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A Neurose Obsessiva Apresentação Slide

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NEUROSE OBSESSIVA
Significado etimológico e definição
A palavra obsessão significa, em latim, “ ocupar um lugar”; aparece na psiquiatria francesa no século XIX para designar uma idéia ou uma imagem que se impõe ao espírito de modo incoercível.
Freud considera a neurose obsessiva uma classe de neurose cujo conflito psíquico expressa-se por sintomas compulsivos (idéias obsedantes, compulsões a realizar atos indesejáveis, luta contra esses pensamentos, etc.) e por um modo de pensar caracterizado por ruminações mentais, dúvidas, escrúpulos que levam a inibições do pensamento e da ação.
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NEUROSE OBSESSIVA: Especificidades
A neurose obsessiva foi uma entidade clínica isolada por Freud graças à sua concepção do aparelho psíquico que lhe possibilitou interpretar as idéias obsessivas como a expressão dos desejos recalcados, identificando-a como uma neurose e não como era até então considerada como uma “loucura da dúvida”, “fobia do tato”, “obsessão”, “compulsão”, etc.
 Mecanismos específicos : deslocamento do afeto para representações distantes do conflito original; isolamento, anulação retroativa.
A vida pulsional : ambivalência, fixação na fase anal e regressão.
Do ponto de vista tópico: relação sadomasoquista interiorizada sob a forma de tensão entre o ego e um superego particularmente cruel.
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O HORIZONTE FREUDIANO DA NEUROSE OBSESSIVA
É possível identificar três etapas no pensamento freudiano sobre a neurose obsessiva:
1ª etapa de 1894 a 1905:
Um primeiro tempo, de ordem etiológica, em que Freud ressaltava a existência de uma excitação sexual precoce (sedução por um adulto). Se esse trauma foi sofrido passivamente na histeria, na neurose obsessiva haveria atividade com prazer.
Um segundo tempo: os afetos decorrentes desta atividade sexual prazerosa, desprendem-se de suas representações primeiras por serem inconciliáveis com o eu, e operam uma falsa conexão com novas representações por deslocamento. 
Não há recalque sem volta do recalcado, mas na neurose obsessiva, no lugar de conversão somática, há transposição para outras representações mais conciliáveis com o eu, as obsessões como formações de compromisso: auto-reprovações, inibições em agir, isolamento de uma representação, anulação de acontecimentos passados, rituais privados, etc. 
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O HORIZONTE FREUDIANO DA NEUROSE OBSESSIVA
2ª etapa de 1905 a 1913:
 A importância capital das zonas erógenas e das pulsões parciais marcam uma virada ao serem apresentadas nos Três Ensaios sobre a vida Sexual. 
As defesas do eu operam uma volta regressiva ao estádio anal. O estabelecimento do vínculo entre o objeto anal e a neurose obsessiva com sintomas de preocupação de ordem, de limpeza e de teimosia, são ressaltados no artigo de 1908, “ Caráter e Erotismo Anal.”
A análise de “O Homem dos Ratos” baseia-se nessa perspectiva .
Em 1913, Freud estabelece o vínculo entre essa neurose e as pulsões eróticas anais e sádicas. As pulsões parciais já estão concentradas numa escolha de objeto, embora o primado das zonas erógenas ainda não estejam estabelecidos. 
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O HORIZONTE FREUDIANO DA NEUROSE OBSESSIVA
3ª etapa de 1913 a 1929:
Neste último período, apoiando-se na 2ª tópica, Freud afirma que o declínio do Édipo vem da interiorização do interdito paterno. Transformada em consciência moral, passa a exercer a dominação do supereu sobre o eu.
Falando sobre o sadismo, recorrente na neurose obsessiva, ele diz: “ O que reina do supereu é uma pura cultura da pulsão de morte. O supereu pode tornar-se hipermoral, portanto, tão cruel quanto só o id pode ser.”
Assim, o que dizia respeito ao sadismo da erótica anal é aplicado ao supereu.
 Neste último período, Freud apresenta um duplo fenômeno: um da desmedida, outro da inversão.
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O HORIZONTE FREUDIANO DA NEUROSE OBSESSIVA
No que se refere à desmedida, ele sustenta que: Na neurose obsessiva, os processos decorrentes do declínio do Édipo e da consolidação do supereu ultrapassam a medida normal; à destruição do complexo de Édipo, se acrescenta a degradação regressiva da libido; o supereu torna-se especialmente severo e duro, enquanto o eu desenvolve, por ordem do supereu, importantes formações reativas, que tomam a forma de escrúpulo, de piedade, de limpeza excessiva, etc.
