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Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br 1 SEGURIDADE SOCIAL ....................................................................................................... 2 1.1 Princípios constitucionais da Seguridade Social ................................................... 2 1.1.2 Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais ............................................................................................... 3 1.1.3 Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios .................................... 5 1.1.4 Princípio da equidade na forma de participação no custeio ......................... 6 1.1.5 Diversidade da base de financiamento .......................................................... 6 1.1.6 Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração ........ 7 1.2 Previdência Social.................................................................................................. 7 1.2.1 Regime Geral de Previdência Social - RGPS ................................................... 7 1.2.1.1 Beneficiários do RGPS ............................................................................. 7 1.2.1.1.1 Segurados do RGPS .......................................................................... 7 1.2.1.1.1.1 Segurados obrigatórios ............................................................. 8 1.2.1.1.1.2 Segurados facultativos ............................................................ 20 1.2.1.1.1.3 Período de graça ..................................................................... 20 Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1 SEGURIDADE SOCIAL 1.1 Princípios constitucionais da Seguridade Social Art. 194, parágrafo único, da Constituição Federal traz os objetivos que a doutrina chama de princípios da Seguridade Social. É importante destacar que estamos tratando ainda da Seguridade Social, que é gênero. Logo, os princípios em questão vão informar também, além da saúde e da assistência social, a Previdência Social. Vejamos então quais são esses princípios descritos no parágrafo único do art. 194 da CRFB/88: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) 1.1.1 Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento e princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços Um princípio não indica um passo a ser dado, mas a diretriz a ser percorrida, consistindo em uma ordem para se fazer o máximo para se chegar ao mandamento constitucional estabelecido. E diferentemente das regras, os princípios são aplicados na maioria das vezes por meio da ponderação. Desse modo, apesar da previsão de universalidade da cobertura e do atendimento no inciso I transcrito acima, isso não significa que em todos os ramos da Seguridade Social essa universalidade será igual e nem significa que essa universalidade é radicalmente absoluta, tratando-se apenas de uma diretriz. Então, a universalidade da Seguridade Social significa que se deve levá-la a tudo e a todos. Universalidade da cobertura significa que a Seguridade Social deve alcançar todos os riscos sociais. Universalidade do atendimento significa que a Seguridade Social deve alcançar todas as pessoas. Veja-se que cobertura está relacionada a riscos e atendimento está relacionado a pessoas. Ao verificarmos o teor do inciso III acima transcrito, que trata do princípio da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, percebemos que há uma certa tensão entre ele e o princípio da universalidade, previsto no inciso I. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br Seletividade significa que eu preciso selecionar ou escolher os benefícios que serão concedidos e as pessoas que vão receber essa prestação. Veja-se que, se por um lado, o princípio da universalidade diz "leve seguridade para tudo e para todos", por outro lado, o princípio da seletividade diz "escolha, vez que é impossível atingir a tudo e a todos". E nesse processo de seleção, nesse processo de escolha, deve-se levar em consideração o critério da distributividade. Percebe-se então que a Seguridade Social é um instrumento de redistribuição de rendas, o que quer significar que a seguridade não é meramente retributiva, ou seja, quando falo em benefícios da Seguridade Social, não estou simplesmente retribuindo contribuições, mas estou distribuindo rendas, o que está intimamente relacionado com a ideia de solidariedade, já vista na aula anterior. Nesse contexto, podemos ter pessoas pagando mais do que vão receber, enquanto temos pessoas que vão receber mais do que pagaram, o que faz parte dessa ideia de redistribuição. Essa forma de manifestação do princípio da seletividade e distributividade é evidenciada muito claramente nos benefícios previdenciários, por exemplo. O auxílio- reclusão, por exemplo, é um benefício concedido aos dependentes de um segurado preso de baixa renda. Nesse caso, escolhe-se uma situação da vida que merece cobertura - risco (segurado preso). Porém, nem todos os dependentes de pessoas presas, encontram-se em uma situação que faz jus a cobertura previdenciária, sendo beneficiados, dessa forma, apenas aqueles que são de baixa renda, ou seja, mais uma vez estou há uma seleção. O princípio da seletividade é utilizado nesse caso para escolher o risco e a pessoa que vai receber a cobertura. Outro exemplo: incapacidade por dez dias, há cobertura previdenciária? Não. Incapacidade por mais de quinze dias, há cobertura previdenciária? Sim. Mais uma vez o princípio da seletividade: uma incapacidade de curtíssima duração não é merecedora de cobertura previdenciária, enquanto uma superior a quinze dias é selecionada como risco social. 