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LITERATURA INFANTO JUVENIL

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PEDAGOGIA
LITERATURA 
INFANTO-JUVENIL
Universidade Estadual de 
Santa Cruz
Reitor
Prof. Antonio Joaquim da Silva Bastos 
Vice-reitora
Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Pró-reitora de Graduação
Profª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa
Diretora do Departamento de Ciências da Educação
Profª. Raimunda Alves Moreira Assis 
Ministério da
Educação
Ficha Catalográfica
 
L776 Literatura infanto-juvenil: pedagogia – módulo 5, vo- 
 lume 1, EAD / Elaboração de conteúdo: Sandra 
 Maria Pereira do Sacramento, Inara de Oliveira 
 Rodrigues. – [Ilhéus, BA]: EDITUS, [2011].
 141p. : il. 
ISBN 789-85-7455-260-6
1. Literatura infantojuvenil – Estudo e ensino. I. 
 Sacramento, Sandra Maria Pereira do. II. Rodri-
 gues, Inara de Oliveira. III. Pedagogia.
 
 
 CDD 809.89282 
Coordenação UAB – UESC
Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado
Coordenação do Curso de Pedagogia (EAD)
Drª. Maria Elizabete Sauza Couto
Elaboração de Conteúdo
Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento
Profª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues
Instrucional Design
Profª. Msc. Marileide dos Santos de Olivera
Profª. Msc. Cibele Cristina Barbosa Costa
Profª. Msc. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes
Revisão
Profª. Msc. Sylvia Maria Campos Teixeira
Coordenação de Design
Profª. Msc. Julianna Nascimento Torezani
Diagramação
Jamile A. de Mattos Chagouri Ocké
João Luiz Cardeal Craveiro
Capa 
Sheylla Tomás Silva
Pedagogia
EAD . UAB|UESC
PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS
SAIBA MAIS
Aqui você terá acesso a informações que 
complementam seus estudos a respeito do 
tema abordado. São apresentados trechos 
de textos ou indicações que contribuem 
para o aprofundamento de seus estudos. 
LEITURA RECOMENDADA
Indicação de leituras vinculadas ao conteúdo 
abordado.
PARA CONHECER
Aqui você será apresentado a autores e 
fontes de pesquisa a fim de melhor conhe-
cê-los.
VOCÊ SABIA? 
Esses são boxes que trazem curiosidades a 
respeito da temática abordada.
Sumário
UNIDADE I
A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A FORMAÇÃO DOS 
ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 13
2 A LITERATURA INFANTIL E OS ESTADOS-NAÇÃO ................... 14
3 CIÊNCIA E RAZÃO NO CONTEXTO DA LITERATURA INFANTIL . 15
ATIVIDADES ................................................................................. 22
RESUMINDO ................................................................................. 22
REFERÊNCIAS .............................................................................. 23
UNIDADE II 
A QUESTÃO DO CÂNONE E A LITERATURA 
INFANTO-JUVENIL 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 27
2 O LITERÁRIO: DO MUNDO GREGO ÀS COMUNIDADES
 IMAGINADAS ......................................................................... 28
3 A LITERATURA INFANTIL E SUA FUNÇÃO PROPEDÊUTICA ...... 31
ATIVIDADES ................................................................................. 39
RESUMINDO ................................................................................. 40
REFERÊNCIAS ............................................................................... 40
UNIDADE III
LITERATURA INFANTO-JUVENIL E O LUDOS
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 43
2 DE ARISTÓTELES AO LUDOS .................................................. 44
3 A CRIANÇA COMO PERSONAGEM NA LITERATURA INFANTIL .. 49
ATIVIDADES ................................................................................ 52
RESUMINDO ................................................................................. 54
REFERÊNCIAS ............................................................................... 55
PARTE I
Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento
UNIDADE IV
A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 57
2 A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E SEU ESTIGMA ............... 58
ATIVIDADES ................................................................................. 66
RESUMINDO ................................................................................. 69
REFERÊNCIAS ............................................................................... 69
UNIDADE V
A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A FORMAÇÃO 
DO ESTADO BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 71
2 A FORMAÇÃO DO ESTADO-NAÇÃO BRASILEIRO ..................... 72
3 A LITERATURA INFANTIL E OS DADOS CONTEUDÍSTICOS ...... 75
ATIVIDADES ................................................................................. 77
RESUMINDO ................................................................................. 80
REFERÊNCIAS ............................................................................... 80
PARTE II
Profª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues
UNIDADE VI
A LEITURA NA ESCOLA E NA SOCIEDADE:
PAPEL E IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 83
2 LOBATO, O SÍTIO E MUITAS HISTÓRIAS POR CONTAR ........... 84
3 LEITURA COMO PRÁTICA SOCIAL ........................................... 91
ATIVIDADES ................................................................................. 95
RESUMINDO ................................................................................. 97
REFERÊNCIAS .............................................................................. 98
UNIDADE VII
A DIMENSÃO DO IMAGINÁRIO NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 101
2 MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS HISTÓRIAS E OS 
 VERSOS ................................................................................. 102
3 IMAGINÁRIO, FANTASIAS E MARAVILHAS ............................. 107
ATIVIDADES ................................................................................. 115
RESUMINDO ................................................................................. 121
REFERÊNCIAS ............................................................................... 121
UNIDADE VIII
AS ESTRATÉGIAS LITERÁRIAS E OS DIFERENTES SUPORTES
DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL
1 INTRODUÇÃO ......................................................................... 123
2 ESTRATÉGIAS LITERÁRIAS: A INTERTEXTUALIDADE NA
 LITERATURA INFANTO-JUVENIL ........................................... 124
2.1 Conhecendo alguns autores e pressupostos .............. 124
2.2 A literatura infanto-juvenil, a intertextualidade e
 outras estratégias literárias ...................................... 128
3 LIVROS, MÍDIAS, REDE: OS ITINERÁRIOS ABERTOS DA
 LITERATURA INFANTO-JUVENIL ........................................... 133
ATIVIDADES ................................................................................. 138
RESUMINDO ................................................................................. 139
REFERÊNCIAS .............................................................................. 140
AS AUTORAS
Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do Sacramento
Doutora em Letras Vernáculas, pela Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenadenou até 2011.1 
o Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e 
Representações da Universidade Estadual de Santa Cruz 
(UESC), Professora Associada à CátedraUNESCO de Lei-
tura, Professora Plena em Teoria da Literatura do DLA/
UESC. Possui vários textos publicados em periódicos na 
área de Letras, disponíveis on line.
Profª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues
Doutora em Letras (Teoria da Literatura) pela Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do SUL (PUCRS), 
professora do curso de Letras e Vice-Coordenadora do 
Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e 
Representações da Universidade Estadual de Santa Cruz 
(UESC). Possui artigos publicados em periódicos na área 
de Letras e desenvolve pesquisas no campo das literatu-
ras de línguas portuguesas. 
DISCIPLINA
LITERATURA INFANTO-JUVENIL
Literatura infanto-juvenil: discussões sobre o panorama 
histórico e gênero literário e suas características. Produ-
ção literária. A prática da leitura na escola e na socieda-
de. Pesquisa sobre literatura infanto-juvenil na escola, 
na biblioteca (livros, gibis etc.), na televisão, CDROM e 
sites. A dimensão do imaginário na Literatura Infantil e a 
intertextualidade.
CARGA HORÁRIA: 60h
EMENTA
Profª. Drª. Sandra Maria Pereira do SacramentoProfª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues
13PedagogiaUESC
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1 INTRODUÇÃO
 Nesta unidade, vamos mostrar a você a relação estabelecida 
entre os estados nacionais europeus e o início da literatura infantil. 
A literatura infanto-juvenil, como se concebe hoje, tem sua origem 
vinculada ao nascimento dos estados-nação burgueses europeus, 
a partir do século XVIII, com a valorização dos ideais forjados de 
tradição dos capitalistas, então em ascensão. 
UNIDADE I 
A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E A 
FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS 
EUROPEUS
OBJETIVO
Identificar as relações entre a origem dos estados-nação 
europeus e da literatura infantil, com destaque para os 
seus principais representantes.
14 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formação dos estados nacionais europeus
2 A LITERATURA INFANTIL E OS ESTADOS-NAÇÃO
 
