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26/09/2017 1 Àrries, P. História da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981 BARROS, M.E.B. A transformação do cotidiano: vias de formação do educador: a experiência da administração de Vitória/ES (1989-1992). Vitória: EDUFES,1997 Para poder compreender o sistema de seu tempo, não basta considerá-lo como ele hoje se apresenta, porque todo e qualquer sistema educativo é um produto histórico, que só a história pode explicar. É uma verdadeira instituição social. Nem é mesmo raro que a história de um país venha a refletir-se nele. Émile Durkheim, Educação e Sociologia (1952) 2Prof. Jucineide D. Valentina Escola e historicidade • Caráter histórico da educação – em cada época o conjunto de práticas engendra um “rosto histórico singular”. • Caráter político – “como e para que este ou aquele tipo de educação é pensado?” – o caráter político está relacionado ao controle e a subordinação social Prof. Jucineide D. Valentina 3 A educação possui uma história, produz história A noção de objeto natural • Não há um objeto natural – compreender as práticas no contexto no qual elas estão inseridas • A prática determina o objeto • O objeto não existe antes da prática • O aluno só se torna aluno quando ingressa numa escola – o aluno não existe fora da prática educacional que o instaura Prof. Jucineide D. Valentina 4 Cada prática, produzida historicamente, engendra o objeto que lhe corresponde, portanto, não há objetos naturais As práticas educacionais no contexto histórico • Inicialmente a educação se desenvolveu de forma difusa, no meio social – todos participavam – Educação exercida nos diferentes espaços sociais: família, clã; – As crianças eram educadas tomando parte ativa na dinâmica da coletividade; – A educação se dava de forma espontânea e integral na sociedade – Não existe instituição educativa específica Prof. Jucineide D. Valentina 5 • Durante muito tempo não houve nenhuma instituição educacional, a não ser as escolas episcopais, mantidas pelos bispos. • O propósito da maioria das escolas era formar monges e clérigos e, desde muito cedo, a criança era colocada em contato com os textos sagrados. • A Igreja adquiriu o controle da educação, tendo o clero como a elite intelectual e suas escolas como as únicas instituições culturais atuantes. Prof. Jucineide D. Valentina 6 As práticas educacionais no contexto histórico 26/09/2017 2 Modelos de Escola na Idade Média • No período medieval a educação era desenvolvida em estreita simbiose com a Igreja; • Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de formação; • A escola, como nós conhecemos, é um produto da Idade Média Prof. Jucineide D. Valentina 7 Escolas Paroquiais As primeiras escolas remontam ao século II. Limitavam-se à formação de eclesiásticos. O ensino reduz-se aos salmos, às lições das Escrituras, seguindo uma educação estritamente cristã Prof. Jucineide D. Valentina 8 Escolas Monásticas e Episcopais • É nos mosteiros espalhados pela Europa, longe do rebuliço das novas cidades emergentes na Europa, que surgem as Escolas Monásticas que visam, inicialmente, apenas a formação de futuros monges. • Paulatinamente, nas cidades, começam a surgir as Escolas Episcopais que funcionam numa dependência da habitação do bispo e visam, em especial, a formação do clero. Prof. Jucineide D. Valentina 9 Universidades Supõe-se que a primeira universidade europeia tenha sido na cidade italiana de Salerno, cujo centro de estudos remonta ao século XI. Além desta, antes de 1250, formaram-se no Ocidente a primeira geração de universidades medievais. Prof. Jucineide D. Valentina 10 Escola Palatina • Durante o reinado de Carlos Magno (768-814), a Europa experimentou um notável desenvolvimento cultural” • Incrementando o número de escolas criou uma quase obrigatoriedade de fornecer instrução aos leigos por parte de uma Igreja. • Estas escolas deveriam ser presididas por um eclesiástico -scholasticus, daí o nome de escolástica dado à doutrina e à