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APOSTILA HISTÓRIA do Ceará

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Ceará Colonial
A Primeira Ocupação (1603-1678):
Os primeiros povos do Ceará:
Antes da chegada dos primeiros europeus ao território que hoje é o Ceará, a terra era habitada por muitos povos diferentes. Os europeus, ao chegarem à América, chamaram todos esses povos de “índios”, fazendo parecer que todos eles eram iguais. Isso acontecia porque os primeiros exploradores não puderam nem quiseram compreender os povos que encontravam, até tendo dúvidas se eles eram mesmo seres humanos. Esses primeiros europeus à visitar as Américas enxergavam nos povos nativos aquilo que eles queriam ver. Colombo, que queria chegar nas Índias, achou que esses povos era nativos daquela região, por isso os chamou de “índios”. Posteriormente, eles passaram a acreditar que esses povos viviam como que no Paraíso Terrestre, achando que eles não tinham guerras, fomes, leis, reis ou fé, ou sejam, que eram como crianças. Achavam que os índios eram como um quadro em branco, prontos para receber a civilização européia e tornarem-se súditos mansos e fiéis. Isso durou enquanto os contatos iniciais foram pacíficos. Depois que alguns dos povos nativos passaram a hostilizar os europeus, eles passaram a ser chamados de bárbaros, canibais, verdadeiros monstros. Todas essas visões, claro, eram a dos europeus. A visão que eles tinham dos índios era a que eles próprios projetavam. 
Os portugueses logo classificaram os índios do Brasil em dois tipos, os Tupis e os Tapuias. Os Tupis eram aqueles índios que falavam um idioma semelhante (com diferentes dialetos), habitavam em geral próximos da costa e tinham certas características culturais semelhantes. Esses índios, de modo geral, eram vistos como índios “bons”, capazes de serem cristianizados e civilizados. O restante das tribos que não se encaixavam nesse perfil eram chamados de Tapuia, termo que quer dizer “os contrários” ou “os inimigos”. Os Tapuias eram vistos como bárbaros, índios agressivos do interior, incapazes de serem civilizados. A verdade é que esses povos chamados de tapuias eram muito diferentes entre si, com línguas, costumes e até aparência diferentes. Mesmo os povos Tupis tinham grandes diferenças entre uma tribo e outra, apesar de serem mais aparentados. Precisamos lembrar sempre que os nativos americanos eram povos muito diferentes entre si, que muitas vezes não conheciam uns aos outros ou eram mesmo inimigos. Não se pode pensar neles como um povo só, com um governo único.
No Ceará, as tribos Tupis haviam chegado pouco tempo antes dos primeiros europeus. Parece, inclusive, que as tribos tupis chegaram mais ou menos na mesma época que os portugueses chegaram na Bahia e em Pernambuco, por volta de 1500, ou um pouco antes. Elas eram dividas em dois grandes grupos. Os Tabajaras habitavam principalmente na serra da Ibiapaba. Os Potiguaras ou Pitiguaras habitavam perto do Rio Jaguaribe e espalhados pelo litoral leste. Os Potiguaras e os Tabajaras eram, de modo geral, inimigos. Outras tribos Tupis menores também existiam. Os índios “Tapuia” pertenciam a vários povos diferentes, cada qual composto por várias tribos. O grupo Cariri habitava a região dos Inhamúns e do Cariri. Os Canindé e Jenipapo habitavam as bacias do rio Banabuiú e Quixeramobim. Os Quixelô habitavam a região onde hoje fica Iguatu. Esses são apenas alguns dos povos. Podemos falar também nos Aruás, Anacés, Tremembé, Paiacús, Tocarijús e muitos outros. Cada um desses povos tinha as suas particularidades.
Os Tupis, de modo geral, falavam línguas aparentadas ao tronco Tupi-Guarani. Ou seja, falavam línguas semelhantes e em geral podiam compreender uns aos outros. Muitos portugueses também falavam uma versão simplificada do tupi-guarani, conhecida como ‘Língua Geral’, codificada pelos jesuítas. As tribos tupis em geral praticavam a agricultura, plantando principalmente a mandioca. Viviam de forma semi-sedentária, morando por alguns anos numa região até que o solo perdesse a fertilidade e depois se mudavam para outro local. A maioria das tribos praticava a antropofagia ritual dos prisioneiros capturados. Eles costumavam viver em aldeias grandes, em grandes casas comunitárias chamadas “tabas” ou “ocas”. Sua religião variava de tribo para tribo, mas tinha alguns mitos e histórias em comum e deuses semelhantes, como o deus do trovão (geralmente chamado de Tupã) e a deusa da lua. Os pajés eram os homens santos dos Tupis, curandeiros e conhecedores dos deuses. 
Quanto aos Tapuias, seu modo de vida variava de tribo para tribo. Algumas praticavam a agricultura da mandioca, como os tupis, enquanto que outras viviam exclusivamente da caça, da pesca e da coleta. Algumas tribos eram semi-sedentárias, embora a maioria pareça ter sido muito nômade. Algumas tribos praticavam a antropofagia, outras não. Mesmo as que praticavam a antropofagia, faziam isso de forma diferente dos tupis, pois eles não costumavam comer seus inimigos, e sim seus entes queridos que faleciam. Eles falavam muitos idiomas diferentes, o que tornava a comunicação com eles difícil. Pouco se sabe sobre sua religião e costumes. Eram, enfim, povos muito diferentes entre si. 
As expedições de Pero Coelho e dos Padres Pinto e Figueira:
	Apesar da capitania do Ceará ter sido doada a Antônio Cardoso de Barros, ela nunca foi colonizada no século XVI. A primeira expedição portuguesa à região foi tentada em 1603, sob o comando do Capitão-mor Pero Coelho de Souza. O objetivo da expedição era investigar a região, expulsar qualquer “pirata” francês, holandês ou inglês que fosse encontrado, fazer aliança com os índios, encontrar as minas de prata e ouro que se achavam existir aqui e, finalmente, chegar ao Maranhão. O capitão-mor Pero Coelho gastou muito dinheiro para equipar a expedição, confiante que acharia grandes riquezas aqui e se tornaria um homem rico. 
	A realidade é que a expedição acabou fracassando horrivelmente. Não foram encontradas minas de ouro ou prata, nem nenhuma riqueza imediata, nem terras que fossem boas para o cultivo da cana-de-açúcar. Pero Coelho chamou as terras que tentava conquista de Nova Lusitânia e fundou um pequeno forte e um arraial nas margens do Rio Ceará que chamou de Nova Lisboa. O capitão-mor, não querendo perder o dinheiro que investira, começou a capturar a única “mercadoria” disponível ali, ou seja, índios para serem escravizados, mesmo contrariando as ordens que recebera. Os índios, por sua vez, resistiram ferozmente aos ataques de Pero Coelho. No final das contas a dificuldade do caminho, a seca e os ataques indígenas forçaram o Capitão-mor Pero Coelho a fugir do Ceará com o que restava dos seus homens. A brutalidade com que os europeus trataram os índios foi o principal motivo do fracasso da expedição.
	Em 1607 os portugueses tentaram de novo conquistar o Ceará, mas desta vez de modo diferente. Enviaram dois padres, Francisco Pinto e Luís Figueira, como missionários. Os dois foram inicialmente bem recebidos e chegaram até a Ibiapaba, espalhando sua pregação. No entanto a expedição também falharia quando os índios Tocarijús atacaram e mataram o Padre Pinto e forçaram o Padre Figueira a fugir de volta à Paraíba. 
	Acabavam assim, em fracasso, as primeiras tentativas dos portugueses de conquistar o Ceará. 
Martim Soares Moreno e a ocupação da capitania:
Em 1611, entretanto, volta ao Ceará um homem chamado Martim Soares Moreno, que havia sido soldado na expedição de Pero Coelho quando era ainda muito jovem. Martim Soares Moreno havia feito amizade com um chefe indígena chamado Jacaúna e sabia falar a língua tupi. Graças a isso ele conseguiu o posto de Capitão-mor do Ceará e voltou para cá em 1611, acompanhado de uns poucos soldados e um padre. Graças a sua amizade com os índios ele foi capaz de construir um novo forte no Rio Ceará, chamado de São Sebastião. Muitos chamam Martim Soares Moreno de “fundador do Ceará”, embora na verdade o forte fosse muito pequeno e ele não tivesse força para fazer quase nada, dependendo da amizade com os índios para conservar o território. Ele, entretanto, garantiua posse das terras para a Coroa portuguesa com a ajuda dos índios que se aliaram com ele, expulsando contrabandistas e “piratas” franceses e holandeses que vieram aqui. 
Devemos lembrar, entretanto, que a posição dos portugueses aqui era ainda muito precária e que eles, de fato, não controlavam a maior parte das terras. Martim Soares foi capitão-mor do Ceará entre 1611 e 1631, mas passou muitos anos nesse período lutando no Maranhão e esteve duas vezes na Europa. Enquanto ele se ausentava a capitania invariavelmente decaia, com o forte e os soldados em péssimo estado e os índios muitas vezes tornando-se hostis aos outros portugueses. A única atividade econômica desenvolvida era a agricultura e a pecuária de subsistência e, esporadicamente, a coleta de âmbar e madeiras. A influência da colonização portuguesa nesse período estava limitada às imediações do forte, ou seja, nas imediações de onde hoje fica Fortaleza.
O sucesso de Martim Soares pode ser entendido porque, ao contrário de seu antecessor, ele procurava tratar os índios como aliados e não os escravizava. Ao invés de um grande conquistador e fundador do Ceará, como se costuma dizer, Martim Soares Moreno foi mais um homem que soube se adaptar às condições que encontrava, aliciando os índios a lutar do seu lado.
