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resenha para uma revolução democratica da justiça

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
LARISSA SANTOS MENEZES
RESENHA: PARA UMA REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA DA JUSTIÇA
Trabalho de conclusão de período apresentado à disciplina Filosofia Geral e Jurídica, sob orientação da Prof. Kellen Josephine Muniz de Lima. 
ARACAJU
2017
RESENHA
SANTOS, Boaventura de Souza. Para uma revolução democrática da justiça. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Cortez, 2007. E-book disponível em: <http://sociologial.dominiotemporario.com/doc/REVOLUCAO_DEMOCRATICA_JUSTICA.pdf>.
Por Larissa Santos Menezes, estudante da graduação de Direito na Universidade Federal de Sergipe.
No contexto atual, onde as desigualdades sociais estão cada vez mais alarmantes, tanto dentro dos Estados quanto entre os Estados, onde o sentimento coletivo de injustiça cresce exponencialmente e onde, ainda, há uma constante violação dos direitos humanos, individuais e coletivos, os grupos e classes oprimidos e excluídos vêm mostrando um crescente interesse em mudar a realidade e lutam por seus direitos através de movimentos sociais. É nesse quadro que Boaventura sugere um “novo senso comum jurídico” através de reformas no sistema jurídico e no judiciário, a fim de democratizar a justiça.
Boaventura de Souza Santos, nascido em 15 de novembro de 1940, Coimbra, é grande conhecedor da realidade social da América Latina, em especial, do Brasil. Ele viveu por um tempo na favela do Jacarezinho (ou Pasárgada), no Rio de Janeiro, para fazer sua tese de doutorado (que, inclusive deu origem à obra “O direito dos oprimidos”) e por esse motivo fala das mazelas sociais, do pluralismo jurídico e dos movimentos sociais brasileiros. Poeta, rapper, sociólogo e epistemólogo, Boaventura “tem trabalhos publicados sobre globalização, sociologia do direito, democracia, epistemologia e direitos humanos” (WIKIPEDIA), assumindo uma posição crítica.
Nessa obra, “Para uma revolução democrática da justiça”, o autor discute com propriedade a frustração das expectativas democráticas da modernidade. Ele exige, diante do atual contexto social de populações menos favorecidas, uma posição proativa do direito com o objetivo de ampliar a esfera de atuação do sistema jurídico e contribuir para sua função emancipadora. Nas palavras de Boaventura, “é possível submetê-la [a sociedade em que vivemos] à uma crítica radical, transgredindo as fronteiras sociais, culturais, políticas, epistemológicas e teóricas de forma a cumprir o potencial emancipatório das promessas da modernidade [e do direito].” (SANTOS, 2007, p. 6). E é esta a atitude que consiste o “novo senso comum jurídico”, que tem como premissas a “crítica ao monopólio estatal e cientifico do direito”, dando espaço ao pluralismo jurídico e às novas formas emergentes de direito; “o questionamento ao caráter despolitizado do direito e sua necessária repolitização”, redefinindo as principais funções do sistema jurídico e; o reconhecimento do direito como principal instrumento de mudança social, deslocando “o olhar para a prática de grupos e classes socialmente oprimidos” e para as minorias sociais, que vêm lutando pelas igualdades e diferenças, e assim, devolver ao direito “seu caráter insurgente e emancipatório.”.
Essa é a proposta geral dessa obra: uma redemocratização do direito, da justiça, da sociedade, do Estado e, eu diria, até, da democracia, partindo destas três premissas ou pilares da “revolução”, que são apresentadas na introdução do livro. O livro é dividido em 12 capítulos incluindo a introdução e a conclusão. A leitura é fluente e a linguagem usada é de fácil compreensão e acessível para leigos curiosos no assunto e para qualquer profissional da área e é recomendada para interessados e profissionais das Ciências Sociais, especialmente Sociologia, Filosofia e Política.
Particularmente, por ser uma obra que contribui para uma concepção pós-moderna do direito partindo de um pensar crítico, acredito que a leitura de tal obra é fundamental, quiçá obrigatória, para os estudantes de direito, principalmente para os iniciantes do primeiro período, pois, além de dar uma visão ampla dos atuais problemas do sistema jurídico e judiciário, fomenta um pensamento crítico no futuro operador do direito. Não obstante, Boaventura irá falar do papel das faculdades de direito nessa conjuntura de “revolução democrática da justiça”.
Na introdução do livro são expostas as ideias gerais; um pequeno resumo do que será abordado no livro, o qual já apresentei anteriormente: a revolução democrática da justiça e o cenário que deve ser construído para que ela aconteça, através de mudanças no sistema jurídico e judiciário. O segundo e terceiro capítulos tratam, basicamente, da contextualização do tema: a emergência de uma reforma jurídica diante do protagonismo jurídico e do insurgente uso contra-hegemônico do direito. 
