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TITULOS DE CREDITO Cheque

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APOSTILA “4” 
DE 
TÍTULOS DE 
CRÉDITO 
 
Tema : CHEQUE 
 
 
 
 
Material de apoio para a disciplina “Direito de Empresa” 
Elaborado por : Denis Domingues Hermida 
 
 
OBSERVAÇÃO: A redação dessa apostila é feita com base nas obras de 
Fabio Ulhoa Coelho (“Curso de Direito Comercial – volume 1”), de 
Gladston Mamede (“Títulos de Crédito”), de Amador Paes de Almeida 
(“Teoria e Prática dos Títulos de Crédito”), de Waldirio Bulgarelli 
(“Títulos de Crédito”) e de Fran Martins (“Títulos de Crédito – Letra de 
Câmbio e Nota Promissória”), além de apontamentos pessoais do seu 
elaborador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 Na apostila “1” estudamos a “Teoria Geral dos Títulos de 
Crédito”, objetivando absorver os grandes conceitos inerentes ao regime 
cambiário, como os conceitos de título de crédito, de endosso, de aval e de 
protesto, bem como as classificações dos títulos de créditos e os princípios 
a eles inerentes. 
 
 Formamos, assim, com a abordagem feita na “Teoria Geral dos 
Títulos de Crédito” a estrutura cognitiva necessária para passarmos a 
analisar o regime jurídico específico de cada título de crédito. 
 
 Estudamos na apostila “2” a normatização específica da “letra 
de câmbio”, sempre aproveitando para relembrar temas já estudados na 
teoria geral e aplica-los com especialidade à letra de câmbio. 
 
 Na apostila “3”, apreciamos conhecimentos a respeito da “nota 
promissória”. 
 
 Nesta apostila “4”, o “cheque” será a espécie de título de 
crédito estudada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
CONCEITO DE “CHEQUE” 
 
 
 Sabemos de antemão que o “cheque” é uma espécie de título 
de crédito, isto é, enquadra-se no conceito de título de crédito que, como já 
estudamos, é “documento que possui como características a “cartularidade”, a 
“literalidade”, a “autonomia” e a “legalidade”, tem natureza jurídica de título 
executivo extrajudicial (na forma do artigo 585, I, do CPC) e possui 
“negociabilidade””. Analisemos tais características mais a fundo: 
 
- é um documento. Valendo esclarecer que “documento é todo objeto do qual se 
extraem fatos em virtude da existência de símbolos, ou sinais gráficos, 
mecânicos, eletromagnéticos etc. É documento, portanto uma pedra sobre a qual 
estejam impressos caracteres, símbolos ou letras; é documento a fita magnética 
para reprodução por meio do aparelho próprio, o filme fotográfico etc”1 
 
- o direito subjetivo do credor de receber o seu crédito está diretamente 
relacionado à apresentação do documento (cartularidade) 
 
- é formal, isto é, precisa conter forma determinada pela lei, sendo que a afronta à 
forma imposta por lei é capaz de levar à invalidade do título 
 
- tem rol taxativo determinado por lei. Conforme o princípio da legalidade ou 
tipicidade, aplicado aos títulos de crédito, o artigo 887 do Código Civil, 
impossibilita a emissão de títulos de crédito que não estejam previamente 
definidos e disciplinados por lei. Não há, assim, como se cogitar da invenção de 
título de crédito não previsto legalmente. 
 
- é literal, isto é, valem exatamente a medida neles declarada. Fran Martins, 
citado por Amador Paes de Almeida2, afirma que “por literalidade entende-se o 
fato de só valer no título o que nele está escrito. Nem mais nem menos do 
mencionado no título constitui direito a ser exigido pelo portador”. 
 
- tem natureza jurídica de título executivo extrajudicial, conforme artigo 585, I, 
do CPC, dando ao credor o direito de promover a execução judicial do seu direito 
 
- referem-se unicamente a relações creditícias. Não se documenta num título de 
crédito nenhuma outra obrigação, de dar, fazer ou não fazer, à exceção dos títulos 
executivos impróprios (warrant e conhecimento de transporte) 
 
 
1
 GRECCO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. Volume 2. São Paulo: Saraiva, 6a 
edição, atualizada, 1993 
2
 Ob. Cit. p.4 
- o título de crédito ostenta o atributo da negociabilidade, ou seja, está sujeito a 
certa disciplina jurídica, que torna mais fácil a circulação do crédito, a negociação 
do direito nele mencionado. 
 
- possui autonomia em relação ao negócio jurídico que lhe deu origem. A 
Autonomia é requisito fundamental para a circulação dos títulos de crédito. Por 
ele, o seu adquirente passa a ser titular de direito autônomo, independente da 
relação anterior entre os possuidores. 
 
 
 Verdadeiro é, entretanto, que a simples afirmação de que o cheque é 
um título de crédito não realiza toda a sua conceituação, isto é, não nos possibilita 
distingui-la dos demais títulos de crédito para que possamos individualizá-la. 
Precisamos acrescentar ao conceito de “cheque” mais algumas características que 
lhe são próprias a fim de gerar a sua individualização conceitual. 
 
 Fabio Ulhoa Coelho afirma que cheque é ordem de pagamento à 
vista, emitida contra um banco, em razão de provisão que o emitente possui junto 
ao sacado, proveniente essa de contrato de depósito bancário ou de abertura de 
crédito3. 
 
 Gladston Mamede, a seu turno, entende que o cheque é uma ordem 
de pagamento emanada de uma pessoa (emitente ou sacador) que mantém 
contrato com uma instituição bancária (sacado) para que esta pague, 
imediatamente (à vista), determinada importância ao beneficiário4. 
 
 Para Amador Paes de Almeida, o cheque é o título revestido de 
determinadas formalidades legais contendo uma ordem de pagamento à vista, 
passada em favor próprio ou de terceiro5. 
 
 Dos textos doutrinários acima transcritos, extraímos mais algumas 
características relevantes para a conceituação da letra de câmbio, quais sejam: 
 
- é uma “ordem de pagamento”: o cheque corporifica relação jurídica que envolve 
3(três) sujeitos (ou, como é mais correto tecnicamente, três situações jurídicas): o 
sacador (que mandar que determinada pessoa pague a outra determinado valor 
constante do título), o sacado (a quem é dada a ordem de pagar determinado valor 
a certa pessoa) e a do beneficiário (a quem é determinado pelo sacador o 
pagamento pelo sacado de determinado valor constante do título). Não é, assim, 
conforme classificação dos títulos de crédito quanto à estrutura, uma “promessa 
de pagamento”; 
 
3
 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito comercial. Volume 1. 8ª edição revista e atualizada. São 
Paulo: Saraiva, 2004, p. 433 
4
 MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito: de acordo com o novo código civil, Lei 10.406, de 10-01-
2002. São Paulo: Atlas, 2003, p. 237 
5
 ALMEIDA, Amador Paes. Teoria e Prática dos Títulos de Crédito. São Paulo:Saraiva, 24a edição, 
2005, p. 111 
 
- envolve 3(três) situações jurídicas: a do emitente(ou sacador), do sacado e do 
tomador (ou beneficiário). 
 
