e natureza. Um mediador que permite ao homem conduzir um modo humano de existência, assegurando que ele não recaia de volta na natureza, que não se dissolva no "objeto". "O homem vive da natureza", escreve Marx, "significa: a natureza é o seu corpo, com o qual de tem de ficar num processo contínuo para não 2" IvLUlltScritUJ" éconrJmico-j/!oSÓji(IJ;', cir., p. 114. •• ".,....... .:J 80 A teoria da alienação em Marx , .'l: .' ~morrer. Que a vida física e mental do homem está interconectada com a natureza não tem outro sentido senão que a natureza está interconectada consigo mesma, pois o homem é uma parte da natureza"29. A atividade produtiva é então a fonte da consciência, e a "consciência alienada" é ~' õ reflexo da atividade alienada ou da alienação da atividade, isto é, da auto-alienação do trabalho. Marx usa a expressão: "corpo inorgânico do homem", que não significa simplesmente aquilo que é dado pela natureza, mas a expressão concreta e a materialização de uma fase e uma estrutura historicamente dadas da atividade produtiva, na forma de seus produtos, dos bens materiais às obras de arte. Como resultado da alienação do trabalho, o "corpo inorgânico do homem" aparece como meramente externo a ele e, portanto, pode ser trap:sformado em uma mercadoria. Tudo é "reificado" , e as relações ontológicas funda mentais são viradas de cabeça para baixo. O indivíduo é confrontado com meros objetos (coisas, mercadorias), uma vez que seu "corpo inorgânico" - "natureza trabalhada" e capacidade produtiva externalizada - foi dele alienado. Ele não tem consciência de ser um "ser genérico". (Um Gattungswesen - isto é, um ser que tem consciência da espécie a que pertence, ou, dito de outro modo, um ser cuja essência não coincide diretamente com sua individualidade. O homem é o único ser que pode ter uma tal "consciência da espécie" - tanto subjetivamentc, em sua percepção consciente da espécie a que pertence, como nas formas objetivadas dessa "consciência da espécie", da indústria e às institui ções e às obras de arte - e assim ele é o único "ser genérico'!.) A atividade produtiva na forma dominada pelo isolamento capitalista - em que "os homens produzem como átomos dispersos sem consciência de sua espécie" - não pode realizar adequadameme a função de mediação entre o homem e a natureza, porque "reifica" o homem e suas relações e o reduz ao estado da natureza :lllimal. Em lugar da "consciên cia da espécie" do homem, encontramos o culto da privacidade e uma idealização do indivíduo abstrato. Assim, identificando a essência humana com a mera individualidade, a natureza biológica do homem é confundida com a sua própria natureza, especitlcamen t~ humma. Pois a mera individualidade exige apenas meios para sua subsistência, mas não fórmas especificamente humanas - humanamente naturais e naturalmente humanas, isto é, SO'CÍifú - ck auto-realização, as quais S:10 ao mesmo tempo manifestações adequadas da atividade vital de um GrlttungsweseJl, um "ser genérico". o homem é um sagew!rico não somente quando pdtica e teoricamente fiz do gêtll~ro, tanto do seu próprio quanto do restante das coisas, o seu objeto, mas também - e isto é somente uma outra expressão da mesma coisa - quando se relaciona consigo mesmo como o gênero vivo, j presente, qUiWtfO )-e re/acimltl COWlgO mem'lD como um ser universal e por isso liure. 30 l O culto mistiflcador do indivíduo abstrato, ao contdrio, indica como natureza do I homem um atributo - a mera individualidade - que é llma categoria universal da natureza f em geral, e nenhum modo algo especificamente IJlLrtülllO. (Vcr o elogio de Marx a Hobbes por 2 'I Ibidem, p. 84. 