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Livro Plantas Forrageiras

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CAPÍTULO 1 
 
IMPORTÂNCIA DAS FORRAGEIRAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO 
Dilermando Miranda da Fonseca 
Manoel Eduardo Rozalino Santos 
Janaina Azevedo Martuscello 
 
1 - INTRODUÇÃO 
 Em um sistema de exploração pecuária com base na utilização de pastagens, a 
planta forrageira assume papel primordial, uma vez que tanto a rentabilidade quanto 
a sustentabilidade do sistema depende da escolha correta da forrageira. 
 O Brasil, país de dimensão continental, contém uma série de biomas 
diferenciados, o que torna imprescindível a existência de grande número de espécies 
forrageiras, gramíneas ou leguminosas, para que todos esses ecossistemas sejam 
contemplados quando o objetivo for o estabelecimento de pastagens. O grande 
número de espécies forrageiras disponíveis aos pecuaristas realça a necessidade e 
esforços dos pesquisadores no sentido de distinguir suas principais características; e 
também aumenta a responsabilidade dos pecuaristas quanto à sua escolha, já que as 
opções são diversas. 
Estima-se que no Brasil exista cerca de 170 milhões de hectares de pastagens, 
sendo que 100 milhões são de pastagens cultivadas e 70 milhões de pastagens 
naturais (IBGE, 2005). A produção de carne e leite no país é baseada quase que 
exclusivamente em pastagens de gramíneas e leguminosas forrageiras. Devido à 
importância da pecuária nacional para a economia do país, o cultivo de plantas 
forrageiras assume papel relevante para a cadeia produtiva de carne e leite. 
Nos últimos anos, a produção de carne aumentou no Brasil e esse 
agronegócio movimenta aproximadamente 24 bilhões de dólares ao ano (FAO, 
2005). Também no agronegócio leite, a partir da década de 1990, notou-se grande 
transformação da atividade no país, resultante de mudanças institucionais, onde os 
produtores incorporaram novas tecnologias ao sistema de produção (Martins, 2005). 
Assim, o aumento na produtividade de carne e leite no Brasil se deve, 
principalmente, à adoção de novas tecnologias pelos pecuaristas, incluindo a 
utilização de novas forrageiras mais responsivas em sistemas intensivos de produção, 
lançadas pelos centros de pesquisa (Martuscello et al., 2007). 
A produção animal em pastagens apresenta vantagens em relação aos outros 
sistemas de produção. Geralmente, o pasto é o alimento mais viável economicamente 
para a alimentação de ruminantes. Estima-se que o custo de produção da forragem 
oriunda da pastagem, na mesma unidade de medida, corresponde a um terço daquele 
originado a partir de outras fontes de alimento, como silagem, feno e alimentos 
concentrados. Neste contexto, o Brasil encontra-se em situação privilegiada, uma vez 
que estimativas são de que 96,5% do plantel de bovinos é manejado exclusivamente 
em pastagens, sendo que dos 3,5% restantes, a maioria é criada em pastagens por 
algum período do ciclo de produção (ANUALPEC, 2002). De acordo com dados 
oficiais do IBGE (2002), as pastagens brasileiras suportam um rebanho que 
ultrapassa 200 milhões de cabeças, das quais mais de 171 milhões só de bovinos, 
colocando o Brasil na condição de país com o segundo maior rebanho bovino do 
mundo. 
 Entretanto, quando se analisa criteriosamente os índices zootécnicos do 
rebanho brasileiro sob pastejo, nota-se ineficiência nos sistemas de produção, já que 
o desfrute brasileiro é 23,4% menor do que o da vizinha Argentina, 47,5% menor do 
que o da Austrália, que também explora o sistema de produção em pastagens, e 
64,1% menor do que o dos Estados Unidos (FAO, 2002). Evidentemente, esses 
dados refletem, dentre outros fatores, não só o manejo inadequado das pastagens e 
dos animais no Brasil, mas também, em alguns casos, a inadequação da planta 
forrageira ao sistema de produção. 
 Culturalmente o produtor brasileiro tende a buscar a “forrageira milagrosa” 
como forma de aumento de produtividade, facilidade de manejo e sustentabilidade do 
sistema de exploração. Porém, na maioria dos casos, as subestimativas de exigências 
nutricionais e o desconhecimento do manejo da forrageira utilizada, somado à 
inadequação desta ao ecossistema, resulta em diminuição da produtividade e, 
posteriormente, degradação da pastagem. Ademais, a simples substituição da planta 
forrageira tem pouco efeito no sistema de produção como um todo, haja vista que 
esta é somente parte integrante do ecossistema. Ainda assim, é de extrema 
importância o conhecimento das características agronômicas, morfológicas e 
fisiológicas da forrageira a ser utilizada, pois este é a base que norteia a adequada 
escolha e o eficiente manejo das forrageiras. 
 
 
2 - HISTÓRICO DAS FORRAGEIRAS NO BRASIL 
 O Brasil, quando à época do descobrimento, possuía cerca de 89% de 
florestas e o restante de sua área era de formações campestres. Os campos de 
pastagens nativas mais representativos no Brasil eram os campos naturais do Sul do 
país, os campos inundáveis da Amazônia e do Pantanal e o Cerrado, com suas 
vegetações características. As demais áreas de pastagens no Brasil, já no início do 
século 20, foram surgindo por ação antrópica a partir do desmatamento de áreas 
florestais. 
 Na época da escravatura, no Brasil colônia, algumas forrageiras de origem 
africana foram trazidas para o País em navios negreiros. De acordo com Mitidieri 
(1988), houve a introdução casual das primeiras gramíneas africanas na América 
através dos navios que traziam escravos de Guiné. O capim-colonião e outros 
serviam de cama para os escravos e, depois, eram jogados em áreas da costa 
brasileira. Devido principalmente as semelhanças edafoclimáticas entre algumas 
regiões do Brasil e algumas regiões da África, essas forrageiras se adaptaram bem e 
se disseminaram por várias localidades brasileiras. Ademais, essas forrageiras, 
mostraram-se bastante resistentes ao pisoteio e ao pastejo, como conseqüência, 
dentre outros fatores, da co-evolução durante milhares de anos com os grandes 
herbívoros africanos. Nesse grupo de gramíneas africanas estão incluídos o capim-
colonião (Panicum maximum), o capim-braquiária (Brachiaria decumbens), o capim-
jaraguá (Hyparrhenia rufa), o capim-gordura (Melinis minutiflora), entre outros, os 
quais serão abordados detalhadamente nos capítulos subseqüentes. 
Desde o início da colonização do território brasileiro e mesmo na atualidade 
em regiões em que ocorre expansão da agropecuária, os bovinos exerceram papel 
desbravador na ocupação de áreas. No início, o estabelecimento das pastagens 
ocorreu de forma lenta devido sua implantação por mudas e, a partir da década de 
1960, o processo de estabelecimento das pastagens passou a ocupar maiores áreas, 
em menor tempo, devido à importação, produção e utilização de sementes de 
forrageiras. Entretanto, em razão do pouco conhecimento das exigências nutricionais 
e de manejo das forrageiras, o declínio de produtividade foi evidente, iniciando-se 
assim o denominado “ciclo dos capins” (Tabela 1), onde os produtores substituíam as 
forrageiras já estabelecidas na tentativa de restabelecer a produção, porém em solos 
cada vez mais improdutivos e degradados. Dessa forma, aumentava-se o número de 
degraus da “escada descendente feliz” ou “escada da ilusão” (Figura 1), quando se 
procurava, a cada reforma da pastagem, um “capim novo”, com baixa exigência em 
fertilidade de solo, resistente ao fogo, ao pastejo, produtivo no período seco do ano, 
etc. (Corsi, 1988). 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1 - Evolução do uso e substituição de plantas forrageiras no Brasil (ciclo dos 
capins) 
Década Gênero, espécie e, ou cultivar de forrageira 
1960 Cynodon e Digitaria 
1970 Panicum maxium (Green Panic, Sempre Verde e 
Makueni) 
Setaria anceps (Nandi, Kazungula) 
Brachiaria decumbens 
1980 (Áreas tropicais) Panicum maxium (Centenário) 
Andropogon gayanus 
1980 (Áreas não tropicais) Festuca, Lolium, Phalaris, Trifolium, Medicago, 
Lotus 
1980 (Introdução degermoplasma) 
 Brachiaria 
Panicum 
1980 (Lançamento de 
cultivar) 
Brachiaria brizantha cv. Marandu 
1990 (Lançamento de 
cultivar) 
Panicum maximum cv. Vencedor, Tanzânia e 
Mombaça 
2000 (Lançamento de 
cultivar) 
Brachiaria brizantha cvs. Xaraés e Piatã, 
Panicum maximum cv. Massai, Paspalum atratum 
cv. Pojuca 
 
 
 
Figura 1- Escada descendente feliz ou escada da ilusão (Adaptado de Corsi, 1988). 
 
 Na atualidade, assim como no passado, verifica-se um grande interesse por 
parte dos pecuaristas no tocante à substituição de gramíneas forrageiras. Há especial 
interesse no estabelecimento de forrageiras lançadas recentemente e que ocupam 
maior espaço nos meios de divulgação. Vale salientar que a simples substituição da 
forrageira no sistema de produção não garante a lucratividade final, caso outras ações 
de manejo não sejam empregadas concomitantemente. Muitas “forrageiras atuais” 
são utilizadas sem o devido embasamento teórico (conhecimento de suas 
características) necessário para o seu adequado manejo. Dessa forma, parece que o 
“ciclo dos capins” ainda não acabou. 
 
3. CONHECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DAS PLANTAS 
FORRAGEIRAS 
O conhecimento das diversas características de cada forrageira é de suma 
importância para sua correta utilização, para garantir produtividade e perenidade das 
espécies, bem como lucratividade dos sistemas produtivos que as utilizam. Cada 
forrageira possui características particulares, resultado dos distintos meios nos quais 
evoluíram durante milhares de anos. Isso faz com que exista grande diversidade de 
CAPIM-COLONIÃO, 
CAPIM-NAPIER 
CAPIM-PANGOLA 
CAPIM-BRAQUIÁRIA 
CAPIM-KIKUIO-DA-AMAZÔNIA 
CAPIM-ANDROPÓGON 
CAPIM-MARANDU 
GRAMA BATATAIS (GRAMÃO) 
REBROTA DE BARBA DE BODE 
RABO DE BURRO, SAPÉ 
forrageiras no que diz respeito às características morfológicas e fisiológicas, às 
exigências edáficas e climáticas, que determinam aptidões variáveis tais como 
resistência à intensidade de pastejo, exigência em fertilidade e textura do solo, 
condições de clima e manejo, dentre outras. A consideração destas diversas 
características é essencial quando da idealização e condução de sistemas de produção 
baseados na utilização das pastagens. 
Embora exista muitas opções de recursos forrageiros disponíveis aos 
pecuaristas, para cada ecossistema e perfil de sistema produtivo, há um número 
restrito de forrageiras mais propícias. Ademais, em um mesmo ecossistema ou 
sistema de produção, existem microclimas em que as características do ambiente são 
diferenciadas ou áreas utilizadas com objetivos distintos. Essa realidade torna ainda 
mais importante o conhecimento das forrageiras para sua adequada escolha e 
utilização. 
Há forrageiras com diferentes formas de crescimento e essa característica é 
importante, por exemplo, quando da escolha da espécie para áreas de relevos 
distintos. Em áreas declivosas torna-se mais adequado a utilização de gramíneas 
estoloníferas e, ou decumbentes. Em contrapartida, áreas planas podem ser utilizadas 
com gramíneas cespitosas e de crescimento mais ereto. Esse simples conhecimento 
pode garantir a sustentabilidade da pastagem por prevenir possíveis problemas de 
erosão e, consequentemente, degradação. 
Pela caracterização morfológica de uma forrageira também se pode inferir 
sobre sua mais adequada forma de utilização. Assim, gramíneas com alta relação 
folha:colmo e de colmos finos são as mais indicadas para produção de feno por 
propiciarem mais rápida desidratação e melhor qualidade do produto; plantas de 
crescimento ereto com meristema apical mais facilmente eliminado pelo pastejo 
exigem freqüência de corte menor ou altura de corte mais elevada, ao contrário de 
plantas mais prostradas; e forrageiras de maior porte são menos indicadas para o 
pastejo de pequenos ruminantes e equídeos. 
As características agronômicas também devem ser consideradas. O maior 
potencial produtivo de uma forrageira a torna mais recomendada aos sistemas de 
produção mais intensivos, onde se utiliza maior quantidade de adubo com o objetivo 
de incrementar a produção animal por área. Normalmente, estas forrageiras são mais 
exigentes em fertilidade de solo, o que restringe e, ou limita sua utilização. 
Forrageiras com elevado potencial de produção de sementes garantem maior 
recuperação natural das plantas, o que pode contribuir para sustentabilidade do pasto 
em condições de manejo menos adequadas ou após ocorrências climáticas 
desfavoráveis. A variação fenológica das espécies e, ou cultivares de forrageiras tem 
influência na oferta e na distribuição, bem como no valor nutritivo da forragem e 
pode alterar o consumo e desempenho animal, o que faz com que ações de manejo 
sejam, teoricamente, diferenciadas em função do estádio de crescimento da planta. 
A adaptação da forrageira às condições de clima, bem como suas respostas ao 
clima, é fundamental para o sucesso na produção de forragem durante o ano. Essas 
informações, somadas ao conhecimento da condição climática da região onde se 
pretende implantar ou já existe a pastagem, permite a adequada escolha da espécie 
forrageira e melhor planejamento para utilização do recurso forrageiro. A maioria 
das gramíneas tropicais possui exigência de temperatura ótima para a fotossíntese em 
torno de 35°C (Magalhães, 1979). Isso é um dos fatores que explicam a sazonalidade 
da produção de forragem em condições tropicais. De outra forma, as forrageiras de 
inverno têm capacidade de crescer em ambientes mais frios, pois sua fotossíntese 
ótima ocorre numa temperatura em torno de 25°C (Magalhães, 1979). Destarte, o uso 
destas últimas pode constituir uma das estratégias para reduzir a estacionalidade da 
produção de forragem no sistema. 
A qualidade da forragem também é um dos determinantes do consumo e 
desempenho animal e, sendo assim, seu conhecimento permite adequar os diferentes 
tipos de pasto às distintas categorias e, ou espécies animais de forma coerente. Por 
exemplo, as leguminosas, em geral, possuem melhor valor nutritivo do que as 
gramíneas e, por isso, a sua utilização deve ser recomendada para ocasiões em que o 
maior desempenho animal é almejado, tais como em criatórios de animais de alto 
valor genético. Existem ainda plantas forrageiras que possuem fatores 
antinutricionais, tais como tanino, mimosina, ácido cianídrico, oxalato, dentre outros. 
Esse conhecimento pode limitar ou restringir sua utilização e, mais importante, evitar 
prejuízos ao pecuarista devido aos danos aos animais. 
Finalmente, é importante considerar que as demandas por tecnologias não são 
estáticas. Assim, na medida que novas tendências, diferentes formas de manejo ou 
distintos sistemas de produção vão sendo desenvolvidos e implementados, torna-se 
imprescindível novos conhecimentos sobre recursos vegetais mais aptos para serem 
utilizados nestas novas condições. Como exemplo, temos a crescente demanda de 
informações sobre implantação e condução de sistemas agrossilvipastoris, que 
integram conjuntamente a agricultura, a pecuária e a atividade florestal numa mesma 
área. Nesses sistemas, a introdução da forrageira deve ser baseada, dentre outros 
fatores, no conhecimento do seu nível de tolerância ao sombreamento para garantir 
boa produtividade. Outro exemplo são os sistemas que utilizam a integração 
agricultura e pecuária com o uso da técnica de plantio direto. Nesse caso, 
características da planta forrageira, tais como sistema radicular vigoroso capaz de 
melhorar as propriedades físicas do solo, facilidade de erradicação e, ou dessecação 
com o uso de herbicidas e elevada produção de biomassa que permita oferta de 
forragem e boa cobertura do solo, são requeridas para obtenção de êxito na 
exploração e, portanto, devem ser conhecidas. 
Várias outras características e finalidades de uso das forrageiras aindapoderiam 
ser descritas, as quais juntamente com as citadas, quando devidamente conhecidas, 
auxiliam sua escolha e adequada utilização. Todavia ressalta-se que, possivelmente, 
não existe uma única forrageira que reúna todas as características agronômicas e 
zootécnicas desejáveis para uma determinada condição. Essa realidade faz com que a 
caracterização das forrageiras seja necessária, como forma de nortear seus usuários e 
antecipar possíveis padrões de resposta produtiva quando do seu estabelecimento e 
utilização. 
 
4 - FORRAGEIRA COMO COMPONENTE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO EM 
PASTAGEM 
O conhecimento dos componentes do sistema de produção animal em pastagem 
é um dos pressupostos para o entendimento das relações de causa e efeito que 
determinam seu funcionamento. Segundo Sheath & Clark (1990), esses componentes 
são os recursos físicos, vegetais e animais, os quais são arranjados e organizados em 
uma seqüência hierárquica e interativa (Figura 2). 
Os recursos vegetais correspondem à espécie ou conjunto de espécies 
forrageiras que são exploradas no sistema produtivo. Para a utilização adequada 
desses recursos vegetais, deve-se conhecer suas características, bem como a base 
produtiva do sistema, denominada de recurso físico. Este compreende as condições 
edafoclimáticas, a infra-estrutura, a localização geográfica, quantidade e qualidade 
da mão-de-obra disponível, dentre outros, do sistema produtivo. Esses 
conhecimentos, se devidamente considerados, irão impor restrições às diversas 
possibilidades de escolha dos recursos vegetais, definindo um universo mais estreito 
de combinações em um sistema de produção (Da Silva & Corsi, 2003). 
 
 
 
 
 
Figura 2 - Representação da estrutura hierárquica entre os componentes do sistema 
de produção animal em pastagens (Adaptado de Sheath & Clark, 1990). 
 