- o sacado do cheque é sempre um banco ou uma instituição financeira, conforme 
impõe o artigo 3º da Lei 7.357/85 
 
- o cheque é um título vinculado a um padrão, sendo que o formulário é fornecido 
pelo sacado (banco) 
 
- é um título abstrato, vez que, na sua emissão, é dispensável a enunciação da 
causa, isto é, a anotação/marcação da relação jurídica que lhe deu origem 
 
 Reunindo as informações acima apontadas chegamos ao seguinte 
conceito de “cheque”, que entendemos satisfatório: 
 
 
- Cheque é a espécie de título de crédito, classificado quanto à sua estrutura 
como “ordem de pagamento” e quanto à relação fundamental como 
“abstrato”, que se consubstancia numa declaração unilateral de vontade, 
através de formulário padronizado e produzido pelo Banco-Sacado, do 
Sacador (emitente) que manda que o Sacado (necessariamente banco ou 
instituiçãofinanceira) pagar, pura e simplesmente, ao Tomador 
determinado valor constante do documento que o corporifica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
III – CARACTERÍSTICAS DO CHEQUE 
 
1) Normatização: 
 
 
a) Histórico da normatização 
 
 
 No Brasil, a legislação era confusa até a promulgação do Decreto 
no. 2.591, de 7 de agosto de 1912, que vigeu até ser substituída pela Lei 7.357, de 
2 de setembro de 1985. Esta lei absorveu parte da legislação esparsa antes 
vigente, como, por exemplo, o Decreto no. 22.924, de 12-7-1933, que alterou os 
prazos de apresentação dos cheques para trinta das, para a mesma praça, e cento e 
vinte dias para outras praças. Manteve, contudo, em vigor as disposições 
especiais vigentes sobre os vales ou cheques postais, os cheques de poupança ou 
assemelhados, e os cheques de viagem (art. 66 da Lei 7.357/85) e ainda a 
legislação criminal referente a cheques sem fundo, falsidade, falsificação etc, 
basicamente representada pelo art. 171 do Código Penal. Temos que 
permaneceram em vigor, após a vigência da Lei 7.357/85: o Decreto no. 24.777, 
de 14-7-1934, que permitiu a emissão de cheques contra a própria caixa; o 
Decreto no. 22.393, de 25-1-1933, dispondo que somente o mês deve ser escrito 
por extenso; a Lei no. 4.728, de 14-7-1965, sobre o mercado de capitais, a Lei no. 
4.595, de 31-12-1964, sobre a reforma bancária, além do grande número de 
circulares e portarias do Conselho Monetário Nacional. 
 
 Vale mencionar que a Lei 7.357, de 2-9-1985 foi resultado de um 
Projeto oriundo do Executivo – mais precisamente do Banco Central do Brasil -, 
dando tratamento unitário à disciplina do cheque, por meio da integração das 
disposições da Lei Uniforme aceitas pelo Governo brasileiro, às normas que já 
vigiam entre nós, como as do Decreto no. 2.591/1912, do Decreto no. 22.924, de 
12-7-1933, além de outras inovações introduzidas. 
 
Certamente a promulgação da Lei 7.357/85 representa um grande 
avanço, evitando a duplicidade antes existente, o que não era de molde a oferecer 
certeza e segurança em matéria jurídica tal relevante como a do cheque. A Lei 
7.357/85 contém 71 artigos, sendo que foram vetados os artigos 5º e 436. 
 
 Ensina Amador Paes de Almeida que a adesão do Brasil à Lei 
Uniforme sobre cheques (através do Decreto no. 57.595, de 07 de janeiro de 
1966) estabeleceu controvérsia entre a aplicação dos dispositivos da Convenção 
de Genebra (Lei Uniforme) e a aplicação da legislação interna à época vigente, 
que era o Decreto 2.591, de 7-8-1912. De forma que a Lei 7.357, de 2 de 
setembro de 1985, resolveu tal controvérsia, harmonizando-se com a Lei 
Uniforme. 
 
6
 BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. São Paulo: Atlas, 1995, 11a edição atualizada, pp. 277/278 
b) A normatização na atualidade 
 
 
 Em razão da Lei 7.357/85 ter absorvido as regras contidas na Lei 
Uniforme sobre Cheques, hoje ela (Lei 7.357/85) é a principal fonte de normas 
jurídicas aplicáveis aos cheques. 
 
 Junto com a Lei 7.357/85, também denominada “Lei do Cheque”, 
temos as Resoluções do Banco Central do Brasil, tomadas por deliberação do 
Conselho Monetário Nacional, e as Circulares do Banco Central do Brasil, como 
permitido pelo artigo 69 da Lei do Cheque: 
 
Lei 7.357/85. Artigo 69. “Fica ressalvada a competência do 
Conselho Monetário Nacional, nos termos e nos limites da 
legislação específica, para expedir normas relativas à matéria 
bancária relacionada com o cheque.” 
 
 Ressalte-se que as deliberações(decisões) do Conselho Monetário 
Nacional são veiculadas através de Resoluções do Banco Central do Brasil. 
 
 Dentre as normas deliberadas pelo Conselho Monetário Nacional 
em relação ao regime jurídico do “cheque”, destacam-se: Resoluções 1.528/89, 
1.631/89, 1.682/89, 2.025/93, 2.303/96, 2.537/98, 2.747/00 e Circulares 1.994/91, 
2.655/96, 2.854/98 e 2.989/00 do BACEN. 
 
 Também, o Código Civil traça normas gerais sobre títulos de crédito 
que, conforme artigo 903 do mesmo Código Civil, somente prevalecem na 
hipótese de inexistência de conflito com normas que especificamente tratem da 
letra de câmbio (Lei 7.357/85 e Normas do Conselho Monetário Nacional). 
 
 
c) Requisitos do cheque 
 
 O artigo 1º da Lei do Cheque (Lei 7.357/85) impõe os seguintes 
requisitos essenciais ao Cheque: 
 
- a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é 
redigido 
 
- a ordem incondicional de pagar quantia determinada; 
 
- o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado) 
 
- a indicação do lugar de pagamento; 
 
- a indicação da data e do lugar de emissão 
 
- a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais 
 
 Acrescente-se que, para o atendimento completo das formalidades 
exigidas em lei, deve o sacado da letra de câmbio estar identificado pelo número 
da Cédula de Identidade, inscrição no Cadastro de Pessoa Física (CPF), do Título 
de Eleitor ou da Carteira Profissional (Lei no. 6.268/75, art. 3º) 
 
 Quanto a tais requisitos, apresentemos alguns comentários: 
 
- Requisito de inserção da palavra “cheque”: neste ponto não há muito o que 
se acrescentar. Normalmente consta do cheque a expressão “Pague por este 
cheque a quantia de..(estipulação da quantia)..... a ..(nome do beneficiário).... ou à sua 
ordem”. 
 
