus, principalmente, do tipo 1 (vírus 
abortivo) - existem quatro distintos herpes vírus conhecidos nos eqüinos. 
Inicialmente este vírus pode causar vasculite de arteríolas cerebrais, e em especial, da 
medula espinhal, causando muitas alterações nestes tecidos. Os sinais clínicos nervosos 
podem ser concomitantes ou posteriores a distúrbios respiratórios, sendo na maioria das 
vezes agudos ou superagudos e que tendem a estabilizar-se rapidamente após 1 ou 2 dias. 
Existem muitas variações destes sinais na dependência da localização das lesões, mas 
preferencialmente nota-se acometimento da substância branca espinhal, portanto 
demonstração de ataxia e paresia dos membros (principalmente pélvicos) são os sinais mais 
evidentes, somados com hipotonia da cauda e do ânus, além de incontinência urinária. 
Normalmente estes sinais são simétricos. Para auxílio diagnóstico pode ser importante a 
colheita de LCR, que nos animais acometidos pode demonstrar xantocromia e elevação da 
concentração de proteína. 
Não existem tratamentos específicos e, portanto a terapia deve ser basear em tratamento de 
suporte, além da tentativa de diminuição da inflamação no SNC (antiinflamatórios e 
DMSO). Como trata-se de uma afecção imune-mediada a corticoideterapia pode ser 
recomendada (dexametasona, 0,05-0,1mg/kg, IM, BID).

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