prática de ensino assim veiculada. Prof. Jucineide D. Valentina 11 Escolas Catedrais • As Escolas Catedrais (escolas urbanas), saídas das antigas escolas monásticas. • Instituídas no século XI por determinação do Concilio de Roma (1079), • A partir do século XII (Concilio de Latrão, 1179), mantidas através da criação de benefícios para a remuneração dos mestres. Prof. Jucineide D. Valentina 12 26/09/2017 3 • Escola reservada para pequeno grupo populacional: clérigos • Misturava diferentes idades – espírito de liberdade. Alunos iniciantes tinham cerca de 10 anos, não havia idade limite • Achava-se natural que um adulto desejoso de aprender se misturasse a um auditório infantil – o que importava era a matéria ensinada! • Não havia uma acomodação específica para a escola O mestre esperava pelos alunos, como o comerciante espera por fregueses Prof. Jucineide D. Valentina 13 Escola na Idade Média • Não havia currículo • Não havia separação por idade ou série • A escola não cercava o aluno • Assim que ingressava na escola a criança entrava imediatamente no mundo dos adultos Prof. Jucineide D. Valentina 14 Escola na Idade Média • Sentido Histórico: (ARIÈS, 1973) História Social da Criança e da Família O estudo de Ariès possui dois fios condutores 1. A ausência do sentido de “infância”, tal como um estágio específico do desenvolvimento do ser humano, até o fim da Idade Média, abre as portas para uma interpretação das chamadas “sociedades tradicionais” ocidentais. 2. Processo de definição da infância como um período distinto da vida adulta também abre as portas para uma análise do novo lugar assumido pela criança e pela família nas sociedades modernas. • A infância é uma “invenção” sócio cultural • Antiguidade: – Criança: pouco ou nenhum direito; – Nem sempre consideradas pela família. • Curiosidade: “pesquisas arqueológicas mostram que os antigos cartagineses frequentemente matavam crianças em sacrifícios religiosos e as colocavam em paredes das construções para ‘fortalecer’ essas estruturas” (Bjorklund e Bjorklund, 1992). Na Idade Média “adulto em miniatura” Aprendizes a partir dos 7 anos Surgem interesses desiguais e antagônicos Prof. Jucineide D. Valentina 18 26/09/2017 4 • O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI. • O movimento renascentista elegia a razão como a principal forma pela qual o conhecimento seria alcançado: – rejeição aos valores e à maneira de ser da Idade Média com modificações nos métodos de ensino, desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. Prof. Jucineide D. Valentina 19 Leonardo da Vinci (1452-1519) Botticelli (1445-1510) Prof. Jucineide D. Valentina 20 A Escola de Atenas, Rafael Sanzio (1483-1520) Prof. Jucineide D. Valentina 21 • A escola que instruía e formava, ensinava conhecimentos, mas também comportamentos, se articulava em torno da didática, da racionalização da aprendizagem dos diversos saberes, e em torno da disciplina, da conformação programada e das práticas repressivas; • Nos colégios modernos, tem-se um número maior de colegiais, agrupados por idades mais próximas, organizados em classes ordenadas com graduação nos estudos e sujeitos a uma disciplina rígida. Prof. Jucineide D. Valentina 22 Prof. Jucineide D. Valentina 23 As práticas educacionais no contexto histórico • O processo educativo torna-se dividido e imposto; • O caráter desigual, excludente, elitista, individualista, da sociedade acompanha o deslocamento da escola, que torna-se agência, questão do estado... Prof. Jucineide D. Valentina24 26/09/2017 5 As práticas educacionais no contexto histórico • Com o capitalismo... • Institui-se uma nova realidade – a práxis dos homens funda as instituições; • Objetivo da educação: criar um tipo de homem que se ajuste à dinâmica da produção, o que transcende o conteúdo – trata-se de formar homens adequados a funções sociais capitalistas Prof. Jucineide D. Valentina 25 A escolarização das práticas educacionais • A preocupação com a infância está relacionada com as modificações por que