1.1.2 Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais Esse princípio poderia ser substituído por uma palavra: igualdade ou isonomia, pois esse princípio é, na verdade, uma densificação do princípio da isonomia, estabelecendo a necessidade de se existir uma igualdade entre as populações urbanas e rurais. E a necessidade dese instituir esse princípio na CRFB/88 ocorreu porque, anteriormente, a população rural era excluída da previdência social. Possuía algumas coberturas, mas muito mais de cunho assistencial do que previdenciário. Para se ter uma ideia, os trabalhadores rurais só foram incluídos no Regime Geral de Previdência Social em 1991, com a Lei nº 8.213. Agora vejam que determinar um tratamento uniforme e equivalente não significa a impossibilidade de se compensar desigualdades materiais. Ao contrário, a busca pela compensação dessas desigualdades entre trabalhadores rurais e urbanos faz parte justamente desse tratamento equivalente. Tanto é que o art. 201, § 7º, II, da CRFB/88 diz Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br que o trabalhador rural deve se aposentar com cinco anos de idade a menos quando comparado com o trabalhador urbano: Art. 201 (...) § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (...) II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Nós temos, ainda, uma série de facilitadores de acesso aos benefícios pelo trabalhador rural, como, por exemplo, o art. 39 da Lei n.º 8.213/91, que dispensa o segurado especial, que é essencialmente rural, do cumprimento de carência para certos benefícios, permitindo que, na prática, o segurado especial obtenha o benefício mesmo sem ter contribuído para a previdência social. Eles são obrigados a contribuir, mas a contribuição não é condição para obtenção do benefício: Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão: I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido; ou (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) II - dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a forma de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente para a Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade Social. Parágrafo único. Para a segurada especial fica garantida a concessão do salário- maternidade no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos 12 (doze) meses imediatamente anteriores ao do início do benefício. (Incluído pela Lei nº 8.861, de 1994) O curioso é que a proposta de reforma previdenciária pretendida pelo governo, conforme se tem noticiado, visa igualar formalmente tudo e todos. Se em uma prova vier uma afirmação: "é possível um tratamento diferente para o trabalhador rural", muito cuidado. Se não estiver especificado que é um tratamento para compensar desigualdade, a afirmativa está errada. O que se pode ter é um tratamento que atenda à universalidade e equivalência e que busque compensar desigualdades materiais. Essa compensação será sempre no sentido de facilitar o acesso do trabalhador rural à previdência social, ou seja, sempre para diminuir a desigualdade e não para aumentar. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br 1.1.3 Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios Quando falo de uma irredutibilidade, significa que não posso reduzir o seu valor. Porém, o que significa reduzir? Podemos dizer que temos dois tipos de irredutibilidade: irredutibilidade nominal e irredutibilidade real. Irredutibilidade nominal é a mera conservação do valor histórico do benefício. Não posso reduzir o valor contábil do benefício. Quem ganha cinco mil não pode passar a ganhar quatro mil. O princípio da irredutibilidade nominal garante o segurado mesmo contra casos de deflação. A irredutibilidade nominal não garante, entretanto, uma valorização do benefício em caso de inflação, pois para isso, entramos no campo da irredutibilidade real. Irredutibilidade real consiste na garantia de manutenção do poder de compra do benefício. Manter o poder de compra corresponde a corrigir o benefício de acordo com a inflação. Irredutibilidade real é, portanto, a garantia de composição das perdas inflacionárias. E o princípio que informa a Seguridade Social previsto art. 194, parágrafo único, IV, da Constituição Federal é o princípio da irredutibilidade nominal, que garante a conservação do valor histórico do benefício. O bolsa-família, por exemplo, pode ficar três anos sem aumento, mesmo com inflação no período? Pode, pois se trata de um benefício assistencial que se submete ao princípio da irredutibilidade nominal. Agora, saindo dos princípios da Seguridade e pensando especificamente em previdência social, aí nós temos o princípio da irredutibilidade real. Observa-se que não estamos trocando um princípio pelo outro, o que temos é o acréscimo de mais um princípio quando tratamos de previdência social, que terá também, além da irredutibilidade nominal, a irredutibilidade real. Então, para os benefícios previdenciários, temos a garantida de composição das perdas inflacionárias. Para o RGPS, isso está previsto no art. 201, § 4º, da CRFB/88. Para o RPPS, isso está previsto no art. 40, § 8º da CRFB/88: Art. 201. (...) § 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Art. 40. (...) § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) Pelas regras atuais, há uma situação curiosa no caso dos servidores públicos: o servidor da ativa até tem direito a um reajuste em sua remuneração, mas que não precisa corresponder à inflação. Já o servidor que se aposenta pelas regras novas tem direito a um reajuste em seu benefício correspondente à inflação. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br 1.1.4 Princípio da equidade na forma de participação no custeio Esse princípio significa que devemos distribuir de forma justa o ônus pelo custeio da seguridade social. E essa distribuição justa passa pela valorização da capacidade contributiva, por meio, por exemplo, de alíquotas progressivas. Outro aspecto interessante no âmbito da seguridade social é que posso usar parâmetros como o porte da empresa, o grau de utilização de mão de obra, tudo para se definir alíquotas diferentespara o custeio da seguridade social, conforme autorização expressa do art. 195, § 9º, da CRFB/88: Art. 195 (...) § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. As instituições financeiras, por exemplo, além de contribuírem com a alíquota padrão de 20% sobre a folha de pagamento, contribuem ainda com uma alíquota adicional sobre sua folha de pagamento, tendo o STF declarado constitucional essa alíquota adicional das instituições financeiras. 