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2a SÉRIE ENSINO MÉDIO Caderno do Professor Volume 1 FILOSOFIA Ciências Humanas MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR FILOSOFIA ENSINO MÉDIO 2a SÉRIE VOLUME 1 Nova edição 2014-2017 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO São Paulo Governo do Estado de São Paulo Governador Geraldo Alckmin Vice-Governador Guilherme Afif Domingos Secretário da Educação Herman Voorwald Secretário-Adjunto João Cardoso Palma Filho Chefe de Gabinete Fernando Padula Novaes Subsecretária de Articulação Regional Rosania Morales Morroni Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP Silvia Andrade da Cunha Galletta Coordenadora de Gestão da Educação Básica Maria Elizabete da Costa Coordenadora de Gestão de Recursos Humanos Cleide Bauab Eid Bochixio Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional Ione Cristina Ribeiro de Assunção Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares Ana Leonor Sala Alonso Coordenadora de Orçamento e Finanças Claudia Chiaroni Afuso Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Barjas Negri Senhoras e senhores docentes, A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo- radores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor- dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação — Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste pro- grama, seus maiores esforços ao intensiàcar aç×es de avaliação e monitoramento da utilização dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas aç×es de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, àrma seu dever com a busca por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb. Enàm, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo faz Escola, apresenta orien- taç×es didático-pedagÓgicas e traz como base o conteÙdo do Currículo 0àcial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à .atriz Curricular. 0bservem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. 0 Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteÙdos das disciplinas, além de permitir uma avalia- ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodolÓgicas em sala de aula, objetivando a diversiàcação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagÓgico. Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua histÓria. Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo. Bom trabalho! Herman Voorwald Secretário da Educação do Estado de São Paulo Orientação sobre os conteúdos do volume 5 Situações de Aprendizagem 8 Situação de Aprendizagem � m 0 Eu racional � Situação de Aprendizagem 2 – Introdução à Ética 16 Situação de Aprendizagem � – A liberdade 2� Situação de Aprendizagem 4 – Autonomia 36 Situação de Aprendizagem 5 – Introdução à Teoria do Indivíduo 43 Situação de Aprendizagem 6 – Tornar-se indivíduo 52 Situação de Aprendizagem � – Condutas massiàcadas 62 Situação de Aprendizagem � – Alienação moral 6� Quadro de conteúdos do Ensino Médio 75 Gabarito 76 SUMÁRIO 5 Filosofia – 2a série – Volume 1 ORIENTAÇÃO SOBRE OS CONTEÚDOS DO VOLUME Prezado professor, 0 presente volume sofreu algumas altera- ç×es em relação às ediç×es anteriores. As mudanças foram modestas e tiveram o sen- tido de melhorar o diálogo entre o Caderno do Professor e o Caderno do Aluno. De maneira geral, procuramos preservar as Situaç×es de Aprendizagem no seu formato original, pois não se trata de uma nova publi- cação, mas de uma nova edição. Dessa forma, àzemos alguns acréscimos e algumas exclu- s×es, sempre para atender melhor as orienta- ç×es gerais para o ensino de Filosoàa. Enfatizamos que o encaminhamento pro- posto nas Situaç×es de Aprendizagem dispo- níveis no Caderno do Professor e no Caderno do Aluno visa apresentar uma possibilidade para percorrer o caminho dado pelo Currí- culo 0àcial do Estado de São Paulo. Con- tudo, entendemos que para seguir o Currículo você não precisa nem deve àcar restrito ape- nas aos Cadernos, podendo complementar as Situaç×es de Aprendizagem propostas com outros recursos. Você pode, ainda, adotar como referência um livro didático da sua pre- ferência, mas, mesmo que faça essa opção, lembre sempre que, ainda assim, deverá com- plementar a proposta do livro com outros recursos e planejamento a àm de que possa atender o Currículo. Advertimos que nenhum material é perfeito e jamais poderá ser utili- zado sem planejamento e sem as indispensá- veis contribuiç×es teÓricas e práticas do docente. Professor, você tem autonomia para planejar e preparar as suas aulas, selecionar os textos e os pensadores que melhor se ade- quam aos temas curriculares e ao desenvolvi- mento das competências e habilidades, referência do Currículo 0àcial do Estado de São Paulo. Lembramos e entendemos que nunca é demais destacar que a aplicação do Currículo é indispensável, pois trata-se de uma política de Estado que visa a melhoria da educação pÙblica e a uniàcação dos processos de ensino e apren- dizagem. Essa uniàcação pretende garantir a igualdade na formação e, assim, dar a oportu- nidade aos nossos alunos para que possam realizar trajetÓrias mais equânimes. Ainda, o Currículo procura reáetir a perspectiva de uma educação comprometida com a formação crí- tica, solidária e inclusiva visto que também se prop×e a preparar os nossos alunos para a vida social, assim como para adentrar e melhor se adaptar às demandas da esfera do mundo do trabalho, com base no desenvolvimento de habi- lidades e competências. Conhecimentos priorizados Neste volume você encontrará nas Situa- ç×es de Aprendizagem temas, conteÙdos e pro- postas de reáexão que abordam a temática rela- tiva ao mundo da prática. Isto é, sobre a esfera das quest×es morais e sobre as condiç×es da existência ética e, nesse sentido, sobre a qualiàcação das aç×es baseadas na nossa condi- ção humana. Nesse contexto, aparecem neste volume temas relativos à ética, à moral, à liber- dade e à autonomia. Consideramos, ainda, a importância de refletir sobre o indivíduo e os perigos das condutas massiàcadas e da alienação moral e, dessa forma, procuramos chamar aten- ção para as demandas de viver em sociedade e a responsabilidade de pertencer a uma sociedade. Com base nas Situaç×es de Aprendizagem, pre- tendemos proporcionar aos alunos ocasião para 6 identiàcar as condiç×es de uma vida pautada na ética e em uma moral que considere e valorizea subjetividade. A prioridade, nesse sentido, é levar os alunos a reáetir sobre a sua condição de indi- víduos, histÓrica e socialmente construídos e, conscientes dessa condição, tornarem-se respon- sáveis pelas suas posiç×es e aç×es. Competências e habilidades As competências e habilidades priorizadas são aquelas referentes à reáexão ética sobre a condição humana, que é racional e está vincu- lada a uma realidade histÓrica, social e política que permite ao indivíduo posicionar-se e manifestar-se criticamente como cidadão. Des- tacamos que a reáexão e a manifestação exi- gem o exercício da leitura, da linguagem escrita e da prática dialÓgica. Essas três práticas ele- mentares são indispensáveis para a compreen- são dos fenÔmenos histÓricos, sociais, culturais, artísticos e cientíàcos. A compreensão desses fenÔmenos permite a interpretação e a reáexão àlosÓàca. Metodologia e estratégias A Filosoàa no Ensino Médio tem o sentido de responder à necessidade de uma educação integral. Ela comp×e, com a arte e a ciência, uma forma de abordar o mundo. Dessa forma, enten- demos que um ensino que ignore a perspectiva àlosÓàca de abordar o mundo não pode almejar ser integral. Se a presença da Filosoàa no Ensino Médio é justiàcada por uma demanda instru- mental que seria a de munir os jovens de certos conhecimentos considerados necessários para o exercício da cidadania, essa demanda não lhe é exclusiva e é compartilhada por todas as discipli- nas do Currículo. 0 papel da Filosoàa é apresen- tar aos jovens a reáexão do tipo àlosÓàca e, por meio dela, ofertar a eles um ensino mais abran- gente, que visa à formação integral. 