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Apostila Processo Penal I 2015

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DIREITO 
PROCESSUAL PENAL 
VOLUME I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Marcelo Mattar Diniz 
Belo Horizonte (2015) 
 
 
SUMÁRIO 
Propedêutica 01 
Direito de Ação 02 
O Processo e sua Natureza Jurídica 04 
Conceito de Processo Penal 08 
Sistemas Processuais Penais 09 
Princípios Aplicáveis ao Processo Penal 11 
A Lei Processual Penal no Espaço 20 
A Lei Processual Penal no Tempo 21 
Fontes do Direito Processual Penal 23 
Interpretação da Lei Processual Penal 25 
 
INQUÉRITO POLICIAL 
Conceito 27 
Características do Inquérito Policial 30 
Formas de Instauração do Inquérito Policial 31 
Notitia Criminis 32 
Diligências Investigativas 32 
Indiciamento 35 
Relatório 36 
Procedimentos Investigatórios diversos do IP 40 
Poder Investigativo do MP 42 
Outros Procedimentos 43 
 
LEIS ESPECIAIS RELEVANTES 
Lei nº 12.850/2013 (Combate às Organizações Criminosas) 45 
Lei nº 9.296/1996 (Interceptação Telefônica) 48 
 
AÇÃO PENAL 
Pressupostos Processuais 50 
Condições da Ação 51 
Ação Penal Pública e Privada 54 
Ação Penal Popular 58 
Actio Civili ex Delicto 59 
 
PEÇA INAUGURAL DA AÇÃO PENAL 
Denúncia 60 
Aditamento à Denúncia 63 
Queixa-Crime 65 
Recebimento da Denúncia ou da Queixa 65 
Rejeição da Denúncia ou da Queixa 66 
 
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 
Competência Absoluta e Relativa 68 
Competência pelo Lugar da Infração 70 
Competência pelo Domicílio do Réu 72 
Competência pela Natureza da Infração 72 
Competência por Distribuição 73 
Competência por Conexão ou Continência 73 
Prorrogação de Competência 77 
 
Competência por Prevenção 79 
Competência por Prerrogativa de Função 79 
Perpetuação de Competência 81 
Conflito de Competência 82 
Conflito de Atribuição 84 
 
PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA 
Conceito 87 
Prisão Extrapenal 87 
Prisão Penal 88 
Prisão Cautelar 88 
Prisão Especial 91 
Prisão em Flagrante 92 
Prisão Preventiva 97 
Medidas Cautelares Alternativas à Prisão Preventiva 99 
Prisão Temporária 101 
Prisão Domiciliar 102 
Liberdade Provisória com e sem fiança 103 
 
SUJEITOS PROCESSUAIS 
O Juiz 108 
O Ministério Público 111 
O Acusado 122 
O Defensor 123 
Os Auxiliares da Justiça 128 
Os Assistentes 128 
 
ATOS PROCESSUAIS, CITAÇÕES E INTIMAÇÕES 
Conceito 131 
Citação 
Por Mandado 132 
Por Carta 132 
Do Funcionário Público 133 
Do Réu Preso 133 
Por Hora Certa 133 
Por Edital 134 
Intimação 135 
 
QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES 
Questões Prejudiciais 
Prejudicial Obrigatória 136 
Prejudicial Facultativa 137 
Processos Incidentes 
Da Exceção de Suspeição 138 
Da Exceção de Incompetência 139 
Da Exceção de Litispendência e Coisa Julgada 140 
Da Exceção de Ilegitimidade 140 
Da Restituição de Coisas Apreendidas 141 
Do Incidente de Falsidade 142 
 
 
TEORIA DAS PROVAS 
Propedêutica 143 
Princípio da Inadmissibilidade das Provas Ilícitas 144 
Princípio da Publicidade 145 
Princípio da Comunhão ou Aquisição 145 
Princípio do Livre Convencimento Motivado 145 
Princípio da Liberdade Probatória 146 
Princípio da Verdade Real 146 
Das Provas em Espécie 
Do Exame de Corpo de Delito e das Perícias em Geral 146 
Do Interrogatório do Acusado 148 
Do Ofendido 150 
Das Testemunhas 150 
Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas 152 
Da Acareação 153 
Dos Documentos 154 
Dos Indícios 155 
Da Busca e Apreensão 155 
Da Prova Emprestada 157 
 
DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS 
Do Sequestro 158 
Da Hipoteca Legal 159 
Do Arresto 160 
 
PROCESSO E PROCEDIMENTO 
Procedimento Ordinário 163 
Procedimento Sumário 168 
Procedimento Sumaríssimo 169 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
 
Direito Processual Penal 
 
 
 O homem é um ser gregário e como tal vive em sociedade. Mas nem 
sempre vive em harmonia com seu semelhante, pois da sociedade nasce o 
litígio, face à presença de interesses conflitantes. Assim, é necessário que se 
criem regras e normas de comportamento social, que demandam respeito e 
observância. 
 
 Se todos cumprissem as regras, a sociedade seria harmônica e pacífica. 
Mas infelizmente não é isso que acontece. Os conflitos são rotineiros. E 
quando “o sujeito de um dos interesses em conflito encontra resistência do 
sujeito de outro interesse” fala-se em lide. Na famosa lição de Carnelutti, lide é 
o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou 
insatisfeita. 
 
 Fácil identificar tal conflito no ambiente cível. Mévio deve a Tício 
determinada soma e não quer pagar. Temos uma pretensão resistida que dá 
origem à lide. Constata-se então a presença de dois interesses em conflito, um 
interesse subordinante e um interesse subordinado. Um deve prevalecer, 
por estar de acordo com o direito, enquanto o outro lhe deve subordinação, por 
lhe faltar tutela jurídica. No caso, o interesse de Tício é que deve prevalecer, 
prejudicado com a resistência de Mévio. 
 
 Já não é tão simples identificar a lide no Direito Penal. Há aqueles que 
defendem inclusive não existir propriamente uma lide penal, já que não se 
identifica realmente uma “pretensão resistida”. Até porque o Ministério Público, 
órgão responsável pela persecução penal na ação penal pública, tem 
legitimidade para requerer arquivamentos e pleitear absolvições, já que o que 
se pretende é a correta aplicação da justiça. 
 
 Mas entendemos que se pode sustentar a existência de uma lide penal, 
já que, ainda quando reconhecidamente culpado, o acusado na ação penal 
resiste à ação do Estado e luta por sua absolvição. Em regra, não se entrega 
passivamente à pena criminal. Existe assim, de certa forma, uma “pretensão 
resistida”. A lide penal, então, relaciona-se à ideia do jus puniendi versus jus 
libertatis (o direito de punir do Estado em oposição ao direito à liberdade do 
cidadão). 
 
 Em suma, verificado o litígio, sua solução deve ser feita de forma 
pacífica, mas cogente. A solução dada deve alcançar a todos os interessados e 
estes devem respeitá-la. Assim, cabe ao Estado, único ente forte o suficiente 
para fazer respeitar suas decisões, o monopólio de administração da justiça, 
sem embargo de outras formas de composição de litígios, como a Autodefesa 
(como nos casos de retorsão imediata e legítima defesa) e a Autocomposição 
(na forma de concessões mútuas). 
 
 Para a administração da justiça, de modo a manter a segurança da 
ordem jurídica, o Estado se vale do Poder Judiciário, órgão responsável por 
dirimir os conflitos de interesse, sempre que não for possível solução pacífica. 
2 
 
 
 Assim, se o cidadão sofre uma lesão em seu direito e o Estado possui o 
monopólio da força, deve o cidadão possuir meios de reclamar do Estado-Juiz 
a efetiva prestação jurisdicional, a efetiva solução do conflito. Na lição de 
Tourinho Filho, a esse “direito de invocar a garantia jurisdicional” se denomina 
direito de ação. 
 
 Diversas teorias buscam explicar a natureza do direito de ação. 
Enumeramos as principais: 
 
A ação como direito imanente: Originária do direito romano, via no direito de 
ação o próprio direito material em movimento, sempre que lesado ou 
ameaçado. Esta visão acaba por retirar do direito processual a natureza de 
ciência autônoma, já que a ação era vista como a simples movimentação do 
direito material, sem qualquer independência. Em suma, na lição de Grinover, 
“não há ação sem direito e não há direito sem ação”. 
 
A ação como direito concreto: Reconhece a autonomia dodireito de ação em 
relação ao direito material. Mas Wach defendia que somente haveria direito de 
ação se existisse uma proteção concreta vinculada a um direito subjetivo, ou 
seja, somente haveria direito de ação se a parte interessada realmente fosse 
titular de um direito violado. Tal teoria é obviamente insatisfatória, já que não 
prevê a hipótese em que o pedido for julgado improcedente após a regular 
tramitação da ação judicial. Nesta hipótese, obviamente a ação existiu, mas o 
direito não. 
 
A ação como direito potestativo: Chiovenda defendia uma variante da ação 
como direito concreto, no sentido de que não exigia para o reconhecimento do 
direito de ação a existência de um direito subjetivo, mas sim um direito oriundo 
de uma “relação de poder”, no caso, a faculdade de provocar certos efeitos 
jurídicos em determinados casos sem que outros pudessem se opor, 
condicionada à vontade de seu titular. Assim, ainda que sem possuir direito 
subjetivo, o autor da ação poderia provocar consequências jurídicas, dando 
início à ação à qual o réu estaria sujeito. Nesta relação de poder, a ação seria 
ajuizada contra o réu e não contra o Estado, em um caráter eminentemente 
privado. 
 
