(2016), erro de tipo é a falsa concepção da realidade acerca dos elementos constitutivos do tipo penal1. Para ele extrai-se essa conclusão do art. 20, caput, do código penal, que somente menciona as elementares quando diz que: Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. É o chamado erro de tipo essencial. Por exemplo, “A”, no estacionamento de um shopping center, aperta um botão inserido na chave de seu automóvel, com a finalidade de desativar o alarme. Escuta o barulho, abre a porta do carro, coloca a chave na ignição, liga-o e vai para casa. Percebe, posteriormente, que o carro não lhe pertencia, mas foi confundido com outro, de propriedade de terceira pessoa. Neste caso, “A” não praticou o crime de furto, assim definido no art. 155 CP que diz: “Subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Reputava sua a coisa móvel pertencente a outrem. Errou, portanto, sobre a elementar “alheia”, pois o 1MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado – Parte Geral – vol. 1 - 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016, p. 342 instituto impede o agente de compreender o aspecto ilícito do fato por ele praticado. Já para Damásio E. de Jesus (2006), contudo, erro de tipo é o que incide sobre elementares e circunstâncias da figura típica, tais como qualificadoras e agravantes genéricas2 . Em sua ótica estaria também configurado o erro de tipo quando, por exemplo, o sujeito, desconhecendo a relação de parentesco, induz a própria filha a satisfazer a lascívia de outrem. Responderia, no caso, pela forma típica fundamental do art. 227 do código penal, sem a qualificadora do § 1º. Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: § 1º - Se a vítima é maior de catorze e menor de dezoito anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, marido, irmão, tutor ou curador ou pessoa a que esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Consequentemente, para essa posição o erro de tipo não se limita a impedir o agente de compreender o caráter ilícito do fato praticado, mas também das circunstâncias que com o fato se relacionam. 2.2 ESPÉCIES E EFEITOS JURÍDICOS O erro de tipo se apresenta sob duas formas: Erro de tipo essencial e erro de tipo acidental. 2.2.1 Erro de tipo essencial O erro de tipo essencial é aquele que afasta dolo e, talvez, culpa, ao recair sobre elementares, circunstâncias ou qualquer outro dado que se agregue à figura típica (GRECO, 2007). O erro de tipo essencial quanto a intensidade pode ser: escusável ou inescusável: a) Escusável, inevitável, invencível ou desculpável: é a modalidade de erro que não deriva de culpa do agente, ou seja, mesmo que ele tivesse agido 2 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. Parte Geral. 28. Ed. 2 tir. São Paulo: Saraiva, 2006. V. 1, p. 309 com a cautela e a prudência de um homem médio, ainda assim não poderia evitar a falsa percepção da realidade sobre os elementos constitutivos do tipo penal. b) Inescusável, evitável, vencível ou indesculpável: é a espécie de erro que provem da culpa do agente, é dizer, se ele empregasse a cautela e a prudência do homem médio poderia evita-lo, uma vez que seria capaz de compreender o caráter criminoso do fato. A natureza do erro (escusável ou inescusável) deve ser aferida na análise do caso concreto, levando-se em consideração as condições em que o fato foi praticado. O erro de tipo, seja escusável ou inescusável, sempre exclui o dolo. De fato, como o dolo deve abranger todas as elementares do tipo penal, resta afastado pelo erro de tipo, pois o sujeito não possui a necessária vontade de praticar integralmente a conduta tipificada em lei como crime ou contravenção penal. Por essa razão, Zaffaroni (2002), denomina o erro de tipo de “cara negativa do dolo”. Nada obstante os efeitos variam conforme a espécie do erro de tipo. O escusável exclui o dolo e a culpa, acarretando na impunidade total do fato, enquanto o inescusável exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei (excepcionalidade do crime culposo). Nesse último o agente age de forma imprudente, negligente ou imperita, ao contrário do que faz no primeiro (MASSON, 2016). Excepcionalmente, todavia, pode acontecer de o erro de tipo, ainda que escusável, não excluir a criminalidade do fato. Esse fenômeno ocorre quando se opera a desclassificação para outro crime. O exemplo típico é o do particular que ofende um indivíduo desconhecendo sua condição de funcionário público. Em face da ausência de dolo quanto a essa elementar, afasta-se o crime de desacato (CP, art.331), mas subsiste o de injúria (CP, art. 140), pois a honra do particular também é tutelada pela lei penal. O erro de tipo essencial subdivide-se em erro de tipo incriminador e erro de tipo permissivo. 2.2.1.1 Erro de tipo incriminador: O Erro de Tipo Incriminador ou Erro de Tipo Simples é figura doutrinária usada para se contrapor ao Erro de Tipo Permissivo. O tipo penal incriminador compõe-se de elementares (requisitos sem os quais o crime desaparece ou se transforma) ou circunstâncias (dados acessórios da figura típica, que repercutem na quantidade da pena). No crime de homicídio, são elementares: "matar" e "alguém"; são circunstâncias: "motivo torpe", "asfixia", "emboscada" etc. Exemplo1: Se uma pessoa efetua disparos contra outra, pensando tratar-se de um animal, comete um equívoco, na medida em que aprecia mal a realidade. Essa falsa percepção da realidade incide sobre a elementar "alguém". O erro de tipo incriminador, portanto, recaiu sobre situação fática prevista como elementar. Exemplo2: Se o ladrão, pretendendo praticar um roubo, utiliza-se de uma arma de fogo verdadeira, acreditando tratar-se de arma de brinquedo, seu erro recai sobre uma circunstância do tipo penal (o emprego de arma constitui causa de aumento de pena no crime de roubo - art. 157, § 2°, I, do CP). O erro de tipo incriminador, neste caso, atingiu situação fática prevista como circunstância legal do tipo. No primeiro exemplo, o agente não responde por homicídio; no segundo, pratica roubo, mas sem a causa de aumento. É de recordar que o dolo, elemento do fato típico ligado à conduta, deve estender-se a todos os elementos objetivos e normativos do tipo penal. Nos exemplos, não houve dolo quanto à elementar "alguém" ou com relação à circunstância "arma", porquanto tais elementos não integraram a intenção do sujeito. 2.2.1.2 Erro de tipo permissivo Para parte da doutrina não configura espécie ou forma classificatória de Erro de Tipo sob argumento de que atinge o instituto das descriminantes putativas. A relação intrínseca do Erro de Tipo Permissivo com as chamadas descriminantes putativas se faz presente no conceito desta, dado por Damásio (2000), que segundo ele ocorrem quando o sujeito, levado a erro pelas circunstâncias do caso concreto, supõe agir em face de uma causa excludente da ilicitude. Tome-se o caso da legítima defesa, a qual exige uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, e que o agente a reprima mediante o emprego moderado dos meios necessários. Se na situação concreta, por equívoco, uma pessoa, apreciando mal a realidade, acreditar que está diante de uma injusta e iminente agressão, haverá erro de tipo permissivo. Exemplo: Antônio se depara com um sósia de seu inimigo que leva a mão à cintura, como se fosse sacar algum objeto;