 
- Requisito de ser uma ordem incondicional de pagar quantia determinada: é 
importante salientar que o cheque não se caracteriza na hipótese de ordem 
condicional de pagamento. O cumprimento da obrigação materializada no cheque 
não pode ficar sujeito, pelo saque, ao implemento de condição, suspensiva ou 
mesmo resolutiva. Não é cheque, portanto, um documento redigido da seguinte 
forma: “Pague por este cheque, desde que lhe sejam entregues as mercadorias 
solicitadas, a quantia de ......”. 
 
 
- Requisito de constar o nome da pessoa que deve pagar (sacado): a pessoa a 
quem a ordem é endereçada deve ser identificada no texto do título. O sacado do 
cheque é necessariamente um Banco ou uma Instituição Financeira, como 
determina o artigo 3º da Lei 7.357/85, in verbis: “O cheque é emitido contra 
banco, ou instituição financeira que lhe seja equiparada, sob pena de não 
valer como cheque”. 
 
- Requisito de assinatura do sacador: trata-se da exigência da 
assinatura do sacador (emitente). Dessa assinatura decorre a 
constituição do crédito cambiário, porque o sacador torna-se, com o 
saque, co-devedor da letra. 
 
 
- O requisito de “data” e “local” da emissão: ao final da cártula, tem-se espaço 
a ser preenchido pelo sacador (emitente), indicando o lugar no qual emite a 
cártula e a data que o faz, atendendo à exigência do art. 1º, V, da Lei 7.357/85. 
Esclarece o artigo 2º, II, que não indicado o lugar de emissão, considera-se 
emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do emitente. A data e o local 
da emissão são informações importantes especialmente para a verificação do 
prazo de apresentação. 
 
- O requisito de “indicação do lugar de pagamento”: a folha de cheque deve 
indicar o lugar do pagamento, ou seja, a sede da instituição financeira sacada, da 
agência ou do posto de atendimento bancário no qual o legítimo portador poderá 
apresentar o cheque e obter o pagamento ali ordenado. No plano legal, estabelece 
o art. 2º, I, que, na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento 
o designado junto ao nome do sacado e, se designados vários lugares, o cheque é 
pagável no primeiro deles e, não existindo qualquer indicação, o cheque é 
pagável no local de sua emissão. 
 
 
 
d) Conseqüência da falta de qualquer dos requisitos essenciaisO artigo 2º da Lei do Cheque (Lei 7.357/85) impõe que “o título a 
que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo 1º não vale como 
cheque...”, salvo alguns casos, constantes dos incisos I e II do próprio artigo 2º, 
quais sejam: 
 
- na falta de indicação específica, é considerado lugar do pagamento o lugar 
designado junto ao nome do sacado (Banco); se designados vários lugares, o 
cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é 
pagável no lugar de sua emissão; 
 
- não indicando o cheque o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no 
lugar indicado junto ao nome do emitente; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
III – SITUAÇÕES JURÍDICAS ADVINDAS DA EMISSÃO DO 
CHEQUE 
 
 
 A emissão de um cheque dá origem a 3(três) situações jurídicas, 
quais sejam: a do emitente (sacador), a do sacado e a do beneficiário (tomador). 
 
 
a) O emitente 
 
- O emitente também é denominado sacador. É aquele que emite o cheque, 
manifestando a declaração unilateral de ordem incondicional de pagamento pelo 
Sacado(Banco) da quantia determinada no cheque ao seu Beneficiário. 
 
 
b) O Sacado 
 
- O sacado é aquele a quem é dirigida a ordem incondicional de pagamento 
declarada pelo emitente. É o sacado quem deverá pagar o beneficiário. 
 
- O artigo 3º da Lei 7.357/85 exige que o sacado seja sempre um “Banco” ou 
“Instituição Financeira que lhe seja equiparada” 
 
 
c) O beneficiário 
 
- O beneficiário é aquele a favor de quem é dada a ordem de pagamento, e que 
poderá ser o próprio emitente (sacador) ou terceiro. Note-se que o beneficiário 
pode ou não ser designado, e nesse caso o cheque é: 
 
• Nominativo com cláusula à ordem: o cheque é nominal quando 
emitido(sacado) em favor de determinada pessoa, física ou jurídica. 
Contendo a cláusula “à ordem”, permite ao beneficiário transferi-lo a 
terceiro mediante endosso. O artigo 17 da Lei 7.357/85 consta de 
presunção de que o cheque é à ordem, presumindo como tal o cheque a 
que faltar a cláusula. 
 
 
• Nominativo sem cláusula à ordem: trata-se do cheque emitido em favor de 
determinada pessoa, constando expressamente o nome do beneficiário. 
Mesmo que não contenha expressamente a cláusula à ordem, presume-se a 
sua condição de ser à ordem, presunção essa afastada somente se houver 
cláusula “não à ordem”. 
 
• Nominativo com cláusula não à ordem: trata-se de cheque onde consta 
expressamente o nome do beneficiário, no entanto consta de “cláusula não 
à ordem”, o que afasta a possibilidade de transferência de titularidade do 
cheque por via de endosso, sendo que a transferência somente poderá ser 
realizada através de cessão civil de crédito; 
 
 
• Ao portador: é aquele que não designa o nome do beneficiário e é pagável 
a quem o apresentar ao banco sacado. Ademais, tal cheque é transmissível 
pela simples tradição, e sua posse, salvo se ilícita, legitima a sua 
propriedade7. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7
 ALMEIDA, Amador Paes de. Op. cit. p. 124 
III – PRESSUPOSTOS DE EMISSÃO DO CHEQUE 
 
 
 Consta da obra de Waldirio Bulgarelli8 que, entendido como 
uma ordem de pagamento a vista, sacada em favor próprio ou de terceiro, sobre 
que tenha fundos disponíveis, delineiam-se dois pressupostos do cheque, quais 
sejam: 
 
a) o saque contra o banco 
 
b) a provisão de fundos 
 
 
 Quanto ao “saque contra o banco”, o artigo 3º da Lei 
7.357/85 é taxativo ao impor que somente banco ou instituição financeira pode 
sacado do cheque. É exatamente nesse “saque” que se origina a “ordem 
incondicional de pagamento de determinada quantia”. 
 
 O segundo pressuposto é a necessidade de existência de 
provisão de fundos. Deve, portanto, o emitente (sacador) ter fundos disponíveis 
em poder do banqueiro, no momento da apresentação do cheque para pagamento, 
como determina o artigo 4º, da Lei 7.357/85, abaixo transcrito: 
 
Lei 7.357/85. Art. 4º. “O emitente deve ter fundos disponíveis 
em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir 
cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração 
desses preceitos não prejudica a validade do título como 
cheque. 
 
§1º. A existência de fundos disponíveis é verificada no 
momento da apresentação do cheque para pagamento (...)” 
 