0 Currículo e, como não poderia deixar de ser, os Cadernos de Filosoàa procuram atender não apenas a demanda instrumental dada pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), mas também promover e valorizar a reflexão do tipo filo- sÓàca. Dessa forma, a organização dos temas curriculares e das Situaç×es de Aprendizagem busca, de acordo com temas e conceitos relevan- tes no contexto da histÓria da Filosoàa, favorecer a reáexão àlosÓàca para os alunos do Ensino Médio. Assim, ao trazer para a reáexão àlosÓàca a ética, a moral e a importância de atentar para as condutas cotidianas, ela o faz com base no aporte da tradição àlosÓàca. Ao centrar as Situaç×es de Aprendizagem nas quest×es que perpassam a ética, a moral, a capacidade racional e a autonomia do sujeito, não dispensamos a histÓria da Filosoàa, a reto- mada dos conceitos àlosÓàcos e o exercício de oralidade, leitura e escrita que permitem explo- rar o potencial àlosÓàco de cada aluno e não cair em um ensino enciclopédico. Consideramos, na abordagem do tema, que o aporte da tradição àlosÓàca sÓ terá sentido se incentivar a elabora- ção de uma reflexão filosÓfica, se os alunos puderem experimentar o percurso do pensa- mento organizado pelo encontro com diferentes possibilidades de vocabulário, raciocínio, hipÓ- teses, escolhas de premissas e consequências. Nesse sentido, incentivamos nas Situaç×es de Aprendizagem a leitura, a análise para a com- preensão do texto, a partir de pesquisas que visam ampliar o vocabulário, em especial, per- mitir que os alunos tenham acesso aos termos àlosÓàcos. )á, ainda, a indicação de quest×es que se prop×em a fazer que o aluno se remeta ao texto preferencialmente ou à explicação do professor. E, em menor frequência, mas não em menor importância, destacamos o papel da redação, que não especiàcamos como disserta- ção, pois esta deve ser uma opção do professor, de acordo com as condiç×es de suas turmas. Contudo, lembramos que a dissertação é oca- sião privilegiada para o exercício da reáexão àlosÓàca� é por ela que o aluno experimenta, 7 Filosofia – 2a série – Volume 1 assume as hipÓteses que devem levá-lo a certas conclus×es. Neste volume, você, professor, poderá desaàar os alunos a argumentar acerca de seus valores, das suas escolhas e acerca da concepção de liberdade, abordando também as consequências que tais escolhas podem trazer. Avaliação da aprendizagem Estamos acostumados com a perspectiva de avaliação como uma régua, uma medida que possibilita classiàcar os alunos. Para realizar essa medição, nÓs, professores, geralmente, aplicamos provas, cujos resultados nos permitem dar notas e, assim, classiàcá-los. Muitas vezes a classiàca- ção, ao ànal de um ano, nos permite identiàcar os alunos que apresentam ou não as condiç×es para avançar no processo de escolarização. 0u seja, no processo, a prova nos ajuda a decidir pela aprovação ou reprovação deles. Entendemos que essa perspectiva é apenas parcialmente válida se considerarmos a atual função da escola. Dessa forma, procure estar sempre atento aos processos de aprendizagens dos alunos, às necessidades, avanços e diàculdades e não apenas ao que eles apresentam na prova bimestral. Considerando que a avaliação deve fazer parte do cotidiano escolar e não pode se reduzir a uma prova, ela deve contemplar todas as tarefas propostas, não apenas para o professor classiàcar, mas também para que o aluno reconheça as suas diàculdades e suas potencialidades. Assim, entendendo a avaliação da aprendizagem como parte de um processo formativo, o professor deve considerar todas as atividades propostas (e isso inclui as pesquisas, a lição de casa e, sempre que possível, a redação). Não esqueça que cada atividade pro- posta e realizada deve receber da sua parte um retorno individualizado, preferencialmente, e (ou) geral (nesse caso, deve-se especiàcar o que foi considerado um acerto da turma e no que eles precisam melhorar). No contexto deste volume, considere se os alunos� identiàcaram palavras centrais e seus signiàcados diante do tema apre- sentado� reconheceram os problemas apresenta- dos em cada Situação de Aprendizagem� ao ler um texto àlosÓàco, conseguiram reconhecer os conceitos e a linha argumentativa do àlÓsofo� foram capazes de, a partir desse contato, identi- àcar a relevância do problema e da contribuição da tradição àlosÓàca� constataram que o pro- blema proposto é um problema atual, da sua realidade� e, ànalmente, até que ponto eles con- seguiram avançar para uma reáexão e argumen- tação do tipo àlosÓàca. Professor, optamos, nesta edição, por não trabalhar com a perspectiva de gabarito no sen- tido de stricto senso, pois, no contexto do ensino de Filosoàa, devemos atentar, mais do que para a precisão das respostas, para o quanto o aluno reconhece dos conteÙdos transmitidos e, a partir deles, apresenta condiç×es de se aproximar da experiência àlosÓàca. Assim, reforçamos a pers- pectiva de que as sugest×es de quest×es, presen- tes nas Situaç×es de Aprendizagem, não se conàguram em um receituário de perguntas em que as respostas já foram deànidas. Com isso não queremos dizer que vale qualquer resposta. Lembramos que as Situaç×es de Aprendizagem apresentam como referência textos e questiona- mentos que abordam o pensamento de determi- nados àlÓsofos. Dessa forma, as respostas dos alunos devem sempre se remeter ao que foi proposto e aos pensadores citados, sempre que assim for requerido. Por fim, sugerimos que realize o exercício de responder às quest×es pro- postas em cada Situação de Aprendizagem, antes de indicá-las a eles, e veriàque se elas são pertinentes para a sua turma, se elas atendem à expectativa de aprendizagem e formação com base no tema trabalhado. Esse procedimento deve ser considerado sempre que utilizar ques- t×es que não foram elaboradas por você, tais como as que estão propostas em livros didáticos, e as que foram formuladas para o Exame Nacio- nal do Ensino Médio (Enem), provas de vesti- bulares e outras. Afinal, ninguém conhece melhor as turmas do que você! Bom trabalho! � SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM 0 objetivo desta Situaçãode Aprendiza- gem é fazer que o aluno se reconheça como um ser racional e seja introduzido ao estudo da ética como sujeito ético, isto é, como alguém capaz de fazer escolhas por meio de princípios racionais que reconhecem valores. Para isso, vamos utilizar o cogito cartesiano como suporte teÓrico. SIT6A¬«0 DE APRENDI;A(EM 1 0 E6 RACI0NAL Conteúdos e temas: razão� subjetividade moderna� Descartes� cogito. Competências e habilidades: a realização desta Situação de Aprendizagem deve estimular o desenvolvimento de habilidades relacionadas com o domínio de diferentes linguagens e a compreensão de diferentes fenômenos do conhecimento. A proposta procura incentivar as competências que possibilitam que o prÓprio aluno se reconheça como sujeito racional, capaz de uma certa autonomia de pensamento. Além disso, a Situação de Aprendizagem visa a incentivar as práticas de pesquisa, sistematização e a apresentação de conceitos e informaç×es, com o que os alunos também serão levados a fundamentar conhecimentos teÓricos. Sugestão de estratégias: aulas expositivas e exercícios de reáexão e leitura. Sugestão de recursos: textos para leitura conforme Cadernos do Professor e do Aluno, dicionários de Filosoàa, sites e livros que trazem biograàa de àlÓsofos. Sugestão de avaliação: como toda a tarefa é realizada em sala de aula, a observação e as anotaç×es a respeito da participação nas atividades propostas são fundamentais. Para iniciar, você pode pedir aos alunos que pesquisem, como lição de casa, a biogra- àa de René Descartes, pensador tema desta Situação de Aprendizagem. Destacamos que o importante nesse tipo de pesquisa é a pos- sibilidade de identiàcação do aluno com o àlÓsofo, o que poderá levá-lo a se interessar mais pelos conteÙdos aplicados. Sondagem e sensibilização – ouvir e dialogar Durante a aula, você pode propor que os alunos formem grupos de no máximo três pessoas e que respondam o desaào proposto no Caderno do Aluno. Essa atividade tem como objetivo exercitar nos alunos a argu- mentação a partir do modelo cartesiano. Procure incentivá-los a não se contentar com respostas sem profundidade ou que apelem para obviedades. Sugerimos como problemas iniciais: f Prove que você existe. � Filosofia – 2a série – Volume 1 f Prove que você não está em um sonho. f Prove que tudo o que você está vivendo hoje não é uma lembrança, pois você não é uma pessoa idosa lembrando do seu passado. Para levar os alunos à compreensão de sua existência com base na possibilidade do pensar, o quadro a seguir, que também se encontra no Caderno do Aluno, permitirá que você aponte para eles o raciocínio carte- siano sobre a existência� ele está aí para a judá- lo na e laboração d idát ica do problema. Como posso provar que existo Se tudo isto fosse um sonho, sÓ uma coisa eu ainda seria capaz de fazer: eu penso. Se tudo isto fosse uma ilusão e este meu corpo não existisse, ainda teria uma certeza: eu penso. Se tudo isto fosse uma loucura, ainda que de modo peculiar: eu penso. Se eu fosse uma memÓria, mesmo assim: eu penso. Se eu duvido da existência de tudo, não importa� duvidar prova que: eu penso. Quadro 1. Com base na visualização do quadro, os alunos poderão perceber que seu pensamento está presente nas diferentes situaç×es descritas. 