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AP3 ADG 2017 I gabarito

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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Avaliação Presencial – AP3
Período - 2017/1º
Disciplina: Análise das Decisões Gerenciais
Coordenador da Disciplina: Marcelo Alvaro da Silva Macedo
Aluno (a): ............................................................................................................................
Pólo: ....................................................................................................................................
	Só serão aceitas respostas feitas a caneta esferográfica azul ou preta;
	Não será feita revisão da questão quando respondida a lápis.
Boa sorte!
Discorra sobre um processo decisório onde estejam presentes aspectos relacionados com as heurísticas de julgamento. Descreva para esta situação pelo menos um viés de decisão que esteja acontecendo.
Padrão de Resposta Esperado
Os três grupos genéricos de heurísticas são: da Disponibilidade; da Representatividade; e da Ancoragem e Ajustamento. 
Heurística da Disponibilidade é aquela que diz com que freqüência avaliamos as chances de ocorrência de um evento pela facilidade com que conseguimos lembrar-nos de ocorrências desse evento. Segundo Kahneman, Slovic e Tversky,1KAHNEMAN, D. P., SLOVIC, P. e TVERSKY, A. Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
 os gerentes avaliam a freqüência, a probabilidade ou as causas prováveis de um evento por meio do grau em que as circunstâncias ou ocorrências do mesmo estão prontamente disponíveis na memória. Certamente, um evento que evoca emoções, sendo vívido, facilmente imaginado e específico, estará mais disponível na memória do que um evento que seja por natureza não emocional, neutro, difícil de imaginar ou vago. Com isso a Heurística da Disponibilidade pode constituir uma estratégia gerencial muito útil para a tomada de decisão, tendo em vista que circunstâncias de eventos de maior freqüência são, em geral, reveladas mais facilmente, em nossas mentes, do que as de eventos de menor freqüência. Porém, não se deve considerar essa heurística infalível ou livre de vieses, em virtude de ser a disponibilidade da informação também afetada por outros fatores não relacionados com a freqüência objetiva (real) do evento em julgamento. Esses fatores, que deveriam ser irrelevantes ou pouco importantes na avaliação de probabilidade, podem influenciar indevidamente a proeminência perceptível imediata do evento, a vividez com que se revela ou a facilidade com que é imaginado.
Segundo Bazerman,2BAZERMAN (1994).
 a Heurística da Representatividade é o julgamento por estereótipo, em que a base do julgamento são modelos mentais de referência. Os gerentes avaliam a probabilidade de ocorrência de um evento por meio da similaridade da mesma com seus estereótipos de acontecimentos semelhantes. Em alguns casos, quando sob controle, o uso dessa heurística é uma boa aproximação preliminar. Porém, em outros, leva a comportamentos que muitos de nós encaramos como irracionais ou moralmente condenáveis - tais como a discriminação. Um problema evidente é o fato de que indivíduos tendem a basear-se em tais estratégias mesmo quando essas informações são insuficientes e há outras de melhor qualidade com base nas quais se pode fazer um julgamento correto.
Ainda segundo o mesmo autor, a heurística da ancoragem e ajustamento é aquela em que se avalia a chance de ocorrência de um evento pela colocação de uma base (âncora) e se faz, então, um ajuste. Os gerentes começam a realização de suas avaliações com base em um valor inicial, que é posteriormente ajustado para fins de uma decisão final. O valor inicial, ou ponto de partida, pode ser sugerido por um precedente histórico, pela maneira na qual um problema é apresentado ou por uma informação aleatória. Em situações ambíguas, um fator trivial pode exercer um profundo efeito sobre nossa decisão, caso sirva como ponto de partida, do qual passamos a proceder a ajustamentos. Freqüentemente, as pessoas serão capazes de perceber a falta de razoabilidade da âncora, mas seu ajustamento muitas vezes permanecerá, irracionalmente, próximo à mesma. O que se pode ver com grande constância é que, independentemente da base do valor inicial, os ajustamentos efetuados no mesmo tendem a ser insuficientes. Assim, podemos ter decisões distintas para o mesmo problema, dependendo de quais são os valores iniciais.
