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Aula 17 Direito Administrativo p/ Magistratura Federal (Curso Regular) Professor: Erick Alves Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 77 OBSERVAÇÃO IMPORTANTE Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos ;-) Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 77 AULA 17 Olá pessoal! O objetivo desta aula é apresentar alguns entendimentos recentes da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acerca do conteúdo de Direito Administrativo que estudamos ao longo do curso. Como vimos, as bancas têm explorado bastante a jurisprudência recente nos concursos de alto nível, de modo que, se ficarmos apenas na resolução de questões anteriores, poderemos perder algum assunto novo que ainda não tenha sido cobrado em prova. No nosso curso já vimos diversos posicionamentos importantes dos Tribunais Superiores, os quais não podem ser ignorados. Mas a jurisprudência é dinâmica, de modo que a atualização constante é essencial. A ideia aqui, portanto, é atualiza-los. Apresentarei as decisões mais recentes do STF e do STJ que, a meu ver, são relevantes para as provas de Direito Administrativo. A fonte que utilizei é a mesma que as bancas costumam utilizar quando cobram jurisprudência em prova: os Informativos de Jurisprudência divulgados pelos referidos Tribunais. Outro ponto de apoio importante para a elaboração da aula foram os ³,QIRUPDWLYRV�(VWUDWpJLFRV´�GLYXOJDGRV�QR�VLWH�GR�Estratégia Concursos, assim como os ³,QIRUPDWLYRV�(VTXHPDWL]DGRV´�GLYXOJDGRV�QR�VLWH�Dizer o Direito, nos quais os referidos informativos são apresentados de uma forma bastante amigável e didática. Enfim, deixa de papo e vamos ao que interessa. A aula está estruturada de acordo com o sumário a seguir. Para facilitar a consulta, os julgados estão separados por tema; dentro de cada tema foram inseridas decisões tanto do STF como do STJ. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 77 Sumário Agentes Públicos.............................................................................................................................................. 4 Organização da Administração Pública ...........................................................................................................39 Entidades paraestatais e terceiro setor...........................................................................................................41 Princípios da Administração Pública ...............................................................................................................43 Poderes da Administração Pública..................................................................................................................47 Atos administrativos.......................................................................................................................................48 Serviços públicos ............................................................................................................................................48 Responsabilidade civil do Estado ....................................................................................................................51 Improbidade administrativa ...........................................................................................................................53 Controle da Administração Pública .................................................................................................................63 Bens públicos..................................................................................................................................................70 Intervenção na propriedade privada...............................................................................................................72 Licitações e contratos .....................................................................................................................................74 Aos estudos! Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 77 Agentes Públicos Atuação do Poder Judiciário no controle de concursos públicos Nesta ação, o STJ promoveu o controle de legalidade de duas questões da prova dissertativa do concurso para o Cargo de Assessor - Área do Direito do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Na primeira questão, houve um grave erro jurídico no enunciado, já que a banca examinadora teria trocado os institutos da "saída temporária" por "permissão de saída", e exigido como resposta os efeitos de falta grave decorrentes do descumprimento da primeira. Vale salientar que tanto o Tribunal de origem quanto a banca examinadora reconheceram a existência de erro no enunciado da questão. Por essa razão, o STJ entendeu estar diante de evidente ilegalidade a permitir a atuação do Poder Judiciário, anulando a questão. Observa-se que não se busca do Poder Judiciário, no caso, o reexame do conteúdo da questão ou do critério de sua correção para concluir se a resposta dada pelo candidato se encontra adequada ou não para o que solicitado pela banca examinadora. Se assim o fosse, tal medida encontraria óbice na jurisprudência, que proíbe o Poder Judiciário substituir a banca nos critérios de correção por ela adotados. Lembrando que o Supremo Tribunal Federal, em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, analisando controvérsia sobre a possibilidade de o Poder Judiciário realizar o controle jurisdicional sobre o ato administrativo que profere avaliação de questões em concurso público, firmou a seguinte tese: "Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas" (RE 632.853-CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, publicado em 29/6/2015). Ou seja, de acordo com a Corte Suprema, a regra é que o Poder Judiciário não pode reexaminar (i) o conteúdo das questões nem (ii) os critérios de correção, para fins de avaliar respostas dadas pelo candidato e as notas a eles atribuídas, exceto se diante de ilegalidade ou inconstitucionalidade. Na outra questão, o vício decorreria da inépcia do gabarito, pois, ao contrário das primeiras quatro questões, o recorrente afirma que os Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 77 fundamentos jurídicos esperados do candidato avaliado não foram publicados, a tempo e modo. O STJ salientou que as informações constantes dos espelhos de provas subjetivas constituem a motivação do ato administrativo, consistente na atribuição de nota ao candidato, pelo que deve ser apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato administrativo, pois caso se permita a motivação posterior, dar-se-ia ensejo para que se fabriquem, forjem ou criem motivações para burlar eventual impugnação ao ato. No caso, contudo, o STJ entendeu que a motivação foi feita de forma correta, uma vez que a banca examinadora do certame não sódisponibilizou a nota global do candidato, como também fez divulgar os critérios que adotara para fins de avaliação, o padrão de respostas e a nota atribuída a cada um desses critérios/padrões de respostas. STJ. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, por unanimidade, julgado em 20/4/2017, DJe 2/5/2017. (Info 603). Infrações administrativas praticadas de forma continuada A controvérsia limita-se a definir se é possível a admissão da continuidade delitiva no processo administrativo disciplinar. É dizer, busca o servidor que as suas condutas sejam apuradas em um único processo administrativo disciplinar no qual se considere a segunda infração como uma extensão da primeira, esta, diga-se, já sancionada com a suspensão de 90 dias. Com isso, o servidor não receberia sanção específica para a segunda infração, uma vez que a primeira já foi sancionada com a máxima extensão da pena aplicável para uma única infração (no caso, a pena cabível era a suspensão que, nos termos da Lei 8.112/90, pode ser de no máximo 90 dias). Ao examinar o caso, o STJ entendeu que há fatos ilícitos administrativos que, se cometidos de forma continuada pelo servidor público, não se sujeitam à sanção com aumento do quantum sancionatório previsto no art. 71, caput, do CP, ou seja, se for benéfico ao servidor, tais ilícitos devem ser considerados como uma única infração, praticada de forma continuada, diminuindo assim, a sanção aplicada (ao invés de sofrer duas punições, o servidor sofre apenas uma, além de não configurar a reincidência). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 77 STJ. REsp 1.471.760-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, por maioria, julgado em 22/2/2017, DJe 17/4/2017 (Info 602). Gratificação de desempenho genérica deve ser estendida aos aposentados e pensionistas As vantagens remuneratórias legítimas e de caráter geral conferidas a determinada categoria, carreira ou, indistintamente, a servidores públicos, por serem vantagens genéricas, são extensíveis aos servidores inativos e pensionistas. Nesses casos, a extensão alcança os servidores que tenham ingressado no serviço público antes da publicação da EC 20/1998 e da EC 41/2003 e se aposentado ou adquirido o direito à aposentadoria antes da EC 41/2003. Com relação aos servidores que se aposentaram após a EC 41/2003, devem ser observados os requisitos estabelecidos na regra de transição contida em seu art. 7º, em virtude da extinção da paridade integral entre ativos e inativos contida no art. 40, § 8º, da CF, redação original, para os servidores que ingressaram no serviço público após a publicação da EC 41/2003. Com relação aos servidores que ingressaram no serviço público antes da EC 41/2003 e se aposentaram ou adquiriram o direito à aposentadoria após a sua edição, é necessário observar a incidência das regras de transição fixadas pela EC 47/2005, a qual estabeleceu efeitos retroativos à data de vigência da EC 41/2003. STF. Plenário. RE 596962/MT, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/8/2014 (Info 755). STJ. STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.372.058-CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 4/2/2014 (Info 534). Licença para acompanhamento de cônjuge A Lei 8.112/90 prevê que poderá ser concedida licença ao servidor público federal para acompanhar seu cônjuge ou companheira que foi deslocado para outro ponto do território nacional, podendo ali exercer provisoriamente atividade compatível com seu cargo em órgão ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional. Tal licença remunerada está prevista no § 2º do art. 84. Contudo, o servidor não terá direito a essa licença remunerada se o cônjuge se mudou para outro Município para assumir um cargo público decorrente de concurso público para o qual foi aprovado. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 77 Em suma, a licença para o acompanhamento de cônjuge ou companheiro de que trata o § 2º do art. 84 da Lei 8.112/1990 não se aplica aos casos de provimento originário de cargo público. STF. 1ª Turma. MS 28620/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/9/2014 (Info 760). Servidor público em inatividade não goza do adicional de férias É inconstitucional lei estadual que prevê que o servidor público, mesmo quando for para a inatividade, continuará tendo direito, todos os anos, ao adicional de férias (terço de férias). Essa lei viola o princípio da razoabilidade já que o servidor público em inatividade não pode gozar de férias, porquanto deixou de exercer cargo ou função pública, razão pela qual a ele não se estende adicional de férias concedido a servidores em atividade. STF. Plenário. ADI 1158/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755). Aposentadoria por invalidez com proventos integrais A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da chamada aposentadoria por invalidez. Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei. Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência. O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser tido como exaustivo (taxativo). No âmbito federal, as doenças que são consideradas graves, contagiosas ou incuráveis para efeitos de aposentadoria por invalidez estão previstas no art. 186, §1º da Lei 8.112/1990. Frise-se que o rol previsto na lei é taxativo. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 77 STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755). O STJ entende da mesma forma que o STF? NÃO. O STJ, ao contrário do STF, possui inúmeros precedentes afirmando que o rol das doenças, para fins de aposentadoria integral, não é taxativo, mas sim exemplificativo, tendo em vista a impossibilidade de a norma alcançar todas as doenças consideradas pela medicina como graves, contagiosas e incuráveis. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1353152/AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 04/02/2014. Vale ressaltar, no entanto, que, como a decisão do STF foi proferida sob a sistemática da repercussão geral, a tendência é que o STJ acabe se curvando ao entendimento da Corte Suprema. Isso porque, apesar de os julgados proferidos em repercussão geral não terem efeitos vinculantes, na prática, eles acabam tendo uma enorme força e os Tribunais em geral têm seguido o que é decidido. Sociedade de economia mista que contrata escritório de advocacia em vez de convocar advogados aprovados Se existem candidatos aprovados para advogado da sociedade de economia mista e esta, no entanto, em vez de convocá-los, contrata escritório de advocacia, tal contratação é ilegal, surgindo o direito subjetivo de que os aprovados sejam nomeados. Segundo entende o STF, a ocupação precária por terceirização para desempenho de atribuições idênticas às de cargo efetivo vago, para o qual há candidatos aprovados em concurso público vigente, configura ato equivalente à preterição da ordem de classificação no certame, ensejando o direito à nomeação.A competência para julgar essa ação é da Justiça do Trabalho. Isso porque essa Justiça laboral especializada é competente para julgar não apenas as demandas relacionadas com o contrato de trabalho já assinado, mas também para as questões que envolvam o período pré-contratual. STF. 2ª Turma. ARE 774137 AgR/BA, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/10/2014 (Info 763). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 77 Aumento da remuneração de servidores públicos por meio de decisão judicial Súmula vinculante 37-STF: não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014. A conclusão exposta nesta SV 37 já era prevista expressamente em uma súmuOD� ³FRPXP´� GR� 67)�� D� V~PXOD� ���� GR� 67)� �SXEOLFDGD� HP� 13/12/1963) e que tem exatamente a mesma redação. Desse modo, o objetivo do STF foi de reafirmar que o entendimento do enunciado 339 continua válido atualmente e, além disso, conferir efeito vinculante a ele, fazendo com que se torne obrigatório para todos os demais órgãos do Poder Judiciário e para a administração pública. Vamos entender a SV 37 do STF com um exemplo concreto: A Lei 2.377/1995, do Município do Rio de Janeiro, concedeu gratificação a servidores lotados e em exercício na Secretaria Municipal de Administração. João, servidor que estava lotado em outra Secretaria, ajuizou ação pedindo que fosse reconhecido seu direito de também receber a referida gratificação, com base no princípio da isonomia. Afirmou que desempenhava exatamente as mesmas atribuições que os demais servidores e que, por isso, deveria também ser contemplado com a verba. Esse pedido de João, caso fosse deferido, violaria o princípio da reserva legal, previsto no art. 37, X, da CF/88 segundo o qual a remuneração dos servidores públicos somente pode ser fixada por lei específica. Desse modo, a CF/88 determina que o aumento dos vencimentos deve ser feito por meio de lei. O Poder Judiciário, mesmo se deparando com uma situação de desigualdade (violação da isonomia), FRPR� QR� H[HPSOR� SURSRVWR�� QmR� SRGH� ³FRUULJLU´� HVVD� GLVSDULGDGH� FRQIHULQGR� R� DXPHQWR� SRUTXH� HOH� QmR� WHP� ³IXQomR� OHJLVODWLYD´�� QmR� podendo, portanto, suprir a ausência da lei que é indispensável no caso. Foi o que decidiu o STF no caso do exemplo acima mencionado. STF. Plenário. RE 592317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2014 (repercussão geral) (Info 756). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 77 Legitimidade da redução das remunerações acima do teto constitucional (art. 37, XI, da CF/88) O teto de retribuição fixado pela EC 41/2003 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal anterior. A aplicação imediata da EC 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido. Em outras palavras, com a EC 41/2003, quem recebia acima do teto fixado teve a sua remuneração reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima. STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761). A ampliação de jornada de trabalho sem alteração da remuneração do servidor viola a regra constitucional da irredutibilidade de vencimentos O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88, assegura o princípio da irredutibilidade dos vencimentos. No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho de 20 horas semanais. Foi editada, então, uma lei aumentando a jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem, contudo, majorar a remuneração paga. O STF entendeu que a lei que alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que, antes de sua edição, já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque se fossem obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução proporcional dos vencimentos recebidos. Perceba que, em princípio, não há ilegalidade no ato normativo que aumente a jornada de trabalho dos servidores (afinal, não há direito Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 77 adquirido a regime jurídico). No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua remuneração. Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será válida se houver formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será inconstitucional, por violação da norma constitucional da irredutibilidade vencimental. STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão geral) (Info 765). A iniciativa de leis que tratam sobre regime jurídico de servidores é do chefe do Poder Executivo O STF julgou inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que dispunha sobre a carga horária diária e semanal de cirurgiões- dentistas nos centros odontológicos do referido Estado-membro. Houve inconstitucionalidade formal já que o projeto de lei, que trata sobre servidores públicos, foi iniciado por um Deputado Estadual (e não pelo Governador do Estado). 2�DUW���������� ,,�� ³F´��GD�&)����SUHYr�TXH� compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra também é aplicada no âmbito estadual por força do princípio da simetria. O fato de o Governador do Estado ter sancionado o projeto de lei não faz com que o vício de iniciativa seja sanado (corrigido). STF. Plenário. ADI 3627/AP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 6/11/2014. (Info 766). A iniciativa de leis que disponham sobre criação de cargos públicos e estruturação de órgãos da Administração direta e autárquica É formalmente inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trata sobre a criação de cargos e a estruturação de órgãos da Administração direta e autárquica. A iniciativa para essas matérias é reservada ao chefe do Poder Executivo �DUW����������,,��³D´��³F´�H�³H´�� da CF/88). STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 77 Inconstitucionalidade de lei que preveja provimento derivado É materialmente inconstitucional lei estadual que possibilite o provimento derivado de servidores investidos em cargos de outras carreiras no cargo de auditor de saúde. Isso constitui provimento derivado, o que viola o art. 37, II, da CF/88, que exige a prévia aprovação em concurso para a investidura em cargo público (Súmula 685-STF). STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771). Prazo da ação de revisão de aposentadoria no serviço público O prazo para que o servidor público proponha ação contra a Administração Pública pedindo a revisão do ato de sua aposentadoria é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932.Após esse período ocorre a prescrição do próprio fundo de direito. STJ. 1ª Seção. Pet 9.156-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 28/5/2014 (Info 542). Termo inicial do prazo prescricional no caso de infração disciplinar No âmbito de ação disciplinar de servidor público federal, o prazo de prescrição da pretensão punitiva estatal começa a fluir na data em que a irregularidade praticada pelo servidor tornou-se conhecida por alguma autoridade do serviço público, e não, necessariamente, pela autoridade competente para a instauração do processo administrativo disciplinar. Lembrando que, nos termos do art. 142 da Lei 8.112/1990, a ação disciplinar prescreverá: em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão; em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência. STJ. 1ª Seção. MS 20.162-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/2/2014 (Info 543). Termo inicial do mandado de segurança envolvendo concurso público O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se discuta regra editalícia que tenha Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 77 fundamentado eliminação em concurso público é a data em que o candidato toma ciência do ato administrativo que determina sua exclusão do certame, e não a da publicação do edital do certame. Por exemplo, imagine um candidato eliminado do concurso público por ter sido reprovado no exame psicotécnico e que, diante da reprovação, entra com mandado de segurança para contestar os critérios do exame previstos no edital do concurso. Nesse caso, o prazo decadencial de 120 dias para impetrar o MS começa a contar da data da publicação do resultado do exame psicotécnico, ou seja, da data em que o candidato toma ciência do ato administrativo que determina sua exclusão do certame, e não da data em que foi publicado o edital do concurso. STJ. Corte Especial. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014 (Info 545). Pensão por morte da Lei 8.112/90 e surgimento de outro beneficiário A viúva do servidor público federal tem direito à pensão vitalícia por morte, nos termos do art. �����,��³D´��GD�/ei 8.112/90. O filho menor de 21 anos do servidor falecido também tem direito à pensão temporária por PRUWH��DUW�������,,��³D´�� Se o servidor deixou viúva e filho menor, o valor da pensão por morte será dividido entre eles. No caso concreto, o servidor faleceu deixando viúva e, até então, nenhum filho conhecido. A esposa supérstite passou a receber a pensão quando foi surpreendida por uma citação a respeito de ação de investigação de paternidade na qual se alegava que seu marido tinha um filho não reconhecido. Após algum tempo, a ação é julgada procedente, reconhecendo-se que realmente o menor é filho do falecido. A partir daí, a viúva terá que dividir o valor da pensão por morte com o outro herdeiro. No entanto, a viúva, que vinha recebendo a totalidade do benefício, não terá que pagar ao filho posteriormente reconhecido a quota das parcelas recebidas antes da sentença de reconhecimento da paternidade. Os valores que ela já recebeu e que pertenciam ao filho reconhecido não poderão ser exigidas porque são verbas alimentares, recebidas de boa- fé, sendo, portanto, irrepetíveis. STJ. 3ª Turma. REsp 990.549-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/6/2014 (Info 545). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 77 Impossibilidade de acumulação de cargos se a jornada semanal ultrapassar 60h É vedada a acumulação de dois cargos públicos quando a soma da carga horária referente aos dois cargos ultrapassar o limite máximo de 60 horas semanais. No caso concreto, a servidora acumulava dois cargos públicos privativos de profissionais de saúde e a soma da carga horária semanal de ambos era superior a 60 horas. A servidora foi notificada para optar por um dos dois cargos, tendo se mantido inerte. Diante disso, foi demitida de um deles por acumulação ilícita de cargos públicos. A servidora impetrou mandado de segurança, mas o STJ reconheceu que a demissão foi legal. Como se nota, o STJ entende que é vedada a acumulação de cargos públicos, ainda que lícita, quando a soma da carga horária referente aos dois cargos ultrapassar o limite máximo de 60 horas semanais. Isso porque o servidor precisa estar em boas condições físicas e mentais para bem exercer as suas atribuições, o que certamente depende de adequado descanso no intervalo entre o final de uma jornada de trabalho e o início da outra, sendo isso impossível em condições de sobrecarga de trabalho. Sendo assim, se a jornada semanal ficar acima de 60 horas, a acumulação não seria permitida, considerando que o servidor estaria muito cansado e isso atrapalharia seu desempenho funcional, em prejuízo ao princípio constitucional da eficiência. STJ. 1ª Seção. MS 19.336-DF, Rel. originária Min. Eliana Calmon, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/2/2014 (Info 549). STJ. 2ª Turma. REsp 1.565.429-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2015 (Info 576). Restituição de valores recebidos I ± Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa posteriormente revogada: NÃO é devida a restituição ao erário dessa quantia. Há boa-fé do servidor (princípio da proteção à confiança). II ± Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial posteriormente reformada: É devida a restituição ao erário dessa quantia. Não há boa-fé, considerando que o servidor sabia que poderia haver alteração da decisão que tinha caráter precário (provisório). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 77 III ± Se o servidor público recebe valores por sentença judicial transitada em julgado. Posteriormente, esta sentença é desconstituída em ação rescisória: NÃO é devida a restituição da quantia. Há boa-fé, porque aqui o pagamento decorreu de sentença judicial definitiva, que só depois foi desconstituída em ação rescisória. STJ. 1ª Seção. EAREsp 58.820-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014 (Info 548) Inaplicabilidade do direito à recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 a servidor público estadual Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível aplicar a Lei 8.112/90 por analogia? NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei 8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do Estado for omisso acerca desse direito. Seria o caso, por exemplo, de um servidor do Tribunal de Justiça do Estado, já estável, que foi aprovado no concurso de Delegado da Polícia Federal e, após dois meses no cargo, percebeu que não tinha perfil para a função e requereu sua exoneração e a recondução para o antigo cargo no Tribunal de Justiça. Nessa situação hipotética, se a legislação estadual não prevê o instituto da recondução, o servidor não poderá retornar ao antigo cargo, nem mesmo aplicando a Lei 8.112/90 por analogia. Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos servidores públicos estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou municipal, sobre direito de cunho constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal situação não gere o aumento de gastos. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei 8.112/90sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor estadual cuja legislação não prevê esse afastamento (RMS ������»$&�� 5HO�� 0LQLVWUR� +XPEHUWR� 0DUWLQV� Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para proteção da unidade família, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da CF/88). No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho constitucional. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 77 STJ. 2ª Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553). Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar Imagine a seguinte situação hipotética: João foi aprovado em todas as provas teóricas do concurso, no entanto, foi eliminado no exame psicotécnico, fato ocorrido no ano de 2010. O candidato ingressou com ação ordinária questionando os critérios utilizados no teste psicotécnico aplicado. A ação foi julgada procedente em todas as instâncias, mas a Fazenda Pública sempre recorria e João ainda não havia tomado posse, diferentemente de todos os demais candidatos aprovados. Somente em 2015, quando houve o trânsito em jugado, ele foi nomeado e empossado. Significa que, enquanto os demais candidatos foram nomeados e estavam trabalhando desde 2010, João, mesmo tendo direito, só conseguiu ingressar no serviço público 5 anos mais tarde. Inconformado com a situação, João propôs ação de indenização contra o Poder Público alegando que teria direito de receber, a título de reparação, o valor da remuneração do cargo referente ao período de 2010 até 2015. O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito a receber a remuneração retroativa? Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à indenização. Isso porque o direito à remuneração é consequência do exercício de fato do cargo. Dessa forma, inexistindo o efetivo exercício, a pessoa não faz jus à percepção de qualquer importância, a título de ressarcimento material, sob pena de pena de enriquecimento sem causa. Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante. 1DV�H[DWDV�SDODYUDV�GR�67)��³1D�KLSyWHVH�GH�SRVVH�HP�FDUJR�S~EOLFR� determinada por decisão judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante�´ Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 77 STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775). Os titulares de serventias extrajudiciais não podem ser incluídos no regime próprio de Previdência Social Duas Leis estaduais incluíram no regime próprio de Previdência Social os titulares de serventias extrajudiciais (notários e registradores). Tais leis foram declaradas inconstitucionais. Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores públicos. Logo, a eles não se aplica o regime próprio de Previdência Social previsto para os servidores públicos (art. 40 da CF/88). Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência social. As leis estaduais acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e usurparam a competência da União para legislar sobre o tema. STF. Plenário. ADI 4639/GO e ADI 4641/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 11/3/2015 (Info 777). Concurso Público Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido. STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780). A conclusão exposta nesta SV 43 já era prevista em uma súmula ³FRPXP´� GR� 67)�� D� V~PXOD� ���� GR� 67)� �GH 24/09/2003) e que tem a mesma redação. O que a SV 43 do STF proíbe é a chamada ascensão funcional (também conhecida como acesso ou transposição), ou seja, a progressão funcional do servidor público entre cargos de carreiras distintas (principalmente de nível médio para nível superior). Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público. STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780) Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 77 $�69����WDPEpP�p�RULXQGD�GD�FRQYHUVmR�GH�XPD�V~PXOD�³FRPXP´�� Em suma, o STF afirma que é admitida a realização de exame psicotécnico em concursos públicos, desde que a lei da carreira preveja expressamente esse teste como um dos requisitos para acesso ao cargo. Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo para incidência do IR e da contribuição previdenciária Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais incorporadas em seus vencimentos (ex: TXLQWRV���³QR�SDSHO´��GHYHULDP�UHFHEHU�PDLV�GR�TXH�R�WHWR� Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua carreira. Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que superar o limite constitucional não lhe será paga. O valor que, no momento do pagamento, é descontado da remuneração total do servidor por estar superando o teto constitucional é chamado de ³DEDWH-WHWR´. O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de renda e contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade pagadora. Assim, o Tribunal de Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador, já desconta os valores que ele deverá pagar de IR e contribuição previdenciária. As alíquotas do IR e da contribuição previdenciária incidem sobre o valor da remuneração do servidor público. Em termos tributários, podemos dizer que a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária é a remuneração do servidor. 6H�R� VHUYLGRU� WHP�XPD� UHPXQHUDomR� ³QR�SDSHO´� VXSHULRU�DR� WHWR��R� imposto de renda e a contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração total menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o teto do funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil? Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o valor da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto. Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF definiu, em uma frase, a tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese firmada foi a Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 77 seguinte��³6XEWUDtGR�R�PRQWDQWH�TXH�H[FHGHU�R�WHWR�H�VXEWHWR�SUHYLVWR�QR� artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto deRenda e para a contribuição SUHYLGHQFLiULD´. STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/4/2015 (repercussão geral) (Info 781). PEC da Bengala e necessidade de nova sabatina No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou conhecida FRPR� ³3(&� GD� %HQJDOD´� HP� YLUWXGH� GH� DXPHQWDU� R� OLPLWH� GH� LGDGH� GD� aposentadoria compulsória dos Ministros de Tribunais Superiores. Esse aumento foi garantido pela inserção do art. 100 no ADCT, nos seguintes termos: Art. 100. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 88, de 2015) O que quer dizer essa parte final? O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública �³VDEDWLQD´��H�YRWDomR�QR�6HQDGR�)HGHUDO��(P�RXWUDV�SDODYUDV��R�0LQLVWUR�� quando completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome precisaria ser novamente aprovado pelo Senado. Essa exigência é compatível com a CF/88? NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL. O STF suspendeu a aplicação GD� H[SUHVVmR� ³QDV� FRQGLo}HV� GR� DUWLJR� ��� GD� &RQVWLWXLomR� )HGHUDO´�� FRQWLGD� QR� ILQDO� GR� DUW�� �00 do ADCT. Essa exigência de nova VDEDWLQD� DFDED� ³SRU� YXOQHUDU� DV� FRQGLo}HV� PDWHULDLV� QHFHVViULDV� DR� exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de Poderes, cláusula pétrea inscrita no artigo 60, parágrafo 4º, inciso ,,,��GD�&RQVWLWXLomR�)HGHUDO´� Em simples palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação dos Poderes. Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU possuem o direito de se aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso, não precisam passar por uma nova sabatina e aprovação do Senado Federal. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 77 É possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos 75 anos para juízes e Desembargadores? O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não pode ser estendido a outros agentes públicos até que seja editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso II, da CF/88. Essa LC nacional ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos pode ser apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República ou por algum parlamentar? NÃO. Todas as leis que trazem regras gerais sobre a magistratura nacional devem ser iniciadas pelo STF, nos termos do art. 93 da CF/88. O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos Desembargadores que queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos? O STF declarou que fica sem produzir efeitos todo e qualquer pronunciamento judicial e administrativo que tenha interpretado que a EC 88/2015 permitiria, mesmo sem LC, ampliar para 75 anos a idade da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos que não sejam Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU. Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode estender o limite de 75 anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos. STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786). Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de provimento efetivo A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, TXH� p� ³YHGDGR� DR� VHUYLGRU� S~EOLFR� VHUYLU� VRE� D� GLUHomR� LPHGLDWD� GH� cônjuge ou parente até segundo JUDX�FLYLO´� Foi proposta uma ADI contra esta norma. O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição, no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o STF afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso poderia Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 77 inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público. Em outras palavras, se a pessoa foi aprovada em concurso público e irá assumir um cargo efetivo, ela poderá assumi-lo mesmo que na direção imediata esteja seu cônjuge ou parente. Isso porque, neste caso, este cônjuge ou parente não teve influência na contratação, que se deu em virtude de aprovação em concurso público. STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (Info 786). Momento para comprovação do limite de idade em concurso público O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público, há de ser comprovado no momento da inscrição no certame. STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791) Acumulação de aposentadoria de emprego público com remuneração de Dz dz� Imagine a seguinte situação: Maria é empregada pública federal aposentada. Como se aposentou cedo e ainda está cheia de vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no processo seletivo aberto pelo Ministério do Meio Ambiente para contratar servidores temporários. A empregada pública aposentada poderá ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os proventos da aposentadoria e também a remuneração proveniente do serviço temporário? SIM. É possível a cumulação de proventos de aposentadoria de emprego público com remuneração proveniente de exercício de ³FDUJR´�WHPSRUiULR� O § 3º do art. 118 da Lei 8.112/90 proíbe apenas a acumulação de proventos de aposentadoria com remuneração de cargo ou emprego público efetivo. Os servidores temporários contratados sob o regime do art. 37, IX, não estão vinculados a um cargo ou emprego público, exercendo apenas uma função administrativa temporária (função autônoma, justamente por não estar vinculada a cargo ou emprego). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 77 Além disso, ainda que VH�FRQVLGHUH�TXH�LVVR�p�XP�³FDUJR´�S~EOLFR��QmR�VH� trata de cargo público efetivo já que as pessoas são selecionas mediante processo seletivo simplificado e irão exercer essa função por um prazo determinado, não possuindo direito à estabilidade. Em suma, não é cargo; mas mesmo que fosse, não seria cargo efetivo. Ademais, a aposentadoria da interessada se deu pelo Regime Geral de Previdência Social ± RGPS (ela era empregada pública), não se lhe aplicando, portanto, o disposto no § 10 do art. 37 da CF/88, segundo o TXDO� ³e� YHGDGD� D� SHUFHSomR� VLPXOWkQHD� GH� SURYHQWRV� GH� DSRVHQWDGRULD� decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão GHFODUDGRV� HP� OHL� GH� OLYUH� QRPHDomR� H� H[RQHUDomR´�� ,VVR� SRUTXH� D� aposentadoria dos empregados públicos, concedidano regime do RGPS, é disciplinada não pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art. 201. Logo, não se pode atribuir interpretação extensiva em prejuízo do empregado público aposentado pelo RGPS. STJ. 2ª Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2015 (Info 559). O art. 170 da Lei 8.112/1990 é inconstitucional O art. 170 da Lei 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor. O STF e STJ entendem que esse art. 170 é inconstitucional por violar os princípios da presunção de inocência e da razoabilidade. STF. Plenário. MS 23262/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743). STJ. 1ª Seção. MS 21.598-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/6/2015 (Info 564). Férias gozadas em período coincidente com o da licença à gestante Imagine a seguinte situação hipotética: Maria, servidora pública, estava grávida. A criança nasceu em março/2015. A partir daí, ela começou a usufruir a licença-maternidade (que é de 180 dias). Em setembro/2015, a servidora retornou ao trabalho. Quando voltou a trabalhar, Maria foi até o departamento de recursos humanos do órgão e explicou o seguinte para a diretora do setor: "minhas férias estavam marcadas para julho/2015. Ocorre que neste período eu estava de Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 77 licença-maternidade. Logo, minhas férias foram interrompidas e eu quero agora remarcar esse período de férias referente a julho/2015 para dezembro/2015." O pedido de Maria poderá ser aceito? NÃO. A Lei nº 8.112/90 não assegura à servidora pública o direito de usufruir, em momento posterior, os dias de férias já gozados em período