0 ato de pensar é uma certeza. Se tudo é uma ilusão, pensar é uma certeza. Pensar é uma ação realizada por alguém, de forma que é possível aàrmar que também é uma certeza a existência de alguém que pensa. Ler A partir do momento em que os alu- nos passam a entender que o “eu penso” é uma constante, leia com eles o texto a seguir, que também está no Caderno do Aluno: Discurso do método [...] desejando então somente dedicar-me à busca da verdade, eu pensei que fosse necessário que eu àzesse o contrário, rejeitando como absolutamente falso tudo o que me pudesse despertar a menor dÙvida, para veriàcar se, apÓs isso, restaria alguma coisa em minha crença que fosse com- pletamente incontestável. Assim, como nossos sentidos nos iludem algumas vezes, supus que não existia nada da maneira como os sentidos nos fazem imaginar� e como há homens que se enganam ao raciocinar, ainda que sobre os assuntos mais simples de geometria, e cometem paralogismos, considerando que eu também estava sujeito ao erro como qualquer outro, eu rejeitei como falsas todas as raz×es que anteriormente eu tinha tomado como demonstraç×es� e, enàm, considerando 10 Comentário sobre o texto A àlosoàa cartesiana poderá nos auxiliar na compreensão da construção do sujeito ético a partir da Era Moderna. Na perspectiva da Filosoàa Moderna e em especial da àlosoàa cartesiana, a articulação entre a subjetividade e a verdade tem como referência básica o sujeito que pensa e que, por isso, pode ter acesso ao conhecimento legítimo. Nesse sentido, a constituição do sujeito ético é pensada como efeito das técnicas que condu- zem ao conhecimento verdadeiro e, por elas, bem conduzir a vida. Professor, no Caderno do Aluno há a reco- mendação de pesquisa do signiàcado das palavras pertinentes ao texto. Essa atividade é importante para o aluno sensibilizar-se com o tema. Atividade Propomos, no Caderno do Aluno, o seguinte exercício: apÓs a leitura do texto, os alunos devem desenvolver com as suas pala- vras algumas das ideias extraídas do trecho da obra Discurso do método, de René Des- cartes (1637). Selecionamos algumas suges- t×es, mas você poderá utilizar outras de acordo com a turma e com a dinâmica da sua aula. Se optar pelo exercício proposto, suge- rimos que faça um sorteio dos itens entre os alunos, de modo que todas as ideias sejam analisadas – não importa que, algumas delas, por mais de um aluno: que os mesmos pensamentos que temos quando despertados também podem nos acometer quando dormimos, sem que nenhum seja verdadeiro, decidi àngir que todas as coisas que até então tinham penetrado meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilus×es de meus sonhos. Mas logo em seguida ponderei que, querendo pensar, dessa forma, que tudo é falso, era necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa� e observando que esta verdade, penso, logo existo, era tão àrme e certa que as mais extravagantes suposiç×es dos céticos não seriam capazes de abalá-la, julguei que eu po- dia adotá-la sem escrÙpulos como o primeiro princípio da àlosoàa que eu buscava. Depois, examinei atentamente quem eu era, e vendo que eu podia àngir que não tinha nenhum cor- po e que não havia nenhum mundo, nem nenhum lugar em que eu existisse, mas que não podia àngir que eu não existia, e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu duvidar da verdade das outras coisas, sucedia-se, evidente e certamente, que eu existia� enquanto se eu somente deixasse de pensar, ainda que tudo que eu sempre tivesse imaginado fosse verdadeiro, eu não teria nenhuma razão para imaginar que eu existia� disso concluí que eu era uma substância cuja única essência ou natureza era só pensar, e que para existir não necessitava de nenhum lugar nem dependia de nenhuma coisa material� de modo que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo, e mesmo mais fácil de conhecer que ele e, ainda que o corpo não existisse, a alma não deixaria ser tudo o que é. ApÓs isso, eu considerei, de modo geral, o que é exigido para que uma proposição seja verdadeira e certa� pois, já que acabava de encontrar uma que eu sabia que o era, eu pensei que devia também saber no que consiste a certeza. E tendo observado que na proposição penso, logo existo não há nada que as- segure que eu digo a verdade, a não ser que vejo muito claramente que para pensar é preciso existir, eu julguei que podia admitir esta regra geral, que as coisas que concebemos muito clara e distintamentesão todas verdadeiras, mas que há somente alguma diàculdade em determinar quais são as que concebemos distintamente. [...] DESCARTES, René. Discurso do método. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/aa000016.pdf>. Acesso em: 2� maio 2013. Tradução Célia (ambini. 11 Filosofia – 2a série – Volume 1 a) Rejeitar tudo o que era proveniente dos sentidos. b) Rejeitar tudo o que poderia vir do raciocínio. c) Rejeitar todos os pensamentos que ocorrem quando se está acordado e quando se está dormindo. d) Considerar como Ùnica certeza o fato de pensar. e) Julgar que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras. Dialogar Como pensamos )á várias maneiras de dividir as atividades do intelecto. Para efeito didático, escolhemos, da tradição àlosÓàca, as seguintes: razão, percepção, juízo, imaginação e memÓria. Pautando-se pela ideia do “eu penso”, você pode pedir aos alu- nos que reflitam sobre seus pensamentos, segundo as funç×es intelectuais. Para auxiliar nessa reflexão, indicamos, no Caderno do Aluno, uma pesquisa que visa auxiliar os alu- nos no entendimento das diferentes atividades do intelecto. A seguir, indicamos alguns ele- mentos que incluem consideraç×es histÓrico- -filosÓficas sobre as atividades do intelecto. Essas consideraç×es podem auxiliá-lo no tra- tamento da pesquisa solicitada aos alunos. f Razão – Por meio da razão, que é lÓgi- ca, nÓs temos a regra para os cálculos em nosso pensamento. 0 que julgamos, per- cebemos, lembramos e até imaginamos, em geral, pode obedecer às regras da lÓ- gica. Assim, a pergunta ética que pode ser proposta é: Como aprofundar nossa racionalidade, visando fazer o bem? f Percepção – Lembrando que percepção é o exame das sensaç×es, podemos partir disso para conhecer o mundo. Por meio da percepção, nÓs não apenas ouvimos o som em uma festa, mas podemos com- preender o ritmo, veriàcar se as pessoas estão felizes e enxergar seus movimentos de dança etc. Assim, as quest×es de ca- ráter ético que podemos propor agora são: Como melhorar a nossa percep- ção sobre as coisas e eventos do mundo? Como sentir melhor e distinguir o que nos cerca? Por que um entendimento errado ou um mau juízo podem causar ou motivar o mal? f Juízo – Atividade intelectual de escolha, avaliação e decisão (AristÓteles, Da alma [De anima] III, 4�5). Da pergunta funda- mental – Qual o critério ou a regra dos nossos juízos? – podemos derivar outras tantas, como: Por que escolhemos isto e não aquilo? Por que achamos mais impor- tante isto e não aquilo? Por que tomamos esta decisão e não outra? f Imaginação – Muitas vezes vista com desconàança pela tradição àlosÓàca, a imaginação encontra um lugar de impor- tância na Filosoàa Contemporânea, em especial com Jean-Paul Sartre. A imagi- nação como criação de imagens que po- dem libertar o indivíduo da relação ime- diata com o mundo. Ao imaginarmos um mundo que não existe, poderíamos julgar o mundo que existe. A imaginação de- senvolve os indivíduos e pode levá-los a fazer as mais diferentes proposiç×es. Por exemplo: Podemos imaginar onde Deus mora? Podemos imaginar um mundo sem violência ou desamor? Podemos imaginar a presença de alguém que não está perto? Podemos imaginar a dor que as outras pes- soas sentem? Podemos imaginar o que ain- da não foi pensado? f Memória – Em geral considerada a reto- mada de um conhecimento do passado – por exemplo, uma fÓrmula matemáti- ca que aprendemos há algum tempo –, a memÓria é entendida de outro modo pela Filosoàa Contemporânea. )enri Berg- 12 son, no livro Matéria e memória (1��6), defende a ideia de que a memÓria não é apenas acessar um conhecimento do passado, mas é a possibilidade efetiva de vivermos de novo o que aconteceu ou o que aprendemos. Nosso corpo guarda o passado e, por isso, lembrar é reviver. Uma questão importante a se colocar sobre isso é: Como desenvolver a memó- ria e o que pode ser esquecido?, amplian- do, a partir dela, o leque de quest×es e indagando, por exemplo: O que não se deve esquecer jamais? Perdoar é esque- cer? O que o professor disse na semana passada e caiu nesta prova? Como reviver aquele dia tão feliz da minha vida? Exercício 0 objetivo do exercício que se segue é tornar a teoria mais prÓxima da vida dos alunos. Por isso, você pode apresentar o quadro a seguir, também reprodu- zido no Caderno do Aluno, comentar os exem- plos dados e, em seguida, pedir que preencham um segundo quadro de exercício proposto no Caderno, que tem como circunstâncias a ser exploradas a “festa”, a “prova”, “comprar roupa”, “escolher um curso”, “cortar o cabelo” e “votar”. Sugerimos que se apresentem pelo menos três exemplos para cada faculdade do intelecto, mas você pode decidir para mais ou para menos, e até alterar os temas. Faculdades do intelecto Futebol Paquera Entrevista de emprego Juízo – Decidir para qual jogador passar a bola. – Escolher a hora de driblar o zagueiro. – Escolher com quem você quer jogar. – Decidir a hora certa de se aproximar da pessoa. – Escolher o assunto para começar a conversa. – Julgar se vai ou não ficar com essa pessoa. – Decidir com que roupa ir para a entrevista. – Decidir a melhor maneira de cumprimentar o entrevistador. – Julgar o que ressaltar no currículo. Percepção – Tentar sentir o time adversário, se eles jogam bem, quais são suas estratégias, seus pontos fortes e suas fraquezas. – Perceber como é o árbitro, se é exigente, se é justo, se é rápido. – Sentir a vibração ou o descontentamento da torcida. – Sentir se a pessoa em quem você está interessado tem ou não interesse por outra pessoa. – Sentir se, neste momento, a pessoa está preparada para o que você tem a dizer. – Sentir se ficar com essa pessoa realmente vai ser legal. – Perceber qual é a personalidade do entrevistador, se ele gosta de brincadeiras ou piadinhas. – Sentir como é o clima da empresa, se é bom trabalhar lá ou não. – Sentir se o entrevistador gostou do que você falou. 