 
 Consideram-se, para esse fim, “fundos disponíveis” como: 
 
- os créditos constantes de conta corrente bancária não subordinados a termo; 
 
- o saldo exigível de conta corrente contratual 
 
- a soma proveniente de abertura de crédito (conforme art. 4, §2º, Lei 7.357/85) 
 
 
 A conta corrente bancária de que trata o artigo 4º, §2º, da 
Lei do Cheque trata-se de conta de depósito, mantida pelos clientes dos bancos e 
que refletem a posição do saldo disponível, por meio de extratos do movimento 
 
8
 Op. cit. p. 281 
levantados e remetidos periodicamente aos clientes. Nada impede, contudo, que a 
conta corrente bancária seja também a chamada conta corrente contratual, às 
quais alude a alínea b do §2º do artigo 4º da Lei 7.357/85, que é aquela que se 
alimenta de partidas a débito e a crédito e que periodicamente acusa o saldo. 
 
 O contrato de abertura de crédito gera a obrigação ao banco 
de fornecer recursos ao cliente. 
 
 Sobre a conta bancária e a condição do sacado, vale citar o 
magistério de Gladston Mamede9 no sentido de que, para que haja regular 
emissão do cheque, é requisito indispensável a existência de um contrato entre a 
instituição financeira sacada e o emitente, uma vez que o saque se faz sobre os 
depósitos havidos ou sobre o crédito disponível no âmbito do sacado. A 
especificidade do cheque, assim, fica clara mesmo consideradas as circunstâncias 
indispensáveis para sua criação. Observe-se, por exemplo, que nas letras de 
câmbio não há que falar em condição pessoal para ser sacado, excetuada a 
necessidade de capacidade civil (um dos requisitos de qualquer negócio jurídico). 
Na letra, há uma posição jurídica de sacado, não mais. No cheque, pelo contrário, 
o sacado não apenas ocupa a posição correspondente, como também manifesta 
uma qualidade pessoal específica, o que inclui autorização para o funcionamento 
(não negociável e instransferível), que deve permitir-lhe a participação em de 
determinadas atividades, sendo vedado atuar naquelas que não estejam previstas 
na autorização. 
 Como se não bastasse a estrita autorização, deve-se destacar 
a necessária submissão da Instituição Financeira a um controle específico do 
Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil. 
 
 Especificamente sobre a “provisão de fundos”, o mesmo 
Gladston Mamede10 afirma que não se emite um cheque para criar um crédito 
com vencimento futuro, mas para determinar um pagamento imediato (a vista), 
razão pela qual constitui pressuposto legal da emissão o fato de o 
emitente(sacador) ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a 
sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito, como 
estipulado pelo art. 4º da Lei 7.357/85. A existência de tais fundos disponíveis 
que bastem ao pagamento é verificada no momento da apresentação do título para 
pagamento, por força do artigo 4º, §1º, da Lei do Cheque, que deverá se 
concretizar no prazo estipulado em lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
9
 Op. cit. pp. 238/239 
10
 Ibidem, pp. 241/242 
IV – DAS ESPÉCIES DE CHEQUE 
 
 
 Da leitura da Lei do Cheque (Lei 7.357/85)extrai-se a 
existência de várias espécies de cheque, das quais destacamos as seguintes: 
cheque ao portador, cheque nominal, cheque à ordem, cheque não à ordem, 
cheque por conta de terceiro, cheque administrativo, cheque visado e cheque 
cruzado. 
 
 Analisemos cada uma dessas espécies: 
 
 
a) Cheque ao portador 
 
 Se no ato de criação o sacador preenche o espaço destinado 
ao beneficiário com a expressão ao portador, ou equivalente, ou simplesmente 
deixa em branco o espaço, abrindo mão do direito de indicar que é o beneficiário 
da emissão, tem-se um título ao portador, de acordo com a previsão anotada no 
artigo 8º, III, e parágrafo único, da Lei 7.357/85, o que implica circulação por 
mera tradição11. 
 Que se ressalte que, dentre os requisito do cheque constantes 
do artigo 1º da Lei do Cheque, não há a exigência da indicação do nome do 
beneficiário, de forma que esse não é um requisito imposto pela Lei 7.357/85. 
 
 Aliás, o artigo 8º, III, da Lei do Cheque prevê a possibilidade 
do cheque ao portador: 
 
Lei 7.357/85. Art. 8º. Pode-se estipular no cheque que seu 
pagamento seja feito: 
 
(...) 
III- ao portador. 
 
 
 
 No entanto, essa possibilidade de emissão de cheque ao 
portador sofre limitação em virtude da Lei 8.021/90, conforme consta de seus 
artigos 1º e 2o, abaixo transcritos: 
 
 Art. 1° A partir da vigência desta lei, fica vedado o pagamento ou resgate de qualquer título ou 
aplicação, bem como dos seus rendimentos ou ganhos, a beneficiário não identificado. 
 Parágrafo único. O descumprimento do disposto neste artigo sujeitará o responsável pelo 
pagamento ou resgate a multa igual ao valor da operação, corrigido monetariamente a partir da 
data da operação até o dia do seu efetivo pagamento. 
 
11
 MAMEDE, Gladston. Op. cit., p. 253 
 Art. 2° A partir da data de publicação desta lei fica vedada: 
 I - a emissão de quotas ao portador ou nominativas-endossáveis, pelos fundos em 
condomínio; 
 II - a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-
endossáveis; 
 Parágrafo único. Os cheques emitidos em desacordo com o estabelecido no inciso III deste 
artigo não serão compensáveis por meio do Serviço de Compensação de Cheques e Outros 
Papéis. 
 A Lei 9.069/95 alterou essa absoluta impossibilidade de 
saque de cheque ao portador imposta pela Lei 8.021/90. Em realidade, a Lei 
9.069/95 impõe a proibição, tanto da emissão, quanto do pagamento, quanto de 
compensação, de cheque ao portador se superior a R$ 100,00 (cem reais), 
conforme dispõe o seu artigo 69, in verbis: 
Lei 9.069/95. Art. 69. “Art. 69. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada 
a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 
100,00 (cem REAIS), sem identificação do beneficiário. 
 Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional regulamentará o 
disposto neste artigo.” 
 
b) Cheque nominal 
 Cheque nominal, também chamado de cheque nominativo, é aquele 
que consigna expressamente o nome do beneficiário ou tomador, só a este 
podendo ser pago12. 
 
c) Cheque à ordem 
 Também é possível emitir-se um título à ordem, ou seja, 
sacar o título explicitando seu beneficiário, com ou sem cláusula expressa à 
ordem, de acordo com o artigo 8º, I, da Lei 7.357/85, e, assim, submetido ao 
regime jurídico dos títulos à ordem13. 
Lei 7.357/85. Art. 8º. “Pode-se estipular no cheque que seu 
pagamento seja feito: 
I – a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa “à ordem” (...)” 
 Como se constata da própria leitura do artigo acima transcrito, não 
é necessário que a cártula contenha a cláusula à ordem, pressupondo-a na 
 