'ti lbiJem, p. 8_~-4. A gênese da teoria da alienação de Marx 81 ter reconhecido na natureza o domínio da individualidade em seu princípio do bel/um omnium contra omnes.) A atividade produtiva é, então, atividade alienada quando se afasta de sua função apropriada de mediar humanamente a relação sujeito-objeto entre homem e natureza, e tende, em vez disso, a levar o indivíduo isolado e reificado a ser reabsorvido pela "naturezà'. Isso pode ocorrer até mesmo em uma fase altamente desenvolvida da civi lização, se o homem for sujeitado, como diz o jovem Engels, a "uma lei natural baseada na inconsciência dos participantes". (Marx integrou essa idéia do jovem Engels a seu próprio sistema e mais de uma vez referiu-se a essa "lei natural" do capitalismo, não só nos Manuscritos de 1844 como também em O capitaf3 t .) Assim, o protesto de Marx contra a alienação, a privatização e a reificação não o envolve nas contradições da idealização de algum tipo de "estado natural". Não há vestígio deuma nostalgia romântica ou sentimental da natureza em sua concepção. Seu programa, nas referências críticas aos "apetites artificiais" etc., não advoga um retorno à "natureza", a uma série "natural" de necessidades primitivas, ou "simples", mas a "plena realização da natureza do homem", por intermédio de uma atividade humana adequadamente automediadora. ''A natureza do homem" (o seu "ser genérico") significa precisamente uma distinção com relação à natureza em geral. A relação entre o homem e a natureza é "aulO11lcdiadora" num duplo sentido. Primeiro, porque é a natureza que se media consigo mesma no homem. E em segundo lugar, porque a própria atividade mediadora é apenas um atributo do homem, localizado numa parte específica da natu reza. Assim, na atividade produtiva, sob o primeiro de seus aspectos ontológicos duais, a natureza medeia a si meSm(1 com a natureza; e, sob o segundo aspecto ontológico - em virtude de que a atividade produtiva é inerentemente atividade social -, o homem medeia ti si mesmo com o homern. As mediações de segunda ordem mencionadas acima (institucionalizadas na forma de divisão do trabalho - propriedade privada - intercâmbio capitalistas) perturbam essa relação e subordinam a própria atividade produtiva, sob o domínio de uma "lei natural" cega, às exigências da produção de mercadorias destinada a assegurar a repro dução do indivíduo isolado e reificado, que não é mais do que um apêndice desse sistema de "dctcrmill:lções econômicas". A atividadc produtiva do homem não pode lhe trazer realização porque as media<,-õcs de segunda ordcm institllcionalizadas se interpõem entre o homem e sua atividadc, entre o homem e a natureza, e entre o homem e o homem. (As duas últimas já estão implícitas na primeira, isto é, na interposição das mediações de segunda ordem capitalistas entre o homem e sua atividade, na subordinação da atividade produtiva a essas mediações. Pois se a auto mediação do homem for ainda mediada pela forma capitalisticamente instirucionalizada de atividade produtiva, então a natureza não pode mediar a si mesma com a natureza e o homcm não pode mediar a si mesmo com o homem. Ao contrário, o homem é confrontado pela natureza de uma m~meira hostil, sob o império de uma "lei natural" que domina cegamente por meio do mecanismo do mercado (intercâmbio) e, \ I Ver. por exemplo, O capirttL (Moscou, 1958), v. I, p. 75. i fi 82 A teoria da alienação em Marx de outro lado, o homem é confrontado pelo homem de uma maneira hostil, no antago nismo entre capital e trabalho. A inter-relação original do homem com a natureza é transformada na relação entre trabalho assalariado e capital, e no que concerne ao traba lhador individual o objetivo de sua atividade está necessariamente confinado à sua auto reprodução como simples indivíduo, em seu ser físico. Assim, os meios se tornam os fins últimos, enquanto os fins humanos são transformados em simples meios subordina dos aos fins reificados desse sistema institucionalizado de mediações de segunda ordem.) Uma negação adequada da alienação é, portanto, inseparável