13 Filosofia – 2a série – Volume 1 Faculdades do intelecto Futebol Paquera Entrevista de emprego Razão – Como organizar todas essas informaç×es. – Montar uma estratégia com o time, de forma que todas as informaç×es disponíveis nos ajudem a ganhar. – Falar de forma clara para os atacantes� como eles devem se posicionar e qual é o esquema de jogo. – Como elaborar uma estratégia para conquistar a pessoa. – Deixar claras as suas intenç×es. – Saber articular as palavras, para não falar coisas que deixem a pessoa constrangida. – Deduzir o que realmente o entrevistador deseja. – Não se mostrar confuso na hora de responder às perguntas. – Demonstrar que sabe articular as ideias e, assim, convencer o entrevistador sobre sua inteligência, merecendo, portanto, o emprego. Imaginação – Imaginar qual vai ser o lance se cobrar o escanteio de determinado jeito. – Imaginar um drible diferente para agradar a torcida. – 0 goleiro pode imaginar o canto escolhido pelo batedor do pênalti. – Imaginar quais palavras a pessoa gostaria de ouvir. – Imaginar o futuro com a pessoa amada, como o dia do casamento. – Criar uma situação para poder ficar a sÓs com a pessoa. – Imaginar várias maneiras de não mostrar nervosismo ou preocupação. – Imaginar o que vai fazer com o primeiro salário. – Imaginar uma maneira de mostrar que sempre teve bom desempenho escolar, o que pode significar facilidade de aprendizagem. Memória – Lembrar o conselho do professor de Educação Física para manter o fôlego. – Lembrar outros jogos de futebol em que determinadolance foi marcante para o seu atual desempenho. – Lembrar que o goleiro do time adversário costuma mover-se antes de o pênalti ser batido. – Lembrar-se de ser gentil e educado. – Não esquecer o nome da pessoa desejada. – Não esquecer que um amor pode fazer a gente ser feliz ou triste. – Não se esquecer de levar todos os documentos pedidos. – Lembrar de estudar muito, porque é possível perder um emprego por falar incorretamente ou por usar gíria. – Não deixar de falar nada que é importante. Quadro 2. 14 ApÓs a realização do exercício e de tecer comentários sobre ele, sugerimos algumas ques- t×es para ampliar a reáexão. As quest×es que se seguem estão disponíveis no Caderno do Aluno. a) Qual faculdade nos parece mais fácil de utilizar? Por quê? b) Quais são as nossas maiores diàculdades em relação a cada uma das faculdades do intelecto? c) Entre o futebol, a paquera e a entrevista de emprego, o que parece a você mais difícil em relação à percepção? Por quê? d) Qual dessas faculdades, no seu caso, você considera precisar ser aprimorada no caso de uma entrevista de emprego? Essa reáexão pode ter início em pequenos grupos, para garantir a participação de todos, e ser ànalizada com a elaboração, em folha avulsa, de uma síntese que contemple, por exemplo, as faculdades a ser aprimoradas pela maioria dos alunos da turma. Avaliação da Situação de Aprendizagem Um produto importante desta atividade refere-se à síntese elaborada a partir da reflexão sobre o quadro das faculdades e situaç×es (futebol, paquera e entrevista de emprego). Você pode considerar a partici- pação dos alunos no processo de elaboração do quadro e da reflexão sobre ele e os regis- tros de cada grupo ao responder às quest×es sugeridas. A síntese final também merecerá correção e comentários de sua parte, a ser divulgados para toda a classe. Procure veri- ficar se os alunos acrescentaram palavras ou termos desconhecidos no Meu vocabulário filosÓfico, no final do Caderno do Aluno. 0s alunos poderão, ainda, elaborar um quadro que relaciona as faculdades do inte- lecto com outras situaç×es diferentes das propostas. Nesse caso, os alunos devem apresentar registros de acordo com regras da língua portuguesa em sua norma-padrão, com coerência e adequação àquilo que foi trabalho nesta Situação de Aprendizagem. Propostas de questões para avaliação 1. 0 que quer dizer “eu sou um ser que pensa”? Espera-se que o aluno compreenda a importância do ato de pensar como determinante da condição humana. 2. Explique como Descartes chegou à conclu- são de sua existência. Espera-se que o aluno apresente os argumentos de Descar- tes, ao se basear na dúvida metódica, quando se duvida da veracidade do corpo, do lugar e do raciocínio, até a constru- ção do cogito (“Se duvido, eu penso; se penso, logo existo”). 3. No trecho da obra Discurso do método, selecionado para leitura, Descartes escre- veu o percurso que vai da dÙvida sistemá- tica à certeza da existência de um sujeito pensante. Podemos considerar, de acordo com o trecho selecionado, que a obra é uma autobiograàa intelectual? Justiàque a sua resposta. Espera-se que os alunos reconheçam que o fragmento apre- senta características de uma autobiografia intelectual per- ceptível pela redação em primeira pessoa e porque a reda- ção faz o relato de uma trajetória pessoal. 0 exercício 4 está proposto no Caderno do Aluno, na seção Você aprendeu? Você pode utilizá-lo como parte da avaliação. Nesse caso, os alunos poderão entregar o exercício em folha avulsa. 4. A memÓria é a nossa primeira e basi- lar experiência com o tempo. Trata-se de uma forma de guardar uma experiên- 15 Filosofia – 2a série – Volume 1 cia que passou. A memÓria pode ser pessoal, coletiva ou social. 0u seja, ela pode se referir ao passado do sujeito, mas pode ser objetiva e se fazer presente nos monumentos, nos documentos e nos relatos histÓricos de uma comunidade e da sociedade. Dessa forma, podemos associar memÓria à nossa identidade pessoal (quais experiências me levaram a ser quem sou) ou quais eventos àxados em documentos ou expressos em alguma manifestação artística podem ser consi- derados como herança da nossa socie- dade (podemos, por exemplo, evocar os ideais de civilização a partir das ruínas da AcrÓpole de Atenas, que remete a um centro de poder na (récia Antiga)a. Enàm, memÓria exige experiência. Com base nessa consideração, sugerimos que os alunos escrevam as suas memÓrias, derivadas da experiência, dos aprendizados acerca da vida escolar. 0 relato da memÓria deve provocar a evocação de percepç×es do espaço, do trajeto realizado entre a casa e a escola e do prÓprio espaço da escola. 0s alu- nos devem, na sua escrita, relatar, segundo a sua memÓria, as estratégias utilizadas na vida escolar e as decis×es que levaram a ser o estu- dante que é hoje. Professor, essa atividade de caráter reáexivo tem o sentido de acessar, por intermédio da memÓria, elementos que remetem à faculdade da percepção, da razão e do juízo. Proposta de situação de recuperação A atividade proposta para a situação de recu- peração tem o sentido de fornecer meios para que a Conforme I;QUIERD0, Ivan. MemÓrias. Estudos Avançados. São Paulo, v. 3, n. 6, 1���. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.15�0/S0103-40141���000200006>. Acesso em: 27 jun. 2013. o aluno seja capaz de, ao rever a Situação de Aprendizagem, desenvolver as habilidades pro- postas para o tema trabalhado, do qual destaca- mos o reconhecimento do aluno como sujeito racional. Nesse sentido, sugerimos a releitura do trecho da obra Discurso do método e, baseando-se nela, os alunos deverão produ- zir um poema ou uma mÙsica que refaça o trajeto do argumento de Descartes. Lembra- mos que a atividade proposta é apenas uma sugestão e que você, professor, deverá, de acordo com as dificuldades encontradas pelos alunos, elaborar atividades de recupe- ração que julgar pertinentes. Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para compreensão do tema Livro B0SI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 17. ed. Companhia das Letras, 2012. Trata-se de uma tese de livre-docência em Psi- cologia Social. Recomendamos especialmente a apresentação nomeada “0s trabalhos da memÓria” de Marilena Chauí. Sites U0L Educação. Biografia resumida de René Descartes. Disponível em: <http://educacao.uol. com.br/biograàas/rene-descartes.jhtm>. Acesso em: 27 jun. 2013. BRISVILLE, Jean-Claude. 0 encontro de Des- cartes com o jovem Pascal. Estudos Avançados, v. 5, n. 11, 1��1, p. 145-170. Disponível em: <http: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid =S0103-40141��100010000�&lng=pt&nrm= iso&tlng=pt>. Acesso em: 27 jun. 2013. 16 SITUA¬«0 DE APRENDI;A(EM 2 INTR0DU¬«0 © ÉTICA Conteúdos e temas: ética� moral� critérios éticos� SÓcrates� AristÓteles� virtude� Epicuro� hedonismo. Competências e habilidades: para desenvolver esta Situação de Aprendizagem os alunos deverão recorrer aos conhecimentos obtidos na escola para reáetir sobre as condiç×es de intervenção solidária na reali- dade, que respeitem os valores humanos e a diversidade sociocultural. Sugestão de estratégias: aulas expositivas, exercícios de leitura e temas para a reáexão. Sugestão de recursos: textos para leitura conforme os Cadernos do Professor e do Aluno, dicionários de Filosoàa, sites e livros que trazem biograàa de àlÓsofos. Sugestão de avaliação: durante a realização desta Situação de Aprendizagem, a observação e as anotaç×es a respeito da participação oral são fundamentais. Deve-se avaliar o comprometimento dos alunos em participar das discuss×es, resolver os exercícios propostos, entregar no prazo as atividades exigidas, assimcomo a lição de casa, sempre que esta for exigida, além do desempenho nas provas. 