A interação entre os recursos físicos e vegetais deve ser otimizada e 
harmonizada, respeitando-se as exigências e particularidades de ambos, para que o 
sistema seja produtivo e sustentável. Infelizmente, essa premissa básica e 
fundamental para o bom funcionamento do sistema de produção animal baseado no 
uso da pastagem não tem sido respeitada. É comum tentativas de estabelecimento de 
espécies forrageiras em condições impróprias, tais como o plantio de capim-elefante 
em áreas de solo com deficiência de drenagem; a semeadura de cultivares de 
Panicum, exigentes em fertilidade, em solos ácidos e pobres em nutrientes; ou a 
utilização de forrageiras com limitado potencial de resposta produtiva, como a 
Brachiaria ruziziensis, em sistemas de produção de alto nível tecnológico. 
A inadequação dos recursos vegetais aos recursos físicos resulta em baixa 
produtividade e lucratividade do sistema e, o que é mais preocupante, na degradação 
dos ecossistemas pastagens. Segundo Barcellos et al. (2001), cerca de 80% das 
pastagens cultivadas nos Cerrados apresenta-se em estádio de degradação, sendo este 
apontado como um dos principais problemas sociais, econômicos e ambientais 
 Recursos físicos 
 Recursos vegetais 
 Recursos animais 
vividos pela pecuária nacional. Contudo vale salientar que ações de manejo podem e, 
muitas vezes, devem ser implementadas com o objetivo de corrigir possíveis 
limitações nos recursos físicos e, assim, tornar apropriada a utilização dos recursos 
vegetais específicos e de interesse. 
Filosoficamente, somente após o estabelecimento da interação estável entre os 
recursos físicos e vegetais é que o terceiro componente do sistema de produção 
animal em pastagens deve ser considerado, ou seja, o recurso animal. Este pode ser 
caracterizado pela(s) espécie(s), categoria(s) e mérito genético dos animais que serão 
criados. 
Nesse contexto, ainda é corriqueira a observação do emprego de recursos 
animais inadequados aos recursos vegetais disponíveis. Situações como a 
manutenção de animais com produtividades distintas e, portanto, com exigências 
nutricionais diferentes num mesmo pasto são comuns. Neste caso, a simples divisão 
do rebanho em lotes mais homogêneos e sua alocação em pastos específicos, 
considerando o valor nutritivo da forragem e a demanda de nutrientes do animal, 
consiste em ação de manejo mais eficiente. Mas, para isso, torna-se necessário 
conhecer a qualidade da forragem possível de ser produzida pela planta forrageira. 
Assim, diferentes recursos animais exigem distintos recursos vegetais. Em 
condições de pastagem, onde existe uma oferta abundante de forragem de baixa 
qualidade, animais de menor porte ficam em desvantagem para atingir seus 
requerimentos em função de sua alta demanda energética (Demment & Van Soest, 
1985). Os animais de grande porte têm a vantagem de poder utilizar a estratégia de 
aumentar o tempo de retenção do alimento, explorando mais eficientemente a 
forragem de baixa qualidade. Os bovinos teriam, portanto, uma considerável 
vantagem em relação a ovinos, e principalmente em relação a caprinos, nesta 
situação. 
Diante do exposto, fica evidente a existência de interdependência entre os 
recursos físicos, vegetais e animais no sistema de produção em pastagem. Nesse 
contexto, os recursos vegetais devem ser escolhidos em função da natureza e da 
possibilidade de alteração nos recursos físicos. Ademais, o recurso vegetal é um dos 
determinantes do desempenho do recurso animal em pastagens e, dessa forma, deve 
ser escolhido tendo como um dos critérios o tipo de animal que será criado. 
 
5 - ETAPAS DE PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTAGEM 
A produção animal em pastagens pode ser entendida, do ponto de vista do 
funcionamento, como resultado de três etapas interdependentes: crescimento, 
utilização e conversão (Hodgson, 1990) (Figura 3). A fixação de energia proveniente 
do sol e sua transformação em tecido vegetal são processos responsáveis pela 
produção de forragem e correspondem à etapa de crescimento. Essa forragem, 
quando colhida pelo animal por meio do pastejo, caracteriza a etapa de utilização. A 
conversão, última etapa do processo produtivo, é a transformação da forragem 
consumida em tecidos e produtos de origem animal. 
 
 
 
Figura 3 - Representação das etapas da produção animal em pastagens (Adaptado de 
Hodgson, 1990). 
 
A escolha da espécie ou cultivar de forrageira a ser utilizada influencia 
diretamente a etapa de crescimento, porque cada planta possui um potencial de 
Forragem 
produzida 
Recursos: 
Solo, Clima, 
Plantas 
CRESCIMENTO 
Forragem 
consumida 
UTILIZAÇÃO 
Produto 
Animal 
CONVERSÃO 
PRODUÇÃO ANIMAL 
produção determinado geneticamente e que, em função das condições do meio, pode 
ser expresso em escalas variáveis. Em razão disso, ambientes que permitam a 
expressão do mérito genético da planta forrageira devem ser utilizados com plantas 
com alto potencial de resposta, como as cultivares de Pennisetum purpureum e 
algumas de Panicum maximum. Contrariamente, os capins Brachiaria ruziziensis, 
Paspalum notatum e Melinis minutiflora, que são exemplos de espécies com menor 
capacidade de produção, devem ser alocadas em áreas cujas características sejam 
mais limitantes à produção de forragem. 
A morfologia da forrageira também condiciona as ações de manejo do pastejo 
empregadas durante a etapa de utilização. Parece haver um consenso de que plantas 
eretas, de porte alto e com ritmo de crescimento acelerado, como os capins Tanzânia, 
Mombaça e Elefante, são mais indicadas para a utilização sob pastejo em lotação 
intermitente, enquanto que as forrageiras de porte mais baixo, para uso em lotação 
contínua (Rodrigues & Reis, 1999). 
Acresce-se ainda que cada forrageira possui um valor nutritivo inerente, reflexo 
de suas características químicas e anatômicas que, embora possam ser modificadas 
pelo manejo, também influenciam a conversãoda forragem em produto animal, 
afetando, assim, a última etapa da produção animal em pastagem (conversão). 
Assim, a escolha da planta forrageira tem conseqüências significativas em 
todas as etapas do processo de produção animal em pastagem (crescimento, 
utilização e conversão). Ademais, a etapa de utilização também afeta o crescimento 
da planta forrageira, porque diferentes intensidades e freqüências de pastejo resultam 
em respostas diferenciadas da planta num determinado ambiente. Nesse contexto, o 
conhecimento do padrão de crescimento das diferentes forrageiras em condições de 
pastejo é importante para a escolha da espécie, tendo em vista as estratégias de 
manejo que são e, ou serão adotadas na propriedade. 
 
 
6 - OBJETIVO COM O SISTEMA DE PRODUÇÃO EM PASTAGEM 
Embora exista um grande número de forrageiras de que se pode dispor, a 
simples consideração do(s) objetivo(s) e do perfil que se pretende com um sistema de 
produção animal já restringe, sobremaneira, as espécies mais convenientes e 
adequadas àquela condição. Dessa forma, o uso de determinado recurso forrageiro 
deve ser norteado pela consideração conjunta e criteriosa das características da planta 
e do sistema de produção. 
 Existe uma grande diversidade de sistemas de produção animal no Brasil, o 
que demanda, teoricamente, forrageiras específicas para cada condição. Por exemplo, 
nos sistemas de produção em que o produto final é a forragem, como naqueles cujo 
produto é o feno ou a silagem, a planta forrageira não está sobre influência direta do 
animal. Assim, os efeitos do pisoteio, do pastejo e das dejeções dos animais não 
ocorrem e, portanto, adaptações a estes efeitos são menos relevantes quando da 
escolha da planta forrageia. Por outro lado, em praticamente todos os sistemas 
produtivos, a planta tem que ser adaptada a cortes frequentes (corte ou pastejo), ter 
boa capacidade produtiva e potencial de produzir uma forragem de boa qualidade. 
Os sistemas de produção onde animais permanecem confinados utilizam a 
planta forrageira para produção de volumoso, que é fornecido no cocho, seja na 
forma de feno, silagem ou forragem fresca e picada. Novamente, nessas condições a 
planta forrageira não é afetada pelo pastejo animal, mas deve ser escolhida com base 
no seu potencial de produção e qualidade. Os animais criados nestes sistemas são, via 
de regra, mais produtivos e, logo, demandam a ingestão de forragem “concentrada” 
em nutrientes. Isso faz necessário o uso de espécies forrageiras que, quando 
corretamente manejadas, produzam uma forragem de boa qualidade. 
Os sistemas de produção animal em pastagens são mais flexíveis quanto ao(s) 
objetivo(s) e às interações entre os componentes solo, planta, animal e meio. Nestes 
sistemas deve-se, como premissa básica, utilizar plantas adaptadas às condições de 
pastejo. Para esse fim, várias características da planta são desejáveis, tais como: 
localização do meristema apical mais próximo ao nível do solo, alta capacidade de 
renovação de tecido foliar, plasticidade fenotípica, etc. 
De acordo com alguns autores (Da Silva & Pedreira, 1997; Lupinacci, 2003), 
os sistemas de produção animal baseados no uso de pastagens podem ser agrupados, 
simplificadamente, em dois grupos básicos: (1) aqueles que objetivam elevado 
desempenho animal, praticados às expensas de taxas de lotação modestas, e (2) 
aqueles que visam a manutenção de elevadas taxas de lotação (elevada produção por 
área), com valores somente satisfatórios de desempenho animal. Para cada um desses 
sistemas produtivos, há forrageiras mais apropriadas e coerentes com os objetivos 
específicos. 
Para obtenção de elevado desempenho animal é indispensável, dentre outros, 
que a forragem tenha um bom valor nutritivo. Nesse sentido, dentre todas as opções 
de plantas forrageiras disponíveis para utilização em sistemas pastoris que explorem 
o mérito genético do animal, apenas algumas possuem características desejáveis. De 
outra forma, para que altas taxas de lotação sejam praticadas, é fundamental uma alta 
produção de forragem por unidade de área. Para isso, devem-se escolher plantas 
forrageiras com potencial de expressar sua característica genética de alta produção, 
desde de que as restrições do meio sejam corrigidas. 
É importante mencionar ainda que existem plantas forrageiras que, se bem 
manejadas, podem produzir forragem de boa qualidade e em quantidade satisfatória, 
como algumas forrageiras do gênero Panicum. Estas forrageiras podem, então, ser 
utilizadas tantos em sistemas que explorem o mérito genético do animal, quanto 
naqueles em que a expressão do mérito genético da planta forrageira é almejada. 
 
