poderá insistir no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o órgão julgador obrigado a atender. No entanto, observa-se que a Autoridade Policial, mesmo depois de judicialmente ordenado o arquivamento do inquérito policial, por falta de base (justa causa) para o oferecimento da denúncia, poderá encetar novas diligências, e, assim, proceder a pesquisas, “se de outras provas tiver notícia” (art. 18 do Código de Processo Penal). Senão, é o que expressamente resta consignado na Súmula n.º 524 do Supremo Tribunal Federal, de acordo com a qual, uma vez “arquivado o inquérito policial por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”. Contudo, é preciso observar que em determinadas hipóteses o arquivamento do inquérito policial poderá ser definitivo – em que pese não ser possível falar em coisa julgada, como bem destaca Gustavo Badaró (in Processo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2015. p. 140), para quem – “nos casos em que se reconhece que os fatos investigados são atípicos, ou estão encobertados por excludente de ilicitude, ou mesmo nas situações de extinção de punibilidade, a decisão de arquivamento será imutável”. Trocando Ideias O arquivamento de inquérito policial, sem que haja processo penal, pode abrir margem para falhas na apuração de um crime? Ou as hipóteses em que pode ocorrer esse arquivamento são bastante seguras para evitar erros? Aproveite a oportunidade para discutir e debater com seus colegas de curso no fórum da disciplina disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Na Prática Como você aprendeu, quando o Ministério Público deixa de oferecer denúncia para intentar uma ação de penal de iniciativa pública, o ofendido pode intentar ação penal de iniciativa privada subsidiária da iniciativa pública (arts. 29 e 30 do Código de Processo Penal). Essa previsão legal realmente acontece na prática? E costuma ser aceita? A resposta é positiva para a primeira pergunta: sim, esse dispositivo é aplicado; porém, é muito raro ser aceita essa modalidade de ação penal. Veja o principal argumento demonstrado no caso a seguir: “a ação penal privada subsidiária da pública só tem cabimento quando há prova inequívoca da total inércia do Ministério Público. Quer dizer, só é permitido ao ofendido atuar de forma supletiva, quando o titular da ação penal pública já de posse dos elementos necessários à formulação da peça acusatória deixar de ajuizar ação penal dentro do prazo legal, sem motivo justificável. ” CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 (STJ, Relator: Ministro Celso Limongi (Desembargador Convocado do TJ/SP), Data de Julgamento: 02/12/2010, Sexta Turma). Ao procurar por decisões nessa área, você há de encontrar fundamentos semelhantes no sentido de, normalmente, rejeitar a queixa-crime em ação penal de iniciativa pública. Síntese Entre os importantes temas da aula, percebemos que o processo penal brasileiro tem particularidades que tornam difícil encaixá-lo em um ou noutro sistema. Vimos também que o inquérito policial é um procedimento de apuração de crimes, o qual não dar a decisão final. O inquérito se encerra com um relato do delegado de polícia e, então, o seguimento e as consequências devem ser decididos pelo Poder Judiciário. A forma como se processa um crime é por ação de iniciativa pública ou, dependendo do crime, por ação de iniciativa privada. Sobre o arquivamento de processo penal, ele se dá por ato do juiz, quando entender que não se deve perseguir criminalmente o indiciado. O inquérito policial, uma vez aberto, não dá ao delegado de polícia autoridade para ele mesmo arquivar o inquérito. Referências BADARÓ, Gustavo. Processo penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2015. JARDIM, Afranio Silva. Direito processual penal. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1997. LOPES Jr., Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2014. OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 18. ed. São Paulo: Atlas. 2014. SILVA, César Dario Mariano da. Provas ilícitas. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2005.