A guerra com os holandeses:
Quando Martim Soares Moreno saiu do Ceará em 1631, alguns grupos indígenas começaram a se opor aos portugueses. Assim, esses índios foram até Recife e conseguiram que o Conde Maurício de Nassau, governante dos holandeses no Brasil, enviasse uma força para conquistar o Forte de São Sebastião e expulsar os portugueses. Assim, os holandeses conquistaram a capitania do Ceará em 1637, novamente com a ajuda indígena. Os primeiros comandantes holandeses foram o Tenente Hendrik van Ham e Gedeon Morris de Jonge. Esse último foi morto no começo de 1644, durante uma rebelião indígena que matou todos os holandeses que estavam no Ceará. Por alguns anos os índios do Ceará não quiseram saber nem dos portugueses nem dos holandeses. 
Em 1649, entretanto, uma nova expedição holandesa chega ao Ceará comandada por Mathias Beck, que restabelece a amizade com os índios e pode, assim, reocupar a terra. Mathias Beck tem um papel importante porque foi ele que desistiu de manter o forte na antiga localidade originalmente escolhida por Pero Coelho e Martim Soares, na Barra do Rio Ceará. Foi ele quem trouxe o que restava daquele forte para construir um novo, chamado Forte Schoonemborch, localizado onde hoje fica a sede 10ª Região Militar, no centro da cidade de Fortaleza. Quando os holandeses no Brasil se renderam em 1654, aquele forte foi passado para as mãos dos portugueses, sendo rebatizado de Fortaleza da Nossa Senhora da Assunção. Foi ao redor desse forte que surgiu a atual capital do estado, Fortaleza. É por esse motivo que Mathias Beck foi conhecido, durante muito tempo, como “fundador de Fortaleza”, embora o termo seja um pouco enganador. Beck não fundou uma cidade, sendo meramente comandante de um forte e de uma pequena guarnição de soldados. A cidade que daria origem à Fortaleza foi se formando aos poucos, ao redor do forte, depois que este foi reconquistado pelos portugueses e não há um único homem responsável pela sua fundação.
Primeiras atividades econômicas:
Tanto os portugueses quanto os holandeses esperavam encontrar grandes riquezas nas terras do Ceará. Pensava-se que havia minas de ouro e prata no estado, especialmente na Ibiapaba. Outros produtos também eram vistos como possíveis alternativas de lucro, como o pau-violeta e outras madeiras nobres, o sal e o âmbar-gris. Martim Soares Moreno e Gedeon Morris de Jonge, um português e um holandês, também achavam ser possível plantar cana em alguns lugares e ter um engenho para fazer açúcar. Desde as primeiras expedições também se reconheceu o potencial da capitania para a criação de gado. Nenhuma dessas atividades, entretanto, foi realizada com sucesso nas primeiras décadas da capitania. A falta de mão-de-obra e materiais, a guerra entre holandeses e portugueses e a distância dos outros centros populacionais do Brasil fizeram com que essas mercadorias fossem pouco exploradas. Não deve-se dizer, entretanto, que não havia atividade econômica na capitania desse período, apenas que era uma atividade muito limitada.
A partir de 1678, começam a serem doadas as primeiras sesmarias no Ceará, inicialmente na ribeira do Rio Jaguaribe. Essas sesmarias dariam origem às primeiras fazendas de criação de gado, que seriam nos anos seguintes a maior fonte de receitas para o estado. 
O papel estratégico de Fortaleza:
Desde os primeiros anos da colonização que a região onde hoje se localiza Fortaleza era importante para a capitania. Por que será isso? A resposta a essa pergunta tem várias partes, mas a mais importante é porque o local tinha uma posição estratégica que fazia a ligação entre as capitanias de Pernambuco e do Maranhão. Devido às correntes marítimas e os ventos predominantes na região, a navegação entre o Maranhão e Pernambuco era difícil e, às vezes, muito demorada. Assim, procurou-se estabelecer tanto um caminho por terra que ligasse as duas regiões quanto alguns portos de apoio onde os barcos que faziam a viagem pudessem parar para descansar e se reabastecer. A região onde hoje fica Fortaleza, a meio caminho entre São Luís e Natal, cumpria esses objetivos estratégicos. Localizava-se também perto de cursos de água doce permanentes, como o Rio Ceará e o Riacho Pajeú e tinha um porto natural que servia para barcos de pequeno e médio porte. A posição de ambos os fortes construídos, o de São Sebastião e o Schoonemborch, também facilitava a defesa contra os índios que procurassem atacá-los. 
Essa posição estratégica fez com que a região de Fortaleza fosse, sempre, importante para a Capitania. O poder militar da capitania sempre esteve concentrado no forte e nas aldeias indígenas circundantes, das quais já falamos. O capitão-mor, governante da capitania, esteve sempre localizado no forte, reforçando sua importância. Foram esses fatores que levaram a cidade a manter sua importância, apesar de ter sido pobre e economicamente inferior às outras vilas durante mais de dois séculos. 
Consolidação do domínio português (1678-1720)
Com a expulsão dos holandeses, a capitania volta a ser parte do Império Português. Isso não significa, por outro lado, que os portugueses dominavam efetivamente a terra. O que se assegurou foi a posse da terra frente aos competidores europeus. O processo colonizador só se realizaria, entretanto, com a subjugação e a integração do território e das populações indígenas ao mundo colonial, um processo brutal que foi conduzido, de grosso modo, entre as décadas de 1670 e 1720. 
Para consolidar esse domínio os portugueses usaram tanto da força das armas, contra as tribos que tentavam resistir ao processo de colonização, quanto da força da religião, para “pacificar” as tribos vencidas ou aliadas. Em certas ocasiões a Cruz (representada pelos aldeamentos jesuíticos), confrontava-se com a Espada (representada pelas milícias e pelos funcionários reais) pelo direito de saber qual das duas decidiria o futuro das terras e seus habitantes, mas na maior parte do tempo havia colaboração estreita entre as duas instituições. Pela força da cruz e da espada a população indígena era enquadrada na sociedade colonial ou exterminada. 
A Guerra dos Bárbaros e o ataque a vila do Aquiraz:
Entre 1686 e o começo da década de 1720 houve numerosos levantes indígenas nos sertões das províncias do Ceará, Rio Grande Norte e da Paraíba. Na época as autoridades portuguesas pensaram estar lidando com um único levante geral, que eles acabaram chamando de “Guerra dos Bárbaros” (porque a maioria dos índios revoltados era tapuia, portanto, bárbaros segundo a imagem portuguesa), embora hoje saibamos que a “Guerra dos Bárbaros” foi formada por diversos conflitos menores interligados, mas não iguais. Desses conflitos resultou um dos maiores extermíniosindígenas da história do Brasil, um verdadeiro banho de sangue do qual as populações indígenas dessas províncias jamais se recuperaram. O estado da Paraíba, por exemplo, não possui nenhuma tribo indígena reconhecida pelos órgãos governamentais atualmente, tal o grau de extermínio ali perpetrado.
O conflito começou em 1686 no Rio Grande do Norte, com um levante em grande escala de índios na ribeira do rio Açu. Os grupos indígenas saquearam fazendas, mataram e capturaram gado, executaram fazendeiros, vaqueiros e escravos e destruindo o que eram capazes. O levante continuou e se espalhou, chegando mesmo a derrotar as forças de milícia locais dos colonos, botando a cidade de Natal praticamente sobre cerco. O levante se espalhou pela ribeira do Jaguaribe, no Ceará, e para a Paraíba e partes de Pernambuco, tornando-se tão sério que forçou o Governo Geral do Brasil a convocar tropas mercenárias para combater com os índios. Esses mercenários contratados pelo governo eram bandeirantes paulistas como Domingos Jorge Velho, que havia anteriormente destruído o Quilombo dos Palmares. As tropas dos bandeirantes paulistas eram, em grande parte, formada por indígenas também, índios aliados ao processo colonizador. 
Ao Ceará vieram os bandeirantes João Amaro Maciel Parente e o Mestre-de-campo Manuel de Morais Navarro, que se juntaram aos comandantes locais como o Coronel João de Barros Braga, comandante do regimento de cavalaria de milícia do Jaguaribe. O Mestre-de-campo Manuel de Morais Navarro é conhecidos por matar 500 índios paiacus, já catequizados, num massacre sem sentido ocorrido na ribeira do Jaguaribe. O coronel João de Barros comandou uma das mais efetivas milícias locais do Ceará, chamada na época de Cavalaria do Certam (Cavalaria do Sertão), formada basicamente por mestiços e índios aliados dos portugueses. Foi o coronel João de Barros um dos principais responsáveis pela “limpeza” das ribeiras do Jaguaribe e do Cariri de índios hostis e, posteriormente, conduziu a “guerra justa” que a Coroa decretou contra os Anacés. 
Em 1712 houve, no Ceará, novo levante indígena, aparentemente resultado do assassinato de um filho de um líder indígena por um português. Grande parte dos índios ainda não catequizados ou aldeados no Ceará se juntou à nova rebelião, fato que foi agravado pela recusa de muitos índios aldeados, teoricamente aliados dos portugueses, de se meterem no conflito, deixando a defesa das terras para as milícias portuguesas. Os índios novamente atacaram, pilharam e destruíram fazendas isoladas e chegaram a atacar Aquiraz, a primeira vila do Ceará e uma das regiões mais povoadas do Ceará na época. Cerca de duzentos homens morreram tentando defender-se dos índios enquanto o resto da população correu para procurar proteção no Forte de Nossa Senhora, em Fortaleza. O ataque à vila do Aquiraz seria, entretanto, a última grande ação armada de grupos indígenas contra o governo da colônia. O levante foi eventualmente esmagado pelas milícias portuguesas e houve grande número de mortos e escravizados entre os índios.
