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Resenha "Libras? Que língua é essa?"

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LIBRAS? QUE LÍNGUA É ESSA?
A LÍNGUA DE SINAIS
A autora do livro “Libras? Que língua é essa” nos expõe no primeiro capitulo varias comparações entre a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa falada, além de abordar sobre a origem da língua de sinais e o fato de que ela não é um código universal, nos mostrando que todos os países tem sua língua de sinais especifica assim como há a diferença de idiomas na língua falada.
 A autora também aborda sobre os aspectos gramaticais da língua de sinais e apresenta os parâmetros que constituem os sinais: A configuração da mão nos diz sobre a forma da mão. A locação nos diz respeito ao lugar, parte do corpo em que o sinal é realizado. O movimento pode estar presente no sinal ou não. A orientação da palma da mão nos mostra que os sinais têm direção e que uma inversão, em determinados sinais, pode mudar o significado do sinal. Ela nos expõe o fato de que a produção da informação linguística não é realizada apenas com as mãos, e que as expressões faciais também são usadas como elementos gramaticais pelos surdos para compor os sinais. 
O livro se baseia em crenças e mitos existentes, nos dando explicações para cada um deles. A autora apresenta diferenças entre a mimica e a língua de sinais e enfatiza que a suposição de que a língua de sinais é mimica, soa como preconceito por parte dos ouvintes, que tem uma visão de anormalidade para com os surdos, ressaltando que os surdos são psicologicamente e fisicamente normais. 
Outro aspecto importante abordado pela a autora é que assim como os falantes da língua oral, os surdos que usam a língua de sinais podem expressar sentimentos, emoções, discutir politica e assuntos do cotidiano por meio dos sinais, sem perda nenhuma de conteúdo. Vale ressaltar que a língua de sinais não é exclusivamente icônica e que por muito tempo, os surdos foram proibidos de usar a língua de sinais para comunicação com outros surdos, sendo a sinalização vista como um “código secreto”, pois eram usadas as escondidas devido à proibição. Quando essa regra era desobedecida, eles eram castigados fisicamente, e isso gerava varias implicações sociais, educacionais, psicológicas e linguísticas. Porém, a historia nos mostra que a lingua de sinais não morreu e que enquanto houver dois surdos compartilhando o mesmo espaço físico, haverá sinais. A autora nos mostra ainda que, linguisticamente, a língua de sinais é considerada uma língua porque apresenta características presentes em outras línguas naturais, como a produtividade e criatividade, flexibilidade, descontinuidade e a arbitrariedade, e principalmente, porque é humana. 
Um ponto muito importante exposto pela autora é de que a língua de sinais não é o alfabeto manual, e que focar nessa ideia acaba limitando a língua de sinais, mas que ele tem uma função de interação entre os usuários da língua de sinais. Outro assunto muito interessante exposto no livro, é que a LIBRAS não é um português sinalizado. Gesser afirma que a língua de sinais tem estrutura própria, e é autônoma, sendo ela independente de qualquer língua oral, porem em algumas ocasiões, existe o empréstimo e incorporação de termos da língua oral. Gesser também fala sobre a língua de sinais brasileira (LIBRAS) e sua origem na língua francesa de sinais, e que é inverdade dizer que todos os surdos usam a mesma LIBRAS. Desse modo, não é possível negar a variedade das línguas, já que essa variação é ligada aos fatores sociais de idade, gênero, raça, educação e situação geográfica. A língua de sinais, ao passar “de mão em mão” adquire sotaques novos sotaques, mescla-se com outras línguas em contato, emprestando e incorporando novos sinais. 
O SURDO
O segundo capítulo mantem o foco no surdo, o principal usuário da língua de sinais. A autora nos mostra que a maioria dos ouvintes desconhece o peso que os termos surdo-mudo, mudo e deficiente auditivo pode causar ao surdo. Ela traz também a visão dos surdos em relação ao rotulo de “deficientes” e sobre as nomeações pejorativas. Segundo Laborrit: “Recuso-me a ser considerada excepcional, deficiente. Não sou. Sou surda... Sinceramente nada me falta, é a sociedade que me torna excepcional”. 