0 objetivo nesta Situação de Apren- dizagem é proporcionar aos alunos elementos para a reflexão ética. Para melhor encaminhar o tema, você pode pedir aos alunos que pesquisem as palavras vinculadas ao tema, como “Ética”, “Moral”, “Virtude”, “Vício”, “Prazer”, “Dor”, “Conhe- cimento” e “Alma”, de acordo com a sugestão presente no Caderno do Aluno. Esta relação pode ser ampliada conforme julgar necessário. Sugerimos, ainda, para a introdução do tema, que os alunos sejam orientados a fazer uma breve pesquisa biográàca dos àlÓsofos SÓcra- tes, AristÓteles e Epicuro. Vamos iniciar o trabalho com um caso de espancamento ocorrido no Rio de Janeiro (RJ), sobre o qual àzemos um resumo de diver- sas reportagens. Esse caso permitirá uma dis- cussão sobre as diferenças entre moral e ética, possibilitando maior clareza sobre o objeto da reflexão ética e seus critérios. Como apoio, indicamos para leitura fragmento de um texto de Epicuro, filÓsofo que pode despertar a curiosidade dos alunos por causa de sua preo- cupação com a questão do prazer. Sondagem e sensibilização – ouvir Em geral, os alunos entendem a ética como um amplo conjunto inàndável de coisas que não se deve fazer. Para sensibilizá-los sobre a importância da ética, como base para o convívio social, sugerimos que você trabalhe um fato, ocorrido no Rio de Janeiro, para o qual a mídia deu grande desta- que. Você pode fazer a leitura ou pedir a um aluno que a faça. 0 texto a seguir encontra-se no Caderno do Aluno na seção Leitura e aná- lise de texto. Cinco jovens de classe alta agridem doméstica Uma empregada doméstica, de 32 anos, foi espancada e roubada, na manhã do dia 24 de junho de 2007, quando saía do seu trabalho. 0s espancadores eram cinco jovens ricos, todos estudantes. Eles não apresentavam sinais de ter ingerido álcool ou outra substância química. 17 Filosofia – 2a série – Volume 1 ApÓs a leitura, peça aos alunos que respon- dam, no Caderno do Aluno, às quest×es a seguir, elaboradas com o objetivo de sensibi- lizá-los para a necessidade da aplicação de valores éticos na avaliação dos problemas sociais, sobre os quais todos nÓs temos respon- sabilidade. A atividade foi proposta para ser realizada em grupo, mas fica a seu critério determinar como ela será realizada. 1. Como avaliar, segundo a ética, a agressão cometida pelos cinco jovens? 2. Como considerar a atitude do taxista no epi- sÓdio ao alertar a polícia? Você seguiria seu exemplo ou iria embora da cena do crime? Com base nessas respostas, você poderá abrir um debate com a sala sobre o aconteci- mento descrito, além de abordar outros fatos considerados “errados” ou “proibidos” pelos alunos. Nesse caso, deve estar claro para os jovens que espancar uma mulher em um ponto de ônibus é algo muito errado. Pensamos em errado por ser uma palavra prÓxima da lingua- gem dos alunos, pois será com base nessa lin- guagem que estabeleceremos uma ponte com a linguagem àlosÓàca. Falando em “algo errado”, você pode lembrar aos alunos que, quando somos crianças e come- çamos a fazer brincadeiras, as pessoas adultas muitas vezes dizem: “Não faça isso� é errado”. Proponha, então, a seguinte questão: Jogar xadrez com as regras do jogo de damas é errado e espancar uma mulher, ou quem quer que seja, é errado. Embora sejam duas situações comple- tamente diferentes, podemos usar a mesma palavra para as duas coisas. Então, aànal, o que é o errado? Aprofundando a questão, você pode per- guntar: Quantas vezes ouviram que era errado o que faziam? Quantas vezes lhes disseram que aquilo era errado? 0ra, precisamos de alguns elementos para poder julgar de maneira adequada, pois tira- mos as nossas certezas das explicaç×es. Nosso julgamento se alimenta de respostas a pergun- tas como “Por que certas coisas são erradas e outras são certas?”. Ética Ao distinguirmos entre o que é o certo e o que é errado, entre o que é bom e o que é mau, permi- tido ou proibido, e reáetirmos sobre isso, entramos no campo da moral e da ética. No âmbito da ética, trata-se de reáetir sobre as normas e valores, ado- tados historicamente, que visam estabelecer modos de agir. Como se deve agir diante dos outros nas mais diferentes situaç×es? A decisão de como agir, embasando-se nos valores e normas estabelecidos por uma sociedade, nos remete à noção de dever – uma noção fundamental para a reáexão ética. Segundo Danilo Marcondes, A mulher relatou à polícia que, por volta das 6h30, estava em um ponto de ônibus, perto do apar- tamento onde trabalha e mora, para ir a uma consulta médica. De repente, saindo de um automÓvel, os cinco jovens começaram a xingá-la e chutá-la na cabeça e na barriga. Depois, roubaram sua bolsa, com seus documentos, 47 reais e um celular, que nem tinha sido completamente pago. ApÓs a agres- são, ela voltou ao prédio em busca de ajuda. Um taxista, que estava prÓximo ao local do crime, anotou a placa do carro e notiàcou a polícia, que prendeu os jovens. 0s agressores confessaram o crime, mas nada falaram sobre os motivos que os levaram a cometer o ato de crueldade. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. 1� em Textos básicos de ética (200�), dever é uma das noç×es mais fundamentais da ética. É o dever que delimita e restringe as atitudes huma- nas pautadas apenas na satisfação de instintos e desejos. “0 homem vive em sociedade, convive com outros seres humanos e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: ‘Como devo agir perante os outros?’. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida”a. 0 certo e o errado, o que é bom e o que é mau, permitido ou proibido, pode variar em lugares e épocas distintas. Sabemos que as res- postas sobre como agir e sobre o dever não são Ùnicas, não apenas pela pluralidade de culturas e sociedades, mas também pela pluralidade de situaç×es. Dessa forma, é importante reconhecer que diferentes lugares, culturas e épocas apre- sentam distintas normas e valores e, portanto, diferentes formas de agir mediante situaç×es. No dia a dia, guiamos nossas aç×es de acordo com valores que recebemos por meio a Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: Ministério da Educação – MEC / Se- cretaria de Educação Fundamental – SEF, 1��7. p. 6�. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro0�2.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2013. de relaç×es familiares, de religiosidade, e por meio de relaç×es afetivas, oriundas dos nossos círculos de amizade. Reáetir sobre esses valo- res, sobre as normas e princípios que norteiam a nossa vida e as nossas aç×es é um exercício ético, nem sempre fácil de realizar. Eventos de diferentes proporç×es podem tornar referenciais valores que outrora eram pouco destacados. 0s eventos de violação da vida humana, em especial aqueles deáagrados pelo nazismo, assim como as transformaç×es tecnolÓgicas, econômicas e sociais ocorridas no decorrer dos séculos XIX e XX, tornaram o respeito à dignidade humana um valor a ser lembrado constantemente na nossa sociedade, um fundamento presente em importantes documentos nacionais e internacionais e motivo de Cartas de direitos e de conferências que se realizam periodicamente. A Declaração Universal dos Direitos )umanos, em seus arti- gos, procura assegurar o reconhecimento à dignidade humana em vários sentidos. 0 Bra- sil, na sua Constituição, referenda esse princí- pio fundamental, especialmente nos artigos 1º, 3º e 5º, dos quais destacamos: Art. 1º A RepÙblica Federativa do Brasil, formada pela união indissolÙvel dos Estados e Municí- pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direitoe tem como fundamentos: [...] II - a cidadania� III - a dignidade da pessoa humana� [...] V - o pluralismo político. [...] Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da RepÙblica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária� [...] 1� Filosofia – 2a série – Volume 1 IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. [...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigaç×es, nos termos desta Constituição� II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei� III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante� C0NSTITUI¬«0 DA REP¼BLICA FEDERATIVA D0 BRASIL. Promulgada em 5 de outubro de 1���. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 17 jul. 2013. A partir desse fundamento, podemos notar no corpo da lei o reconhecimento de que todos os seres humanos devem ter a sua dignidade reconhecida. Esse reconhecimento nos leva a pensar sobre o princípio que deve guiar as nos- sas aç×es: “A ideia segundo a qual todo ser humano, sem distinção, merece tratamento digno corresponde a um valor moral. Segundo esse valor, a pergunta de como agir perante os outros recebe resposta precisa: agir sempre de modo a respeitar a dignidade, sem humilhaç×es e discriminaç×es”b. Reáetir sobre o alcance da dignidade humana no momento em que estamos diante do outro, reáetir sobre como essa noção de dignidade humana pode ser construída, reco- nhecida e realizada cotidianamente nas mais diferentes situaç×es e como aperfeiçoar os seus contornos, faz parte da reáexão ética. Diferença entre moral e ética Pode parecer estranho perguntar o que é bom e o que é mau, mas, para a Filosofia, b Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: Ministério da Educação – MEC / Se- cretaria de Educação Fundamental – SEF, 1��7. p. 50. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro0�2.