Aldeamentos :
Além da subjugação e do extermínio dos grupos indígenas através da escravidão e das guerras, havia outros caminhos que a Coroa tomava para pacificar e tornar produtivas as terras do Brasil. Essa alternativa, preferida pela Coroa inclusive, era a evangelização dos índios e a sua inclusão na sociedade colonial que nascia, formada por brancos, mestiços e índios e negros incorporados. O principal instrumento para a catequização era o aldeamento, organizado pioneiramente pelos padres da Companhia de Jesus, os Jesuítas. Eram levados para os aldeamentos os índios derrotados em guerras, as crianças e as mulheres, bem como índios que fulgiam dos colonos e buscavam refúgio contra a morte ou escravidão dentro dos aldeamentos, outro tanto de índios era aldeado por sua própria vontade, após serem catequizados por algum padre missionário.
O maior aldeamento do Brasil ficava localizado no Ceará, especialmente na serra da Ibiapaba. Vários outros aldeamentos existiam, como os quatro aldeamentos defensivos que cercavam Fortaleza: Parangaba, Caucaia, Monte-Mor Velho (atualmente Pacajus) e Paupina (atualmente Messejana). Existiam aldeamentos também em Almofala, Iguatu e Baturité, entre outros. O objetivo desses aldeamentos era tirar os grupos indígenas de sua rotina e seus modos de vida tradicionais, expulsando os líderes religiosos (pajés, etc), misturando diversas tribos num mesmo aldeamento, forçando-as a falar um idioma em comum e vigiando seus hábitos e modo de vida. O objetivo era “destribalizar” os índios para facilitar o processo de catequização. A vida no aldeamento era marcada por rígidos ciclos de trabalho, oração e vida familiar, tudo sob a direção das autoridades eclesiásticas.
Os índios no aldeamento ficavam submetidos à supervisão de um jesuíta e eram incorporados ao mercado colonial como força de trabalho, seja para manter as plantações e os currais da própria Companhia de Jesus, seja como força de trabalho a ser “alugada” pelos colonos. Era também esperado que eles pegassem em armas para defender os colonos contra ameaças, tais como invasões de outros países e ataques de índios hostis. É por essa razão que muitos aldeamentos foram construídos ao redor de Fortaleza, pois assim concentravam-se índios perto da sede da capitania, ao alcance do Capitão-mor para serem usados em caso de emergência. 
A difusão da religião católica ajudava o projeto colonizador, embora não seja correto dizer que a cultura indígena foi destruída pelo contato com os europeus e suas crenças. Pelo contrário, os povos indígenas mantiveram muitos de seus hábitos e crenças, absorveram alguns dos hábitos e crenças européias e rearranjaram outros para que se adaptassem a eles. Muitos traços da cultura indígena ainda podem ser encontrados nos costumes populares, no artesanato, na práticas medicinais e na religiosidade popular. Por outro lado, não podemos esquecer que a língua, os costumes e a religião portuguesa foram implantados com a ajuda da força e da coerção. Os índios que não se adaptavam estavam fadados ao extermínio. 
Papel de fortaleza no período:
Fortaleza, embora ainda fosse habitada praticamente apenas pelo Capitão-mor e pelos soldados do forte, adquiriu certa importância no período. Em primeiro lugar, a própria presença do Capitão-mor, que ganhava cada vez mais poder, tornava o lugar importante. Em segundo lugar, Fortaleza passou a servir como refúgio contra os ataques indígenas (como aquele realizado contra Aquiraz em 1712), bem como fornecedor de soldados e índios para serem usados nas guerras de conquista ou punição contra tribos indígenas do sertão. Nessa época a cidade continuava possuindo pouca atividade econômica e os únicos prédios importantes eram o Forte de Nossa Senhora da Assunção e uma meia dúzia de sobrados erguidos pelos cidadãos mais abastados. Somente em 1726, quando a cidade foi erguida ao status de Vila, recebeu seu pelourinho e um prédio (ainda bastante rústico) para servir de Casa de Câmara (o forte servia de cadeia). É inegável, porem, que a cidade adquiriu nova importância por sua posição estratégica e pela relevância política que advinha da presença do Capitão-mor e outros oficiais régios. 
Caminho para a independência (1720-1820)
Organização administrativa da capitania
A administração da capitania era formada por diversas instâncias. Primeiro, havia o Capitão-mor, responsável pelo controle militar e administrativo da capitania. Ele comandava a guarnição do forte e devia zelar pela defesa contra inimigos externos. Ele era também responsável pela manutenção da paz na capitania, garantido a segurança dos funcionários régios. Devido à subordinação do Ceará à Pernambuco, o capitão-mor tinha que pedir autorização daquela capitania para poder realizar algumas atividades. Era também papel do Capitão-mor nomear e supervisar os capitães da milícia, chamados de capitães-de-ordenança. Esses homens comandavam as tropas formadas por todos os homensadultos, livres e em boa condição financeira que havia na capitania. As milícias eram o principal instrumento de poder local e, conseqüentemente o cargo de capitão-de-ordenança era muito valorizado. O Capitão-mor da capitania exercia seu poder de nomear esses cargos como uma ferramenta política, barganhado com os poderes locais. Os poderes do capitão-mor, embora supervisionado por Pernambuco, eram enormes. 
Embora muito poderosos, os capitães-mores raramente eram homens da terra e sim portugueses apontados para um mandato de três anos. Assim, eles muitas vezes entravam em choque com os poderes locais, representados principalmente pelas Câmaras das vilas. A primeira vila do Ceará foi fundada em 1700, em Aquiraz. Fortaleza foi a próxima, elevada à condição de vila em 1726 (é nessa data que se comemora o aniversário da cidade). Entre 1738 e 1789 foram elevadas as seguintes vilas: Icó, Aracati, Viçosa do Ceará, Caucaia, Parangaba, Messejana, Baturité, Crato, Sobral, Granja e Quixeramobim. A criação das vilas tinha o objetivo de limitar os poderes dos capitães-mores, bem como ajudar na arrecadação de impostos e no recrutamento das milícias (cada vila formava um “termo”, onde eram recrutados os milicianos). 
Havia ainda um terceiro poder administrativo que agia na capitania. Era o Ouvidor, responsável pela administração da justiça. O cargo de ouvidor é semelhante ao de um juiz atual, embora com algumas peculiaridades. Até 1723 o Ceará não teve ouvidor, enquanto a função era exercida por um ouvidor de Pernambuco. Mesmo depois de 1723, por muito tempo, o Ceará foi formado por apenas uma Comarca e possuía, portanto, apenas um ouvidor para toda a capitania. Sua função era a de percorrer as diversas vilas e arraias e administrar a justiça. O processo todo era, claramente, muito precário. Piorava a situação o fato de que muitos ouvidores eram corruptos ou tomavam parte nas brigas que envolviam famílias no sertão, como o caso clássico do primeiro ouvidor do Ceará, José Mendes Machado. Este ouvidor tomou parte na rixa entre as famílias Montes e Feitosas, ajudando esses últimos sempre que pode. 
Independência de Pernambuco
Durante todo o século XVIII o Ceará foi uma capitania subordinada à Pernambuco. Isso significava que as comunicações com a Coroa, as ordens e o aparato administrativo eram subordinados ao capitão-mor de Pernambuco. Isso se refletia também na economia, pois o Ceará era proibido de negociar diretamente com Portugal ou com as outras colônias portuguesas. Assim, todo o comércio do Ceará era intermediado por Recife. Nossos produtos de exportação eram primeiro enviado para Recife, para depois serem mandados a seus destinos e nossas importações vinham também de Recife. 
Essa situação perdurou durante todo o século XVIII, apesar de muitas reclamações por parte da elite local para que a situação fosse mudada. O poder político de Pernambuco e os interesses dos comerciantes ligados com a praça comercial do Recife tornaram difícil a separação do Ceará, que só foi conseguida em 1799. A partir daí a administração cearense passou a se comunicar diretamente com a metrópole e, mais importante, os portos cearenses passaram a ter o direito de negociar por conta própria, o que significava maiores possibilidades econômicas para a capitania. Essa separação, evidentemente, não foi imediata. A influência econômica de Recife no Ceará ainda era muito forte e a região do Cariri, em especial, continuou profundamente ligada à Pernambuco, como ficou demonstrada pela adesão das elites daquela região aos movimentos de 1817 e 1824, organizados em Pernambuco. 
O movimento de 1817
A chamada Revolução de 1817 que aconteceu em Pernambuco era um movimento de anti-colonial, de cunho liberal e republicano, influenciado pelos ideais da Independência Americana e da Revolução Francesa. Era um movimento organizado pelas elites pernambucanas, insatisfeitas com a decadência político e econômica de sua capitania, pela crescente centralização monárquica e pela cobrança de tributos. Grande parte da força do movimento partiu da raiva que a população e a elite pernambucana sentiam pelos comerciantes portugueses que praticamente dominavam todo o comércio da região. A influência dos padres formados no Seminário de Olinda também foi decisiva na organização do movimento. Não se pode pensar, entretanto, que fosse um movimento que quisesse seriamente mudar a situação social interna da capitania. O movimento acabou exercendo atração sobre certos setores da sociedade cearense, especialmente na elite latifundiária do Cariri, liderados pela família Alencar. 
Achava-se que a capitania do Ceará podia aderir em peso a revolta, e foram enviados embaixadores de Pernambuco com destino a Icó e Aracati para tentar convencer essas vilas a juntarem-se ao movimento, o que não foi bem sucedido. Apenas a família Alencar e o Cariri aderiram a revolução, mas sua pequena insurreição foi derrotada em apenas oito dias pelas forças organizadas pelo Governador Manuel Inácio de Sampaio, um fiel monarquista. 25 pessoas foram presas mas acabaram sendo anistiadas em 1821, ao contrário da maioria dos líderes pernambucanos, que foram mortos. 
Fortaleza no período
Fortaleza continuou sendo uma região de pouca atividade econômica durante boa parte do período, mas continuou concentrando muito do poder político da capitania. A cidade era ainda muito pequena e pobre, mas crescia de maneira cada vez mais rápida. Em 1812 o governador da província, Luís Barba Alardo de Meneses, realizou um censo da população da capitania e descobriu que as vilas Fortaleza e Aquiraz tinham, cada uma 10 mil habitantes, comparadas com apenas 5 mil em Aracati. Apesar dos dados desse censo serem muito precário, temos uma idéia de como a cidade cresceu no período. Especialmente depois da independência de Pernambuco, foram feitas reformas no Forte, foi criada uma bateria de canhões no Mucuripe para proteger o porto, caminhos e estradas foram abertos e tentou-se melhorar o caminho que levava do porto do Mucuripe até o Forte. 