O conceito de ação como direito potestativo sofre óbvias limitações. A princípio, 
o exercício do direito está condicionado à presença das condições da ação e 
não apenas à vontade do autor. E em segundo lugar, o réu sempre pode, por 
óbvio, resistir à pretensão do autor, o que não seria possível se a relação fosse 
de sujeição à vontade deste, como se pretende. Mas não se pode esquecer 
que o réu, em regra, não tem como evitar o ajuizamento de ação penal em seu 
desfavor pelo titular do direito de ação. Existe, pois, uma certa relação de 
poder. 
 
A ação como direito abstrato: A ação seria um direito público exercido contra 
o Estado em face da pessoa do réu. Diferencia o direito material (o direito 
subjetivo possuído pelo autor) do direito público de pedir ao Estado a prestação 
jurisdicional através de uma sentença. Desvincula, como visto, o direito 
material do direito de ação. 
3 
 
 
A ação como categoria eclética: Liebman buscou criar uma teoria mista, que 
contemplasse elementos das demais teorias. Associa o direito de ação ao 
direito ao julgamento do mérito, tendo o autor direito a uma sentença, favorável 
ou não. Percebeu, contudo, que sua noção abstrata do direito de ação possuía 
limitações em seu exercício, subordinado a determinadas condições, que 
servem de vínculo entre a ação e o direito material: interesse, possibilidade 
jurídica do pedido e legitimidade de parte. A Teoria de Liebman entende que a 
ação é autônoma em relação ao direito material e abstrata em relação ao 
resultado da demanda, mas considera que sem a presença das condições da 
ação não terá, na verdade, havido ação. Assim, mostra-se incoerente, já que 
na verdade, no seu pensamento, a existência do direito de ação vincula-se ao 
resultado da demanda, não sendo abstrato, como sustenta, mas concreto, em 
um “concretismo dissimulado”, como alerta Calmon de Passos. Todavia, como 
se entende modernamente, a ausência de condições da ação leva à extinção 
do feito sem julgamento do mérito (art. 267, VI do CPC) ou à rejeição da peça 
inaugural (art. 395, II do CPP) e não à consideração de carência de ação. 
Assim, a incoerência de Liebman se faz clara, já que para que se reconheça a 
existência da ação, no seu entender, deve-se alcançar a decisão de mérito ou 
não terá havido ação. 
 
A teoria da Asserção, defendida por José Carlos Barbosa Moreira, parte do 
pressuposto de que o direito de ação sempre existirá, ainda que não exista um 
direito material correspondente, já que a ação é autônoma em relação ao 
direito. Mas o exercício do direito de ação subordina-se à presença das 
condições da ação. Assim, a teoria da asserção prega que uma vez ajuizada a 
demanda, o juiz deve analisar a presença das condições da ação partindo do 
pressuposto de que as alegações constantes da inicial são em tese verídicas 
(daí a nomenclatura “asserção”, que significa assertiva, afirmação, ou seja, o 
juiz deve confiar nas afirmações feitas pelo autor, sem adentrar no mérito 
nesse momento, presumindo-as verdadeiras). Não faz nenhum juízo cognitivo 
ou valorativo do pedido, já que a instrução probatória fica para momento 
posterior. Logo, apurado que se trata de pedido juridicamente possível feito por 
parte legítima e que possui real interesse na solução da lide, deve dar 
andamento ao processo, produzindo as provas correspondentes. No final, deve 
julgar o mérito, já que a ação se desenrolou naturalmente. Caso entenda que o 
demandante não possui o direito pleiteado, decide pela improcedência do 
pedido e não pela carência de ação, como prega a teoria eclética. 
 
A teoria da asserção encontra grande aceitabilidade, até porque se mostra 
correta em pontos relevantes: separa o direito de ação do direito material e 
reconhece o direito de ação mesmo a quem não possui o direito subjetivo. 
Demonstrado que o autor não possui o direito pleiteado, este não é carecedor 
de ação, já que os direitos são autônomos. O pedido é que deve ser julgado 
improcedente. 
 
 Como visto, o direito de ação possui as seguintes características: 
 
- É de caráter público, já que exercido contra o Estado, para que este preste 
jurisdição. 
4 
 
 
- Tem caráter subjetivo, já que a parte possui o poder de pleitear ao Estado 
a prestação jurisdicional. 
- É instrumental, pois é o meio, o instrumento pelo qual se obtém a solução 
dos conflitos. 
- É autônomo em relação ao direito material, pois independente da real 
existência do direito pleiteado. 
- É específico, pois possui objeto próprio, vinculado ao pedido, à pretensão. 
- É abstrato, pois independe da presença efetiva do direito pleiteado, 
cabendo ressaltar que em direito penal é necessário um mínimo suporte 
probatório, como justa causa para o exercício da ação penal. 
- É incondicionado, pois o direito independente de qualquer requisito. Seu 
exercício é que se subordina às condições da ação. O direito existe. Seu 
efetivo exercício, contudo, sofre limites. 
- É genérico, pois vários são os direitos possíveis, mas a ação objetiva 
unicamente a prestação jurisdicional, a resposta do Estado à lide que lhe é 
apresentada. 
 
 Por sua vez, o Estado efetivamente presta jurisdição e soluciona a lide 
através do processo, um conjunto de atos ordenados e concatenados, 
realizado em contraditório, que estabelece uma relação jurídica entre as partes, 
seus direitos e deveres, buscando a solução do litígio de forma pacífica, justa e 
imparcial. Assim, o processo, na lição de Pacelli, brilhante em sua simplicidade, 
é o instrumento pelo qual se exerce a jurisdição. 
 
 Processo nos traz exatamente essa ideia de sequencialidade, de atos 
concatenados e ordenados, até porque, em sentido etimológico, a palavra 
processo significa “avançar”, “seguir em frente”. Diferencia-se de procedimento¸ 
que na verdade é uma espécie de processo, caracterizado por uma sequência 
lógica de atos específicos na qual o processo se desenvolve e que pode variar 
segundo o rito adotado (procedimento do júri, procedimento dos crimes contra 
a honra, etc.). 
 
 Várias, por sua vez, são as teorias que tentam explicar a natureza 
jurídica do processo. Novamente enumeramos as principais: 
 
Teorias Privatistas: 
 
O processo como contrato: Originária da litiscontestatio do Direito Romano, 
na criação de Ulpiano (as partes se submetem voluntariamente ao processo e 
aos seus resultados através de um verdadeiro negócio jurídico de direito 
privado), enxerga o processo como um ato de natureza privada, relação 
particular entre as partes, não havendo interesse do Estado na solução dos 
litígios. As próprias partes levariam a questão a um árbitro, submetendo-se 
voluntariamenteaos seus resultados, em mero acordo de vontades, de forma 
consensual, sem um Estado que imponha suas decisões e se sobreponha à 
vontade das partes. Nota-se que o direito processual era visto pelos romanos 
como ramo do direito privado. Fortemente difundida na França dos séculos 
XVIII e XIX. 
 
5 
 
 
O processo como quase-contrato: Evolução do pensamento anterior, 
reconhece que o processo não pode ser visto simplesmente como um contrato 
entre as partes, embora crie direitos e obrigações. Todavia, uma vez que 
mantém como base o pensamento romano, surge um impasse, já que o Direito 
Romano previa como fonte de obrigações somente quatro situações distintas: o 
contrato, o quase-contrato, o delito e o quase delito. Assim, por exclusão (como 
o processo não é um contrato, nem um delito, nem um quase-delito), definiu-se 
que o processo é um quase-contrato, figura próxima ao contrato, sem sê-lo. 
Além da estranheza de se definir a natureza jurídica de um instituto por 
exclusão, a teoria peca por ignorar outras fontes de obrigações já reconhecidas 
doutrinariamente, como a lei e a equidade, presentes inclusive no Código 
Napoleônico. 
 
Teorias Publicistas: 
 
O processo como relação jurídica: Difundida na obra “Teoria dos 
Pressupostos Processuais e das Exceções Dilatórias” de Oskar Von Bülow, 
baseou-se na total separação entre o direito material e o direito processual, 
reconhecendo-se a autonomia do processo em relação ao direito subjetivo. 
Define o processo pela relação entre as partes, autor, juiz e réu, havendo entre 
estes direitos e obrigações, o que se mostra correto, mas não tratou do 
contraditório, o que é visto como uma falha pela doutrina. Ademais, sofre 
críticas de alguns autores, que não consideram o processo como relação 
jurídica. Para Goldschmidt, a relação jurídica é apenas o objeto do processo e 
não o processo em si mesmo. 
 
O processo como situação jurídica: Goldschmidt afirmava que existe 
somente uma relação jurídica, a do direito material. O processo, então, seria 
um conjunto de situações jurídicas que conferiam às partes direitos, deveres, 
faculdades, sujeições e ônus. Ignora, contudo, a existência da relação 
processual entre as partes. 
 
O processo como serviço público: O processo seria simplesmente um 
serviço público prestado pelo Estado, como tantos outros, já que possui um 
caráter público. Como visto, tal teoria nada define, nada explica, apenas limita 
as normas processuais como simples prescrições para se alcançar uma 
finalidade, como diz Carreira Alvim. 
 
