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COACHING CANAL CARREIRAS POLICIAIS DIREITO PENAL CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL, PAZ PÚBLICA E FÉ PÚBLICA. 1 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 DIREITO PENAL CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL: CONSTRANGIMENTO ILEGAL – ART. 146 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou fazer o que ela não manda. ATENÇÃO: Lembre-se do princípio da subsidiariedade: Ex. mandar a vítima retirar a roupa no meio da rua é diferente de colocar a arma na cabeça de alguém e pedir para que ela tire a roupa para conjunção carnal, esta é tipificada como estupro, que afasta o constrangimento. Qualquer situação que a pessoa for obrigada a fazer que constitua crime afasta o constrangimento, pois este exige que se faça algo que NÃO é crime, mas submetido a violência ou grave ameaça para que se faça. Veja que o constrangimento ilegal admite violência própria e imprópria. Ex. Grave ameaça ou violência condicionada a um não-exercício regular de direito: Se você falar o que sabe para a polícia, mato toda sua família. Trata- se de crime de ação penal pública incondicionada, atuando como um soldado de reserva, utilizado de forma subsidiária. CONSUMAÇÃO: Crime material que se consuma com a ação ou omissão da vítima em razão da exigência (contrangimento) realizada pelo autor do delito. Destarte, é possível a tentativa se o agente constrange a vítima a não fazer o que a lei permite, por exemplo, não frequentar uma praça pública, porém a vítima continua frequentando o local. Sendo assim, a consumação se dá quando a vítima, constrangida, acata a vontade do constrangedor. SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, mas, se o constrangimento é cometido por funcionário público no exercício de suas funções, restará caracterizado o crime de ABUSO DE AUTORIDADE. CONCURSO MATERIAL OBRIGATÓRIO: Haverá concurso material de crimes sempre que da violência empregada no constrangimento resultarem lesões. 2 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Em todos os outros casos em que o constrangimento ilegal é meio para a prática de outro crime praticado contra a vítima, será sempre ele absorvido, ainda que a pena seja mais leve. Ex. extorsão. (Fragoso citado por R. Greco) CONSTRANGIMENTO ILEGAL VS. LEI DE TORTURA: Quando o sujeito constrange alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, responde pelo crime praticado em concurso material com tortura (Lei 9.455/1997, art. 1º, I, b). Se o constrangimento dirige-se à prática de contravenção penal, estará caracterizado o concurso material entre a contravenção cometida e o crime de constrangimento ilegal, pois a Lei 9.455/1997 refere-se unicamente à coação para a prática de crime. MUITA ATENÇÃO! CAUSA DE AUMENTO DE PENA: As penas aplicam-se em dobro se o crime é realizado com emprego de arma ou em concurso de mais de três pessoas. CONCURSO - POSSE OU PORTE DE ARMA DE FOGO E CONSTRANGIMENTO ILEGAL: Em face da reduzida quantidade de pena do constrangimento ilegal, os crimes de posse ou porte ilegal de arma de fogo NÃO SÃO POR ELE ABSORVIDOS. Estará configurado o concurso material de crimes –STJ - HC 36635 RJ. O parágrafo 3º traz excludentes especiais de ilicitude (minoritariamente, de tipicidade): 1. a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida. 2. a coação exercida para impedir o suicídio. FUNCIONÁRIO PÚBLICO: quando o agente for funcionário público, não será constrangimento ilegal e sim abuso de autoridade, previsto na Lei 4898/65. (ex.: colocar indivíduo “de quatro” para ser revistado, ou o juiz colocar alguém em um quarto escuro como castigo, nenhuma das condutas descrita é crime, portanto um constrangimento, mas que sendo o autor servidor público aplicará a lei 4898/65, sendo pessoas comuns artigo 146), desde que, é claro, esse constrangimento tenha vínculo com a função exercida pelo agente ativo. 3 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 AMEAÇA – ART. 147 Ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. Crime de ação penal pública condicionada à representação. CONSUMAÇÃO: Trata-se de crime formal em que a consumação se dá no instante em que a ameaça é percebida pelo sujeito passivo, isto é, no momento em que a vítima toma conhecimento do conteúdo da ameaça, pouco importando sua efetiva intimidação e a real intenção do autor em fazer valer sua promessa. É admitida a tentativa quando a ameaça se dá na forma escrita, sendo faticamente impossível a tentativa diante de ameaça verbal. *** SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa certa e determinada, desde que capaz de compreender o caráter intimidatório da ameaça contra ela lançada. Excluem-se, entre outros, as crianças de pouca idade, os loucos e todas as pessoas incapazes, no caso concreto, de entenderem a ameaça (ex: surdo em relação a uma ameaça verbal). Se a ameaça é endereçada simultaneamente a diversas pessoas, reunidas por qualquer motivo ou acidentalmente, há diversos crimes em concurso formal. *** Importante destacar que a ameaça deve ser de um mal grave e injusto. Não configura o crime de ameaça quando o agente, por exemplo, ameaça entrar com uma ação de despejo face ao locatário inadimplente, visto que se trata de um ato justo. Ademais, muito cuidado com a ameaça condicional, visto que ela poderá caracterizar o crime de constrangimento ilegal: Se você vier a escola amanhã, eu te mato. No crime de ameaça, o agente quer apenas amedrontar a vítima; no constrangimento ilegal, o agente deseja uma conduta positiva ou negativa do sujeito passivo NÃO amparada pelo direito, que vai além da ameaça em si. DIFERENÇA ENTRE AMEAÇA CONDICIONAL E CONSTRANGIMENTO ILEGAL: No constrangimento condicional há um propósito específico que vai além da intimidação em si, objetivando determinada ação ou abstenção do paciente, ao passo que, na ameaça condicional, a principal finalidade do agente é intimidar, incutir medo. Portanto, no constrangimento ilegal, a ameaça é um meio; enquanto na ameaça condicional ela é um fim. APLICABILIDADE: O delito de ameaça é um soldado de reserva, aplicável quando a conduta se exaure somente na ameaça, sendo subsidiário e formal, 4 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 afastado sempre que a ameaça não for elementar de outra conduta tipificada em lei. ART. 158 – SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO: CONCEITO: Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado. O crime pode ser praticado por ação ou omissão. Ex. Sequestro praticado por omissão = médico que não concede alta para paciente já curado. (Obs: não enriquecer o exemplo, pois senão haverá outro crime). ATENÇÃO: Não confundir com a extorsão mediante sequestro art. 159, CP (Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos.) que é o sequestro com intuito de obter resgate. No sequestro e cárcere privado não há finalidade específica. MODALIDADE QUALIFICADA: Pena de reclusão de 2 a 5 anos. I - Se a vítima do sequestroou cárcere privado é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 anos; Obs1: Cuidado! Não abrange ofendido irmão do agente. / Obs2: Não alcança parentes por afinidade ou outros colaterais. / Obs3: Só abrange o idoso com mais de 60 anos (o idoso com exatos 60 anos não está abrangido). / Obs4: Não importa a idade do ofendido no início do sequestro, bastando que seja idoso com mais de 60 anos ao final (libertação). / Obs5: O dolo do agente deve abranger (ter a consciência) as condições do ofendido, para evitar responsabilidade penal objetiva.