De forma um pouco mais detalhada, no capitulo dois, Boaventura faz uma análise de como se deu o processo de protagonização dos tribunais ao fim da década de 1980. Até então, o papel do judiciário no Estado era bem limitado. Os juízes tinham pouca autonomia e seu caráter era bem conservador, sendo incapazes de acompanhar as transformações sociais, econômicas e políticas e de tomarem suas próprias decisões. O judiciário era apenas um instrumento do Estado usado para aplicar rígida e seletivamente a lei e para ajudar o Estado a se opor a qualquer reforma de cunho social. 
Contudo, o poder judiciário ganhou mais importância e, inclusive, em relação ao executivo. Isso se deu por três motivos: a luta contra a corrupção deu mais poder de decisão ao judiciário, o sistema de mercado passou a exigir mais eficácia, rapidez e independência da justiça na regulamentação privada e de contratos, e a demanda maior da ação jurídica na resolução de litígios envolvendo direitos civis, econômicos, políticos, sociais, culturais e dos direitos da terceira geração (meio ambiente qualidade de vida e direito do consumidor). A este ultimo dou destaque, pois demonstra a crescente gama de direitos que estão ganhando mais destaque e estão cada vez mais sendo buscados pela população, como os direitos humanos. Há uma diminuição da atenção apenas para os direitos individuais, de propriedade e de contratos que são usados por empresas e está começando a se enxergar perifericamente os direitos coletivos.
O autor destaca que isso ocorreu de forma diferente em cada país, pois existem variáveis como cultura, nível de desenvolvimento, da influencia da globalização, etc. “Vai depender da orientação local das reformas judiciais em cada país.”. 
O terceiro capítulo trata das políticas hegemônica e contra-hegemônica do judiciário. O autor explica que o campo hegemônico tem como base os interesses econômicos do mundo dos negócios, exigindo uma justiça rápida e eficiente. Já o campo contra-hegemônico é o campo dos cidadãos que tomaram consciência de que possuem direitos e que tais direitos devem ser respeitados e garantidos.
Cabe ao judiciário realizar políticas a favor da contra-hegemonia. Nas palavras de Boaventura “usar o direito hegemônico de forma não hegemônica”. Ou seja, é necessária uma reforma hermenêutica para que se torne possível aplicar essa politica de um judiciário rápido, eficaz, garantidor de interesses econômicos e de propriedade de forma a garantir, na mesma proporção, os direitos exigidos pela maioria da sociedade.
Destaco nesse capitulo o que o autor afirmou que seria um terceiro campo: a procura suprimida, que é a demanda real pela ação da justiça, mas que nem chega aos tribunais. Aqui está o alvo de toda a problemática da justiça de Boaventura. É o cidadão intimidado e impotente que não existe aos olhos da justiça e que não consegue chegar a ela por diversos motivos como, intimidação da arrogância dos funcionários, pela linguagem exageradamente rebuscada de difícil compreensão (“juridiquês”), pelos edifícios esmagadores, etc.
Diante disso, o autor irá abordar nos capítulos seguintesos principais vetores da transformação jurídico-política que devem ser realizados para a revolução democrática da justiça. São eles: (i) profundas reformas processuais; (ii) novos mecanismos e novos protagonismos no acesso à justiça; (iii) novas organização e gestão judiciárias; (iv) revolução na formação profissional, desde as faculdades de direito até a formação permanente; (v) uma relação mais densa do poder judicial com os movimentos sociais e organizações sociais; (vi) o velho e o novo pluralismo jurídico; (vii) uma relação do poder judicial mais transparente com o poder político e com a mídia e; (viii) novas concepções de independência judicial e uma cultura jurídica democrática e não corporativa.
As profundas reformas processuais têm por objetivo o combate às morosidades que vêm assolando os processos judiciais nos tribunais. A lentidão na resolução dos litígios, provocada pela sobrecarga de processos ou usada para uma “não decisão” como forma de decisão (através da procrastinação por anos e décadas), acaba causando, entre outras coisas, a falta de confiança na justiça. Boaventura fala de outras consequências, mas destaco essa que é fortemente observada no Brasil. É uma questão cultural nossa não recorrer à justiça, em casos até graves, por simplesmente não vermos no direito e no sistema jurídico a justiça e nem a solução dos problemas.
O autor destaca que a reforma processual não objetiva apenas a celeridade nas resoluções, mas anseia por uma justiça rápida e de qualidade. Ele não diz exatamente o que deve ser feito nessa reforma, mas no capítulo seguinte, do acesso à justiça, o autor fala de novas formas de resolução de conflitos extrajudiciais e alternativas à forma tradicional de ir à corte, diminuindo, assim, a sobrecarga de processos de menor valor e de solução simples, dando espaço a casos mais graves e difíceis que demandam mais trabalho. Mais a frente o autor irá falar sobre as inovações institucionais, que apresentarei aqui nesse contexto de morosidade.