No que se refere à inversão do sadismo da erótica anal em masoquismo, isto é, em agressão contra si mesmo, ele diz que o supereu, em seu sadismo, aplica a si mesmo uma agressividade antiga dirigida contra o outro. O masoquismo que, em geral, implica ser agredido por um outro, neste caso, se torna auto-destrutivo, refletindo contra a própria pessoa.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A neurose obsessiva deveria ser mais fácil de perceber do que a histeria por não canalizar os afetos para o corpo. Os seus sintomas são puramente mentais, e contudo continuam a ser obscuros para os psicanalistas, por mais que tenham tentado chegar a explicações mais satisfatórias. 
Esta dificuldade em parte está ligada ao fato de que essa neurose está mais próxima de nossa atividade mental ordinária, do procedimento lógico por meio do qual habitualmente se é tentado a explicá-la.
Por outro lado, essa disposição mental convoca uma de nossas relações mais conflituosas, a que nos liga ao pai. Pai este que está no princípio da psicanálise. É ao pai que se refere a causalidade psíquica constitutiva da estruturas clínicas.
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HISTERIA X NEUROSE OBSESSIVA
Aspectos Comuns:
A neurose obsessiva e a histeria, apesar de diferentes, têm em comum o fato de resultarem da ação traumática de experiências sexuais vividas na infância e de constituírem um esforço de defesa contra quaisquer representação e afeto que provenham dessas experiências e tentem preservar o que elas tinham de incompatível com o eu.
O trabalho defensivo da neurose, o recalque, consiste em enfraquecer a representação conflituosa e orientar para outros usos o afeto desligado de sua fonte verdadeira através deste processo de enfraquecer a representação.
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HISTERIA X NEUROSE OBSESSIVA
Principais Diferenças:
 
A diferença entre as duas neuroses reside em que: na histeria, a fonte de excitação, o afeto, é transportada para o corpo por um processo de conversão, ao passo que na neurose obsessiva, assim como na fobia, permanece necessariamente no domínio psíquico.
A clínica da neurose obsessiva distingue-se ainda da histeria pelo menos por dois elementos: a afinidade eletiva, mas não exclusiva, com o sexo masculino; a reticência do paciente em reconhecer e dar a conhecer a sua doença: com freqüência, é preciso a intervenção de um terceiro para que ele aceite fazer análise.
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A NEUROSE OBSESSIVA
Divergências entre a Histeria e a neurose obsessiva.
Sexo: Na histeria, predominância da posição feminina :” sou homem ou sou mulher?” Ou ainda, “ o que é uma mulher?” Aqui a questão do sexo é central. Na neurose obsessiva, predominância da posição masculina em que as principais questões são a da dívida impagável, formuladas nos temas da existência e da morte.
Sintomatologia: histeria, somática; neurose obsessiva, psíquica, puramente mental.
Mecanismo psíquico em causa: histeria, recalcamento; neurose obsessiva, isolamento e anulação retroativa, atos e rituais obsessivos.etc.
Objeto Predominante e a dialética posta em ação em relação ao Outro: na histeria, o seio que simboliza a demanda feita ao outro; na neurose obsessiva, as fezes, que simbolizam a demanda feita pelo Outro.
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A NEUROSE OBSESSIVA
Divergências entre a histeria e a neurose obsessiva
A subjetividade: na histeria, manifestação exagerada da subjetividade, ruidosa, teatral; na neurose obsessiva, tentativa da abolir a subjetividade, dissimulada por muito tempo. 
 Tipo de obstáculo oposto à realização do desejo: na histeria, caráter insatisfeito do desejo histérico; na neurose obsessiva, o caráter impossível assumido pelo desejo obsessivo.
A condição
determinante da angústia: na histeria, a perda de amor; na neurose obsessiva, angústia diante do superego.
 A histeria e a neurose obsessiva não se situam no mesmo plano na medida em que o termo histeria não conota apenas uma neurose, mas muito mais amplamente, um discurso, aquele no qual a subjetividade está em posição principal e que pode ser tomado emprestado por qualquer um.
 Na neurose obsessiva, não existe um modo específico de falar, mas de fazer laço. Nada é mais lógico do que sua linguagem, tanto mais porque ele busca que o outro se perca nela. No trabalho analítico, ele diz o que é preciso dizer, não o que sabe.
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A CLÍNICA DA NEUROSE OBSESSIVA
Esses incidentes obsessivos nunca são tomados como vindos de fora, como estranhos. No interior do sujeito, trava-se uma luta, constituída de idéias contrárias expiatórias ou propiciatórias, que podem ocupar toda a sua atividade mental diurna, até que o sujeito se aperceba, com temor redobrado, que essas contra-medidas estão, elas próprias, infiltradas no seu psiquismo.
Esse debate consigo mesmo opera-se em um clima de dúvida bem sistemática, sem levar a nenhuma certeza. Nessas dúvidas, surgem interrogações inquietantes, geradoras de verificações, sempre insatisfatórias, a respeito de um assassinato, que o sujeito poderia ter cometido ou iria cometer sem que o soubesse.
