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Falência Atos ineficazes, revogáveis e extinção

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Estudos Avançados em Direito Empresarial
Bruno Costa
FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL
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ATOS INEFICAZES – Art. 129 – 11.101/05
 
Ineficácia e revogação dos atos praticados antes da decretação da falência.
 
Os atos praticados dentro do termo legal (I, II e III) e demais que estiverem listados no art. 129 serão considerados INEFICAZES perante a massa (art. 129 da Lei 11.101/05)
 
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada;
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IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.
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No artigo 129 temos a chamada ineficácia objetiva, uma vez que não há a necessidade de se comprovar o conluio fraudulento. 
 
Por isso, o juiz pode delas conhecer de ofício. 
Defesa/ação própria/incidentalmente no curso do processo. 
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ATOS REVOGÁVEIS
 
Previsão no art. 130 da Lei 11.101/05.
 
Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
 
Fábio Ulhoa Coelho denomina as hipóteses do art. 130 de ineficácia subjetiva, pois pressupõe a demonstração de “conluio fraudulento” e o prejuízo.
 
Aqui é preciso demonstrar a intenção fraudulenta (“consilium fraudis”), pois ocorre fora do termo legal da quebra, diferentemente do artigo 129, em que não é necessário demonstrar o conluio.
Mas nesse caso, alguns autores entendem que se deve demonstrar a fraude. Sérgio Campinho, citando Carvalho de Mendonça, exige apenas indícios de fraude (ex.: negócio entre parentes, por preço vil, vende para 3º, mas continua utilizando os bens, etc.). 
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Para Sérgio Campinho é muito difícil se provar a fraude.
Além disso, há a necessidade de demonstrar a prova do dano, mas a posição majoritária entende que a sentença declaratória de falência já comprova que houve um dano para os credores.
 
Requisitos:
*Demonstração de conluio fraudulento
*Efetivo prejuízo para a massa falida.
Nesse caso o juiz não pode declarar de ofício, pois ele precisa de prova da fraude.
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Natureza da ação dos arts. 129 e 130 da Lei 11.101/05
 
Corrente 01: Fábio Ulhoa Coelho 	
*Ação própria do art. 130 (ação revocatória)
*É exigível ação autônoma para as hipóteses do art. 129 (ação inominada).
 
Corrente 02: Para Amador Paes de Almeida (tanto o art. 129 e o 130 podem ser objeto de ação revocatória). Prevalece essa corrente.
 
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A ação revocatória poderá ser ajuizada pelo: 
*Credor
*Administrador judicial
*Ministério Público
 
A legitimidade para ajuizamento da ação revocatória é de qualquer credor, administrador judicial e membro do MP. 
Para Fábio Ulhoa Coelho, não pode o administrador ser responsabilizado pelo fato de não ajuizar a ação revocatória, uma vez que há legitimidade concorrente.
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Legitimidade passiva: 
 
Art. 133. A ação revocatória pode ser promovida:
I – contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados;
II – contra os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do devedor de prejudicar os credores;
III – contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos incisos I e II do caput deste artigo.
 
*Prazo para ajuizamento da revocatória: 3 anos (decadencial), contados da decretação da sentença declaratória de falência. 
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Da decisão que julga a ação revocatória cabe recurso de apelação.
 
Efeitos da sentença que julgar a revocatória:
A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos.
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Contratante de boa-fé: Perdas e Danos
Art. 136 – 11.101/2005. Reconhecida a ineficácia ou julgada procedente a ação revocatória, as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor.
O terceiro de boa-fé, poderá, a qualquer tempo, propor ação por perdas e danos contra o devedor ou seus garantes.
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Falência x Nulidade
Quando se fala em ineficácia não se pode confundir nulidade. Na ação revocatória não se pede a nulidade do ato, mas sim que o juiz torne esse ato sem efeito em relação a Massa Falida, caso de ineficácia.
 
Ricardo Negrão diz que se o devedor pagar os credores, o ato será plenamente válido. 
 
 
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Diferença entre ação pauliana x ação revocatória
- A ação pauliana é genuinamente civil, já a ação revocatória é de índole falimentar.
 
- Ação pauliana é ação de nulidade; na ação revocatória pede-se o reconhecimento da ineficácia, pois permanece válida entre os contratantes.
 
Na ação pauliana somente pode ser autor da ação o credor singular; 
Na ação revocatória poderá ser autor qualquer credor, MP e o administrador judicial.
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ARRECADAÇÃO
 
O administrador judicial providenciará a arrecadação dos bens logo após a assinatura do termo de compromisso.
 
Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias.
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O auto de arrecadação, que conterá o inventário e o laudo de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo falido ou seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou presenciarem o ato.
Prorrogação: Juiz poderá conceder prazo não superior a 30 dias para o administrador judicial entregar o laudo de avaliação, contados da apresentação do auto de arrecadação.
 
No inventário deverá haver a mais completa possível individuação dos bens arrecadados, bem como referência aos livros utilizados para a escrituração da empresa, dinheiro, títulos de crédito da massa falida.
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Não serão arrecadados os bens absolutamente impenhoráveis:
*Bem de família
*Hipóteses do art. 833 do CPC.
*Bens objeto de penhor ou hipoteca constituídos por cédula de crédito rural.
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem
a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o;
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado;
VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas;
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos;
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei;
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. 
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***Ainda que ocorra a venda dos bens em bloco, o bem objeto de garantia será avaliado separadamente.
Atenção também ao art. 109 da Lei nº 11.101/2005:
***Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos credores.
 
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A Lei 11.101/2005, no art. 114, faculta ao administrador judicial, alugar ou celebrar contrato referente aos bens da massa com o objetivo de produzir renda, mediante autorização do Comitê.
 
Adjudicação pelos Credores: 
A Lei nº 11.101/2005 inova ao prever a possibilidade de os credores, de forma individual ou coletiva, considerando-se os custos e interesses da massa falida, adquirirem ou adjudicarem os bens arrecadados, respeitado o valor da avaliação, mas ainda, assim, desde que seja preservada a regra de classificação e preferência entre eles, ouvido o comitê. 
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	Caso seja arrecadado bem que não era do falido, o terceiro prejudicado poderá requerer a restituição, em conformidade com o art. 85 da Lei 11.101/2005.
 
Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua restituição.
Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada.
 
	Julgada procedente a ação de restituição, deverá o bem ser restituído em 48 horas.
 
	É possível também a restituição de dinheiro, nos termos da súmula 417 do STF:
 
Súmula 417: Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do falido, recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse ele a disponibilidade.
 
*	Ausência de contestação ao pedido: Massa falida não será condenada ao pagamento de honorários advocatícios.	
	Depois de arrecadados os bens são avaliados e vendidos judicialmente. Trata-se da realização do ativo.
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Extinção das obrigações do falido – Encerramento da falência
 
Após o pagamento (ou não) dos credores, o juiz dará por encerrado o processo falimentar, com a apresentação do relatório final do administrador, no prazo de 30 após a realização total do ativo. 
 
As contas serão prestadas em autos apartados e apensados à falência.
 
Art. 154. Concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 (trinta) dias.
 
§ 2o O juiz ordenará a publicação de aviso de que as contas foram entregues e se encontram à disposição dos interessados, que poderão impugná-las no prazo de 10 (dez) dias.
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§ 3o Decorrido o prazo do aviso e realizadas as diligências necessárias à apuração dos fatos, o juiz intimará o Ministério Público para manifestar-se no prazo de 5 (cinco) dias, findo o qual o administrador judicial será ouvido se houver impugnação ou parecer contrário do Ministério Público.
 
§ 4o Cumpridas as providências previstas nos §§ 2o e 3o deste artigo, o juiz julgará as contas por sentença.
 
§ 5o A sentença que rejeitar as contas do administrador judicial fixará suas responsabilidades, poderá determinar a indisponibilidade ou o seqüestro de bens e servirá como título executivo para indenização da massa.
 
§ 6o Da sentença cabe apelação.
 
Trata-se da denominada sentença de extinção da falência. – Ela decorre do fim do patrimônio do falido.
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Após a decretação do fim do processo de falência, o falido poderá se reabilitar. 
 
Essa fase terá início com a sentença (extinção das obrigações do falido). 
 
O devedor fará pedido ao juiz da falência para que este profira a sentença de extinção das suas obrigações. 
 
Para a reabilitação, deve-se observar o art. 158 da Lei 11.101/05, com o cumprimento de um dos seus requisitos.
 
Hipóteses: 
 
pagamento de todos os credores
b) pagamento de mais de 50% dos credores quirografários (a lei permite que tenha a sua reabilitação)
c) necessário o decurso do prazo de 5 anos, contados da sentença de encerramento se o falido não tiver sido condenado por crime falimentar.
 
Em caso de condenação por crime falimentar, o falido deverá aguardar o prazo de 10 anos, contados do encerramento da falência. 
 
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Referências:
Moacyr Lobato
Manoel Justino
Ricardo Negrão
Fábio Ulhoa
Marlon Tomazete
André L. S. Cruz Ramos
Marcelo Bertoldi 
Sérgio Campinho

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