O processo como instituição: Jaime Guasp e Eduardo Couture definiam o 
processo como uma instituição, o que se mostra estranho, já que o conceito de 
instituição advém da sociologia e não do direito. Baseia-se na premissa de que 
o processo não é constituído por uma única relação jurídica, mas por uma 
miríade de relações que encontra unidade na ideia de instituição, vista como “o 
conjunto de atividades relacionadas entre si por um vínculo comum, que seria a 
satisfação das pretensões”. 
 
O processo como procedimento em contraditório: Como o próprio nome 
sugere, o processo seria um procedimento produzido em contraditório. Logo, o 
que diferencia o processo dos demais procedimentos seria justamente o fato 
de ser produzido em contraditório, com igualdade de condições entre as partes. 
6 
 
 
O problema de tal teoria repousa no abandono da ideia da relação jurídica 
como elementar do processo. 
 
O processo como categoria complexa: Dinamarco define o processo como 
uma categoria complexa, já que se trata de um procedimento em contraditório 
caracterizado por uma relação processual. O processo então teria dois 
aspectos: um externo, referente ao procedimento em contraditório, e um 
interno, referente à relação processual. As críticas a tal teoria prendem-se à 
separação do conceito em duas partes, em detrimento da unidade conceitual. 
 
O processo como categoria jurídica autônoma: O professor carioca Afrânio 
Silva Jardim sustenta que o processo deve ser entendido como uma categoria 
autônoma dentro da teoria geral do direito. Deve ser encarado simplesmente 
como um “processo”, alheio aos demais conceitos. Humberto Dalla também 
segue tal linha de pensamento. 
 
O processo como garantia fundamental: O professor André Nicolitt vincula o 
processo ao exercício e à proteção das garantias fundamentais trazidas na 
Constituição. Considera o processo autônomo na teoria geral do direito e 
criador de regras próprias para seu exercício, aceitando em parte as ideias de 
Afrânio Silva Jardim. Conceitua Autonomia como “o direito de se reger por suas 
próprias leis, a faculdade de se governar por si mesmo”, sempre respeitando, 
por óbvio, a soberania constitucional. Assim, define o processo, em sua 
essência, como uma garantia fundamental do cidadão, até porque a própria CF 
prevê expressamente o due process of law como direito fundamental. 
 
 Como visto, as várias teorias partem de ideias privatistas ou publicistas e 
denotam diferentes visões de mundo. Mas se pode concluir que o processo, 
como qualquer fenômeno jurídico, encerra uma relação social, especificamente 
entre as partes e o Estado-Juiz, regulada e organizada por normas jurídicas 
emanadas do Estado como instituição. 
 
 Tratemos, pois, da chamada relação processual, visto que não se nega 
a existência de uma relação jurídica entre o autor, o réu e o Estado-Juiz. A 
questão repousa na natureza de tal relação. Assim, três teorias se destacam, 
visando explicar a formação da relação processual: 
 
A relação processual linear reconhece a existência de uma relação somente 
entre autor e réu, excluindo-se o juiz, estranho à relação processual. De óbvio 
caráter privado, considera apenas a relação entre as partes, ignorando a 
relevante função do juiz no desenvolvimento do processo. 
 
A relação processual angular reconhece a existência de uma relação entre 
as partes e o juiz, mas não entre as partes. Assim, haveria uma relação 
processual entre o autor e o juiz e entre o réu e o juiz, inexistindo relação 
processual entre autor e réu. Admite a importância do juiz no desenvolvimento 
do processo, mas ignora a existência de faculdades, ônus e sujeições entre as 
partes. A relação teria início de modo linear, entre autor e juiz, com a 
propositura da demanda. Com a citação do réu, surgiria nova relação, desta 
feita entre réu e juiz. 
7 
 
 
A relação processual triangular reconhece a existência de um vínculo entre 
as partes e também entre as partes e o juiz. Reconhece a relação entre as 
partes em atenção a algumas prerrogativas e exigências processuais a que 
não se pode negar existência. A título de exemplo: o dever de lealdade, a 
possibilidade de transigirem em direitos disponíveis e a possibilidade de, em 
comum acordo, promoverem a suspensão do processo. 
 
Os defensores da teoria angular criticam a teoria triangular pelo fato de que 
qualquer providência entre as partes está sempre condicionada ao controle do 
juiz, não tendo as partes real autonomia decisória. 
 
Características da relação processual: 
 
- É autônoma em relação ao direito material. 
- Possui um caráter público, já que o processo é exercido perante uma 
autoridade pública investida de jurisdição, poder conferido pelo Estado. 
- Caracteriza-se pela unidade, já que os diversos atos complexos que o 
compõem visam a um único fim, a prestação jurisdicional. 
- É caracterizada pela progressividade, em uma sequencialidade de atos 
que visam à obtenção da prestação jurisdicional. 
- Caracteriza-se pela complexidade, já que confere às partes diversos 
direitos, deveres, ônus, faculdades e sujeições, permitindo que as partes 
ora assumam uma posição de vantagem, ora de desvantagem no 
processo, independente da relação de direito material. 
 
8 
 
 
Conceitode Processo Penal 
 
 O Direito Processual Penal é o ramo do direito público que estuda o 
conjunto de normas ditadas pela lei para a aplicação do direito penal na esfera 
judiciária, visando à apuração do delito e o exercício do jus puniendi estatal. 
 
 O jus puniendi estatal, por sua vez, surge com a promulgação da lei 
penal, fazendo nascer o direito de punir os infratores no plano abstrato, 
hipotético. 
 
 Mas é com a efetiva prática do fato definido como crime, com a efetiva 
violação da lei penal é que surge o jus puniendi em concreto, fazendo nascer, 
pois, a pretensão punitiva do Estado, permitindo-lhe o ajuizamento de ação 
penal em desfavor do autor do fato, submetendo-o à sanção correspondente. 
 
 A pretensão punitiva estatal, portanto, nada mais é do que o exercício do 
jus puniendi no mundo real, após violado o texto legal. 
 
9 
 
 
Sistemas Processuais Penais 
 
 
Sistema Inquisitorial (ou inquisitivo): Originário no direito canônico, foi 
empregado principalmente até o século XVIII, inclusive pelos tribunais civis. 
Caracteriza-se pela concentração das funções de investigar, acusar, defender 
e julgar em uma só pessoa, o que compromete, por óbvio a imparcialidade. 
Prevê a figura do juiz inquisidor, com ampla iniciativa probatória. 
 
As funções de acusar e julgar são nitidamente incompatíveis, já que o acusador 
forma um juízo de convicção que irá inevitavelmente influir na formação do 
processo decisório, perdendo a imparcialidade e a objetividade na análise da 
prova. A concentração de poderes impede absolutamente a existência do 
contraditório. 
 
O sistema inquisitorial foi formulado na premissa de que é possível a absoluta 
reconstituição dos fatos e descoberta da verdade real, motivo pelo qual o 
inquisidor possui a prerrogativa de produzir a prova que desejar. Sistema 
rigoroso e totalitário, de caráter sigiloso, incompatível com o modelo 
democrático de sociedade. 
 
Sistema Acusatório: Notabiliza-se pela presença de partes distintas e pela 
divisão de poderes. Assim, os atos de acusar, defender e julgar são praticados 
por pessoas diversas, evitando-se a concentração de poderes. Acusação e 
defesa atuam em igualdade de condições (paridade de armas), possibilitando o 
pleno exercício do contraditório. 
 
Caracteriza-se pela publicidade de seus atos e pela oralidade, aplicando-se o 
princípio da presunção de não-culpabilidade (tratado por grande parte da 
doutrina como presunção de inocência). Como regra, o réu permanece solto 
durante o processo, salvo necessidade cautelar de privação da liberdade. 
 
A iniciativa probatória deve ser deixada para as partes, não tendo o juiz o poder 
de determinar de ofício a produção de provas, visando preservar sua 
imparcialidade. A função do juiz é de garantia. Prevê inclusive o 
questionamento direto das testemunhas e do acusado. 
 
O Brasil adotou o sistema acusatório. A iniciativa da prova é da parte, o que 
não impede o juiz de aperfeiçoar a prova visando à formação do próprio 
convencimento, a título de exemplo, inquirindo testemunhas não arroladas 
pelas partes, mas referidas no processo (art. 209 CPP), ou determinando 
diligências quanto a fato ou documento já existente, como perícias ou laudos 
complementares. 
 
O sistema processual brasileiro é acusatório. O inquérito policial não faz parte 
do processo, tratando-se apenas de um procedimento administrativo de cunho 
investigatório que visa à formação do convencimento do titular da ação penal. 
Pode-se afirmar, assim, que nosso país possui um sistema pré-processual de 
natureza inquisitiva e um sistema processual acusatório. 
 
10 
 
 
Na fase pré-processual a iniciativa probatória é da autoridade policial e do 
Ministério Público. Não deve o juiz determinar de ofício diligências visando à 
apuração dos fatos, servindo apenas como juiz de garantias, atuando nas 
hipóteses de reserva de jurisdição (sigilo telefônico, bancário, etc.). O juiz 
sequer pode decretar prisão preventiva de ofício nessa fase (o que lhe é 
permitido na fase processual), mas apenas se a requerimento da presidência 
do IP ou do Parquet. 
 