7- PLANTA FORRAGEIRA E O ANIMAL 
As plantas e os animais co-evoluíram ao longo de milhares de anos, 
desenvolvendo estratégias de resistência (planta) e de forrageamento (animais) que 
lhes permitiram sucesso adaptativo (Carvalho et al., 2006). Esse princípio deve ser 
considerado na idealização de sistemas de produção pastoris, porque os herbívoros 
domésticos que criamos e as plantas forrageiras que cultivamos são produtos desse 
processo evolutivo. 
O tamanho corporal do animal é uma característica de adaptação evolutiva, 
resultado da especialização do animal a determinados tipos de alimentos. Animais 
maiores, por exemplo, são mais aptos em tolerar alimentos de pior qualidade, porque 
a relação requerimento:capacidade digestiva diminui com o aumento do tamanho do 
animal (Carvalho et al., 2006). Contrariamente, herbívoros pequenos possuem alto 
gasto de energia por unidade de peso corporal e, portanto, demandam uma dieta mais 
digestiva e “concentrada” em nutrientes (Lechner-Doll et al., 1995). 
Dessa forma, existe uma estreita relação entre as características do pasto e as 
características dos animais que teriam capacidade de utilizá-lo. Pastos de forrageiras 
com pior valor nutritivo seriam mais bem aproveitados por espécies animais de 
maior peso corporal, como bovinos e equinos. No entanto, pastos de forrageiras de 
elevada qualidade são mais adequados aos animais menores, como caprinos, ovinos 
ou, até mesmo, animais jovens de espécies maiores (por exemplo, bezerros). 
Além dos aspectos qualitativos, as características morfológicas das forrageiras 
também devem ser analisadas para sua correta adequação ao tipo de animal que será 
criado no sistema produtivo. Como exemplo, gramíneas de porte médio ou baixo são 
preferidas pelos ovinos. Estes realizam pastejo mais baixo e, por isso, espécies com 
estolões de maior resistência ao pastejo ou espécies cespitosas de menor porte com 
meristema apical próximo ao nível do solo, tais como os capins Coastcross, Tifton, 
Estrela, Pensacola e Quicuio, são mais recomendadas para a criação de ovinos 
(Evangelista et al., 2003). Os ovinos não aproveitam bem a forragem produzida 
quando a pastagem é formada por espécies cespitosas de porte elevado, como os 
capins Colonião, Elefante e Jaraguá. Isso ocorre, simplesmente, devido à 
incompatibilidade entre as dimensões contrastantes do animal (pequeno) e do pasto 
(alto). 
Outro aspecto interessante na escolha da forrageira para ovinos diz respeito à 
relação entre a forma de crescimento da planta e o manejo sanitário de helmintos. 
Silva Sobrinho (2001) verificou que em pastos de espécies cespitosas, normalmente 
eretas e que não recobrem bem a superfície do solo, há a vantagem da maior 
penetração dos raios solares até a superfície do solo, tornando o ambiente menos 
favorável às larvas e ovos de helmintos. Por outro lado, espécies estoloníferas, com 
crescimento prostrado, propiciam a manutenção de um microclima mais favorável ao 
desenvolvimento de larvas de helmintos, dificultando o manejo sanitário. 
Com relação aos caprinos, sua maior mobilidade dos lábios superiores permite 
um pastejo tão próximo ao solo quanto os ovinos (Lu, 1988). Assim,as espécies 
forrageiras recomendadas para ovinos, normalmente, também se adequam bem aos 
caprinos. Além disso, os caprinos podem pastejar em posição bipedal, o que confere 
a esta espécie uma maior possibilidade de aproveitamento dos estratos arbóreo e de 
gramíneas mais altas (Ribeiro, 2003). 
Os equídeos realizam a preensão da planta utilizando o lábio superior, 
colocando o alimento entre os dentes incisivos, os quais, por sua vez, executam o 
corte, auxiliado pela movimentação da cabeça (Haddad & Plalatzeck, 1986). Assim, 
estes animais têm maior aptidão ao corte mais baixo e intenso, comparativamente aos 
ovinos, e espécies forrageiras de crescimento estolonífero, em geral, são mais 
adequadas para os equídeos. Ademais, os equídeos corriqueiramente empreendem 
corridas no pasto e, para respeitar este comportamento animal, é recomendado evitar 
o uso de forrageiras com crescimento cespitoso, que constituiriam obstáculo à 
movimentação destes animais. 
Com base nos exemplos citados anteriormente, torna-se necessário conciliar 
características da planta forrageira às características dos animais que irão utilizá-la. 
Normalmente, o tamanho e a anatomia dos órgãos de apreensão de alimento são 
características importantes nos animais. Nas plantas forrageiras, atenção deve ser 
devotada, principalmente, ao seu valor nutritivo, à sua forma de crescimento e ao seu 
porte. 
 
8 - PLANTA FORRAGEIRA E MANEJO DO PASTEJO 
Uma das causas de insucesso na utilização dos recursos forrageiros consiste 
na ausência de informação e conhecimento sobre o manejo do pastejo mais adequado 
para cada forrageira. Analogamente a qualquer produto que é lançado no mercado, 
que tem seu manual de instrução e utilização, toda nova forrageira recém liberada 
para comercialização deveria vir acompanhada de diretrizes eficientes para nortear o 
seu manejo, seja sob lotação contínua ou lotação intermitente, os dois principais 
métodos de pastejo empregados no Brasil. 
Na falta de informações mais detalhadas e específicas sobre o manejo do 
pastejo para cada forrageira com potencial de utilização nos sistemas de produção, 
podemos lançar mão de outras características para, com base nelas, inferir sobre as 
formas mais adequadas de manejo. Dentre essas características, a sua morfologia, 
caracterizada pela forma de crescimento ou altura da planta, por exemplo, pode ser 
analisada para esse fim. 
O pastejo ou corte das forrageiras, como forma de manejo conservativo, 
varia com a morfologia, altura, forma de propagação e rebrotação das espécies 
(Blaser, 1994). A recuperação das plantas após a desfolhação pode ser influenciada 
pelas suas características morfológicas, como o número de pontos de crescimento 
pelos quais a rebrotação pode ocorrer. A preservação dos pontos de crescimento 
permite uma rápida formação de folhas, de forma que taxas de crescimento elevadas 
são atingidas num menor período após pastejo. 
Cada espécie e, ou cultivar de forrageira possui características morfológicas 
próprias, que podem ser modificadas pelo clima e manejo, até certo limite, resultado 
da sua plasticidade fenotípica. Esta plasticidade fenotípica pode ser definida como a 
mudança gradual e reversível nas características morfogênicas e estruturais da planta 
forrageira em razão de alterações no ambiente (Da Silva & Nascimento Júnior, 
2006). Por exemplo, é sabido que gramíneas sob condições de pastejo intenso, 
normalmente, possuem menor altura, maior taxa de aparecimento de folhas, sendo 
estas de menor comprimento, e elevada capacidade de originar novos perfilhos. 
Contrariamente, numa situação de pastejo mais leniente, constata-se uma redução do 
número de perfilhos no pasto, além da ocorrência de plantas maiores, com o 
aparecimento de longas folhas de forma menos freqüente. 
Além disso, essas características morfológicas muitas vezes são um dos 
determinantes do tipo de manejo a ser adotado. Como exemplo, ressalta-se gramíneas 
de crescimento cespitoso, de porte alto, que elevam precocemente o meristema apical 
e, por isso, são mais indicadas para método de pastejo em lotação intermitente 
(Rodrigues & Reis, 1997). Ao contrário, gramíneas estoloníferas são recomendadas 
para o método de pastejo em lotação contínua, pelo fato de formarem um baixo e 
denso relvado, permitindo maior tolerância ao pastejo e pisoteio mais freqüente. 
Entretanto, salienta-se que gramíneas estoloníferas também podem ser utilizadas sob 
pastejo em lotação intermitente. 
Normalmente, forrageiras de porte mais alto são mais exigentes em manejo do 
pastejo, ou seja, são menos flexíveis quanto à forma de utilização e mais propensas 
aos erros durante sua utilização sob pastejo. Em geral, forrageiras com essas 
características são de maior potencial produtivo e perdem mais rapidamente o seu 
valor nutritivo com o tempo de crescimento (Figura 4). Como exemplo, tem-se o 
capim-elefante, espécie mais propensa aos erros de manejo, razão pela qual seu uso é 
restrito, geralmente, à formação de capineiras e sua utilização sob pastejo gerou 
muitos insucessos. Outro exemplo é o capim-tobiatã, uma cultivar de Panicum 
maximum de porte alto, com intensa diferenciação morfológica durante seu 
crescimento e, por conseguinte, muito exigente em manejo. 
As forrageiras de porte mais baixo permitem maior flexibilidade de manejo do 
pastejo, sendo mais tolerantes a erros na sua utilização e, portanto, de uso mais fácil 
e generalizado. Normalmente, estas forrageiras também possuem menor potencial 
produtivo e perdem mais lentamente o seu valor nutritivo durante o período de 
crescimento quando comparadas àquelas forrageiras de porte mais alto (Figura 4). 
Como exemplo, pode-se citar a B. decumbens, uma espécie presente em grandes 
áreas de pastagens no Brasil e manejada sob distintas formas, como em lotação 
contínua, intermitente, no diferimento de pastagem, etc, demonstrando a sua 
flexibilidade e facilidade de manejo do pastejo. 
 
 
Figura 4 - Representação esquemática das relações entre aspectos produtivos, 
qualitativos e de manejo do pastejo e a altura da planta forrageira. 
 