1.1.5 Diversidade da base de financiamento Como financiar a Seguridade Social é um muito pesado, nós temos aqui um instrumento que permite a pulverização do ônus pelo seu custeio, com diversas fontes. E nesse sentido, temos verbas do caixa geral das entidades federativas e a remuneração paga à Receita Federal do Brasil pela cobrança que efetua das contribuições para o sistema "S". Temos ainda, como principal fonte da seguridade social, as contribuições previstas no art. 195 da CRFB/88: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998) I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br 1.1.6 Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração Esse princípio encontra-se previsto no inciso VII do parágrafo único do art. 194 da CF, nos seguintes termos: VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Observa-se que, de acordo com o princípio em questão, a Seguridade deve ter gestão quadripartite, com quatro setores interessados: empregadores, trabalhadores, aposentados e governo. 1.2 Previdência Social Conforme já sabemos, a previdência Social se divide em previdência básica e previdência complementar. A previdência complementar oferece a sua cobertura por meio de entidades abertas e entidades fechadas de previdência complementar - EAPC e EFPC. Já a previdência básica, que é pública e obrigatória, se divide em Regime Geral de Previdência Social - RGPS e Regime Próprio de Previdência Social - RPPS. Nosso estudo, doravante, terá como foco o Regime Geral de Previdência Social - RGPS. 1.2.1 Regime Geral de Previdência Social - RGPS O Regime Geral de Previdência Social - RGPS é o regime de previdência básica voltado para todas as pessoas que não têm regime próprio. E esse regime tem uma autarquia federal por ele responsável, que é o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, criada em 1990. Então em uma relação de benefícios, nós teremos de um lado o INSS, que oferecerá os benefícios e de outro lado os beneficiários do RGPS. E para iniciarmos o estudo do RGPS, devemos começar justamente pelos beneficiários. 1.2.1.1 Beneficiários do RGPS Os beneficiários do RGPS se dividem em segurados e dependentes. Os segurados são beneficiários diretos da previdência social, o que significa dizer que a relação entre eles e o INSS se estabelece sem intervenção de qualquer outra pessoa. Já os dependentes são beneficiários indiretos, pois eles são dependentes do segurado, ou seja, para que exista um dependente deve existir, primeiramente, um segurado. 1.2.1.1.1 Segurados do RGPS Os segurados do RGPS se dividem em dois grandes grupos: segurados facultativos e segurados obrigatórios. Os segurados obrigatórios se subdividem-se em cinco espécies: empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual e segurado especial, todos previstas no art. 11 da Lei n.º 8.213/91: Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993) Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br I - como empregado: (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993) (...) II - como empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos; V - como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) (...) VI - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento; VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008) Já os segurados facultativos encontram-se previstos no art. 13 da Lei n.º 8.213/91: Art. 13. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do art. 11. É importante observar que O RGPS é uma previdência básica, que é, portanto, de filiação obrigatória, o que fica evidente no art. 201 da CF: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: A regra então é que se a pessoa consegue trabalhar e auferir renda, deverá ela destinar obrigatoriamente uma parte desta renda à previdência social, ou seja, para garantir a sua própria proteção futura. Todavia, abriu-se espaço para aquele que não trabalha ou não aufere renda possa também se filiar ao RGPS como facultativo. Tal permissão não altera, entretanto, a natureza obrigatória do RGPS. Agora, se podemos dizer que a saúde é o ramo da seguridade social informado com mais intensidade pelo princípio da universalidade, tendo em vista o disposto no art. 196 da CRFB/88F1, quando olhamos para a previdência observamos que o peso dessa universalidade é muito menor. A universalidade ainda existe na previdência, já que qualquer pessoa pode ser segurado,obrigatoriamente ou facultativamente, mas não é qualquer pessoa que terá direito a coberturas previdenciárias. 1.2.1.1.1.1 Segurados obrigatórios Conforme já dissemos, os segurados obrigatórios do RGPS estão previstos no art. 11 da Lei 8.213/91 e são todos aqueles que trabalham e auferem renda. Podemos dizer, então, 1 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br que o indivíduo se transforma em segurado pelo simples exercício de uma atividade remunerada. Vamos imaginar, por exemplo, um advogado que começou a trabalhar, mas que nunca procurou a previdência social. Ele é segurado? Sim, ele é sim segurado da previdência social. O flanelinha, que ganha um troco para tomar conta do carro, é também segurado obrigatório da previdência social. Trabalhou ou exerceu atividade remunerada, ainda que sem registro em sua CTPS e mesmo que seja em uma empresa pirata, é segurado obrigatório da previdência social. Já filiação é a constituição do vínculo jurídico entre o segurado e a previdência social. Podemos afirmar então que a filiação do segurado obrigatório ocorre com o exercício da atividade remunerada. Ou seja, trabalhou, virou segurado e surgiu o vínculo jurídico com a previdência social. Isso quer dizer que eu não dependo de um ato formal para virar segurado, não dependo, portanto, de um cadastro na previdência social para virar segurado. O trabalhador não depende, então, de inscrição para se tornar segurado obrigatório da previdência social. Inscrição é o cadastro no banco de dados do INSS, é o ato formal de cadastramento, é o registro. Ora, se essa inscrição não é o ato que constitui o vínculo jurídico, já que esse se dá com o exercício da atividade remunerada, qual é então o efeito dessa inscrição? Efeito meramente declaratório, pois, como já dito, o que constitui a relação jurídica entre o segurado e a previdência é o exercício