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A CLÍNICA DA NEUROSE OBSESSIVA
Um sintoma deste tipo só é mantido porque conjuga ato e dúvida; o obsessivo não tem medo apenas de cometer algum ato grave (assassinato, suicídio, violação, infanticídio, etc.), imposto a ele por sua idéias, mas também de tê-lo feito de modo inadvertido.
É possível reconhecer a figura desse tipo humano, num homem mais velho, que continua morando com a mãe, funcionário ou contador, cheio de hábitos e de pequenas manias, escrupuloso e preocupado com uma justiça igualitária, privilegiando as satisfações intelectuais e encobrindo, com sua civilidade ou religiosidade, uma agressividade mortífera.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A LÓGICA OBSESSIVA DO DESEJO
 O obsessivo é um sujeito que foi investido como objeto privilegiado do desejo materno, privilegiado em seu investimento fálico. Na história do obsessivo, descobre-se sempre uma criança que teria sido a preferida da mãe.
 
 “Os obsessivos são os nostálgicos do ser”, essa nostalgia tem apoio na lembrança de um modo de relação que a mãe manteve com a criança.
 
 Os jogos do desejo, mobilizados pela lógica fálica, despertam na criança um investimento psíquico precoce que consiste em se constituir como objeto junto ao qual a mãe irá encontrar o que não consegue junto ao pai. A criança é presa na crença psíquica de que a mãe poderia encontrar nela o que espera do pai.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
A LÓGICA OBSESSIVA DO DESEJO
 A mãe aparece aos olhos da criança como parcialmente insatisfeita. Existe uma vacância parcial e a mãe busca na criança um complemento de satisfação. É nesse sentido que o obsessivo é objeto de um investimento particular, o de ser a criança privilegiada. Os privilégios não passam de suplência à satisfação falha do desejo materno. 
 A aposta fálica na dialética edipiana, a passagem do ser ao ter, depende de como a mãe introduz o pai como objeto do seu desejo. Se há ambigüidades no discurso materno a respeito do seu objeto de desejo, a criança poderá se instalar, imaginariamente, num dispositivo de suplência à satisfação do desejo materno.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
A LÓGICA OBSESSIVA DO DESEJO
 É importante estabelecer uma diferença em relação à lógica do desejo perverso: não se trata de uma suplência ao objeto de desejo da mãe, mas de suplência à satisfação do desejo da mãe por considerar que a satisfação que a mãe tem com o pai é insuficiente. Há uma lacuna que induz a criança a se colocar como suplente.
 A criança é confrontada com a lei do pai, mas ao mesmo tempo, se mantém subjugada pela mensagem de insatisfação materna. Se, por um lado, a criança é levada à lei do pai pela referência do discurso materno, que aí inscreve o seu desejo, por outro, essa suplência constitui um apelo de oferecimento ao filho para uma persistência na identificação fálica.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
 A LÓGICA OBSESSIVA DO DESEJO
Existe no obsessivo uma incerteza constante entre o retorno regressivo à identificação fálica e a obediência à lei e às implicações que ela supõe. Essa dúvida se ilustra pela atitude de fuga que o obsessivo atualiza em função do seu desejo.
A identificação com o pai se manifesta sob duas vertentes opostas: a de uma lei que interdita o gozo e a de um mandamento que coage a esse gozo interdito. No entanto, na neurose obsessiva, o que está em jogo é uma mãe que: 
Interdita o gozo,
Enuncia um mandamento que coage a esse gozo imediato,
É toda amor,
Exige obediência e crença.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
 Do ponto de vista da economia do desejo certos traços estruturais são relevantes:
 O caráter imperioso da necessidade do dever que vem margear a organização obsessiva do prazer.
 A doença da demanda e a ambivalência que estão associadas a dispositivos de defesa sintomáticos, como as formações obsessivas, o isolamento,os ritos, as formações reativas, o trio: culpa, mortificação, contrição, e o conjunto do quadro clínico habitualmente designado como caráter anal.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
 O excesso de amor testemunhado por todos os sujeitos obsessivos tem sua origem no dispositivo onde a sedução erótica materna constitui um apelo à criança para suprir sua insatisfação. 
 A criança é, assim, chamada a suprir uma falha no gozo materno, o que induz nela uma incitação à passividade sexual, o que pode ser ilustrado por toda produção fantasmática dos obsessivos masculinos: ser seduzido ou violado por uma mulher, fantasma da enfermeira que cuida e goza etc.
 
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
Essa atitude de disposição passiva ao gozo constitui uma das estereotipias da estrutura obsessiva, através da qual o sujeito relembra nostalgicamente sua identificação fálica. 
Com esse passivo fálico, a criança obsessiva vai ter que abordar a passagem decisiva do ser ao ter. Por essa razão, o acesso ao universo do desejo e da lei constitui para ela um processo problemático, como mostra a relação particular que mantém com o pai ou com qualquer figura de autoridade que reative a imago paterna.
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
 
 A passagem do ser ao ter é vivida pela criança na dimensão da insatisfação pela impossibilidade de sua identificação fálica, tendo em vista a intrusão paterna.