A discussão acerca das heurísticas e vieses do processo decisório sugere que os indivíduos desenvolvam regras simplificadoras para reduzirem as exigências de processamento de informação na tomada de decisão. Essas regras proporcionam aos decisores maneiras eficientes de lidar com problemas complexos, que produzem boas decisões em várias situações. A heurística, no entanto, também leva os tomadores de decisão a resultados sistematicamente enviesados, quando mal utilizada. Um viés cognitivo refere-se, exatamente, às situações nas quais as heurísticas são indevidamente aplicadas no processo de tomada de decisão.
Exploraremos, aqui, a oportunidade de as pessoas auditarem suas próprias decisões e identificarem os vieses que as afetam. Ao final de nossa discussão teórica faremos uma análise de uma série de questões que nos ajudarão a entender as heurísticas e vieses existentes em várias situações de decisão e que levam os decisores a se desviarem sistematicamente da racionalidade. A idéia por trás dessa maneira de explorar essa problemática está em aumentar sua capacidade de conscientização do impacto da heurística sobre suas decisões e para ajudá-lo a desenvolver uma capacidade a fim de apreciar os erros sistemáticos que emanam de um excesso de dependência das mesmas. De forma geral os vieses que serão analisados são relevantes, praticamente, para todos os indivíduos, e cada um deles diz respeito a pelo menos uma das heurísticas já apresentadas.
A meta desta discussão é ajudá-lo a "descongelar" seus padrões de tomada de decisão e perceber com mais facilidade como as heurísticas se transformam em vieses quando são aplicadas de forma inadequada. Por meio da apreciação de diversos problemas que demonstram os fracassos desses tipos de heurísticas, você irá tornar-se mais consciente dos vieses em sua tomada de decisão. Aprendendo a identificar tais vieses, você poderá melhorar a qualidade de suas decisões.
Vamos explorar agora os vieses em relação a cada tipo de heurística. Em relação a Heurística da Disponibilidade, há os seguintes vieses:
	facilidade de lembrança: baseia-se na vividez e na ocorrência recente, ou seja, segundo Kahneman, Slovic e Tversky,3KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
 quando um indivíduo julga a freqüência de um evento por meio da disponibilidade de suas ocorrências, aquele cujas manifestações forem mais facilmente relembradas parecerá acontecer mais do que o de igual freqüência e menos facilmente recordado. Os mesmos autores dizem que, tendo em vista nossa suscetibilidade à vividez e à ocorrência recente, temos uma tendência especial a superestimar eventos pouco prováveis. A observação direta de um evento, mesmo de baixa freqüência, faz com que ele nos seja mais evidente;
	possibilidade de recuperação: baseia-se nas estruturas da memória e na facilidade de recuperação. Entre as alternativas apresentadas em um processo decisório, aquela que apresentar menor dificuldade relativa de ser lembrada será a escolhida, mesmo que não seja a de maior freqüência. Isso afeta diretamente nosso comportamento de busca de informação no âmbito de nossas rotinas de trabalho. Estruturamos as organizações de forma a que propiciem ordem, mas essa mesma estrutura pode levar à confusão, caso a ordem suposta não funcione exatamente conforme sugerida;
	associações pressupostas: as pessoas freqüentemente caem na armadilha do viés da disponibilidade em sua avaliação da probabilidade de que dois eventos ocorram em conjunto. Ao avaliarem dois eventos
as pessoas costumam ignorar o fato de estes formarem quatro situações distintas que precisam ser consideradas na apreciação da correlação existente entre as duas situações. Vários estudos mostram que, quando a probabilidade de dois eventos ocorrerem em conjunto é julgada pela disponibilidade de situações percebidas, desse tipo, em nossas mentes, em geral atribuímos uma probabilidade desproporcionalmente elevada de que ocorram novamente em conjunto.
Toda uma vida de experiência nos levou a acreditar que, em geral, os eventos mais freqüentes são relembrados em nossas mentes com mais facilidade do que os que têm menor incidência, sendo os eventos mais prováveis mais fáceis de serem lembrados do que os menos prováveis. Em resposta a esse aprendizado, desenvolvemos a heurística da disponibilidade para estimar a probabilidade de eventos. Em muitos casos, essa heurística simplificadora leva a julgamentos acurados e eficientes. Entretanto, como estes três primeiros vieses indicam, o uso inadequado da heurística da disponibilidade pode conduzir a erros sistemáticos no julgamento gerencial. Pressupomos com facilidade demasiada que nossas lembranças disponíveis sejam verdadeiramente representativas de algum conjunto maior de ocorrências que existe fora de nossa faixa de experiência.