É uma medida que diz respeito às novas formas institucionais de resolução de conflitos. Essas inovações incluem investimento nos juizados especiais (os juizados de pequenas causas) que são os principais meios de combate à morosidade. Com um quadro de juízes especializados, ampliado e exclusivo é possível garantir a equidade, economia, celeridade, informalidade e simplicidade na resolução de pequenos litígios e em maior quantidade. Incluem, ainda, reformas na gestão e na organização dos tribunais, procurando adequá-los às “dinâmicas socioeconômicas e demográficas do território”. Isso ira melhorar a qualidade na resolução dos conflitos e dará celeridade aos processos, além de ampliar a acessibilidade do sistema de justiça, transferindo o foco maior para os litígios de alta intensidade. Por exemplo, com causas como de cobrança de dividas, que são muitos, sendo resolvidos nos juizados especiais, causas como divórcios, que demandam mais atenção devido à preocupação com o destino dos filhos, são resolvidos com calma nos juizados comuns, não havendo mais a famosa lentidão da justiça brasileira.
Outra mudança que destaco no livro é o reconhecimento do pluralismo jurídico, que pode até, eu diria, ser usado como forma de dar celeridade aos processos. Há uma pluralidade de ordens jurídicas dentro de um mesmo espaço geopolítico, principalmente num país tão diversificado culturalmente e tão extenso como o Brasil sendo, muitas vezes, esse ordenamento mais relevante do que a lei do Estado para essas comunidades que o adotam. Se esse pluralismo normativo passar a ser reconhecido e aceito, pequenas comunidades podem resolver seus conflitos internamente.
Outra medida que deve ser tomada na revolução democrática diz respeito ao acesso à justiça, tendo como objetivo universalizar o acesso e ampliar o braço do sistema judicial e do jurídico para que possa alcançar as sociedades excluídas, oprimidas e invisíveis aos olhos da justiça e da sociedade. São as pessoas que não tem conhecimento de seus direitos, sem condições financeiras para arcar com as despesas judiciais, que moram distante dos grandes centros e dos tribunais e que são intimidadas pelo sistema de diversas formas (é a chama sociologia das ausências). Esses seriam os novos protagonistas do novo acesso à justiça. A “promoção de mecanismos de apoio judiciário aos cidadãos carenciados [...] faz com que o apoio judiciário [...] passe a ser incluído como medida de combate à pobreza nos programas estatais [...] e encoraja a defesa de interesses coletivos e difusos em juízo,...” (p.31).
Esse é o capítulo mais extenso da obra, pois é nele que Boaventura faz varias intervenções ao problema do acesso à justiça, mostrando, assim, que é uma questão de grande relevância para a democratização efetiva da justiça e que apresenta muitas lacunas a serem preenchidas, como as defensorias públicas e suas estruturas pequenas e insuficientes diante da demanda e a disparidade de preços das ações judiciais entre os estados, havendo necessidade de uma reforma em ambos, como a ampliação do quadro de defensores públicos e a fixação de custos nos diferentes estados. 
Outras intervenções sugeridas pelo autor são de cunho mais social: a maior participação da mulher no direito (elas que historicamente estão engajadas nas lutas por direitos e igualdade), maior atuação e reconhecimento dos movimentos sociais, participação mais significativa das acessórias jurídicas universitárias populares (através de mais investimento em extensão), capacitação jurídica de líderes comunitários, uma ação mais compromissada da advocacia popular e atuação das defensorias públicas na educação da população sobre direitos.
Esta última é a de maior relevância, pois sem a educação da população quanto aos seus direitos e como lutar por eles através da justiça, nenhuma outra reforma terá efeito. E o autor afirma:
“É preciso que os cidadãos se capacitem juridicamente, porque o direito, apesar de ser um bem que está na sabedoria do povo, é manejado e apresentado pelas profissões jurídicas através do controle de uma linguagem técnica ininteligível para o cidadão comum. Com a capacitação jurídica, o direito converte-se de um instrumento hegemônico de alienação das partes e despolitização dos conflitos a uma ferramenta contra-hegemônica apropriada de baixo para cima como estratégia de luta.” (p.46).
Não se trata apenas em melhorar o acesso à justiça e a resolução dos processos judiciais, mas sim da participação democrática de todos na justiça. Todos os cidadãos devem ter conhecimento dos seus direitos para que possam lutar por eles. Essa capacitação jurídica é fundamental, pois fomenta uma aproximação entre a justiça e a cidadania, e sem isso não há democracia de fato.