 Essa passagem constitui um obstáculo problemático para o obsessivo, pois quando deveria, normalmente, confrontar-se com a insatisfação fica preso na relação de suplência que mantém com a mãe. O obsessivo não cessará, posteriormente, de lembrar a que ponto essa experiência precoce, mas privilegiada de prazer com a mãe, constitui para ele um obstáculo na economia do seu desejo.
 Essa absorção materna prematura não permite à criança mediatizar seu desejo, permanecendo prisioneira do desejo insatisfeito da mãe. Por conseguinte, todo
o processo do desejo vai fazer curto circuito na criança.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
 A dinâmica do desejo se desenvolve segundo um ritmo ternário: o desejo se separa da necessidade para entrar em seguida na demanda.
 No obsessivo, no momento em que o desejo é separado da necessidade, ele é imediatamente tomado pela mãe insatisfeita que encontra aí um objeto de suplência possível. 
 O perfil do desejo obsessivo se explica pelo caráter apressado dessa posse. O desejo carrega sempre o selo imperativo e exigente da necessidade na medida em que a mãe, desde o surgimento do desejo, não lhe concede o tempo de se suspender na espera da articulação de uma demanda.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
 Dois traços estruturais destacam-se no obsessivo:
 O desejo do obsessivo apresenta sempre a marca impiedosa da necessidade.
 O obsessivo é tomado pela doença na expressão de sua demanda. A passividade masoquista, que lhe é bem característica, resulta dessa impossibilidade em que ele se acha, de poder demandar. Esforça-se, assim, em fazer adivinhar e articular pelo outros o que ele deseja e que não consegue, ele próprio, demandar. 
 De um modo mais geral, essa doença participa da servidão voluntária na qual se encerra o obsessivo. Essa impossibilidade de demandar o leva a dever tudo aceitar, tudo suportar.
 
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
TRAÇOS ESTRUTURAIS
 
Como não consegue formular uma demanda, sente-se obrigado a assumir o lugar de objeto do gozo do outro, repetindo o status fálico infantil, no que ele se achava encerrado como criança privilegiada da mãe. Isso reaparece sobre a forma sintomática da culpa, que evoca, indiretamente, esse privilégio quase incestuoso da criança junto à mãe com respeito à castração.
 Em razão dessa fixação erótica pela mãe, o obsessivo é continuamente tomado, de maneiro aguda, pelo temor da castração.
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A NEUROSE OBSESSIVA
Necessidade x Desejo x Demanda
Lacan introduziu a noção de demanda, opondo-a à de necessidade. O que especifica o homem é que ele depende, para as suas necessidades mais essenciais, de outros homens, aos quais o liga o uso comum da palavra e da linguagem.
O mundo humano impõe ao sujeito demandar, encontrar as palavras que sejam entendidas pelo outro.
Quando o sujeito se coloca na dependência do outro, a particularidade a que visa a sua necessidade fica de certa forma anulada. O que lhe importa é a resposta do outro como tal, independentemente da apropriação efetiva do objeto que reivindica. Isso significa que a demanda se transforma em demanda de amor, demanda de reconhecimento.
A particularidade da necessidade irá ressurgir além da demanda, no desejo, sob a forma de “condição absoluta”. O desejo encontra sua causa em um objeto específico, mantendo-se apenas na proporção da relação que o liga a este objeto.
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO, A PERDA E A LEI DO PAI
 O obsessivo não pode perder: a perda de alguma coisa lhe remete à castração e a uma falha em sua imagem narcísica.
 Apresenta uma disposição favorável a se constituir como tudo para o outro, e quer, despoticamente, tudo controlar e tudo dominar, para que o outro não lhe escape de maneira nenhuma, isto é, para que ele não perca nada.
 O obsessivo, por exemplo, não tem por objeto de desejo outra coisa a não ser a demanda do outro. Onde se poderia supor que ele pudesse desejar, ele se dedica a obter o reconhecimento do Outro, dando-lhe, continuamente, por seu bom comportamento, as provas de sua boa vontade.
 Como a lei do pai permanece, no entanto, onipresente no horizonte do desejo obsessivo, a culpa é irremediável. Uma ambivalência é alimentada pela nostalgia fálica e pela perda implicada na castração, inscrevendo o obsessivo numa posição estruturalmente específica em relação ao pai.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO, A PERDA E A LEI DO PAI
 A imago paterna atrai uma rivalidade e uma competição: o obsessivo busca substituir o pai junto à mãe, donde a necessidade imperativa de matá-lo. Esta preocupação em ter o lugar do outro traz o obsessivo a todas as lutas de prestígio, combates grandiosos e dolorosos.
 A ambivalência em relação à figura paterna revela que ao mesmo tempo que lhe é insuportável a figura do pai como senhor, por deter um poder que o obsessivo ambiciona, o pai precisa permanecer e mostrar-se como ele é. 