+ II – Se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III – Se a privação de liberdade dura mais de 15 dias; IV- Se o crime é praticado contra menor de 18 anos; Obs1: A idade da vítima tem que ser conhecida pelo agente (o agente deve saber tratar-se de criança ou adolescente), evitando-se a responsabilidade penal objetiva. / Obs2: Não importa a idade da vítima ao final do crime, bastando ser criança ou adolescente no início do sequestro. (é o oposto ao caso do idoso). IV – Se o crime é praticado com fins libidinosos. MODALIDADE QUALIFICADA: Se resulta à vítima, em razão dos maus tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral. Pena de reclusão de 2 a 8 anos. Obs: Se o agente tem a finalidade de torturar a vítima, incide a Lei 9.455/97. A lei de tortura tem finalidade especial. O sequestro e o cárcere privado são crimes em que há supressão ou restrição da liberdade ambulatorial do sujeito, do direito de ir e vir. Rogério Greco afirma que sequestro e cárcere privado, apesar de parecerem delitos 5 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 diferentes, significam a mesma coisa. Contudo, aqueles que distinguem, afirmam que no sequestro há maior liberdade ambulatorial da vítima (confinamento de pessoa em uma ilha) e, quando a liberdade ambulatorial é menor, ou seja, o espaço para que a vítima possa se locomover é pequeno (clausura, confinamento), reduzido, trata-se de cárcere privado. Masson destaca que se trata de distinção apenas doutrinária, visto que em termos práticos essa diferenciação não interfere na tipicidade do delito, mas pode influenciar na dosimetria da pena. Importante destacar que o consentimento do ofendido, se válido, exclui a tipicidade. ELEMENTO SUBJETIVO: Crime exclusivamente doloso, sem qualquer finalidade específica. Se o propósito do agente, com a privação de liberdade de uma pessoa, for obter qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate, o crime será de extorsão mediante sequestro. CONSUMAÇÃO: Trata-se de crime material e permanente, consumando-se o crime no exato momento da privação da liberdade da vítima. ART. 230 DO ECA E O CRIME DE SEQUESTRO: A apreensão ilegal se dá quando não houver flagrante de ato infracional ou quando não houver ordem judicial de apreensão. Pode haver também o caso de apreensão sem as formalidades legais, significa que a apreensão é legal, mas são inobservadas as formalidades legais na sua formalização. Se ocorrer a privação da liberdade da vítima, por qualquer outra forma que não seja a apreensão, haverá o crime de sequestro ou cárcere privado. Art. 286 – Incitação ao crime Trata-se de crime contra a paz pública, formal, de perigo abstrato e somente admite o elemento subjetivo dolo. Crime de Ação Penal Pública Incondicionada. Frise-se que a incitação deve ser PÚBLICA, envolver CRIME determinado e se dirigir a um número INDETERMINADO de pessoas. (A residência particular não pode ser compreendida como local público) Se a incitação tiver destinatário único, não restará configurado o crime de incitação, contudo, poderá restar caracterizada a participação no crime objeto da incitação (art. 29), se este ao menos chegar na fase de execução por parte daquele que é induzido ou instigado. CONSUMAÇÃO: A consumação se dá no exato momento da incitação pública, crime formal. Entretanto, se uma das pessoas incitadas vier a efetivamente cometer o delito objeto da incitação, o agente responderá pelo crime de incitação – art. 286 – em concurso com o crime praticado (na 6 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 qualidade de partícipe) pelo incitado, em concurso formal próprio ou impróprio, a depender do caso. CASOS ESPECIAIS: (1) Se a incitação detiver conotação política aplica-se o art. 23 da L. 7.170/83, caracterizando crime contra SEGURANÇA NACIONAL. (2) Se a incitação envolver o crime de genocídio, caracteriza o crime do art. 3 da L. 2889/56. (3) Se a incitação possuir finalidade discriminatória ou preconceituosa, estará caracterizado o crime previsto no art. 20 da L.7716/89. Art. 287 - Apologia ao Crime ou Criminoso Trata-se de crime contra a paz pública, de perigo abstrato, formal, de Ação Penal Pública Incondicionada, que exige o elemento dolo para fins de caracterização. Ademais, a apologia deve ser pública, não se admitindo a apologia à contravenção penal ou a contraventor. Segundo a doutrina de Capez, quando o agente faz apologia a diversos crimes ou autores de fatos criminosos, ainda que num mesmo contexto fático, haverá concurso de crimes e não crime único. Art. 288 – Associação Criminosa Conceito: Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes. A novel lei 12850/13 alterou o CP, modificando o nomen iures do crime de formação de quadrilha ou bando para Associação Criminosa, além de reduzir o quantitativo mínimo para fins de caracterização do crime de 4 para 3 integrantes, caracterizando novatio legis in pejus. Ademais, adicionou como causa de aumento de pena a presença de criança ou adolescente na associação criminosa. E, como o tipo penal faz menção a “crimes”, impõe-se a união estável e permanente de, no mínimo, três indivíduos para a prática de crimes indeterminados, qualquer que seja o bem jurídico ofendido (vida, patrimônio, dignidade sexual, fé pública etc.). De fato, a reunião de pessoas para a realização de crimes determinados (ainda que vários) caracteriza concurso de pessoas (coautoria ou participação), e não associação criminosa. . REQUISITOS NECESSÁRIOS: Para configuração do delito de associação criminosa, exige-se estabilidade e permanência dos membros. Os integrantes do crime de associação criminosa não precisam ser identificados, devendo restar provado tão somente o quantitativo mínimo exigido pelo tipo. Trata-se 7 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 de crime plurisubjetivo, exigindo-se o concurso de pessoas, dispensando a existência de ordem e hierarquia entre os membros. ATENÇÃO: O delito de organização criminosa exige hierarquia e divisão de tarefas. Os seus membros não precisam se conhecer, tampouco viver no mesmo local. Mas devem saber sobre a existência dos demais. Basta que o sujeito esteja consciente em formar parte de uma associação cuja existência e finalidades lhe sejam conhecidas. Trata-se de um crime doloso, de perigo abstrato, visto que não é necessário qualquer dano efetivo, mas sim probabilidade real que desperta interesse de punição por parte do direito penal. Trata-se de um crime de concurso necessário de pessoas ou plurissubjetivo de condutas paralelas. Ademais, o crime de associação criminosa é um crime permanente, se potrai no tempo até a cessação da associação. Ademais, estamos diante de um crime formal, de consumação