O capitulo aborda também sobre o interprete, e indaga a questão de que ele seja a “voz” do surdo. Ainda que o interprete tenha bastante importância na interação entre os surdos e ouvintes em espaços institucionais e que esse seja um direito reconhecido por lei, dizer que o interprete é a ‘voz’ do surdo, pode levar a crença de que o surdo não tem língua, e isso não é verdade. 
Outra crença exposta no livro é a de que o surdo vive no silencio absoluto, e essa suposição se dá porque, para os ouvintes, a concepção da língua está ligada ao som. Na cultura surda o barulho e o silencio possuem novas versões, sendo que o barulho se torna percebível à visão do surdo por meio de expressões facial, corporal e manual, e em forma de movimentos e da dinâmica dos objetos. A autora nos afirma que a vida dos surdos esta longe de ser silenciosa.
O livro aborda uma duvida: o surdo precisa ser oralizado para integrar na sociedade ouvinte? E imediatamente nos mostra que não. A oralização trouxe muitas consequências para a maioria dos surdos, seja pela dor, privação, opressão e discriminação que essa comunidade passou. A oralização ganhou o sinônimo de negação da língua dos surdos e alguns extremistas afirmavam que o surdo oralizado não era “surdo de verdade”. Deve-se respeitar a língua de sinais e o direito do surdo a ser educado em sinais, mas também é necessário respeitar o direito dos surdos que escolhem por também oralizar a língua portuguesa. 
	Existe uma falta de interesse dos surdos em aprender a oralizar, e isso é relacionado aos castigos evidenciados na historia da educação dos surdos. Vale lembrar que o uso da língua de sinais não atrapalha a aprendizagem da língua oral e todos os cidadãos devem ter o direito de ser educações em sua própria língua. O livro nos mostra que o surdo tem uma identidade e uma cultura própria, e que isso é extremamente importante no processo de afirmação coletiva de grupos minoritários. 
Uma crença exposta no livro a cerca da comunidade surda, é a de que o surdo não fala porque não ouve, mas a verdade é que o surdo ‘fala’ em sua língua de sinais. Os surdos com uma perda auditiva profunda podem produzir fala inteligível se assim desejarem: Basta estarem com seu aparato vocal intacto, sendo necessário treinamento junto aos profissionais da fonoaudiologia. Outro tópico exibido é se o surdo tem dificuldade de escrever porque não sabe falar a língua oral, sendo essa uma crença nociva, já que o fato do surdo ter dificuldades na escrita não se trata de uma dificuldade intelectual mas sim de oportunidade de acesso. A autora também nos mostra que o surdo não “sobrevive” se lhe for tirado o direito de usar sua língua primaria em seu convívio social, porém a língua portuguesa tem papel fundamental na escolarização e na vida cotidiana do surdo, da mesma maneira que tem na vida de todas as crianças brasileiras. 
Para finalizar o segundo capitulo, a autora afirma que nem todos os surdos fazem leitura labial já que para realizar essa habilidade é necessário treinos árduos e intensos. A leitura labial é apenas um recurso utilizado em emergências com os surdos. Quando há interação frequente com os surdos a língua de sinais é indispensável. 
A SURDEZ
No terceiro capitulo, a autora traz respostas a algumas questões relacionadas à surdez, sobre a visão negativa que possui perante a sociedade, expõe os graus e tipos de surdez, e dispõe sobre a hereditariedade. Conhecemos também sobre os implantes cocleares e aparelhos auditivos. 