Tentar tomar o lugar do pai é sempre se esforçar para assegurar que esse lugar cobiçado lhe é ilegítimo, ou seja, que o pai não poderia ser suplantado. O pai, inabalável, continua a proibir e a condenar a erotização incestuosa com a mãe na qual o obsessivo está preso.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO, A PERDA E A LEI DO PAI
 A perseverança e a obstinação, dois veículos privilegiados dos investimentos obsessivos, decorrem dessa relação com a autoridade paterna. Por um lado, existe a lei do pai, à qual é preciso se submeter, até mesmo se sacrificar. Por outro lado, esta mesma lei deve ser frustrada e dominada por sua própria conta. Daí uma luta inexorável que se desloca sobre múltiplos objetos de investimento.
 Os obsessivos podem ser grandes conquistadores, mas quando atingem um objetivo, já embarcam em uma nova corrida para atingir outro.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO, A PERDA E A LEI DO PAI
 Uma outra manifestação da neurose obsessiva se localiza ao nível da transgressão. Ele vive um conflito entre o controle onipresente do gozo do objeto que o confronta com a transgressão e a pregnância da lei que o arrasta para uma situação de conflito.
 A transgressão no obsessivo se realiza através de formação reativa. O obsessivo aparenta: um grande rigor moral, regras e leis são brandidas de maneira ostentatória e um seu escrupuloso cuidado com a honestidade. Essa posição legalista revela o desejo inconsciente de transgredi-la
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO E SEUS OBJETOS DE AMOR
 No que se refere aos investimentos dos objetos de amor, o obsessivo dá o melhor de si mesmo, isto é, paradoxalmente, tudo e absolutamente nada. “Tudo” no sentido de que ele pode tudo sacrificar; “nada” na medida em que não aceita perder.
 Esta estratégia gira em torno da questão do gozo do outro, diante do que convém tudo controlar: para que nada saia do lugar, nada deve gozar, o desejo deve estar morto. Nessas condições, já que o obsessivo não dá nada, ele não perde nada.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO E SEUS OBJETOS DE AMOR
 Se a problemática da perda é tão central na lógica obsessiva é porque remete diretamente a questão da falta. Nada perder consiste em neutralizar o desejo já que este é constituído e continuamente relançado pela falta. De maneira que o desejo, assim amordaçado, não é mais legislável pela articulação da menor demanda.
 O objeto desejado é investido de uma maneira singular, é hipotecado em uma posição que ocupa, preferencialmente, o lugar do morto. Para ser amável e ser amado, o objeto deve se fazer de morto. A máquina desejante do obsessivo é movida por essa condição, que permite
ao seu desejo não encontrar nenhuma inquietação.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
O OBSESSIVO E SEUS OBJETOS DE AMOR
 O objeto de amor do obsessivo não pode desejar, logo deve funcionar como morto.
 Se o outro está morto, ele não o deseja, o obsessivo fica, assim, tranqüilo na medida em que o desejo é sempre desejo do desejo do outro. O obsessivo vai colocar em ato tesouros de energia para que ao outro não falte nada e não seja, portanto, levado a sair do seu lugar. 
 O universo do outro deve permanecer escrupulosamente ordenado. Através dessa ordenação totalitária, o obsessivo controla e domina a morte desejante do outro. Como vemos no discurso masculino: “Não lhe falta nada”, “ela tem tudo em casa”, “ela não precisa trabalhar” etc.
Tereza Dubeux
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A NEUROSE OBSESSIVA
 O OBSESSIVO E SEUS OBJETOS DE AMOR
 Na medida em que o obsessivo se ocupa de tudo que o outro precisa, sua parceira feminina nada tem a demandar. Seu objeto está, portanto, protegido de qualquer desejo.
 De uma maneira geral, a estratégia obsessiva consiste em se apropriar de um objeto vivo para transformá-lo em um objeto morto, e cuidar para que ele assim permaneça.
Tereza Dubeux
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O HOMEM DOS RATOS
O que é um mito?
Para entender a interpretação freudiana a respeito de “O homem dos Ratos”, Lacan partiu da noção de mito. O mito não é uma ilusão, nem o irreal. É um relato que articula por seus significantes privilegiados o que funda toda sociedade humana, enquanto não natural, ou seja, pela lei das trocas.
É esta a dívida simbólica do dom e do contradom de acordo com estas três trocas: mulheres, palavras e bens. Dívida necessária que, enquanto fundadora, se transmite de geração em geração pelo discurso segundo o qual um sujeito se dirige a outro sujeito. O que soube Freud ler do mito familiar do Homem dos Ratos?
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O HOMEM DOS RATOS
A História Clínica:
O paciente se apresenta para Freud, depois de ter ouvido um certo capitão cruel fazer a descrição de um suplício em que as vítimas são constrangidas a se sentar sobre um balde cheio de ratos famintos. Ele diz ter sido assaltado pela idéia insuportável de que este suplício dos ratos pudesse ser aplicado a dois seres que lhe são muito caros, a dama de seus pensamentos e seu pai.
