Buscar

We need to talk about Kevin

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

Disciplina: TTP Aluna: Ana Clara Luna Sales
WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN (2011)
* Essa análise será relatada em ordem cronológica, diferentemente do filme.
We need to talk about Kevin é a história da relação entre Kevin e sua mãe Eva, os outros personagens são meros coadjuvantes nessa narrativa que deixa no espectador o sentimento angustiante de assistir um jovem perverso dar vida a suas fantasias. Creio que um dos questionamentos mais intrigantes que o filme pode ocasionar seria em relação a culpa. De quem seria a culpa por tudo que aconteceu? 
A cena inicial do filme mostra a jovem Eva banhada por um mar de tomates vermelhos durante o festival na Espanha (La Tomatina) é durante essa viagem que ela conhece seu futuro marido, com quem acaba se casando e tendo momentos de muita felicidade. Até descobrir estar grávida. Eva claramente não queria esse filho, não se sente confortável em seu próprio corpo durante a gestação, não parece feliz nem mesmo quando nasce o pequeno Kevin. Daí para frente as coisas só pioram, o choro do bebê chega a incomodar tanto Eva que ela prefere o barulho de uma britadeira, ela fica parada ao lado de uma obra, relaxando com o som interrompido do choro.
	Os primeiros anos de vida de Kevin são marcados pelas tentativas de Eva de encontrar alguma explicação médica para o fato de que ele não tinha comportamentos normais, não se comunicava e apresentava comprometimentos na vida afetiva. Nenhum médico encontrou nada de errado com Kevin. Mas Eva continuava com essa certeza, diante dela Kevin se apresentava como deveras era, hostil, agressivo, sem escrúpulos, porém, diante dos outros ele sabia manter uma máscara de normalidade. As atitudes perversas da mãe para com Kevin em seus primeiros meses de vida acabam por refletir na forma como ele se vê e forma sua personalidade, o que nos remete ao ‘Estádio do Espelho’ de Lacan. O momento em que definimos nós mesmos como um ‘eu’ é o momento em que separamos as bordas do nosso corpo do Outro. 
	Há uma relação simbiótica entre a mãe e o filho durante os primeiros meses de vida, nesses momentos, o bebê vira o objeto (falo) da mãe e há uma identificação entre a criança e o desejo materno. No caso de Kevin, essa identificação promove as atitudes perversas da mãe para com ele, ele se espelha nela dessa forma pois acredita que esse é o desejo dela. Em uma neurose, é a incerteza psíquica sobre ser ou não ser o falo da mãe que permite a entrada na castração e a constituição como sujeito desejante. Na perversão o que acontece é que a mãe não consegue colocá-lo em dúvida quanto a sua posição de objeto fálico, a criança então, não consegue passar para o terceiro tempo do édipo. 
	Durante a infância de Kevin, Eva tanta conversar com o marido sobre os comportamentos da criança, mas ele nunca a escuta. Há notável uma permissividade do pai para com Kevin. Esse pai não consegue realizar a castração de forma adequada. Ao invés de internalizar a lei paterna, o que levaria a castração (neurose), há a negação da castração (perversão). Uma vez estabelecida a estrutura da perversão, pela negação da castração, há uma constante tentativa de burlar a lei, sem que haja remorso algum pois a lei paterna nunca foi aceita pelo sujeito. 
	A chegada de uma irmã na vida de Kevin provoca ainda mais tensão dentro da família. Logo quando a conhece pela primeira vez, ele joga água em seu rosto, o que a faz chorar. A irmã passa a ocupar o lugar de objeto fálico materno, o que ameaça o lugar que Kevin crê que ocupa.
	Antes de completar 16 anos, Kevin planeja o massacre o qual irá levá-lo a ser preso e a Eva ter sua vida substancialmente destruída. Ele assassina seu pai e sua irmã e, após isso, dirige-se a escola que frequenta e mata também diversos alunos, utilizando como instrumento para realizar esses crimes o Arco e Flecha que o pai havia lhe dado como presente. Ao sair da escola, Kevin se entrega de maneira quase teatral e anteriormente agradece a uma plateia imaginária que aplaude o seu grande feito. O fundamental desse acontecimento é que ele deixa a mãe viva para que ela veja o ‘espetáculo’ por ele realizado. 
	Por dois anos Kevin permanece na prisão para menores infratores, durante esses anos Eva o faz visitas que são sempre acompanhadas pelo silêncio. Antes de completar 18 anos e ser movido para a penitenciária adulta, Eva o encontra de forma diferente, com o cabelo raspado e o rosto marcado por agressões, finalmente ela interrompe o silêncio e questiona o porquê de ele ter feito tudo aquilo. Ele responde que achava que sabia, mas agora não tem mais tanta certeza, após isso o olhar de Kevin muda completamente, a certeza e a presunção dão lugar ao medo e a dúvida. A certeza que Kevin tinha de que sabia a verdade sobre o gozo é quebrada quando ele se depara com outros perversos na prisão, que o colocam no lugar de objeto. É justamente a quebra nessa certeza que vai permitir que haja a mudança da posição do sujeito com o seu saber, que era absoluto. 
	A fotografia do filme chama atenção quando explora a personagem de Eva imersa na cor vermelha, na cena inicial do filme (quando demonstra satisfação ao ser coberta pela guerra de tomates) e durante o período em que Kevin já está preso e as pessoas da vizinhança jogam tinta vermelha no seu carro e na sua casa (nesse período ela tenta, desesperadamente, se livrar dessa tinta). Como o filme não segue a ordem cronológica, ela passa o filme inteiro tentando se livrar desesperadamente desse mar vermelho que a cobre. Enquanto isso, Kevin permanece ‘limpo’ durante toda a sequência do filme, nem mesmo durante o assassinato em massa que comete ele se suja, pois utilizou o arco e flecha (presente do pai) para executá-lo. O único momento em que Kevin aparece como vulnerável, é a última cena.

Outros materiais