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1 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS DELAÇÃO SUCESSÓRIA Com a abertura da sucessão ocorre a chamada delação sucessória, que é a devolução da herança aos herdeiros, portanto a delação sucessória é o período que medeia entre a abertura da sucessão e a aceitação ou renúncia da herança. A aceitação da herança, também é chamada de adição da herança, é o ato pelo qual o herdeiro confirma o seu desejo de receber a herança. A aceitação é um ato unilateral, porque se forma com a vontade do herdeiro, e é um ato unilateral não receptício, porque o herdeiro quando aceita, não precisa comunicar ninguém. • ato unilateral receptício: é a aquele que para produzir efeitos precisa comunicar ao destinatário. • ato unilateral não receptício: é aquele que produz efeitos com a simples manifestação da vontade, independente de qualquer comunicação ao destinatário. A aceitação é um ato obrigatório, não é um ato facultativo, porque o herdeiro para herdar precisa aceitar a herança, só herda quem aceita a herança, por isso que se diz que a aceitação é um ato obrigatório, para poder herdar, precisa aceitar a herança. Vale lembrar o seguinte: Ninguém é obrigado a herdar contra a própria vontade, por isso que a aceitação é obrigatória neste sentido, para herdar precisa aceitar, não se pode impor a herança para pessoa contra a vontade da mesma. Apesar da aceitação ser obrigatória, é um ato meramente confirmatório, porque a transmissão da herança ao herdeiro se dá com a abertura da sucessão “princípio da saisine”, quando abre a sucessão com a morte, a herança imediatamente se transmite aos herdeiros sob a condição deles aceitarem e se eles aceitam, eles herdam retroativamente, eles herdam desde a abertura da sucessão, portanto a aceitação tem efeito ex tunc, isto é, retroativo à data da abertura da sucessão. São três as formas de aceitação: expressa, tácita e presumida. a) aceitação expressa: é quando o herdeiro declara por escrito seu desejo de receber a herança, podendo ser o escrito por instrumento público ou particular, não existe aceitação verbal, pois não tem valor jurídico (art. 18051 do CC). b) aceitação tácita: é um ato positivo em que o herdeiro pratica revelador do seu desejo da sua vontade de receber a herança. A aceitação tácita é um ato positivo próprio da qualidade de herdeiro, típico de quem é herdeiro e que revela o desejo de aceitar a herança. Ex: o herdeiro manifesta-se no inventário, concordando com as primeiras declarações por meio de advogado. Outro exemplo, o herdeiro requer alvará para alienar bens. Tudo isso, são atos positivos que revelam a intenção de aceitar. Se o herdeiro paga a dívida da herança, isso não é aceitação tácita, porque o pagamento não é ato próprio do herdeiro, porque o CC admite que terceiros também 1 Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro. § 1o Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. § 2o Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros. 2 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS paguem dívidas. É possível o pagamento de dívida alheia, o pagamento feito por quem não é devedor, portanto, se o herdeiro paga a dívida da herança, esse ato não significa que ele aceitou a herança. Não é aceitação tácita: 1. Atos Oficiosos: São aqueles atos de caráter sentimental, por exemplo: aquele herdeiro que liderou o funeral, que pagou a despesas de funeral; 2. Atos de mera administração provisória dos bens: aquele herdeiro que está guardando os bens do morto ou outro exemplo: herdeiro requer a abertura do inventário, requerer a abertura do inventário não significa que aceitou a herança, porque é ato de mera administração; 3. Cessão gratuita pura e simples de direitos hereditários em favor de todos os herdeiros §2º2 do art. 1805 do CC: O herdeiro que cede os direitos hereditários para todos os demais herdeiros, pelo CC isso não é aceitação tácita e sim renúncia. Portanto, ceder em favor de todos, não é aceitação é renúncia nos termos do §2º do art. 1805 do CC. c) aceitação presumida: é a que deriva do silêncio do herdeiro que não aceita nem renuncia, qualquer interessado pode requerer ao juiz do inventário que notifique este herdeiro para ele manifestar se aceitará ou não, e se não responder no prazo de 30 dias, presume-se que aceitou a herança (art. 18073 do CC). O silêncio aqui implica em aceitação da herança. A