e explicam apenas uma pequena porcentagem destes casos. Por outro lado, polimorfismos genéticos localizados nestes genes são fonte importante de variação no HDL-c.440 Vários estudos epidemiológicos, dados clínicos e estudos de intervenção114,115,441,442 demonstraram que baixos níveis circulantes de HDL-c constituem um preditor significativo e independente de DCV. É importante ressaltar que a relação inversa entre níveis de HDL-c e risco cardiovascular persiste em diversos grupos populacionais e com doenças específicas. A partir da constatação da relação inversa entre HDL-c e risco de doença coronariana, a concentração de HDL-c passou a ser utilizada em larga escala como um importante indicador laboratorial de risco cardiovascular. Apesar do grande conjunto de provas que evidenciam a relação inversa entre os níveis de HDL-c e risco cardiovascular, os baixos níveis de HDL-c não foram estabelecidos como causadores de aterosclerose. O argumento para a falta de nexo causal vem da análise de randomização mendeliana443 e da dificuldade em demonstrar melhores resultados com terapias para aumentar o HDL-c.18,19,261 É preciso lembrar que o HDL-c reflete apenas o conteúdo de colesterol presente no total das partículas de HDL, e que estas formam um grupo bastante heterogêneo, com relação a tamanho, composição e funcionalidade. A existência de subpopulações distintas de HDL é consistente com o fato Quadro 22 – Principais causas primárias e secundárias de hipertrigliceridemia Primárias Secundárias Hipertrigliceridemia familiar Diabetes não controlado Disbetalipoproteinemia familiar Ingesta excessiva de alcool Hiperlipidemia combinada familiar Hipotireoidismo Deficiência de ApoC-II Gestação Produção aumentada de ApoC-III Obesidade Deficiência da lipase lipoproteica Síndrome nefrótica e insuficiência renal Doença do armazenamento de éster de colesterol Medicamentos (estrógeno, tamoxifeno, glicocorticoides, inibidores de protease etc.) Apo: apolipoproteína. 49 Diretrizes Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017 Arq Bras Cardiol 2017; 109(2Supl.1):1-76 de estas partículas exercerem várias funções biológicas.444 O estudo destas subpopulações tem sido objeto de intensas pesquisas, para determinar o papel de cada uma delas no processo antiaterogênico. Com isto, seria possível estabelecer novos biomarcadores de risco cardiovascular mais precisos do que a concentração de HDL-c. Assim, o conceito atual é que a funcionalidade da HDL (qualidade) é um indicador mais preciso para o risco de desenvolvimento de aterosclerose e também de gravidade da DCV, do que a concentração de HDL-c (quantidade).445,446 Esta hipótese tem levado à investigação de HDL tanto como um biomarcador de risco cardiovascular como alvo terapêutico para ser funcionalmente modulado. Baixos níveis de HDL-c muitas vezes refletem uma anormalidade genética. Deve-se pensar em anormalidades genéticas quando se depara com muito baixos níveis de HDL-c (<10 mg/dL), embora também estes possam ser influenciados por um nível elevado de triglicerídeos ou por acompanhar tabagismo, sedentarismo, hipertensão arterial, bem como por alimentação com alta ingestão de carboidratos ou gorduras poli-insaturadas. Devem ser solicitados testes para descartar causas secundárias de baixos níveis de HDL-c, algumas das quais reversíveis. Vários fármacos podem diminuir os níveis de HDL-c, entre eles os esteroides anabolizantes, os antipsicóticos atípicos, a terapia antirretroviral para o HIV/ AIDS, betabloqueadores e agentes imunossupressores. Doenças hepáticas, incluindo cirrose, podem diminuir todas as subfrações de colesterol, por prejudicarem produção de Apo. Também, baixos níveis de HDL-c são frequentemente observados em estados inflamatórios agudos. Devemos pensar em anormalidades genéticas quando nos deparamos com muito baixos níveis de HDL-c (< 10 mg/dL). 