coincidente com o da licença à gestante. Ao contrário do que afirma Maria, houve sim o gozo das férias, ainda que ao mesmo tempo em que ela fazia jus à licença-maternidade, visto que a referida licença não é causa interruptiva das férias. A Lei nº 8.112/90 elenca as hipóteses de interrupção das férias em seu art. 80 (calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, serviço militar ou eleitoral ou necessidade do serviço), não havendo a previsão de interrupção pelo fato de a servidora estar no gozo da licença- maternidade. Nesse sentido, aliás, o STJ já decidiu pela impossibilidade de aplicação extensiva do art. 80, caput, da Lei 8.112/1990: "Discute-se nos autos a possibilidade de alteração das férias, em decorrência de licença médica, após iniciado o período de gozo [...] Nos termos da legislação de regência, as hipóteses de interrupção de férias são taxativamente previstas no artigo 80 da Lei n. 8.112/90, dentre as quais não se insere o acometimento de doença e a respectiva licença para tratamento médico" (AgRg no REsp 1.438.415-SE, Segunda Turma, DJe 13/5/2014). STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 39.563-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/8/2015 (Info 566). Aprovado fora do número de vagas e desistência dos que estavam na sua frente Situação 1: o candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem direito subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação, aprovado dentro do número de vagas, for convocado e manifestar desistência. Ex: eram 10 vagas e João passou em 11º lugar; ocorre que o 10º colocado foi convocado e desistiu de assumir; João tem direito subjetivo de ser nomeado. Em suma, tem direito subjetivo à nomeação o candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital, mas que passe a figurar entre as vagas em decorrência da desistência de candidatos classificados em colocação superior. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 77 Situação 2: o candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de concurso público tem direito subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação, embora aprovado fora do número de vagas, for convocado para vaga surgida posteriormente e manifestar desistência. Ex: João fez um concurso público para o cargo de Procurador do Estado, cujo edital previa 10 vagas, tendo sido aprovado e, na classificação final, ficou em 12º lugar. Os 10 candidatos aprovados nas primeiras posições foram nomeados e empossados. Um ano depois, é aprovada uma lei criando uma nova vaga para o cargo de Procurador do Estado. Pedro, o candidato aprovado em 11º lugar no concurso, foi convocado para tomar posse no cargo, mas, por ter outros interesses, acabou desistindo de assumir. Nessa hipótese, João tem direito subjetivo de ser nomeado. Em regra, se o candidato foi aprovado fora do número de vagas (o concurso não previa cadastro de reserva), mas durante o prazo de validade do concurso foram criados novos cargos, ele não terá direito subjetivo à nomeação. O fato de terem sido criados novos cargos enquanto ainda vigente o concurso não obriga, por si só, a Administração a nomear o candidato aprovado fora do número de vagas. O aprovado fora das vagas somente terá direito subjetivo à nomeação se o candidato imediatamente anterior na ordem de classificação, embora aprovado fora do número de vagas, for convocado para vaga surgida posteriormente e manifestar desistência. Nessa hipótese, a Administração, por meio de ato formal, manifesta necessidade e interesse no preenchimento da vaga, de tal sorte que a convocação de candidato que, posteriormente, manifesta desinteresse, não gera somente expectativa de direito ao candidato posterior, mas direito subjetivo. STJ. 1ª Turma. AgRg no ROMS 48.266-TO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/8/2015 (Info 567). STJ. 1ª Turma. AgRg noRMS 41.031-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/8/2015 (Info 567). Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público Imagine a seguinte situação hipotética: Maria prestou concurso e não foi aprovada na 1ª fase por conta de um ponto. A candidata ajuizou ação pedindo a anulação de uma questão e conseguiu liminar para Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 77 participar da 2ª fase, tendo sido aprovada na prova discursiva, razão pela qual foi nomeada, tomou posse e passou a exercer o cargo. Ocorre que, depois de 15 anos no cargo, a ação foi julgada improcedente, com trânsito em julgado, tendo a Administração Pública tornado sem efeito a sua nomeação. Diante disso, Maria impetrou mandado de segurança pedindo para que seja mantida no cargo com base na teoria do fato consumado, uma vez que já exercia a função há muitos anos. Ocorre que o pedido de Maria não foi aceito pelo STF. Para a Suprema Corte, o candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária assume o risco de posterior reforma GHVVH�MXOJDGR�TXH��HP�UD]mR�GR�HIHLWR�³H[�WXQF´��LQYLDELOL]D�D�DSOLFDomR�GD� teoria do fato consumado em tais hipóteses. A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial. Com efeito, em situações envolvendo concurso público não faz sentido invocar-se o princípio da proteção da confiança legítima, haja vista que o candidato beneficiado com a decisão não desconhece que o provimento jurisdicionaltem natureza provisória e que pode ser revogado a qualquer momento, acarretando automático efeito retroativo. Ademais, nesses casos, a nomeação e a posse no cargo ocorrem por provocação do próprio particular interessado e contra a vontade da Administração Pública que, inclusive, contesta o pedido feito na Justiça. Logo, não há que se falar em legítima confiança do administrado, já que não foi a Administração Pública quem praticou o ato nem reconheceu o direito. Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 17/11/2015 (Info 808). STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 77 As vantagens pessoais do servidor também devem respeitar o teto, mesmo que sejam anteriores à EC 41/2003 Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam adquirido antes da EC 41/2003 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo). Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003 fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores à EC 41/2003 estão fora do teto? NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da Constituição da República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015. STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808). Concurso público: direito subjetivo à nomeação e surgimento de vagas O STF fixou a tese de que o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da Administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público, exsurge nas seguintes hipóteses: 1 ± Quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas previsto no edital; 2 ± Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; 3 ± Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 77 candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima. Note que não há direito automático à nomeação para o candidato aprovado fora das vagas do edital com o simples surgimento de novas vagas ou abertura de novo concurso. É necessário, de acordo com a tese de repercussão geral, que ocorra simultaneamente a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da Administração. Tal situação ficaria caracterizada, por exemplo, se a Administração convocasse, durante o prazo de validade do primeiro, os candidatos aprovados no certame seguinte. STF. RE 837311/PI, rel. Min. Luiz Fux, 9.12.2015 (repercussão geral) (Info 811). Vagas reservadas a pessoas com deficiência Súmula 552-STJ: O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com deficiência para o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos. STJ. Corte Especial. Aprovada em 04/11/2015. O portador de surdez unilateral não pode ser considerado PNE porque o Decreto 3.298/99, que dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define que deficiência auditiva é a perda bilateral da audição. Ressalte-se que este mesmo Decreto, ao definir deficiência visual, não exige que a cegueira seja nos dois olhos. Sendo assim, o portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes, diferentemente do portador de surdez unilateral. Há, inclusive, uma Súmula do STJ sobre o assunto: Súmula 377-STJ: O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes. Acumulação de cargo de tradutor de LIBRAS com de professor É possível a acumulação de um cargo público de professor com outro de intérprete e tradutor da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Segundo o entendimento do STJ, a função de tradutor e intérprete de LIBRAS é um cargo "técnico" para fins de enquadramento na exceção constitucional que permite a acumulação de um cargo de professor com Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 77 RXWUR� WpFQLFR�RX�FLHQWtILFR��&)��DUW������;9,��³E´�, ainda que não exija curso superior. Com efeito, o conceito de "cargo técnico ou científico" não exige, necessariamente, que se trate de um cargo de nível superior. O STJ entende que cargo técnico ou científico, para fins de acumulação com o de professor, nos termos do art. 37, XVII, da CF/88, é aquele para cujo exercício sejam exigidos conhecimentos técnicos específicos e habilitação legal, não necessariamente de nível superior. STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.547-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 15/12/2015 (Info 575) Monitoramento de e-mail corporativo de servidor público As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não configuram prova ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da Administração Pública e da própria coletividade, especialmente quando exista, nas disposições normativas acerca do seu uso, expressa menção da sua destinação somente para assuntos e matérias afetas ao serviço, bem como advertência sobre monitoramento e acesso ao conteúdo das comunicações dos usuários para cumprir disposições legais ou instruir procedimento administrativo. Nesse caso, não há violação à intimidade do servidor quando o e-mail corporativo é monitorado. A reserva da intimidade no âmbito de trabalho limita-se às informações familiares, da vida privada, política, religiosa e sindical. Assim, é possível que a comissão processante de processo administrativo disciplinar requisite do setor de informática do órgão público cópia do conteúdo das correspondências eletrônicas recebidas e enviadas pelo servidor em seu e-mail funcional. STJ. 2ª Turma. RMS 48.665-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/9/2015 (Info 576). Proibição de tratamento diferenciado entre a licença-maternidade e a licença-adotante O art. 210 da Lei nº 8.112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo para a servidora que adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido um filho biológico. De igual forma, este dispositivo estabelece que, se a criança adotada for Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 77 maior que 1 ano de idade, o prazo serámenor do que seria se ela tivesse até 1 ano. Segundo o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte tese: Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada. STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/3/2016 (repercussão geral) (Info 817). Auxílio-alimentação para aposentados Súmula vinculante 55-STF: O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos servidores inativos. STF. Plenário. Aprovada em 17/3/2016. A União e alguns Estados e Municípios possuem leis prevendo a concessão de auxílio-alimentação (também chamado de "vale alimentação") a seus servidores públicos. Segundo o STF, o direito ao auxílio-alimentação (vale-alimentação) não pode ser estendido aos servidores inativos com base no princípio da paridade. Isso porque esta verba tem natureza indenizatória e é destinada apenas a cobrir os custos de refeição devida exclusivamente ao servidor que se encontrar no exercício de suas funções, não se incorporando à remuneração nem aos proventos de aposentadoria. É importante destacar que o servidor público tem direito de continuar recebendo o auxílio-alimentação mesmo durante o período em que estiver de férias ou licença. Isso porque o art. 102, incisos I e VIII da Lei nº 8.112/90 prevê que o afastamento em virtude de férias ou licença deve ser considerado como tempo de efetivo exercício. Tal entendimento parece conflitante como o enunciado da SV 55, mas é o que prevalece. Jornada de trabalho diferenciada para servidores da União que trabalhem com substâncias radioativas Independentemente da categoria profissional, todos os servidores da União, civis e militares, e os empregados de entidades paraestatais de natureza autárquica que operam, de forma habitual, diretamente com raios X e substâncias radioativas, próximo às fontes de irradiação, têm Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 77 o direito à redução da duração máxima da jornada de trabalho de 40 para 24 horas semanais prevista no art. 1º da Lei nº 1.234/50. Vale ressaltar que a Lei nº 1.234/50 não foi revogada pela Lei nº 8.112/90, pois esta mesma excepciona as hipóteses estabelecidas em leis especiais. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.569.119-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2016 (Info 581). Lei que prevê hipóteses genéricas de contratação temporária é inconstitucional A LC 22/2000, do Estado do Ceará, autoriza a contratação de professores, por tempo determinado, para atender necessidade temporária de excepcional interesse público nas escolas estaduais. O art. 3º da referida Lei prevê diversas hipóteses nas quais é possível a referida contratação. O STF afirmou que, em tese, é possível a contratação temporária por excepcional interesse público (art. 37, IX, da CF/88) mesmo para atividades permanentes da Administração (como é o caso de professores). No entanto, o legislador tem o ônus de especificar, em cada circunstância, os traços de emergencialidade que a justificam. As alíneas "a, b, c, d, e" preveem a contratação temporária caso o titular se afaste para gozar de licenças ou para fazer cursos de capacitação. O STF reputou que tais hipóteses são constitucionais já que elas descrevem situações que são alheias ao controle da Administração Pública, ou seja, hipóteses que estão fora do controle do Poder Público e que, se este não tomasse nenhuma atitude, poderia resultar em desaparelhamento transitório do corpo docente. Logo, para tais situações está demonstrada a emergencialidade. A alínea "f" previa que poderia haver a contratação temporária para suprir "outros afastamentos que repercutam em carência de natureza temporária". O STF entendeu que esta situação é extremamente genérica, de forma que não cumpre o art. 37, IX, da CF/88. O parágrafo único do art. 3º autoriza a contratação temporária para que a Administração Pública pudesse implementar "projetos educacionais, com vista à erradicação do analfabetismo, correção do fluxo escolar e qualificação da população cearense". O STF entendeu que esta previsão também é inconstitucional porque estes são objetivos corriqueiros (normais, ordinários) da política educacional. Desse modo, esse tipo Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 77 de ação não pode ser implementado por meio de contratos episódicos (temporários), já que não constitui contingência especial a ser atendida. STF. Plenário. ADI 3721/CE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/6/2016 (Info 829). STF. Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/3/2017 (Info 858). Novo PAD com a mesma comissão Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros da Comissão Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer impedimento ou prejuízo material na convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado Comissão Processante, cujo relatório conclusivo foi posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão de Inquérito. O art. 169 da Lei 8.112/90 preconiza o seguinte: Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a autoridade que determinou a instauração do processo ou outra de hierarquia superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará, no mesmo ato, a constituição de outra comissão para instauração de novo processo. O STF e o STJ, ao interpretarem este dispositivo, entendem que, quando ele diz "constituição de outra comissão", não exige que nesta outra comissão os membros sejam diferentes daqueles que compuseram a primeira. Em outras palavras, se o motivo pelo qual o primeiro PAD foi anulado não está relacionado com a isenção da comissão, não existe impedimento legal para que os membros da primeira participem da comissão que irá conduzir o segundo processo. Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada. STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016 (Info 834). STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/04/2013. Desnecessidade de intimação do servidor após o relatório final do PAD Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o relatório final de processo administrativo disciplinar. Inexiste previsão na Lei nº 8.112/1990 de intimação do acusado após a elaboração do relatório final da comissão processante. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 77 STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016 (Info 834). STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013 (Info 523). Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo criminal pode ser utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. Assim, é possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo disciplinar, mesmo que o processo penal ainda não tenha transitado em julgado e mesmo que a quebra dosigilo telefônico tenha sido determinada pelo órgão judicial especificamente para a investigação criminal ou a instrução processual penal. STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016 (Info 834). Restrição a candidatos com tatuagem em concurso público Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. O fato de o candidato possuir tatuagem não macula, por si só, sua honra pessoal, o profissionalismo, o respeito às Instituições e, muito menos, lhe diminui a competência. Segundo o entendimento do STF, qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício das funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas. A criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade. Vale ressaltar, entretanto, que é possível que a Administração Pública impeça o acesso do candidato se a tatuagem que ele possui tiver um conteúdo que viole os valores previstos na Constituição Federal. É o caso, por exemplo, de tatuagens que contenham obscenidades, ideologias terroristas, que sejam discriminatórias, que preguem a violência e a criminalidade, a discriminação de raça, credo, sexo ou origem. Isso Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 77 porque tais temas são, inegavelmente, contrários às instituições democráticas. Se a Administração proibir tatuagens como essa, não será uma prática desarrazoada ou desproporcional. STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/8/2016 (repercussão geral) (Info 835). Inconstitucionalidade de norma estadual que amplie as hipóteses do art. 19 do ADCT da CF/88 O art. 19 do ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há pelo menos 5 anos quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser considerados estáveis, mesmo não tendo sido admitidos por meio de concurso público. Desse modo, quem ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 e assim permaneceu, de forma continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88. Neste julgado, contudo, o STF decidiu que é inconstitucional Constituição estadual ou lei estadual que amplie a abrangência do art. 19 do ADCT e preveja estabilidade para servidores públicos admitidos sem concurso público mesmo após 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88). STF. Plenário. ADI 1241/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2016 (Info 840). Greve do servidor público e desconto dos dias parados Para o STF, a Administração Pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, sendo permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público (ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho). O STJ, por sua vez, apreciou controvérsia sobre a possibilidade de desconto, em parcela única sobre a remuneração de servidor público, dos dias parados e não compensados provenientes do exercício do direito de greve. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 77 O Tribunal entendeu que o desconto em parcela única não seria razoável, principalmente quando o servidor manifesta a intenção de pagar de forma parcelada esse débito. Na sua decisão, o STJ considerou, ainda, que tal verba teria natureza alimentar, de modo que o desconto em parcela única poderia causar um dano desarrazoado ao servidor. STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845) RMS 49.339-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, por unanimidade, julgado em 6/10/2016, (Info 592) Aposentadoria compulsória não se aplica a servidor ocupantes exclusivamente de cargos em comissão Decisão muito importante em que se discutiu a aplicabilidade da aposentadoria compulsória aos ocupantes de cargos em comissão. O STF entendeu, em suma, que a aposentadoria compulsória atinge apenas os cargos efetivos, e não os cargos em comissão. Assim, segundo o entendimento da Suprema Corte, não há óbice constitucional para que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente permaneça no cargo comissionado que já desempenhava, pois a permanência não é considerada uma continuidade do vínculo efetivo ativo. Também não há óbice para que um servidor efetivo aposentado compulsoriamente seja nomeado para um novo cargo em comissão. Com efeito, o servidor efetivo aposentado compulsoriamente, embora mantenha esse vínculo efetivo com a Administração mesmo após sua passagem para a inatividade, ao tomar posse em virtude de provimento em comissão, inaugura, com esta, uma segunda e nova relação, referente ao cargo comissionado. Não se trata da criação de um segundo vínculo efetivo, mas da coexistência de um vínculo efetivo e de um cargo em comissão sem vínculo efetivo. Importante ressaltar que essa lógica não se aplica às funções de confiança, exercidas exclusivamente por ocupantes de cargo efetivo e a quem são conferidas determinadas atribuições, obrigações e responsabilidades. Nesse caso, a livre nomeação e exoneração se refere somente à função e não ao cargo efetivo. Assim, evidentemente, ao se aposentar no cargo efetivo, o servidor não poderia continuar exercendo a função. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves ʹ Aula 17 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 77 2� &ROHJLDGR� DQRWRX�� SRU� ILP�� TXH� R� DUW�� ���� ³FDSXW´�� GD� &)� ID]� menção expressa a servidores efetivos. Assim, as disposições relativas ao Regime Próprio de Previdência insculpidas nessa norma não se aplicam aos ocupantes de cargo em comissão apenas pelo fato de também serem servidores públicos. STF. Plenário. RE 786540/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 15.12.2016. (RE- 786540) Aposentadoria compulsória e titulares de serventias judiciais não estatizadas O STF entendeu que não se aplica a aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF aos titulares de serventias judiciais não estatizadas, desde que não sejam ocupantes de cargo público efetivo e não recebam remuneração proveniente dos cofres públicos. É o mesmo entendimento que se aplica aos notários e registradores das serventias extrajudiciais (cartórios). As serventias judiciais praticam serviços auxiliares à função jurisdicional, exercendo atividades administrativas e operacionais relacionadas com processos judiciais (protoloco, autuação e tramitação). Conforme destacado na decisão do STF, atualmente, existem três espécies de titulares de serventias judiciais: a) os titulares de serventias oficializadas, que ocupam cargo ou função pública e são remunerados exclusivamente pelos cofres públicos; b) os titulares de serventias não estatizadas, remunerados exclusivamente por custas e emolumentos; e c) os titulares de serventias não estatizadas, mas que são remunerados em parte pelos cofres públicos e em parte por custas e emolumentos. Antigamente, todas as serventias judiciais eram não estatizadas (privadas), ou seja, seus titulares não eram servidores públicos.
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