A autora aborda as formas de conceber a surdez: patologicamente ou culturalmente, deixando claro sua posição em relação à medicalização. Culturalmente, a surdez não é uma deficiência, porém na concepção do senso comum e diante do discurso clinico das patologias a surdez e a deficiência se tornam sinônimos, se tornando um problema quando a sociedade passaa enxergar o surdo como problema, caso contrario, quando os surdos e ouvintes usam e valorizam a língua de sinais, é assumido uma postura positiva diante da surdez. Quando a surdez é analisada a partir da visão de um surdo que nasceu em um grupo de pessoas com as mesmas condições que a sua, ela é considerada algo natural, porém, o aspecto cultural da surdez ainda é difícil de ser aceito.
Outro ponto apresentado nesse capitulo é a questão da surdez ser vista negativamente pela sociedade. A surdez foi e é constituída na concepção do déficit e da anormalidade, e que o “normal” é ouvir, e tudo que for diferente desse padrão deve ser corrigido, abrindo assim, espaço para o preconceito social. Além disso, a explicação dada para a visão negativa da sociedade é que o discurso medico tem mais força do que o discurso do reconhecimento cultural das minorias surdas.
Nesse capitulo há uma explicação sobre a surdez ser hereditária, usando como exemplo alguns estudos realizados na ilha Martha’s Vineyard (USA). Essa ilha é composta por uma população com elevado numero de cidadãos surdos. Diante desse estudo, foi constatado que quando há uma incidência muito alta entre familiares e gerações, as chances de nascer uma criança surda se tornam genéticas ou hereditárias. Ao se investigar a ilha, foi observado que a aceitação da surdez fez da ilha um local bilíngue, e que nesse local, os indivíduos surdos não se viam como deficientes, e nem eram considerados anormais. 
A autora também aborda os diferentes tipos e graus da surdez, afirmando que há aproximadamente 70 tipos de surdez hereditária. Com relação aos tipos de surdez podem ser: condutiva (ocorre por uma alteração na orelha externa e/ou média), neurossensorial (afeta a cóclea e/ou nervo auditivo) ou mista; e com relação ao grau de surdez pode variar de leve a profunda, podendo ser gradativa. Vale ressaltar que não é porque o individuo tem algum tipo de perda auditiva, que necessariamente, ele seja deficiente auditivo ou surdo. 
O livro traz indagações sobre os aparelhos auditivos e implantes cocleares. Existe uma crença compartilhada por muitas pessoas de que os aparelhos auditivos podem reestabelecer a audição de um surdo profundo, porém o aparelho ajuda apenas a identificar os ruídos, não sendo capaz de facilitar a audição da língua como se pensa. Sobre o implante coclear, inúmeras variáveis são consideradas para a recuperação da audição, como a idade do surdo, tempo de surdez, condições do nervo auditivo, entre outras. 
Uma crença muito séria é a de que a surdez compromete o desenvolvimento cognitivo-linguístico do individuo, já que o surdo desenvolve suas habilidades linguísticas e cognitivas ao lhe ser assegurado o uso da língua de sinais em todos os âmbitos sociais em que transitam. Segundo Gesser: “Não é a surdez que compromete o desenvolvimento do surdo, e sim a falta de acesso à língua”. 
Para finalizar, o livro nos mostra diante de tudo que foi abordado anteriormente, que muitas conquistas foram alcançadas: a oficialização da LIBRAS, o direito do surdo de ter um interprete nas universidades, a obrigatoriedade de formação nas áreas de licenciaturas no ensino superior para surdos, a inclusão da LIBRAS em alguns currículos... Vivemos em um momento do surdo e para o surdo, um processo de transições, adaptações e reformulações. Se há algo para ser mudado, é a pratica do distanciamento entre pais/professores ouvintes e seus filhos/alunos surdos, provocada pelo medo e pelo desconhecimento da surdez. O momento é muito positivo, mas ainda é necessário eliminar preconceitos referentes a comunidade surda. 
Referência Bibliográfica 
GESSER, Audrei, 1971 – LIBRAS? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno 
da língua de sinais e da realidade surda.
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Professor: Anderson Tavares Correia da Silva | Língua Brasileira de sinais – LIBRAS | Aluna: Samara Silva de Queiroz - 21508815

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