Atualmente, estudos de estratégias de manejo do pastejo para gramíneas 
utilizadas no Brasil, tem sido intensificado, razão do reconhecimento de que a etapa 
de utilização da forragem produzida é a que possui maior potencial para alterar a 
eficiência do sistema de exploração em pastagem e, portanto, constitui o ponto de 
partida para qualquer intervenção no sistema produtivo (Da Silva & Corsi, 2003). 
Nesses estudos, têm-se contemplado aspectos relacionados à morfologia, fisiologia e 
ecologia da planta forrageira para que, com base nestes, possa se fazer 
recomendações de manejo mais racionais e eficientes. 
Em lotação intermitente, por exemplo, têm-se recomendado a entrada e a saída 
dos animais dos piquetes com base na altura do pasto. A altura do pasto preconizada 
na condição de pré-pastejo é aquela em que o dossel intercepta 95% da luz incidente 
(Da Silva, 2004). Nessa condição, em pastagens bem estabelecidas e com adequada 
cobertura do solo, tem se mostrado, de forma consistente para todas as gramíneas 
forrageiras tropicais estudadas, ser possível colher mais forragem de melhor 
composição morfológica e valor nutritivo, com menos perdas durante o pastejo 
(Carnevalli, 2003; Barbosa, 2004; Pedreira, 2006; Voltolini, 2006; Souza Júnior, 
2007). 
Com base nesses resultados, tem sido possível relacionar a altura do pasto de 
algumas gramíneas tropicais com o momento em que o mesmo intercepta 95 % da 
luz incidente (Tabela 2). Contudo, ainda há poucas informações e estudos sobre estes 
referenciais de manejo do pastejo para o grande número de gramíneas tropicais 
manejados em lotação intermitente. Nesse sentido, uma forma de obter referenciais 
de manejo do pastejo mais coerentes para gramíneas que não foram devidamente 
avaliadaspela ciência seria basear na comparação morfológica destas gramíneas com 
aquelas que já foram estudadas. Nesta comparação, aspectos relacionados à altura da 
planta e à arquitetura foliar (tamanho, número, forma e ângulo foliar) seriam 
relevantes. 
 
 
 
 
 
 
Tabela 2 – Altura do pasto na condição de pré-pastejo associada à interceptação 
luminosa de 95% pelo dossel de gramíneas forrageiras tropicais 
Gramínea Altura do pasto (cm) Fonte 
Capim-mombaça 90 Carnevalli (2003) 
Capim-tanzânia 70 Barbosa (2004) 
Capim-marandu 25 Zeferino (2006) 
Capim-xaraés 30 Pedreira (2006) 
Capim-cameroon 100 Voltolini (2006) 
 
Como cada forrageira possui características morfológicas específicas, as 
estratégias de manejo devem variar em função da espécie em questão. A comparação 
entre a morfologia do colmo entre gramíneas, por si só, permite inferências sobre o 
objetivo com o manejo do pastejo das espécies. Gramíneas de colmo mais 
desenvolvido e lignificado, como o capim-elefante e algumas cultivares de P. 
maximum, são mais adequadamente manejadas sob lotação intermitente, pelo fato 
deste método de pastejo permitir um maior rigor no controle da intensidade e 
freqüência do pastejo, quanto comparado ao método de pastejo em lotação contínua. 
O controle do desenvolvimento do colmo é importante, pois este componente 
morfológico tem influencia negativa no comportamento ingestivo e consumo animal 
e também possui pior valor nutritivo do que as folhas. Já em gramíneas de colmos 
mais tenros, como as cultivares de Cynodon, o objetivo com o manejo do pastejo 
pode ser outro em função do efeito menos acentuado do colmo destas forrageiras 
sobre o consumo e desempenho animal. 
O conhecimento das características morfológicas das forrageiras é de suma 
importância para o desenvolvimento de estratégias de manejo do pastejo mais 
eficientes. A morfologia da planta, unicamente, consiste em indicativo da forma 
como a mesma deve ser utilizada sob pastejo. Portanto, as associações entre algumas 
características morfológicas da planta forrageira, especialmente a sua altura, e os 
seus aspectos produtivos, qualitativos e de manejo são importantes para auxiliar na 
definição de referenciais de manejo do pastejo mais adequados, principalmente 
quando estes referenciais, até então, não foram gerados de forma objetiva pela 
pesquisa. Assim, para que a exploração da pecuária seja produtiva, rentável e 
sustentável, o tipo de forrageira deve ser adequado, dentre outros fatores, ao(s) 
objetivo(s) que se pretende com o sistema de produção, às características dos animais 
que a utilizarão e às estratégias de manejo do pastejo adotadas. Essa adequação 
apenas será possível pelo conhecimento detalhado das características das forrageiras 
com potencial de utilização em nossas condições. 
Com relação à busca e, ou procura da chamada “forrageira milagrosa”, duas 
considerações são possíveis. Primeiramente, pode-se assumir que a “forrageira 
milagrosa” não existe e nem existirá, porque parece ser incompatível, 
biologicamente, a reunião de todas as características desejáveis em uma única 
espécie e, ou cultivar de planta. Essa tem sido a opinião mais difundida e aceita pelos 
técnicos e pesquisadores que trabalham na área de forragicultura e pastagens. Por 
outro lado, uma proposição diferente pode ser assumida: existem diversas 
“forrageiras milagrosas”, cada qual apropriada aos distintos ambientes de produção. 
A forrageira mais adequada às condições e aos objetivos do sistema de produção 
consiste na “forrageira milagrosa”. Nessa perspectiva, provavelmente, as “forrageiras 
milagrosas” já existem e estão à disposição dos pecuaristas, porém a falta de 
conhecimento sobre as diversas características inerentes a cada forrageira impede a 
sua escolha e o seu uso. 
Por isto, neste capítulo, procurou-se enfatizar a importância do conhecimento 
das características das plantas forrageiras, as quais serão descritas detalhadamente 
para um grande número de espécies e, ou cultivares de forrageiras nos demais 
capítulos. Na verdade, a busca por estes conhecimentos deveria consistir numa das 
primeiras ações de manejo da pastagem a ser praticada pelo manejador a fim de 
garantir sua produtividade e sustentabilidade. 
 
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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CAPÍTULO 2 
 
Gênero Brachiaria 
Cacilda Borges do Valle 
 Manuel Cláudio Motta Macedo 
 Valéria Pacheco Batista Euclides 
 Liana Jank 
Rosangela Maria Simeão Resende 
 
1 - INTRODUÇÃO - HISTÓRICO 
O gênero Brachiaria foi primeiramente descrito por Trinius (1834) como 
uma subdivisão de Panicum e depois elevado a gênero por Grisebach (1853). A 
taxonomia do gênero é até hoje controversa devido a ampla e contínua variação em 
características diferenciadoras utilizadas para delimitar espécies do gênero e mesmo 
entre gêneros afins como Urochloa, Eriochloa e Panicum. 
Brachiaria inclui cerca de 100 espécies, de origem principalmente tropical e 
subtropical africana. Sete dessas espécies - B. arrecta, B. brizantha, B. decumbens, 
B. dictyoneura, B. humidicola, B. mutica e B. ruziziensis - são muito utilizadas como 
plantas forrageiras na América Tropical (Keller-Grein et al., 1996). Umas poucas 
espécies africanas como, B. plantaginea e provavelmente B. mutica, foram 
introduzidas durante o período colonial, como cama para os escravos em navios 
negreiros (Parsons, 1972; Sendulsky, 1978). 
 A B. decumbens foi introduzida oficialmente no Brasil em 1952, no Instituto 
de Pesquisa Agropecuária do Norte (IPEAN), em Belém (Serrão e Simão Neto, 
1971) com o nome de B. brizantha. A partir de 1965, ocorreram novas introduções 
dessa B. decumbens, que ficou conhecida como cv. IPEAN, juntamente com as 
primeiras introduções de B. brizantha e B. ruziziensis. Houve distribuição e 
multiplicação desta forrageira por estolões para outros estados brasileiros, uma vez 
que a produção de sementes na região Norte era reduzida (Pizarro et al., 1996). Um 
outro ecotipo de B. decumbens, originário de Uganda, mas levado para a Austrália 
em 1930 e lá registrado como cv. Basilisk (Mackay, 1982), foi introduzido pelo 
Instituto de Pesquisas Internacionais (IRI) em Matão, São Paulo no início da década 
de 1960. Entre 1968 e 1972 houve intensa importação de sementes da Austrália dessa 
cultivar, estimulada por programas governamentais de incentivo a formação de 
pastagens. Estabeleceu-se assim um extenso monocultivo nos cerrados brasileiros. A 
boa adaptação aos solos ácidos e pobres, fácil multiplicação por sementes, associada 
à grande vantagem competitiva com invasoras e bom desempenho animal comparada 
às pastagens nativas, explicam a rápida expansão desta braquiária nos trópicos. 
Com o monocultivo de milhões de hectares de B. decumbens, uma cultivar 
rústica e apomítica (o embrião é clonal, i.e., uma cópia exata da planta-mãe), 
começaram a aparecer problemas como a cigarrinha-das-pastagens, que dizimou 
essas pastagens na Amazônia; a fotossensibilização, especialmente em bezerros 
desmamados em pasto de capim-braquiária; e extensas áreas de pastagens 
degradadas, associadas ao manejo indevido (superpastejo, não realização de 
adubações de manutenção ou subsolagem). Neste contexto, a liberação da B. 
brizantha cv. Marandu em 1984 (Nunes et al., 1984), resistente às cigarrinhas, 
promoveu gradual substituição das áreas de B. decumbens, e por sua vez constituiu 
novo monocultivo a partir de meados da década de 1980 e que perdura até hoje. 
Segundo um estudo realizado pela Scot Consultoria relatado pelo Jornal dos 
Criadores (Anônimo, 2004), em 2003 havia 174 milhões de hectares de pastagens 
cultivadas no Brasil, dos quais cerca de 100 milhões em áreas de cerrados. As poucas 
cultivares comerciais disponíveis de braquiária respondem por 85% das sementes de 
forrageiras comercializadas anualmente no Brasil Central (Macedo, 2006) e por isso 
geram grande vulnerabilidade nos mais de 50 milhões de hectares cultivados com 
essas variedades. 
A capacidade de suporte das pastagens nos Cerrados foi praticamente 
triplicada com a introdução da braquiária: se as pastagens nativas eram utilizadas na 
base de 3 a 4 hectares por cabeça, e pastagens de capins Gordura ou Jaraguá nos 
cerrados com 0,3 a 0,6 cabeças por hectare, as braquiárias suportam em média 1 a 1,5 
cabeça por hectare durante o ano. Fala-se mesmo que a braquiária foi um "divisor de 
águas" no Brasil central pecuário: pecuária antes e após sua utilização. 
O pequeno número de cultivares disponíveis e a baixa diversidade genética 
dessas cultivares em uso representam um grande risco a esse patrimônio. Daí a 
grande demanda e urgência em desenvolver e selecionar novos genótipos visando a 
diversificação das áreas de pastagens nos trópicos. 
Fontes de informações específicas e importantes sobre o gênero Brachiaria 
estão publicadas nos Anais do 11o Simpósio sobre Manejo da Pastagem (Peixoto et 
al., (eds.), 1994); no livro: "Brachiaria: Biology, Agronomy, and Improvement" 
(Miles et al., 1996); no capítulo sobre Brachiaria em “Recursos Genéticos & 
Melhoramento - Plantas (Pereira et al., 2001); no capítulo “Brachiariagrasses” em 
“Warm-Season (C4) Grasses” (Miles et al., 2004), e no capítulo“Breeding of 
apomictic grasses” (Valle e Miles, 2001), em “The flowering of apomixis: from 
mechanisms to genetic engineering” (CIMMYT; IRD; Commission European 
(Org.)). Informações sobre forrageiras tropicais com fotos e características 
agronômicas podem ser consultadas on line em www.tropicalforages.info. 
Informações mais antigas foram publicadas nos “Encontro para discussão sobre 
capins do gênero Brachiaria” (Encontro ..., 1986 e 1991). 
Para facilidade de abordagem, os itens origem e caracterização botânica serão 
apresentados a seguir para o conjunto de espécies do gênero seguidos de descrições e 
ilustrações específicas de cada cultivar. 
 