da atividade remunerada. A inscrição, mesmo assim, é obrigatória, pois é ela que irá regularizar a situação do trabalhador junto ao INSS e declarar a sua situação de segurado. O correto seria fazer a inscrição concomitantemente com a filiação. Mas é possível, porém, para sanar uma situação irregular, efetuar uma inscrição retroativa, comprovando-se junto ao INSS o exercício da atividade remunerada anterior. E a inscrição retroativa é possível porque o trabalhador já é segurado e filiado desde a data do início de seu exercício, já que a filiação é automática e decorre tão somente do exercício da atividade remunerada. Não é possível, porém, fazer uma inscrição antecipada. Para o segurado facultativo, a situação é diferente, já que, por se tratar de facultativo, é necessário que ele manifeste o interesse em ser segurado. Um estudante, por exemplo, que não exerce atividade remunerada, comparece ao INSS e declara o interesse em ser segurado por meio de sua inscrição, devendo ratificar esse seu interesse por meio da primeira contribuição, tornando-se, a partir daí, filiado ao RGPS. O segurado facultativo não pode, portanto, efetuar inscrição retroativa, pois, para ele, a inscrição possui efeito constitutivo. Enquanto para o segurado obrigatório a inscrição tem efeito declaratório, para o segurado facultativo a inscrição tem efeito constitutivo. Os segurados obrigatórios serão considerados segurados, portanto, pelo exercício de alguma das atividades descritas no art. 11 da Lei n.º 8.213/91: empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual ou segurado especial. É importante registrar que nós aproveitaremos alguns institutos do direito do trabalho, mas os conceitos não irão coincidir, pois o direito previdenciário possui os seus conceitos próprios. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br Empregado O art. 11, I, a Lei 8.213/91 vai dizer quem são os empregados. Mas podemos dizer, inicialmente, que a categoria de empregado para o direito previdenciário é mais ampla do que a categoria de empregado para o direito do trabalho. Ou seja, todos que são considerados empregados no direito do trabalho também o são no direito previdenciário. A recíproca, porém, não é verdadeira, pois o direito previdenciário reconhecerá alguns segurados como empregados que não são segurados no direito do trabalho. Vejamos, então, o teor do art. 11, I: Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993) I - como empregado: (Redação dada pela Lei nº 8.647, de 1993) a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado; b) aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, definida em legislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços de outras empresas; c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior; d) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e repartições, excluídos o não-brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou repartição consular; e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio; f) o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional; g) o servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com a União, Autarquias, inclusive em regime especial, e Fundações Públicas Federais. (Incluída pela Lei nº 8.647, de 1993) h) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social ; (Incluída pela Lei nº 9.506, de 1997) i) o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social; (Incluída pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) j) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social; (Incluído pela Lei nº 10.887, de 2004) Na alínea "a" acima temos a figura do empregado típico, tal como na legislação trabalhista. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrináriose na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br O que não podemos esquecer é que um sujeito que presta serviço a uma lanchonete, por exemplo, sem carteira assinada, é empregado, pois o fato de haver um vício na contratação ou um desrespeito a normas trabalhistas e previdenciárias não descaracterizará a natureza da relação, pois no direito previdenciário também prevalece a ideia do primado da realidade. Na alínea "b" temos a figura do empregado temporário, que também se insere como segurado obrigatório da previdência social na categoria de empregado. E empregado público é considerado empregado para o direito do trabalho e, por conseguinte, é também empregado para o direito previdenciário. Agora vamos imaginar um servidor público que ocupe exclusivamente um cargo em comissão, de livre nomeação e exoneração. Esse servidor não é considerado empregado para o direito do trabalho, pois ocupa cargo público e sua atividade é regida pelo estatuto dos servidores públicos. A sua aposentadoria, porém, não é regida pelo RPPS, mas pelo RGPS, já que ocupa exclusivamente cargo em comissão e no RGPS ele é considerado empregado. Por outro lado, vamos imaginar um servidor público de um município que não tenha criado RPPS, onde ocupa um cargo de provimento efetivo após ter sido aprovado em concurso público. Ora, se o RGPS é para todo trabalhador que não tem regime próprio, o mencionado servidor será segurado do regime geral de previdência social, na categoria de segurado empregado. Vejamos agora o disposto na alínea "j" (a alínea "h" diz a mesma coisa, mas foi considerada inconstitucional): j) o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social; (Incluído pela Lei nº 10.887, de 2004) O dispositivo acima considera segurado obrigatório da previdência social, como empregado, o exercente de mandato eletivo que não esteja vinculado a RPPS. E se ele é segurado empregado, ele está contribuindo para o RGPS e sua aposentadoria se dará no INSS, de modo que o ente a que ele está vinculado deverá recolher as respectivas contribuições previdenciárias em favor do INSS, sob pena de, não o fazendo, sujeitar-se a uma ação de execução fiscal proposta pela fazenda federal, já que aqui não há que se falar em imunidade recíproca, que é aplicável tão somente aos impostos e não às contribuições. Conforme antecipado acima, a alínea "h" e a alínea "j" possuem o mesmo teor, tendo a primeira sido inserida em 1997 e a segunda em 2004. Em 1997, a CRFB/88 só permitia a cobrança de contribuições dos trabalhadores, razão pela qual os exercentes de mandato eletivo foram ao STF alegando não serem trabalhadores, tendo o Supremo declarado a inconstitucionalidade da alínea "h" em controle concreto, tendo sido suspensos os efeitos do mencionado dispositivo por meio de resolução do Senado. Em 2004, entretanto, após alteração da CRFB/88, foi introduzida a alínea "j", no inciso I do art. 11. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br Outra coisa importante a se notar no inciso I é que não temos limitação territorial para caracterização do segurado como segurado do RGPS. O trabalhador, mesmo exercendo atividade no exterior, poderá ser, em alguns casos, segurado obrigatório do regime previdenciário brasileiro, como no caso das alíneas "c": c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior; A alínea "d" trata dos casos daqueles que prestam serviços no Brasil em missão diplomática ou a repartição consular de carreira estrangeira. Outro trabalhador que é segurado obrigatório na qualidade de empregado é o descrito na alínea "e": e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio; O mencionado dispositivo define que aquele que trabalha para o Brasil junto ao organismo internacional é considerado empregado. Agora, se ele trabalha para o organismo internacional, ele será considerado contribuinte individual. Empregado doméstico O art. 11, II, a Lei 8.213/91 define o segurado obrigatório que será considerado empregado doméstico, nos seguintes termos: II - como empregado doméstico: aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos; Vale a pena fazer remissão ao art. 1º da LC 150/2015, que traz também o conceito de empregado doméstico: Art. 1o Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica- se o disposto nesta Lei. Qual é, então, a diferença básica entre o empregado e o empregado doméstico? Nós temos três características no emprego doméstico que vão distingui-lo do vínculo de emprego: a) o empregador doméstico é pessoa natural ou família; b) essa pessoa natural ou a família não tem intenção de lucrar com o trabalho do empregado doméstico e c) o trabalho é exercido no âmbito residencial. A característica mais marcante do empregado doméstico é a ausência de intenção de lucrar com o trabalho doméstico. Todavia, se uma ONG contrata uma pessoa para prestar serviço doméstico na residência de um assistido, sem qualquer fim lucrativo, ele será empregado e não empregado doméstico, já que o empregador, nesse caso, não é pessoa natural ou família. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br É importante registrar que para a descaracterização do empregado doméstico não se exige a obtenção de lucro, basta a obtenção de lucrar, de modo que, havendo o propósito de lucrar, o empregado não será doméstico, mesmo que não se obtenha lucro. Por fim, o trabalho deve ser obrigatoriamente prestado no âmbito residencial. E agora ficou também mais clara a diferença entre o empregado doméstico e o contribuinte individual: para ser considerado empregado doméstico, o serviço deve ser prestado por mais de dois dias por semana. Não sendo, teremos a figura do contribuinte individual (que conhecemos como as diaristas). Trabalhador avulso O trabalhador avulso está descrito no art. 11, VI, da Lei n.º 8.213/91, in verbis: VI - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviço de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento; Tal descrição, entretanto, não é suficiente para nos fazer entender quem, de fato, é o segurado da categoria de trabalhador avulso. Para tanto, precisamos buscar melhores informações no Decreto 3.048/99, que, em seu art. 9º, VI, assim dispõe: Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas: (...) VI - como trabalhador avulso - aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei nº8.630, de 25 de fevereiro de 19932, ou do sindicato da categoria, assim considerados: a) o trabalhadorque exerce atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e conserto de carga, vigilância de embarcação e bloco; b) o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvão e minério; c) o trabalhador em alvarenga (embarcação para carga e descarga de navios); d) o amarrador de embarcação; e) o ensacador de café, cacau, sal e similares; f) o trabalhador na indústria de extração de sal; g) o carregador de bagagem em porto; h) o prático de barra em porto; i) o guindasteiro; e j) o classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; e Percebe-se, então, que o trabalhador avulso é aquele que exerce a sua atividade por intermédio de um órgão gestor de mão de obra ou do sindicato da categoria. Não estamos falando aqui de empresa de cessão de mão de obra, terceirização, etc., pois quem trabalha em empresa de terceirização ou de cessão de mão de obra são empregados. Também não estamos tratando do trabalhador eventual. 2 A lei que trata atualmente dos trabalhadores avulsos é a Lei dos Portos, n.º 12.815/2013, e não mais a Lei n.º 8.630/1993. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br Os trabalhadores avulsos são uma categoria específica especialmente (não exclusivamente) integrada por trabalhadores portuários que exercem a sua atividade por intermédio de um órgão que vai gerir as suas atividades, mas não empregá-los. Aporta, por exemplo, um navio no Porto de Santos com uma carga para ser descarregada: o órgão gestor de mão de obra vai informar a quantidade de trabalhadores necessária para o descarregamento e ficará responsável pelo recebimento da respectiva remuneração, repassando-a, posteriormente, aos trabalhadores. E a Lei dos Portos traz quem são esses trabalhadores avulsos. Essa categoria envolve um número cada vez menor de trabalhadores, vez que a nova Lei dos Portos define que os novos portos já podem contratar os trabalhadores como empregados e não como trabalhadores avulsos, até porque a mão de obra do trabalhador avulso acaba sendo bem mais cara. A CRFB/88 equipara em direitos os trabalhadores avulsos aos empregados, nos termos do art. 7º, XXXIV: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Um detalhe importante a ser destacado é que a Lei nº 12.815/2013 (Lei dos Portos) criou um benefício assistencial aos trabalhadores avulsos, por meio da introdução do art. 10- A à Lei n.