 Para o Estado-nação, a língua nacional e o limite territorial 
eram vistos como elementos indispensáveis, capazes de imporem uma 
identidade à nação (RENAN, 1997). Entretanto, de acordo com Nelly 
Novaes Coelho, em Panorama Histórico da Literatura Infantil /Juvenil:
Quando hoje falamos nos livros consagrados como 
clássicos infantis, os contos-de-fada ou contos mara-os-de-fada ou contos mara-
vilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou nas fá-
bulas de La Fontaine, praticamente esquecemos (ou 
ignoramos) que esses nomes não correspondem aos 
verdadeiros autores de tais narrativas. São eles alguns 
dos escritores que, desde o século XVII, interessados 
na literatura folclórica criada pelo povo de seus res-
pectivos países, reuniram as estórias anônimas, que 
há séculos vinham sendo transmitidas, oralmente, de 
geração para geração, e as transcreveram (COELHO, 
1991, p.12).
No texto abaixo, apresentamos mais informações sobre o conceito de Estado-
Nação. Leia com atenção e converse com um colega sobre o mesmo.
Estado-nação: quando se pensa em Estado-Nação, estamos longe de tratar de 
uma experiência político-institucional simples. Muitas vezes não paramos para 
indagar sobre o quanto o seu surgimento alterou as relações inter-humanas por 
todo nosso planeta. Em primeiro lugar, deve-se romper com qualquer linha de 
abordagem que insira a experiência histórica do Estado-Nação numa longa du-
ração ligada aos Estados dos monarcas absolutos europeus. Contando de hoje, 
a experiência histórica do Estado-Nação ainda não completou dois séculos, tal 
como o Brasil mal tem 150 anos. Em segundo lugar, no rigor do conceito e da 
cronologia, a formação do Estado antecede ao surgimento daquilo que definimos 
como burocracia. Inicialmente, a experiência do Estado-Nação é circunscrita à 
Europa e às suas projeções coloniais no século XIX, sendo antecipada cultural-
mente pelos debates intelectuais e políticos do contexto do Iluminismo, quando 
houve a gradativa transformação no sentido que se dava à noção de Razão na 
prática administrativa, que passou da condição de mero cálculo/ratio para aque-
la de força constituidora das coisas. Nesse sentido, e somente nesse sentido, 
o Estado da Razão do final do século XVIII, diferentemente da Razão de Esta-
do dos séculos XVI e XVII, não seria mais um simples mecanismo resultante 
da soma das partes através de um pacto, como pretendera Thomas Hobbes 
(1588-1679) em 1651 com seu “Leviathan”, mas a “coisa pública” em que os 
“objetivos públicos” deixavam de ter nos corpos estamentais de privilégios os 
suportes ou intermediários da ação político-administrativa estatal. Portanto, o 
Estado da Razão de finais do século XVIII pressupôs um tipo novo de poder/po-
tência pública que aos poucos abandonou uma atitude jurisdicionalista (centrada 
na acomodação das partes de privilégio) e tornou-se apenas disciplina (ou seja, 
atitude constituidora da natureza de suas partes). Tal mudança de paradigma é 
historicamente indissociável do processo de burocratização – formação de um 
corpo de agentes da administração separados patrimonialmente dos meios ad-
ministrativos – e da uniformização legislativa e fiscal do Estado. 
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/035/35evianna.htm
SAIBA MAIS
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de
3 CIÊNCIA E RAZÃO NO CONTEXTO DA LITERATURA IN-
FANTIL
 
 Além dessas informações, também podemos acrescentar os 
textos da tradição oriental e mesmo da grega, que foram trazidos 
pelos estados modernos, em forma de adaptação, como As Mil e 
Uma Noites, que chegou ao continente europeu no século XVIII; por 
Galland; da mesma forma que La Fontaine, ainda no século XVII, 
traduz as fábulas de Esopo, com a presença de animais falantes 
sempre com moralidade, como, por exemplo, A galinha dos ovos de 
ouro, A cigarra e a formiga, A Raposa e a Cegonha, entre outras.
Leia mais sobre os escritores falados acima e sua importância para a Literatura 
Infantil do Ocidente.
Galland: Antoine Galland, escritor francês nascido no século XVII, introduziu 
no Ocidente inúmeras histórias de tradição oral do Oriente. Galland nasceu em 
uma família de camponeses na província de Somme, em 1646, e morreu em 
1715. Ele era especialista em História, manuscritos antigos, línguas orientais e 
moedas. Galland esteve no Oriente, a convite do rei francês Luís XIV, com vá-
rias personalidades da política, das letras e da ciência. Era um colecionador de 
manuscritos e, em sua passagem pela Síria, descobriu os originais de “As Mil e 
Uma Noites”, feitos entre 1704 e 1717. O escritor levou-os para a França, tra-
duziu e publicou os contos mais importantes dessa obra e, ainda, acrescentou 
alguns outros, que circulavam oralmente – como o de “Ali Babá e os Quarenta 
Ladrões”. Para não chocar seus contemporâneos, Galland retirou do texto as 
passagens picantes. O sucesso foi imediato. Essa tradução de Galland não é a 
única, mas é a mais famosa. Especialmente nesse livro, a história de Ali Babá 
foi adaptada por Luc Lefort. Homem excepcional, seu diário testemunha a pai-
xão pelo saber e pela verdade. Durante toda sua vida, Galland foi um homem 
simples. Ele foi um pouco a imagem da obra que nos fez descobrir. 
Fonte: http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=biblioteca.biografia&id_autor=83
La Fontaine: francês de origem burguesa, nascido na região de Champagne, 
foi autor de contos, poemas, máximas, mas com as fábulas ganhou notorieda-
de mundial. Resgatando fábulas do grego Esopo (século VI a. C.) e do romano 
Fedro (século I d. C.), os textos de La Fontaine não apresentam grande origina-
lidade temática, mas recebem um tempero de fina ironia. O autor francês não 
só tornou mais atuais as fábulas de Esopo, como também criou suas próprias, 
dentreelas “A cigarra e a formiga” e “A raposa e as uvas”. Contemporâneo de 
Charles Perrault, frequentava a corte do Rei Sol - Luís XIV, de onde extraiu 
informações para sua crítica social. Integrou o chamado “Quarteto da Rue du 
Vieux Colombier”, composto também por Racine, Boileau e Molière. Participou 
da Academia Francesa com ingresso em 1683, em que sucedeu o famoso po-
lítico Colbert, a quem se opunha ideologicamente. Estreou no mundo literário 
em 1654 com uma comédia. A publicação da primeira coletânea de fábulas 
data de 1668, sucedida de mais onze, lançadas até 1694. No prefácio dessa 
primeira coletânea, deixa bem clara suas intenções na constituição dos textos: 
“Sirvo-me de animais para instruir os homens”. Morreu aos 73 anos sendo 
considerado o pai da fábula moderna. As narrativas de La Fontaine estão per-
PARA CONHECER
16 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formação dos estados nacionais europeus
meadas de pensamentos filosóficos com forte moralidade didática e, apesar de 
tão antigas, mantêm-se vivas até hoje.
Fonte: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/lafontaine/lafontaine.htm
Esopo: foi um célebre fabulista grego, provavelmente nascido no ano de 620 
a. C. Segundo o historiador Heródoto, Esopo teria nascido na Trácia, região da 
Ásia Menor, tornando-se escravo na Grécia. Outro historiador, Heráclites do 
Ponto, afirma ser o roubo de um objeto sagrado a causa da morte do fabulis-
ta. Como era costume no caso de sacrilégios, Esopo teria sido atirado do alto 
de um rochedo. Discute-se a sua existência real, assim como acontece com 
Homero. Assim, há ainda alguns detalhes atribuídos à biografia de Esopo, cuja 
veracidade não se pode comprovar: seria aleijado, com dificuldades de fala e 
seria um protegido do rei Creso. Levanta-se a possibilidade de a obra esopia-
na ser uma compilação de fábulas ditadas pela sabedoria popular da antiga 
Grécia. Seja lá como for, o realmente importante é a imortalidade das fábulas 
a ele atribuídas. As primeiras versões escritas das fábulas de Esopo datam do 
séc. III d. C. Muitas traduções foram feitas para várias línguas, não existindo 
uma versão que se possa afirmar ser mais próxima da primordial. Destaca-se, 
entre os estudiosos da obra esopiana, Émile Chambry, profundo conhecedor 
da língua e da cultura gregas. Chambry publicou, em 1925, Aesoi -– Fabu-
lae, em que trabalha com 358 fábulas. Características das fábulas esopianas: 
narrativas, geralmente, curtas, bem-humoradas e relacionadas ao cotidiano; 
encerram em si uma linguagem simples, pois se dirigem ao povo; contêm sim-
ples conselhos sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho; a moral 
é representada por um pensamento, nem sempre relacionado diretamente à 
narrativa; personagens são, basicamente, animais que apresentam compor-
tamento humano 
Fonte: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/esopo/esopo.htm
 A célebre fábula A Raposa e as Uvas, atribuída a La Fontaine, 
é, na verdade, uma tradução do grego para o francês. Veja a sua 
reprodução abaixo: 
A Raposa e as Uvas
Certa raposa matreira,
que andava à toa e faminta,
ao passar por uma quinta,
viu no alto da parreira
um cacho de uvas maduras,
sumarentas e vermelhas.
Ah, se as pudesse tragar!
Mas lá naquelas alturas
não podia alcançar:
Então falou despeitada:
- Estão verdes essas uvas.
Verdes não servem pra nada!
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Como não cabem quatro mãos em duas luvas,
Há quem prefira desdenhar a lamentar.
(La Fontaine)
 