aceitação presumida é quando o herdeiro é notificado judicialmente para dizer se aceita ou não, e se ele se calar por 30 dias, presume se que ele aceitou. É uma das raras aplicações do “quem cala consente”, porque em regra, o silêncio não é consentimento, em regra, juridicamente quem cala não consente, aqui é uma exceção, é um caso em que o silêncio vale como manifestação de vontade. A aceitação da herança ainda pode ser direta e indireta: a) direta: quando feita pelo próprio herdeiro; b) indireta: quando a herença é aceita por quem não é herdeiro. Hipóteses de aceitação indireta, ou seja, por quem não é herdeiro: 1. Aceitação feita por procurador com poderes especiais: o procurador do herdeiro se tiver poderes expressos para aceitar, pode aceitar a herança; 2. Gestor de negócios: o gestor de negócios pode aceitar a herança, só que a eficácia dessa aceitação, depende da confirmação do herdeiro; 3. Tutor ou curador: pode aceitar a herança do pupilo ou curatelado, mediante autorização do juiz. Se o herdeiro for absolutamente incapaz e estiver sob tutela, o tutor pode aceitar a herança com autorização do juiz, se o herdeiro for absolutamente incapaz e estiver sob curatela, o curador pode aceitar a herança com a autorização do juiz. Agora, se o herdeiro for relativamente incapaz, ele mesmo aceita a herança sob assistência do seu representante legal. 4. Quando herdeiro insolvente, isto é, que não tem bens para pagar suas dívidas renuncia a herança: se o herdeiro insolvente renunciar a herança, os credores desse 2 Vide nota anterior 3 Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita. 3 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS herdeiro podem aceitar a herança mediante autorização do juiz, porém, a renúncia da herança é válida, mas ineficaz frente aos credores, é válida no seguinte sentido: O credor que pediu autorização do juiz para aceitar herança e o juiz aceitou, neste caso com o dinheiro da herança o credor recebeu aquilo que lhe era devido e está sobrando, ou seja, a herança foi maior que a dívida, o saldo uma vez pago aos credores, não vai para o herdeiro renunciante, porque a renúncia é válida, o saldo vai para os demais herdeiros e não para o herdeiro renunciante, portanto a renúncia à herança feita pelo herdeiro insolvente é válida, mas ineficaz perante os credores. E se os credores ficaram sabendo da renúncia após o término do inventário? Enquanto o inventário esta em andamento, para os credores aceitarem basta pedir autorização para o juiz. Mas se o credor ficou sabendo da renúncia após o término do inventário, neste caso para o credor poder aceitar a herança,é preciso mover uma ação judicial, é a Ação Pauliana. Essa renúncia representa uma fraude contra os credores, salvo se o renunciante era empresário ou comerciante, porque neste caso é Ação Revocatória da lei de falências, se era empresário ou comerciante falido, com falência decretada é a Ação Revocatória, que está prevista na lei de falências no art. 1294, V, lei 11.101/2005, aliás, este artigo 129 presume que é fraudulenta toda renúncia feita nos dois anos anteriores à sentença de falência. Em resumo: se os credores ficaram sabendo da renúncia após a partilha, após o término do processo de inventário, precisa mover a Ação Pauliana para declarar a ineficácia dessa renúncia e se já havia a sentença de falência e se herdeiro era empresário, neste caso é a Ação Revocatória. Se quem renunciou o legado foi o legatário, ou seja, aquele que por testamento recebeu bem certo, exemplo, uma fazenda, um carro, se o legatário renuncia ao legado, e é um legatário insolvente, os credores deste legatário poderiam por ordem do juiz aceitar este legado? Uma primeira corrente diz que sim, por analogia ao art. 18135 do CC, que diz que os credores podem aceitar a herança com ordem do juiz ou então poderiam também aceitar o legado por ordem do juiz por analogia. Uma segunda corrente diz que não, nesse caso se o legatário renunciar, os credores não poderiam aceitar a herança, aceitar o legado, nem mesmo com ordem do juiz, porque o CC é omisso e a renúncia pode ter sido por ponderosas razões morais, de modo que não caberia, portanto, por falta de previsão legal, a aceitação do legado por parte dos credores do legatário. Quanto à responsabilidade dos herdeiros pelas dívidas da herança, a aceitação pode ser pura e simples e sobre benefício de inventário. a) aceitação pura e