Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Economias internas de escala, diferenciação de produto e de desempenho e integração econômica Introdução Nesta aula, continuaremos avaliando como as economias de escala afetam a especialização e o comércio internacional. Dessa forma, destacamos os seguintes fatos: 1. Economias internas de escala significam que o custo médio de produção de uma empresa cai à medida que sua produção aumenta; 2. A concorrência perfeita, esse custo médio decrescente será inferior ao custo marginal, forçando a saída de algumas empresas até que seja atingido um novo equilíbrio em concorrência imperfeita; 3. Em concorrência imperfeita, podemos introduzir duas características observadas no mundo real: • Na maioria dos setores, as empresas produzem mercadorias diferenciadas uma das outras; e • As medidas de desempenho variam amplamente entre as empresas. Introdução o Visando facilitar a exposição, começaremos assumindo que não há diferenciação quanto ao desempenho, apenas no produto. o Posteriormente, avaliaremos como as diferenças entre empresas a diferentes repostas às forças internacionais. Gerando tanto “perdedores” quanto “ganhadores” entre os diferentes tipos (quanto ao desempenho) de empresas. o Veremos como, adicional ao ganho de comércio, a produção mundial se concentrará nas empresas de maior desempenho, aumentando a eficiência global. o Por fim, estudaremos o incentivo maior às empresas mais eficientes a entrarem em comércio internacional, seja pela exportação, terceirização de alguns processos de produção imediatos ou tornando-se multinacionais operando em vários países. Teoria da Concorrência Imperfeita Em mercados competitivos, há vários compradores e vendedores de tal forma que todos sejam tomadores de preço, ou seja, nenhuma ação individual afetará o preço. Todavia, em concorrência imperfeita, há agentes (compradores ou vendedores) capazes de influenciar individualmente os preços. Assim, por exemplo, uma empresa tal com poder de influencia no mercado pode reduzir suas vendas visando aumentar o preço de venda para aumentar seu lucro. Na ótica dos produtores, podemos destacar duas razões para tal capacidade dessas empresas: • O mercado de um determinado bem é composto por poucas, mas grandes, empresas (monopólios ou oligopólios por exemplo); ou • O produto de certa empresa é diferenciado (aos olhos dos consumidores) em relação ao produzido por uma rival. Em economias internas de escalas, o número de empresas irá reduzir e/ou as sobreviventes serão forçadas a produzir produtos diferenciados. Teoria da Concorrência Imperfeita Monopólios Enquanto em concorrência perfeita a curva de Receita Marginal da empresa é idêntica à de Demanda (pois 𝑅𝑀𝑔 = 𝑝∗ , constante resultante do equilíbrio em concorrência perfeita), a curva de Receita Marginal de um monopolista é 𝑅𝑀𝑔 = 𝑝′(𝑞) ∙ 𝑞 + 𝑝(𝑞), onde 𝑝′ 𝑞 < 0. Logo, a curva de RM do monopolista se encontra abaixo da curva de Demanda. Por sua vez, a maximização do lucro do monopolista é dada por pelo ponto 𝑞𝑚, 𝑝𝑚 tal que 𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔. Nesse ponto, o lucro do monopolista será 𝑝𝑚 − 𝐶𝑀é𝑑(𝑞𝑚) ∙ 𝑞𝑚 > 0, chamado de lucro de monopólio (além do mark up da economia). Teoria da Concorrência Imperfeita Monopólios Observem que 𝐶𝑀é𝑑′ 𝑞 = 𝐶(𝑞) 𝑞 ′ = 𝐶′(𝑞)∙𝑞−𝐶(𝑞) 𝑞2 = 1 𝑞 𝐶′(𝑞) − 𝐶𝑀é𝑑(𝑞) . Logo, se 𝐶𝑀é𝑑′ 𝑞 < 0 , então 𝐶′ 𝑞 < 𝐶𝑀é𝑑(𝑞). No exemplo ao lado, temos 𝐶 𝑞 = 5 + 𝑞, logo 𝐶𝑀𝑔 𝑞 = 1 para qualquer 𝑞 e 𝐶𝑀é𝑑 10 = 5+10 10 = 1,5. Nesse caso, temos um custo variável linear 𝐶𝑉 = 𝑞 e, portanto, a economia de escala decorre sobre o custo fixo médio decrescente 5 𝑞 . Teoria da Concorrência Imperfeita Concorrência Monopolística Situações de monopólios puros, como a anterior, são raras, pois a existência de lucros extras atraem competidores. Um caso intermediário, entre o monopólio puro e a concorrência perfeita é o oligopólio, onde cada empresa ainda possui certo poder de mercado capaz de auferir lucros extras, caso que não abordaremos no momento (as implicações são similares). Por outro lado, é comum a concorrência vender produtos similares mas não idênticos (substitutos próximos), seja por razões legais (patentes, por exemplo) ou tecnológicas. Assim, mesmo havendo um gama grande de produtores em certo mercado, cada empresa pode ditar os preços dentro da sua variedade de produto individual ou marca. Em particular, o modelo de concorrência perfeita considera que o número de empresas que compõem o mercado é grande o suficiente para que nenhuma delas afete as condições de demanda e de oferta