antecipada, situação em que a pratica dos crimes caracteriza mero exaurimento(Delito de intenção mutilada de dois atos). Deve-se destacar que a associação criminosa exige a finalidade de praticar CRIMES. Não há associação criminosa para prática de um único crime. Cumpre observar que somente teremos a figura da associação criminosa quando diante de crimes, nunca de contravenções. Prevalece na doutrina o entendimento de que os crimes apontados pelo art. 288 precisam ser dolosos. NÃO HÁ ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA PARA PRÁTICA DE CRIMES CULPOSOS! Participação no crime de associação criminosa: Segundo posição amplamente majoritária não há possibilidade de participação no crime de associação criminosa, uma vez que aquele que concorre de qualquer modo para sua prática deverá ser considerado autor do art. 288. A associação criminosa não admite tentativa, ou ela está formada ou não está. (convidar pessoas para integrar associação criminosa, de acordo com a doutrina configura ato preparatório impunível). Frise-se que o crime de associação criminosa é um crime autônomo. Destarte, nada impede que os integrantes da associação sejam condenados pelo crime de extorsão mediante seqüestro na modalidade qualificada pela presença de quadrilha e associação criminosa em concurso material, visto tratar-se de crimes de proteção distintas, não havendo bis in idem. Ademais, não há bis in idem na imputação de crime de quadrilha ou bando e majoração da pena do crime de roubo pela existência concurso de pessoas. (STJ, HC 123932/SP – STF HC 77287/SP) 8 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Questão: O agente infiltrado poderá ser computado no nº mínimo de 3 pessoas? 1ª corrente - Nucci entende que sim, pois do mesmo modo que se admite a formação de quadrilha com inserção de menor de 18 anos, embora não seja este culpável, é de se considerar válida, para o mesmo fim, a presença do agente infiltrado. 2ª corrente – o policial não pode ser computado, pois não age com o necessário ânimo associativo, pois a sua finalidade, aliás, é diametralmente oposta, qual seja, desmantelar a sociedade criminosa. Se ele for coagido a matar alguém, recairá sobre ele inexigibilidade de conduta diversa. Possibilidade de caracterização de associação criminosa diante de crime continuado: O Código Penal adota a Teoria da Ficção Jurídica quanto ao instituto do crime continuado, considerando a cadeia de crimes como um único crime e o tipo previsto no art. 288 exige a finalidade múltipla de crimes. Assim, surgem duas teorias: (1) Nucci – É possível a caracterização do crime de associação criminosa mesmo diante de crime continuado, pois a Teoria da Ficção Jurídica é pressuposto apenas para fixação da pena; (2) Hungria – Defende que no crime continuado não há associação estável e permanência entre os envolvidos, o que afasta a caracterização do crime de associação. Inimputáveis - Cômputo para fins de configuração do crime de associação criminosa: O menor de 18 anos, desde que tenha discernimento para entender o que está fazendo, pode integrar a associação criminosa, sendo contabilizado como integrante. Assim, podemos ter dois maiores de idade e um menor de 17 anos, por exemplo. O que não se admite para fins de cômputo é a criança que nem mesmo tem discernimento, como crianças de 4 ou 5 anos, pois não há qualquer liame associativo nessas situações. Ex. Grupo de 2 pessoas que se vale de forma estável e permanente de uma criança de 4 anos para atrair motoristas em um semáforo para posterior assalto. Aqui não há associação criminosa, mas sim concurso de pessoas. # É possível agente pertencer a mais de uma associação criminosa? R.: Se o agente integra diversas associações criminosas viola, por diversas vezes, a lei, caracterizando concurso material de delitos. O que a lei pune é associar-se e se ele mais de uma vez se associa, caracteriza pluralidade de crimes. Imputação na denúncia: A narrativa na denúncia deve evidenciar a existência de associação para prática de crimes, não se exigindo minuciosa 9 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 demonstração dos atos de cada participante e nem mesmo a identificação de cada membro. (STF,HC 87463) Associação criminosa que pratica crime após o oferecimento da denúncia: Se após o oferecimento da denúncia a quadrilha vier a praticar novo crime, deverá ser intentada outra ação penal, pois trata-se de um crime permanente – crime único que se potraiu após o oferecimento da denúncia – e que não poderá ser imputado como um segundo crime, sob pena de dupla punição pelo mesmo fato. (STJ, HC 4290/RJ – STF 78821/RJ) Porém, há quem sustente que a associação criminosa cessa com o recebimento da denúncia, hipótese em que a associação posterior para o cometimento de crimes deve ser considerada como um novo delito, não se cogitando bis in idem (sob pena de impunidade, intervenção insuficiente/deficiente do Estado). Associação criminosa e crimes cometidos por somente alguns integrantes: Se A,B,C,D associam-se de forma estável e permanente para prática de crimes, contudo, somente A e B praticam o estelionato, os demais somente responderão pelo crime do art. 288, enquanto A e B responderão pelo art. 288 em concurso material com o art. 171 do CP. Abandono de integrante da associação criminosa e reflexos jurídicos: Imaginemos uma associação criminosa já constituída e composta por três membros, o número mínimo exigido pelo art. 288 do Código Penal. Se um deles retirar-se do agrupamento ilícito, estará excluído o delito? A resposta é negativa, pois o crime já havia se consumado no momento da efetiva associação, razão pela qual não se pode falar em desistência voluntária ou arrependimento eficaz (CP, art. 15). Parágrafo único: a pena é aplicada em dobro se a associação criminosa é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (Admite-se tanto a arma própria quanto a imprópria). Segundo STF, basta um membro estar armado para qualificar o crime, desde que os membros saibam da arma. (STF, HC 72992/SP) Ademais para STF e STJ, não configura bis in idem a condenação por crime de associação criminosa armada e roubo majorado pelo emprego de arma, em virtude da autonomia e independência dos delitos. (RHC 102984 / STJ HC 91129) ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA PARA PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS: Se a associação criminosa do art. 8 da L. 8072 estiver armada, segundo doutrina majoritária, pode ser aplicada a pena em dobro em remissão realizada ao parágrafo único retro citado. 