simples: é quando o herdeiro responde por todas as dívidas 4 V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência; 5 Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. § 1o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato. § 2o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros. 4 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS da herança, ainda que superiores ao valor da herança, exemplo: ele herdou R$10.000,00 e as dívidas da herança são no valor de R$ 100.000,00, ele teria que pagar tudo. O herdeiro responde por todas as dívidas da herança, ainda que superiores ao que ele herdou. Essa aceitação pura e simples é chamada de aceitação ultra vires hereditatis. b) aceitação sob benefício de inventário: é aquela em que o herdeiro só responde pelas dívidas da herança, até o limite do quinhão herdado, se ele herdou R$10.000,00, ele responde por dívidas de até R$ 10.000,00. Essa aceitação é chamada de intra vires hereditatis. O CC adotou a aceitação sob benefício de inventário, pois o herdeiro só responde pelas dívidas da herança até o limite do quinhão herdado. Porém há uma exceção, há um caso de aceitação pura e simples no direito brasileiro, está no art. 17926 do CC, ocorre quando não foi feito o inventário, se não foi feito o inventário, o herdeiro tem o ônus da prova de que a dívida é maior do que a herança, se ele não conseguir provar que a dívida é maior que a herança, ele responde por toda a dívida, isto é, ele cai na aceitação pura e simples, então, se ele não fez o inventário, ele vai ser punido. O herdeiro, portanto, vai ter que provar que a dívida era superior que a herança, sob pena de responder por toda a dívida, isto é, de cair no sistema da aceitação pura e simples, por isso que na prática é muito comum o chamado inventário negativo, que é quando o de cujus não deixa bens, mas deixa dívidas, existe o interesse para se fazer o inventário, para deixar bem claro que ele deixou dívidas e não bens, para escapar da norma do art. 1792 do CC. RENÚNCIA DA HERANÇA É o ato unilateral pelo qual o herdeiro abdica de seus direitos sucessórios. A renúncia é também um ato unilateral não receptício, porque não precisa ser comunicado a ninguém, renunciar é abrir mão dos direitos. Quando o herdeiro renuncia, é como se esse herdeiro não tivesse recebido nada, é como se o mesmo não existisse, neste caso da renúncia, a herança não lhe é transmitida, a herança tem efeito ex tunc, isto é, retroativo a data da abertura da sucessão, portanto é bom deixar claro que o herdeiro que renuncia a herança não chega a adquirir a herança, ele não adquire nada. A renúncia é um ato solene porque depende de forma especial. Forma da renúncia: deve ser feita por escritura pública ou por termo judicial, ou seja, um termo nos autos do inventário ou do arrolamento. O Código não exige homologação judicial da renúncia, para renúncia ter eficácia, a escritura pública de renúncia não precisa ser homologada pelo juiz, não há previsão legal para se homologar a escritura pública de renúncia, embora na prática, às vezes é comum o juiz homologar a escritura pública de renúncia, mas isto não está previsto no CC, não é preciso isto para que a renúncia seja eficaz. A renúncia é um ato sempre expresso, portanto, não se admite a renúncia tácita ou presumida, a renúncia tem que ser expressa, por escritura pública ou termo nos autos. Não existe renúncia tácita ou presumida, salvo em um caso, tem um caso de renúncia tácita ou presumida. É o herdeiro testamentário ou o legatário, nomeado sob encargo. Te deixo uma herança desde que construa uma creche por exemplo, se não cumprir o encargo 6 Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados. 5 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS presume-se a renúncia, é um caso de renúncia presumida ou tácita. A renúncia deve ser feita pelo próprio herdeiro ou por procurador com poderes expressos para renunciar. O herdeiro incapaz não pode renunciar a herança, e o representante legal desse herdeiro poderia renunciar a herança? Também não, o herdeiro incapaz e seu representante legal em princípio não podem renunciar, salvo mediante ordem do juiz e ouvido o Ministério Público. Evidentemente que o juiz só vai autorizar a renúncia, se for uma herança prejudicial. A renúncia ainda pode ser própria e imprópria: a) Renúncia própria, também chamada de pura e simples: é quando o herdeiro simplesmente abre mão