 O sintoma por ele apresentado é esta apreensão obsessiva:
 Assustado pelo gozo desconhecido que a ele então se revela, ele vive no temor de que isso aconteça a seu pai ou à dama de seus pensamentos. E por que justamente a essas duas pessoas?
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O HOMEM DOS RATOS
A partir destes dados, Freud pode decifrar que a dupla falta do pai do Homem dos Ratos à lei simbólica engendrou no filho uma dupla dívida obsessiva, instaurando um impossível.
 
Afinal, o que se contava na família? 
Em 1º lugar, segundo a lei de troca de mulheres, o pai, fazendo um casamento de conveniência e de interesses, “traiu” a mulher, “pobre mas bonita”, objeto de seu desejo. Da mesma forma, eis seu filho dividido entre a mulher pobre que ele idealiza e a mulher de boa família que a sua mãe designa para ele.
Em 2º lugar, de acordo com a lei da troca dos bens e das palavras, durante a sua carreira militar, o pai dilapidou no jogo o dinheiro do regimento e só pôde se salvar graças ao empréstimo de um amigo. A promessa de reembolsar este amigo jamais foi cumprida. Da mesma forma, o filho cai na contradição entre duas correntes de pensamentos: a de dever pagar a senhora do correio pelo envio de um óculos seu e a de reembolsar o tenente A e o tenente B que teriam pago, em seu nome, pela referida encomenda.
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O HOMEM DOS RATOS
Em relação à 1ª obrigação feita ao sujeito de renunciar à mulher que ele ama e de fazer um casamento de conveniência, Freud atribui essa “necessidade” não à mãe mas ao pai. 
Lacan observa que esta interpretação é materialmente inexata já que o pai morreu há muito tempo. No entanto, é verdadeira pois revela a verdade do mito em sua enunciação em razão de um saber textual e não referencial. E Lacan afirma ainda que os sintomas obsessivos só podem ser removidos em função da ressonância da interpretação analítica, e não médica, nem policial.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A descoberta freudiana de que o acesso ao desejo supõe a castração diz respeito à posição primeira do filho, ou da filha, sendo por sua imagem o falo da mãe, ou seja, o que lhe falta. Se o sujeito não for psicótico, isto é, se o falo simbólico como significação do desejo da mãe lhe foi transmitido, então uma questão pode tomar lugar: ser o falo como Gestalt da imagem desejável para ela.
É a partir desta posição primordial que, num segundo tempo, a castração poderá se cumprir: “ Não és o falo daquela que te concebeu!”
A neurose não vem de uma frustração de não ter o falo, mas de uma castração não admitida, não subjetivada, não reconhecida em seu enunciado em termos de ser.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A atualidade da descoberta do Édipo se resume assim: é sobre o fundo de não ser o falo do Outro que o sujeito pode em seguida aceitar:
- ou tê-lo, lado masculino, com risco de perigo e medo de perdê-lo;
- ou não tê-lo, lado feminino, como falta ou ausência;
O problema do neurótico é o de sua agressividade culpabilizante em relação a seu semelhante que supostamente tem o falo. A resolução desse problema é o efeito de um deslocamento da questão: como poder renunciar a sê-lo, de tal modo que em seguida tê-lo, ou não tê-lo, disso decorra sem angústia nem reivindicações?
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A NEUROSE OBSESSIVA
Essa passagem do ser ao ter é determinada pela interpretação do analista . Se ele fracassa, a análise pára no meio do caminho ou permanece sem fim. 
A neurose obsessiva não vem de uma frustração da demanda de ter, mas da castração não realizada quanto a ser o que falta ao desejo do Outro. 
A não distinção entre desejo e demanda é uma psicologização da psicanálise, como se a demanda fosse a expressão do desejo. Essa é exatamente a confusão do sintoma obsessivo. Esta confusão determina no obsessivo o supereu como figura “feroz e obscena” dirigindo-se ao sujeito pela voz insistente da consciência moral. 
 Dizia Lacan que: “este tu, vê tudo, ouve tudo, anota tudo”. As injunções dessa voz se ordenam de acordo com os dez mandamentos. 
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A NEUROSE OBSESSIVA
Os dez mandamentos da neurose obsessiva:
Não peças nada. Que teu pedido morra para realizar assim teu pedido que é ser um sujeito morto. Eis o que deves expor.
Teu desejo é, em verdade, de depreciar, de anular, de destruir o desejo do Outro. Com efeito, trata-se do teu ou do dele.
Espera ser pedido. Espera que o Outro compreenda o teu silêncio. Para proteger-te da angústia do desejo do Outro deves recobri-la com o pedido dele: um pedido anal de dar. Em troca, sê oblativo; nunca farás o bastante para que o Outro se mantenha na existência.