10 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 CRIME OBSTÁCULO: É aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crime autônomo pelo legislador. É o caso da ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. (art. 288/CP) (2ª Fase MPE/PR). OMISSÃO IMPRÓPRIA E A ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA: A pesar do delito de associação criminosa ser um crime comissivo, não se admitindo a omissão própria, permite-se, contudo, que seja praticada via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor. A Lei. 12850/13 trouxe um novo conceito legal de ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA: Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custearorganização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. IMPORTANTE: Os crimes praticados pela milícia privada devem estar presentes no CP. Desse modo, se houver constituição de tais milícias para crimes de tortura ou genocídio, não se deve aplicar o art. 288-A, mas pode ser aplicado o art. 288. Boa parte doutrina critica a novel lei que tipifica a constituição de milícia privada, com fulcro nos ensinamentos de Feverbach, sob a égide do Principio da Reserva Legal, em especial, no que tange a Lex Certa. A referida inovação legislativa não define o conceito de organização paramilitar, particular e grupo ou esquadrão, nem mesmo estipula um mínimo quantitativo para configuração do crime em questão. Segundo a doutrina, milícia privada é gênero do qual tem-se espécies: organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão. Ademais, o objetivo do legislador em destacar a atividade de grupo de extermínio é de determinar que este será considerado um crime hediondo, mesmo que na modalidade simples. 11 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Milícia privada é o agrupamento armado e estruturado de civis – inclusive com a participação de militares fora das suas funções – com a pretensa finalidade de restaurar a segurança em locais controlados pela criminalidade, em face da inoperância e desídia do Poder Público. Para tanto, seus integrantes apresentam-se como verdadeiros “heróis” de uma comunidade carente e fragilizada, e como recompensa são remunerados por empresários e pelas pessoas em geral. Organização paramilitar é uma associação civil, desvinculada do Estado, armada e com estrutura análoga às instituições militares, que utiliza táticas e técnicas policiais ou militares para alcançar seus objetivos. Grupo de extermínio é a associação de matadores, composta de particulares e também por policiais autointitulados de “justiceiros”, que buscam eliminar pessoas deliberadamente rotuladas como perigosas ou inconvenientes aos anseios da coletividade. Sua existência se deve à covardia e à omissão do Estado. Quantas pessoas devem integrar a organização paramilitar, milícia, grupo de extermínio? 1ª C: De acordo com Cezar Roberto Bittencourt, o novo tipo penal deve ser interpretado de acordo com artigo 288 CP. Conclusão: 03 pessoas. 2ª C: De acordo com Nucci, pode constituir o crime do artigo 288-A CP com apenas 02 pessoas. 3ª C: De acordo com Rogério Sanches, o novo tipo penal deve ser interpretado de acordo com a Lei 12.850/13, isto é, 04 pessoas. - Os crimes devem ter nexo com a finalidade do grupo: Ex: Grupo de extermínio para praticar roubos? Não cabe o art. 288-A CP; Ex: Grupo de extermínio para praticar crimes contra a pessoa? Cabe o art. 288-A CP; Aplica-se o crime de milícia privada (288-A CP) em concurso com o homicídio com causa de aumento de pena pela constituição da mília (121,§ 6º CP)? 1ªC (Bittencourt): o agente responde, apenas, pelo artigo 121, §6º, CP, não cumulando com artigo 288-A do CP para evitar “bis in idem”. 2ª C (Tribunais Superiores): o agente responde pelo artigo 288-A do CP + art. 121, §6º do CP, não configurando “bis in idem” (são infrações autônomas e independentes protegendo bens jurídicos distintos). CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA: O bem jurídico protegido é a fé pública, tendo como titular a coletividade, crime vago. A fé publica é a crença na legitimidade, veracidade e lealdade para com os documentos que materializam a vida de cada ser humano. (presunção de legitimidade). 12 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 A inserção de documentos falsos prejudica a vida da sociedade, visto que a burocracia aumenta e torna menos ágil nossa relação diante da sociedade. Nelson Hungria aduz que os crimes contra a fé pública afrontam a agilidade das relações comuns que praticamos em nosso dia a dia. Toda falsidade tem um fim especifico de receber uma vantagem indevida distinta da falsificação em si. Trata-se de um crime autônomo e distinto do crime ao qual se está objetivando com a falsificação per si. Consumação: Trata-se de crime formal, em que a consumação se dá no exato momento em que ocorre a falsificação ou alteração do documento, independente de qualquer resultado. Ação Penal: Ação Penal Pública Incondicionada. Competência: Diante dos crimes contra a fé pública, há três regras para fixação da justiça competente: Regra nº 01) Em se tratando de crimes de falsificação, a competência será determinada a partir do Órgão responsável pela confecção do documento. Se um órgão emite um documento, esse órgão tem interesse na preservação da autenticidade do mesmo. Ex. moeda falsa e CPF falso (JF) / habilitação falsa, como o Detran é estadual, a competência é da justiça estadual. Regra nº 02) Em se tratando de crime de uso de documento falso por terceiro que não tenha sido o responsável pela falsificação, a competência será determinada em virtude da pessoa física ou jurídica prejudicada pelo uso, pouco importando o órgão responsável pela confecção do documento. Ex.: Pessoa comprou uma carteira de habilitação falsa e a utiliza numa blitz da polícia rodoviária federal. A competência é da justiça federal. Regra nº 03) Em se tratando de falsificação ou uso de documento falso, cometidos como meio para a prática de um crime-fim (ex. estelionato), a competência será determinada em face do sujeito passivo do crime fim (patrimonial, no caso), já que o falsum será absorvido por tal delito. QUAL A DIFERENÇA ENTRE FALSIDADE MATERIAL E IDEOLÓGICA? Ambas tutelam a fé pública, porém a falsidade material atenta contra a autenticidade do documento (forma), enquanto a falsidade ideológica atenta contra o conteúdo do documento, apresentando um juízo inverídico. Toda falsidade é ideológica, pois visa alterar a percepção do agente passivo. No entanto, nem toda falsidade será material, ou seja, alterará a substância do documento. Diante de falsidade ideológica não é necessária perícia para 13 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 constatação. Já quando a falsidade é material faz-se necessário o parecer de um perito sobre o documento. Ademais, para configurarmos o crime de falso, deve haver potencialidade lesiva. Assim, aquela falsidade grosseira que não consegue ludibriar o homem comum não será considerada crime de falso, sob o fundamento do instituto do crime impossível. Não obstante determinada falsificação possa ser grosseira ao ponto de ser considerada como crime impossível, não podemos partir da mesma premissa para elidir a imputação do crime de estelionato, pois, mesmo grosseiramente falso o documento, pode ser capaz fraudar a vontade de determinada vítima, não devendo ser analisada a questão à luz do homem médio. (Inteligência da Súmula 73 STJ) O que é um documento, temos duas teorias: Teoria Estrita – Todo escrito feito sobre coisa móvel, de autor determinado e que registre um fato ou ato juridicamente relevante. Teoria mais retrograda, porém ainda sendo a mais segura. (Capez, Mirabete). Teoria Ampla – Documento pode ser qualquer