Mas não se pode afirmar que o Brasil adote um sistema acusatório puro, já que 
ainda existem resquícios no CPP original, de clara inspiração fascista, de 
institutos do sistema inquisitivo, onde vigorava a presunção de culpabilidade 
(razão pela qual, na redação original do CPP, o réu devia permanecer preso 
durante a instrução, caso caracterizada situação de flagrância). Tais institutos, 
contudo, devem ser interpretados à luz da constituição, vedando-se a iniciativa 
da prova pelo órgão julgador. 
 
Sistema Misto ou Francês: O sistema inquisitorial foi amplamente difundido 
na Europa até o século XVIII, quando sofreu limitações principalmente pela 
promulgação do Código Napoleônico, onde se buscou a fusão dos sistemas 
inquisitivo e acusatório. 
 
A razão da nomenclatura “sistema misto” prende-se ao fato do processo se 
dividir em duas fases distintas: a primeira de caráter inquisitorial, escrita e 
sigilosa, sem acusação formal (e por isso sem contraditório). A segunda de 
caráter acusatório, com acusação formal e divisão de funções (acusar, 
defender e julgar), caracterizando-se pela publicidade e oralidade. 
 
11 
 
 
Princípios Aplicáveis ao Direito Processual Penal 
 
 
 Por princípio, na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, entende-se 
“o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição 
fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito 
e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente 
por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere 
a tônica e lhe dá sentido harmônico”. 
 
 Assim, “violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma 
norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico 
mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos”. 
 
 Em dizeres mais simples, Tourinho Filho define os princípios como “os 
postulados fundamentais que informam o conteúdo das normas regentes do 
processo em seu conjunto”. 
 
 Em processo penal, podemos enumerar diversos postulados desta 
natureza, todos relevantes para exata compreensão da matéria, dentre os 
quais se destacam: 
 
Verdade Real: O norte do processo penal, seu objeto principal, é a descoberta 
da verdade dos fatos. Assim, a iniciativa probatória do juiz no processo penal 
sofre menos limites que no processo civil, desde que garantida, por óbvio, a 
imparcialidade, já que a produção de provas pelo juiz tem sempre natureza 
complementar ou estaria substituindo a acusação. Mais correto, contudo, é se 
falar em verdade processual, já que sempre se está adstrito às provas 
existentes nos autos. 
 
A tendência, contudo, é a limitação da produção da prova pelo juiz. A título de 
exemplo, o art. 3º da Lei nº 9.034/95 que autorizava o juiz a produzir prova 
diretamente no caso de crime envolvendo organização criminosa foi 
considerado inconstitucional pelo STF na ADI 1570. O inquérito judicial dantes 
previsto para os crimes falimentares não mais existe. O juiz, como regra, não 
preside investigações, salvo quando o fato envolve outro juiz, como previsto na 
LOMAN: “Art. 33 – São prerrogativas do magistrado: (...) Parágrafo único - 
Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte 
do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos 
autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de 
que prossiga na investigação”. 
 
Na verdade, o que se contesta é justamente a iniciativa probatória do 
magistrado, não podendo o juiz agir de ofício na coleta de provas. Mas nada 
impede que o juiz procure aperfeiçoar a prova existente nos autos 
(determinando, por exemplo,perícias em documentos existentes ou em locais 
de crime) ou ouvindo ex officio testemunhas referidas pelas partes. Nas 
hipóteses citadas, a prova não chegou aos autos por iniciativa do juiz, mas da 
parte. Este apenas a aperfeiçoa, em busca da verdade dos fatos. 
 
12 
 
 
Publicidade: O processo e os atos processuais são em regra públicos. O sigilo 
é a exceção, somente justificado por razões de interesse público ou quando a 
divulgação dos fatos possa causar constrangimento à vítima, como nos crimes 
sexuais. O segredo de justiça impede o acesso à informação de pessoas 
estranhas ao fato. 
 
Assim, a publicidade pode ser interna, quanto os atos são levados ao 
conhecimento apenas das partes e seus advogados, o que inclusive permite o 
contraditório, ou externa, quando os atos são levados ao conhecimento de 
todos. 
 
Não se olvide, porém, que no caso do Tribunal do Júri, o sigilo das votações é 
garantia constitucional (art. 5º, inciso XXXVIII da CF). 
 
O inquérito policial, por sua vez, é normalmente sigiloso, na forma do art. 20 do 
CPP (A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do 
fato ou exigido pelo interesse da sociedade). Tal sigilo, todavia, não se estende 
para o advogado, desde que as informações em questão já tenham sido 
formalizadas no IP. 
 
Vide Súmula Vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do 
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados 
em procedimento investigativo realizado por órgão com competência de polícia 
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 
 
Devido Processo Legal (“Due Process of Law”): De expressa previsão 
constitucional, no art. 5º, inciso LIV (ninguém será privado da liberdade ou de 
seus bens sem o devido processo legal), constitui um direito constitucional de 
garantia, impedindo o Estado de impor pena ou medida de segurança sem o 
cumprimento dos trâmites processuais previstos em lei. Oferece, em suma, 
duas garantias: 
 
a) A parte tem o direito de conhecer previamente as regras e procedimentos a 
que estará sujeita durante o trâmite processual. 
 
Tal garantia se caracteriza pela razoabilidade: a Convenção Americana de 
Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica, prevê que o réu tem 
direito à duração razoável do processo, evitando-se a eternização do feito e 
a manutenção do cidadão indefinidamente na condição de acusado. Tal 
instituto foi expressamente incluído no texto da CF/88 pela Emenda 
Constitucional nº 45/2004, em seu art. 5º, inciso LXXVIII: a todos, no 
âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do 
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 
 
E pela proporcionalidade: impede a existência de normas excessivas ou 
desproporcionais, passíveis de controle de constitucionalidade, como na 
antiga previsão da Lei de Segurança Nacional – DL 314/67, que 
determinava o afastamento imediato de cargo público por ocasião do 
recebimento da denúncia, medida considerada inconstitucional na ADI 
1158-8. 
13 
 
 
b) É vedada a privação da liberdade ou do patrimônio sem um processo justo 
(fair trial) e imparcial. 
 
Presunção de Não-Culpabilidade (ou Presunção Relativa de Inocência) 
 
 Também previsto constitucionalmente, no art. 5º, inciso LVII, com o 
seguinte texto: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória”, possui extensa base histórica, notabilizando-se 
pela extrema relevância em um regime democrático. 
 
Desde a obra Dos Delitos e das Penas de Cesare Bonesama, o Marquês de 
Beccaria, em 1764, já se recomendava a impossibilidade de antecipação da 
culpa, devendo o imputado ser tratado como inocente até decisão final: “um 
homem não pode ser chamado réu antes da sentença do juiz e a sociedade só 
lhe pode retirar a proteção pública após ter decidido que ele violou os pactos 
por meio dos quais ela lhe foi outorgada”. 
 
A Declaração Universal de Direitos Humanos, aprovada pela assembleia da 
ONU em 1948, prevê em seu artigo 11, repetindo recomendação já constante 
na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a 
seguinte premissa: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se 
presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo 
com a lei e em processo público no qual se asseguram todas as garantias 
necessárias para sua defesa”. 
 
Dispositivo análogo é encontrado na Convenção Americana de Direitos 
Humanos – Pacto de San José da Costa Rica, de 1969: “Toda pessoa acusada 
de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se 
comprove legalmente sua culpa”. 
 
O texto constitucional brasileiro, no entanto, não fala em “inocência” nem usa a 
palavra “inocente”. Embora não se veja diferença relevante em “não se 
considerar culpado” e “ser presumidamente inocente”, entendemos que o mais 
correto é tratar tal princípio como Presunção de Não-Culpabilidade, em respeito 
ao texto da carta magna. 
 
Por óbvio, havendo necessidade cautelar da medida, a prisão preventiva não 
viola o princípio da presunção de inocência, já que o que se busca satisfazer é 
o direito de cautela da sociedade para situações específicas, as chamadas 
“garantias” (garantia da ordem pública e da ordem econômica; garantia da 
aplicação da lei penal e conveniência da instrução criminal). 
 
A boa doutrina sustenta que dois são os elementos constitutivos do princípio da 
não-culpabilidade: a regra probatória, segundo a qual o ônus da prova pertence 
ao órgão acusador, não podendo o réu ser compelido a produzir prova contra si 
mesmo, e a regra de tratamento, segundo a qual ninguém pode ser tratado 
como se culpado fosse até sentença final, o que impede, inclusive, a execução 
provisória da pena, salvo se benéfica ao imputado. 
 
14 
 
 
Princípio do Contraditório: No processo penal, a parte tem pleno direito de 
acesso à prova produzida pela parte contrária, podendo inclusive produzir 
contraprova, com base no princípio da paridade de armas. 
 
Também de expressa previsão constitucional, no art. 5º, inciso LV: “aos 
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela 
inerentes”. 
 
Não basta, todavia, em processo penal, o direito de acesso e de reação à 
prova contrária. É necessária a presença de um defensor que proceda a uma 
defesa real, de modo efetivo, com teses jurídicas coerentes, sob pena de 
nulidade. Uma defesa meramente formal pode inclusive levar à nulidade do 
processo, nos termos da Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta da 
defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se 
houver prova de prejuízo para o réu”. 
 
O entendimento dominante na doutrina e na jurisprudência, com o qual 
comungamos, é que não há contraditório na fase do inquérito policial, já que 
não existe acusação formal. Todavia, possui o investigado direito de acesso 
aos autos já formalizados, como determina a Súmula Vinculante nº 14, nada 
impedindo que possa ainda sugerir diligências investigativas à autoridade 
policial, que pode ou não realizá-las, à sua conveniência, nos termos do art. 14 
do CPP: “O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão 
requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade”. 
 