º 9.719/98: Art. 10-A. É assegurado, na forma do regulamento, benefício assistencial mensal, de até 1 (um) salário mínimo, aos trabalhadores portuários avulsos, com mais de 60 (sessenta) anos, que não cumprirem os requisitos para a aquisição das modalidades de aposentadoria previstas nos arts. 42, 48, 52 e 57 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, e que não possuam meios para prover a sua subsistência. Parágrafo único. O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória.” Contribuinte individual Os contribuintes individuais são os trabalhadores que exercem atividade na forma descrita em uma das alíneas do inciso V do art. 11 da Lei n.º 8.213/91, in verbis: V - como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 9o e 10 deste artigo; (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008) b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa; (Redação dada pela Lei nº 10.403, de 8.1.2002) d) - revogado... e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) Os contribuintes individuais, na verdade, compõem uma categoria que surge da fusão de outras três que haviam anteriormente, que é o autônomo, o empresário e o equiparado a autônomo, sendo todos eles qualificados hoje como segurados contribuintes individuais. Para fins didáticos, entretanto, ainda é interessante trabalharmos com esses conceitos. Os contribuintes individuais têm, em regra, responsabilidade pelo recolhimento de suas contribuições, diferentemente das três categorias que vimos acima, pois o empregado, o empregado doméstico e o trabalhador avulso não têm responsabilidade tributária. Os antigos autônomos, que hoje são qualificados como contribuintes individuais, estão inseridos nas alíneas "g" e "h" do inciso V do art. 11: g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) O que podemos afirmar é basicamente que o contribuinte individual é aquele que trabalha por conta própria, com ou sem relação com qualquer empresa. Na alínea "g" temos o trabalhador que não presta serviços de forma contínua, mas em caráter eventual a uma ou mais empresas. Já na alínea "h", temos o trabalhador que não está prestando serviço para nenhuma empresa, trabalhando sem qualquer relação com empresa. Um advogado, por exemplo, que trabalha em seu escritório prestandoserviço para pessoas naturais se enquadra na alínea "h". Já o mesmo advogado, se estiver representando empresas num ou noutro caso, ele se enquadrará na alínea "g". É importante relembrar que o contribuinte individual é segurado obrigatório da previdência social e está, por conseguinte, obrigado a recolher contribuições. E a diferença básica entre as duas alíneas acima reside justamente na obrigação de recolhimento. Se o contribuinte individual exerce a sua atividade por contra própria, nos termos da alínea "h", será ele o responsável pelo recolhimento de suas contribuições. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 16 www.cursoenfase.com.br Porém, se o seu serviço é prestado a empresa, nos termos da alínea "g", ele não terá responsabilidade tributária, pois é a empresa que terá a obrigação de reter a contribuição na fonte e repassar à previdência social. E isso é muito importante, pois nos casos em que contribuinte individual não tem responsabilidade tributária, ele não terá que provar que as contribuições foram pagas, presumindo-se em seu favor o pagamento das contribuições. E se tais contribuições não foram pagas, isso não é problema do segurado, mas da empresa com a Receita Federal. A esse respeito, veja-se, como exemplo, o teor da súmula n.º 52 da TNU: Súmula 52 da TNU: Para fins de concessão de pensão por morte, é incabível a regularização do recolhimento de contribuições de segurado contribuinte individual posteriormente a seu óbito, exceto quando as contribuições devam ser arrecadadas por empresa tomadora de serviços. Os antigos empresários estão hoje qualificados como contribuintes individuais no art. 11, V, f: f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) É importante observar que a alínea acima diz respeito ao sócio que exerce atividade de gestão na empresa e recebe, por tal atividade, pro-labore. O pro-labore não é o lucro do sócio quotista, mas, como o próprio nome já indica, consiste na remuneração em prol do trabalho que foi exercido. Desse modo, o simples fato de o indivíduo ser sócio de uma empresa não o torna segurado obrigatório da previdência social, sendo necessário que ele exerça atividade remunerada para tanto. Agora cumpre registrar, porém, que mesmo que o sócio não exerça atividade de gestão, será ele segurado obrigatório se desempenhar qualquer outra atividade na empresa pela qual receba remuneração. Do mesmo modo, também é segurado obrigatório da previdência social o síndico de um prédio que recebe remuneração, mesmo que essa remuneração corresponda à mera isenção da cota condominial e essa remuneração deve integrar a folha de pagamento do condomínio. Por outro lado, temos os equiparados a autônomos, que hoje estão descritos nas alíneas "b", "c", "e": b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa; (Redação dada pela Lei nº 10.403, de 8.1.2002) Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 17 www.cursoenfase.com.br d) - revogado... e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) Observe-se que na alínea "e" temos o brasileiro que trabalha no exterior para organismo oficial internacional, que é segurado obrigatório na categoria de contribuinte individual. Se o brasileiro trabalhar no exterior para a União junto a organismo internacional, ele será considerado empregado pela previdência, conforme já estudado acima. Outro grupo interessante de contribuinte individual que devemos comentar é o que está previsto na alínea "a": a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 9o e 10 deste artigo; (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008) Nessa alínea, estamos falando do produtor rural. Mas é o produtor rural proprietário da fazenda que tem pessoas trabalhando para ele