Em 1808, após a abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional, Fortaleza (e os outros portos da capitania) passou a receber navios que vinham ou iam diretamente para a Inglaterra, para outros países europeus e para os Estados Unidos. Esses navios vinha, principalmente, por causa do algodão, do couro e, em menor medida, pelo café que era exportado do Ceará. Esse novo fluxo de navios ajudou a dinamizar a economia da capitania. Fortaleza começava a se afirmar como importante centro comercial e econômico, além de político, situação que se confirmaria ao longo do século XIX. 
Atividades econômicas
Primeiras atividades:
Antes da chegada dos europeus ao Ceará, os diferentes povos indígenas viviam em um sistema econômico muito simples, voltado para a subsistência. Havia caça, pesca, coleta de frutos e alguma agricultura. Os índios não possuíam animais domesticados. Eles faziam roupas e outros instrumentos, bem como algum artesanato. Os principais materiais eram o algodão, a madeira, penas e couros de animais, bem como pedras. O metal era desconhecido. 
Desde as primeiras expedições, os europeus tentaram implantar novas atividades econômicas, atividades de caráter mercantilista voltadas para a produção de um excedente produtivo que pudesse ser exportado e gerasse lucro. Esse sistema, claro, era completamente diferente do modo de vida praticado pelos indígenas anteriormente. Nos primeiros anos da capitania, os portugueses e holandeses tentaram produzir diversos produtos coloniais. Cana-de-açúcar, madeiras (como o pau-violeta), âmbar-gris, sal, gado e, principalmente, a procura por minas de prata e ouro. Nenhuma dessas atividades foi muito bem sucedida nos primeiros anos, por diversos motivos. As minas que se achavam existir não foram encontradas, o solo na maior parte da capitania não era propício para a cana-de-açúcar, o âmbar-gris, embora valioso, era encontrado em pequenas quantidades e a madeira tinha um valor baixo e também quantidadelimitada. Somente o gado e a agricultura de subsistência (mandioca e outros vegetais) foram bem sucedidos nesses primeiros anos, mas limitados aos arredores do forte. 
A expansão da pecuária:
A primeira atividade econômica significativa do Ceará foi a pecuária, que começou a crescer no Ceará nas últimas décadas do século XVII. A pecuária, no Brasil, era uma atividade econômica secundária, mas extremamente importante. Ela fornecia parte da alimentação da população, bem como fornecia os bois usados nos engenhos e nas carroças usadas para transportar todo tipo de material. O couro era também aproveitado. Inicialmente o gado foi criado próximo ao litoral, na zona da mata nordestina, ao lado dos canaviais e das plantações de mandioca e outros alimentos. A quantidade de terras férteis, entretanto, era limitada e os canaviais tinham preferência, pois o açúcar era a principal mercadoria exportadora e geradora de lucro da colônia. Assim, o gado foi sendo movido para o sertão, chegando então ao Ceará.
Vieram, para o Ceará, basicamente duas correntes de povoadores ligados a agropecuária. Uma era a chamada rota do “sertão de fora”, próximo ao litoral, desenvolvida principalmente por pessoas vindas de Pernambuco. Essa rota chegou ao Ceará na foz do Rio Jaguaribe, próximo ao mar e adentrou nos sertões por ali. A segunda rota, chamada do “sertão de dentro”, partia do médio São Francisco, uma região ligada à Bahia, indo em direção ao rio Parnaíba (no Piauí), essa rota chegou à nascente do Jaguaribe no Ceará e acabou se encontrando com a rota do sertão de fora. A ocupação das terras era feita mediante a expulsão ou extermínio dos grupos indígenas que habitavam originalmente aqueles lugares, mediante os aldeamentos ou a guerra. Assim, o gado foi o grande responsável pela “conquista do sertão”, ou seja, o processo de expulsão e extermínio da população indígena e a implantação da povoação mestiça e branca portuguesa.
As terras eram concedidas pela Coroa portuguesa para os colonos mediante o sistema de sesmarias, onde o colono apenas precisava pedir as terras e ter os meios necessários de povoá-la (ou seja, ter dinheiro e homens). Assim, a terra não tinha nenhum custo, era vista como coisa praticamente ilimitada, vazia, bastando expulsar os índios. As sesmarias no sertão eram, via de regra, muito grandes e sempre eram delimitadas a partir de algum dos rios mais importantes. Elas deram origens às enormes “fazendas de criar”, com seus currais nas beiras dos rios. O mais importante desses rios era o Jaguaribe e seus tributários e, em seguida, o Acaraú. 
Até 1750, de modo geral, o gado era levado para os mercados consumidores ainda vivo e abatido no local. Essa era a chamada “carne verde” e seu principal mercado consumidor era a capitania de Pernambuco, embora os rebanhos também fossem levados para outros pontos, como a Bahia. As grandes boaiadas percorriam o sertão na época propícia, marchando para seus locais de destino, onde seriam usadas como animais de carga ou abatidos para o consumo. Os lugares onde essas boiadas se concentravam, as regiões onde elas paravam e se abasteciam, deram início as primeiras povoações do Ceará longe de Fortaleza, tais como Icó, Sobral e Quixeramobim. 
De modo geral, os donos das grandes fazendas de gado raramente moravam nelas, preferindo manter casas nas vilas ou mesmo em outras capitanias. O trabalho de criar e cuidar do gado eram delegados para um empregado denominado de “vaqueiro” e sua família. O vaqueiro era, em geral, um homem pobre e livre, branco, mestiço ou negro liberto. Muitos índios também se tornaram vaqueiros, incorporando-se ao processo colonial como “caboclos”. O vaqueiro não recebia pagamento regular, sendo sua principal forma de pagamento o sistema de “quarteação”, ou seja, um em cada quatro bezerros nascidos na boiada era do vaqueiro, enquanto os outros três eram do proprietário. O vaqueiro, assim, vendia o seu gado para obter seu sustento ou tentava juntar uma pequena boaiada para conseguir a independência do fazendeiro, o que era raro. Nas grandes fazendas havia também alguma agricultura, de mandioca e outros produtos para a alimentação local, geralmente executada pelas mulheres e crianças com a ajuda dos homens nas épocas em que os bois ficavam soltos no sertão. Quando os proprietários moravam nas fazendas, costumavam haver outros agregados da fazenda e mesmo escravos domésticos. A vida nessas fazendas era sóbria e sem luxos, mesmo para os fazendeiros, e a vida dos vaqueiros e outros empregados era de um trabalho duro e constante, marcado também pela falta de segurança. Uma seca podia dizimar os rebanhos e levar os vaqueiros a perder tudo que possuíam. 
O gado se adaptou bem ao sertão e era criado solto, com poucos cuidados. Os rebanhos dos diversos fazendeiros e dos vaqueiros se misturavam no sertão e, para separá-los, os vaqueiros se reuniam na época certa e percorriam o sertão para juntar o gado e separar as reses entre os diferentes fazendeiros. Isso era feito através da marcação dos bois com o ferro quente. Essa atividade de derrubar, separar e marcar os bois deu origem à vaquejada que ainda hoje é praticada no Ceará. O rebanho foi tornando-se cada vez maior. Em um testamento datado de 1723, o Capitão Félix da Cunha Linhares deixava para seus descendentes seis fazendas de criação, com 8000 cabeças de gado, por exemplo. 
As charqueadas:
Ao lado do sistema da venda do gado como “carne verde”, desenvolveu-se também a Charqueada, a produção do charque, ou seja, da carne seca. Embora não saibamos desde quando começou a prática, a expansão das charqueadas se deu a partir de 1740, mais ou menos. O clima da região litorânea; seco, quente, com ventos regulares e abundância de sal favorecia a produção do charque e as primeiras oficinas de charque foram sendo montadas ao redor de Aracati, na foz do Rio Jaguaribe. Dali, as charqueadas se expandiram para o Acaraú e o Coreaú, indo chegar até o Rio Grande do Norte e o Piauí. A maior parte da produção do charque, entretanto, concentrava-se no Ceará, de onde era exportado para as outras capitanias e até para a África e Portugal. A produção do charque alterou profundamente a economia e a sociedade cearense, como veremos.
O charque é um modo de melhor conservar a carne, através da preservação. Através da charqueada as boiadas não tinham que andar tanto para chegar aos locais de destino, o que era muito vantajoso porque nessas viagens o gado perdia muito peso e muitas cabeças se perdiam no caminho, pelos mais variados motivos (inclusive ataques indígenas). Essas viagens também só eram possíveis em determinada época do ano, o que limitava o escoamento da produção. Com a instalação das oficinas de charquear o gado podia ser levado até Aracati ou às outras vilas que possuíam as oficinas e colocado em fazendas de engorda antes de ser abatido e transformado no charque. Essa atividade levou a uma maior divisão do trabalho na capitania, surgindo assim o setor dos criadores e dos vaqueiros, o setor dos charqueadores e seus empregados, que trabalhavam nas oficinas e o dos comerciantes que intermediavam a exportação do charque pelos navios e a importação dos produtos que a capitania precisava. Duas vilas tornaram-se os grandes centros da produção e comercialização do charque no Ceará: Aracati e Sobral. Aracati, em particular, tornou-se a maior e mais rica cidade do Ceará graças ao charque. 