 Nesses textos, sempre em uma linguagem metafórica, 
os animais têm um comportamento humano, como falar, ter 
ressentimentos e covardia; trazem em seu final uma mensagem moral, 
de cunho pedagógico; também em forma figurativa, conotativa, que, 
quando passada para a linguagem de denotação, presta-se a uma 
aplicação prática. Em outras palavras, “Como não cabem quatro mãos 
em duas luvas, Há quem prefira desdenhar a lamentar.”, quer dizer 
que, diante do inevitável, por conta, talvez, da incapacidade, é mais 
fácil desdenhar a assumir a incompetência.
 Essa volta ao passado desempenhou um papel preponderante 
na busca de sedimentação dos valores então em voga; pois, desde o 
século XVII, com a troca de eixo da ordem cosmológica teocêntrica 
pela antropocêntrica, que a Europa sofreu sérios abalos em seu 
pilar ideológico medieval. Ocorreu a laicização do saber, antes 
restrito à visão dogmática da Igreja, tendo levado Galileu, com o seu 
heliocentrismo, a permanecer em prisão domiciliar por ter ousado 
questionar a fé corrente de que a Terra era o centro do Universo, lugar 
escolhido por Deus para morada do homem. A Reforma Protestante 
de Lutero incide na Igreja outro duro golpe, quando esse questionou 
as ações papais, como a venda de indulgências. 
 A ciência engatinha, porém, através de seu método 
investigativo, deixa de lado o saber contemplativo e volta-se para 
a realidade de forma experimental. Fé e razão passam a ter esferas 
distintas, a primeira condicionada à metafísica, à verdade revelada, 
e a segunda busca, através do método rigoroso de explicação dos 
fenômenos, a verdade científica. Segundo o professor Antônio 
Cândido, em Formação da Literatura Brasileira (1976):
Por Ilustração, entende-se o conjunto das tendências 
ideológicas próprias do século XVIII, de fonte inglesa 
e francesa na maior parte: exaltação da natureza, 
divulgação apaixonada do saber, crença na melhoria 
da sociedade por seu intermédio, confiança na ação 
governamental para promover a civilização e bem-
estar coletivo. Sob o aspecto filosófico, fundem-se 
nela racionalismo e empirismo; nas letras, pendor 
didático e ético, visando empenhá-las na propagação 
das Luzes (CÂNDIDO, 1976, p.43-44).
 
 Tomando-se Ilustração como sinônimo de Iluminismo, - que 
18 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formação dos estados nacionais europeus
na Alemanha ganhou o nome de Aufklärung - percebe-se o 
quanto o movimento racionalista foi importante, no sentido da 
busca pela explicação das demandas, sejam elas no campo da 
representação governamental, científica ou religiosa.
 Tais indagações passaram a ser embasadas no princípio 
da racionalidade, encerradas na expressão de Descartes: Penso, 
logo existo. O filósofo francês Descartes, trazendo do século 
anterior alguma coisa do método de Galileu, eleva-o ao sentido 
primeiro do filosofar, com a dúvida metódica, isto é, a partir da 
dúvida, da não certeza, investiga-se e chega-se à descoberta e, 
mais do que tudo, com a possibilidade da demonstração.
Descartes, seguindo rigorosamente o caminho, o 
método por ele estabelecido, começa duvidando 
de tudo, até reconhecer como indubitável o ser 
do pensamento. É na descoberta da subjetivi-
dade que residem as variações do novo tema. O 
filósofo passa a se preocupar com o sujeito co-
gnoscente (o sujeito que conhece) mais do que 
com o objeto conhecido. 
[...]
Outros filósofos, além de Descartes, também se 
dedicam ao problema do método, tais com Ba-
con, Locke, Hume, Spinoza (ARANHA,1993, p. 
154).
 Tal cenário sustenta-se no triunfo da razão sobre a fé, 
com contribuições de filósofos franceses como D’Alembert, 
Diderot, Voltaire, Montesquieu e Rousseau chamados de 
enciclopedistas. No Discurso Preliminar da Enciclopédia, de 1751, 
afirma o primeiro: 
Descartes teve pelo menos a ousadia de ensinar 
os espíritos bons a sacudir o jugo da Enciclopé-
dia, da opinião, da autoridade, em uma palavra, 
dos preconceitos e da barbárie; e por meio desta 
revolta,cujos frutos hoje recolhemos, prestou à 
filosofia um serviço talvez mais essencial do que 
todos os que deve aos seus ilustres sucessores[...] Embora acabasse por acreditar que podia 
explicar tudo, começou, pelo menos, duvidando 
de tudo; e as armas de que nos servimos para 
combatê-lo, embora contra ele,nem por isso lhe 
pertencem menos [...] (apud MOUSNIER et al., 
1961, p.16).
 Logo, D’Alembert mostrou que aqueles que criticaram 
Descartes, se valiam da mesma estrutura mental, ou seja, da 
Aufklärung: Iluminismo, Es-
clarecimento ou Ilustração 
(em alemão Aufklärung, em 
inglês Enlightenment, em ita-
liano Iluminismo, em francês 
Siècle des Lumières, em espa-
nhol Ilustración) designam 
uma época da história in-
telectual ocidental. No es-
paço cultural alemão, um 
dos traços distintivos do 
Iluminismo (Aufklärung) é a 
inexistência do sentimento 
anticlerical que, por exem-
plo, deu a tônica ao Ilumi-
nismo francês. Os ilumi-
nistas alemães possuíam, 
quase todos, profundo in-
teresse e sensibilidade re-
ligiosas, e almejavam uma 
reformulação das formas 
de religiosidade. O nome 
mais conhecido da Aufklärung 
foi Immanuel Kant. Outros 
importantes expoentes do 
iluminismo alemão foram: 
Johann Gottfried von Her-
der, Gotthold Ephraim Les-
sing, Moses Mendelssohn, 
entre outros.
Fonte: http://videociencia.word-
press.com/historia/iluminismo/
SAIBA MAIS
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dúvida, para chegarem a tal fim.
 Em Do contrato social, Rousseau atribui a obediência à Lei 
como a verdadeira liberdade, em nome da soberania:
Aquele que recusar obedecer à vontade geral a 
tanto será constrangido por todo um corpo, o que 
não significa senão que o forçarão a ser livre, pois 
é essa a condição que, entregando cada cidadão 
à pátria, o garante contra qualquer dependência 
pessoal (1973, p. 42).
 Esses pensadores foram bastante tributários dos avanços 
ocorridos na Inglaterra, ainda no século XVII, amparados no 
também filósofo Locke, levando à Revolução Gloriosa de cunho 
liberal. Locke foi muito influenciado pelo pensamento de Descartes, 
logo depois, deixa o aparato da lógica, para se voltar para o 
dado psicológico, no entendimento do ser humano. Entretanto, 
a ascensão da burguesia, no território franco, só ocorre com a 
chamada Revolução Francesa de 1789.
Finalmente, a sociedade francesa é agitada por 
uma série de convulsões que se repercutem, gra-
ças à analogia das circunstâncias, por toda a Eu-
ropa Ocidental. A resultante histórica das várias 
forças que participaram na Revolução Francesa é o 
primeiro triunfo decisivo da alta burguesia no ter-
reno político, ao cabo de uma sucessão de fases, 
em que o dinamismo revolucionário pertenceu 
sucessivamente a uma fração de alta nobreza, à 
noblesse de robe, aos camponeses, à burguesia 
provinciana (Girondinos), aos pequenos burgue-
ses (Terror de Robespierre) a outras camadas 
mais populares (Babeuf) (SARAIVA; LOPES, 1971, 
p.599).
 Por isso, torna-se importante destacar que o papel da 
família, como núcleo societário, contrário ao modelo estamental 
da monarquia, estabeleceu esferas de ação, de modo hierárquico, 
para o homem, para a mulher e para os filhos. E Pedro Paulo de 
Oliveira, em A Construção da Masculinidade, confirma a afirmação:
A assimetria de poder na família era reforça-
da pela disposição da nova ordem em promover 
uma separação total entre homens e mulheres: 
pensava-se na época que quanto mais feminina a 
mulher e mais masculino o homem, mais saudá-
veis a sociedade e o Estado. Nessa separação, a 
autonomia do gênero masculino contrastava com 
Estamental: relativo 
a estamento. Constitui 
uma forma de estratifi-
cação social com cama-
das sociais mais fecha-
das do que as classes 
sociais; e mais abertas 
do que as castas (tipo 
de sociedades ainda 
presentes na Índia, no 
qual o indivíduo desde o 
nascimento está obriga-
do a seguir um estilo de 
vida pré-determinado), 
reconhecidas por lei e 
geralmente ligadas ao 
conceito de honra. His-
toricamente, os esta-
mentos caracterizaram 
a sociedade feudal du-
rante a Idade Média.
Fonte: <http://www.diciona-
rioinformal.com.br/definicao.
hp?palavra=estamento&id=7 
342>.
SAIBA MAIS
20 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formação dos estados nacionais europeus
a submissão feminina. A subjugação da mulher ia ao 
encontro da constituição de uma família nuclear para 
a qual o lar, com os afazeres domésticos e os cuidados 
com as crianças, se tornaria seu espaço legítimo, en-
quanto aos homens ficaria destinada a esfera pública, 
a esfera do poder. Na sociedade burguesa as funções 
da mulher foram postas com clareza: mãe, educado-
ra, controladora dos empregados (quando eles existi-
rem), provedora de afeto e carinho (OLIVEIRA, 2004, 
p.49).
 Esse modelo comportamental vem a reboque de amplas 
mudanças na vida urbana europeia, de forma mais ampla, já que 
o campesinato, quase sempre, com o início da industrialização, 
migra para os grandes centros europeus, como Paris e Londres, para 
formar a massa do operariado. Para se ter uma ideia da projeção do 
crescimento populacional nessas capitais europeias, no século XVIII, 
a população das cidades representava 2%; enquanto que, em meados 
do século XIX, 42 % da população europeia vivia em zona urbana 
(RÉMOND, 1976).
 A Alemanha e a Itália optam pela unificação de seus territórios 
devido à crescente industrialização e esse processo:
Atendeu basicamente aos interesses de uma burguesia 
desejosa de formar um amplo mercado nacional para 
seus produtos. Assim ocorreu na Itália, onde a unifi-
cação partiu do Reino do Piemonte-Sardenha (Norte 
Industrial) para o Sul, destacando-se as figuras de Ví-
tor Emanuel II e seu Ministro Cavour. Na Alemanha, 
a unificação econômica, através da União Aduaneira 
(Zollverein), antecedeu à unificação política. Essa foi 
realizada sob a direção da Prússia em três guerras 
sucessivas, que afastam a Dinamarca, a Áustria e a 
França de seu caminho (AQUINO, 1993, p. 107). 
 