Numa análise da heurística da representatividade temos os seguintes vieses:
	falta de sensibilidade às proporções da base: as pessoas tendem a ignorar informações relevantes acerca das proporções da base. Normalmente são consideradas informações irrelevantes e desconsideradas outras que são cruciais no processo decisório. Segundo Kahneman, Slovic e Tversky,4KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
 quando os indivíduos não são expostos às informações irrelevantes eles costumam usar corretamente os dados das proporções da base. Assim, dizem os autores, as pessoas compreendem a relevância das informações sobre as proporções da base, mas tendem a desconsiderá-las quando também se encontram disponíveis dados descritivos;
	falta de sensibilidade ao tamanho da amostra: embora, estatisticamente falando, o tamanho da amostra seja crucial para uma análise, Kahneman, Slovic e Tversky5KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
 observam que este elemento se situa claramente fora do repertório de intuições das pessoas. Ao trabalhar com problemas que lidem com amostragens, as pessoas muitas vezes usam a heurística da representatividade. Em suas mentes, elas fazem analogias com informações dadas, e claramente ignoram a questão do tamanho da amostra, a qual é crítica para uma avaliação acurada de qualquer problema dessa natureza;
	concepções errôneas do acaso: a maioria dos indivíduos se vale freqüentemente de sua intuição e da heurística da representatividade e erradamente concluem que determinado desempenho seria pouco provável, tendo em vista ser extremamente baixa a probabilidade de obtê-lo. O que os indivíduos geralmente procuram é que eventos aleatórios se pareçam aleatórios. Isto é, as pessoas ignoram a independência de eventos múltiplos aleatórios, em virtude de uma melhor aparência de aleatoriedade, e por outras vezes julgam as taxas de probabilidade como sendo "uniformes". Isso mostra nossa preocupação pelo equilíbrio de eventos aleatórios, o que, pelo contrário, faria com que estes deixassem de ser aleatórios. O que autores como Kahneman, Slovic e Tversky6KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
 dizem é que o acaso é, em geral, encarado como um processo auto corretivo, no qual um desvio em uma direção induz a um desvio na direção oposta a fim de restaurar o equilíbrio esperado. O que de fato acontece é que os desvios não se corrigem à medida que o processo probabilístico se desenrola, mas na verdade eles tão-somente se diluem;
	regressão à média: esse é um viés sistemático da Heurística da Representatividade, pois os indivíduos, em geral, supõem que os resultados futuros serão representativos ao máximo daqueles do passado. Assim, tendemos a desenvolver, ingenuamente, previsões que se baseiam na suposição de uma correlação perfeita com dados passados. Sob circunstâncias pouco usuais ou extremas, a esperança de regressão à média se concretiza com mais facilidade, já que é pouco provável que eventos com resultados extremos se repitam. Contudo, em geral, não reconhecemos o efeito enviesado da regressão à média em casos menos drásticos;
	a falácia da conjunção: a heurística da representatividade leva a uma outra distorção bastante comum e sistemática do julgamento humano: a falácia da conjunção. Uma das leis qualitativas mais simples e fundamentais da probabilidade é que um subconjunto não pode ser mais provável do que um conjunto maior que inclui totalmente o primeiro. Embora isto seja incontestável, estatisticamente falando, ou seja, uma simples estatística pode facilmente demonstrar que uma conjunção (combinação de dois ou mais eventos) não pode ser mais provável do que quaisquer de seus eventos, a Falácia da Conjunção prevê e demonstra que uma conjunção será julgada mais provável do que um componente isolado da mesma quando esta parecer mais representativa do que o componente em si. Esse viés também pode operar em uma -base de maior disponibilidade, ou seja, a conjunção pode criar associações mais intuitivas com eventos, atos ou pessoas vívidas do que um componente dela. Isso resultará numa maior percepção, incorreta, da mesma como mais provável do que o componente.