A produção do charque era uma atividade complexa que envolvia as fazendas de engorda, os abatedouros, as oficinas de charqueamento propriamente ditas, as áreas de secagem e preparação dos couros e armazéns, além dos portos necessários para embarcar os produtos. Das vilas onde o charque era produzido eram exportadas a carne seca e os couros, e importados o sal necessário para a fabricação e todo tipo de produto a ser usado na capitania, desde comidas e bebidas até roupas, instrumentos de trabalho e mobília. As charqueadas, entretanto, começaram a entrar em decadência no final do século XVIII. As secas de 1777-78 e 1790-93reduziram drasticamente o rebanho cearense e o processo de fabricação do charque foi levado do Ceará para o Rio Grande do Sul por um morador de Aracati, fazendo com que a competição com o produto gaúcho rapidamente destruísse grande parte da indústria do charque. 
O algodão:
Já existia, na América, uma variedade de algodão antes da chegada dos europeus. Ele era usado pelos índios na fabricação de tecidos para suas roupas. Os portugueses continuaram com essa prática, plantando e usando o algodão para a fabricação de panos e roupas baratos, especialmente para os escravos. A expansão do algodão como mercadoria colonial, entretanto, só aconteceu no final do século XVIII. O principal motivo dessa expansão do algodão é ligada com o processo da revolução industrial que acontecia na Inglaterra. A primeira indústria a ser atingida pela revolução industrial foi justamente a indústria têxtil, que aumentou fenomenalmente a sua produção, daí necessitando cada vez de mais matéria prima. O algodão usado na Inglaterra originalmente vinha da Índia e das suas colônias americanas, mas os capitalistas ingleses estavam dispostos a comprar algodão a bom preço de onde quer que ele viesse. 
Durante a Guerra de Independência Americana, entre 1774 a 1783, a produção de algodão americana deixou de ser enviada à Inglaterra, o que aumentou o preço do produto e tornou o algodão do Brasil competitivo, aumentando bastante a sua produção e exportação. Até a segunda década do século XIX as relações entre os Estados Unidos e a Inglaterra continuaram abaladas e a exportação americana de algodão cresceu apenas aos poucos, embora acabasse dominando novamente o comércio de algodão mundial e causando uma crise na produção cearense. Houve um novo surto de crescimento na nossa produção de algodão, dessa vez mais curto, durante a Guerra Civil Americana (1861-1864), quando novamente a produção americana foi paralisada. Esse foi o chamado período dourado da cultura do algodão no Ceará. A partir daí a produção começou a decair, embora continuasse sendo o principal produto da pauta exportadora do estado ainda por muitos anos.
A cultura do algodão ajudou a povoar ainda mais o sertão, pois podia ser plantando nas áreas mais secas do planalto central e na região norte, onde a criação de gado era pequena. Na verdade, a cultura do algodão dava-se muito bem com a pecuária, pois permitia às famílias que trabalhavam com a pecuária plantar um pouco de algodão nas suas terras e obter alguma renda extra. Essa característica da cultura do algodão deve ser lembrada, ou seja, a de que ele também era plantando em pequenas e médias propriedades e não apenas nas grandes fazendas. Costuma-se usar a expressão “binômio gado-algodão” para designar as atividades econômicas do Ceará entre meados do século XVIII até fins do século XIX, tal era a importância desses dois produtos. 
A cultura do algodão, como já dissemos, era praticada tanto nas grandes fazendas especializadas como em pequenas e médias propriedades, paralelamente à pecuária e a agricultura de subsistência. A mão-de-obra usada era formada basicamente por pessoas livres, pobres, no sistema de arrendamento e por salário na época da colheita. A mão-de-obra escrava era usada ocasionalmente, mas não em grandes quantidades. A produção do algodão era escoada pelos principais portos do estado, ou seja, Aracati, Camocim (ligado a Sobral) e Fortaleza. Graças ao algodão é que Fortaleza começou a tornar-se economicamente importante no Estado, mas isso aconteceu principalmente durante o século XIX, depois da Independência. 
Escravidão no Ceará:
Como já dissemos antes, a maior parte da população cearense no período colonial era formada por trabalhadores livres com uma importante minoria escrava. A maior parte da mão-de-obra usada tanto na pecuária como na cultura do algodão era formado por mestiços e índios incorporados ao processo colonial, além de brancos e negros libertos ou forros. A mão-de-obra escrava concentrava-se em algumas atividades, especialmente a doméstica e, até certo ponto, nas oficinas de charqueadas. Os escravos eram mais comuns nas vilas do que no campo. Eles também eram usados nas áreas de serra onde se plantava café e em outras atividades de trabalho intensivo. 
Devemos lembrar que, apesar da mão-de-obra escrava não ter sido predominante no Ceará, ela foi de fato usada e havia um número expressivo de escravos na capitania, além de negros e mestiços libertos ou forros. 
O CEARÁ E O PERÍODO IMPERIAL
FIM DO PERÍODO COLONIAL NO CEARÁ
Em 1812 chega ao Ceará o Governador e Coronel Manuel Inácio de Sampaio e seu ajudante de ordens o tenente-coronel de engenheiros Antônio José da Silva Paulet, e suas primeiras realizações foram a reconstrução do Forte de Schoonenborch, que já tinha passado por outras tentativas de fortificações, com o intuito de impor em seu governo um sentimento de boa ordem a cidade, assim também ordenou que se levantasse a “Carta da Capitania do Ceará” e incluindo também a “A Planta da Villa de Fortaleza e seu Porto” , elaborada em 1818 por Silva Paulet.
O contexto de rebeldias e levantes na crise do sistema colonial não encontraria no Ceará muito apoio, devido a sua forte preocupação com a ordem e disciplina na província, o Governador Sampaio não obtinha muita simpatia em sua administração. Quando veio a Revolução Pernambucana de 1817, a sua ação foi logo de imediata a sufocá-la, organizando um sistema de repressão ao movimento enviando as tropas provinciais e prendendo seus líderes.
	
REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA – E A PARTICIPAÇÃO CEARENSE 
Em 1817 ocorre a Revolução Pernambucana, revolução esta de cunho elitista, que visasa a recuperação do prestigio político social e econômico de Pernambuco e a manutenção de seus interesses e privilégios na região. A Revolução Pernambucana pode ser encarada também com um movimento de libertação nacional, que almejava a libertação do Brasil de Portugal.
	Desde 1750 que a região nordestina passava por uma grave crise com a decadência de vários de seus produtos. O açúcar passava por uma pesada concorrência externa, fazendo com que caísse os lucros da produção, o algodão teve queda de preço devido a concorrência do algodão norte-americano, mais barato e melhor qualidade. A pecuária já vinha passando por dificuldades devido à concorrência dos criatórios de charqueadas na região sul.
	Além disto, a mudança da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, devido ás minas de ouro na região sudeste, colocou o Nordeste em segundo plano na administração colonial, somando-se a isto os pesados impostos cobrados para sustentar a Família Real e a Corte portuguesa que vieram para o Brasil em 1808.
	Todos estes fatores geraram um contexto de insatisfação e revolta nas elites pernambucanas, principiando uma revolta que se estenderia não só em Pernambuco, mas também entre as províncias que eram dominadas ou sofriam influência direta de Pernambuco. Assim os revolucionários diante de tantos problemas exigiam, a Independência e a Proclamação da Republica e da Liberdade de comércio para os comerciantes brasileiros e nenhum privilégio aos comerciantes portugueses. 
	A pesar da mobilização do movimento nas províncias que eram dominadas ou sofriam influência de Pernambuco, no Ceará a participação não foi tão intensa, a pouca mobilização entre as elites locais a desorganização da Igreja e a intensa repressão exercida pelo Governador Sampaio fizeram com que o movimento não obtivesse no Ceará muita repercussão, fazendo com que o movimento se isolasse quase que unicamente em uma região, o Cariri, e a uma família, os Alencar. 
	Com o apoio de Bárbara de Alencar, José Martiniano de Alencar e Tristão Gonçalves, o Cariri aderiu a Revolução, porém duraram apenas oito dias sendo sufocada pelas tropas imperiais, tendo os seus líderes presos e depois anistiados.
CONTEXTO CEARENSE NA INDEPENDÊNCIA
	Com a saída do Governador Inácio Sampaio, o ceará a partir de 1820, passou a ser administrado porFrancisco Antonio Rubim, durante o processo de Independência, que não se reduz só a data da mesma, mas a todo um contexto que a antecede e a sucede, o Ceará tivera repercussões políticas por conta deste período. O governador Rubim foi praticamente obrigado a renunciar, principalmente devido a sua falta de pulso firme e de posicionamento definido em relação ao que se passava.. Após a sua deposição, Francisco Xavier Torres foi o seu sucessor, realizando eleições para a escolha de representantes para a Província do Ceará na Assembléia Constituinte Portuguesa.
	Em novembro de 1821, o poder local foi entregue a uma Junta Governativa chefiada por José Raimundo do Paço Porbém Barbosa, ligado ao Partido Português e contrário as pretensões emancipacionistas brasileiras.
	Em julho de 1822, o Príncipe Regente D.Pedro determinou as eleições para formar uma Assembléia Constituinte brasileira. A junta cearense, porém, fiel ás Cortes Constituintes Portuguesas e as pretensões recolonizadoras destas, propositadamente passaram a demorar no pleito, fazendo crescer a ira dos líderes cearenses ligados a o Partido Brasileiro. Em virtude desta demora eclodiu no Crato um movimento contrário a administração de Porbém Barbosa.
	O Governo Provincial envia tropas para o Crato a fim de rebelar o movimento emancipacionista daquela região, pretensões estas ligadas aos Alencar, pretensões estas que aram ligadas a emancipação do Brasil de Portugal, assim podendo ficar livres do jugo Português e livres para dominarem a política e economia no Ceará, no caso contrários a Porbém Barbosa e sua Junta.
	Iniciou-se assim um confronto nos sertões do Cariri. Os rebeldes, ( ligados ao grupo dos Alencar ), conseguem derrotar as tropas governistas de Porbém Barbosa elegendo uma nova Junta Governativa para a Província do Ceará, esta favorável a Independência, e sob as ordens de Pereira Filgueiras. Coincidentemente naquele período chegara ao Ceará a noticia da Independência, em outubro de 1822 trazida por navios chega a noticia da independência, assim fazendo que não possibilitasse qualquer sentido de reação do governo provincial, fazendo que se esvaziassem as tentativas de Porbém Barbosa de manter o seu governo, assim renunciou e entregou o governo nas mãos de Francisco Xavier Torres, comandante das armas de seu governo.