Princípio da Ampla Defesa: A ampla defesa no processo penal compreende a 
autodefesa e a defesa técnica. Como o próprio nome sugere, a autodefesa ou 
defesa direta, compreende aquela procedida pelo próprio réu na oportunidade 
em que é instado a apresentar sua versão, no interrogatório. Como tal, é 
renunciável, já que o réu possui o direito ao silêncio. 
 
A defesa técnica, por sua vez, é irrenunciável. É chamada técnica porque é 
exercidapor profissional habilitado para tanto, advogado inscrito na OAB ou 
Defensor Público. Além de técnica, deve ser efetiva, a teor do disposto na 
Súmula 523 do STF, já citada. 
 
Não há defesa na fase do inquérito policial, já que não existe acusação formal, 
o que não impede o investigado de sugerir diligências à autoridade policial, nos 
termos do art. 14 do CPP. 
 
A defesa deve ser o mais ampla possível, o que já levou o STF a decidir, em 
certos casos, até mesmo pela aceitação de provas obtidas por meios ilícitos 
para prova da inocência do réu, face ao princípio da proporcionalidade, com 
base no equilíbrio de valores fundamentais oponentes. A hipótese ajusta-se à 
excludente de ilicitude do Estado de Necessidade (quando não existe outro 
meio para proteger um bem jurídico senão em face do sacrifício de outro), o 
que justificaria a obtenção da prova da inocência por meios ilícitos quando não 
houver outra forma de se chegar à prova. 
 
15 
 
 
Discute-se se a ampla defesa inclui o direito de mentir. Com a devida vênia, 
discordamos de tal entendimento. O fato de não haver previsão legal em nosso 
ordenamento jurídico do crime de perjúrio não transfere automaticamente ao 
réu o direito à mentira. Não pode a lei incentivar um comportamento antiético e 
imoral. Seria como afirmar que o réu possui um direito à fuga, já que não há 
criminalização de tal conduta, salvo se com violência. Assim, da mesma forma 
que não há um direito à fuga, também não existe um direito à mentira. Inclusive 
se o réu acusar falsamente terceiro, imputando-lhe fatos de que o sabe 
inocente, responderá por Denunciação Caluniosa, nos termos do art. 339 CP. 
 
O réu também possui direito de presença. Tem o direito de comparecer à 
formação da prova. Mas tal lógica comporta exceções. Pode ser retirado da 
sala de audiência se sua presença influir no depoimento da testemunha, 
causando-lhe constrangimento ou temor. Também pode ser retirado da sala de 
audiência caso se porte de modo inconveniente. Seu defensor, por óbvio, 
permanece. 
 
Princípio do Favor Rei: Trata-se de um princípio que orienta a interpretação 
da lei processual penal, devendo-se privilegiar o status libertatis do indivíduo 
em detrimento do jus puniendi estatal. Mostra-se básico em um regime 
democrático onde se reconheça a liberdade e a autonomia do ser humano. 
Vários são os institutos constantes em nossa legislação que atendem a tal 
premissa, como no caso de recursos exclusivos da defesa (embargos 
infringentes), ações privativas da defesa (revisão criminal), presunção de não-
culpabilidade, direito ao silêncio, interrogatório como meio de defesa e não 
apenas de prova, dentre outros. Donde se conclui que a propalada paridade de 
armas não existe de modo absoluto, já que a defesa possui prerrogativas 
exclusivas. 
 
Remonta à dignidade da pessoa humana e ao tratamento do réu, no sistema 
acusatório, como sujeito de direitos e não mero objeto do processo. Assim, não 
tem o réu de provar sua inocência, devendo o acusador demonstrar sua 
culpabilidade. 
 
Princípio da Imparcialidade do Juiz: O juiz, como órgão decisor, deve 
manter-se equidistante das partes, neutro em relação à prova e imparcial. Em 
caso de suspeita de imparcialidade, é passível inclusive de arguição de 
suspeição (art. 254 do CPP, por questão subjetiva), ou de impedimento (art. 
252 do CPP, por critérios objetivos), sendo possível ainda a exceção de 
incompatibilidade, nos termos do art. 112 do CPP, por motivo genérico. 
 
Princípio da Identidade Física do Juiz: Trata-se de novidade no direito 
processual penal, introduzido pela Lei nº 11.719/2008. Preceitua que o juiz que 
concluir a instrução deve sentenciar o processo, salvo nas hipóteses do art. 
132 do CPC, aplicado analogicamente: “o juiz, titular ou substituto, que concluir 
a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por 
qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao 
seu sucessor”. 
 
16 
 
 
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição: Constitui, de modo simplificado, o 
direito ao recurso, autorizando aquele que teve provimento jurisdicional 
desfavorável a manifestar seu inconformismo perante superior instância. Por 
óbvio, em crimes de competência originária do STF não há tal possibilidade, já 
que não existe “superior instância”. A respeito, editou-se a Súmula 704, com a 
seguinte redação: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do 
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-
réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”, reafirmada no 
julgamento do chamado “Mensalão”. 
 
Princípio do Juiz Natural: Por juiz natural entende-se o juiz constitucional, 
previsto como competente para processo e julgamento de determinados 
crimes. Não se confunde com a competência territorial. A título de exemplo, o 
juiz de uma das varas criminais de Belo Horizonte é competente para julgar 
crimes comuns ocorridos nesta capital, mas a definição de qual será o órgão 
julgador depende das regras de organização judiciária locais. 
 
Corolário da proibição do juízo ou tribunal de exceção, nomeado ou instituído 
após o fato com a finalidade de julgá-lo. Assim, somente o órgão previamente 
constituído e investido de jurisdição é competente para processo e julgamento. 
 
Quanto ao princípio do Promotor Natural, tal entendimento ainda não encontra 
completa aceitação no STF, já que o Ministério Público é uno e indivisível. A 
doutrina, no entanto, é unânime na proibição de designação casuística de 
promotor para caso específico. 
 
Princípio da Iniciativa das Partes (“Ne procedat iudex ex officio”): O poder 
judiciário deve ser provocado para que preste jurisdição, sendo-lhe vedado 
atuar de ofício, como consequência lógica do sistema acusatório, que separa 
os poderes de julgar e acusar. O julgador, portanto, não pode substituir a parte, 
dando início ao processo. Deve permanecer inerte, aguardando a atuação da 
parte. 
 
Princípio da Oficialidade: O exercício da ação penal é privativa do Ministério 
Público, como regra geral. Todavia, não se nega a possibilidade da 
investigação privada, desde que preservada a intimidade e a vida privada, além 
da cláusula de reserva de jurisdição. Da oficialidade deriva o princípio da 
autoritariedade, já que normalmente o procedimento apuratório é presidido pela 
autoridade pública. Neste contexto, já se considerou a ação penal popular 
como exemplo de exceção do princípio da oficialidade, mas tal entendimento 
gera divergências, já que trata de infrações político-administrativas e não de 
infrações penais. 
 
Princípio da Oficiosidade: Embora a iniciativa processual seja das partes, o 
juiz deve dar regular andamento ao processo, agindo de ofício. É o chamado 
impulso oficial. Já na fase do inquérito policial, a autoridade deve instaurar 
inquérito de ofício na hipótese de crime de ação penal pública incondicionada, 
dependendo de manifestação de vontade do ofendido ou de quem tenha 
qualidade para representá-lo nos demais casos. 
 
17 
 
 
Princípio da Persuasão Racional (ou do Livre Convencimento Motivado): 
O juiz valora a prova como bem lhe aprouver, mas de modo fundamentado e 
motivado. Não mais existe a chamada “tarifação das provas”, então não se 
admite uma hierarquização do acervo probatório. Mas o julgador deve sempre 
fundamentar as razões de decidir, explicando às partes o raciocínio lógico que 
levou à decisão de mérito. Já o jurado, como juiz leigo, figura existente 
somente no Tribunal do Júri, decide pela íntima convicção, sem qualquer 
fundamentação, até porque normalmente não possui conhecimentos jurídicos. 
 
Princípio do Privilégio contra Autoincriminação: O réu não pode ser 
compelido a produzir prova em seu desfavor. Assim, possui direito ao silêncio, 
podendo negar-sea responder às perguntas que lhe forem formuladas em 
qualquer instância, administrativa ou judicial. 
 
O réu não pode ser compelido a produzir prova em seu desfavor de modo 
ativo. Desta forma, não é obrigado a fornecer material para exame pericial de 
qualquer natureza, participar de reconstituição do crime, submeter-se à 
acareação, etc. Também não pode ser conduzido para interrogatório, já que 
possui direito ao silêncio. Mas pode ser conduzido para fins de 
reconhecimento, caso necessário para definição de autoria. 
 
Não há impedimento quando o réu contribui para a formação da prova de modo 
passivo: coleta de escritos de sua autoria para comparação grafotécnica; 
exame pericial feito com fios de cabelo deixados no local do crime, coleta de 
impressões digitais deixadas no local do crime, etc. 
 
Princípio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos: A 
nova redação do artigo 157 do CPP afirma textualmente a inadmissibilidade da 
prova ilícita no processo penal pátria, como regra, salvo se pro-réu, em 
determinados casos, como já se decidiu. Esta é a redação atual do citado 
dispositivo legal: 
 
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, 
as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas 
constitucionais ou legais. 
 