A experiência tem-nos ensinado que a probabilidade de uma ocorrência está muito mais relacionada com a probabilidade de um grupo de ocorrências que a mesma representa. Infelizmente, tendemos a utilizar em demasia essas informações ao tomarmos nossas decisões. Os vieses que acabamos de explorar ilustram as irracionalidades sistemáticas que podem surgir em nossos julgamentos quando não temos consciência desse excesso de dependência. Por último, vamos a uma análise da Heurística da Ancoragem e do Ajustamento. Seus vieses podem ser assim classificados:
	ajuste insuficiente da âncora: alguns estudos constataram que as pessoas desenvolvem estimativas começando com urna âncora inicial, baseada em qualquer informação que lhes seja fornecida, e ajustando-as, a partir daí, para chegarem à resposta final. Porém, em geral, o que acontece é que esses ajustes são insuficientes para anular os efeitos da âncora. Na maioria dos casos as respostas são fortemente influenciadas e, por conseguinte, enviesadas por conta da âncora inicial, mesmo que esta seja irrelevante. Ou seja, diferentes pontos de partida levam a respostas distintas. É interessante observar que é muito difícil fazer com que urna pessoa mude suas estratégias de tornada de decisão, mesmo com o problema que estamos discutindo. Isso ocorre porque cada urna das heurísticas discutidas aqui está atualmente servindo corno urna de suas âncoras cognitivas, sendo fundamentais em seus processos de julgamento. Assim, qualquer estratégia cognitiva sugerida aqui tem que ser apresentada e compreendida em urna forma que venha a levar as pessoas a romperem com suas âncoras cognitivas existentes. Isso é, sem dúvida, algo muito difícil, mas suficientemente importante para fazer valer a pena qualquer esforço necessário;
	eventos conjuntivos e disjuntivos: o que geralmente observamos nos estudos sobre esse viés é urna superestimação da probabilidade de eventos conjuntivos (aqueles que devem ocorrer em conjunto uns com os outros) e urna subestimação da probabilidade dos eventos disjuntivos (aqueles que ocorrem independentemente uns dos outros). Assim, quando múltiplos eventos têm todos que acontecer, superestimamos sua verdadeira probabilidade, ao passo que, se apenas um dentre inúmeros eventos tem que ocorrer, subestimamos sua real probabilidade. Isso também pode ser explicado pela ancoragem, pois o que acontece, também, é que a probabilidade de um evento é tida corno âncora para julgar a probabilidade dos eventos conjuntivos e disjuntivos. E corno o ajuste é normalmente insuficiente para adequar nosso julgamento, o que acontece
é a inadequação de nossas respostas;
	excesso de confiança: a maioria das pessoas tem um excesso de confiança em suas capacidades de estimativa e não admite a incerteza que efetivamente existe. O excesso de confiança tem sido identificado corno um padrão comum de julgamento e demonstrado em urna grande variedade de contextos. Outra constatação comum consiste na tendência das pessoas a terem o maior excesso de confiança na exatidão de suas respostas quando lhes pedem que respondam a perguntas de dificuldade moderada a extrema. Isto é, à medida que decresce o conhecimento das pessoas sobre urna pergunta, elas não diminuem de forma correspondente seu nível de confiança. Contudo, as pessoas não demonstram tipicamente excesso de confiança, chegando mesmo a demonstrar falta de confiança frente a perguntas com as quais têm familiaridade. Assim, devemos estar mais alertaspara o excesso de confiança em áreas fora de nossa especialidade. Há um alto grau de controvérsia em tomo de explicações dando conta da existência do excesso de confiança. Kahneman, Slovic e Tversky7KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
explicam o excesso de confiança em termos de ancoragem. Especificamente, eles alegam que, quando se solicita aos indivíduos que estabeleçam urna faixa de confiança ao redor de urna resposta, sua estimativa inicial serve de âncora que passa a enviesar seus cômputos de intervalos de confiança em ambas as direções. Corno se explicou anteriormente, os ajustamentos com base nas âncoras são normalmente insuficientes, resultando em urna faixa de confiança excessivamente estreita. Bazerman8BAZERMAN (1994).
 sugere duas estratégias viáveis para sua eliminação. Em primeiro lugar, ele constata que, ao se dar às pessoas umfeedbaek sobre seu excesso de confiança com base em seus julgamentos, consegue-se obter um sucesso moderado na redução desse tipo de viés. Em segundo, solicitando-se às pessoas que expliquem por que suas respostas podem estar erradas (ou bem longe de exatas), é possível diminuir o excesso de confiança ao se fazer com que os indivíduos vejam as contradições em seu julgamento.