 Como se vê, a unificação de condados levou a estados 
europeus fortes, que necessitaram de parâmetros comportamentais, 
contrários aos do passado, coincidindo com o Romantismo literário. E 
a mulher ganha destaque nessa divisão de papeis já que deve assumir 
uma função pedagógica diante do filho, ainda que, socialmente, esteja 
condicionada ao marido e à prole, isto é, sua autonomia está em não 
ter autonomia nenhuma. É o que Rousseau, filósofo do Iluminismo 
francês, vai sublinhar:
A razão que leva o homem ao conhecimento de seus 
deveres não é muito complexa; a razão que leva a 
mulher ao conhecimento dos seus é ainda mais sim-
Figura 1.1 - Cena da Família de Adolfo Augusto Pinto, 1891. Fonte: 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Almeida_J%C3%BAnior_-_Cena 
_de_Fam%C3%ADlia_de_Adolfo_Augusto_Pinto,_1891.JPG>.
 Campesinato
s.m. Conjunto de agri-
cultores de uma re-
gião, de um Estado. 
Condição dos campo-
neses.
Fonte: http://www.dicio.
com. br/campesinato/ 
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ples. A obediência que deve aos filhos são conseqüên-
cias tão naturais e tão visíveis de sua condição, que ela 
não pode, sem má-fé, recusar sua aprovação ao sen-
timento interior que a guia, nem desconsiderar o de-
ver na inclinação que ainda não se alterou (ROUSSEAU, 
2004, p.558).
 A construção do Estado-nação estruturou-se em bases 
etnocêntricas e falocêntricas e creditou ao homem, branco, burguês, 
europeu, a razão, o espaço público e a cultura; enquanto à mulher, 
coube a não-razão, o privado e a natureza. E a literatura daí advinda 
traz as marcas de origem da pretensão de uma unidade republicana; 
uma vez que o princípio hierarquizador da modernidade, calcado em 
pares dicotômicos do público/privado; homem/mulher; adulto/criança;centro/periferia, alto/baixo, branco/negro, não levou em conta, na pauta 
da racionalidade ocidental, a alteridade encerrada nos segundos desses 
mesmos pares. Dessa sorte, os enredos das histórias infantis tendem 
a dissolver os conflitos, quase sempre, pela via do fantástico, sem que 
haja, de fato, intervenção racional na ordem dos acontecimentos.
 Por exemplo, o conto Os sete corvos, dos irmãos Jakob e 
Wilhelm Grimm, encerra os objetivos pedagógicos esperados para um 
texto voltado para o público infantil. Nele, a bondade da irmãzinha fez 
com que os sete irmãos voltassem a ser gente novamente, depois do 
encantamento a que foram submetidos pelo pai, ao se tornarem corvos 
porque se atrasaram para trazer a água do poço para o batismo da 
menininha doente.
 A narrativa encerra os valores do catolicismo, isto é, os enfermos 
não batizados devem receber o sacramento antes da morte, caso 
contrário, se morrerem pagãos, é possível não irem para o céu. A figura 
do pai se faz presente com sua autoridade; bastou esse dizer: “- Tomara 
que eles todos virem corvos!” (2002, p. 58), e automaticamente, as 
crianças viraram sete animais. Por outro lado, os pais, ao revelarem à 
menina que os irmãos tinham virado corvos, e explicarem que: o que 
aconteceu tinha sido um desígnio do céu, e que o nascimento dela não 
tinha culpa de nada (2002, p.61). Tal atitude encerra a crença no ente 
sobrenatural que determina o que acontece na Terra. Assim, a fala do 
pai dá início ao encantamento e o encontro do anel da menina por um 
dos irmãos precipita o fim do encantamento: “Mas quando o sétimo 
corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu lá de dentro. Ele olhou 
bem e reconheceu que era um anel do pai e da mãe deles...” Então, 
“[...] a menina, que estava escondida atrás da porta, ouviu esse desejo, 
apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez” (2002, 
p.63).
22 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formação dos estados nacionais europeus
ATIVIDADES
Leia a fábula A Galinha dos ovos de ouro de La Fontaine e responda 
às questões propostas:
 