passou a família e a educação (assegurada pela aprendizagem escolar); • Antes do século XIII a criança era um brinquedo com que as pessoas se divertiam e cuja morte quase não se sentia. • A família não tinha função afetiva, as trocas afetivas se davam fora da família Prof. Jucineide D. Valentina 26 • Com o surgimento do capitalismo, o Estado começa a organizar-se como poder centralizador, o sistema econômico muda, as diferenças de classe passam a ser da maior importância. – A burguesia busca espaços fechados – O “diferente” é discriminado, separado – Surge um “sentimento de infância” – consciência da particularidade da infância Prof. Jucineide D. Valentina 27 A escolarização das práticas educacionais A educação das crianças passa a ser uma das coisas mais importantes do mundo Prof. Jucineide D. Valentina 28 A escolarização das práticas educacionais • Primeiro as crianças são separadas dos adultos, e em seguida, os ricos são separados dos pobres; • O sentimento de infância, resultou para a criança em “enclausuramento” em espaços especialmente destinados – a criança é um ser incompleto, imperfeito, a ser “trabalhado” para se tornar um adulto adequado. • Escolares que frequentavam a “escola livre” da antiga sociedade escolar, passaram a ser considerados “vagabundos”, “estudantes errantes” Prof. Jucineide D. Valentina 29 A escolarização das práticas educacionais • A criança bem educada – preservada das rudezas e da imoralidade – pequeno-burguês • Ingresso precoce no exercito – tenentes de 11, 14 anos • Mulheres excluídas da educação – a escola era monopólio de um sexo • Para as mulheres estava reservada a aprendizagem doméstica ou os conventos (que não eram destinados à educação) Prof. Jucineide D. Valentina 30 A escolarização das práticas educacionais 26/09/2017 6 As práticas educacionais no contexto histórico: a questão do saber • As relações de poder constituem campos de saber, e reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder; • A escola, enquanto lugar de saber, assegura o exercício do poder Prof. Jucineide D. Valentina 31 As práticas educacionais no contexto histórico: a disciplina • A disciplina escolar origina-se da disciplina eclesiástica/religiosa – sistema de vigilância permanente das crianças, de dia e de noite • Assim a escolarização volta-se para crianças e jovens – prolongamento da escolaridade – A criança, quando submetida à escolarização, também era disciplinada e essa disciplina separava a criança do adulto – Infância prolongada até quase toda a duração do ciclo escolar Prof. Jucineide D. Valentina 32 33Prof. Jucineide D. Valentina Séc. XVII – início do capitalismo • Estado – poder centralizador • Família – instituição privada • Enclausuramento da educação – a escola substitui a aprendizagem como meio de educação 34Prof. Jucineide D. Valentina Escola = educação Surgimento da escola • A escola passa a ser o lugar da “formação da criança”. • A escola atende à necessidade de preparar para o futuro, para tornar o homem um sujeito “digno”. Prof. Jucineide D. Valentina 35 Revalorização das tarefas educativas • No séc. XVII há uma reorganização dos comportamentos educativos em dois polos: – Medicina doméstica – a família burguesa aparece como uma redoma protetora para a criança, protegendo-a das influencias externas – Economia social – nas família mais pobres há um abandono das crianças, já que o povo não podia contar com um médico de família. Prof. Jucineide D. Valentina 36 26/09/2017 7 • Na burguesia: – A criança passa a sofrer uma “liberação protegida” vigilância discreta • Nas famílias operárias: – A criança sofre com o excesso de liberdade, o abandono nas ruas liberdade vigiada Prof. Jucineide D. Valentina 37 A proteção é substituída pela vigilância Revalorização das tarefas educativas Educação vigiada • A educação vigiada pretende evitar que a criança se torne perigosa; • Instaura sobre a criança uma “infraestrutura de prevenção” que deve retê-la longe do delito; • Sociedade policiada – não no sentido repressivo, mas