A necessidade de se contar com urna âncora inicial tem grande peso em nossos processos de tornada de decisão, principalmente ao tentarmos estimar probabilidades ou estabelecer valores. A experiência ensinou-nos que partir de algum ponto é mais fácil do que começar do nada na determinação de tais números.Contudo, corno nos mostram os três últimos vieses, é comum que nos baseamos excessivamente nesses tipos de âncora e que raramente questionemos sua validade ou adequação em urna determinada situação. Corno no caso das demais heurísticas, freqüentemente deixamos de perceber até mesmo que a mesma está impactando nossos julgamentos.
Além dos vieses atribuídos às heurísticas estudadas anteriormente, existem outros dois vieses que precisam ser considerados. Estes são mais genéricos, ou seja, não estão ligados exclusivamente a nenhuma das heurísticas anteriores. Vamos vê-los:
	armadilha da confirmação: a maioria das pessoas está sempre procurando evidências de confirmação e excluem a busca de informações de não-confirmação de seus processos de decisão. Contudo, em geral não é possível saber que algo é verdadeiro sem que se verifique sua eventual não-confirmação. É fácil observar a armadilha da confirmação nos processos decisórios. Quando se torna urna decisão, seja essa qual for, a pessoa, por conta da armadilha da confirmação, tende a evitar, mesmo antes de se comprometer em definitivo, evidências desafiadoras ou de não-confirmação, que são exatamente as que poderiam proporcionar as visões mais úteis;
	retrospecto: as pessoas não são, em geral, muito boas para se lembrarem ou reconstituírem a forma pela qual uma situação incerta lhes apareceu antes de descobrirem os resultados da decisão. Talvez nossa intuição seja algumas vezes precisa, mas tendemos a superestimar o que sabíamos e distorcer nossas convicções acerca do que conhecíamos anteriormente, com base no que posteriormente viemos a constatar. O fenômeno ocorre quando as pessoas olham para trás para avaliar o julgamento dos outros assim como o de si mesmos. Este viés é o conhecido "eu já sabia". Segundo Kahneman, Slovic e Tversky;9KAHNEMAN, SLOVIC e TVERSKY (1988).
 a maneira mais usual de tentar explicar esse viés é por meio das heurísticas já apresentadas anteriormente. A ancoragem pode contribuir para esse tipo de viés quando indivíduos interpretam seus julgamentos subjetivos anteriores das probabilidades de UIT.. evento que ocorreu, em referência à âncora de saber se o resultado efetivamente se deu ou não. Sendo os ajustamentos às âncoras sabidamente inadequados, pode-se esperar que o conhecimento em retrospecto venha a enviesar as percepções do que se pensa que já se sabia de antemão. Além disso, à medida que os diferentes elementos de dados sobre o evento variam em termos de seu apoio ao resultado real, indícios que se mostrem consistentes com o resultado conhecido poderão tornar-se cognitivamente mais evidentes e, assim, mais disponíveis na memória. Isso levará um indivíduo a justificar uma antevisão alegada em vista dos "fatos fornecidos". Finalmente, a relevância de determinado elemento de informação pode, posteriormente, ser julgada como maior, à medida que ele seja representativo do resultado final observado. A alegação de que o que aconteceu era previsível com base em conhecimento prévio nos coloca em uma posição de usar o retrospecto para criticar o julgamento de antevisão de outra pessoa. No curto prazo, o retrospecto apresenta diversas vantagens. Em especial, é muito lisonjeador acreditar que seu julgamento é muito melhor do que realmente é. O retrospecto reduz, no entanto, sua capacidade de aprender com o passado e avaliar, objetivamente, as decisões de si mesmo e dos demais. Bazerman10BAZERMAN (1994).
 diz que vários pesquisadores defendem a idéia de que os indivíduos deveriam, sempre que possível, ser recompensados com base no processo e na lógica de suas decisões e não dos resultados. Um tomador de decisão cuja decisão é de alta qualidade, mas não funciona na prática, deveria ser recompensado e não punido. A lógica desse argumento é no sentido de que os resultados são afetados por uma série de fatores que caem fora do controle direto do tomador de decisão. Contudo, à medida que nos baseamos nos resultados e no retrospecto que lhes corresponde, avaliaremos indevidamente a lógica usada pelo decisor em termos dos resultados que ocorreram e não dos métodos que foram empregados.