objeto que tenha o condão de provar algum ato ou fato, seja um vídeo, gravações de áudio, arquivo de computador, foto, seja ele impresso ou virtual. (Regis Prado) Art. 289 – Moeda Falsa Conceito: Falsificar, fabricando ou alterando, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro. Figura Equiparada: Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, ou introduz em circulação moeda falsa. O crime de moeda falsa, previsto no artigo 289 do Código Penal, é classificado como crime de ação múltipla (tipo penal alternativo ou plurinuclear), situação em que a prática de mais de um verbo núcleo do tipo caracteriza crime único. Figura Privilegiada: Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade. Destaque-se que aquele que restitui a moeda falsa à circulação desconhecendo a falsidade pratica FATO ATÍPICO. Bem Jurídico: Fé Pública. Considera-se de curso legal as moedas que não podem ser recusadas como forma de pagamento, tal como acontece com o REAL no Brasil. (Não abrange o cheque-viagem, conforme STJ: CC 94848/SP e o padrão monetário já extinto: Cruzeiro). Trata-se de crime de ação penal 14 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 pública incondicionada e de competência da Justiça Federal, em todas as modalidades. Sujeitos e elemento subjetivo: Trata-se de crime comum, vago, necessitando do elemento subjetivo dolo, não se admitindo a modalidade culposa. Ademais, não se exige o animus lucrandi. O tipo de moeda falsa exige o dolo genérico, sem a necessidade de qualquer especial fim de agir. O crime de moeda falsa é crime não-transeunte, exigindo exame de corpo de delito. Consumação: Trata-se de crime formal, consumando-se com a mera falsificação da moeda metálica ou papel-moeda – independente de resultado naturalístico-, mediante fabricação ou alteração, desde que idônea a enganar as pessoas. A falsificação de várias moedas no mesmo contexto fático caracteriza crime único, sendo irrelevante que o objeto do crime seja colocado em circulação, bem como se alguém suporta prejuízo. Ademais, como se está diante de delito plurissubsistente, admite-se a figura da tentativa. Crime impossível: A falsificação grosseira de papel-moeda não é crime contra a fé pública, mas pode configurar estelionato perante o individuo que não foi capaz de perceber a falsidade que arraigava o documento, hipótese em que o julgamento será de competência da J. Estadual. (Súm. 73 STJ) Princípio da Insignificância: Não é admitido nos crimes contra a fé pública. STF: HC 96153/MG. Destaque-se que, se o próprio falsário coloca em circulação a moeda ou papel-moeda, estaremos diante de pós-fato impunível, devendo, responder, tão somente pela falsificação e não pela figura equiparada. FIGURA QUALIFICADA: É punido com reclusão de 3 a 15 anos e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: 1. De moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei. 2. De papel-moeda em quantidade superior à autorizada. Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular a moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. (Crime comum) A figura qualificada do crime de moeda falsa é crime próprio, pois somente pode ser cometido pelas pessoas expressamente dispostas no tipo. O inciso que trata do peso somente se aplica à moeda e somente quando a moeda tem peso inferior, sendo atípico o fato de a moeda ter peso superior. Ademais, o inciso que trata da quantidade somente se aplica ao papel-moeda 15 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 fabricado em quantidade superior ao autorizado, sendo certo que a fabricação de moeda em quantidade inferior não caracteriza crime, mas sim ilícito administrativo. Por fim, destaque-se que a modalidade qualificada prevê crime formal, se consumando com a mera prática do verbo núcleo do tipo. ARREPENDIMENTO POSTERIOR: Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa. No crime de moeda falsa – cuja consumação se dá com a falsificação da moeda, sendo irrelevante eventual dano patrimonial imposto a terceiros –, a vítima é a coletividade como um todo, e o bem jurídico tutelado é a fé pública, que não é passível de reparação. Desse modo, os crimes contra a fé pública, semelhantes aos demais crimes não patrimoniais em geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída. STJ. 6ª Turma. REsp 1.242.294-PR, 18/11/2014. Art. 297 – Falsificação de documento público Trata-se de falsidade material de documento formalmente público. A consumação do crime se dá no momento em que o documento é alterado ou fabricado – crime formal -, independente de sua utilização posterior. Passível de tentativa, quando diante de crime plurissubsistente. Ademais, não é necessário que haja dano para a consumação, trata-se de um crime formal. Frise-se que se a falsificação for grosseira deve ser afastada a imputação ao crime de falso, sob o fundamento do crime impossível. Conduta: falsificar ou alterar. Pressupõe dolo (sem qualquer finalidade especial do agente). No crime de falsidade material (documento público ou privado) não se exige a presença do especial fim de agir, contudo, na falsidade ideológica, deve estar presente o especial fim de agir do agente, qual seja, de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre o fato juridicamente relevante. CAUSA DE AUMENTO DE PENA: Diante de funcionário público que pratica a falsificação de documento público valendo-se da sua função há a incidência da causa de aumento. Cuidado, pois no crime de falsidade de documento privado não há a incidência desta majorante. Falsificação para acobertar outro crime - Unidade ou pluralidade de crimes: Se o agente, no mesmo contexto fático e visando alcançar uma determinada finalidade, falsifica diversos documentos públicos, deve responder por uma única falsificação. Ex. Agente que furta um veículo e falsifica todos os documentos 16 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 relativos ao automóvel. Porém, a falsificação destinada a acobertar um crime anterior nunca por ele será absorvida, pois estão relacionados a momentos consumativos e bens jurídicos diversos. (Masson) CUIDADO: A conduta que se limita a cancelar ou rasurar palavras de um documento, sem implicar inserção de novos dados ou modificação no seu conteúdo, caracteriza o crime de supressão de documento, art. 305 do CP. Súm. 73 STJ – A falsificação grosseira de papel-moeda não é crime contra a fé pública, mas pode configurar estelionato perante o individuo que não foi capaz de perceber a falsidade que arraigava o documento, de competência da J. Estadual. O QUE É DOCUMENTO PÚBLICO? Documento Público é aquele elaborado por funcionário público no exercício de sua função, mesmo que ele seja substancialmente privado. A lei traz um rol de documentos que são EQUIPARADOS aos documentos públicos: documentos emanados por entidade paraestatal, o titulo ao portador ou transmissível por endosso, as ações da sociedade comercial, livros mercantis e o testamento particular (art. 297) TÍTULO AO PORTADOR OU TRANSMISSÍVEL POR ENDOSSO – cheque, nota promissória, letra de câmbio, etc. É IMPRESCINDÍVEL QUE SEJAM PASSÍVEIS DE TRANSMISSÃO POR ENDOSSO. Contudo, sabe-se