 A Galinha dos ovos de ouro
Havia um homem que
tinha uma galinha
que punha ovos de ouro.
Por avidez e burrice,
pensou: se a galinha abrisse,
encontraria um tesouro.
Ah, cobiça desastrada!
Morta e aberta a galinha
viu que lá não tinha 
nada!
Por excesso de ambição,
Podes perder teu quinhão.
 (La Fontaine)
a) Por que o homem resolveu abrir a barriga da galinha?
b) O narrador faz a seguinte exclamação: “Ah, cobiça desastrada!” 
Desastrada é o adjetivo atribuído à cobiça, isto é, uma cobiça capaz 
de causar um desastre. Você concorda com o narrador?
c) Transforme o ensinamento expresso em linguagem metafórica, 
conotativa, em linguagem denotativa, isto é, aplicável no cotidiano: 
“Por excesso de ambição, Podes perder teu quinhão.”
RESUMO
Você viu nesta Unidade I, que a literatura infantil tem sua origem nos 
estados-nação europeus, ainda no século XVIII, quando destacam a 
importância de um território, uma língua, como elementos da tradição 
nacional.
ATIVIDADES
RESUMINDO
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Referências: 
AQUINO, Rubim Santos Leão de; et al. Histórias das sociedades: 
das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao 
Livro Técnico, 1993.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.
CÂNDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos 
decisivos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura/
Juvenil: das origens Indo-Européias ao Brasil Contemporâneo. São 
Paulo: Ática, 1991.
GRIMM, Jakob. Contos de Grimm: animais encantados. Apresentação, 
Tradução e Adaptação de Ana Maria Machado. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 2002. 
LA FONTAINE, Jean de. Fábulas. Tradução de Ferreira Gullar. Rio de 
Janeiro: Revan,1999.
MOUSNIER, Roland; LABROUSSE, Ernest. O século XVIII, o último século 
do antigo regime. ...(Org). História geral das civilizações. Tradução de 
Vitor Ramos. São Paulo: DIFEL, (tomo V) 1961.
OLIVEIRA, Pedro Paulo de Oliveira. A construção social da 
masculinidade. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: UFMG/IUPERJ, 2004.
RÉMOND, René. O Século XIX: 1815-1914. Tradução de Frederico 
Pessoa de Barros. São Paulo: Cultrix, 1976.
RENAN, Ernest. O que é uma nação. In: ROUANET, Maria Helena. 
Nacionalidade em questão. Universidade do Rio de Janeiro: IL, 1997.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da educação. Tradução de 
Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social; Discurso sobre a origem e 
os fundamentos da desigualdade entre os homens e outros. Tradução de 
Lourdes Santos Machado. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Col. Os pensadores.
SARAIVA, António José; LOPES, Óscar. História da Literatura 
Portuguesa. Porto: Porto Editora, 1971.
REFERÊNCIAS
24 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A Literatura Infanto-juvenil e a formação dos estados nacionais europeus
ANEXOS
D’Alembert: Foi muito influenciado por Descartes, conservando, portanto, a visão mecanicista 
do mundo, sendo a matéria, constituída de átomos que se repelem continuamente. 
Fonte: www.algosobre.com.br/biografias/d-alambert.html)
Diderot: Denis Diderot (1713-1784), filósofo francês. Elaborou juntamente com D’Alembert 
a “Enciclopédia ou Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios”, composta de 33 
volumes publicados, pretendia reunir todo o conhecimento humano disponível, que se tornou 
o principal vínculo de divulgação de suas ideias naquela época. Também se dedicou à teoria 
da literatura e à ética trabalhista.
Fonte: http://videociencia.wordpress.com/historia/iluminismo/
Voltaire: Pode ser considerado como o filósofo que encerra o espírito do século XVIII. Por 
ser muito crítico da nobreza, foi exilado várias vezes. Em um desses exílios, teve contato, 
na Inglaterra, com as ideias de Locke, onde escreveu as famosas Cartas Inglesas, também 
chamadas de Cartas Filosóficas, criticando a política francesa. Foi um liberal convicto, ao 
defender os direitos civis, ainda que para aquele momento visse a necessidade do Despotismo 
Esclarecido, com a presença de filósofos junto ao rei. 
Fonte: www.pensador.info/autor/Voltaire/
Montesquieu: Ainda que tenha nascido em uma família de nobres, tornou-se crítico da 
monarquia absolutista e do clero. Sua obra mais significativa foi O espírito das leis, em que 
propõe uma teoria de governo, baseada no constitucionalismo e na separação dos poderes. A 
democracia como o filósofo concebeu via os poderes: executivo, legislativo e judiciário como 
instâncias autônomas e comandadas por pessoas diferentes, para que fosse evitado o arbítrio 
e a violência, levando-o a afirmar: “Para que não se possa abusar do poder é preciso que, pela 
disposição das coisas, o poder freie o poder.” 
Fonte: www.suapesquisa.com/biografias/montesquieu.htm
Rousseau: Alguns não veem o genebrino, radicado em Paris, como um enciclopedista 
racional, na medida em que valoriza a natureza, ainda que critique o poder absolutista, vindo 
a influenciar, já no Romantismo, seus escritores. Escreveu, entre outras obras: Discurso sobre 
a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, na qual defende os homens 
vivendo na natureza, sem a propriedade privada, responsável pela miséria e a escravidão.
 Fonte: www.unicamp.br/.../cursos/rousseau2001/aso.htm 
Suas anotações
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UNIDADE II
A QUESTÃO DO CÂNONE E A LITERATURA 
INFANTO-JUVENIL
OBJETIVO
Identificar como a literatura infantil, em seu início, vincula-
se à tradição ocidental, na linha platônica, ao dar ênfase a 
um conteúdo a ser “ensinado”.
1 INTRODUÇÃO
 Nesta unidade, vamos mostrar a você como certa literatura 
infantil mantém-se, por sua postura, na tradição do cânone literário, 
quando se vincula à concepção de ver o artístico comprometido com 
o conteudismo platônico; da mesma forma seu “menos valor”, ao ser 
associada ao popular, por sua origem; à mãe ou à criança. 
28 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
2 O LITERÁRIO: DO MUNDO GREGO ÀS COMUNIDADES 
IMAGINADAS
 Ainda que a literatura infanto-juvenil tenha surgido na 
modernidade ocidental, vinculada aos interesses dos estados-nação 
europeus, faz-se necessário retomar o conceito de literatura, para a 
tradição greco-latina, que se confundia com a gramática (gramma), 
pois significava, assim como litteratus, a arte de conhecer a 
gramática e a poesia. Chega ao século XVIII, vinculada à noção 
de valor, portanto, ao ideológico, na medida em que fazia parte 
da formação educacional do cidadão. Ernest Curtius, em Literatura 
Européia e Idade Média Latina, justifica a ligação da literatura aos 
valores gregos:
Porque os gregos encontraram num poeta o refle-
xo de seu passado, de seus deuses. Não possuíam 
livros nem castas sacerdotais. Sua tradição era Ho-
mero. Já no séc. VI era um clássico. Desde então 
é a literatura disciplina escolar, e a continuidade 
da literatura européia está ligada à escola (1957, 
p.38).
 Nada podia abalar essa integração entre o poético e o político, 
pois a poesia, sendo simulacro, constitui imitação da aparência 
e não da realidade, só se justificando se estivesse a serviço da 
educação do povo grego. Com admissão da poesia em sua ágora, 
que se adequasse à Lei e à razão humana, através dos hinos aos 
deuses e em louvor aos homens famosos.Platão, em diálogo com Glauco, afirma:
Quanto a seus protetores, que, sem fazer versos, 
amam a poesia, permitiremos que defendam em 
prosa e nos mostrem que não só é agradável, mas 
também útil, à república e aos particulares para 
o governo da vida. De bom grado os ouviremos, 
porque com isso só temos a lucrar, se nos puderem 
provar que aí se junta o útil ao agradável (PLA-
TÃO,1994, p.403).
 Simulacro
[Do lat. simulacru.]
Substantivo masculino 
Ant. 1.Imagem de divin-
dade ou personalidade 
pagã; ídolo, efígie. 2. 
Ação simulada para exer-
cício ou experiência:um 
simulacro de vestibular. 
3.Falsificação, imitação: 
Não passa de um simula-
cro de herói. 4.Fingimen-
to, disfarce, simulação. 
5.Cópia ou reprodução 
imperfeita ou grosseira; 
arremedo: O cenário de 
O Guarani era apenas 
um simulacro de flores-
ta brasileira; “Se, abas-
tados e engrandecidos, 
viemos de humildes e po-
bres, pretendemos mui-
tas vezes fazer esquecer 
ao mundo o nosso berço; 
mas no abrigo familiar, 
deixada tão viciosa ver-
gonha, abrimos o larário 
doméstico e tiramos dele 
os deuses da meninice, 
grosseiros simulacros 
das imagens paternas” 
(Alexandre Herculano, 
Opúsculos, V, p. 34-35). 
6.V. fantasma (3).
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A filosofia platônica teve grande importância para a tradição ocidental. Leia 
o que vai abaixo e depois se informe mais sobre esse grande filósofo e suas 
obras.
PLATÃO: nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e 
abastados, de antiga e nobre casta. Ao seu temperamento artístico deu, na 
mocidade, livre curso, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-
se na expressão estética de seus escritos. Suas obras, até hoje, são objeto 
de análise e apreciação, a mais conhecida, entretanto, é A República, em que 
defende, na forma de diálogo, um modelo aristocrático de poder, governado 
pelos intelectuais. 
Fonte: http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm
 
 
PARA CONHECER
SAIBA MAIS
O conceito de comunidades 
imaginadas trazido por Bene-
dict Anderson embasa toda a 
argumentação desse estudio-
so, nascido na China, filho de 
pais ingleses, para explicar 
como um modelo imposto, 
coletivamente, é seguido por 
todos como algo tido como na-
tural e espontâneo.
Comunidades imaginadas: 
é o conceito que intitula uma 
obra de referência para os 
estudiosos das identidades 
nacionais e os processos de 
construção da nação. Ander-
son tem repensado as bases 
para o estudo da identidade 
nacional com um estudo teó-
rico e empírico sistemático e 
aprofundado. Aqui, Anderson 
coloca que as comunidades 
nacionais são produto de um 
processo de desenvolvimento 
político, social e cultural que 
resulta na geração de uma 
relação imaginária com seus 
concidadãos nas imediações 
do Estado-Nação. A recupera-
ção do conceito de imaginação 
nega a conotação pejorativa 
do termo, em oposição à reali-
dade (realidade versus imagi-
nação). Anderson examina a 
base material da imaginação 
para entender como se confor-
ma uma comunidade nacional. 
 
Fonte: http://www.netsaber.com. 
br/resumos/ver_resumo_c_54197.
html
 Coloca, portanto, o literário a serviço do ideológico, na 
medida em que, para ter existência reconhecida, necessita ser 
útil à sociedade grega na formação de seus concidadãos. A razão 
deve conter a emoção, contrária a qualquer manifestação do 
desejo, fazendo, entretanto, concessão ao Belo, Bom e Justo, ao 
colocar o artístico em comum acordo com a ética. A literatura do 
período romântico, por outro lado, endossará as ideias correntes 
burguesas, e coloca-se disponível para compor as comunidades 
imaginadas (ANDERSON, 2008).
 O romantismo reflete a ambiência então operante. O 
romantismo alemão, - ainda que a princípio a Alemanha não 
estivesse unificada - procura nas raízes folclóricas, na tradição 
das narrativas orais, uma forma de sedimentar o seu cânone, 
com o culto ao Volksgeist, com forte valorização do dado local.
Participantes do Círculo intelectual de Heidel-
berg, Jacob e Wilhelm Grimm, - filólogos, gran-
des folcloristas, estudiosos da mitologia germâ-
nica e da história do Direito alemão – recolhem 
diretamente da memória popular as antigas 
narrativas, lendas ou sagas germânicas, con-
servadas por tradição oral. [...].
Buscando encontrar as origens da realidade his-
tórica ‘nacional’, os pesquisadores encontraram 
a fantasia, o fantástico, o mítico... e uma gran-
de Literatura Infantil surge para encantar crian-
ças do mundo todo (COELHO, 1991 p.140).
 É, nesse cenário, que Goethe propõe o conceito de 
Literatura Universal (Weltliteratur), em atenção aos valores e 
crenças da modernidade europeia, sustentados na nação e em 
suas tradições, no progresso e na ciência.
30 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
Dentro desse processo renovador, a criança é desco-
berta como um ser que precisava de cuidados espe-
cíficos para sua formação humanística, cívica, espiri-
tual, ética e intelectual. E os novos conceitos de Vida, 
Educação e Cultura abrem caminho para os novos e 
ainda tateantes procedimentos na área pedagógica e 
na literária. Pode-se dizer que é nesse momento que 
a criança entra como um valor a ser levado em con-
sideração no processo social e no contexto humano 
(COELHO, 1991, p.139).
 Escritores como Charles Perrault, na França; os irmãos 
Grimm, na Alemanha; Andersen, na Dinamarca; e Callodi, na 
Itália; não hesitaram em voltar às raízes folclóricas medievais, na 
linha de ação presa ao ideal da construção dos estados-nação, com 
suas comunidades imaginadas. O idealismo romântico, então, acabou 
por criar o mito da infância, esta vista como a idade de ouro do 
ser humano, e, ao mesmo tempo, a adolescência (COELHO, 1991). 
E a volta ao passado significou a pedra de toque necessária para 
que a burguesia se impusesse; então, nada melhor do que a busca 
em tempos imemoriais de suas narrativas e de suas manifestações 
populares, como acontece com as produções dos primeiros escritores 
voltados ao público infantil:
Charles Perrault, no século 17, [na França] e os ir-
mãos Grimm, no início do século 19, [na Alemanha] 
se apropriam dos contos de fadas. Estes relatos 
fundam-se preferencialmente numa ação de proce-
dência mágica, resultante da presença de um auxi-
liar com propriedades extraordinárias que se põe a 
serviço do herói: uma fada, um duende, um animal 
encantado (ZILBERMAN; MAGALHÃES, 1984, p.15).
 