agregada. Assim, cada empresa toma os preços dos concorrentes como dado e define seu preço sem observar o impacto do mesmo sobre os demais, apenas o impacto da elasticidade cruzada sobre a sua curva de demanda. Teoria da Concorrência Imperfeita Concorrência Monopolística Nesse modelo, a indústria possui lucro zero, mas as empresas individualmente podem ter lucros ou prejuízos. Assim, caso haja lucro (ou prejuízos) no curto prazo, haverá a entrada (ou saída) de firmas do mercado, induzido o mercado a ser formado por n empresas no longo prazo, tal que tenhamos lucro-zero nessa indústria. Concorrência monopolística e comércio Seguindo a lógica do modelo de concorrência monopolística, o comércio internacional aumenta o tamanho do mercado, permitindo uma escala maior de produção (gerando ganhos de escala) e permitindo a entrada de um número maior de produtores de bens diferenciados (substitutos imperfeitos). Logo, “o modelo de concorrência monopolística pode ser usado para mostrar como o comércio melhora o trade-off entre escala e variedade que as nações individuais enfrentam”. Assim, integrar mercados por meio do comércio internacional tem os mesmo efeitos do crescimento de um mercado dentro de um mesmo país. Vejamos isso a seguir. Concorrência monopolística e comércio Concorrência monopolística e comércio Um exemplo numérico (vide Krugman (2010) para as especificações do mesmo) dos ganhos produzidos pelo mercado integrado é fornecido abaixo: Concorrência monopolística e comércio Este exemplo numérico mostrou duas novas características do comercio com concorrência monopolística em relação aos modelos baseados em vantagem comparativa: A diferenciação de produto e economias internas de escala levam a um comércio entre países similares sem diferenças de vantagem comparativa entre eles (a Doméstica importará alguns tipos de modelos enquanto a Estrangeira importará os demais, ou seja, há um comércio interindustriais, a troca mútua de mercadorias similares); e Há dois canais de benefícios de bem estar ao entrar em comércio para ambos os países, há uma variedade maior de bens similares (no exemplo, o número de modelos de automóveis aumentou para 10) e a redução do preço (no exemplo caindo para US$ 8.000,00) decorrente do ganhos de escala. Concorrência monopolística e comércio O comércio intraindústria depende de um sistema de classificação de mercadorias em diferentes industrias. Todavia, ele é responsável por parcela significativa do comercio internacional. Vencedores, perdedores e desempenho da indústria em comercio internacional No exemplo numérico, vimos que somente 10 das 14 empresas existentes inicialmente sobreviveram, porém a produção das empresas restantes aumentou. Nesse exemplo, as empresas foram tratadas como simétricas, logo não havia diferença em qual empresa saiu ou continuou. No mundo real, o aumento da concorrência tende prejudica mais as empresas com pior desempenho, pois essas são forçadas a sair do mercado. Por outro lado, as empresas mais eficientes se expandirão ainda mais. Logo, o desempenho global da indústria irá melhorar com o comércio internacional associado a um processo de seleção. Vencedores, perdedores e desempenhoda indústria em comercio internacional Suponha, agora, que as empresas não sejam simétricas, apresentando curvas de custo diferentes e, ainda, a mesma curva de demanda (exemplo ao lado). Vemos que ambas as empresas terão lucro, pois 𝑝1 − 𝑐1 > 0 e 𝑝2 − 𝑐2 > 0 (desde que 𝑐 > 𝑐 ∗ , isso ocorrerá). Ainda, a empresa 1 irá definir um preço menor mas terá um lucro maior (área sombreada). Nesse caso, a entrada de empresas ocorrerá até que todas tenham lucro esperado igual a zero. Vencedores, perdedores e desempenho da indústria em comercio internacional Com o comércio internacional: A curva de demanda “gira”, induzindo maior concorrência especialmente para as empresas piores e aumentando a demanda total especialmente para as empresas melhores. A diminuição na demanda para empresas piores é traduzida pela redução em 𝑐∗ o custo marginal de corte (para a empresa ainda ter lucro) Custos do comércio e decisão de importação Na realidade, raramente a internacionalização integra completamente o mercado entre os países pois, apesar de reduzir o custo de comércio entre os países eles ainda não desaparecem. Os custos de comércio associados com essa passagem de fronteira também são uma característica notável dos padrões de comércio no nível de empresa. Veja, ao lado, como é baixo o percentual das vendas totais feitas por empresas manufatureiras americanas para outros países. Temos