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Comentário Capítulo 9 do livro "Cultura, Saúde e Doença" de Cecil G. Helman

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Isabella de Oliveira
COMENTÁRIO CRÍTICO DO CAPÍTULO 9 DO LIVRO “CULTURA, SAÚDE E DOENÇA” DE CECIL G. HELMAN: “RITUAL E MANEJO DOS INFORTÚNIOS˜ 
	Os rituais possuem três dimensões: a social, as psicológicas e as simbólicas. A esfera social é abarcada, muitas vezes, pela sociologia e por ciências que estudem os modelos que instituem discursos. A dimensão psicológica diz respeito as subjetividades e singularidade do sujeito, sendo esse um sujeito relacional e nunca isolado. Por fim, os símbolos, tanto reais quanto imaginários, afetam a vida do sujeito mesmo com seu caráter abstrato, uma vez que os símbolos são os elementos concretos dos rituais e sem eles não haveriam os comportamentos repetitivos. Os símbolos do ritual são em si as funções que são dadas pelos símbolos. 
	Esse caráter repetitivo do ritual é o que o instaura e o instala no grupo social em que é praticado e seu efeito deve ser analisado sem uma visão técnica, explícita e direta. Rituais são fundamentais para a manutenção da sociedade devido ao seu valor expressivo e criativo, já que os seres humanos são seres ritualísticos. 
	Uma importante característica dos rituais é seu poder de gerar uma visão coletiva de mundo e a adesão à uma determinada lógica, não homogênea e não determinista. As fronteiras simbólicas não podem ser fixas e sim porosas. Caso fossem fixas, essas fronteiras não possibilitariam um diálogo ou contato entre culturais e rituais distintos, necessários para a manifestação da criatividade e para o encontro geracional para a criação. 
	Cecil Helman expõe quatro rituais de transição: os rituais de gravidez e nascimento, os rituais de morte e de luto, os ritos de hospitalização e os rituais de infortúnio. Através de Van Gennep, Helman traz três etapas para a conclusão de um ritual de transição, sendo elas a separação, a transição em si e por fim a incorporação. Na etapa de separação, a organização de tempo e espaço é, por vezes, modificada. Até que a fase de incorporação seja concluída, o sujeito precisa enfrentar a adesão à uma nova lógica e uma "introgenação" de valores. 
	As funções dos rituais devem ser analisadas por três olhares: psicológico, social e um olhar "protetor". Esse último diz respeito à proteção do sujeito e sua "legitimização". 
	O médico, ao exercer sua profissão, deve, analisar os rituais que fazem parte do cotidiano do paciente e o papel que os mesmos têm em sua vida. Esses rituais podem ser sociais, religiosos ou pessoais e, através deles pode-se compreender como o paciente maneja infortúnios, doenças e mortes. Os rituais, ou a ausência destes, afetam verdadeiramente a saúde física e mental do paciente, bem como suas relações sociais, já que podem ser benéficos ou perigosos para o sujeito. Os rituais podem ter, ainda, uma função integradora ou alienadora para o paciente com relação à comunidade e podem também indicar uma transição biológica e social na vida do indivíduo. 
	A medicina, assim como as outras ciências, se utiliza de alguns rituais e símbolos. É exigido do profissional da saúde um comportamento específico de responsabilidade e conduta moral, um discurso coerente e preocupado com a saúde e bem estar do próximo, técnicas e conhecimento científico e até mesmo um vestuário adequado, o guarda-pó e vestimentas brancas. 
	O jaleco branco usado pelo médico e pelos profissionais da saúde pode ser entendido como um uniforme para o ritual de cura. Assim como um xamã que coloca adereços e pinta o corpo para um ritual, o médico veste o guarda-pó por uma série de motivos, conscientes ou não. Esses motivos devem ser problematizados. 
	Observa-se um apelo pela higienização, que pode ser entendido como um quesito técnico, e o "branco" pode ser relacionado com algo limpo, ainda que seja um conceito muito relativo. O médico deve ter sua imagem relacionada com a saúde e a limpeza, com a cura, e deve manter-se afastado de símbolos sujos, doentes e patológicos. 
	Outra função do jaleco é a imagem de confiança que o mesmo transmite. O uniforme tem o objetivo de mostrar que o indivíduo estudou durante anos e dedicou-se ao saber em busca da saúde do ser humano, e ao vesti-lo sente-se dignificado pela comunidade e preparado para exercer sua profissão. 
	Além de ser usado para mostrar credibilidade, o jaleco também tem função de identificação. Mesmo que, em alguns casos, crie uma barreira entre o médico e o paciente. Cabe ao profissional da saúde, dependendo da área e do contexto, refazer, se necessário, os símbolos, uma vez que são modificáveis. A cultura é dinâmica e extremamente mutável, sendo assim, os rituais e os símbolos acompanham suas mudanças. Alguns médicos deixam o jaleco de lado para atender em determinados contextos, como comunidades de pescadores ou em meio a Amazônia. De início, as autoridades, geralmente, não têm boa visão de uma ação como essa supracitada, porém, a conexão entre o médico e o paciente torna-se muito mais forte. 
	Um aspecto muito interessante do uso do jaleco é a reafirmação da profissão e sua proposta pelo próprio profissional. É sua lembrança de um juramento e usado como defesa do indivíduo.

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