 É o que ocorre, por exemplo, em O Gato de Botas, de Charles 
Perrault, que traz em seu enredo o pragmatismo esperado para a 
nova sociedade. Como afirma Nelly Novaes Coelho, em Literatura 
Infantil: teoria, análise, didática (2000):
Em épocas de consolidação, quando determinado 
sistema se impõe, a intencionalidade pedagógica do-
mina praticamente sem controvérsias, pois o impor-
tante para a criação no momento é transmitir valores 
para serem incorporados como verdades pelas novas 
gerações (2000, p.47).
SAIBA MAIS
Volksgeist: segundo a 
Escola Histórica, o povo 
é um ser vivo marcado 
por forças interiores e 
silenciosas que segrega 
uma espécie de cons-
ciência popular, o espíri-
to do povo (Volksgeist). 
O povo é anterior e su-
perior ao Estado e é do 
espírito do povo que bro-
ta tanto a língua quanto 
o direito, consideradas 
produções instintivas e 
quase inconscientes que 
nascem e morrem com o 
próprio povo. No caso es-
pecífico do direito, o cos-
tume teria de ser mais 
importante do que a lei, 
porque o que emana do 
Volksgeist tem de estar 
numa posição superior 
aos próprios ditames do 
Estado.
Fonte: http://farolpolitico.blo-
gspot.com/2007/09/ esprito-
do-povo-volksgeist.html
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 O conto O Gato de Botas reflete toda a necessidade de 
impor um modelo de homem empreendedor, que soubesse 
superar qualquer dificuldade. A narrativa gira em torno da 
divisão de uma herança: tendo o pai falecido, deixou para 
seus três filhos, os seguintes bens - um moinho, para o mais 
velho; um burro, para o do meio; e um gato, para o mais 
novo. O que fazer com um gato? Logo, o gato colocou-se 
disposto a ajudar o seu dono:
De hoje em diante meu destino
É ao meu dono servir.
Hei de cobri-lo de ouro!
Basta de me divertir!
Com este saco de pano
Vou para o bosque distante.
Um cérebro que trabalha
Faz fortuna num instante.
(Fábulas Encantadas)
Figura 2.1. Edição de wallpaper 
“Shrek”. Gato de Botas
 A partir daí, fez de tudo para promover o rapaz e, após mil 
peripécias, acaba por aproximá-lo do rei e de sua filha, com quem se 
casa e vivem felizes para sempre. O que está subjacente a esse conto é a 
valorização da iniciativa, típica dos valores burgueses então em ascensão. 
Não interessa sua origem, ou classe social, na qual você nasceu, basta o 
talento, “Um cérebro que trabalha” que “Faz fortuna num instante”. É o 
self-made men do sistema liberal, capitalista, pois, a princípio, “todos são 
iguais perante a Lei”.
3 A LITERATURA INFANTIL E SUA FUNÇÃO PROPEDÊUTICA
 
 A questão da literatura infanto-juvenil passa, necessariamente, 
por aquilo que se atribui como literário e como não-literário de acordo 
com a tradição ocidental, no qual estão incluídas as obras tidas como 
canônicas, ancoradas em pressupostos que vem desde a Grécia antiga. 
Nesse sentido, por um lado, essa literatura reedita a velha fórmula, que 
vem de Platão do Docere cum delectare (= ensinar deleitando). Entretanto, 
desde o seu início, padeceu de uma espécie de menos valia; talvez não 
tanto por seu vínculo aos valores correntes, mas por sua origem, isto é, os 
contos populares apresentavam domesticidade e função propedêutica, 
em que a figura da mãe era chamada como a primeira preceptora do filho 
32 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
da burguesia e depois a escola assumia esse papel. Tal paradoxo, 
entre o ideário do Liberalismo e a promoção dos direitos da mulher, 
colocou-se de pronto, mesmo que o símbolo da Revolução tenha sido 
a Marianne, eternizada em suas vestes desnudas por Delacroix. 
O conceito de cânone literário esteve presente desde os gregos, como algo a 
ser seguido pelos escritores. 
Canônicas: relativo ao cânone; termo derivado da palavra grega “kanon”, que 
designava uma espécie de vara com funções de instrumento de medida; mais 
tarde, o seu significado evoluiu para o de padrão ou modelo a ser aplicado 
como norma. É, no século IV, que encontramos a primeira utilização gene-
ralizada de cânone: trata-se da lista de Livros Sagrados, que a Igreja cristã 
homologou como transmitindo a palavra de Deus, logo representando a ver-
dade e a lei que devia alicerçar a fé e reger o comportamento da comunidade 
de crentes. Após a rejeição de certos livros, denominados apócrifos, o cânone 
bíblico tornou-se fechado, inalterável, distinguindo-se nesse aspecto do outro 
referente do cânone teológico, o conjunto de Santos Padres a que a Igreja 
Católica periodicamente acrescenta novos indivíduos, através de um processo 
chamado canonização. Importante para a história posterior do conceito é, pois, 
a ideia de que canônica é uma seleção (materializada numa lista) de textos e/
ou indivíduos adotados como lei por uma comunidade e que lhe permitem a 
produção e reprodução de valores (normalmente ditos universais) e a imposi-
ção de critérios de medida que lhe possibilitem, num movimento de inclusão/
exclusão, distinguir o legítimo do marginal, do heterodoxo, do herético ou do 
proibido. Neste sentido, torna-se claro que um cânone veicula o discurso nor-
mativo e dominante num determinado contexto, teológico ou outro, e é isso 
que subjaz a expressões como “o cânone aristotélico”, “cânones da crítica” etc. 
Acompanhando o processo de secularização da cultura em marcha desde o 
Renascimento, o conceito e o termo vieram progressivamente a ser aplicados 
ao domínio da literatura, muitas vezes, sob a forma de expressões como “os 
clássicos” ou “as obras-primas”. O cânone literário é, assim, o corpo de obras 
(e seus autores) social e institucionalmente consideradas “grandes”, “geniais”, 
perenes, comunicando valores humanos essenciais, por isso, dignas de serem 
estudadas e transmitidas de geração em geração. Tal definição é válida, quer 
se trate de um cânone nacional, presumindo-se que o povo se reconhece nas 
suas características específicas, quer se trate do cânone universal, o que signi-
fica de fato, dada à própria origem histórica da categoria literatura, um cânone 
eurocêntrico ou, quanto muito, ocidental.
Fonte: http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/C/canone.htm
 O quadro, constante da Figura 2.2, retrata os representantes 
da sociedade francesa da época e a Liberdade, encerrada em uma 
mulher, seria uma espécie de síntese de todas as classes sociais.
 O conto A Dama e o Leão, dos irmãos Grimm encerra as normas 
comportamentais a serem seguidas pelos gêneros, com destaque 
para valores como contenção, recato e incentivo à superação, e os 
dotes a serem preservados pela mulher: beleza, modéstia, pureza. 
SAIBA MAIS
 Propedêutica: 
adj. 1. Que serve de 
introdução; prelimi-
nar.
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de
A narrativa apela sobremodo para o fantástico como solução para 
os problemas existenciais enfrentados pelos personagens. Assim, 
a menina pobre casa com o Príncipe, que se transveste de vários 
bichos, como leão:
Ora, o leão era um príncipe encantado, que durante 
o dia era leão. Todo o seu séquito também se cons-
tituía de leões. À noite, porém, reassumia a forma 
humana (s/d, p.81).
 