	Pouco tempo depois o poder passa definitivamente para as mãos de Pereira Filgueiras e pouco tempo depois se elegeu uma nova Junta Governativa administrada por Pinheiro Landim, que em seu governo foi que a vila de Fortaleza foi elevada a categoria de cidade.
A SEDIÇÃO DE PINTO MADEIRA
	Para que se possa compreender a Sedição de Pinto Madeira no Ceará, é necessário que façamos um breve resumo do contexto histórico daquele período no país e na província naquele momento.
	O Brasil estava na administração de D.Pedro I, que devido a uma série de fatores via seu governo passar por um forte processo de desgaste político e econômico, que anteciparia fim de seu governo, o que veio a acontecer em 1831, quando então D.Pedro I abdica do seu trono em nome do seu filho o príncipe Pedro de Alcântara que naquele momento só contava com quatro anos de idade.
	A decadência das exportações do açúcar e do algodão somados a uma incompetência administrativa no âmbito financeiro e os inúmeros empréstimos externos, que acarretaram uma imensa crise político e financeira. Durante a menor idade de D.Pedro II, o Brasil passou a ser governado por um sistema de Regências (1831-1840), período este acarretado por várias turbulências devido as revoltas que ocorreram durante este período, tais como a Cabanagem no Pará, a Balaiada no Maranhão, a Sabinada na Bahia e a Farroupilha no Rio Grande do Sul. Toda estas revoltas se enquadram na luta de liberais radicais, as vezes com adesão da participação popular, outras de caráter elitista tendo alguma participação popular.
	Ao mesmo tempo, setores das classes dominantes que eram ligadas ao Partido Português organizavam revoltas, a fim de reconduzir D.Pedro I ao poder e é neste contexto em que devemos compreender a Sedição de Pinto Madeira. Com a abdicação de D.Pedro I, os liberais iniciaram uma perseguição aos partidários de D.Pedro I. No Ceará os liberais passaram a perseguir um dos partidários de D.Pedro, tratava-se do Coronel de Milícias Joaquim Pinto Madeira, poderoso latifundiário da Vila de Jardim no Cariri, que alcançara o posto de Comandante de armas do Crato e Jardim, devido a sua posição absolutista e defensor da presença do imperador no Brasil.
	Após a abdicação, os liberais do Cariri, iniciaram uma perseguição a Pinto Madeira cassando o seu posto de Coronel e deliberando a sua prisão. Dois motivos podem explicar o porquê da sedição; a primeira seria o choque entre os coronéis do Crato e Jardim que disputavam a hegemonia política daquela região, isto devido a fundação da Vila de Jardim que, segundo os liberais do Crato, restringiria o poder político e econômico do Crato formando dois blocos opostos pela disputa da hegemonia política na região. Pinto Madeira ganhara prestigio durante o primeiro reinado, prestigio este que estava ameaçado no período regencial, assim partindo para um confronto armado para não perder seu prestigio.
	Outro fator que caracterizou a Sedição foi a tentativa de trazer novamente ao poder o ex-imperador, D.Pedro I, que com certeza acirraria os ânimos, já que os liberais jamais aceitariam tal situação, e este confronto entre liberais e monarquistas se intensifica no Cariri entre as vilas do Crato e Jardim.
	Em 1832 “cabras” do Crato e Jardim iniciam uma batalha sangrenta nos sertões do Cariri, tomando dimensões que poderiam ser perigosas para o governo provincial. Apesar de toda a resistência, e de terem vencidos os cratenses, o exército de Pinto Madeira é vencido pelas tropas governistas, que resolveu intervir, onde em outubro de 1832, Pinto Madeira e o Padre Antonio Manuel Sousa acabam se entregando as tropas governistas.
	Em 1834, Pinto Madeira fora julgado e condenado pelo assassinato do liberal José P. Cidade, sendo fuzilado na Vila do Crato neste mesmo ano.
	O CEARÁ E A POLITICA NO SEGUNDO REINADO
Contexto
	Durante o Período Regencial, as elites cearenses se organizaram em partidos. De um lado, tínhamos o Partido Liberal, liderado pelo Senador Alencar que reunia os mais importantes e influentes latifundiários da Província. Do outro tínhamos o Partido Conservador, que reunia além de alguns fazendeiros (latifundiários), também comerciantes e militares.
	Os liberais governaram a província até 1837, sendo que durante este período, governaram José Mariano A. Cavalcante, que combateu e sufocou a Sedição de Pinto Madeira e José Martiniano de Alencar, ou Senador Alencar, controverso político que ao mesmo tempo se mostrava um bom administrador, promovia também uma severa perseguição política de seus adversários.
	Os conservadores comandaram a província nos últimos quatro anos do Período Regencial, sendo que com o Golpe da Maioridade, os liberais voltaram ao controle político do Ceará. Ao longo do Segundo Reinado, o quadro pouco se alterou no Ceará, este permaneceu comandado pelas oligarquias organizadas nos partidos Conservador e Liberal.
	Mesmo tendo, esses partidos, sofrido alguns rachas internos, como por exemplo, a divisão do Partido Liberal em Pompeus (sob o comando de Nogueira Accioly ) e os Paulas ( liderado por Rodrigues Júnior ) e o racha dos conservadores em graúdos e miúdos, praticamente não alteração e nem conciliação entre estes grupos na política cearense. Os grupos defendiam apenas os seus ideais, os partidos sem grande motivação ideológica ou posição própria, não passavam de instrumentos para os grupos elitistas se manterem no poder e defenderem os seus interesses. A máquina pública era, com freqüência, em eleições e política partidária.
	Com tudo isso, a grande prejudicada era a população, que sofria com a pobreza, a miséria, com a indústria da seca e a própria dependência desses oligarcas que seutilizavam do poder local.
	Pouco se viu de benefícios para as camadas mais populares, que em meio a tanta pobreza, tanto descaso e corrupção conseguiam sobreviver em meio a fome e a miséria do sertão cearense e ao esquecimento a que se fora submetido.
Política
	O Ceará viveu durante o século XIX, principalmente na Segunda metade deste, um momento de grandes mudanças, tanto em seus aspectos sociais como intelectuais. Novas idéias associadas ao cientifico e ao liberalismo estremeceram as estruturas tradicionais do poder e abriram o espaço para as novas idéias abolicionistas e republicanas. E é por considerar fundamental o estudo deste período que, que se torna premente compreender deste lócus de espacial os contextos político, sociais e intelectuais.
	Politicamente falando a estrutura estava montada como um Presidente da Província, nomeado pelo Imperador, além de um secretário de governo que também era nomeado por este. Existiam ainda três senadores e dez deputados ( responsáveis pela Representação nacional da Província ). Por fim a capital da Província de um prefeito nomeado de pelo presidente da província.
	Com a vigência de novas instituições políticas no Império, os fazendeiros passaram se integrar nas facções e partidos tomando cabo na disputa do poder provincial e local e ainda de todo o processo das eleições. Sendo assim, fazendeiros e latifundiários permaneceram durante o império, na chefia política da província, mantendo inalterado o quadro de controle político do Ceará nas mãos dos poderosos clãs de familiares oligarcas oriundos do período colonial, como os Monte, os Feitosa, os Pompeu, os Paula Pessoa e posteriormente oligarquia Accyolina.
	Como já foi explicitado anteriormente, esses fazendeiros e latifundiários se aglutinaram em dois diferentes grupos, o Partido Liberal (inicialmente comandado pelo Senador Alencar e posteriormente pelo Senador Pompeu ), que após a morte do Senador Pompeu o Partido Liberal se divide entre a representação política de duas famílias ou clãs, que eram os Liberais Pompeus e os Liberais Paulas. E o Partido Conservador que já fora explicitado anteriormente, após dissidências interiores também vai se subdividir em graúdos e miúdos.
Ora, os clãs familiares constituíam as elites na província cearense, principalmente se referindo aos aspectos políticos, sendo que esses grupos buscavam a todo custo manter-se no poder, preparando-se e preparando seus filhos para o ingresso na carreira política e assim a perpetuação de sua dominação política. Parafraseando a pesquisadora Celeste Cordeiro, o perfil do político “deveria preencher os seguintes pré-requisitos: ser um intelectual; pertencer a um clã familiar; ser cearense e não adventício aos meios; possuir dons oratórios; e ter apoio das personalidades da cúpula do Governo Central”. (CORDEIRO, Celeste. IN: SOUSA, Simone de. Uma Nova História do Ceará, Ed. Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza – Ce. 1999.
Enfim ser de família influente e estar preparado, já que a maioria possuía diplomação superior, ou seja, foram preparados por suas famílias, ou ingressarem na política e elitizarem seu grupo familiar, ou manterem seu grupo familiar no poder.
Economia e Sociedade
	Durante a segunda metade do século XIX, o Ceará teve com principais produtos de sua economia o algodão, atividade de destaque na província que atingiu seu auge neste período e ainda o café que fora cultivado principalmente nas Serras do Baturité, Maranguape e Araripe bem como a cera de carnaúba e borracha de maniçoba. O algodão teve seu auge de exportação entre os anos de 1870 e 1875, onde foram exportadas mais de 31 mil toneladas do produto. 
Esse crescimento, se deu a partir de 1860, quando fora incrementada pela procura exterior dos ingleses ( principalmente ) pelo produto, isso porque o seu maior fornecedor, no caso os Estados Unidos da América, estavam com a produção reduzida em decorrência de uma crise interna ocasionada pela Guerra de Secessão.
	A partir de 1875, os lucros com essa atividade caem na medida em que cai também o volume de exportação, isso porque a própria procura cai, já que os EUA voltam a produzir o produto com maior regularidade e retomam a preferência no mercado inglês e europeu como um todo.