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo 
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou 
quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente 
das primeiras. 
 
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os 
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, 
seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 
 
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada 
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes 
acompanhar o incidente. 
 
18 
 
 
Prova ilícita é aquela produzida em desacordo com as normas de direito 
material, em violação às normas constitucionais e legais. Como exemplo 
clássico, pode-se citar aquelas produzidas em desrespeito à cláusula de 
reserva de jurisdição (quando se admite a prova somente com ordem do juiz 
competente, como no caso de violação do sigilo bancário e fiscal e na 
interceptação telefônica, embora se permita a gravação clandestina de áudio e 
vídeo, por uma das partes). 
 
Não se confunde com a prova ilegítima, entendida como aquela produzida com 
violação às regras processuais (por exemplo, aquelas produzidas 
extemporaneamente). 
 
Nosso CPP, com a reforma da Lei nº 11.719/2008, adotou expressamente a 
teoria norte-americana da fruits of the poisonous tree, ou “frutos da árvore 
envenenada”, segundo a qual também é ilícita a prova produzida por meios 
lícitos, mas derivada de prova ilícita. O veneno da árvore contamina o fruto. É a 
chamada prova ilícita por derivação. 
 
Como exceção, são apresentadas três situações: 
 
A teoria da fonte independente: na qual a prova é admitida por ser fruto de uma 
investigação totalmente diversa daquela contaminada pelo vício da ilicitude, 
tornando-se válida, já que ausente qualquer irregularidade. Como exemplo, 
pode-se citar o caso Bynum, de 1960, do direito norte-americano, onde um 
acusado foi preso ilegalmente e teve suas impressões digitais colhidas, 
ligando-o a um roubo. Tais impressões foram rejeitadas face à ilicitude da 
prova. Posteriormente, o District Attorney apresentou um conjunto de 
impressões do mesmo acusado, mais antigo, sem qualquer relação com a 
prisão ilegal, no que foram aceitas. 
 
A teoria da descoberta inevitável: onde se conclui que a prova seria 
inevitavelmente trazida aos autos no curso natural da investigação, 
independente da prova ilícita. Como exemplo, pode-se citar o caso Nix vs. 
Willians, de 1964, também do direito norte-americano, onde um cadáver foi 
encontrado através de uma confissão ilegal. Ocorre que a polícia já se 
encontrava fazendo buscas na região, contando com o apoio e auxílio de 
centenas de voluntários, pelo que se considerou como inevitável e certo o 
futuro encontro do cadáver. Como se observa, a situação é hipotética e 
depende de raciocínio lógico-indutivo. 
 
A teoria da contaminação expurgada: onde se entende que, se possível a 
obtenção da prova em outro momento, de modo legal, considera-se expurgado 
o vício anterior. Tal teoria não foi contemplada expressamente pelo 
ordenamento jurídico brasileiro, mas nos parece razoável. Em exemplo de Luiz 
Flávio Gomes: o agente confessa mediante tortura e indica o coautor, que 
também confessa. Essa segunda prova é ilícita por derivação e nada vale. Dias 
depois o coautor, na presença de seu advogado e por ele assistido, delibera 
confessar livremente o delito perante o juiz. A nova confissão é válida e 
expurga o vício anterior. 
 
19 
 
 
Princípio da Proibição de Proteção Deficiente: Vincula-se a uma espécie de 
garantismo positivo (ligado à real necessidade de atuação estatal em 
determinados casos) ao contrário do dito garantismo negativo (ligado à 
necessidade de proteção contra os excessos do Estado). Deve ser entendido 
na lógica da existência de direitos fundamentais de proteção do cidadão contra 
a ação ilícita de terceiros, não podendo o Estado abrir mão do Direito Penal 
como instrumento de preservação de direitos individuais, quando necessário. 
 
Lênio Streck ensina que a proporcionalidade possui dupla face: de proteção 
positiva e de proteção contra eventuais omissões estatais. De um lado, a 
norma pode ser inconstitucional por um excesso do Estado na criminalização 
ou repressão de condutas. De outro, pode-se tratar como inconstitucional a 
hipótese de notória proteção insuficiente de um direito fundamental, quando o 
Estado abre mão indevidamente do uso do direito penal como mecanismo de 
controle social nos casos em que se mostra indispensável. 
 
Assim, a propalada proibição de excesso na atuação estatal convive com a real 
existência de um dever de proteção por parte do Estado, que não pode furtar-
se ao uso dos meios postos à sua disposição (o Direito Penal entre eles) na 
preservação de direitos fundamentais e sociais. 
 
 
20 
 
 
A Lei Processual Penal no Espaço 
 
 
 Assim como no Direito Penal, a regra é a territorialidade, ou seja, a lei 
processual somente vigora dentro dos limites territoriais do Estado brasileiro. 
 
 Logo, aplica-se a lei brasileira aos crimes praticados no território 
nacional, assim compreendido o espaço físico entre fronteiras, as águas 
internas e o mar territorial (12 milhas marítimas, conforme a Lei nº 8.617/1993), 
além do espaço aéreo correspondente. 
 
 Ainda se prevê o chamado território por extensão: embarcações e 
aeronaves públicas ou a serviço do Brasil, estejam onde estiverem; 
embarcações ou aeronaves privadas de bandeira brasileira, quando em águas 
internacionais ou no espaço aéreo correspondente; embarcações e aeronaves 
estrangeiras de natureza privada quando em porto ou aeroporto brasileiro, 
navegando em águas brasileiras ou em sobrevoo ao território nacional. 
 
 A lei processual penal, como reflexo da soberania de um país, somente 
se aplica em seu território. O Brasil, contudo, deve obediência às regras 
contidas nos tratados e convenções internacionais de que for signatário, o que 
pode excepcionar a regra geral. A título de exemplo, não se aplica nossa lei 
processual aos agentes diplomáticos aqui acreditados. O Brasil pode deixar de 
aplicar suas leis nas hipóteses contempladas pelo Tribunal Penal Internacional. 
 
 Assim, como regra geral, eventuais atos processuais a serem realizados 
em território estrangeiro, atendendo a pedido da justiça brasileira, serão feitos 
segundo a lei do estado em que se cumprirá o ato. Citações ou intimações por 
carta rogatória, oitiva de testemunhase levantamentos periciais estarão 
sempre sujeitos à forma prescrita no país cumpridor, mesmo que diversos da 
lei brasileira. 
 
 Não há como o Brasil impor suas regras procedimentais a nação 
estrangeira. A recíproca também é verdadeira. 
 
 Hélio Tornaghi, entretanto, fazendo remissão a Beling, enumera três 
hipóteses em que se faz possível a aplicação da lei processual de um país fora 
de seus limites territoriais, a saber: 
 
- Aplicação da lei processual penal de um Estado em território nullius; 
- Quando houver autorização do Estado onde deva ser praticado o ato 
processual; 
- Em caso de guerra, em território ocupado. 
 
 Nas hipóteses acima, haverá verdadeira extraterritorialidade. 
 
 Obviamente, o CPP se apresenta como legislação meramente supletiva 
nas hipóteses em que haja legislação procedimental específica, como na 
justiça militar, na lei de entorpecentes e nas infrações penais de menor 
potencial ofensivo, dentre outras. 
21 
 
 
A Lei Processual Penal no Tempo 
 
 Como é sabido, em Direito Penal se considera como tempo do crime o 
momento da conduta, nos termos da teoria da atividade, conforme art. 4º do 
Código Penal. 
 
 Em Processo Penal, contudo, o art. 2º do CPP adota o princípio da 
aplicação imediata da lei processual, consagrando a lógica do tempus regit 
actum, com o seguinte texto: 
 
Art. 2º - A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da 
validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. 
 
 Três são os sistemas conhecidos para solução da questão do conflito 
intertemporal de leis processuais: 
 
Sistema da Unidade Processual: O processo é uno, embora seja 
caracterizado por uma série de atos distintos. Então somente pode ser 
regulado por uma única lei. 
 
Sistema das Fases Processuais: O processo se divide em diversas fases e 
cada fase pode ser regida por lei diversa. Assim, poderia haver aplicação de lei 
distinta para as fases postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal. 
 
Sistema do Isolamento dos Atos Processuais: Lei nova aplica-se aos atos 
praticados a partir de sua vigência e não atinge os atos praticados na vigência 
da lei anterior, que seguem válidos, pouco importando a fase em que o 
processo se encontre. É o sistema adotado pelo ordenamento processual penal 
pátrio. 
 
 Deve-se atentar para as hipóteses em que normas de conteúdo material 
são incluídas em normas de conteúdo processual. Tais normas de natureza 
mista devem seguir a regra geral do direito penal, qual seja, a retroatividade 
benéfica. Exemplifica-se: 
 
- O art. 366 do CPP, alterado pela Lei nº 9.271/1996, possui conteúdo penal 
e processual, ao prever a suspensão do processo (matéria de natureza 
processual) e a suspensão da prescrição (matéria de natureza penal). 
Assim, segue a regra da irretroatividade, já que prejudicial ao réu, 
aplicando-se somente aos fatos posteriores a sua vigência. 
 
- A Lei nº 9.099/1995, que instituiu o Juizado Especial Criminal, previu em 
seu artigo 90 que suas disposições não seriam aplicáveis a processos já 
iniciados. Contudo, trouxe vários institutos benéficos ao réu, de conteúdo 
material, como a transação penal e a composição civil dos danos, de 
natureza despenalizadora. Consolidou-se, pois, o entendimento de que tais 
institutos seriam aplicáveis a fatos anteriores, inclusive com processos em 
andamento, em atenção à retroatividade benéfica. 
 