 Entre outros animais, está a pomba:
Mas o leão disse que seria perigoso demais, pois se 
um raio de luz tocasse nele o transformaria em pom-
ba, e ele teria de voar durante sete anos.
[...]
- Durante sete anos devo voar pelo mundo – disse-
lhe a pomba.- A cada sete passos deixarei cair uma 
gota de sangue e uma pena branca, para te mostrar 
o caminho. Tu me seguirás e me libertarás. 
Dizendo isso, a pomba voou e saiu pela porta. Ela 
seguiu-a e a cada sete passos a ave deixava cair uma 
gota de sangue e uma pequena pena branca, a fim 
de mostrar o caminho (s/d, p.82).
 Em certo momento, deixaram cair a pena branca e a gota 
de sangue, com a pomba desaparecida. Para resgatá-la, a princesa 
correu mundo. Foi ao sol, à lua, ao vento da noite, ao vento leste e ao 
oeste. Aí o vento sul disse:
Figura 2.2. Delacroix La Libertè guidant le peuple.1830.
Fonte: <http://fr.wikipedia.org/wiki/La_Libert%C3%A9_guidant_le_peuple>.
34 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
 - Vi uma pomba branca. Voou para o mar Verme-
lho, onde se tornou de novo um leão, pois que os 
sete anos se passaram. E o leão está sempre lutando 
com um dragão que é uma princesa encantada (s/d, 
p.83).
 E o vento deu-lhe mais conselhos, mas, infelizmente, quando 
o dragão e a pomba tomaram a forma humana,
... a princesa que tinha sido dragão se viu livre do 
encanto, tomou o príncipe nos braços, sentou-se nas 
costas do grifo e levou-o embora. E a pobre viajan-
te, mais uma vez abandonada, sentou-se e pôs-se a 
chorar (s/d, p.84).
 