 
 
2 - ORIGEM, DISTRIBUIÇÃO E ADAPTAÇÃO 
Espécies do gênero Brachiaria ocorrem nas regiões tropicais e subtropicais 
de ambos os hemisférios. Já o centro de origem das principais espécies de valor 
agronômico concentra-se na África Oriental (Figura 1). 
A adaptação dessas espécies é ampla, abrangendo várzeas inundáveis, 
margens de florestas pouco densas e até regiões semi-desérticas, mas a ocorrência 
mais comum é em vegetação de savana. Keller-Grein et al., (1996) compilaram a 
distribuição geográfica, climática e edáfica apresentadas no Quadro 1. Segundo 
Bogdan (1977), há espécies reconhecidamente adaptadas a solos de baixa fertilidade 
e mal drenados. 
Dentre as espécies de maior utilização como forrageiras, a B. brizantha é sem 
dúvida mais amplamente distribuída, ocorrendo em campos limpos ou com arbustos, 
e margem de matas. Segundo Boonman (1993), espécies de Brachiaria são 
componentes comuns e de grande valor na vegetação natural do Leste Africano. 
Porém, pastagens cultivadas são, essencialmente, inexistentes nos sistemas de 
produção animal da África. Fora do continente africano, no entanto, B. brizantha é a 
forrageira tropical de maior utilização para produção animal em termos de área 
cultivada (Miles e Valle, 1996), totalizando, só nos cerrados brasileiros, cerca de 
quarenta milhões de hectares (Jank et al., 2005). 
 
 
Figura 1 – Mapa da África mostrando região de origem das espécies de Brachiaria de maior 
importância agronômica (Linha vermelha). No mapa, cor laranja = desertos; 
verde escuro = floresta tropical; verdes claros = savanas de gramíneas e arbustos 
 (Fonte: http://fathom.lib.uchicago.edu/1/777777122619/3604_africaveg.html ). 
 
Há espécimes em herbário e, ou, acessos nas coleções provenientes da 
Etiópia, Quênia, Uganda, Ruanda, Burundi, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, Malawi, 
Swazilândia e Norte da África do Sul. Aparece ainda nos países do Golfo da Guiné, 
como Nigéria - onde foi amplamente coletada - e em Camarões (mapa 1 em Keller-
Grein et al., 1996). Segundo este autor, citando S. A. Renvoize, especialista em 
Brachiaria do “Royal Botanical Garden” em Kew, na Inglaterra, há locais de origem 
desta espécie que nunca foram coletados na África Ocidental, e no sul da África 
Tropical, especialmente Zaire e Zâmbia. A excelente base de dados “Tropical 
Forages” (2005) (www.tropicalforages.info) cita B. brizantha como nativa de 
Botswana, Camarões, Costa do Marfim, Etiópia, Ghana, Guiné, Quênia, Malawi, 
Moçambique, Namibia, Nigéria, Serra Leoa, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zaire, 
Zâmbia, Zimbábue e todo o Sub-Saara Africano de 25ºS até 12ºN, e de 100 a 2.300 
metros sobre o nível do mar. Depois de sua introdução em outros países tornou-se 
naturalizada em todo o trópico úmido e sub-úmido. 
 
Quadro 1 – Características geográficas, climáticas e edáficas de sítios de coleta de 
cinco espécies mais importantes de Brachiaria 
 
Espécie Latitude Altitude 
(m) 
Precipitação 
anual (mm) 
Meses 
sem chuva 
(nº) 
pH do 
solo 
B. brizantha 25º05´S-12°36N 80-2310 590-2770 0-7 4,0-8,0 
B. decumbens 4°21´S-1°09´N 840-2290 870-1900 0-5 4,9-7,0 
B. dictyoneura 25°23´S-5°58´N 200-2000 680-1320 2-8 5,5-7,0 
B. humidicola 20°17´S-11°21´N 560-2375 600-2800 2-7 4,0-7,0 
B. ruziziensis 4°05´S-2°54´S 590-1940 890-1710 3-4 5,0-6,8 
Fonte: Adaptado de Keller-Grein et al., (1996). 
 
A segunda espécie em abrangência de distribuição é B. humidicola, 
encontrada na Etiópia, Quênia, Uganda, Ruanda, Burundi, Tanzânia, Zâmbia, 
Zimbábue, Malawi, e Swazilândia, mas pouco coletada na Nigéria, Sudão e África 
do Sul onde é comum (mapa 4 em Keller-Grein et al., 1996). Ocorre normalmente 
nos locais mais úmidos ou de drenagem deficiente, ou com inundação sazonal. 
Segundo “Tropical Forages” (2005), B. humidicola é nativa desde o Sul do Sudão e 
Etiópia até o Norte da África do Sul e Namíbia. Hoje cultivada nos países de clima 
tropical úmido da América Latina, ilhas do Pacífico e Sudeste Asiático, bem como 
nas regiões costeiras do Norte da Austrália. 
B. decumbens e B. ruziziensis apresentam distribuição muito mais restrita que 
as primeiras, tendo sido coletadas no Oeste do Quênia, Ruanda e Burundi. Faltam 
exemplares de Uganda, local de origem da cv. Basilisk, além da Tanzânia e Zaire nas 
coleções mundiais de braquiária. Estas espécies ocorrem em campos e margens de 
matas caducifólias. B. ruziziensis é mais exigente em fertilidade e ocorre em áreas de 
campos e áreas antropisadas. 
B. decumbens foi coletada em pradarias do planalto de “Great Lakes” em 
Uganda. Foi introduzida na Austrália em 1930 e selecionada pela alta produtividade 
em testes em “South Johnstone” entre 1956 e 1966. Segundo o banco de dados 
“Tropical Forages” (2005) (www.tropicalforages.info) é nativa da África Central e 
Oriental entre 500 e 2.300 m de altitude. Hoje é cultivada por toda a América 
Tropical, Sudeste Asiático e Pacífico. A cultivar Basilisk continua sendo a gramínea 
mais utilizada na América do Sul. 
A B. dictyoneura também está restrita a países do extremo Leste, como 
Tanzânia e Quênia, porém faltam exemplares do Sudão, Uganda, Tanzânia, Zâmbia e 
Moçambique nas coleções mundiais de braquiária. Esta espécie está pouco 
representada nas coleções de germoplasma e mereceria maior atenção dos programas 
de seleção e melhoramento pelo potencial forrageiro que exibe. 
Outras duas forrageiras de uso mais restrito e específico, B. mutica e B. 
arrecta são originárias do Oeste Africano e são forrageiras de grande aceitabilidade 
pelos animais e extremamente bem adaptadas a solos alagados e férteis, 
características essas de grande interesse aos programas de melhoramento de 
forrageiras. Por não haver diversidade genética disponível não possuem cultivares 
desenvolvidas e a baixa produção de sementes limita sua ampla utilização. Estas duas 
espécies não serão discutidas neste capítulo devido à menor importância frente às 
demais. 
 