 
22 
 
 
 Como visto, o que importa não é o lugar em que a norma se encontra 
inserida, mas sua natureza. 
 
 Tais normas de conteúdo diverso do texto em que estão inseridas são 
denominadas normas heterotópicas. 
 
 Com relação ao sistema recursal, a melhor solução em caso de conflito 
intertemporal de leis processuais é pela interposição do recurso previsto no 
momento do surgimento do direito de recorrer. Assim, ainda que outra lei seja 
promulgada em data posterior, o recurso interposto é aquele previsto no 
momento do ato. 
 
 Exemplo cabível na espécie remonta à reforma processual de 2008. Até 
então, o recurso cabível contra a absolvição sumária no procedimento do júri 
era o Recurso em Sentido Estrito (RSE). Atualmente é a Apelação, nos termos 
do art. 416 do CPP, conforme previu a Lei nº 11.689/2008. Se a decisão de 
absolvição sumária fosse promulgada ainda na vigência da lei anterior, o 
recurso cabível seria o RSE. Se depois, a Apelação. 
 
 A lei processual entra em vigor do modo regular a todas as normas, 
após a vacatio. Se silente a lei, 45 dias. Vige até ser revogada, tácita ou 
expressamente. Se totalmente revogada, dá-se o fenômeno da ab-rogação. Se 
parcialmente, derrogação. 
 
23 
 
 
Fontes do Direito Processual Penal 
 
 Fonte é o lugar de procedência, de onde se origina. Para Tourinho Filho, 
fontes do direito são as formas pelas quais as regras jurídicas se exteriorizam, 
se apresentando, portanto, como “modos de expressão do direito”. 
 
 Dividem-se em fontes materiais (ou de produção) e fontes formais (ou de 
conhecimento). 
 
Fontes de Produção (Materiais): Somente o Estado (União) pode legislar em 
matéria penal e processual penal, segundo a CF/88: 
 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, 
aeronáutico, espacial e do trabalho; 
 
 A lei em questão é de natureza ordinária, sendo vedada a utilização de 
Medida Provisória. 
 
 Aos Estados e ao Distrito Federal, contudo, é permitido legislar sobre 
procedimentos em matéria processual, organização e funcionamento dos 
juizados de pequenas causas, direito penitenciário e custas dos serviços 
forenses. 
 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar 
concorrentemente sobre: 
 
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; 
(...) 
IV - custas dos serviços forenses; 
(...) 
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; 
XI - procedimentos em matéria processual; 
(...) 
XIII - assistência jurídica e defensoria pública; 
 
 
Fontes de Conhecimento (Formais): 
 
− Imediatas: 
 
 A Lei, como manifestação da vontade do povo, através de seus 
representantes regularmente eleitos, emanada de qualquer ente estatal, na 
esfera de sua competência. Edilson Mougenot Bonfim aponta ainda as 
Súmulas Vinculantes como fontes diretas do direito, já que representam a 
vontade máxima da mais alta corte do país e possuem verdadeiro papel criador 
do direito. 
 
 
24 
 
 
− Mediatas: 
 
 Os Costumes, como regras de conduta praticadas de modo geral, 
constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. A doutrina 
identifica três tipos de costume: os costumes secundum legem, que consistem 
na interpretação uniforme da lei; os costumes praeter legem, ou integrativos, 
que suprem as lacunas da lei e os costumes contra legem, que introduzem 
normas contrárias à lei ou levam à não aplicação das normas existentes. 
 
 A Jurisprudência, como decisão reiterada dos tribunais, também pode 
ser considerada fonte do direito processual penal, embora haja quem não 
admita tal classificação. Mostra-se, contudo, indispensável tanto na 
interpretação do texto legal quanto na formulação de novas leis. 
 
 A Doutrina, como expressão do pensamento dos mestres do direito, 
também auxilia no processo de interpretação do texto legal. Também há quem 
afirme não se tratar propriamente de fonte do processo penal. Tourinho Filho, a 
título de exemplo, afirma se tratar de mera fonte secundária. 
 
 Os Princípios Gerais do Direito, como a equidade (correspondência 
jurídica e ética da norma às circunstâncias do caso concreto), a dignidade da 
pessoa humana e a isonomia. A maior parte da doutrina identifica tais 
princípios com os brocardosjurídicos já consagrados e que servem, na 
verdade, de base no processo de formação da legislação penal e processual. 
 
 A Analogia, inadmissível como regra em direito penal, salvo in bonam 
partem, mas expressamente prevista em processo penal (art. 3º CPP: A lei 
processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem 
como o suplemento dos princípios gerais de direito), serve para completar 
lacunas existentes no CPP, desde que juridicamente aceitáveis. Pode-se citar 
como exemplo a aplicação analógica dos artigos 132 e 408 do CPC, que tratam 
de matéria não regulada no CPP: exceções ao princípio da identidade física e 
substituição de testemunhas, respectivamente. 
 
25 
 
 
Interpretação da Lei Processual Penal 
 
 Interpretar é buscar o alcance da lei, revelar a vontade contida na 
norma, “revelar o pensamento que anima suas palavras”, na lição de Clóvis 
Beviláqua. Pode ser conceituada como “o processo lógico que procura 
estabelecer a vontade contida na norma jurídica”, como bem leciona Noronha. 
 
 Existem várias classificações possíveis na doutrina quanto aos 
processos e métodos de interpretação. Apresentamos a que, em nossa 
opinião, mostra-se mais clara. Assim, pode ser: 
 
- Quanto ao Sujeito: 
 
a) Autêntica: quando parte do próprio órgão que edita a norma, pelo próprio 
legislador. Pode ser contextual, quando presente no próprio texto, ou por lei 
posterior. 
 
b) Jurisprudencial: através de decisões reiteradas dos tribunais. 
 
c) Doutrinária: aquela trazida pelos mestres e doutrinadores. 
 
 A “exposição de motivos” de uma lei não é caso de interpretação 
autêntica, pois é originária do autor do projeto de lei (normalmente o Poder 
Executivo). Pode ser, dependendo de quem a redija, doutrinária. 
 
- Quanto aos meios empregados: 
 
a) Gramatical ou Literal: examina-se a “letra da lei”, quanto ao seu 
significado no vernáculo, buscando-se o sentido de cada palavra ou 
expressão. 
 
b) Lógica: Sendo insuficiente a interpretação gramatical (embora sempre 
necessária), há de se indagar quanto ao conteúdo lógico da lei, através de 
um confronto entre seus dispositivos, verificando se o texto normativo faz 
sentido em suas disposições. 
 
c) Teleológica: busca-se o valor e a finalidade da lei, a vontade contida no 
texto legal. Embora a lei tenha existência independente da vontade de seu 
autor, como leciona a boa hermenêutica, sempre é relevante perquirir-se as 
razões de existir do texto legal, a mens legis. 
 
d) Sistemática: Coloca-se a norma em confronto com todo o sistema vigente 
a fim de se alcançar o sentido e valorar o alcance de sua aplicação. A lei 
não deve dissociar-se do sistema em que está inserida. 
 
e) Histórica: Observa-se o contexto histórico em que o texto está inserto a 
fim de alcançar-lhe o valor. Verifica-se o histórico da lei, sua exposição de 
motivos, as discussões havidas durante sua elaboração e seu processo 
evolutivo. 
 
26 
 
 
- Quanto aos Resultados: Ocasionalmente, a lei peca pelo excesso ou é 
carente em seus dispositivos, sendo necessário, portanto, ampliar ou 
restringir seus efeitos. Classifica-se em: 
 
a) Extensiva: quando é necessário ampliar o sentido ou o alcance da 
norma, nas ocasiões em que o legislador disse menos do que pretendia 
ou devia. Ex.: O art. 34 do CPP diz que o maior de 18 anos pode exercer 
o direito de queixa. Por óbvio, pode exercer também o direito de 
representação. 
 
b) Restritiva: quando o legislador disse mais do que pretendia, sendo 
necessário restringir o alcance da norma a fim de lhe aclarar o sentido e 
limitar-lhe o alcance. Ex.: O art. 271 do CPP diz que o assistente de 
acusação pode propor meios de prova. Está excluída, por óbvio, a prova 
testemunhal, já que o assistente ingressa na lide após iniciada a ação 
penal e o rol de testemunhas deve ser apresentado junto com a 
denúncia. 
 
 Identificam-se ainda na doutrina outras formas de interpretação do texto 
legal, as quais merecem destaque: 
 
Interpretação Progressiva: quando se observa que a expressão contida na 
norma sofreu alteração de sentido através dos tempos, devendo ser adaptada 
à nova realidade. A título de exemplo, o CPP não prevê a expedição de 
mandado de prisão ou alvará de soltura por meio eletrônico. Deve-se adaptar o 
texto, portanto, às novas tecnologias. Em vários Estados não existe mais a 
figura do chefe de polícia. Assim, o recurso administrativo a que se refere o art. 
4º, § 2º do CPP deve ser dirigido à autoridade competente, Secretário de 
Segurança Pública ou titular de cargo assemelhado. 
 