12
 ALMEIDA, Amador Paes. Op. cit. p. 135 
13
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. pp. 254-255 
ausência de cláusula à ordem. Tem-se, portanto, a presunção relativa de que todo 
cheque em que é explicitado o seu beneficiário é transmissível através de 
endosso (isto é, o cheque é, via de regra, um título à ordem), sendo que tal 
presunção somente é afastada caso conste do título cláusula “não à ordem”. 
 
d) Cheque “não à ordem” 
 O cheque pode, em lugar da cláusula à ordem, conter a cláusula 
não à ordem. Nessa hipótese, ao contrário do que sucede com o cheque à ordem, 
não poderá o título ser transferido via endosso, só podendo ocorrer a cessão civil 
prevista no artigo 286 do Código Civil14 
 
f) Cheque por conta de terceiro 
 O artigo 9º, II, da Lei do Cheque, aceita a possibilidade do sacador 
emitir a ordem de pagamento por conta de um terceiro, isto é, determinando que 
o pagamento seja feito utilizando-se os fundos disponíveis na conta de um 
terceiro; expressa-se pela fórmula pague por este cheque, por conta de Fulano de 
Tal, a quantia de tantos reais, ou expressão equivalente15. 
Lei 7.357/85. Art. 9º. “O cheque pode ser emitido: 
(...) 
II- por conta de terceiro; (...)” 
 
 No saque por conta de terceiro, não estando o sacado autorizado a 
faze-lo, tem-se um ilícito civil, pelo qual responderá apenas aquele que, sem 
poderes para tanto, ordenou o pagamento sobre conta alheia, havendo, também, 
em tese, ilícito penal, na forma do artigo 171 do Código Penal (crime de 
estelionato). 
 A autorização para saque por terceiro sobre a própria conta 
bancária não caracteriza, juridicamente, aceite. Tem natureza jurídica mais 
próxima à da representação, devendo a instituição bancária entregar ao terceiro 
autorizado talonário da conta do autorizante, somando-se à ficha de assinaturas a 
assinatura do terceiro autorizado à emissão. 
 
 
14
 ALMEIDA, Amador Paes de. Op. cit. p.136-136 
15
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. pp. 255-256 
g) Cheque administrativo 
 O cheque administrativo é o emitido pelo banco sacado, para 
liquidação por uma de suas agências. Nele, emitente e sacado são a mesma 
pessoa, conforme artigo 9º, III, da Lei do Cheque. Ou seja, a instituição 
financeira ocupa, simultaneamente, a situação jurídica de quem dá ordem de 
pagamento e a de seu destinatário16. 
 O cheque administrativo é também chamado de cheque bancário, 
cheque comprado, cheque de caixa e cheque de direção. 
 É pressuposto do cheque administrativo a nominatividade, isto é, o 
cheque administrativo deve necessariamente constar da explicitação do nome do 
seu beneficiário. É o que consta do artigo 9º, III, da Lei do Cheque: 
LEI 7.357/85. Artigo 9º. “O cheque pode ser emitido: 
(...) 
III- contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador;” 
 
 
h) Cheque visado 
 
 Conceito: O cheque visado é aquele em que o banco sacado, 
a pedido do emitente ou do portador legítimo, lança e assinada, no verso, 
declaração confirmando a existência de fundos suficientes para a liquidação do 
título. 
 O cheque visado é tratado pelo artigo 7º da Lei do Cheque: 
LEI 7.357/85. Artigo 7º. “Pode o sacado, a pedido do emitente ou do 
portador legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao 
portador, e ainda não endossado, visto, certificação ou outra 
declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no 
título. 
§1º. A aposição de visto, certificação ou outra declaração 
equivalente obriga o sacado a debitar à conta do emitente a 
quantia indicada no cheque e reservá-la em benefício do 
portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que 
fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais 
coobrigados. 
 
16
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 256-257 
§2º. O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma 
vez vencido o prazo de apresentação; e, antes disso, se o chequelhe 
for entregue para inutilização.” 
 
Características: 
- deve sempre constar o nome do beneficiário, isto é, não pode ser ao portador; 
- visar significa lançar e declarar no verso do cheque declaração confirmando a 
existência de fundos suficientes para a liquidação do cheque’ 
- no momento de “visar”, o cheque não pode se encontrar endossado; 
- o ato do Banco-Sacado de “visar” pode ser requerido tanto pelo emitente quanto 
pelo legítimo portador do título; 
- no momento em que “visa” o cheque, o Banco-Sacado deve debitar a quantia da 
conta do emitente e reserva-la em benefício do legítimo portador do título; 
- a garantia acima indicada somente ocorre durante o prazo para a apresentação 
do cheque. Uma vez expirado tal prazo, o valor retorna para a conta do emitente, 
podendo o cheque ser descontado como qualquer outro, mas sem a garantia de 
um cheque visado. 
 
f) Cheque cruzado 
- Conceito: o cheque cruzado é aquele em que se cria uma situação específica 
para o cumprimento da ordem de pagar a quantia certa, essa situação específica é 
a obrigação do cheque apresentado somente poder ser pago pelo sacado a um 
banco ou a um cliente do sacado, mediante crédito em conta. Isto é, o portador do 
cheque cruzado não poderá apresenta-lo no caixa do banco e exigir a entrega de 
papel-moeda em valor correspondente à quantia sacada17. 
- Previsão legal: essa espécie de cheque é tratada pelos artigos 44 e 45 da Lei do 
Cheque, que abaixo transcrevemos: 
LEI 7.357/85. Artigo 44. O emitente ou o portador podem cruzar o 
cheque, mediante a aposição de dois traços paralelos no anverso do 
título. 
- Forma material do cruzamento: através da aposição de dois traços paralelos no 
anverso (frente) do cheque. 
 
17
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. p. 258-259 
- Espécies: A Lei do Cheque prevê 2(duas) espécies de “cruzamento”: o 
cruzamento geral e o cruzamento especial: 
• Cruzamento geral: O cheque com cruzamento geral somente pode ser 
pago a um banco. Desse modo, se o tomador concordou em receber 
cheque cruzado, ou ele próprio o cruzou, deverá encaminhá-lo ao banco 
no qual mantém conta de depósito18. Está previsto no §1º do artigo 44 da 
Lei do cheque; 
 
• Cruzamento especial: O cruzamento especial é feito através da menção, no 
interior das linhas paralelas de cruzamento, de um banco, de forma que o 
beneficiário do cheque deverá procurar exatamente a instituição financeira 
designada no cruzamento e contratar dela os serviços de recebimento do 
valor. Está previsto na parte final do §1º do artigo 44 da Lei do Cheque 
 