Como podemos ver, as heurísticas, ou regras simplificadoras, constituem ferramentas cognitivas que usamos para simplificar a tomada de decisão. Existem alguns vieses, que também já foram abordados, que resultam da utilização em demasia das heurísticas de julgamento. Esses vieses estão resumidos no Quadro 02, junto com as heurísticas a eles associadas. Deve-se apenas enfatizar que as heurísticas não são mutuamente excludentes, ou seja, na verdade pode-se ter mais de uma heurística em operação em nossos processos de tomada de decisão em qualquer dado momento. Procura-se, no quadro, reconhecer apenas a heurística predominante em cada tipo de viés identificado.
	VIÉS
	DESCRIÇÃO
	VIESES DA HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE
	FACILIDADE DE LEMBRANÇA
	Os indivíduos julgam que os eventos mais facilmente recordados na memória, com base em sua vividez ou ocorrência recente, são mais numerosos do que aqueles de igual frequência cujos casos são menos facilmente lembrados.
	CAPACIDADE DE RECUPERAÇÃO
	Os indivíduos são enviesados em suas avaliações da frequência de eventos, dependendo de como suas estruturas de memória afetam o processo de busca.
	ASSOCIAÇÕES PRESSUPOSTAS
	Os indivíduos são enviesados ao analisarem a probabilidade de que dois eventos ocorram em conjunto, em função de desconsiderarem a possibilidade dessa correlação s serem afetados pela disponibilidade em suas memórias.
	VIESES DA HEURÍSTICA DA REPRESENTATIVIDADE
	FALTA DE SENSIBILIDADE À
PROPORÇÕES DA BASE
	Os indivíduos tendem a ignorar as proporções da base na avaliação da probabilidade de eventos, quando é fornecida qualquer outra informação descritiva, mesmo se esta for irrelevante. 
	FALTA DE SENSIBILIDADE AO TAMANHO DA AMOSTRA
	Os indivíduos, frequentemente, não são capazes de apreciar o papel do tamanho da amostra na avaliação da confiabilidade das informações da mesma.
	CONCEPÇÕES ERRÔNEAS SOBRE O ACASO
	Os indivíduos esperam que uma sequência de dados gerados por um processo aleatório pareça ser "aleatória", mesmo quando for demasiado curta para que aquelas expectativas sejam estatisticamente válidas.
	REGRESSÃO À MÉDIA
	Os indivíduos tendem a ignorar o fato de que eventos extremos tendem a regredir à média nas tentativas subsequentes.
	A FALÁCIA DA CONJUNÇÃO
	Os indivíduos julgam erradamente que as conjunções (dois eventos que ocorrem em conjunto) são mais prováveis do que um conjunto mais global de ocorrências do qual a conjunção é um subconjunto.
	VIESES DA HEURÍSTICA DA ANCORAGEM E AJUSTAMENTO
	INSUFICIENTE AJUSTAMENTO DA ÂNCORA
	Os indivíduos fazem estimativas para valores com base em um valor inicial (derivado de eventos passados, atribuição aleatória ou qualquer outra informação que esteja disponível) e, em geral, fazem ajustes insuficientes daquela âncora quando do estabelecimento de um valor final.
	VIÉS DE EVENTOS CONJUNTIVOS E DISJUNTIVOS
	Os indivíduos exibem um viés tendendo para a superestimação da probabilidade de eventos conjuntivos e para a subestimação da probabilidade de ventos disjuntivos. 
	EXCESSO DE CONFIANÇA
	Os indivíduos tendem a ser excessivamente confiantes quanto à infalibilidade de seus julgamentos ao responderem a perguntas de dificuldade variando de moderada a extrema.
	VIESES QUE EMANAM DIVERSAS HEURÍSTICAS
	ARMADILHA DA CONFIRMAÇÃO
	Os indivíduos tendem a buscar informações de confirmação para o que consideram ser verdadeiro e negligenciam a busca de indícios de não confirmação.
	RETROSPECTO
	Após terem constatado a ocorrência ou não de um evento, os indivíduos tendem a superestimar o grau em que teriam antevisto o resultado correto.

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