que o cheque tem um prazo em que ele é transmissível por endosso. Depois desse prazo, ele pode ser objeto de cessão civil, mas deixa de sertransmissível por endosso. Nesse caso, considerando que o cheque, após esse prazo, não pode mais ser transmitido por endosso, o cheque deixa a ser documento público para equiparação, passando a ser documento particular. É ISSO QUE CAI EM CONCURSO!!! Parágrafo 3º - Traz um rol de adulterações em documentos públicos, em especial, em dados destinados à previdência social. Fiquem atentos à competência diante de falsificação de CTPS: Ex.1: Pessoa sofreu um acidente e não é segurada da previdência. Ela contrata alguém para falsificar a sua CTPS, fazendo uma falsa anotação no documento. Após, essa pessoa vai a uma agência do INSS e apresenta a CTPS, querendo receber auxílio doença. Aqui a competência será da J. Federal, pois a finalidade do agente é causar lesão ao INSS. Ex.2: A pessoa vai procurar um emprego e o empregador requer experiência. O trabalhador pega uma CTPS e a falsifica, fazendo uma anotação de vínculo anterior 17 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 de trabalho anterior, para conseguir o emprego. Aqui a competência será da J. Estadual, pois a finalidade do agente é ludibriar o particular e não o INSS. Obs: Os parágrafos terceiro e quarto do art. 297, do CP, na realidade, são crimes de falsidade ideológica, e não falsidade documental, razão pela qual deveriam estar no art. 299, do CP. Esses artigos caem muito pouco em concurso, mas é importante lê-los. Então, documentos que irão servir como prova perante a Previdência Social, se falsificados, caracterizam falsidade ideológica. ATENÇÃO: A falsificação de cópia reprográfica não autenticada não configura ação com potencial de causar dano à fé pública. Diante de cópia de documento, só haverá crime se o uso for de cópia autenticada. A cópia autenticada pode ser objeto do crime porque pode ser utilizada como prova. (R. Sanches) Art. 298. Falsificação de Documento Particular TIPO: Falsificar no todo ou em parte, documento particular, ou alterar documento particular verdadeiro. Trata-se de falsidade material, delito formal, que não exige especial fim de agir do agente ativo. CUIDADO: A L. 12737/2012 adicionou um parágrafo único ao art. 298: Equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. (mesmo que emitido por empresa pública ou S.E.M) ATENÇÃO: Não há a majorante quando diante de falsificação de documento particular perpetrada por funcionário público, como ocorre no delito anterior. Art. 299 – Falsidade Ideológica Conceito: Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Tutela-se a fé pública, mas em seu CONTEÚDO. Só poderá ser praticado por pessoa que tenha o dever jurídico de declarar a verdade. Deve haver finalidade especial do agente em criar obrigação ou extinguir ou prejudicar direitos. Caso contrário, será fato atípico. Há duas penas: de 1 a 5 anos se o documento for público; e de 1 a 3, se o documento for particular. Ex. Agente que obtém segundo CPF mediante a declaração de nome diverso do verdadeiro. (STF: Inq 1695/DF) TENTATIVA: O delito admite tentativa somente na conduta ativa, na modalidade omissiva NÃO! 18 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 CAUSA DE AUMENTO DE PENA: Se o agente é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é no assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Cuidado! Art. 241 (registrar nascimento inexistente) e 242 (registrar como seu o filho de outrem), do CP. São hipóteses especiais de falsificação de registro civil; Cuidado com as demais falsidades especiais dos arts. 350 do Código Eleitoral e 66 da Lei 9605/98 – falsificar licenciamento ambiental. Falsificação ou alteração do assentamento do registro civil e termo inicial da prescrição da pretensão punitiva: Em regra, a prescrição segue a Teoria do Resultado, contudo, em crimes de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, o termo inicial da prescrição da pretensão punitiva é a data em que o fato se tornou conhecido (art. 111, V, do CP), pouco importando a data da sua realização. O conhecimento do fato, exigido pela lei, refere-se à autoridade pública que tenha poderes para apurar, processar ou punir o responsável pelo delito, aí se incluindo o Delegado de Polícia, o membro do Ministério Público e o órgão do Poder Judiciário. - CONCURSO ENTRE O CRIME DE FALSO E O ESTELIONATO: 4 CORRENTES: 1º Aplica-se a súmula 17 do STJ, em que se o falso tem como objetivo um estelionato e nesse se exaure, deve ser aplicado o principio da consunção, onde este absorve o crime de falso. Trata-se de um crime meio para um ilícito fim. Ex. Pessoa falsificou a folha de cheque e com ela comprou uma mercadoria. O cheque falsificado ficou na loja, se exaurindo na compra. Nesse caso, há estelionato, somente. Ex. Pessoa falsificou um RG e praticou uma fraude no comércio; essa pessoa sai da loja com o produto e com o RG falso, de modo que a falsidade não se esgotou no estelionato, caso em que haverá concurso material. 2º Segundo STF, estamos diante de crimes que protegem bens jurídicos diferentes e, como tal, há a ocorrência de concurso formal de crimes entre o falso e o estelionato, mesmo que haja exaurimento. 3º Hungria defende que o falso deve absorver o estelionato, pois é mais grave do que este. 4º Rogério Greco defende a aplicação do princípio da consunção, mesmo quando o falso não se exaure no estelionato, uma vez que o falso é meio para a consumação do crime fim: estelionato. FALSIDADE IDEOLÓGICA E BIGAMIA: O requerimento de habilitação para o casamento requer a declaração de estado civil dos nubentes. Se, nesse momento, uma pessoa já casada falsear a verdade, declarando o estado civil de solteiro, duas situações podem ocorrer: 19 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 (1) Se o casamento não se concretizar, estará caracterizado somente o crime de falsidade ideológica; (2) Se o casamento se aperfeiçoou, o sujeito será responsabilizado por bigamia e falsidade ideológica, pois tais delitos ofendem bens jurídicos diversos e consumam-se em momentos diferentes. Porém, há quem defenda a consunção, pois a falsidade ideológica é meio para a bigamia (Masson e STJ: HC 39.583/MS). ABUSO DO PAPEL EM BRANCO – Caracteriza o crime de falsidade ideológica, visto que não há qualquer alteração material do documento, mas sim a inserção de conteúdo diverso do que havia sido pactuado. Porém, se quem detém o documento o perde e terceira pessoa vem a preencher o documento com conteúdo diverso, segundo a doutrina, estaremos diante de crime de falsidade material, visto que não era ela a legitimada para preencher o documento. ATENÇÃO: Falsificação para provar fato verídico NÃO possui relevância penal. GRATUIDADE JUDICIÁRIA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. FALSIDADE. HC 217.657- SP, em 2/2/2012. (490-STJ) A apresentação de declaração de pobreza com informações falsas para obtenção da assistência judiciária gratuita não caracteriza os crimes de falsidade ideológica ou uso de documento falso. Isso porque tal declaração é passível de comprovação posterior, de ofício