• Observação: Conforme artigo 44, §2º, da Lei do cheque, o cruzamento 
geral pode ser convertido em especial, mas o cruzamento especial não 
pode ser convertido em geral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 439 
V – A APRESENTAÇÃO DO CHEQUE 
 
a) Conceito de “apresentação” do cheque 
 Temos que o cheque se consubstancia numa ordem incondicional e 
à vista de pagamento de quantia determinada contra um Banco (ou instituição 
financeira a ele equiparada). Assim, para que seja entregue ao beneficiário o 
valor a que se refere o cheque deve ocorrer a sua apresentação ao Banco-Sacado 
para a sua liquidação (pagamento pelo Sacado). 
 Impõe-se a citação do artigo 34 da Lei 7.357/85, onde consta: “ a 
apresentação do cheque à câmara de compensação equivale à apresentação a 
pagamento”. 
 
b) Prazo para apresentação 
 Como assevera Amador Paes de Almeida, a apresentação do 
cheque é sumamente importante, de forma que, se tardia (feita após o prazo 
legal) faz com que o cheque perca sua eficácia executiva contra os endossantes e 
seus avalistas19. 
 A Lei do Cheque (Lei 7.357/85) normatiza o prazo para 
apresentação do cheque no seu artigo 33, in verbis: 
Lei 7.357/85. “Art. 33. O cheque deve ser apresentado para 
pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30(trinta) dias, 
quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 
60(sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no 
exterior.” 
O cheque deve ser apresentado, pelo credor, ao banco sacado, para 
liquidação, dentro do prazo assinalado pela lei. Conforme a sistemática legal, 
para os cheques “da mesma praça”, o prazo é de 30 dias; para os “de praças 
diferentes”, o prazo é de 60 dias, sempre a contados da data do saque. 
A definição de uma ou outra categoria de cheque (da mesma praça 
e de praças diferentes) é feita pela comparação entre o município que consta 
como local de emissão e o da agência pagadora. Se coincidentes, o cheque é 
considerado “da mesma praça”, caso contrário, de “praças diferentes”20. 
 
 
19
 ALMEIDA, Amador Paes. Op. cit. pp. 167-168 
20
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 440-441 
Para fim de definição do prazo de apresentação do cheque, é 
irrelevante se os municípios – do local do saque e do estabelecimento bancário 
pagador – integram a mesma câmara de compensação, conforme artigo 11 da 
Resolução 1.682/90 do Banco Central do Brasil. 
 
c) Conseqüências da falta de apresentação tempestiva do cheque 
 Como explica Ulhoa Coelho21, a inobservância do prazo de 
apresentação acarreta a perda do direito de executar os endossantes do cheque, e 
seus avalistas, se o título é devolvido por insuficiência de fundos, conforme 
inciso II do artigo 47 da Lei do Cheque: 
Lei 7.357/85. “Art. 47. Pode o portador promover a execução do cheque: 
I- contra o emitente e seu avalista; 
II- contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em 
tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por 
declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com a indicação 
do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por 
câmara de compensação (...)” 
 
 Isto é, a não apresentação do cheque fora do prazo legal: 
- não afasta a possibilidade de execução contra o emitente e seu avalista 
(Art. 47, II, LC); 
- impossibilita a execução contra os endossantes e seus avalistas. 
 
d) A comprovação de recusa de pagamento 
 A comprovação da recusa de pagamento pelo Banco-Sacado é feita pelo 
protestou ou pela declaração do Banco-Sacado, escrita e datada sobre o cheque, 
com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada 
por câmara de compensação, conforme artigo 47, II, da Lei do Cheque. 
 
 
 
21
 Op. cit. p. 440 
VI- SUSTAÇÃO DO CHEQUE 
 
a) Conceito de sustação 
 O significado denotativo de sustação é “ato de sustar” e sustar é 
“fazer parar, suspender, interromper”22. Aplicando tal significado ao regime 
jurídico do cheque, temos sustação como o ato do emitente ou do legítimo 
portador do título de impedir a liquidação do cheque, através de suspensão da 
ordem de pagar. 
 Importante que se destaque que alguns Autores conceituam 
“sustação” como sinônimo de oposição que, segundo a nossa visão, é uma 
espécie do gênero “sustação”. 
 
b) Espécies de sustação 
 O pagamento do cheque pode ser “sustado” pelo emitente em duas 
hipóteses(espécies): a) revogação, também chamada contra-ordem (artigo 35 da 
Lei do Cheque) e b) oposição (LC, art. 36)23. 
 Em ambas as espécies, o objetivo é impedir a liquidação do cheque, 
pelo banco sacado, pressupondo que a liquidação ainda não tenha ocorrido a 
liquidação do cheque pelo banco sacado. 
 Transcrevamos os artigos 35 e 36 da Lei do Cheque para posterior 
comparação entre essas duas espécies: 
Lei do Cheque. “Art. 35. O emitente do cheque pagável no Brasil pode 
revoga-lo, mercê de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via 
judicialou extrajudicial, com as razões motivadoras do ato. 
 Parágrafo único. A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois 
de expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o 
sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos 
do art. 59 desta lei.” 
 
 
 
22
 Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Versão digitalizada obtida no site <www.uol.com.br>. 
Acesso em 17.out.2005 
23
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 444-445 
Lei do Cheque. “Art. 36. Mesmo durante o prazo de apresentação, o 
emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, 
manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante 
razão de direito(...)” 
 Apresentados os dispositivos legais, vamos ao apontamento das diferenças 
entre esses dois institutos: 
 
 Espécie 
 Quesito 
 Revogação 
 (ou contra-ordem) 
 Oposição24 
Quem pode praticar Só o emitente Emitente ou o portador 
legitimado 
Produção de efeitos Somente a partir do 
término do prazo para 
apresentação 
Imediatamente 
 
 Nesse sentido o magistério de Fabio Ulhoa Coelho: as duas formas de 
sustação do cheque apresentam pequenas diferenças. De um lado, a revogação é 
ato exclusivo do emitente, enquanto a oposição pode também ser efetivada pelo 
portador legitimado. De outro lado, o ato revogatório (a revogação ou contra-
ordem) somente produz efeitos a partir do término do prazo de apresentação do 
cheque, caso essa não se verifique, enquanto os efeitos da oposição são 
imediatos. Dessa última distinção decorre que a contra-ordem, a rigor, é apenas o 
ato cambiário pelo qual o emitente pode limitar a eficácia como cheque do título 
aos 30 ou 60 dias (dependendo se for da mesma praça ou de praças diferentes) 
seguintes à emissão25 
 
c) A sustação e o Banco Sacado 
 Conforme artigo 36, parágrafo 2o, da Lei do Cheque, não cabe ao sacado 
julgar da relevância invocada pelo oponente. Assim, não cabe ao banco sacado 
apreciar as razões do ato. Se pessoa legalmente autorizada à sua prática, revoga o 
cheque ou se opõe ao seu pagamento, o sacado deve apenas adotar os 
procedimentos administrativos internos, aptos a atender a vontade dela. Se a 
sustação é, no caso em particular, medida justa ou abuso de direito, isso não é 
coisa com que se deva preocupar o banco. Sua função resume-se a simplesmente 
 