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2013. essas quest×es se colocam de maneira dife- rente. Nossa sugestão é que você proponha aos alunos uma discussão a respeito da dife- rença entre moral e ética, mesmo sabendo que não há unanimidade entre os àlÓsofos sobre o tema. Para começar, é possível lembrar que a moral deàne o que é bom e o que é mau, antes das aç×es, e que a ética deàne o que é bom e o que é mau segundo as circunstâncias. Ambas seguem princípios de ação. 0s princí- pios da moral são ideais, ou seja, objetivos a ser alcançados. 0s princípios da ética são reáexivos, norteiam a reáexão na hora em que precisamos agir. Leia com os alunos o quadro a seguir, que também está no Caderno do Aluno, e discuta com eles outros exemplos que podem ser incluídos nele. Essas informaç×es servirão de subsídios para que eles respondam às quatro quest×es subsequen- tes no Caderno do Aluno e à proposta de Lição de casa. 20 Moral Ética É o que já foi decidido: ela permite tudo, desde que não se desobedeça a princípios. Tudo depende: ela permite tudo, desde que não se faça mal a ninguém. Correr nu pela rua é imoral, é vergonhoso. Correr nu pela rua não será antiético se ninguém for prejudicado ou caso isso seja necessário para defender uma vida. Não se pode roubar. Será antiético se prejudicar alguém e se for feito sem ter a urgência de salvar uma vida. Não se pode mentir. Não será antiético mentir, por exemplo, se com isso você estiver salvando a vida de um inocente. São regras da vida. São reáexões sobre como agir. Para ser moral, é preciso conhecer as regras morais. Para ser ético, é preciso desenvolver a reáexão crítica. Quadro 3. Mas onde se aprendem as regras da moral? NÓs aprendemos as regras da moral na cultura, em geral, nas religi×es, nas leis, ouvindo ou conversando com pessoas que tenham mais experiência e conhecimento. 0nde se aprende a reáexão ética? Do ponto de vista da ética, saber o que é mau ou o que é bom depende da situação, mas isso não pode ser apenas uma interpretação pessoal: “Eu acho que é bom e pronto”. Afinal, os jovens que espancaram a mulher talvez achas- sem que estavam fazendo uma coisa correta, por estar satisfazendo apenas seus instintos e desejos. Isso quer dizer que, para desenvolvermos a reáexão ética, temos de conhecer e aplicar critérios de escolha, que são uma espécie de regras do pensamento ético. 0s critérios não dependem do que as pessoas acham na hora que têm de decidir sobre o que fazer em deter- minada situação. Ao contrário, eles resultam de reáex×es, o que também explica o fato de cada àlÓsofo apresentar critérios diferentes para decidir se as coisas são boas ou más, e quais os valores de cada uma dessas coisas em determinado contexto. Esses critérios são decorrentes da reáexão àlosÓàca sobre um determinado contexto histÓrico. 0u seja, são critérios práticos decorrentes dos valores vigentes numa sociedade, numa época. 0ra, cada àlÓsofo desenvolveu seus crité- rios éticos com base em sua prÓpria visão de mundo. Para estudar isso, sugerimos que você trabalhe com três àlÓsofos: SÓcrates, AristÓteles e Epicuro. Como fizemos até agora, é importante, para iniciar esse estudo, você pedir aos alunos que apresentem as informaç×es relevantes da pesquisa biográ- fica sobre SÓcrates, AristÓteles e Epicuro, sugerida no início dessa Situação de Apren- dizagem. ApÓs essa breve apresentação, pas- semos aos critérios éticos que esses àlÓsofos pensaram. 21 Filosofia – 2a série – Volume 1 Critérios éticos Filósofo O que é o bem? O que é o mal? SÓcrates Conhecimento Ignorância AristÓteles Felicidade Desequilíbrio Epicuro Prazer Dor Quadro 4. Seguem alguns comentários sobre os critérios éticos de SÓcrates e AristÓteles. Fragmentos dos comentários que seguem, assim como o frag- mento da obra de AristÓteles, estão disponíveis no Caderno do Aluno. 0 conhecimento àlosÓàco é histÓrico e revela a interpretação singular de uma época, de uma comunidade ou de um homem. Esse conheci- mento, por sua origem e sua radicalidade, pode ser considerado e compreendido fora dos limites do seu tempo e do seu lugar de origem. Nesse sentido, podemos nos dirigir ao pensamento de SÓcrates, AristÓteles e Epicuro e aos critérios que esses àlÓsofos estabeleceram para deànir o que é preciso considerar para uma boa ação. 1. 0s critérios de SÓcrates Um dos conceitos norteadores da àlosoàa de SÓcrates é o de que a essência do homem é sua alma inteligente e que fazer o bem é conhe- cer essa alma inteligente. SÓcrates considera que o conhecimento é fundamental para podermos escolher e agir e que uma ação ou uma escolha malfeita revela falta de conheci- mento ou ignorância. Quando alguém relata uma situação de conáito, é comum dizer que tal pessoa “partiu para a ignorância”, não é mesmo? Mas o que signiàca isso? Não daria na mesma dizer que a inteligência da pessoa não foi suàciente para resolver seus problemas? Aqui, você tem con- diç×es de propor aos alunos que analisem suas experiências cotidianas e rememorem situaç×es nas quais não reáetiram o suàciente e tomaram decis×es precipitadas. 2. 0s critérios de AristÓteles Como SÓcrates, AristÓteles definia o homem pela sua alma racional. Segundo Aris- tÓteles, a alma pode ser dividida em partes e essa divisão apresenta uma estreita relação com a classiàcação dos seres vivos, de tal forma que nutrição e geração sãopartes da alma con- cernentes às plantas. Aos animais inferiores, além da nutrição e geração, acrescenta-se o tato. 0s animais superiores, além da nutrição, geração e tato, apresentam, como potência da alma, a percepção e a locomoção. 0 homem, além de todas as características da alma dos outros seres vivos, apresenta como faculdade da alma o intelecto. Dentre as potências da alma, como dissemos, todas as mencionadas subsistem em alguns seres� em outros, sÓ algumas delas e, em alguns, apenas uma. E mencionamos como potências a nutritiva, a per- ceptiva, a desiderativa, a locomotiva e a raciocinativa. 0ra, nas plantas subsiste somente a nutritiva, mas, em outros seres, tanto esta como a perceptiva. E, se subsiste a perceptiva, também subsiste a deside- 22 Professor, apÓs ler o texto de Aris- tÓteles com os alunos, sugerimos que preencha com eles o quadro a seguir. Tanto a leitura do trecho como o pre- enchimento do quadro têm como ànalidade Faculdade vegetativa Faculdade sensitiva Faculdade intelectiva Funções biológicas Funções de apetites, movimentos e sensações Função racional Nutrição e geração Sensaç×es físicas Fantasias e desejos Tato Pensar Raciocinar Conhecer Quadro 5. proporcionar aos alunos a oportunidade de exercitar a elaboração de critérios distintivos. Neste quadro, também presente no Caderno do Aluno, assim como os textos que o seguem, estão as funç×es das partes da alma: rativa, pois desejo é apetite, impulso e aspiração� e todos os animais têm ao menos um dos sentidos – o tato – e, naquele em que subsiste percepção sensível, também subsiste prazer e dor, percebendo o praze- roso e o doloroso� e, nos que eles subsistem, também subsiste o apetite, pois este é o desejo do prazeroso. Além disso, eles têm a percepção do alimento, pois o tato é percepção do alimento, e todos os se- res vivos se alimentam de coisas secas e Ùmidas, quentes e frias, das quais a percepção é tato, e apenas acidentalmente a de outras qualidades sensíveis� pois o ruído, a cor e o cheiro nada acrescentam ao alimento, e o sabor não deixa de ser um objeto do tato. Apetite é fome e sede – a fome, o apetite do que é seco e quente� a sede, do que é Ùmido e frio –, enquanto o sabor é como um tempero destas qualidades. Mas devemos esclarecer posteriormente esse assunto. Por ora, é suàciente dizer isto: que entre os seres vivos que possuem tato também subsiste desejo. No que se refere à imaginação, não está claro e devemos examiná-la posteriormente. Em alguns seres vivos, além disso, subsiste também a capacidade de se loco- mover, e em outros, ainda, a de raciocinar e o intelecto – por exemplo, nos homens e em algum outro, se houver, de tal qualidade ou mais valioso. ARISTÓTELES. De anima. Tradução Maria Cecília (omes dos Reis. São Paulo: Editora 34, 2006. p. 77. No que se refere às potências e capacidades da alma, AristÓteles entende que elas devem ser desenvolvidas tendo em vista uma ànalidade. Nesse sentido, todos os seres vivos buscam passar de um estado de imperfeição para o estado de perfeição, situação em que realizam as suas potencialidades e capacidades prÓprias. No caso do ser humano, por sua riqueza de potencialidades e capacidades, ele se realiza sendo feliz. Dada a sua natureza racional e política, o ser humano atinge a sua felicidade com os outros indivíduos, exercitando e aper- feiçoando a moral e a organização política. A moralidade, assim, seria uma forma de realiza- ção da natureza humana. Trata-se de uma ação prática que os indivíduos devem efetivar ao lado de outros seres humanos. A felicidade completa do homem depende da realização de todas essas funç×es da alma. 23 Filosofia – 2a série – Volume 1 Mas, segundo uma ordem de importância, a faculdade intelectiva, ou seja, a inteligência, deve governar todas as funç×es. A ação adequada, a partir da ética de Aris- tÓteles, deve buscar o equilíbrio, a justa medida Em primeiro lugar, temos que observar que as qualidades morais são de tal modo constituídas que são destruídas pelo excesso e pela deàciência, como percebemos ser o caso do vigor e saÙde do corpo (pois para lograr esclarecimento acerca de coisas invisíveis é preciso utilizar a evidência de coisas visíveis). 