de Diretivas e Regulamentações que definem os padrões a serem aplicados da granja até o estabelecimento de abate. A primeira legislação sobre bem- -estar animal da União Europeia (UE) foi adotada em 1974, porém somente em 1988 foi criado um dispositivo específico da legislação sobre o bem-estar de matrizes. 2. Hoje, as matrizes e frangos são produzidos na UE conforme diretivas específicas que definem os padrões mínimos e, especificamente, uma Diretiva adotada em 1999 para matrizes e uma de 2007 para frangos de corte. O bem-estar durante o transporte de aves é regulamentado com base em uma Regulamentação específica de 2005, que atualizou a legislação original anterior de 1991, enquanto os padrões de bem-estar no momento do abate são definidos em uma Regulamentação adotada em 2009 , a qual cancelou e substituiu uma Diretiva anterior de 1993. 3. Os Estados-Membros têm a responsabilidade de implementar a legislação da UE e o poder de adotar regras ainda mais rígidas quanto ao bem-estar animal do que aquelas especifica- das na legislação europeia, desde que não criem obstáculos ao mercado interno da UE. A implementação da legislação nos Estados-Membros é monitorada pela Comissão Eu- ropeia através de auditorias do Food and Veterinary Office (FVO) do Diretório Geral de Saúde e Consumidores. O FVO visita os Estados-Membros e prepara recomendações para as auto- ridades competentes a fim de garantir que a aplicação da lei seja uniforme na União Europeia. Caso um Estado-Membro deixe de implementar a legislação, a Comissão Euro- peia tem o poder de levá-lo ao Tribunal de Justiça Europeu, onde sanções podem ser aplicadas caso seja demonstrado que a lei não está sendo aplicada. Andrea Gavinelli Diretor da Unidade de Bem-Estar Animal da DGSanco, Comissão Europeia, Bruxelas – Bélgica 53Anais do 23º Congresso Brasileiro de Avicultura 4. Em relação ao bem-estar das galinhas poedeiras, uma proibição do uso de gaiolas convencionais entrou em vigor em 2012. A Comissão agiu rapidamente para garantir que vários Estados-Membros conseguissem atender aos requisitos o mais rapidamen- te possível após o prazo de 2012. A transparência na cadeia do mercado através de um rótulo específico nos ovos, o conhecimento de vários cidadãos sobre a questão e o suporte dos varejistas fizeram com que se solucionasse rapidamente a difícil situação de 01.01.2012, quando cerca de 30% das poedeiras da UE não eram mantidas em gaiolas melhoradas e adequadas. Em junho de 2013, estima-se que apenas 4% da população total de poedeiras da UE ainda sejammantidas nos antigos sistemas de gaiolas. E a situação continua melhorando com a eliminação gradual e completa dos antigos sistemas. 5. No caso das aves criadas para a produção de carne (frangos de corte), a Diretiva adotada em 2007 (Council Directive 2007/43/EC) define uma abordagem diferente para sua aplicação: menos prescritiva do que a Diretiva para poedeiras, porém intro- duzindo o uso de Medidas Baseadas em Animais (ABM - Animal Based Measures) e valorizando o papel das melhores práticas. Neste caso, a avaliação de determinadas ABM tais como a mortalidade dos animais ou a classificação das lesões podais nas aves de corte tornaram-se uma ferramenta para determinar se as condições de bem- -estar adequadas estavam sendo respeitadas na granja. 6. A ABM e seu uso está passando por um importante desenvolvimento na UE graças aos investimentos feitos em projetos científicos como o “Welfare Quality” (Qualidade do Bem-Estar) ou “AWIN”, que desenvolveram pela primeira vez um conjunto de in- dicadores que podem ser utilizados para demonstrar a “condição de bem-estar” dos animais na granja. Esses dois projetos (o AWIN está em andamento) desenvolvem parcerias com cientistas da América do Sul. Universidades brasileiras fazem parte do projeto AWIN. 7. A abordagem utilizada pelo legislador em 2007 para a diretiva sobre o bem-estar de frangos de corte serviu como base para o desenvolvimento da proposta para a Re- gulamentação atual para a proteção dos animais durante o abate (Regulamentação 1099/2009). Esta Regulamentação está levando em consideração os novos conheci- mentos científicos sobre as ABMs e baseia-se em uma abordagem semelhante à da legislação de saúde pública, com referência específica às melhores práticas e aos procedimentos de HACCP. Uma peculiaridade desta Regulamentação é que ela foi desenvolvida conforme os padrões adotados pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A regulamentação manteve a necessidade de padrões equivalentes para a carne importada, como na legis- 54 Anais do 23º Congresso Brasileiro de Avicultura lação anterior de 1993, porém fazendo referência aos padrões internacionais adotados pela OIE. 8. A implementação da legislação de bem-estar animal na UE sempre foi uma prioridade importante e um desafio para as diferentes administrações públicas e, em particular, para os médicos veterinários. Esforços importantes foram envidados para fornecer ferramentas para os médicos veterinários e funcionários das empresas para que compreendessem a base técnica e científica dos diferentes padrões e melhorar suas habilidades. No momento, a legislação para a criação de frangos de corte, seu trans- porte e abate determina requisitos específicos para o treinamento dos funcionários da empresa e sua certificação independente. 9. A Comissão desenvolveu um programa específico para os médicos veterinários ofi- ciais da UE (Better Training for Safer Food - BTSF, cuja tradução é Melhor Treinamen- to para um Melhor Alimento) para ”treinar os treinadores” na aplicação da legislação. Parte dos fundos do BTSF é dedicada ao treinamento de médicos veterinários oficiais dos Países Terceiros, especialmente dos países em desenvolvimento que exportam ou desejam exportar para a UE. Essas atividades caminham em paralelo às ativida- des que estão sendo organizadas pelas autoridades competentes que também são direcionadas às empresas e aos produtores das granjas. Materiais de treinamento específicos e os resultados de várias conferências exclusivamente sobre este assunto são disponibilizados na web para todos e, com frequência, em vários idiomas. Hoje, os resultados dessas iniciativas são animadores. O entendimento e a aplicação dos padrões de bem-estar animal aumentaram e há uma demanda cada vez maior por treinamento nesta área. Por exemplo, um livreto produzido pela Comissão sobre os deveres previstos pela legislação para o “Oficial de Bem-Estar Animal” nos estabele- cimento de abate foi baixado centenas de vezes do website da Comissão. 11. Na última década, o bem-estar dos animais de produção está se tornando uma ques- tão cada vez mais importante para todas as empresas de alimentos na UE. O avan- ço da implementação dos padrões de bem-estar animal na UE foi impulsionado por muitas forças, inclusive pela pressão do mercado. Sem a pressão do mercado, talvez essas mudanças tivessem sido limitadas devido aos custos iniciais para implantar os padrões de bem-estar. Além disso, a conscientização cada vez maior sobre os resulta- dos econômicos positivos atingidos com a implementação dos padrões de bem-estar animal agora está contribuindo para a expansão dos padrões. O fato de que alguns estados-membros estão tomando iniciativas além do que está prescrito pela legisla- ção está estimulando a adesão e os investimentos tecnológicos nesta área. 12. Para concluir, a implementação dos padrões de bem-estar animal na Europa está me- lhorando juntamente com seu entendimento. O interesse dos cidadãos e o potencial 55Anais do 23º Congresso Brasileiro de Avicultura de mercado resultante estão contribuindo para o sucesso dessa questão. A crescente demanda por qualidade relacionada à sustentabilidade e à rastreabilidade de produtos de origem animal está criando desafios novos e importantes para os produtores e para