Interpretação Analógica: Faz-se uso da interpretação analógica quando a 
própria lei assim determina, nas ocasiões em que utiliza fórmulas casuísticas 
seguidas de expressões genéricas. A um exemplo dado se segue a aplicação 
da lei por comparação. Ex.: A expressão “mediante álcool ou substância de 
efeitos análogos”, referente à embriaguez, constante do art. 28, inciso II do CP, 
parte de um exemplo concreto (álcool) seguida de uma expressão genérica, 
indicando que se considera embriaguez a ingestão de qualquer substância 
tóxica que, à semelhança do álcool, provoque entorpecimento dos sentidos. 
Não se confunde com a analogia, hipótese de integração da norma que visa 
corrigir lacunas existentes no ordenamento jurídico e se mostra perfeitamente 
aplicável em processo penal. 
 
Hermenêutica Constitucional ou Interpretação Principiológica: Toda e 
qualquer forma ou sistema de interpretação da lei penal ou processual penal 
deve respeito aos princípios consagrados na CF, em especial ao princípio da 
dignidade da pessoa humana e aos princípios constitucionais de garantia. Se 
incompatível com o texto constitucional e com o sistema de garantias trazido no 
mesmo, a norma não deve ser aplicada. 
 
27 
 
 
Inquérito Policial 
 
 
Conceito: Trata-se de procedimento administrativo de natureza 
investigatória e caráter inquisitivo, presidido pela autoridade policial, que visa à 
coleta de informações e elementos de prova quanto às circunstâncias do crime 
e sua autoria. 
 
 A existência do inquérito policial impede o ajuizamento de lides 
temerárias e infundadas, com pouco sustentáculo probatório, preservando o 
status libertatis do cidadão. 
 
 Possui ainda relevante função na formação do convencimento da parte 
interessada, já que preserva meios de prova que poderiam desaparecer com o 
tempo, auxiliando o Estado no exercício da pretensão punitiva, nascida com a 
efetiva prática do fato definido como crime ou contravenção. 
 
 A existência do inquérito policial como procedimento prévio ao 
ajuizamento da ação penal, contudo, não é obrigatória. Caso o titular do direito 
de ação possua os elementos de prova suficientes à propositura da ação, pode 
perfeitamente assim proceder. Mas a regra é pela existência do IP, até porque 
grande parte da prova colhida depende de órgãos ligados ao aparato de 
segurança do Estado, como no caso das perícias. 
 
 O valor probatório dos elementos colhidos no inquérito policial, por sua 
vez, é relativo, já que foram produzidos sem contraditório. Assim, devem ser 
repetidos em juízo, sob a égide das garantias constitucionais. 
 
 As provas não repetíveis e de natureza cautelar, no entanto, servem 
perfeitamente para a formação do convencimento do julgador na ação penal 
futura. 
 
 Observe-se o texto do art. 155 do CPP: 
 
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova 
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua 
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na 
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e 
antecipadas 
 
 O CPP contempla o princípio da persuasão racional como método 
decisório e limita o valor probante do IP. Não há condenação com baseem 
prova exclusiva do inquérito, já que produzida sem contraditório ou ampla 
defesa. Todavia, as provas não repetíveis ou colhidas sob risco de perecimento 
possuem valor probante regular. 
 
 Exemplifica-se: 
 
- O Auto de Busca e Apreensão e o Termo de Restituição atestam a 
localização da coisa e a devolução ao ofendido. 
28 
 
 
- O Auto de Levantamento do Local e de Constatação de Danos atesta as 
características físicas do local do crime. 
- O Exame de Corpo de Delito comprova os danos sofridos pela vítima – 
lesões corporais ou necropsia. 
- O Laudo Pericial Grafotécnico comprova a autoria material dos escritos sob 
análise. 
- O Laudo Papiloscópico atesta a identidade civil do cidadão. 
- O Laudo de Avaliação atesta o valor de mercado da coisa avaliada, direta 
ou indiretamente. 
 
 Todas estas são provas não repetíveis e permitem o contraditório 
diferido ou prorrogado, podendo ser contestadas no curso do processo. 
 
 Algumas provas devem ser produzidas de plano, sem contraditório, 
inaudita altera parte, sob pena de total inocuidade. Assim, exemplo clássico de 
prova cautelar é a interceptação telefônica. Somente após sua formalização 
nos autos é que se poderá exercer o direito de defesa, até porque é produzida 
sem conhecimento da parte. 
 
 Por fim, prova antecipada é aquela produzida de maneira célere, sob 
pena de perecimento, o que pode se dar, a título de exemplo, com a oitiva de 
testemunha hospitalizada em estado terminal. Contudo, nos termos do art. 225 
do CPP, tal prova deve ser produzida sob o crivo do contraditório: 
 
 Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por 
enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução 
criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de 
qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento. 
 
 A prova testemunhal, obviamente, pode ser repetida em juízo, pelo que 
as testemunhas ouvidas na fase do inquérito devem ser novamente inquiridas 
na fase judicial, sob o contraditório, assim como outras indicadas pelas partes. 
O réu também deve ser interrogado pelo juiz, para que exerça a autodefesa, 
caso queira. 
 
 A presidência do inquérito policial deve ser exercida por autoridade 
com função de polícia judiciária, polícia civil estadual e polícia federal, órgãos 
de caráter repressivo. 
 
 Modernamente se tem entendido que as funções de polícia judiciária não 
se confundem com as de polícia investigativa (art. 144 do CF/88). Polícia 
judiciária é aquela apta a auxiliar o poder judiciário no exercício de suas 
funções, cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão, conduzindo 
testemunhas, dentre outras. Polícia investigativa é aquela autorizada à colheita 
de informações quanto à autoria e materialidade das infrações penais. 
 
 A polícia militar tem natureza administrativa, com função preventiva, 
ligada à segurança pública. Entretanto, em caso de crime militar cometido por 
policial militar, a investigação será feita pela própria polícia militar, em regular 
IPM (Inquérito Policial Militar), funcionando, pois, como polícia investigativa. 
29 
 
 
 A atribuição investigativa, então, em caso de crime militar, será da 
autoridade militar, seja no âmbito das polícias militares e do corpo de 
bombeiros militar ou das forças armadas. 
 
 No caso de infrações penais de competência da justiça federal, a 
atribuição investigativa é da Polícia Federal, a teor do disposto no art. 144 da 
CF/88: 
 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem 
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos 
seguintes órgãos: 
 
I - polícia federal; 
 
(...) 
 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, 
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: 
 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas 
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras 
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e 
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; 
 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de 
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; 
 
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de 
fronteiras; 
 
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da 
União. 
 
 Observe-se que a própria Constituição Federal separa as funções de 
polícia investigativa e polícia judiciária. Faz o mesmo com as polícias civis dos 
estados: 
 
§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, 
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia 
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 
 
 Em caso de crimes eleitorais, a atribuição investigativa também é da 
polícia federal. Todavia, em local onde não haja órgão da polícia federal, não 
há impedimento à instauração de inquérito perante a polícia civil estadual, 
presidido por delegado de polícia civil. 
 
30 
 
 
 Por fim, em caso de crimes de competência da justiça comum estadual, 
a atribuição investigativa é, via de regra, das polícias civis estaduais. Todavia, 
a polícia federal não está automaticamente excluída, já que lhe cabe a 
investigação de crimes que tenham repercussão interestadual ou internacional. 
 
Atribuição em razão do local de consumação 
 
 A atividade investigativa está vinculada à competência territorial do juízo 
para processar e julgar a infração penal. Assim, como a regra de definição de 
competência territorial é pelo local da infração, nos termos do art. 69, inciso I 
do CPP, a atribuição investigativa será da polícia com atribuição naquela área 
específica. 
 
 Ressalte-se que a atividade policial se divide em circunscrições. Assim, 
se o crime de competência da justiça estadual foi praticado no município de 
Porteirinha/MG, a atribuição investigativa será da autoridade policial civil da 
circunscrição a que pertencer referido município. 
 
 Obviamente, caso naquela circunscrição haja delegacia especializada na 
apuração de certos tipos de crimes, o inquérito será instaurado naquele órgão 
específico, respeitando-se a natureza da infração: Ex.: Delegacia de Repressão 
a Roubo a Bancos. 
 
 Todavia, como o inquérito policial se trata de mero procedimento 
administrativo, eventual incorreção na definição da titularidade da atividade 
investigativa não gera nulidade processual. Nulidade no inquérito não 
contamina o processo, via de regra. 
 
Características do Inquérito Policial 
 
 É escrito (art. 9º do CPP) 
 
 É sigiloso (art. 20 do CPP). Vide Súmula Vinculante nº 14. 
 
 É dispensável, já que se trata de peça meramente informativa. 
 
 É de natureza inquisitorial. 
 
 É discricionário, já que a autoridade que o preside define o andamento 
de acordo com as peculiaridades de cada caso, sem uma sequência formal de 
atos prevista em lei. 
 
 É oficial, já que presidido por autoridade pública. 
 
 É oficioso, já que a autoridade que o preside deve sempre agir de ofício, 
sem provocação da parte. Cabe ressaltar que a autoridade policial deve 
instaurar IP ao tomar conhecimento da prática de crime de ação penal pública 
incondicionada. Todavia, em caso de crime de ação penal pública condicionada 
ou persequível mediante ação penal de iniciativa privada, necessita de 
autorização do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. 
31 
 
 
 É indisponível, já que a autoridade policial não poderá determinar seu 
arquivamento (art. 17 do CPP). 
 
 É

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