	Mesmo com a queda do lucro e do volume de exportação, continua o Ceará a ter o algodão como principal produto de sua economia, fator de prosperidade principalmente para Fortaleza, por onde todo o algodão cearense era negociado para fora da província e para o exterior. Durante o período de safra e sua venda, o comércio fortalezense crescia demasiadamente, fazendo com que, com o passar do tempo, a capital se consolidasse como centro econômico e social do Ceará. 
	O historiador Airton de Farias em seu livro “História do Ceará – dos Índios a Geração Cambeba” enumera alguns fatores que podem nos auxiliar na nossa compreensão acerca da hegemonia político-econômica de Fortaleza iniciada entre os anos de 1820 e 1830, e consolidada na segunda metade do século XIX, são eles:
Os capitais acumulados com o comércio exportador de algodão, e em menor escala de outros produtos; café, borracha, couro, etc;
A condição de capital, o que transformara Fortaleza em destacado ponto político e para a recepção de obras e recursos políticos;
A construção e melhorias de estradas e ferrovias ( Estrada de Ferro Fortaleza – Baturité ) que ligavam Fortaleza ao interior, fazendo desses o centro coletor e exportador da produção sertaneja.
Observe que junto a este crescimento de Fortaleza, surgem as primeiras fábricas principalmente ligadas ao beneficiamento do algodão, que precisava ser aproveitado interiormente com a diminuição de sua venda para o exterior. As primeiras indústrias têxteis produziam tecidos para serem consumidos pelas camadas mais humildes da sociedade fortalezense. Além das fábricas ligadas ao algodão, surgiram outros de calçados, bebidas, chapéus, cigarros, etc.
No plano social urbano, temos a emergência de novos grupos elitistas, como burgueses ligados ao comércio, e ainda de uma classe média ( profissionais liberais, funcionários públicos, jornalistas, caixeiros, pequenos comerciantes, etc ) e um grande número trabalhadores pobres em atividade ou não.
No sertão, as relações sociais continuaram a se dar um regime de semi-servidão do sertanejo para com o latifundiário. Era uma sociedade pobre, antagônica e de relação brutal. A exploração e a violência política e material conviviam lado a lado, as massas continuavam subjugadas à vontade dos poderosos “coronéis”. A migração para os centros urbanos era uma constante, principalmente no período das secas abarrotando cidades como Fortaleza e Aracati de sertanejos que buscavam melhores condições de vida e fugiam da secura do sertão.
A cada grande seca, como as de 1877 e 1879, o sertão esvaziava-se, e a fome e a miséria castigavam a população.
A crise climática e a incompetência política em lidar com esta situação ( ou melhor, o descaso com a população mais pobre ) arruinava a criação e os roçados, e a miséria perseguia os sertanejos. Porém, ao mesmo tempo em que lhe traziam a desgraça e a miséria, traziam também a união para a reação, a devoção a religiosidade como única saída para superar tantas dificuldades. É nesse contexto que podemos observar os movimentos messiânicos ao redor de um beato ou um líder religioso. Exemplos deste tipo podemos perceber, com o Beato José Lourenço, Antonio Conselheiro, Padre Cícero e outros ( e é claro com as particularidades inerentes a cada região e movimento ). Os sertanejos buscavam o perdão dos pecados, seguiam os seus líderes por acreditarem que dessa forma, se livrariam do martírio que sofriam.
Vida intelectual de Fortaleza
	Fortaleza era uma região que na época não possuía mais que 30 mil habitantes, sendo que desses tinham condições culturais e educacionais e participar de sua vida intelectual. Mesmo porque poucas eram as instituições educacionais. Até 1870, apenas seis escolas estavam em funcionamento:o Liceu, O Ateneu, o Panteon, o Colégio Cearense ( para homens ), o Colégio Imaculada Conceição e o Cearense para mulheres.
	No plano intelectual, a instituição de maior expressão era a Biblioteca Pública, criada em 1865. Nas profissões liberais, existiam na década de 1870, advogados, médicos, farmacêuticos, dentistas e outros.
	A atividade jornalística contava com a atenção de seus jornais. Sendo eles Pedro II e Constituição (diários e conservadores ), Cearense e Jornal de Fortaleza ( diários e liberais ) e o Tribuna Católica e o Imparcial ( jornais semanais e católicos ), posteriormente teríamos circulando em Fortaleza os jornais; Fraternidade ( maçons ) e o Libertador ( abolicionista ).
ESCRAVISMO NO CEARÁ
	Se comparado a zona açucareira, á região das Minas, e os cafezais sulistas, o número de escravos no Ceará pode ser considerado pequeno, não excedendo ai a casa dos 35 mil cativos. Isso pode ser explicado pela de recursos da Província para a compra e cativos e ainda pelo pouco peso da mão-de-obra cativa na economia local, isso também se compararmos a importância dos escravos em outras regiões do Brasil.
	O escravo no Ceará era utilizado no Ceará principalmente nos serviços domésticos e na maioria das vezes eram mantidos por pura questão de status social. Não queremos dizer que com isso o negro fora insignificante na nossa economia, muito pelo contrário, não dá pra ignorar a presença do negro na pecuária, na cotonicultura, e na agricultura de subsistência. Acontece que a mão-de-obra escrava nessas atividades era utilizada em menor escala, e isto pode ser provado através de documentos da época, afinal, a pecuária com sua intensa mobilidade facilitava a fuga dos cativos, e dificilmente os senhores consentiam confiança aos seus escravos nessas atividades. Já a cotonicultura não era bastante convidativa, já que na era lucrativo usar tão cara mão-de-obra em uma atividade que era realizada apenas em certo período do ano. Optava-se pelo agregado meeiro e semi-servos.
	Porém, devemos perceber que os escravos não tinham importância econômica no Ceará, mesmo por que, apesar de estarem presentes em menor escala nestas atividades ( pecuária e cotonicultura ), não se pode descartara idéia de que eles também foram utilizados e no criatório e no cultivo de algodão.
 
O CEARÁ ENTRE 1850 E 1930 E FORTALEZA NA BELLE ÉPOQUE.
As Campanhas abolicionistas.
Os primeiros registros de ações abolicionistas no Ceará datam da década de 1850. Tratam-se de dois projetos apresentados à assembléia provincial por Pedro Pereira da Silva Guimarães, onde, a primeira (1850) foi repudiada e a segunda (1852), mesmo chegando a ser discutida foi rejeitada. No final da década de 1860 e início do decênio posterior, mudanças nos interesses de parte das elites locais fizeram surgir duas resoluções de cunho redentorista, sendo a de n.º 1254 de 1868 e a de n.º 1334 de 1870.
Em 28 de setembro de 1879, comemorando os 8 anos da "Lei do Ventre Livre", surgiu a Sociedade Perseverança e Provir, composta por membros ligados às elites da cidade de Fortaleza e a grupos economicamente emergentes. Essa sociedade promoveu ações emancipacionistas dos escravos negros através de arrecadações de recursos pecuniários para promover alforrias. No ano de 1880 era instalada outra sociedade abolicionista, denominada Sociedade Cearense Libertadora. Esse grupo tinha João Cordeiro como figura de destaque, além de tomar atitudes mais radicais, ficando conhecido, esse grupo, por abolicionistas carbonários. O meio de difusão das idéias desse grupo foi o jornal "O Libertador" de 1881. Em 1882, surge o Centro Abolicionista, no qual seus membros ficaram conhecidos como abolicionistas moderados. Nesse mesmo ano, formou-se nas chácaras do Benfica a sociedade feminina das Cearenses Libertadoras. A partir de 1883 diversos municípios cearenses alforriaram seus escravos, começando por Acarape (atual município de Redenção). Esse dado foi contestado na época pelo jornal "O Libertador" de 1º de janeiro de 1884. Havia uma disputa entre esses grupos abolicionistas pela legitimidade de suas ações.
O contingente de escravos negros no Ceará era bem menor que noutras províncias e boa parte dos escravos eram domésticos, pois ter um escravo negro era sinal de "status". O "Tráfico Interprovincial" e a mudança da utilização do cativo negro por outros trabalhadores contribuíram para o fim da escravidão negra no Ceará. As razões da abolição estão mais próximas dos interesses político e econômicos das elites locais do que uma mera filantropia.
O Movimento Republicano no Ceará.
O republicanismo no Ceará era pouco expressivo até a Proclamação da República. Com uma forte tradição conservadora no Ceará, as instituições monárquicas e o legalismo tinha muita força. Assim, a primeira iniciativa de cunho republicano que surgiu no Ceará da segunda metade do século XIX foi um artigo de Papi Júnior, publicado em 26 de julho de 1889 no Seminário Crítico e Literário fundado por Antônio Sales, Virgílio Brígido, José Carlos Jovino Guedes e o próprio Papi Júnior. Dessa iniciativa surgiu o Centro Republicano do Ceará, onde, Joaquim Catunda era o Presidente, Gonçalo de Lages era o Vice-Presidente, Antônio Cruz era o tesoureiro, Horácio Moreira e João Cordeiro eram 1º e 2º secretários, respectivamente. Esse grupo, que contava com a participação de mais de 20 pessoas eram os chamados "Republicanos Carbonários".
A pouca expressividade desse grupo não trouxe preocupações aos republicanos de última hora, formados pelas as facções liberais e conservadores que aderiram ao novo regime e traçavam estratégias para continuarem exercendo o poder. De início, esse grupo tratou de ingressar no Centro Republicano, mas, foram repudiados pelos jovens Republicanos Históricos. Pois, segundos estes, aceitar os adeístas na agremiação seria aceitar o roubo e o ludibrio.