24
 Gladston Mamede utilização “sustação” e “oposição” como sinônimos, referindo-se ao instituto tratado 
no artigo 36 da Lei do Cheque. Cf. MAMEDE, Gladston. Op. Cit. pp. 282-283 
 
25
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 446 
garantir a eficácia ao ato unilateral do emitente. A validade ou invalidade da 
sustação somente pode ser determinada pelo juiz, cabendo ao prejudicado 
demandar o emitente e provar o abuso no exercício do direito. 
 
d) Efeitos penais da sustação infundada 
 Na forma do parágrafo 2o do artigo 171 do Código penal, a sustação 
infundada do pagamento do cheque tem os mesmos efeitos penais da emissão de 
cheque sem fundos, caracterizando crime de estelionato. 
Estelionato 
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou 
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a 
pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. 
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: 
Disposição de coisa alheia como própria 
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como 
própria; 
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria 
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada 
de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em 
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias; 
Defraudação de penhor 
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a 
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado; 
Fraude na entrega de coisa 
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém; 
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a 
saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou 
valor de seguro; 
Fraude no pagamento por meio de cheque 
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra 
o pagamento. 
VI- O CHEQUE SEM FUNDOS E SUAS CONSEQÜÊNCIAS 
 
a) Conceito de “cheque sem fundos” 
 Verificando o Banco Sacado, no procedimento de liquidação do 
cheque, não possuir o emitente fundos suficientes em sua conta de depósito, deve 
restituir o título a quem lhe apresentou, com a declaração correspondente (de não 
pagamento por insuficiência de fundos)26 
 
b) Efeitos penais do “cheque sem fundos” 
 A emissão de cheque sobre conta que não possui adequada provisão 
de fundos para fazer frente à ordem de pagar e, assim como a indevida frustração 
do pagamento de um cheque (oposição indevida), considerada crime de 
estelionato, de acordo com o artigo 171, §2º, do Código Penal. 
 A norma pressupõe dolo específico: a intenção de obter, para si ou 
para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, utilizando-se do cheque, 
ardilosamente, fraudando sua função creditícia e, assim, induzindo a erro aquele 
que, ao recebe-lo, supõe estar recebendo uma representação do pagamento (se a 
entrega se faz pro solvendo) ou o pagamento em si (se a entrega é feita pro 
soluto). A caracterização do crime exige a aferição dessa intenção específica. Ao 
examinar o Recurso em Habeas Corpus 2.285/SP, a 5ª Turma do STJ, sob a 
relatoria do Min. Edson Vidigal, deixou claro que “o cheque pré-datado, emitido 
como garantia de dívida, não constitui ordem de pagamento à vista”. O emitente, 
por isso, não é obrigado a resgatá-lo antes da data aprazada27. 
 
c) Efeitos cambiários do “cheque sem fundo” 
 O artigo 15 da Lei do Cheque determina que o “emitente” garante o 
pagamento considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa 
garantia. 
 E mais, o artigo 47 da Lei do Cheque permite ao portador promover 
a execução do cheque: 
- contra o emitente e seu avalista; 
- contra os endossantes e seus avalistas 
 
26
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 446 
27
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. p.243 
 É disposto pelo §3º do artigo 47 da Lei do Cheque que o portador 
que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa de 
pagamento, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os 
deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável. 
 Assim, frente a um cheque sem fundos, temos que: 
- se o cheque é apresentado no prazo legal (30 ou 60 dias): há o direito do 
portador do cheque de execução contra o emitente e seu avalista e contra os 
endossantes e seus avalistas (art. 47, I, LC); 
- se o cheque é apresentado fora do prazo legal: o portador perde o direito de 
execução contra os endossantes e seus avalistas (art. 47, II, LC). E, caso o 
emitente tinha, no prazo de apresentação fundos disponíveis, e os deixou de ter, 
em razão de fato que não lhe seja imputável, então o portador perde o direito de 
execução contra o emitente (art. 47, §3º, LC). 
 
 Também, no âmbito administrativo, cabe ao Banco Central 
disciplinar a repressão ao uso do cheque sem fundos. A sistemática vigente prevê 
2(duas) sanções: a inscrição no CCF (Cadastro de Emitentesde Cheques sem 
Fundos) e o pagamento de taxa do Serviço de Compensação de Cheques e 
Outros. A inscrição no CCF é aplicável na segunda devolução do mesmo cheque, 
e dela decorre a rescisão do contrato de depósito bancário e a proibição para 
novos contratos desse gênero, com qualquer banco (exceto se a conta se destina 
ao recebimento de salário, a ser movimentada unicamente por cheques avulsos). 
O pagamento de taxa é aplicada a cada devolução do cheque sem fundos28. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 450-451 
VII – O PROTESTO DO CHEQUE 
 O protesto, no cheque, para fins de execução não é 
obrigatório, vez que o artigo 47, §1º, da Lei do Cheque impõe que a “declaração 
do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com a indicação do dia de 
apresentação”, ou, ainda, “a declaração escrita e datada por câmara de 
compensação” produz os mesmos efeitos do protesto (para fins de execução). 
 
Art . 47 Pode o portador promover a execução do cheque: 
I - contra o emitente e seu avalista; 
II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a 
recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e 
datada sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por declaração 
escrita e datada por câmara de compensação. 
§ 1º Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e produz os 
efeitos deste. 
§ 2º Os signatários respondem pelos danos causados por declarações inexatas. 
§ 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a recusa 
de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de execução contra o 
emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de 
ter, em razão de fato que não lhe seja imputável. 
§ 4º A execução independe do protesto e das declarações previstas neste artigo, se a 
apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de o sacado ter sido 
submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência. 
 
 Chamamos a atenção para o fato de que a dispensa de protesto, na 
forma do §1º do artigo 47 da LC, é aplicável somente para fins de execução, não 
gerando efeitos, por exemplo, para fins de instrução do pedido de falência com 
base na impontualidade injustificada do devedor empresário (conforme artigo 94, 
I, da Lei 11.101/05). 
 O emitente de cheque sem fundos é devedor do valor do cheque, 
acrescido de juros, desde a data da apresentação ao banco sacado (e não do 
protesto), correção monetária e reembolso de despesas em que incorreu o credor 
(LC, art. 52). Desse modo, as taxas que o portador do cheque eventualmente 
pagou para o seu banco, pelo frustrado serviço de compensação, as custas 
desembolsadas no cartório de protesto, além das judiciais, são cobráveis do 
emitente29. 
 
29
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 449 
 VIII – A ORDEM DE PREFERÊNCIA 
 O artigo 40 a Lei do Cheque impõe que o pagamento dos 
cheques se fará à medida em que forem apresentados os cheques e se dois ou 
mais forem apresentados simultaneamente, sem que os fundos disponíveis 
bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de emissão mais antiga e, 
se da mesma data, os de número inferior. 
 