duas razões para tanto: • O comércio corta a quantidade de empresas dispostas ou capazes de alcançar consumidores através da fronteira; e • Os custos de comércio em si reduzem as vendas de exportação das empresas que alcançam consumidores através da fronteira. Custos do comércio e decisão de importação Assim, quando introduzimos o problema de custo de comércio, as empresas passam a considerar a localização de seus consumidores, as vezes optando por não alcançar consumidores em outro país. Seja 𝑐∗ o limiar de custo marginal acima do qual não é lucrativo para a empresa operar. Se adicionamos um custo unitário adicional de 𝑡, veja ao lado como poderá ser inviável para algumas empresas se manter no mercado. Custos de Comércio - Dumping Considere uma empresa com custo marginal 𝑐 e custo marginal 𝑐 + 𝑡 no mercado exterior. Ela poderá definir um preço 𝑝𝑋 no exterior diferente de 𝑝𝐷, o qual ela aplica no seu mercado. Uma vez que uma empresa com custo marginal escolherá uma margem de lucro menor, no mercado estrangeiro essa empresa irá firmar 𝑝𝑋 − 𝑐 + 𝑡 < 𝑝𝐷 − 𝑐 com uma margem menor do que no seu mercado. Logo, ela estará fixando preço de exportação menor que seu preço 𝑝𝑋 − 𝑡 < 𝑝𝐷, prática conhecida como dumping, prática considerada injusta em muitos países. Multinacionais Nas estatísticas norte-americanas, uma empresa é considerada multinacional quando uma estrangeira adquiri ao menos 10% de uma empresa estadunidense ou a segunda adquire ao menos 10% de uma empresa estrangeira. Quando uma empresa norte – americana compra mais que 10% de uma empresa no exterior ou quando ela constrói uma instalação produtiva no exterior, temos o chamado investimento estrangeiro direto (IED). Multinacionais As atividades de produção que uma empresa afiliada no exterior executam podem ser categorizadas em uma das duas seguintes: 1. O afiliado repete o processo produtivo em outro lugar do mundo; 2. A cadeia de produção é quebrada e partes do processo são transferidas para a localidade afiliada. No primeiro caso teremos o chamado IED horizontal, cuja principal motivação é locar a base produtiva perto dom mercado consumidor, reduzindo custos de comércio e de transporte. A IED horizontal é dominada pelos fluxos entre países desenvolvidos. Já no segundo teremos o IED vertical, o qual é guiado pelas diferenças de custo de produção entre os países (vantagem comparativa). Esse tipo de IED está por trás do grande aumento de fluxo para países em desenvolvimento. Multinacionais Multinacionais Ainda que a IED horizonte reduza os custos de comércio e de transação, ela implica em perda parte do ganho de escala associado a concentração da produção. Logo, a decisão da empresa em exportar ou investir numa nova unidade de produção no exterior passa pela ponderação entre esses custos (se ela apenas exporta, há custo de comércio e de transação, mas se ela produz no exterior, ela perde parte do ganho de escala além de ter que investir em uma nova unidade fabril). No caso da IED vertical, a escolha passa por ponderar o custo do novo investimento, além da perda de ganho de escala, contra a diferença nos custos de produção em cada localidade. Por fim, ainda que haja vantagem comparativa ou custo de transporte alto, o investimento em linhas produtivas no exterior só será realizado caso a escala de produção nessa nova unidade compense o custo fixo de implementação das mesmas. Multinacionais e Terceirização Até este ponto, consideramos apenas a decisão da empresa em adquirir uma estrangeira ou realizar um investimento no exterior. Contudo, em alternativa à IED horizontal, ela pode licenciar um produtor externo. Por outro lado, em alternativa à IED vertical ela pode contratar uma empresa externa independente, a chamada terceirização estrangeira. A realocação de partes da cadeia de produção no exterior, seja pela terceirização estrangeira ou pela IED vertical, é chamada de offshoring. Em geral, a principal razão para uma empresa não adota-la é a combinação de alto custo fixo com baixo custo de produção, exigindo assim que a empresa tenha um alto nível de escala para viabilizar o offshoring. Multinacionais e Terceirização Consequências de multinacionais e terceirização estrangeira Realocar a produção propicia ganhos globais decorrentes do melhor aproveitamento nas diferenças de custos. Porém gera efeitos sobre a renda, alguns melhoram e outros pioram. Alguns tipos de empresas iram expandir o emprego, outras podem reduzi-lo. Os trabalhadores com características similares serão afetados pelos deslocamentos ligados ao offshoring.
Compartilhar