numa concepção de regulação, onde se reafirmam as práticas sociais dominantes. Prof. Jucineide D. Valentina 38 • Família popular – separação de tudo aquilo que se situa num campo de forças exteriores (a rua, o barzinho) – isolada, mas exposta à vigilância dos desvios. Prof. Jucineide D. Valentina 39 Educação vigiada Infância vigiada • A “infância em perigo” passa a justificar uma série de processos educacionais por parte dos trabalhadores sociais • A atenção é dirigida aos problemas da infância, questionando a educação baseada na repressão, visando mais a compreensão do que à sanção, utilizando técnicas que possam livrar as crianças dos “perigos do mundo”. PREVENÇÃO Prof. Jucineide D. Valentina 40 • Com essa atitude preventiva temos: “O braço secular da lei” sendo substituído pela estendida do educador”. “Substituição do judiciário pelo educativo, (...) aperfeiçoamento de seus procedimentos, ramificação infinita de seus poderes”. Donzelot, 1980, 93 Prof. Jucineide D. Valentina 41 Infância vigiada Aqui Prof. Jucineide D. Valentina 42 26/09/2017 8 Disciplinarização • A disciplinarização torna-se técnica de gestão dos enclauzurados; • O objetivo é pré-selecionar é pré-tratar os incapazes para o trabalho e orienta-los para canais que os separem da população “normal”, aplicando-lhes um tratamento que os normalize. Prof. Jucineide D. Valentina 43 Escola – laboratório das tendências antissociais Normalização • O objetivo da escolarização é impedir a reprodução dos indesejáveis, estancar a degenerescência e a produção dos inaptos e cultivar os aptos. Prof. Jucineide D. Valentina 44 Escolarização – delimita o espaço da normalidade Enquanto isso... No Brasil colonial... • A família, no sistema colonial, colocava o filho numa posição meramente instrumental. • A família ignorava (ou subestimava) a criança. • Pai – patrão e protetor da mulher e dos filhos, apenas ele oferecia segurança e abrigo. Prof. Jucineide D. Valentina 45 Recodificação da imagem infantil séc. XIX • Surge como uma reação dos higienistas brasileiros ao alto índice de mortalidade das crianças; • A mortalidade era atribuída a irresponsabilidade dos pais no trato com os filhos: o clima doméstico teria má influência contrariando os benefícios e esforços da higiene. Prof. Jucineide D. Valentina 46 O higienismo e a medicalização da escola • Organizada de acordo com as determinações médicas • Escola – fundada nas determinações da medicina – dirigida pela presença médica • Crianças afastadas da influência ambiental, submetendo-se docilmente às intervenções do saber médico e às regras da pedagogia higiênica Prof. Jucineide D. Valentina 47 Escola: instituição medicalizada Disciplinarização • O cotidiano escolar é objeto de controle, de vigilância, é detalhadamente esquadrinhado. • A escola passa a ser o lugar onde se dita as regras de formação de um corpo sadio, da formação de bons hábitos e aperfeiçoamento. • Disciplina intelectual e moral Prof. Jucineide D. Valentina 48 Escola: lugar de adestramento físico 26/09/20179 • A escola utilizada para estabelecer as bases da insuficiência e incompetência familiar entregou as crianças a especialistas (médicos e educadores). Prof. Jucineide D. Valentina 49 Escola: intervenção e controle A escola e a disciplina 1) Os higienistas consideram os colégios como lugares ideais para a educação das crianças, e não a família – especialismo. 2) Passa-se a considerar a família como elemento fundamental no exercício da vigilância sobre a escola Professor – figura enaltecida como lugar do saber e modelo moral, dotado de “bom caráter” Prof. Jucineide D. Valentina 50 Atividade reflexiva • A partir das questões levantadas no texto elabore um texto dissertativo sobre a história da educação pontuando seus principais eventos. Na conclusão, fale sobre suas afetações, o que a leitura desse texto te trouxe. • A atividade deve ser entregue na próxima aula • Fazer em duplas e em uma lauda. Prof. Jucineide D. Valentina 51
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