 No entanto, logo tomou uma resolução: “Para onde o vento 
soprar eu irei, e enquanto o galo cantar eu procurarei e hei de achá-
lo” (p.84). E o vento levou-a a muitos lugares até chegar ao castelo 
aonde opríncipe e a princesa iam se casar. Lá, solicitou um encontro 
com o noivo e, enquanto esse dormia, falou ao seu ouvido: - Durante 
sete anos te segui. Estive com o sol, com a lua, com os quatro ventos, 
à tua procura. Ajudei-te a vencer o dragão, e agora me esquecerás? 
(s/d, p.85).
 O príncipe, de início, nada entendeu e perguntou ao camareiro 
que sons tinham sido aqueles, que ouvira durante a noite, ao que 
esse respondeu que lhe fora administrada uma droga sonífera, devido 
à presença de uma pobre moça. Então, o príncipe ordenou que 
permitisse a entrada novamente da moça em seus aposentos e que 
gostaria de tomar mais uma vez os comprimidos para dormir. Nesse 
tempo, ao começar a relatar sua história, o príncipe reconheceu a voz 
de sua querida esposa e falou:
- Agora estou realmente livre, pela primeira vez. 
Tudo foi como um sonho, pois a princesa estrangeira 
lançou-me um encanto pelo qual esqueci de ti. Mas o 
céu, numa hora feliz, afastou de mim aquela ceguei-
ra (s/d, p.86).
 E foram felizes para sempre...
 Badinter assinala a condição a que foram relegadas as 
mulheres: 
Sem dúvida, as mulheres foram as ‘deixadas-por-
conta’ da Revolução. No momento em que o ideal re-
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volucionário colocava a igualdade formal abaixo das 
diferenças naturais, ao sexo resta o último critério 
de distinção. Os Judeus foram emancipados pelo de-
creto de 27 de setembro de 1791, a escravidão dos 
negros abolida (nas colônias francesas) em 4 de fe-
vereiro de 1794, mas, apesar dos esforços de alguns, 
a condição das mulheres não foi modificada. Os di-
reitos do Homem, direitos naturais ligados à pessoa 
humana não as reconhece. 
O Código Civil de Napoleão (1804) manteve a desi-
gualdade dos sexos [...]. Aos homens, os direitos; 
às mulheres, os deveres. O imperador interveio pes-
soalmente para restabelecer em sua plenitude a au-
toridade do marido, ligeiramente abalada no fim do 
século XVIII. Insistiu para que, no dia do casamento, 
a mulher reconhecesse claramente que devia obedi-
ência ao marido (BADINTER, 1986, p. 212-14).
 Sinalizam-se, assim, previamente, a ocupação dos lugares, em 
que a polis, da sociedade administrada, continuava sendo a seara do 
masculino, enquanto às mulheres ficava reservado, em uma espécie 
de não-lugar, o foyer, o emparedamento do restrito. Como afirma 
Almeida:
 A ideologia burguesa intentou mantê-las confinadas no espaço 
doméstico, e essa domesticidade era desejada e mantida a todo custo. 
Positivistas e higienistas foram determinantes para conseguir alicerçar 
a concepção da mulher-mãe, guardiã dos lares, mãe extremosa, 
tudo o mais que se seguiu ideologicamente foi preservar o culto ao 
feminino e manter a mulher intocada dos efeitos nocivos da vida 
terrena, em um espaço próprio, no qual dominavam os sentimentos, 
a espiritualidade e a superioridade do coração sobre a razão, o que 
significava o cerne de sua existência (ALMEIDA, 2007). 
 Enquanto a mulher ocupava o espaço da invisibilidade, 
“mulher-mãe, guardiã dos lares, mãe extremosa”, deixava o espaço 
público livre para que o homem transitasse. Então, a literatura 
infanto-juvenil surge nessa dimensão de dependência aos valores do 
estado burguês, mas, a partir de uma não-cidadã, mas importante 
no arranjo dos interesses postos, sobre uma criança. Ambos, mãe e 
filho, são considerados infantis, vistos como menores, por isso, sem 
voz, uma vez que infantil é aquele, que não é sujeito de sua própria 
enunciação. O incentivo ao hábito de leitura ocorre paralelamente 
para a mulher e para a criança, como símbolo de civilidade urbana:
[A] leitura, enquanto prática difundida em diferen-
tes camadas sociais e faixas etárias, isto é, enquanto 
um procedimento de obtenção de informações [do] 
cotidiano e acessível a todos, e não raro erudito, é 
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Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
uma conquista da sociedade burguesa do século 18. 
A expansão do mercado editorial, a ascensão do jor-
nal como meio de comunicação, a ampliação da rede 
escolar, o crescimento das camadas alfabetizadas – 
todos estes são fenômenos que se passam entre o 
Iluminismo, sendo esta filosofia a sistematização e 
culminância do processo civilizatório. O ler transfor-
mou-se em instrumento de ilustração e sinal de civi-
lidade (ZILBERMAN; MAGALHÃES, 1984, p.21).
 A novela em verso Grisélidis, de Charles 
Perrault, trata-se de uma fábula, no sentido de algo 
fantasioso, do folclore francês, em que tece elogios 
aos atributos femininos como a fidelidade, a paciência 
e a submissão ao homem, bem nos moldes esperados 
para esse gênero. Grisélidis não tem voz e o príncipe, 
ao procurar a sua pretendente, valorizava a submissão 
feminina ao esposo. É o que ele afirma:
Seus caminhos são tais, com tantas variantes,
Que uma só coisa eu encontrarei
Em que estão todas concordantes,
É em querer ditar a lei.
Ora, estou convencido, em nenhum casamento
Se pode ter felicidade
Quando os dois têm autoridade;
Se pois quereis que a ele dê consentimento,
Buscai-se jovem muito bela
Livre de orgulho e de vaidade,
De total obediência total,
De uma paciência sem igual,
E que não possua vontade;
 Quando a encontrardes, casarei com ela. 
 (PERRAULT, 2007, p.22)
 Apesar de toda a maldade do príncipe, que, por ciúme, lhe 
rouba a filha e quase vem a se casar com ela, Grisélidis, a pobre 
pastorinha, comporta-se com resignação:
Sois vós o meu Esposo, e meu Mestre, e Senhor,
(Diz ela suspirando e quase a esvaecer),
E, embora seja horrendo o que estejais a dizer,
Quero fazer-vos sabedor
Figura 2.3 - La Lecture (1869-1870), de Berthe Morisot.
Fonte: <http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Berthe_Morisot_006.jpg>.
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De que o que eu mais prezo é vos obedecer.
 (PERRAULT, 2007, p. 40)
 Assim o príncipe chega a conceder a glória a Grisélidis, 
reconhecendo-a como virtuosa, não por ela, mas por intermédio dele:
Maior será minha solicitude
Em prevenir os seus desejos
De que já foi a minha inquietude
Em oprimi-la de atos malfazejos;
E se por todo o sempre há de estar a memória
Dos desgostos que o seu coração tem sopeado,
Quero que ainda mais celebrem essa glória
Com que a virtude imensa eu lhe terei coroado.
 (PERRAULT, 2007, p. 46)
 Tais atitudes são endossadas porque dos homens eram 
esperados vigor, coragem, perseverança, para que se tornassem 
vencedores. Por isso,
Com a ascensão da burguesia, mais do que nunca a 
mulher passa a ser vista como um complemento do 
homem, que deveria ser aperfeiçoado e enobrecido 
pela afeição e o puro amor de uma mulher. Dessa 
foram ela se transforma em algo especialmente des-
tinado à satisfação masculina (OLIVEIRA, 2004, p. 
73).
 O filósofo Michel Foucault, crítico da modernidade, questionou 
não a relação da verdade com as coisas, mas a forma como os 
discursos são instituídos como princípio de verdade na sociedade, 
chamando atenção para como os jogos de verdade e exclusão são 
engendrados, isto é, organizados socialmente:
Decifrar a história das idéias não é tanto visar um es-
tabelecimento do verdadeiro e sim perceber arranjos 
que articulam jogos de verdade e de exclusão, que 
estabelecem o tolerado e o intolerável (apud DES-
CAMPS, 1991, p.40).
 Para Foucault, o poder não se encontra em instâncias 
fechadas, isto é, em instituições, mas de forma difusa na estrutura 
social. Roberto Machado, estudioso da teoria foucaultiana, adverte,em Ciência e Saber: a trajetória da Arqueologia de Foucault (1981):
Foucault: Michel Fou-
cault (1926-1984) foi pro-
fessor de História dos Sis-
temas de Pensamento no 
Collège de France de 1970 
a 1984. Autor das seguin-
tes obras, nas quais ana-
lisa a construção da ver-
dade – os biopoderes e as 
disciplinas - para o Oci-
dente: História da loucu-
ra (1961), As palavras e 
as coisas, uma arqueolo-
gia das ciências humanas 
(1966), A Arqueologia 
do saber (1969), Vigiar 
e punir (1975) e História 
da sexualidade (1976).
Fonte: HUISMAN, 2000, p.16, 
p. 270, p. 271, p.422, p. 568.
PARA CONHECER
38 Módulo 5 I Volume 1 EAD
Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
O Estado não é o ponto de partida necessário, o foco 
absoluto que estaria na origem de todo tipo de po-
der social e de que também se deveria partir para 
explicar a constituição dos saberes nas sociedades 
capitalistas (MACHADO, 1981, p.190).
 Alerta-nos, entretanto, que o poder do Estado instituído em 
uma sociedade também exerce sua coerção, sobre os cidadãos, entre 
outras microfísicas, isto é, aquilo que não é percebido, mas que coage 
para a manutenção de uma verdade. Então, as regras de sujeição 
disciplinar vão determinar as fronteiras do permitido e do não 
permitido, porque se embasam em pares que se opõem: alto/baixo, 
claro/escuro, natureza/cultura, homem/mulher, centro/periferia. Em 
Vigiar e punir, Foucault vai nos dizer que as disciplinas atravessam o 
corpo social e a realidade mais concreta do ser humano – o próprio 
corpo – como uma rede, sem que suas fronteiras sejam delimitadas, 
através de: 
“Métodos que permitem o controle minucioso das 
operações do corpo, que asseguram a sujeição con-
stante de suas forças e lhes impõem uma relação de 
docilidade-utilidade” (FOUCAULT, 1977, p.139). 
 Logo, os estados-nação impõem uma norma comportamental 
a ser vigiada e punida, em nome da ordem a ser mantida, tanto no 
espaço doméstico quanto no público. Os primeiros textos voltados 
para as crianças estiveram atrelados ao estado-nação e, portanto, 
à pedagogia, pois: “O aspecto meramente lúdico de um texto não 
justificava a publicação, apenas o critério de utilidade educativa 
legitimava a difusão de histórias infantis” (ZILBERMAN, 1984, p.41).
 A obra infantil, desse modo, assume o compromisso de 
transmitir as regras, através do sonho, de que a criança necessitava 
para transitar, de forma ajustada, na sociedade. Nesse sentido, a 
fatura estética voltada para a petizada acaba por se encerrar em 
duas chaves, uma voltada para a manutenção da ordem dominante, o 
docere platônico; outra que enseja a ousadia, o delectare, devido ao 
”mundo do faz de conta”, entretanto, pleno de verossimilhança, isto 
é, à luz de Aristóteles em Arte Retórica e Arte Poética (1964), aquilo 
que tem a aparência da verdade, no literário. Como afirma Coelho:
Os que são impelidos mais fortemente pelas forças 
da renovação exigem que a literatura seja apenas 
entretenimento, jogo descompromissado (pois é jus-
tamente a atividade lúdica que tem por função de-
sarticular estruturas estáticas, já cristalizadas com o 
tempo) (COELHO, 2000, p.47).
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 Assim, o lúdico, puro jogo, descola o texto infantil do 
pragmatismo ético-social, levando o leitor mirim à aventura espiritual, 
à fruição estética.
ATIVIDADES
1. Comente a intenção de Charles Perrault, acerca de seus escritos, 
a partir da seguinte citação de Contes du temps passé, avec 
des moralités, publicado em 1697:
“... Houve pessoas que perceberam que essas bagatelas não 
são simples bagatelas, mas que guardam uma moral útil e que 
a narração que as conduz não foi escolhida senão para fazer 
entrar (tal moral) de uma maneira mais agradável no espírito, 
e de uma maneira que instrui e diverte ao mesmo tempo. Isso 
me basta para não temer o ser acusado de me divertir com 
coisas frívolas. Mas como há pessoas que não se deixam tocar 
senão pela autoridade dos antigos...” 
2. Leia o conto Os dois Irmãos, dos irmãos Grimm, e, a partir 
dos fragmentos destacados a seguir, identifique o princípio 
pedagógico que encerra o conteúdo da narrativa: 
a) “Era uma vez dois irmãos, um rico e outro pobre. O rico era 
ourives, e malvado até não poder mais. O pobre ganhava a 
vida fabricando vassouras, e era bom e honesto” (GRIMM, 
2002, p.25).
b) “Acontece que o ourives era esperto e sabia uma porção 
de coisas. Sabia que tipo de pássaro era aquele” (GRIMM, 
2002, p.27).
c) “Fique sabendo que esse pássaro não era como os outros. 
Tinha uma coisa maravilhosa: quem comesse o coração e o 
fígado dele passaria a achar, todas as manhãs, uma moeda 
de ouro debaixo do travesseiro” (GRIMM, 2002, p.27).
d) “- Não há nada de mal nisso – disse o caçador - desde que 
vocês continuem sendo bons e honestos e não comecem a 
ficar preguiçosos” (GRIMM, 2002, p.29).
e) “- Seria muito melhor se quem não tivesse língua fossem 
os mentirosos. As línguas de um dragão são a presa do 
matador do dragão” (GRIMM, 2002, p.50).
ATIVIDADES
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Literatura Infanto-Juvenil | A questão do Cânone e a Literatura Infanto-juvenil
f) “ – A misericórdia é mais importante que o direito. Pode 
ficar com sua estalagem. E também vou lhe dar mil moedas 
de ouro, de presente” (GRIMM, 2002, p.52).
g) “ Mas o caçador era muito esperto. Arrancou três botões de 
prata do paletó e carregou a arma com eles, porque contra 
a prata não havia poder mágico” (GRIMM, 2002, p.56).
h) “ Aí ele ficou sabendo como seu irmão lhe tinha sido fiel” 
(GRIMM, 2002, p.58).
RESUMO
Foram mostrados, nesta Unidade II, a origem do cânone literário e 
o modo como a Literatura infantil inseriu-se na tradição ocidental, 
vinculada, ainda que a sua manutenção encerre uma certa 
desvalorização em relação ao literário, sem adjetivação, talvez por 
seu vínculo à sua origem popular, à figura da mãe, sem peso político, 
fora do lar, e à criança, em sua dependência ao adulto.
Referências
ALMEIDA, J. S. de. Ler as letras: por que educar meninas e 
mulheres? São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São 
Paulo: Campinas: Autores Associados, 2007. 
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre 
a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução de Denise Bottman. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. Tradução de Antônio 
Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964.
BADINTER, Elisabeth. Um e o outro. Tradução de Carlota Gomes. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
RESUMINDO
REFERÊNCIAS
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de
COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura/
Juvenil: das origens Indo-Européias ao Brasil Contemporâneo. São 
Paulo: Ática, 1991.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 
São Paulo: Moderna, 2000.
CURTIUS, Ernest. Literatura Européia e Idade Média Latina. 
Tradução de Teodoro Cabral. Rio de Janeiro: INL,1957.
DESCAMPS, Christian. As Idéias Filosóficas Contemporâneas na 
França. Tradução de Arnaldo Marques. Rio de Janeiro: Jorge Zahar 
Editor, 1991.
FOUCAULT, Michel. Fábulas Encantadas. São Paulo: Abril Cultural, 
1970.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Tradução de Luis Felipe 
Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1977.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Tradução de Salma 
Tannus Muchail. São. Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. História da loucura. Tradução de José Teixeira 
Coelho. São Paulo: Perspectiva, 2003.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Tradução de Lygia M. Pondé 
Vassalo. Petrópolis:

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