Os antigos políticos da monarquia sabiam que era impossível se colocarem na condição de primeiros republicanos, mas, sabiam que era preciso de instituições, onde, fossem possíveis exercerem seu poder e liderança. Esse intuito não passava desapercebido dos Republicanos Históricos, que logo tentaram transformar o Centro Republicano num partido político, que deveria abranger os outros clubes republicanos que surgissem e teriam que estarem ligados por rigorosas relações de dependência a agremiação mais antiga. Assim, travou-se ataques entre o Centro Republicano e os adeistas através dos meios de comunicação, onde, cada grupo procurava se mostrar mais legítimo que o outro.
Com a luta política declarada surgiram vários grupos políticos formados pelos antigos representantes do Império. Em 9 de fevereiro de 1890, Rodrigues Júnior fundou o Clube Democrático e em 9 de julho do mesmo ano, Antônio Pinto Nogueira Accioly fundou a União Repúblicana. Assim, o antigo jornal dos Pompeus "A Gazeta do Norte", ligado a Accioly, tornou-se "O Estado do Ceará".
O Centro Republicano sofria com divergências internas. Quando se deu a ascensão de Floriano Peixoto à Presidência da República houve uma divisão no grupo. Os que apoiavam o Marechal Deodoro saíram do grupo e fundaram o jornal "O Norte". A facção que permaneceu no Centro Republicano continuou com 'O Libertador" como meio de difusão de suas idéias. Porém, esse dois grupos entraram em atrito, pois, o Centro Republicano apoiou Floriano Peixoto. Temos então, uma disputa entre deodoristas e florianistas, onde, os primeiros eram perseguidos e apelidados de 'maloqueiros' e os últimos denominados de "cafinfins" pelos seus opositores. Essa disputa se espalhou por todo o interior do Estado, principalmente nos grandes centros urbanos do interior na época, como Limoeiro do Norte. Dentro dessa disputa Accioly "costurou", durante um ano, uma união com os "cafinfins", na qual resultou o Partido Republicano Federalista (PRF) em meados de 1892. Além do apoio á Floriano fundaram o jornal "A República".
Em 1891, com a morte do Presidente do Estado Cel. Luiz Ferraz o Gal. Clarindode Queiroz e o Major Benjamim Liberato Barroso foram eleitos presidente e vice, respectivamente. Porém, o fato de Clarindo de Queiroz ser deodorista ocasionou sua deposição em 17 de fevereiro de 1891, assumindo de imediato o Cel. José Bezerril Fontinele, o qual, após dois dias passou o governo à Liberato Barroso. Nesse momento, Accioly assumiu a vice-presidência do Estado do Ceará, entre 1892 e 1896, quando foi eleito presidente e dando início ao período oligárquico, até a revolta popular de 1912 ocasionando sua deposição.
A Padaria Espiritual.
Considerada a agremiação literária mais importante do Período Republicano no Ceará, a Padaria Espiritual foi instalada em 30 de maio de 1892 na rua Formosa 105 (atual Barão do Rio Branco) e depois nos números 106 e 11da mesma rua. Esse grêmio literário se destacou devido a sua originalidade. A história da Padaria Espiritual está dividida em duas fases, uma de 1892 à 1894 e outra de 1895 à 1898. Na primeira fase o caráter humorístico foi maior que na segunda. O periódico produzido pelo grupo chamava-se "O Pão", o qual foi publicado 36 números, sendo 6 em 1892 e 30 na segunda fase.
A agremiação foi formada por jovens literatos que freqüentavam os cafés da Praça do Ferreira no início da década de 1890, mais precisamente o café do Mané Côco, o então Café Java. O seu programa de instalação contava com 46 artigos e segundo o artigo 1º, a instituição buscava produzir o pão do espírito aos sócios em especial e ao público em geral. A sua principal característica era a crítica a janotice tradicional da sociedade na época. Era proibido aos sócios tomar atitudes tipicamente burguesas, além da valorização da nacionalidade. A Padaria contava com 20 sócios que eram conhecidos como padeiros e os outros associados eram os padeiros livres. Segundo o artigo 2 a agremiação era compostas por um padeiro-mor (presidente), dois forneiros (secretários), um gaveta (tesoureiro), um guarda-livros, um investigador (olho da providência) e os demais sócios (amassadores).
Os padeiros possuíam pseudônimos, dentre os quais podemos citar o de Antônio Sales (Moacir Jurema) e Ulisses Bezerra (Frivolino Catavento). Foram presidentes do grêmio Jovino Guedes 1892-1893, José Carlos Júnior 1894-1896, Rodolfo Teófilo 1896-1898 e Antônio Sales o "mola mestra", que foi presidente interino na ocasião das duas instalações.
A REMODELAÇÃO DE FORTALEZA.
Disciplinar a expansão urbana e aformosear a cidade.
Em 1875 era concluída a Planta Topográfica de Fortaleza e Subúrbios pelo engenheiro Aldolfo Herbester, o qual, fora contratado em 1855, de Pernambuco pela Província do Ceará e a Câmara Municipal de Fortaleza. O projeto de Herbster foi uma ampliação da planta elaborada pelo engenheiro Silva Paulet, datada de 1818. Neste projeto de 1875 encontram-se 3 "boulevards", que correspondem as atuais avenidas Duque de Caxias, Dom Manuel e Imperador. Além de facilitar o escoamento urbano, a principal finalidade da nova planta era disciplinar a expansão da cidade. O traçado em xadrez do projeto topográfico de Fortaleza se trata de um modelo urbanístico utilizado desde a antigüidade para fins de controle urbano. Suas ruas retas, cruzadas e com ângulos de 90°, facilitam a vigilância dos poderes sobre as cidades. O modelo usado por Herbester, em Fortaleza, foi uma imitação do traçado utilizado pelo Barão de Haussmann em Paris. Ou seja, o uso de 3 "boulevards" foi uma cópia do plano utilizado em Paris nos meados do século XIX.
Pode-se considerar como adaptação suavizada e de certa coerência o projeto parisiense por Herbester, devido o fato de Fortaleza, desde meados do século XIX, vinha passando por um processo de mudança na sua estrutura. Em 1875, a cidade já contava com um porto, casas comerciais, escolas, biblioteca pública, além de se tornar o principal centro cultural, político e social do Ceará. Todo esse impulso se dá devido ao aumento das exportações da produção algodoeira. Além do que já foi dito, esse impulso econômico contribuiu para a construção da estrada de ferro Fortaleza-Baturité na década de 1860. Dentro desse contexto de crescimento, temos importantes modificações sociais, como o surgimento de classes de profissionais liberais e uma grande reserva de mão-de-obra de trabalhadores pobres. Assim, constituiu-se em Fortaleza a formação de um mercado de trabalho. O plano de Herbester surge para disciplinar a malha urbana, remodelar a capital, embelezando e racionalizando-a, facilitando a observação dos poderes e a circulação de pessoas. A cópia do modelo de Haussmann serviu de molde para diversas remodelações urbanas na sociedade ocidental do século XIX. A disciplinarização do espaço público em Fortaleza no período da Belle Époque está relacionado com as diversas medidas de controle. Trata-se de um processo disciplinador que busca instaurar uma nova ordem social, econômica e racional.
A inserção do Brasil na mundialização do capitalismo através da exportação de matérias-primas para as potências européias foi significativa para a emergência de grupos burgueses e o surgimento das camadas médias. A assimilação de novas idéias e valores por grupos emergentes faz com que houvesse um choque com o centralismo imperial e a incapacidade produtiva das instituições estatais como a escravidão. Esse embate resultou na instauração do trabalho assalariado e do republicanismo. Isso levou ao desmonte do regime monárquico em 1889. Assim as idéias de progresso e civilização foram as bases dos discursos e prática dos novos setores dominantes. Daí, inúmeros embates foram travados para organizar um novo país, entre estes, temos a reforma urbana.
Procurou-se então introjetar na sociedade novos hábitos, considerados ideais à produtividade e o progresso. O processo de reordenamento urbano e inserção de novos hábitos oriundos das camadas burguesas na sociedade sofreram resistência de outros grupos sociais. Em relação a Fortaleza esse processo foi mais pontual, tendo início a partir de 1850 e se intensificando com a República, onde, em meados do século XIX, intensificou-se a exportação de produtos primários para o mercado externo. O fato dessas mudanças serem pontuais não minimiza os efeitos dos investimentos realizados na sociedade fortalezense, como o controle na saúde, hábitos e alterações no espaço urbano.
A remodelação urbana em Fortaleza tem início em 1850. Tanto o poder público como o privado investiram nessas mudanças, mas, isso não significa que estes poderes estava alinhados. O único intuito em comum entre esses poderes era o de civilizar tanto a cidade quanto a população. Apesar das desigualdades geradas pelo acúmulo de capital, as elites de Fortaleza ergueram edificações luxuosas para evidenciar seu poder econômico e o alinhamento com o mundo moderno. Surgiram, então, novos prédios que romperam com a arquitetura horizontal da cidade. Essas edificações adotaram novos equipamentos arquitetônicos utilizados na época.
Nas últimas décadas do século XIX, além da nova planta urbanística de Herbester, outros acontecimentos marcaram o período. Entre eles temos a construção da ferrovia de Baturité e a seca de 1877. Com a ferrovia o fluxo de mercadorias para exportação tornou-se mais dinâmico. Porém a seca de 1877-1880 trouxe um cenário trágico. Nesta estiagem ocorreu uma violenta epidemia de varíola que dizimou boa parte da população da cidade e fechou várias casas comerciais. Mesmo com a mobilização governamental, pouco foi obtido. Pois, a cidade contava apenas com dois hospitais: a Santa Casa de Misericórdia e o Lazareto da Lagoa Funda. Esse acontecimento contribuiu para reforçar o discurso médico-político e instaurar uma política sanitária.
Na década de 1880, com a volta das chuvas, a normalidade volta e intensifica-se o processo de urbanização da capital. Surgem, então, inúmeros equipamentos e serviços de controle social. Com o crescimento espacial e populacional a cidade de Fortaleza passa a dispor, a partir de década de 1880, de serviços de transporte coletivo, instalado pela companhia

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