 
3 - CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA 
Brachiaria, pertence a um grupo de gêneros com limites ainda indefinidos 
incluindo Urochloa, Eriochloa e Panicum. As principais características que 
identificam o gênero, dentro da tribo Paniceae, são as espiguetas ovais a oblongas, 
arranjadas em racemos unilaterais, com a gluma inferior adjacente à ráquis, i.e., em 
posição adaxial (Royal Botanical Gardens, não publicado, citado por Renvoize et al. 
(1996) (Figura 2). 
Gramíneas do gênero Brachiaria realizam fotossíntese do tipo C4 pelo ciclo 
PEP-CK (Fosfoenolpiruvato carboxilase), característica esta particular a um pequeno 
grupo de gêneros, que incluem Urochola e Panicum (Clayton e Renvoize, 1986). 
Renvoize et al. (1996) realizaram uma revisão taxonômica envolvendo 97 
espécies distribuídas por todo o táxon e identificaram nove grupos, considerando a 
associação de características morfológicas mais significativas. Estes autores 
descreveram cada um dos grupos e as espécies que os compõe, subdivididas por 
continente de origem. As espécies de maior importância agronômica para o Brasil 
estão em dois grupos, sendo o primeiro constituído por B. decumbens, B. brizantha e 
B. ruziziensis, espécies próximas e passíveis de cruzamento. AB. humidicola situou-
se em outro grupo que inclui B. dictyoneura e B. jubata, com características 
morfológicas semelhantes. Estes autores discutiram ainda, os argumentos 
apresentados por Webster (1987) e Morrone e Zuloaga (1992) para reclassificar 
Brachiaria como Urochloa. 
 
 
Figura 2 - Inflorescências das principais espécies forrageiras de Brachiaria: A) B. 
brizantha com espiguetas unisseriadas; B) B. decumbens com espiguetas 
bisseriadas; C) B. humidicola com espiguetas alternas; D) B. ruziziensis 
com espiguetas bisseriadas e densamente pilosas; E) rácemos de B. 
humidicola cv. Tupi (esquerda) com pêlos longos e claros e comum 
(direita) glabra; F) B. dictyoneura típica, com espiguetas bisseriadas em 
rácemos curto e numerosos. 
 
A B C D 
E F 
Estes gêneros sempre foram diferenciados pela posição reversa (adaxial) da 
espigueta em Brachiaria, porém quando estas são pediceladas ou bisseriadas como 
em algumas espécies de Urochloa, não é tão fácil reconhecer este posicionamento. 
Assim, Webster (1987) considerou a espécie-tipo, B. eruciformis, e usou a 
desarticulação do flósculo superior acima das glumas, separando-o do restante da 
espigueta, como o argumento para colocar todas as outras espécies de Brachiaria que 
desarticulam abaixo da gluma inferior como Urochloa. Além disso considerou a 
presença de mucro (protuberância) na espigueta superior, que ocorre na espécie tipo 
de Urochloa e em algumas poucas espécies de menor relevância de Brachiaria, 
como argumento para reunir estes gêneros. Morrone e Zuloaga (1992) seguiram a 
orientação de Webster, e passaram todas as espécies sul-americanas de Brachiaria a 
Urochloa, mesmo quando as espécies de maior expressão não exibem o mucro. 
Recentemente, Torres-Gonzalez e Morton (2005) realizaram um estudo filogenético 
com base em polimorfismo de seqüências básicas de nucleotídeos na região 
espaçadora interna transcrita de RNA nuclear ribossomal mas não lograram separar 
Brachiaria de Urochloa. A análise cladística sugeriu que esses dois gêneros formam 
um complexo parafilético com Eriochloa e Melinis e concluíram que espécies de 
todos esses gêneros pertencem aos mesmos grupos monofiléticos. 
Morrone e Zuloaga (1992) consideraram a importância comercial de P. 
maximum e a necessidade de mais evidências, para não reclassificá-lo, mas não 
usaram o mesmo argumento para Brachiaria – de volume e área de pastagem bem 
mais expressiva e transferiram a maioria das espécies para Urochloa. Em resumo, 
todos esses relatos sugerem a necessidade de novos estudos sistemáticos a fim de 
elucidar a relação e os limites entre estes gêneros, já que a taxonomia atual não 
oferece uma solução satisfatória para o problema de identidade genérica e das 
espécies componentes. 
Veldkamp (1996), S. Renvoize (comunicação pessoal, 2006) e J. F. M. Valls 
(comunicação pessoal, 2006) sugerem que o uso corrente do nome genérico 
Brachiaria seja conservado, pois as evidências até aqui apresentadas para transferir 
algumas espécies de Brachiaria para outros gêneros não são conclusivas. No 
interesse da comunidade diretamente envolvida com forrageiras e pelas implicações 
sobre toda uma legislação de sementes a ser afetada por tais mudanças, há consenso 
em aguardar mais dados, quem sabe até com auxílio da biotecnologia e citogenética, 
antes de precipitadamente transferir espécies ou criar novos gêneros. 
 
4 - CULTIVARES DE Brachiaria 
 
4.1- B. brizantha cv. Marandu 
 
4.1.1 - Origem 
 
O capim-marandu (IRI 822; BRA000591 (registro no SCPA- Sistema 
Cooperativo de Pesquisa Agropecuária); CIAT 6294; CPI 81408; ILCA 16550) 
também conhecido como braquiarão ou brizantão descende diretamente de acesso 
introduzido em 1967 na região de Ibirarema no estado de São Paulo, proveniente da 
Estação Experimental de Pastagens em Marandellas, hoje Marondera, da antiga 
Rodésia, hoje Zimbábue (Nunes et al., 1984). Em 1976 esse acesso passou a 
integrar a coleção de forrageiras do Instituto de Pesquisas IRI em Matão, SP que em 
1978 o repassou ao Centro de Pesquisas Agropecuárias dos Cerrado – Embrapa 
Cerrados – em Planaltina, DF e ao Centro Nacional de Pesquisas de Gado de Corte 
– Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS. Nestes centros recebeu 
respectivamente os registros CPAC 3099 e G-127/78. Nesta mesma época foi 
enviada ainda ao Centro de Pesquisas do Tropico Úmido – Embrapa Amazônia 
Oriental (CPATU 20) e ao Centro Internacional de Agricultura Tropical sob o 
código BRA000591. Esse acesso foi novamente introduzido em coleções sob 
números distintos (CPAC 3132 e CNPGC 142/80) e no CIAT sob três registros: 
CIAT 6294 = IRI 822, CIAT 6297 = G 127/78 e 6378 = CPATU 78071 (J. F. 
M.Valls – documento preparado para o lançamento da cv. Marandu, 1983). A 
cultivar foi lançada no Brasil em 1984, pela Embrapa Gado de Corte e Embrapa 
Cerrados, e segundo Macedo (2006) responde por cerca de 80% das pastagens em 
alguns estados da região norte como Acre, Rondônia e Pará, e por cerca de 50% das 
pastagens cultivadas no Brasil. 
 
4.1.2 - Caracterização morfológica 
 
Planta cespitosa, muito robusta, de 1,5 a 2,5 m de altura, com colmos 
iniciais prostrados, mas produzindo perfilhos que surgem cada vez mais eretos ao 
longo do crescimento da touceira (Figura 3). Rizomas muito curtos e encurvados, 
cobertos por catáfilos. Colmos floríferos eretos, freqüentemente com perfilhamento 
nos nós superiores. Nós salientes, de cor verde-amarelada, glabrescentes. Bainhas 
pilosas, densamente pilosas na base e com cílios nas margens, geralmente mais 
longas que os entrenós, escondendo os nós. Lígulas inicialmente membranosas e 
ciliadas da metade para cima. Lâminas linear-lanceoladas, com ápice agudo, 
arredondadas e carenadas na base, até 2 cm de largura e 50 cm de comprimento, 
esparsamente pubescentes na face ventral e glabras na face dorsal, com margens 
levemente engrossadas e pouco ásperas, numerosas nervuras finas bem definidas e 
nervura central muito evidente. Inflorescência com até 40 cm de comprimento, com 
4 a 6 ramos, mas de apenas 1 ou 2 ramos nas inflorescências surgidas de perfilhos 
emergentes dos nós superiores dos colmos floríferos. Eixo da inflorescência 
pubescente, com pêlos mais longos abaixo dos pontos de inserção dos ramos. Ao 
longo do eixo os ramos são eqüidistantes, sésseis, secundifloros, retos e firmes, 
passando a encurvados por ocasião da maturação e queda das espiguetas, de 7 a 10 
cm de comprimento, e até 20 cm em plantas muito vigorosas. Raque dos ramos 
estreita, em torno de 1 mm de largura, côncava, verde, passando a estramínea 
(amarelada) na maturidade, papiloso-ciliada nas margens. Espiguetas oblongas a 
elíptico-oblongas, obtusas ou sub agudas, túrgidas, com 5 a 5,5 mm de 
comprimento por 2 a 2,5 mm de largura, esparsamente pilosas no ápice. Primeira 
gluma envolvendo a base da espigueta e alcançando quase a metade do seu 
comprimento. 13-nervada, glabra, em geral com as extremidades das nervuras 
anastomosadas. Segunda gluma um pouco mais curta que o lema estéril, 
esparsamente pilosa no terço apical, 7-nervada, arroxeada, junto ao ápice. Flósculo 
basal com flor masculina, com três anteras alaranjadas bem desenvolvidas. Flósculo 
apical com flor hermafrodita, elíptico-oblongo, verde pálido passando a estramíneo. 
Anteras alaranjadas e estigmas roxos. Cariopse elíptico-oblonga, comprimida 
dorsiventralmente, com embrião ocupando dois terços de seu comprimento. O 
florescimento é intenso e concentrado no final do verão (fevereiro-março). 
Características diferenciadoras: plantas robustas com tendência ao intenso 
perfilhamento nos nós superiores dos colmos floríferos; presença de pêlos na 
porção apical dos entrenós, bainhas pilosas e lâminas largas e longas com 
pubescência apenas na face ventral, glabras na face dorsal e com margens não 
cortantes; raque sem pigmentaçãoarroxeadas e espiguetas ciliadas no ápice. (Valls, 
J. F. M. e Sendulski, T. – documento para lançamento, 1983). 
 