10.8.3. Estratégia em pacientes com baixos níveis do colesterol da lipoproteína de alta densidade e hipertrigliceridemia O tratamento tanto da hipertrigliceridemia como dos baixos níveis de HDL-c inclui medidas comportamentais e farmacológicas. O tratamento das dislipidemias secundárias deve ser voltado para o controle da doença de base ou a retirada do esquema terapêutico do medicamento implicado. A indicação do tratamento das dislipidemias é a redução do risco cardiovascular. Assim, a decisão a respeito da terapia farmacológica deve ser baseada na estratificação do risco cardiovascular de cada indivíduo, na redução do risco esperado e nos possíveis efeitos colaterais. Até o momento, as estatinas permanecem como a primeira linha de terapia entre os indivíduos com baixos níveis de HDL-c, hipertrigliceridemia e com risco cardiovascular significativamente alto, que justifique intervenção, tal como definido por algoritmos de risco validados. Mudanças no estilo de vida oferecem benefícios de saúde em geral, incluindo a possibilidade de melhoria dos níveis de TG e de HDL-c, bem como de sua funcionalidade. Para o tratamento com alvo específico na HDL, o fibrato pode ser uma opção razoável para pacientes com risco cardiovascular significativo, juntamente das estatinas, se os níveis de triglicéridos forem elevados (acima de 200 mg/dL) e os de HDL-c baixos. A niacina, se tolerada, continua a ser outra opção em pacientes com níveis substancialmente elevados de Lp(a), intolerantes à estatina, ou em associação com estatinas, em pacientes com HDL-c baixo isolado e eventos cardiovasculares progressivos. O tratamento para HDL-c baixo e TG altos inclui medidas comportamentais e farmacológicas. Medidas comportamentais não farmacológicas que podem ser tomadas: • Exercício aeróbico: considerado fundamental para aumentar os níveis de HDL-c e diminuir os níveis de TG. No entanto, este deve ser de intensidade moderada e regular, para aumentar os níveis de HDL-c em 5 a 10%, e melhorar a funcionabilidade das particulas de HDL, além de reduzir em 33% os TG quando associado à dieta hipocalórica.447 • Perda de peso: o excesso de peso e a obesidade são fortemente associados tanto com níveis baixos de HDL-c, como elevados de triglicéridos. Alterações agudas na perda de peso podem inicialmente diminuir os níveis de HDL-c. No entanto, com a estabilização de peso, os níveis de HDL-c geralmente aumentam de 0,35 mg/dL por quilograma perdido, independentemente da estratégia de perda de peso utilizada.448 • Nutrição: os pacientes que consomem muito baixo teor de gordura na dieta frequentemente têm níveis mais baixos de HDL-c mas também níveis baixos de LDL-c. As dietas ricas em gorduras saturadas ou gordura trans tendem a diminuírem os níveis de HDL-c, com possível detrimento da funcionalidade das particulas de HDL e adicionais aumentos no LDL-c. Carboidratos processados que aumentam rapidamente os níveis de glicose (ou seja, com alto índice glicêmico) podem diminuir níveis de HDL-c e aumentar os níveis de TG, além de elevar a inflamação e o risco cardiovascular. A ênfase em porções modestas de uma dieta rica em frutas e vegetais frescos, pobre em carboidratos processados e carnes, e rica em ácidos graxos poli-insaturados permanece aconselhável. • Cessar tabagismo: o estresse oxidativo e a inflamação induzidos pelo tabagismo levam à diminuição tanto da quantidade quanto da qualidade da HDL. Fumantes tendem a ter níveis de HDL-c 5% a 10% menores do que controles. É importante ressaltar que a cessação do tabagismo leva ao aumento do HDL-c de ~ 4 mg/dL com um impacto mínimo sobre outros lípidos. • Ingestão de álcool: o consumo de álcool pode aumentar HDL-c em