 IX- AS AÇÕES CAMBIAIS 
 A ação cambial é aquela em que o demandado não pode 
argüir, em sua defesa, matérias estranhas à sua relação com o demandante, em 
razão do princípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-
fé. A generalidade dos títulos de crédito comporta uma única ação cambial, que é 
a cobrança por meio de execução. Em relação ao cheque, o legislador prevê duas: 
a execução e a ação de enriquecimento ilícito conforme artigos 59 a 61 da Lei do 
Cheque30, in verbis: 
 
Art . 59 Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a 
ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador. 
Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro 
prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia 
em que foi demandado. 
Art . 60 A interrupção da prescrição produz efeito somente contra o obrigado em relação ao 
qual foi promovido o ato interruptivo. 
Art . 61 A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se 
locupletaram injustamente com o não-pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, 
contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta 
Lei. 
Art . 62 Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não exclui a ação 
fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento. 
 
 A execução do cheque prescreve em 6(seis) meses, a contar do 
término do prazo de apresentação. É, em princípio, irrelevante a data em que o 
cheque foi apresentado ao banco sacado, e a de sua devolução. O termo inicial do 
prazo de prescrição será considerado o fim do prazo de apresentação, inclusive se 
a apresentação e devolução ocorrem fora desse prazo. Por exemplo, cheque de 
mesma praça emitido em 2 de março prescreve em 1º de outubro do mesmo ano. 
 
30
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 447-449 
Assim é, se o cheque foi apresentado ao sacado em 5 de março (dentro do prazo 
de apresentação, portanto) ou em 5 de abril (além do prazo) e independentemente 
das datas em que o banco restituiu o documento ao credor31. 
 Lembre-se, a propósito, que, para fins cambiais, os dias se contam 
pelos dias (Lei Uniforme, art. 36). Não é correto, portanto, considerar prescrito o 
cheque de mesma praça em 7 meses e o de praças diferentes em 8 meses. A exata 
aplicação da lei impõe a contagem dos 30 ou 60 dias correspondentes ao prazo de 
apresentação, dia a dia, e, em seguida, a soma de 6 meses ao mês do término do 
prazo. Em outros termos não se podem contar meses por dias, nem esses por 
aqueles32. 
 A regra de contagem do prazo prescricional a partir do término do de 
apresentação comporta exceção unicamente no caso de cheque pós-datado, se 
apresentado à liquidação antes da data de emissão nele escrita. A aplicação da 
regra geral nesse caso, de fato importaria benefício ao credor que descumpriu a 
obrigação de não-fazer assumida perante o emitente – isto é, a de não liquidar o 
cheque antes da data acertada de comum acordo entre eles. Os 6 meses 
prescricionais, na hipótese de apresentação precipitada de cheque pós-datado, 
contam-se como se o saque tivesse sido realizado na data da primeira 
apresentação ao sacado. Desse modo, se cheque de mesma praça, que ostenta o 
dia 2 de abril como data de emissão, é apresentado ao sacado em 15 de março, 
deve-se reputar prescrita a execução em 14 de outubro do mesmo ano, último dia 
em que o credor ainda pode ajuizar a execução. 
 Prescrita a execução, o portador do cheque sem fundos poderá, nos 2 anos 
seguintes, promover a ação de enriquecimento indevido contra o emitente, 
endossantes e avalistas (artigo 61 da LC). O portador do cheque, através e 
processo de conhecimento, pede a condenação judicial de qualquer devedor 
cambiário no pagamento do valor do título, sob o fundamento e que se operou o 
enriquecimento indevido. De fato, se o cheque está sem fundos, o demandado 
locupletou-se sem causa lícita, em prejuízo do demandante, e é essa, em 
princípio, a matéria de discussão na ação33. 
 Como a ação de enriquecimento indevido é cambial, se o demandante é o 
endossatário do cheque e o demandado é o emitente, não poderá esse último, na 
contestação, suscitar matérias pertinentes ao negócio originário do título, 
matérias que, perante terceiros de boa-fé, não são oponíveis, no regime de direito 
cambiário.Frise-se, entretanto, que se a demanda é promovida pelo tomador 
contra o emitente, será lícito ao réu contestar o pleito discutindo a relação 
jurídica originária do título. Exemplo: se Antonio tomou dinheiro emprestado de 
Benedito – agiota que cobra juros usurários -, e procedeu ao pagamento do 
devido por cheques, que foram regularmente endossados a Carlos, terceiro de 
 
31
 Idem 
32
 Ibidem, pp. 447-448 
33
 Ibidem, pp. 448-449 
boa-fé, na ação de enriquecimento indevido que o último promover contra aquele 
não será cabível contestar a pretensão, discutindo a limitação legal dos juros. 
Mas se o cheque não circulou, na ação de enriquecimento indevido que Benedito 
aforar contra Antonio, será perfeitamente discutível o excesso de juros34. 
 Após a prescrição das ações cambiais, será ainda possível ao 
portador do cheque sem fundos promover a ação causal (LC, art. 62, a seguir 
transcrito), para fins de discutir as obrigações decorrentes da relação originária: 
Art . 63 Os conflitos de leis em matéria de cheques serão resolvidos de 
acordo com as normas constantes das Convenções aprovadas, promulgadas e 
mandadas aplicar no Brasil, na forma prevista pela Constituição Federal. 
 Claro que a admissão é condicionada à existência de relação 
extracambial entre os litigantes, que é o objeto da lide. No exemplo acima, entre 
Carlos e Antonio não existe nenhuma outra relação jurídica, a não ser o próprio 
cheque; por essa razão, o primeiro, depois de prescritas as ações cambiais, não é 
mais titular de qualquer direito contra o segundo. Poderá apenas intentar algum 
processo contra Benedito, para discutir a relação jurídica que havia justificado a 
transferência do título de crédito (mútuo, responsabilidade civil etc)35. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34
 Idem 
35
 Idem 
X – AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA NO CHEQUE 
 
 Também no que diz respeito ao cheque, as obrigações assumidas 
pelos diversos partícipes da relação, entre sacador, avalista, sacado, endossatário, 
são autônomas e independentes, conforme artigo 13 da Lei do Cheque36, in 
verbis: 
Art . 13 As obrigações contraídas no cheque são autônomas e 
independentes. 
Parágrafo único - A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o 
signatário, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas 
incapazes de se obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas 
de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por qualquer outra razão, não 
poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque, ou em nome das 
quais ele foi assinado. 
 Repete-se, assim, por expressa disposição normativa, os princípios 
já estudados na parte geral e que caracterizam o Direito Cambiário. A esses, 
como já visto, soma-se o princípio da abstração, permitindo-se afirmar que o 
cheque é declaração unilateral de um crédito que independe do negócio de base, 
isto é, que não comporta investigação sobre a causa debendi37. 
 A aplicação dos princípios da autonomia e da independência leva à 
afirmação de uma regra que se encontra escrita no artigo 13, parágrafo único, da 
Lei do cheque, prevendo que a assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o 
signatário, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se 
obrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou 
assinaturas que, por qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que 
assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado38. 
 
 
 
 
36
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. pp. 261-263 
37
 Idem 
38
 Idem

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