ou dono da embarcação onde há pessoas trabalhando para ele. Se eu falar do produtor rural que exerce a atividade de forma diferente da descrita na alínea acima, teremos outra categoria de segurado, que tem tratamento diferenciado determinado pela própria constituição, que são os segurados especiais. Segurado especial Os segurados especiais são os únicos segurados que são mencionados pela própria CRFB/88, que, apesar de não usar esse nome, faz referência a eles em seu art. 195, § 8º: Art. 195 (...) § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) O segurado especial é um segurado que ostenta uma grande importância para o país, sendo justamente por isso que a CRFB/88 conferiu a ele um tratamento diferenciado. É porque esse pequeno produtor é que, em última análise, abastece o mercado interno, sendo necessária, então, a manutenção desses trabalhadores no campo. E de que forma isso é feito? Facilitando a sua aposentadoria, por exemplo. E a contribuição desses segurados não é feita da mesma forma dos outros segurados, devendo ela incidir sobre a sua produção. E se a contribuição incide sobre a produção, não se exige do segurado especial outros requisitos necessários para a aposentadoria, como a carência, que é um número mínimo de contribuições mensais. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 18 www.cursoenfase.com.br E nesse contexto é que o art. 39 da Lei n.º 8.213/91 dispensa os segurados especiais do cumprimenta carência na obtenção dos benefícios previdenciários: Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, fica garantidaa concessão: I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido; ou (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) II - dos benefícios especificados nesta Lei, observados os critérios e a forma de cálculo estabelecidos, desde que contribuam facultativamente para a Previdência Social, na forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade Social. Parágrafo único. Para a segurada especial fica garantida a concessão do salário- maternidade no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos 12 (doze) meses imediatamente anteriores ao do início do benefício. Eles são segurados e estão obrigados a contribuir, mas o acesso aos benefícios não está condicionado a um número mínimo de contribuições. Em vez de cobrar contribuições, cobra-se tempo de trabalho no campo. E é o art. 11, VII, da Lei n.º 8.213/91 que define quem serão os segurados especiais, nos seguintes termos: VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008) a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) 1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) 2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o principal meio de vida; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) Observa-se que o dispositivo acima prevê como segurado especial o agricultor, o pecuarista, o extrativista e o pescador. Mas não são todos os profissionais desses ramos que serão considerados segurados especiais. No caso do agricultor ou pecuarista, as suas atividades devem ser exercidas em uma pequena propriedade rural, de até 4 módulos fiscais. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 19 www.cursoenfase.com.br E o que é um módulo fiscal? É uma medida que vai variar de município para município, dependendo de vários fatores e da vocação de cada um. Ele foi instituído pela Lei n.º 6.749/79 e fixado pela Instrução Especial INCRA 20/80. No Rio de Janeiro e Niterói, por exemplo, um módulo fiscal tem 5 hectares. Em Jutaí, tem 100 hectares. Todos os segurados especiais (o agricultor, o pecuarista o extrativista e o pescador), para assim serem qualificados, devem trabalhar sozinhos ou em regime de economia familiar. E regime de economia familiar encontra-se definido no art. 11, § 1º, da Lei n.º 8.213/91: Art. 11 (...) § 1º Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008). Do conceito acima podemos extrair três características do trabalho em regime de economia familiar: 1) com auxílio de sua família 2) para sua subsistência e 3) sem empregados permanentes. O auxílio da família quer dizer que há um indivíduo segurado especial que desempenha a atividade e que conta com o auxílio de outros membros de sua família. E cada familiar que participa dessa atividade é também considerado um segurado especial. Quanto á segunda característica, é importante salientar que o trabalho para sua subsistência não significa que o agricultor, por exemplo, vai comer o que plantar. Significa apenas que ele irá sobreviver de sua produção, que pode inclusive ser comercializada. Além do mais, não há limitador de renda para o segurado especial, não sendo admissível impingirmos nele um rótulo de pobre/miserável. O segurado especial deve trabalhar também sem a utilização de empregados permanentes. E segundo o art. 11, § 7º, da Lei n.º 8.213/91, não tem empregados permanentes o segurado especial que contrata auxiliares até a proporção de 120 pessoas/dias por ano: Art. 11 (...) § 7o O grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado ou de trabalhador de que trata a alínea g do inciso V do caput, à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados ou, ainda, por tempo equivalente em horas de trabalho, não sendo computado nesse prazo o período de afastamento em decorrência da percepção de auxílio-doença. (Redação dada pela Lei nº 12.873, de 2013) Ou seja, dentro do período de um ano, o segurado especial pode contratar auxiliares, mas obedecendo a proporção de 120 pessoas/dia por ano. Então, se ele contratou apenas uma pessoa, essa pessoa poderá trabalhar para ele por 120 dias. Se ele contratou duas pessoas, essas pessoas poderão trabalhar para ele por 60 dias cada e assim sucessivamente. Se o segurado, porém, ultrapassa essa proporção, ele passará a ter empregados permanentes, tornando-se, por conseguinte, contribuinte individual. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 20 www.cursoenfase.com.br Outra regra interessante que se encontra nos parágrafos do art. 11 é a possibilidade de o segurado especial trabalhar, sem descaracterizar a sua qualidade de segurado especial, por 120 dias por ano em outra atividade. O segurado especial poderá também explorar a atividade de agroturismo, oferecendo sua casa como casa rústica sem perder a condição de segurado especial, desde que isso não ultrapasse 120 dias por ano. O segurado especial pode ainda ter em sua família pessoa que não é segurado especial, sem que com isso seja descaracterizada a sua qualidade de segurado especial. 1.2.1.1.1.2 Segurados facultativos O segurado facultativo está previsto no art. 13 da Lei n.º 8.213/91: Art. 13. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do art. 11. O mencionado dispositivo traz alguns requisitos para que o indivíduo possa se filiar ao RGPS como segurado facultativo. O primeiro deles e mais óbvio é que só pode ser segurado facultativo se não for segurado obrigatório. Outro requisito é o requisito etário, que tem que ser maior de dezesseis anos. Embora esteja na lei a idade de 14 anos, isso deve ser desconsiderado. É que a Lei éde 1991, anterior, portanto, à EC 20, que alterou o limite mínimo para o trabalho de 14 anos para 16. O terceiro requisito é a manifestação da vontade de ser segurado facultativo, por meio da inscrição junto ao INSS, que deve ser ratificada por meio do pagamento da primeira contribuição. Podemos dizer então que a filiação do segurado facultativo ocorre com a inscrição e o pagamento da primeira contribuição. Se um servidor público vinculado a um regime próprio de previdência social não pode ser segurado facultativo do RGPS, tendo em vista o disposto no art. 201, § 5º, da CRFB/88: Art. 201 (...) § 5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) É possível, entretanto, a um trabalhador estar vinculado, ao mesmo tempo, ao RGPS e a um RPPS, mas somente no caso de exercício de atividade que o torne segurado obrigatório. 1.2.1.1.1.3 Período de graça A qualidade de segurado é mantida enquanto o segurado está contribuindo ou trabalhando. Logo, se o indivíduo deixa de trabalhar ou cessa as suas contribuições, perderá ele a sua qualidade de segurado. Essa perda, porém, não ocorre de imediato. O trabalhador continua sendo segurado por um determinado período, mesmo tendo parado de contribuir Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 21 www.cursoenfase.com.br ou de trabalhar. Esse é o chamado período de graça, que é um período de manutenção extraordinária da qualidade de segurado. O período de graça está previsto no art. 15 da Lei n.º 8.213/1991, que traz as seguintes hipóteses: Art. 15. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições: I - sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício; II - até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração; III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória; IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado retido ou recluso; V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar; VI - até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo. § 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado. § 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos de 12 (doze) meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. § 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social. § 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de Custeio da Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados neste artigo e seus parágrafos. O período de graça que mais interessa para prova é o que está no inciso II acima. Esse período aplica-se tão somente aos segurados obrigatórios e não aos segurados facultativos, vez que, no tocante aos facultativos, nós temos o período correspondente que está descrito no inciso VI acima transcrito. Segundo o inciso II, o trabalhador continua a ser segurado pelo período de 12 meses após a cessação das contribuições para o segurado que deixar de exercer atividade remunerada. O § 1º, entretanto, aumenta o período de 12 meses para 24 meses para o segurado que contar mais de 120 contribuições mensais. Já o § 2º prevê um acréscimo de 12 meses ao período de graça do segurado que estiver desempregado. É importante destacar que os §§ 1º e 2º são autônomos, podendo ser aplicados cumulativamente ou individualmente, dependendo da situação de cada segurado. Vamos imaginar um indivíduo que tem mais de 120 contribuições mensais e encontra-se desempregado. Terá ele um período de graça de 36 meses. Agora se o mesmo indivíduo não está desempregado, terá um período de graça de apenas 24 meses. Direito Previdenciário O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 22 www.cursoenfase.com.br Se ele, entretanto, contar, na verdade, apenas 36 contribuições, terá um período de graça de apenas 12 meses, se não estiver desempregado ou um período de graça de 24 meses, se estiver desempregado. Observe-se que o fato gerador da extensão de 12 meses ao período de graça prevista no § 2º é a situação de desemprego do segurado. E para isso, o legislador diz que ele deve comprovar essa condição mediante comunicação ao órgão próprio do Ministério do Trabalho, o que se dá por meio de sua inscrição junto ao SINE. A jurisprudência, entretanto, diz que essa comunicação é apenas um meio de comprovação do desemprego, não se tratando, portanto, de um requisito para extensão do período de graça. É possível então comprovar a qualidade de desempregado por qualquer meio de prova admitida em direito. Nesse sentido, veja-se a súmula n.º 27 da TNU: Súmula 27 da TNU: A ausência de registro em órgão do Ministério do Trabalho não impede a comprovação do desemprego por outros meios admitidos em Direito. Mas o que é importante aqui é o que foi fixado posteriormente à súmula acima pelo STJ, segundo o qual o desemprego nesse caso não é a mera ausência de emprego, mas a ausência involuntária de emprego. E isso não tem nada a ver com o fato de o trabalhador ter sido demitido ou não. Significa dizer que o trabalhador quer emprego, mas não consegue. Então para a prova dessa condição de desempregado, não basta a baixa na CTPS, devendo ser comprovado que a pessoa está sem emprego, mas procurando por trabalho. Os demais períodos de graça são de simples compreensão, bastando uma leitura dos dispositivos acima transcritos.
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