Buscar

A depressão como fenômeno social no capitalismo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

16/01/2018 A depressão como fenômeno social no capitalismo
http://www.esquerdadiario.com.br/A-depressao-como-fenomeno-social-no-capitalismo 1/4
Laura Aparicio - Pão e Rosas México
A depressão como fenômeno social no capitalismo
Atualmente, o termo “depressão” tem se igualado à noção de tristeza e pouco se entende
sobre seu fator social, já que as tendências da psiquiatria abordam a doença a partir de
um ponto de vista biológico e individual
quarta-feira 20 de dezembro de 2017| Edição do dia
 56
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que a depressão afeta mais de
300 milhões de pessoas no mundo, que cerca de 800.000 pessoas se suicidam a cada ano,
que 78% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda, e que o suicídio é a
segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A depressão inclui sintomas como perda do sentido da vida, inibição, desesperança,
sentimentos de vazio, infelicidade, um mal estar indefinível e generalizado, desinteresse pelo
cuidado pessoal e por atividades que antes eram gratificantes, insônia ou hipersônia, fatiga
ou perda de energia, dores de cabeça, transtornos alimentares, diminuição do desejo sexual,
dificuldade de raciocínio e concentração, ansiedade, sentimentos de culpa, inutilidade e de
um profundo e incontrolável sofrimento.
16/01/2018 A depressão como fenômeno social no capitalismo
http://www.esquerdadiario.com.br/A-depressao-como-fenomeno-social-no-capitalismo 2/4
Algumas de suas consequências são o abandono do trabalho ou dos estudos, conflitos
conjugais e/ou familiares, alcoolismo e dependência de drogas; do mesmo modo, a
depressão não equivale a suicídio, mas este é uma possibilidade em casos graves. O nível
depressivo – leve, moderado ou grave – dependerá do histórico psíquico de cada sujeito e
dos recursos com os quais possa contar, como as redes de apoio de familiares e amigos.
Pode te interessar "De volta aos tempos sinistros do manicômio"
No México, os índices de suicídio aumentaram catastroficamente, já que no ano de 1994
foram registrados 2.603 suicídios, e em 2016 estes números cresceram aproximadamente
200%, com 6.370 suicídios registrados. De acordo com dados do órgão mexicano Instituto
Nacional de Estadística y Geografía (INEGI 2017), 41,3% destas mortes correspondem a
jovens de 15 a 29 anos e 3,7% correspondem a adolescentes de 10 a 14 anos de idade.
Fonte: INEGI Estatísticas de mortalidade]
Além disso, é importante destacar que 8 a cada 10 suicídios no México foram cometidos no
interior de domicílios particulares (76,2%), segundo dados do INEGI.
O tabu da depressão e seu fator social
Parece um paradoxo que, por um lado, o termo “depressão” seja cada vez mais utilizado e
igualado à tristeza ocasional, mas por outro siga sendo um tabu que “deve” ser enfrentado
em segredo e de maneira individual – como se sua aparição fosse um traço unicamente
16/01/2018 A depressão como fenômeno social no capitalismo
http://www.esquerdadiario.com.br/A-depressao-como-fenomeno-social-no-capitalismo 3/4
individual! Tal tabu transforma a depressão em sinônimo de suicídio, o que se torna um risco
para os que dela padecem e são vistos com empatia.
No entanto, não é coincidência que a depressão e suas consequências, como o suicídio,
tenham se transformado em uma das principais “doenças do século 21” e uma das principais
causas de morte – ou que será num futuro próximo –, em especial para um amplo setor da
juventude trabalhadora que vê quebradas suas esperanças de ter uma vida digna, já que as
condições de trabalho em que os jovens se inserem a cada dia são mais golpeadas.
A depressão tem múltiplos elementos que não podem ser generalizados porque dependem de
cada sujeito, como seu histórico familiar e psíquico; contudo, o fator social é determinante
no seu desencadeamento e permanência. Como explica Ana María Fernandez em seu
livro Jóvenes de vidas grises (“Jovens com vidas cinzas”), não se pode isolar o contexto
social que impossibilita à juventude um planejamento de seu futuro, como têm feito as
economias neoliberais que instituem na subjetividade uma quebra de esperança coletiva, o