 
 
Figura 3 - B. brizantha cv. Marandu em franco florescimento; detalhe das espiguetas 
e cariopses com glumas e deglumadas. 
4.2 - B. brizantha cv. La Libertad 
 
4.2.1 - Origem 
 
A cultivar La Libertad (CIAT 26646, MG-4) é derivada de um ecótipo de 
origem desconhecida da África Tropical e foi introduzido na Colômbia em 1955 
procedente de Trinidad pelo então Instituto Colombiano Agropecuário (ICA) hoje 
CORPOICA (Cuesta Muñoz e Pérez Bonna, 1987). Já em 1966 este acesso foi 
selecionado por sua adaptação e boa produtividade em dois centros experimentais 
(ICA Palmira e ICA La Libertad). Nesta mesma época B. brizantha e B. decumbens 
se destacaram pela adaptação, precocidade, cobertura do solo, produção de forragem 
e resistência à seca em ensaios conduzidos na Estação Experimental Llano Grande e 
partir de 1970 foram intensificadas as avaliações em diferentes localidades dos 
Piedmontes Llanero e Amazônico, visando o lançamento da cv. La Libertad, que 
ocorreu em 1987 na Colômbia. Não houve grande expansão na época devido à falta 
de promoção e pela baixa produção de sementes. O capim-la libertad ganhou maior 
espaço quando começou a ser multiplicado no Brasil e liberada com o nome de 
“MG-4”, conquistando um sucesso moderado na última década. 
 
4.2.2 - Caracterização morfológica 
 
Gramínea cespitosa de touceira vigorosa, com altura entre 0,8 e 1,5 m, com 
rizomas horizontais curtos, duros e curvos, cobertos por escamas glabras, de cor 
amarelada ou roxa (Figura 4). Os colmos são vigorosos, eretos ou semi-eretos, com 
escassa ramificação e de cor verde intenso. Os nós são proeminentes, glabros, de cor 
verde ou amarelo claro, e pouco radicantes. A bainha das folhas são glabras, mais 
curtas que os entrenós, de cor verde intenso e arroxeadas na base. A lígula apresenta 
um bordo ciliado de cor branca, e de aproximadamente 2 mm de altura. As folhas são 
linear-lanceoladas, arredondadas na base e em forma de quilha na extremidade 
superior, de 16 a 40 cm de comprimento e 10 a 20 mm de largura, cor verde intensa a 
clara, glabras com margens denteadas, mais áspera de um lado do que do outro. As 
nervuras são numerosas e finas, e a nervura central é de cor clara. Os entrenós são 
planos, de cor verde intenso e roxos no ápice. A inflorescência é uma panícula 
racemosa de 10 a 20 cm de comprimento, com 2 a 8 racemos unilaterais, retos, em 
forma de racemo. Os ramos laterais são de 3 a 10 cm de comprimento. A raque é 
estriada, de cor roxa e verde, com cílios laterais de 2 a 4 mm de comprimento. 
Espiguetas oblongas a elíptico-oblongas com aproximadamente 6 mm de 
comprimento e 2 a 2,5 mm de largura, de cor roxa no ápice e pilosidade branca no 
ápice (Cuesta Muñuz e Pérez Bonna, 1987). O florescimento ocorre no verão 
(fevereiro a março). Algumas características dessa cultivar a diferenciam da cv. 
Marandu, como ausência de pelos na porção apical dos entrenós, as bainhas glabras 
com margens denticuladas e a raque estriada de cor arroxeada e verde. 
 
 
 
Figura 4 - B. brizantha cv. La libertad. Detalhe mostra espiguetas e cariopses com 
glumas e deglumadas. 
 
4.3 - B. brizantha cv. Xaraés 
 
4.3.1 - Origem 
 
O capim-xaraés (CIAT 26110, BRA004308) deriva de acesso coletado na 
região de Cibitoke, no Burundi, África, entre 1984 e 1985. O acesso original foi 
importado pelo CIAT na Colômbia, entre 1985 e 1986 junto com uma grande 
coleção de ecótipos, na forma de plântulas por cultivo de meristemas, com vistas a 
evitar a entrada de patógenos africanos. No Brasil, o acesso foi recebido novamente 
como plântulas em tubos de ensaio, juntamente com uma grande coleção de 
genótipos, conforme acordo firmado entre Embrapa e CIAT. A quarentena foi 
realizada na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN) onde 
recebeu o código BRA 004308 e códigos de campo B178 (Embrapa Gado de Corte) 
e CPAC 3555 (Embrapa Cerrados). Introduzido pela Embrapa em 1986, chegou a 
Embrapa Gado de Corte em 1987, e foi avaliado pelos pesquisadores de 
forragicultura e pastagem em Campo Grande e da Embrapa Cerrados por mais de 10 
anos. Foi registrado no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério de 
Agricultura Pecuária e Abastecimento (http://www.agricultura.gov.br/snpc) e 
lançado comercialmente em 2003 sob o nome de origem tupi-guarani cv. Xaraés em 
homenagem ao conjunto formado por ecossistemas pantaneiros do Mato Grosso do 
Sul e Mato Grosso e os povos que o habitavam (Valle et al., 2004a). No Brasil, há 
dois outros registros de cultivares semelhantes, feitos for firmas particulares, sob 
nomes de “MG-5 Vitória” e cv. Toledo, mas a Embrapa garante a identidade e 
origem e mantém sementes genéticas apenas da cv. Xaraés. 
 
 
4.3.2 - Caracterização morfológica 
 
O capim-xaraés é uma planta cespitosa podendo enraizar nos nós basais; 
altura média de 1,5 m; colmos verdes de 6 mm de diâmetro, pouco ramificados; 
brácteas arroxeadas na brotação basal. Bainhas com pêlos claros, rijos, ralos, densos 
apenas nas bordas; lâmina com até 64 cm de comprimento e 3 cm de largura, com 
pilosidade curta na face superior, bordos hialinos ou arroxeados, ásperos (cortantes). 
Inflorescência racemosa, com 40 a 50 cm de comprimento e eixo de 14 cm de 
comprimento, com 7 ramos (racemos) quase horizontais, com pêlos junto às 
ramificações; ramo basal de 12 cm de comprimento. Espiguetas unisseriadas em 
número médio de 44, com pêlos longos, claros, translúcidos na parte apical, 
arroxeadas no ápice (Figura 5). O florescimento é tardio, ocorrendo em meados do 
outono (maio). 
 
 
 
Figura 5 - B. brizantha cv. Xaraés: inflorescências, área de pastagem e detalhe das 
espiguetas e cariopses com glumas e deglumadas. 
 
 
4.4 - B. brizantha cv. Piatã 
 
4.4.1- Origem 
 
O capim-piatã deriva de uma planta coletada na região de Welega na Etiópia 
em colaboração com o International Livestock Center for Africa”- ILCA (número de 
registro no ILCA-13372). O acesso foi recebido juntamente com uma grande coleção 
de genótipos, importada do CIAT (Cali, Colômbia) sob número CIAT 16125, 
conforme acordo firmado com a Embrapa. A quarentena foi realizada na Embrapa 
Recursos Genéticos e Biotecnologia, onde recebeu o código BRA002844 (registro no 
SCPA) e códigos de campo GC930/87 - B112 (Embrapa Gado de Corte) e CPAC 
3341 (Embrapa Cerrados). Este ecótipo vem sendo avaliado nestes dois centros 
desde 1988, em rede nacional de ensaios, e sob pastejo em dois locais distintos desde 
2001. A liberação desta cultivar ocorreu em 2007. 
 
4.4.2- Caracterização morfológica 
 
O capim-piatã é uma planta cespitosa; altura de 0,85 a 1,1 m; colmos verdes 
de 4 mm de diâmetro, ramificados. Bainhas com pêlos claros, pouco densos; 
articulação clara; lâmina com até 45 cm de comprimento e 1,8 cm de largura, áspera 
na face superior, sem pêlos, bordas hialinas muito ásperos (cortantes). Inflorescência 
com eixo de 19 cm de comprimento, com 12 ramos (racemos) quase horizontais, com 
pêlos longos claros; ramo basal de 12 cm de comprimento. Espiguetas em número 
médio de 48 no racemo basal, sem pêlos, arroxeadas no ápice (Figura 6). O 
florescimento é precoce e ocorre no início do verão (janeiro-fevereiro). 
 
 
 
Figura 6 - B. brizantha cv. Piatã em franco florescimento; detalhe das espiguetas e 
cariopses com glumas e deglumadas. 
 
4.5 - B. decumbens cv. Basilisk 
 
4.5.1 - Origem 
 
A cultivar Basilisk é provavelmente a gramínea mais conhecida e cultivada 
em toda a região tropical. É derivada de sementes trazidas de Uganda para a 
Austrália, onde recebeu o registro CPI 1694 em 1930 (Keller-Grein et al., 1996). 
Inicialmente foi propagada por mudas na Autrália até que se determinou

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