ou a requerimento, já que a presunção de sua veracidade é relativa. PETIÇÃO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DO ART. 299. Segundo entendimento do STJ,a petição só faz prova de seu próprio teor e não da veracidade dos fatos alegados. Por isso, de regra, a inserção de alegações falsas em petição não caracteriza o crime de falsidade ideológica. (STJ, AgRg no Ag 1015372/RJ e HC 51613/RJ) Art. 304 – Uso de documento falso Conceito: Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302. Crime imputado àquele que utiliza algum dos documentos falsificados ou alterados, aplicável à pessoa diversa daquela que falsificou o documento. Aquele que falsifica uma carteira de habilitação, quando há a utilização deste documento, responde somente pelo crime falsificação, uma vez que o uso afigura-se como mero exaurimento, pós-fato impunível. (STJ, HC 150242/HC 107103) 20 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Trata-se de crime remetido, pois sua conduta remete aos arts. 297 a 302 do CP. É também delito acessório (parasitário), pois pressupõe a existência de delito anterior . Porém, cuidado, pois a extinção da punibilidade acerca do crime antecedente não acarreta a descaracterização do crime parasitário. Estamos diante de crime exclusivamente doloso, hipótese em que o uso de documento falso por culpa afigura-se como fato atípico. Ademais, trata-se de norma penal em branco ao avesso, pois busca o preceito secundário (penas) nos crimes correspondentes ao falso anterior. Assim, aquele que usa responde pela mesma pena daquele que falsificou. Imperioso destacar que a falsificação grosseira, perceptível ictu oculi, afasta a falsidade documental em razão da caracterização de crime impossível. O crime de uso de documento falso é um tipo penal unissubsistente, não se admitindo a tentiva. Ademais, cumpre destacar que o uso do documento falso DEVE ser voluntário e a consumação independe da obtenção da vantagem. ATENÇÃO: É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados da confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação da materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a realização do referido exame. STJ. 5ª Turma. HC 307.586-SE, 25/11/2014. IMPORTANTE: O simples porte de um documento falso não é crime. Assim, o documento falso encontrado com o a gente não caracteriza qualquer delito, salvo se ele for apresentado à autoridade ou restar demonstrado que o próprio é quem o falsificou. No entanto, o STJ menciona que o mero porte de Habilitação e CRLV falsas caracteriza o crime de uso de documento falso, pois são documentos de porte obrigatório. USO DE DIVERSOS DOCUMENTOS FALSOS EM UM MESMO CONTEXTO FÁTICO: configura um único crime, em razão da unidade de lesão a fé pública. Ex. Tício se apresenta a CEF para abrir conta corrente com documentos de identidade, renda e comprovante de residência falsos. Já se o agente utiliza- se de documentos falsos em contextos distintos, restará configurada a continuidade delitiva, se presentes os requisitos do art. 71 do CP. Em se tratando de crime de uso de documento falso por terceiro que não tenha sido o responsável pela falsificação do documento, a competência 21 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 será determinada em virtude da pessoa física ou jurídica prejudicada com o seu uso. Aqui é diferente do critério anterior, pois não é o agente que pratica a falsificação, apenas faz o uso, então a competência será relacionada à pessoa lesada. Ex.: Compete à Justiça Federal o julgamento de crime consistente na apresentação de Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à Polícia Rodoviária Federal. (STJ CC 124.498-ES) Súmula 200 STJ O Juízo Federal competente para processar e julgar o crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou. CUIDADO: O uso de papéis públicos – art. 293,CP – não se amolda ao tipo penal previsto no art. 304,CP pois este tipo penal exige que seja utilizado um documento e não um PAPEL PÚBLICO. Ex. notas fiscais. Se o mesmo sujeito é parado na blitz e se diz delegado, apresentando carteira funcional falsa, qual o crime? Art. 304, se o documento não foi por ele falsificado. (corrente majoritária). IMPORTANTE: O STF decidiu que o agente que faz uso de carteira falsa da OAB pratica o crime de uso de documento falso, não se podendo admitir que esse crime seja absorvido (princípio da consunção) pela contravenção penal de exercício ilegal da profissão (art. 47 do DL no 3.688/41), pois não é possível que um crime tipificado no Código Penal seja absorvido por uma infração tipificada na Lei de Contravenções Penais. STF. 1a Turma. HC 121652/SC, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/4/2014. (Informativo 743) Art. 305 – Supressão de Documento Conceito: Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor. Assim, o agente que ao examinar os autos do inquérito policial no qual figure como investigado pela prática de estelionato, encontre os documentos originais colhidos pela autoridade, nos quais seja demonstrada a materialidade do delito investigado, e os destrua, deve responder pelo crime de supressão de documento. SUPRESSÃO DE DOCUMENTO – ART. 305 SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO – ART. 356 Trata-se de crime contra fé pública e pode ser cometido por qualquer pessoa. Trata-se de crime contra a Administração da Justiça e somente pode ser cometido por advogado ou procurador. (crime próprio ou especial). Nesse crime, a inutilização do documento com valor probatório 22 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 representa dano ao Estado, e não a destruição de prova em benefício próprio ou de outrem, ou ainda em prejuízo alheio. É indiferente se o documento foi livremente confiado ao agente ou se alcançou a posse de maneira ilícita, com o fim previsto na norma. A lei se preocupa apenas com a destruição do documento. Destarte, se o documento consistir em traslado, cópia ou certidão, não se reconhece o crime em análise, desde que exista o documento original. (STF, HC 75078/SC) Trata-se de crime formal, consumando-se com a destruição, supressão ou ocultação. Art. 307 – Falsa Identidade Conceito: O crime tipificado no art. 307 (falsa identidade) possui como uma das condutas do núcleo o verbo “atribuir-se”, consistente na simples atribuição de falsa identidade, sem utilização ou apresentação de documento algum (seja falso ou verdadeiro) para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem (exige especial fim de agir). No crime de falsa identidade, o agente se passa por uma pessoa que realmente não é, seja oralmente (passa-se por outra pessoa em um evento), seja por escrito (preenche formulário se passando por terceiro), seja por gesto (levanta a mão quando perguntado quem fez determinada contribuição filantrópica). Aqui não há utilização de documento algum de identificação. A identidade compreende características próprias de pessoa determinada, capazes de individualizá-la perante a sociedade, tais como: nome, filiação, idade, estado civil, sexo e profissão. No conceito identidade não ingressam endereço, telefone e o e-mail. No crime de falsa identidade, o agente atribui para si ou para outrem identidade alheia sem a apresentaçãode qualquer documento. Se apresentar carteira funcional falsa e intitular-se delegado, praticará o crime de uso de documento falso – art. 304. Trata-se de um crime formal, de consumação antecipada, que se completa com a prática do verbo núcleo do tipo: atribui-se falsa identidade para si ou para outrem. 