O quarto vetor da revolução democrática da justiça é a reforma do ensino do direito e na formação profissional. Acrescente, ainda, a formação de uma nova cultura jurídica atrelada à independência judicial, as quais o autor irá abordar no capítulo 11. Decidi comentar sobre ambos os tópicos juntos, pois cultura jurídica presente nos tribunais está intimamente ligada à formação desses profissionais.
O autor sugere uma “transformação completa” na forma de ensino das faculdades de direito, pois é desse contexto universitário que partem todas as iniciativas revolucionárias. Ora, é das universidades que saem os juízes, advogados, defensores públicos, promotores, etc., então é aqui que deve partir a maior mudança, não apenas no ensino doutrinário, mas também na formação social, politizando o ensino de forma contra-hegemônica. 
Por exemplo, no Brasil há um mito da democracia racial. Acreditamos que o racismo não existe nas esferas sociais, inclusive dentro do judiciário, mas é um equívoco. O racismo existe sim, e de forma muito forte, e é necessária essa conscientização quanto a isso para que os futuros profissionais desempenhem seu papel emancipatório e democrático. “O racismo só pode ser combatido se reconhecido.” (p. 55). 
Boaventura compara o magistrado português com o brasileiroe afirma que são similares e adotam uma cultura normativista, técnico-burocrática e autônoma. O autor cita as manifestações da cultura judicial, das quais destaco: demasiada preferencia pelo direito civil e penal, negligenciando a autonomia de outros ramos como o direito da família e ambiental; uma cultura na qual os tribunais são as únicas formas de resolução de conflitos, deixando de lado as formas alternativas; o demasiado privilégio e autoridade dos operadores do direito, tornando-os, muitas vezes, arrogantes e; a não consideração da realidade social na tomada de decisões, aplicando pura e duramente a lei.
Diante disso, é fundamental a mudança para um sistema menos normativista e técnico-democrático dos magistrados através de uma revolução nas faculdades de direito. O ensino deve ser mais humanístico e interdisciplinar, descartando a atual forma puramente doutrinária na qual se formam “papagaios” aptos a repetir as leis decoradas. É importante associar o ensino com a extensão, principalmente em comunidades carentes para que os estudantes possam vivenciar os problemas sociais. E isso, consequentemente, irá criar uma nova cultura jurídica. Os profissionais dessa geração mais crítica que irão compor os magistrados irão levar consigo a nova cultura menos arrogante e mais relativista para os tribunais. 
Uma consequência dessa mudança na formação e da cultura jurídicas é o maior engajamento com as causas dos movimentos sociais desses profissionais. Atualmente existe uma indiferença muito grande quanto a esses movimentos por parte dos operadores do direito que negligenciam as causas. São movimentos agrários, quilombolas, indígenas, movimentos por direitos civis como o feminismo. Eles merecem atenção é um estudo diferenciado devido às suas complexidades que demandam decisões igualmente complexas e inovadoras. 
A conclusão é curta e tem apenas um parágrafo no qual o autor afirma que a revolução democrática da Justiça proposta por ele é uma tarefa extremamente exigente, mas igualmente simples e revolucionária, e finaliza com uma frase: “sem direitos de cidadania efetivos a democracia é uma ditadura mal disfarçada.” (p. 84). É uma bela frase para se refletir após a leitura desse livro. A democracia brasileira está sendo desafiada por atitudes conservadoras e totalitárias dos que governam, e isso é alarmante. A corrupção e o fascismo mascarado estão tomando conta do nosso país e esmagando os direitos conquistados até hoje e excluindo cada vez mais aqueles que já são marginalizados, oprimidos e humilhados diariamente.
 Não há revolução da justiça se não houver uma redemocratização, antes de tudo, da sociedade. O próprio autor afirma que vivemos numa sociedade fascista. Não existe poder democrático sem antes a sociedade ser democrática, da mesma forma que não há governo corrupto sem antes haver uma sociedade corrupta. É diretamente proporcional, matematicamente falando.
 Destaco aqui o papel das universidades na formação profissional, que acredito ser fundamental disseminador de conhecimento e de crítica. É a universidade o pontapé inicial de que a revolução da democracia necessita e é a partir dela que se desencadeará a busca da competência para enfrentar todos os obstáculos apresentados pelo autor para se alcançar uma justiça mais operante e eficaz, capaz de julgar e adequar os interesses de todos os cidadãos de forma mais humana. Mas, além disso, são as universidades que estão em constante contato com a sociedade que a circunda. A diversidade é grande dentro delas e isso fomenta uma insurgente ação maior próxima aos movimentos sociais.
Partindo da premissa que é necessária a garantia de direitos de cidadania, vejo, também, na educação e na capacitação jurídica o pontapé final que irá completar o processo de democratização da sociedade e, consequentemente da justiça. Mudando o senso comum jurídico atual de aversão à justiça para um senso no qual a justiça é instrumento a favor do povo, mudar-se-á a ideia de democracia dentro do poder judiciário.

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