dos seus direitos hereditários, ele renuncia pura e simplesmente, essa é a renúncia própria, ele não renuncia em favor de ninguém, simplesmente renuncia. Na renúncia pura e simples ou própria não há incidência de imposto inter vivos, porque o herdeiro que renuncia não chega a adquirir, se ele não chega a adquirir, ele não pode transmitir nada para os outros herdeiros porque só pode transmitir a propriedade quem for o proprietário e o herdeiro que renuncia não chega a ser proprietário, por isso nesta renuncia pura e simples, não há o imposto inter vivos tendo em vista que o herdeiro renunciante é como se não existisse, o único imposto que incide é o imposto causa mortis. É preciso autorização do seu cônjuge para a renúncia? Uma primeira corrente diz que não, pois não há previsão legal para essa autorização. O Código prevê autorização do cônjuge para o herdeiro alienar bens imóveis, e a renúncia não é umaalienação, pois conforme já dito, o herdeiro que renuncia não chega adquirir a propriedade, logo, ele não pode alienar algo que nunca teve, então, não precisaria autorização do cônjuge. Uma segunda corrente entende que a renúncia é um ato similar à alienação e como a herança é considerada bem imóvel por força de lei, para alienar imóvel o cônjuge precisa de autorização do outro, portanto, uma segunda corrente entende que precisa de autorização do cônjuge, salvo no regime de separação de bens. Uma terceira corrente entende que só haveria necessidade de autorização do cônjuge se ele for casado no regime da comunhão universal de bens, porque é o único regime em que a herança se comunica. Nos demais regimes a herança não se comunica, logo não precisaria autorização do cônjuge. No entendimento do professor Flávio, não há necessidade de autorização do cônjuge, porque o Código exige autorização do cônjuge para alienar imóveis e a renúncia pura e simples não é alienação, mesmo porque, o sujeito pode estar renunciando por razões morais, então não tem cabimento a interferência do cônjuge. O herdeiro quando renuncia a herança, nessa renúncia pura e simples, qual o destino do quinhão desse herdeiro que renunciou a herança? Nem é preciso distinguir se a sucessão é legítima ou testamentária. Na sucessão legítima que são os herdeiros indicados pela lei, o quinhão do herdeiro renunciante acresce aos demais herdeiros da mesma classe, é o único caso do Direito de acrescer na sucessão legítima. Por exemplo, o pai morre e deixa três filhos “A”, “B” e “C”. “A” renúncia, o quinhão do “A” vai para “B” e “C”, então é o direito de acrescer, portanto os filhos do renunciante, não herdam por representação, porém o filho do renunciante pode herdar por direito próprio em duas situações previstas no art. 6 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 18117 do CC: 1ª. Se o renunciante é filho único, daí eles herdam como neto, pai morre e deixa um filho e este filho renuncia, então os filhos do renunciante herdam porque são netos. 2ª. Se todos da mesma classe renunciarem, pai morre deixa três filhos “A”, “B”, e “C”, e todos esses herdeiros renunciam então os netos, filhos desses herdeiros renunciantes vão herdar por direito próprio. Na sucessão legitima o quinhão do herdeiro renunciante é acrescido aos herdeiros da mesma classe, essa é a regra. Na sucessão testamentária quando renuncia o herdeiro testamentário ou o legatário o que acontece? Na sucessão testamentária é preciso saber se o testamento especificou os quinhões de cada um ou se o testamento não especificou os quinhões de cada um. Se o testamento especificou o quinhão de cada um, daí se o herdeiro testamentário renunciar ou legatário renunciar, a parte do renunciante vai para os herdeiros legítimos do testador, isto é, caduca o testamento e vai para os herdeiros legítimos do testador, exemplo: sujeito deixou um testamento, deixou a herança para “A”, “B”, “C”, e especificou “A” tem 20%, “B” tem 50% e “C” tem 30% da herança ,ele especificou a parte de cada um, o “A” renuncia e como o testamento especificou o quinhão, a parte do renunciante vai para os herdeiros legítimos do testador e se o testador não tiver herdeiros legítimos vai para o Município, tornando-se herança jacente. Agora se o testamento não especificou os quinhões de cada um, daí a parte do herdeiro renunciante acresce para os demais herdeiros testamentários ou para os demais legatários, exemplo: testador deixa herança para “A”, “B”, e “C”, sem especificar a parte de cada um. O “A” renuncia, então seu quinhão vai para “B” e “C”. Ocorre neste caso, o direito de acrescer. Portanto, na sucessão testamentária, quando se especifica os quinhões, caduca o testamento em relação ao herdeiro que renunciou e parte do renunciante vai para os herdeiros legítimos do testador, isso quando se especifica os quinhões. Se não especificar os quinhões, haverá o direito de acrescer para os demais herdeiros testamentários ou demais herdeiros legatários, salvo se houver nomeação de substituto, neste caso muda tudo, porque o testador pode prever o seguinte: deixo herança para “A”, “B”, e “C” especificando ou não os quinhões e pode dizer, se o renunciar, vai para João da Silva e se ele nomeia o substituto, daí a parte do renunciante vai para o substituto. b) Renúncia Imprópria: também chamada de Translativa ou In Favoren: é a renúncia em benefício de determinada pessoa, por exemplo: renuncio a herança em favor do meu irmão fulano de tal, renuncio em favor da viúva meeira. A rigor não é renúncia, e sim uma cessão gratuita de direitos hereditários que equivale à doação. Essa renúncia imprópria na verdade envolve dois atos: 1) aceitação da herança; 2) transmissão da herança, isto é, uma cessão gratuita da herança. É devido, além do imposto causa mortis, o imposto inter vivos, porque se você renuncia em favor de fulano, você está transmitindo para fulano. Nesta renúncia translativa, que na verdade é uma cessão de direitos hereditários, ficou uma herança por força lei que é bem imóvel, nesta renúncia translativa é 7 Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. 7 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS preciso autorização do cônjuge, salvo se for casado na separação de bens, porque é uma alienação de imóvel, é uma cessão gratuita de direitos hereditários e essa renúncia imprópria segue as regras da doação, logo, não pode exceder o valor da legítima daquele herdeiro que está cedendo seus direitos hereditários e como a doação não pode invadir a legítima, a cessão gratuita de direitos hereditários também não pode invadir a legítima desse herdeiro que esta cedendo os seus direitos hereditários. A cessão gratuita de direitos hereditários em favor de todos os demais herdeiros é considerada pelo Código Civil como sendo renúncia pura e simples como mencionado no §2º art. 1805 do CC, salvo se o herdeiro que cedeu para todos os demais, estipulou condições ou encargos ou fixou clausulas, então é uma renúncia translativa, porque significa que ele aceitou, pois para impor condições, cláusulas, precisa ser proprietário, precisa ter aceito, significa que ele aceitou e depois transmitiu então seria uma aceitação tácita seguida de uma cessão gratuita de direitos hereditários. Das Disposições Comuns à Aceitação e Renúncia da Herança. A aceitação e renúncia, diz o art. 18088 e 18129 do CC: Não podem ser parciais, não admitem termo, não admitem condição e não admitem retratação. Em duas hipóteses, porém é possível a aceitação ou a renúncia parcial. 1ª. Está no art. 1808,§ 1o, é o prelegatário: Legatário que é também herdeiro, o testador deixa carro para um dos filhos, esse filho além de ser herdeiro, ele é legatário, então, fala-se que é prelegatário, nesse caso ele pode aceitar tudo, renunciar tudo, ou então pode aceitar só a herança e renunciar ao legado ou então pode aceitar a herança e renunciar o legado e vice-versa, podendo essa renúncia ser parcial. 2ª. Art. 1808, §2º: é o herdeiro que recebe a herança por títulos diversos: ele ao mesmo tempo é herdeiro legítimo e herdeiro testamentário, por exemplo: deixo um 1/3 da herança para um dos meus filhos, significa que além de ser herdeiro legítimo, ele é também testamentário, neste caso ele pode aceitar tudo, renunciar tudo ou pode aceitar ser herdeiro legítimo e renunciar ser herdeiro testamentárioou vice-versa. A aceitação e a renúncia, por outro lado, não admitem termo, nem condição, agora se houver termo, reputa-se não escrito o termo, e a aceitação ou renúncia serão válidas. Portanto, aceito a herança a partir do dia tal, ou até o dia tal, ou renuncio a partir do dia tal, termo para aceitação ou renúncia, reputa-se não escrito termo e a aceitação ou renúncia são válidas. Agora, se houver condição? Aceitação ou renúncia, sob condição neste caso, anula-se não só a condição, mas também a aceitação e a renuncia, anula-se tudo. A aceitação e a renúncia são também irretratáveis (art. 1812 do Código Civil). Na aceitação o herdeiro confirma a aquisição do domínio da herança. Então, se 8 Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo. § 1o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá- los. § 2o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. 