Não jogues nada fora, acumula até entulhar. Nunca se sabe; sempre pode servir! Amar é ter sempre o que dar. E, para ter o que dar, guarda o que tens, prende! Agüenta firme!
Teu próprio desejo, tu o engajarás amanhã, depois de amanhã, mais tarde. Tens tempo: fazê-te de morto. Assim saberás fazer com que o Outro espere muito tempo, já que só há desejo no impossível.
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A NEUROSE OBSESSIVA
Os dez mandamentos da neurose obsessiva:
Dê suas provas: supera a inibição pela façanha, a imponência, a fanfarrice, “a inchação”, à imagem da rã que queria ficar tão gorda
quanto o boi. A rã explodiu, mas tu não explodirás jamais!
Não faças nada de definitivo ou de exclusivo: não ponhas u pé dentro sem teres um pé fora. Nunca avances sem retirada garantida.
Ao imperativo do supereu que te ordena “goze!”, faze de tua impotência realizá-lo um pedido a ser dirigido a um mestre suposto saber se a relação entre gozo e domínio é da ordem do impossível, ou não.
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A NEUROSE OBSESSIVA
Os dez mandamentos da neurose obsessiva:
Submete-te à ordem de ferro, de fazer isto ou aquilo. Deves te sobrecarregar com um programa sem falhas, sem vazio, sem descanso, para evitar a interrogação sobre o desejo do Outro.
Pára tua análise no dia em que puderes aliviar tua culpa, culpando o outro. Por tua vez, que tua própria voz transmita esta ordem de ferro aos que te cercam, sem explicações, nem murmúrios: é assim porque é! 
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A NEUROSE OBSESSIVA
No seu último período, de1923 a 1929, Freud se interrogou o porque da existência de um supereu tão feroz e cruel e o porque de um vínculo tão forte com a pulsão de morte.
A verdadeira razão para essas questões constitui um verdadeiro escândalo: a maldade do próximo, a tragédia do sentimento de abandono pelo Outro.
Lacan fala da necessidade de buscar uma ética que esteja à altura desse abandono pelo Outro. Para ele, essa ética é a mesma da psicanálise: “se, para o homem comum, a traição tem por efeito rejeitá-lo dos serviços dos bens, será com essa condição, que ele não encontrará nunca o que realmente o orienta nesse serviço”.
Diante do gozo do Outro, qual lei pode servir a um só tempo de apoio e de barreira para que, longe de fugir, o sujeito possa ficar próximo dela impunemente?
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A NEUROSE OBSESSIVA
Diante do desejo do Outro, há três leis éticas a considerar: a lei dos serviços dos bens, a do supereu, e a do desejo. 
A lei dos serviços dos bens
 Os bens são da ordem simbólica: o que se diz em tal momento, em tal sociedade, como sendo o mais útil a cada um e a um maior número. É da ordem da opinião, do que se partilha na linguagem e na imagem em nome do amor aos semelhantes. As palavras mestras são: medida, moderação e sabedoria, visando o bem-estar. Freud o chamou de princípio de prazer que evita o demais e o pouco demais.
A verdadeira questão é: essa lei dos serviço de bens é eficiente diante do gozo do Outro e de seus malefícios? Não, porque o amor pelo semelhante, que a justifica, é fundado na identificação: quero para o outro o bem que gostaria para mim. Solidariedade, compreensão e partilha são os significantes que permitem viver junto. A inevitabilidade da traição e do abandono decorre da negação que marca a diferença e que se situa para além do princípio do prazer.
Por isso a lei dos serviços dos bens é uma barreira bem frágil diante do horror do gozo do Outro.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A Lei do Supereu
Freud reconheceu com Kant o que é a verdadeira transmissão entre as gerações, segundo dois princípios:
O categórico: quando a lei tem valor em todos os casos, sejam quais forem as conseqüências afetivas de bem-estar ou de mal-estar. Aqui são desqualificados os dois sentimentos de amor por identificação com o próximo diante dos efeitos da maldade: compaixão pela vítima, ou o medo por si mesmo.
O Incondicional: quando a lei repousa unicamente no ato de sua enunciação interior: “deves..não deves!” Essa voz interior que é o supereu, vem do Outro e revela sua origem na máxima que enuncia o direito do Outro ao gozo, direito sobre o meu corpo. O Outro, em seu gozo sobre o meu corpo, é sádico e até mesmo apático quanto ao que eu posso sentir: seu direito de gozo é inquestionável, é o sem condições que lhe assegura poder usufruir dele livremente. 
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A NEUROSE OBSESSIVA
A lei do supereu
O supereu é como uma lei sem dialética, um imperativo categórico, que pode funcionar como um sabotador interno, aparentando ter uma neutralidade maleficente.
Diante do gozo do Outro, a lei do supereu não dá melhores resultados do que a lei dos serviços dos bens porque perpetua ferozmente uma inversão contra si mesmo e por uma transmissão à geração seguinte. Freud afirma em “Totem e Tabu” que o supereu é a interiorização de um pai que faz a lei; só se mata o mestre para melhor se submeter a ele, incorporando-o.