23 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Aplica-se a pena de 3 meses a 1 ano se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Se o agente silencia sobre sua verdadeira identidade, que foi imputada de forma equivocada, não há falar em crime. Note que esse crime é subsidiário, pois o art. deixará de ser aplicado caso o fato constitua infração mais grave. Ex.: (1) estelionato; (2) posse sexual mediante fraude; (3) simulação de casamento. Não é necessário que o agente aufira a vantagem pretendida para configurar o crime. IMPORTANTE – O réu pode mentir sobre fatos, mas não pode mentir sobre sua identidade (qualificação). Se assim o fizer, restará consumado o crime de falsa identidade - HC 72377 STF. Testemunha que mente quanto à identificação em juízo: Segundo MAGALHÃES NORONHA, testemunha que mente quanto a sua qualificação responderá por falso testemunho. Segundo DAMÁSIO, responderá pelo crime de falsa identidade. A primeira corrente é mais coerente, tendo em vista que o réu não está atentando contra a fé pública, mas sim contra a administração da justiça. Ex.: Aquele que é interpelado pela sindica quanto a ausência de vaga na garagem e se diz delegado para fins de conseguir uma vaga na garagem pratica o crime do art. 307, falsa identidade, pois estamos diante de um delito de intenção, em que o sujeito ao atribuir-se falsa identidade visa obter vantagem através da prática da conduta. Se o agente mostra a carteira profissional de Delegado falsa responde por crime de uso de documento falso, art. 304. Vale frisar que esta vantagem não pode ser patrimonial, sob pena de caracterizar estelionato ou usurpação qualificada. SIMULAÇÃO DA QUALIDIDADE DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO E USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA: A simulação da qualidade de funcionário público é contravenção penal prevista no art. 45 e consiste no simples fingimento em ser funcionário público, sem qualquer especial fim de agir. Basta intitular-se funcionário público. Contudo, se presente o especial fim de agir – obter vantagem -, estará configurado o crime de falsa identidade, art. 307. A diferença está no especial fim de agir. Entretanto, se o sujeito fingir-se funcionário público e praticar algum ato relacionado à função pública, a ele será imputado o crime de usurpação de função pública, art. 328. Art. 308 – USO DE DOCUMENTO DE IDENTIDADE ALHEIO 24 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Conceito: Usar, como próprio, passaporte, titulo de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade alheio ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro. Trata-se de crime com punição mais severa do que o crime de falsa identidade, pois aqui há utilização de um documento público para fins de falsear a identidade. Nesse crime pune-se quem cede o documento e também aquele que o utiliza. Ex. Pessoa que com a identidade de terceiro vai ao banco com a finalidade de obter dados da conta do agente passivo. Art. 311 – Adulteração de sinal identificador de veiculo automotor Tipo: Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer outro sinal identificador de veiculo automotor, de seu componente ou equipamento. Trata-se de crime formal, doloso e que admite a figura tentada. Segundo a jurisprudência atual do STJ e do STF, a conduta de colocar uma fita adesiva ou isolante para alterar o número ou as letras da placa do carro objetivando evitar multas, pedágio, rodízio etc, configura o delito do art. 311 do CP. Há quem defenda que se trata de crime impossível, como observa Masson. (STF. 2ª Turma. RHC 116371/DF, em 13/8/2013). Ademais, a troca de placas entre veículos, segundo STJ e STF, também caracteriza o crime de adulteração de sinal identificador de veiculo automotor. OBSERVAÇÃO: Rogério Sanches adverte que a pessoa que recebe o veículo já adulterado, sabendo dessa circunstância, não pratica o crime do art. 311, mas o do art. 180 (receptação). Se ele recebe o veiculo objeto de crime de depois adultera o chassi, responde pelo art. 180 em concurso com o 311. CUIDADO: A adulteração do Chassi ou placa realizada na CRLV constitui crime de falsidade material de documento público e não o crime de adulteração de sinal identificador de veículo. Art. 311-A – FRAUDE EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO: Conceito: Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: I – Concurso Público; II – Avaliação de exames públicos; III – Processo seletivo para o ingresso no ensino superior; (Ex. ENEM) IV – exame ou processo seletivo previsto em lei. (EX. EXAME DA OAB) 25 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 Nas mesmas penas incorre quem PERMITE ou FACILITA, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput. MODALIDADE QUALIFICADA: Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública. CAUSA DE AUMENTO: Aumenta-se em 1/3 se o fato é cometido por funcionário público. Bem Jurídico Tutelado: Fé Pública, pautando-se no Princípio da Isonomia e demais princípios da Administração Pública. Crime de Ação Penal Pública Incondicionada e de competência da J. Estadual, salvo se em detrimento de bens ou interesses da União. Ex. Fraude em concurso da CEF. Abrangência do Crime: O crime de fraude ao certame exige que seja violado o interesse público, independentemente se o processo seletivo se dá em âmbito público ou privado. Sujeitos e elemento subjetivo: Trata-se de crime comum, vago, com dolo subjetivo específico (com o fim de beneficiar ...), não se admitindo o cometimento do crime na modalidade culposa. Consumação: Trata-se de crime formal, consumando-se com a divulgação ou utilização indevida do conteúdo sigiloso, não se exigindo a obtenção do benefício próprio ou de terceiro, nem o efetivo comprometimento da credibilidade do certame. Ademais, em face do caráter plurissubsistente, permite-se a modalidade tentada. COLA ELETRÔNICA: Antes da L. 12550/11, que criou o crime em questão, o STF afirmou que a cola eletrônica era fato atípico. Contudo, com o advento da referida lei, o fato amolda-se ao crime previsto no art. 311-A, visto que há a divulgação indevida de conteúdo sigiloso com o fim de beneficiar outrem. Segundo a doutrina, no caso de cola eletrônica há o concurso de pessoas entre o expert (que divulga o conteúdo sigiloso) e o candidato (que o utiliza indevidamente). DIVULGAÇÃO ANTECIPADA DO RESULTADO DO CERTAME: Não caracteriza o crime previsto no art. 311-A a divulgação do resultado do certame antecipadamente a determinadas pessoas, embora o ato seja imoral. Ex. 26 D IR EI T O P EN A L | 0 1/ 0 1/ 2 0 15 CESPE realiza o certame e uma pessoa da instituição divulga o resultado antecipadamente a um grupo de amigos.
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