que corresponde a “toda uma estratégia biopolítica de vulnerabilização”.
Tais condições não podem ser explicadas sem se compreender o modo de produção
capitalista que a cada dia é mais voraz, que busca aumentar seus lucros precarizando e
empobrecendo a vida da classe trabalhadora de conjunto – somente no México há mais de 50
milhões de pessoas em situação de pobreza. E é neste cenário que a juventude se insere num
mundo competitivo e a cada vez mais individualista – este setor representa um amplo
exército de reserva no mundo do trabalho e enfrenta cada vez maiores dificuldades para
estudar, já que possui as piores condições de trabalho e menos de 15% dos que prestam
vestibulares para a universidade têm acesso à educação.
O transtorno depressivo e seu crescimento brutal parecem mais ser um sintoma de uma
época que reflete a pouca esperança em relação ao futuro, causada pelas condições cada vez
mais insustentáveis nas quais vive a classe trabalhadora. Não é de se espantar que este setor
sinta um profundo desânimo e tenda à depressão crônica ou ao suicídio.
Como mostram os dados, a maioria dos suicídios ocorre no âmbito privado, mas também
existem casos em que claramente se nota o determinante social, como aconteceu em 2012
com Dimitris Christoulas, o aposentado de 77 anos que se suicidou em frente ao parlamento
grego. Em parte da carta encontrada nos bolsos do idoso que pôs fim à sua vida, se lia:
“O Governo de Tsolakoglou aniquilou qualquer possibilidade de sobrevivência para mim,
que se baseava em uma pensão de aposentadoria muito digna que eu havia pagado por conta
própria sem nenhuma ajuda do Estado durante 35 anos. E, dado que minha idade avançada
não me permite reagir de outra maneira (ainda que, se um compatriota grego sacasse um
kalashnikov [tipo de fuzil], eu o apoiaria), não vejo outra solução que não seja pôr fim à
minha vida desta forma digna para que não tenha que acabar revirando lixeiras para poder
sobreviver. Creio que os jovens sem futuro algum dia sacarão as armas e as apontarão boca
16/01/2018 A depressão como fenômeno social no capitalismo
http://www.esquerdadiario.com.br/A-depressao-como-fenomeno-social-no-capitalismo 4/4
abaixo aos traidores deste país na praça Syntagma, como os italianos fizeram com
Mussollini em 1945.”
O capitalismo mostra a mais profunda barbárie contra o conjunto da classe trabalhadora a
nível internacional. Por tal razão, dizemos: nossas vidas valem mais que seus lucros!
Sobre a individualização da depressão e a saída realmente necessária
Dentro do modelo hegemônico da psiquiatria, a depressão é encarada a partir do ponto de
vista biológico, individual, a-histórico e associal, que pressupõe uma alteração bioquímica
no cérebro, como o desequilíbrio dos neurotransmissores serotonina e norepinefrina.
Esta concepção contribui para que quem sofre desta doença não identifique claramente o que
se passa, sofra em silêncio e se isole do mundo externo; além disso, fortalece a ideia de que
seja um problema individual, e não social.
No geral, o tratamento para essa problemática consiste na medicação prescrita em um
discurso individual e que garante os lucros da indústria farmacêutica. Estas medidas apenas
buscam tapar o sol com a peneira e dão uma solução paliativa para os sintomas, mas não
chegam à raiz do problema. Cada vez é mais frequente a medicação em idade precoce, seja
em quadros infantis de depressão, insônia ou “hiperatividade”, o que faz com que os sujeitos
sejam transformados em seres dóceis e produtivos. Se a pergunta é como a medicação
beneficia o capitalismo...aí está a resposta.
É necessário construir e fortalecer os laços familiares e sociais que se veem fragilizados pela
competitividade, como podem ser os laços desolidariedade entre os(as) trabalhadores(as),
para que os sujeitos estejam melhor armados anímica e psiquicamente para enfrentar estas
condições. Qualquer solução que não busque a transformação radical da sociedade será
impotente, frente à problemática que se desencadeia a partir da precarização da vida e que
nos arranca o desejo e o sentido de viver.
Fontes: Ana Ma. Fernández, Jóvenes de vidas grises: psicoanálisis y biopolíticas Lilia
Esther Vargas (comp.), Lecturas de la depresión.
Tradução: Laura Scisci

Outros materiais