O que fazer diante do gozo do Outro, diante de sua “maldade?” Avançar supõe ir além de Freud que recuou diante do preceito cristão de amar o próximo como a si mesmo.
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A NEUROSE OBSESSIVA
 A Lei do Desejo
Com o fracasso das duas leis precedentes que não conseguiram barrar o horror do gozo humano, só resta uma única via: não a do declínio do Édipo, segundo Freud, mas a do fim da análise.
Lacan demonstra o nó entre a lei e o desejo com a ajuda das epístolas de São Paulo. Substituindo a palavra “pecado” pelo gozo, ele diz: “ Só conheci o gozo pela lei.Com efeito, eu não teria conhecido o desejo, se a lei não tivesse dito: não cobiçarás.” (VII,7)
Continuando, Lacan diz que é a negação do não que faz nascer o desejo, diferentemente da necessidade, que é inata, natural.
 Utilizando-se ainda das palavras de São Paulo: “ Aproveitando do mandamento, o gozo produz em mim todas as espécies de desejos; sem a Lei, com efeito não há gozo. Ah! Eu vivia outrora quando estava sem Lei; mas, tendo vindo o mandamento, o gozo tomou vida e eu morri.”
Tratar-se-ia de uma Lei que permite negar a vida, de tal modo que passo a recusar “por causa da vida perder minhas razões de vida? É este o risco do desejo. O bem e o bem estar cessam de motivar a função da lei.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A Lei do Desejo
 São Paulo diz sobre esta questão:
 “Sim, a lei é santa e o mandamento santo, justo e bom. Mas o que é bom teria se tornado para mim a morte? De modo algum! Mas é o gozo que para se revelar serviu-se do que é bom para me dar a morte, a fim de que o gozo se torne desmedidamente gozoso por meio do mandamento.”
Desmedidamente, ao excesso, à loucura: é próprio do gozo estar para alem do principio do prazer, dizia Freud, para alem daquele evitamento do desprazer que e a proteao da vida. E necessaria uma transgressao pata ter acesso a esse gozo e e precisamente para isso que serve a lei. E a interdiao que serve ao gozo.
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A NEUROSE OBSESSIVA
A Lei do Desejo
A transgressão é uma travessia para além dos limites da vida, com riscos incorridos de perda possível da pequena felicidade do outro e de si mesmo, em suma, o que se costuma chamar de maldade.
Esta terceira lei, a lei do desejo, dá novo sentido à castração: uma negação criadora. Daí a conclusão de Lacan:
 A castração quer dizer que é preciso que o gozo seja recusado, para que possa ser atingido na escala invertida da lei do desejo.
 
A essência do erotismo é dada na associação inextricável do prazer sexual e do interdito. Nunca o interdito aparece sem a revelação do prazer, nem nunca o prazer sem o sentimento do interdito. A transgressão é um fato da humanidade que a atividade laboriosa organiza.
Como oposto do prazer, o gozo pode, eventualmente, ser maldade, destruição, maleficência. Como suportar esse horror?
Lacan responde a esta questão pela noção de sublimação; nem dessexualização, nem idealização, mas uma ética do bem dizer, uma arte da fala que permite colonizar esse horror fundamental do gozo do Outro, ou de si mesmo. Só a arte da conversação entre um homem e uma mulher é capaz de fazer barreira a esse além do bem que chamamos de maldade.
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O FIM DA ANÁLISE
O fim da análise no caso de uma neurose obsessiva é a passagem da segunda para a terceira lei. As interrogações de Freud sobre o supereu permitem uma convergência com Lacan: essa neurose, longe de ser patológica, tem a ver , ao contrário, com a normalidade coletiva. 
Ninguém é mais preocupado com a normatividade que o obsessivo. Com efeito, essa neurose é o sintoma das exigências da moral civilizada.
Essa normatividade pode ser bem tolerada durante um certo
tempo, até o dia em que a fraqueza do eu se revela diante das mil exigências do supereu. É assim que a psicanálise pode tomar lugar. O fim da análise pode então se resumir na passagem do supereu do ter ao do ser.
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O FIM DA ANÁLISE
O supereu que o sujeito tinha em relação a si mesmo torna-se aquele que o sujeito se tornou em relação à familia, à profissao, à politica … e, eventualmente, à religião!
Este é o alívio do supereu após meia análise: em vez de ser constrangido, esmagado, culpado, o sujeito constrange, esmaga, culpa os outros, assim ele se sente melhor. Ele impõe sua hiperatividade a sua volta e censura aos outros por perderem tempo e se deixarem levar.
Ir ate o fim da análise é descobrir outra lei, a do desejo, com o que o gozo pode ser atingido a partir mesmo do interdito no risco da perda de domínio e de normalidade social.

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