0 vigor é destruído tanto pelo excesso de exercícios quanto pela deàciência destes e, analogamente, a saÙde é destruída tanto por alimento e bebida em demasia quanto pela deàciência destes, que em quantidades adequadas a produzem, aumentam e preservam. 0 mesmo, por conseguinte, se revela verdadeiro em relação à temperan- ça, à coragem e às outras virtudes. Aquele que foge de tudo tomado pelo medo e jamais suporta qualquer coisa se torna um covarde� aquele que não experimenta medo diante de coisa alguma e tudo enfrenta se torna temerário. De maneira análoga, aquele que cede a todos os prazeres e não se contém diante de ne- nhum se converte num libertino, enquanto aquele que se afasta de todos os prazeres, como fazem os indiví- duos rudes, se torna o que pode ser qualiàcado como [um indivíduo] insensível. Assim, a temperança e a coragem são destruídas pelo excesso e pela deàciência e preservadas pela observância da mediania. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Edson Bini. 3. ed. Bauru: Edipro, 200�. Exercício Para melhor compreender os critérios de AristÓteles em relação à virtude, entre o excesso e a falta. A sabedoria, nesse sentido, consiste na capacidade de discernir, de acordo com as circunstâncias, a justa medida. Para melhor compreender essa relação entre a ação virtuosa e a justa medida, AristÓteles traça um paralelo entre as virtudes e a saÙde: sugerimos que leia com os alunos o quadro a seguir, que também está no Caderno do Aluno. Vício por deàciência Virtudes (atitudes que levam à felicidade) Vício por excesso Covardia: ter medo de tudo ou deixar que o medo domine. Coragem: saber enfrentar os medos e perigos, calculando a hora de agir. Temeridade: não ter medo de nada e se arriscar em todas as situaç×es de perigo. Insensibilidade: não desejar nada e ser insensível. Temperança: saber usar os prazeres sem se prejudicar. Libertinagem: viver somente atrás de prazeres. Avareza: jamais gastar o dinheiro e querer guardar sempre o que tem, além de ganhar mais. Liberalidade: saber gastar o dinheiro, escolhendo onde gastá-lo. Esbanjamento: nunca economizar com nada, gastar sem pensar. Vileza: nunca usar nada bonito – roupa, por exemplo – e criticar os outros por isso. Magniàcência: saber usar coisas bonitas. Vulgaridade: exagerar nas coisas bonitas. 24 Depois de apresentar o quadro de virtudes, divida seu conjunto entre os grupos, abrindo uma discussão sobre as virtudes e os vícios cor- respondentes. ApÓs o debate, você pode pedir aos alunos que respondam à seguinte questão: Quadro 6. Vício por deàciência Virtudes (atitudes que levam à felicidade) Vício por excesso Modéstia: achar que é menor que os outros, ou mais feio, ou errado. Respeito próprio: reconhecer seus defeitos e suas qualidades e não deixar as pessoas diminuírem sua autoestima. Vaidade: preocupar-se apenas com sua grandiosidade e jamais aceitar seus defeitos. Indolência: nunca fazer nada para si e para os outros, procurando sÓ o que é mais fácil. Prudência: saber a hora e como agir para alcançar seus objetivos. Ambição: ir atrás de suas coisas, sem pensar em nada. Indiferença: ignorar as pessoas completamente. Gentileza: ser agradável com todas as pessoas, conter a raiva. Irascibilidade: deixar que as emoç×es tomem conta, a ponto de ser violento com as pessoas, nas palavras e nas aç×es. Descrédito próprio: não se achar bom em nada. Veracidade: ser verdadeiro e receber crédito por isso, conhecer seus limites, saber que é bomem alguma coisa e que não é bom em outras. Orgulho: achar-se melhor que os outros, nunca aceitar que precisa dos outros. Rusticidade: nunca usar a inteligência para viver, agindo sempre por instinto. Agudeza de espírito: saber usar a inteligência de modo brilhante. Zombaria: humilhar quem não tem habilidades intelectivas. Enfado: ser chato, pesado, incapaz de dizer uma coisa boa para as pessoas. Amizade: saber se relacionar com as pessoas por meio do afeto e da inteligência. Condescendência: querer ser amigo de todos, perdoar tudo de todos, nunca ver maldade nos outros. Desavergonhamento: mostrar tudo o que tem a ponto de não sobrar nada para si. Comedimento: saber como se mostrar para os outros. Timidez: ter medo de mostrar seus sentimentos e seus pensamentos para os outros. Malevolência: não se importar com a maldade e usá-la a seu favor. Justa indignação: saber quando uma coisa está certa ou errada. Inveja: não aceitar que as pessoas tenham sucesso. Por que o “meio-termo” pode ser caracterizado como um critério de conduta ética?. Você pode pedir, ainda, que eles apresentem exemplos de virtudes e vícios baseando-se na proposta de exercício que se encontra no Caderno do Aluno. 25 Filosofia – 2a série – Volume 1 Algumas máximas de Epicuro I. Aquele que disp×e de plenitude e de imortalidade não tem inquietaç×es, nem perturba os ou- tros� por isso está isento de impulsos de cÓlera ou de benevolência, já que tudo isso é prÓprio de quem tem fraquezas. II. A morte nada é para nÓs. Com efeito, aquilo que está decomposto é insensível e a insensibi- lidade é o nada para nÓs. III. 0 limite da amplitude dos prazeres é a supressão de tudo que provoca dor. 0nde estiver o prazer, e durante o tempo em que ele ali permanecer, não haverá lugar para a dor corporal ou o sofrimento mental, juntos ou separados. IV. A dor contínua não dura longamente na carne. A que é extrema permanece muito pouco tempo e a que ultrapassa um pouco o prazer corporal não persiste muitos dias. Quanto às doenças que se prolongam, elas permitem à carne sentir mais prazer do que dor. [...] VIII. Nenhum prazer é em si mesmo um mal, mas aquilo que produz certos prazeres acarreta sofrimentos bem maiores do que os prazeres. IX. Se todo prazer pudesse ter se acumulado, não sÓ persistindo no tempo, mas também percorrendo a inteira composição do nosso corpo, ou pelo menos as principais partes de nossa natureza, então os prazeres não difeririam entre si. [...] XVII. 0 justo desfruta de plena serenidade� o injusto, porém, está cheio de maior perturbação. [...] XXIII. Se combates todas as tuas sensaç×es, nada disporás de referência nem mesmo para discernir corretamente aquelas que julgas deverem ser rejeitadas. [...] XXVII. De tudo aquilo de que disp×e a sabedoria para a felicidade de toda nossa vida, de longe o mais importante é a preservação da amizade. EPICUR0. Máximas principais. Tradução João Carlos K. Quartim de Moraes. São Paulo: Ediç×es LoZola, 200�. (Clássicos da Filosoàa). Ler 3. 0s critérios de Epicuro Professor, sugerimos que leia em sala o texto “Algumas máximas de Epicuro”. 0 trecho a seguir encon- tra-se também no Caderno do Aluno. ApÓs uma breve discussão, peça aos jovens que respondam às quest×es 2 a 7 do Caderno do Aluno, incluídas apÓs o trecho. Sugerimos ainda que a primeira atividade seja reali- zada como lição de casa, ou como um tra- balho a ser entregue em folha avulsa. Nesse caso, você poderá usar a pesquisa como avaliação de processo. Sugerimos que con- sulte o Caderno do Aluno e verifique se as quest×es relativas ao tema atendem às suas expectativas acerca da Situação de Apren- dizagem. Lembramos que você pode acres- centar, adaptar ou mesmo substituí-las por outras relativas ao tema. 26 Para Epicuro, como se pode entender pelos excertos apresentados, o prazer é o princípio ético da vida� seu critério para o que é o bem é o prazer, e o seu critério para o que é o mal é a dor. Segundo o àlÓsofo, todos os prazeres são bons, embora uns sejam melhores do que outros. Mas como saber qual é o melhor prazer? De acordo com a ideia de que, ao àm de cada pra- zer, existe uma dor, e ao àm de cada dor existe um prazer, devemos escolher os prazeres que duram mais, pois estes afastam por mais tempo as dores. Epicuro fez, ainda, recomendaç×es precisas sobre como chegar à felicidade: 1. Não tenha medo dos deuses. 0s deuses são felizes, e seres felizes não estão preocupa- dos com a vida dos outros. 2. Não tenha medo da morte. A morte nada mais é do que a separação dos átomos. 3. 0 prazer está à disposição de todos. Ele é o àm das dores e o sossego. 4. 0 mal dura pouco. 0 mal é a dor e dura pouco� o máximo que ela pode fazer é levar à morte, que, no fundo, é nada. Quando a dor termina, começa o prazer. 0 trecho que você acabou de ler sobre as quatro recomendaç×es de Epicuro também está no Caderno do Aluno, em Leitura e análise de texto, com ati- vidades concernentes ao tema. 0 mesmo enca- minhamento da atividade de leitura anterior pode ser considerado neste momento. Exercício 0 que pode acontecer depois? Sugerimos, agora, que você oriente os alunos a analisar as reáex×es de Epicuro, e, a partir delas, considerar a cada desejo duas quest×es: 0 que acontecerá caso ele se concretize? E se não se concretizar? Em seguida, peça que identiàquem um desejo e preencham o quadro, no qual apresentamos alguns exemplos. 0 exercício pode ser feito em sala ou em casa, para discussão na aula seguinte. No Caderno do Aluno, há esse mesmo quadro com espaços para que os alunos desenvolvam as prÓprias reáex×es. Qual é o desejo? Qual é o caminho? O que vai acontecer depois que ele for realizado? O que vai acontecer se ele não for realizado? Ser contratado por uma empresa ou mudar de emprego. Ler os classiàcados, estudar as possibilidades e as demandas para conseguir ser contratado e atuar na função desejada. Vou poder melhorar minhas condiç×es ànanceiras, conhecer outras pessoas e enriquecer meu repertÓrio de vida. Vou manter o meu poder de compra e diàcilmente terei novas experiências signiàcativas. 