9 Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança. 8 DIREITO CIVIL - SUCESSÕES PROF: FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS ele aceita a herança não pode se retratar, não pode renunciar, isso porque a aceitação é irretratável, então, se ele aceitou, confirmou que adquiriu a propriedade da herança e depois que aceita não pode renunciar mais. E se ele renunciar depois que aceitou? Na verdade, não se trata de uma renúncia, e sim de uma desistência, pode até chamar de renúncia, mas é desistência e o efeito é ex nunc, isto é, daqui para frente, a partir da desistência, portanto vai ter o imposto inter vivos. Quando ele desiste, está transmitindo a herança para os demais herdeiros, então essa desistência gera uma transmissão de imposto e inter vivos. Então, o que é desistência? Desistência seria o fato de o herdeiro após aceitar a herança renunciá-la, essa “renúncia” seria uma desistência, renúncia posterior a aceitação chama-se desistência. Ele chega a adquirir a herança, mas quando desiste está transmitindo para os demais herdeiros, então essa desistência gera a incidência de imposto inter vivos. A renúncia é irrevogável é irretratável, portanto se ele já aceitou não tem como revogar, não tem como se retratar. Caso ele abra mão dos seus direitos isto não se chama renúncia, mas sim, desistência. Agora, é claro que a aceitação e a renúncia podem ser anuladas judicialmente se houver erro, dolo, ou coação. Anular é desfazer um ato ilegal, então é preciso uma sentença judicial, e retratar é desfazer um ato legal. A renúncia e a aceitação são irretratáveis, porém são anuláveis judicialmente se houver erro, dolo, coação etc. A renúncia por sua vez é irretratável, não tem como voltar atrás, renunciou perdeu o direito, me parece que há uma exceção, há um caso em que o sujeito poderia se retratar de uma renúncia, quando ele renunciou por testamento público. O pai morre e o filho deixa um testamento renunciando essa herança, testamento público, por escritura pública. Desta renúncia ele pode se retratar revogando o testamento, porque no testamento pode-se revogar tudo o que nele está, só não pode revogar a cláusula em que reconhece filho ou que perdoa o indigno. As demais cláusulas são revogáveis, então se renunciou por testamento, antes de você morrer, pode-se revogar o testamento, seria a única situação de retratação da renúncia. Imaginemos o seguinte: E se o herdeiro morre antes de aceitar a herança. Vejamos, o pai morreu e o filho ainda não aceitou a herança, então também morre este filho antes de aceitar a herança, os herdeiros deste filho podem aceitar aquela primeira herança? Vejam só, este direito de aceitar ou de renunciar a herança se transmite aos herdeiros desde que, eles aceitem a segunda herança. Se aceitarem a herança do pai, eles podem depois aceitar ou renunciar a herança do avô, mas primeiro tem que aceitar a herança do pai. O avô morre e deixa o filho, o filho não chega a aceitar a herança e o filho morre então os netos precisam primeiramente aceitar a herança do pai, se aceitam a herança do pai, podem aceitar ou renunciar a herança do avô. Agora se eles renunciam a herança do pai não poderão aceitar ou renunciar a herança do avô, em suma, se eles renunciarem a segunda herança, eles não podem aceitar a primeira. Agora se aceitam a segunda eles podem aceitar ou renunciar a primeira herança. Há uma hipótese interessante prevista no art. 1809 do Código Civil, o herdeiro testamentário ou legatário que são nomeados sob condição suspensiva, por exemplo: sob condição do Brasil vencer a próxima copa do mundo, uma condição ainda não verificada e esse herdeiro ou legatário morre antes de aceitar, neste caso o direito de aceitar essa herança ou legado, não se transmite, porque por força do art. 1809 do Código Civil, que diz o seguinte, herdeiro legatário ou testamentário nomeado sob condição, se eles morrem antes de ocorrer a condição, caduca o testamento, fica sem efeito, logo os herdeiros dele não adquirem esse direito de aceitar a herança.
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