27 Filosofia – 2a série – Volume 1 Avaliação da Situação de Aprendizagem Procure observar o progresso da reáexão ética a partir dos exercícios orais e escritos realizados pelos alunos. Propostas de questões para avaliação 1. Qual é a diferença entre moral e ética? É necessário que os alunos percebam que ética é uma refle- xão sobre o agir, cuja responsabilidade cabe ao indivíduo pensante, ou seja, ele mesmo. Quanto à moral, o fundamen- tal é que seja definida em razão de seu aspecto normativo. 2. 0 que são e para que servem os critérios da ética? Espera-se que o aluno responda que critérios éticos resultam de reflexões sobre o modo de agir humano, das quais resul- tam indicações para orientar a conduta. 3. Assinale a alternativa correta que indica a condição que leva à virtude, segundo AristÓteles: a) prazer. b) dor. c) equilíbrio. d) leis. e) desejo. ApÓs essa breve abordagem sobre as intrín- secas relaç×es entre moral e ética, indique para os alunos uma releitura do texto “Cinco jovens de classe alta agridem doméstica”. Na sequên- cia, os alunos devem escrever um artigo, no modelo de artigo de jornal, comentando o caso e as reáex×es éticas que ele pode suscitar com base nos àlÓsofos estudados. Quadro 7. Qual é o desejo? Qual é o caminho? O que vai acontecer depois que ele for realizado? O que vai acontecer se ele não for realizado? Aprender Filosoàa. Estudar muito. Vou ter de adequar a minha rotina para me dedicar à leitura dos textos dos àlÓsofose seus comentadores. Vou melhorar minhas notas, ampliarei a minha visão de mundo e terei mais segurança ao argumentar. Dessa forma, poderei ser reconhecido, até mesmo profissionalmente, e, assim, poderei ampliar as minhas possibilidades de evoluir na carreira escolhida. Vou àcar com notas baixas e perder a oportunidade de me desenvolver nos estudos, meu repertÓrio argumentativo diàcilmente será ampliado e com isso posso perder oportunidades de me sair melhor em redaç×es e entrevistas de emprego, concursos etc. 2� Proposta de situação de recuperação 0s alunos que eventualmente não apresen- tarem resultados correspondentes às expecta- tivas de aprendizagem aqui apontadas deverão reler, sob sua orientação, os textos de apoio indicados e refazer as atividades propostas, as quais poderão ser modiàcadas em função das diàculdades detectadas. Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para compreensão do tema Livros MARC0NDES, Danilo. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. 4. ed. Rio de Janeiro: Jorge ;ahar, 200�. BRASIL. Constituição da RepÙblica Federa- tiva do Brasil, 1���. 0R(ANI;A¬«0 DAS NA¬ºES UNIDAS (0NU). Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1�4�. BRASIL. Ministério da Educação / Secretaria da Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Ética e cidada- nia: construindo valores na escola e na socie- dade. Brasília: MEC/SEB, 2007. BRASIL. Ministério da Educação / Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curri- culares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1��7. Filme 'ilosoàa� um guia para a felicidade. Brasil. TV Escola. (Disponível em: <http://tvescola.mec. gov.br/index.php?item_ d=66��&option=com_ zoo&view=item>. Acesso em: 4 set. 2013.) 0s vídeos desta série podem servir de apoio às discuss×es sobre a construção dos critérios éticos, apresentando, de forma didática, as ideias de vários àlÓsofos, inclusive daqueles aqui trabalhados. SITUA¬«0 DE APRENDI;A(EM 3 A LIBERDADE A liberdade é uma questão ética por exce- lência, constituindo tema fundamental para ser trabalhado na faixa etária dos alunos matriculados no Ensino Médio. Compreen- der o elevado sentido da liberdade, identiàcar seus limites e defender sua necessidade para a plena realização da condição humana cons- tituem passo essencial no caminho da cons- trução da cidadania, em geral , e no desenvolvimento da consciência de cada aluno, em particular. Para iniciar esta Situação de Aprendizagem, você pode retomar o material de imprensa já utilizado, novamente tratando o episÓdio em pauta, mas sempre orientando a discussão de modo a evitar o sensacionalismo que, com fre- quência, caracteriza grande parte do noticiário escrito e, principalmente, televisivo, quando tratam de temas dessa natureza. Sugerimos, para sensibilizar os alunos para a temática abordada, uma breve pesquisa sobre a vida e a obra de Jean-Paul Sartre. 2� Filosofia – 2a série – Volume 1 Conteúdos e temas: conceito de liberdade em Jean-Paul Sartre. Competências e habilidades: o objetivo desta Situação de Aprendizagem é estimular o exercício e o desen- volvimento de habilidades como a compreensão da dinâmica da liberdade e seu exercício solidário. Com esta proposta, procura-se incentivar o desenvolvimento de competências relacionadas à sistematização de ideias e sua diferenciação, por meio da leitura àlosÓàca, de outros tipos de textos, além de valorizar o exercício da pesquisa investigativa. Sugestão de estratégias: aulas expositivas, exercícios de reáexão e leitura, exibição de àlme. Sugestão de recursos: textos para leitura conforme os Cadernos do Professor e do Aluno, dicionários de Filosoàa, sites e livros que trazem biograàa de àlÓsofos. Além disso, equipamento para a projeção de àlme. Sugestão de avaliação: como toda a tarefa é realizada em sala de aula, a observação e as anotaç×es a respeito da participação oral são fundamentais. A correção dos exercícios e a organização do Caderno do Aluno são fundamentais para avaliar o processo de ensino-aprendizagem. E, para trazer mais subsídios para esta Situação de Aprendizagem, há, no Caderno do Aluno, a atividade de Pesquisa individual sobre o signiàcado de palavras relativas ao tema, como “Liberdade”, “Responsabilidade”, “Convívio” e “Projeto”. Essa pesquisa pode ser ampliada de acordo com o que você, professor, julgar pertinente. Sondagem e sensibilização – diálogo e escrita – a vontade Inicialmente, você pode lembrar aos alunos que a construção de um mundo melhor neces- sita do uso da razão, o que nos leva a pergun- tar: Quais caminhos ainda precisam ser trilhados para que as nossas ações sejam pautadas, antes de tudo e principalmente, pelo respeito e pela solidariedade? É possível intervir sempre para que fatos e eventos não causem infelicidade e transtornos? Com esse questionamento, você pode orga- nizar um debate. Comece, com a classe divi- dida em pequenos grupos, elencando as hipÓteses que serão debatidas por todos. No contexto do debate, você poderá ques- tionar os alunos sobre a viabilidade de cada caminho para um mundo melhor, sobre o que é possível fazer e aquilo em que não podemos interferir, pois não depende da vontade humana. ApÓs o debate, sugerimos uma reáe- xão sobre determinismo e destino para intro- duzir a temática da liberdade. Para a reáexão 1. Destino e determinismo A ideia de destino signiàca que o homem não pode escolher para onde vai, ou até o que fazer, mesmo que seja contra a sua von- tade. Algo fora dele decidirá, e não há nada que ele possa fazer para mudar seu futuro ou alterar seu presente. Essa ideia foi introdu- zida na Filosoàa pelos estoicos. Para eles, havia uma causa necessária para tudo, ou seja, o mundo inteiro segue certas leis, as quais obrigam as pessoas a agir e morrer sem poder decidir por si. 30 Essa ideia de causa necessária, posteriormente aplicada à Ciência, signiàca que tudo tem uma causa e um efeito. )á, na histÓria da Filosoàa, pensadores que não concordam com a perspectiva determinista de um destino, embora cheguem a concordar com a ideia de que as pessoas fazem escolhas condicionadas por determinaç×es histÓricas, sociais e até por pequenos motivos pessoais. Tais determinaç×es acabam contribuindo para criar um evento, uma ação ou ocorrência. Destino, segundo o dicionário de Filosoàa, é um “poder mais ou menos personiàcado capaz de gover- nar tudo o que existe no universo e de determinar, de uma vez por todas e irremediavelmente, tanto o curso geral dos acontecimentos quanto o devir da histÓria humana”1. 0 destino, de acordo com essa deànição, nos remete à ideia de que a vida e a morte assim como toda a ação humana não dependem apenas da von- tade. Essa perspectiva encontra adeptos em diferentes épocas, culturas e lugares. Na (récia Antiga, por exemplo, as Moiras comandavam o início e o àm da vida. Elas eram representadas por uma tríade de mu- lheres em que a primeira, Láquesis, dava início à “àação da vida”. Cloto torcia o ào, ou seja, manipulava o enredo da vida, e a Ùltima, ¦tropos, cortava o ào. Se nos reportarmos às narrativas da tragédia, notaremos que, na condição do herÓi, havia a intervenção dos deuses, ou seja, de um poder que acabava conduzindo o herÓi, por mais que este procurasse escolher os seus caminhos. A perspectiva de que há um poder capaz de governar e determinar o mundo e os homens pode ser observada fora do contexto dos deuses e das tragédias gregas. 0s pensadores estoicos, por exemplo, concebem que há, na realidade natural, uma força maior que conduz tudo e todos, até mesmo os ho- mens. 0 destino, nesse caso, assume o aspecto de determinismo em que as causas
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