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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA JUSSARA PRADO A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ALFRED ADLER: UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA PONTA GROSSA 2014 INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR SANT’ANA PSICOLOGIA JUSSARA PRADO A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ALFRED ADLER: UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA Trabalho elaborado com o objetivo de obtenção de nota parcial do 1º bimestre da disciplina de Fundamentos das Teorias da Personalidade do 3º período do curso de Psicologia da Instituição de Ensino Superior Sant’Ana. Orientador: Profº Haroldo Sato. PONTA GROSSA 2014 1. INTRODUÇÃO Alfred Adler nasceu em Viena, no dia 7 de fevereiro de 1870, filho de um comerciante judeu. Inicialmente, Adler era um mau aluno, desajeitado e fisicamente frágil, sofrendo com muitas doenças, como raquitismo e pneumonia, além de ter sido atropelado várias vezes. Sua experiência de quase morte com a pneumonia foi o que o levou a se formar em Medicina na Universidade de Viena em 1895. De início, atuava na área de oftalmologia, mas com o tempo, passou a possuir um grande interesse no funcionamento e adaptação do sistema nervoso, transferindo-se para a área de Neurologia e Psiquiatria. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). Em 1902, Adler já fazia parte do círculo de membros de discussão semanal de Freud sobre a psicanálise, e além de gozar da alta estima que recebia, fora nomeado presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena em 1910 como uma tentativa de evitar o iminente rompimento entre ele e Freud. Em 1911, Adler decidiu apresentar suas ideias aos demais membros do grupo psicanalítico, entretanto, a resposta foi tão hostil que Adler decidiu se retirar do grupo e formar sua própria escola: A Psicologia Individual. (FADIMAN, 1979; PERVIN, 2004; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). De acordo com Pervin (2004), um dos motivos mais significativos no rompimento entre Freud e Adler, era a ênfase de Adler em desejos sociais e pensamentos conscientes, completamente oposta à de Freud, que enfatiza os desejos sexuais instintivos e os processos inconscientes. Quando criança, Adler sofreu com muitas doenças, com a rejeição de sua mãe e com o ciúme e competição que tinha por seu irmão mais velho. Ao vivenciar tais situações, reconheceu que possuía a capacidade de compensar todas as deficiências de sua vida, buscando sua popularidade através dos colegas, adquirindo então sua autoestima e aceitação que não havia recebido da família. Seu histórico acadêmico serviu de molde para sua teoria em relação à inferioridade x superioridade, pois no início, Adler era um estudante inepto, e com grande esforço superou suas deficiências e inferioridades. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). Por mais que Adler não valorize a importância das experiências passadas na influência da vida do indivíduo, e em seus comportamentos, sua teoria foi completamente influenciada por todas as suas vivências, principalmente as da infância. As dificuldades vivenciadas por Adler no início de sua vida, serviram de molde para sua teoria da personalidade, como ele mesmo afirma: “Aqueles que conhecem o trabalho da minha vida podem ver claramente a concordância entre os fatos da minha infância as ideias que expressei”. (Bottome, 1939, p.9 apud HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 117). Durante o século XIX, o clima positivista moldou o curso da física e da biologia, onde o ser humano era compreendido como um sistema complexo de energia que mantinha transações com o mundo externo. Os propósitos dessas transações eram a sobrevivência do indivíduo, a propagação de sua espécie e o desenvolvimento evolutivo contínuo. De acordo com a doutrina de Darwin, algumas personalidades estariam bem mais preparadas do que as demais para realizar tais tarefas de se adaptar ao meio. Inclusivamente, a psicologia se preocupou com a medição das diferenças individuais nas capacidades, e com o valor adaptativo dos processos psicológicos. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). Simultaneamente, outras tendências intelectuais que foram surgindo, discordavam de uma concepção puramente biofísica do ser humano. No final do século XIX, a sociologia e a antropologia começaram a emergir, e seu rápido crescimento foi fenomenal. De acordo com tais ciências sociais, o homem é o resultado do meio em que vive, e sua personalidade é mais influenciada pelos fatores sociais do que pelos fatores biológicos. Muitos seguidores de Freud, insatisfeitos com a excessiva preocupação da libido, instintos sexuais e a influência das experiências passadas, passaram a reformular a teoria de acordo com as linhas ditadas por tais ciências sociais. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). Foi diante deste contexto que Adler passou a ver cada pessoa como uma configuração única, com seus próprios traços, interesses, valores e subjetividade, enfatizando a singularidade da personalidade e o estilo de vida distinto que cada ato da pessoa formula. Segundo Hall, Lindzey & Campbell (2000), com sua teoria, Adler buscava minimizar o instinto sexual, afirmando que o homem é uma criatura primariamente social, e que além de ser motivado pelo interesse social, suas inferioridades não se limitam ao domínio sexual, mas podem ser ampliadas a todas as faces de sua vida. Para ele, a maneira em que o indivíduo irá satisfazer suas necessidades é o que determinará seu estilo de vida, e não o contrário, como propunha Freud. A seguir, iremos verificar as teorias que influenciaram Adler no desenvolvimento da Psicologia Individual, e como ela é regida pelo interesse social e a busca em que o indivíduo emprega pela superioridade. 2. ANTECEDENTES E INFLUÊNCIAS INTELECTUAIS No decorrer de sua vida e do desenvolvimento de seu trabalho, Adler sofreu influência de grandes teóricos que, acabaram por aparecer em suas proposições acerca da Psicologia Individual. A influência recebida de Darwin acerca da evolução das espécies, baseou seu conceito sobre a luta pela superioridade. A crença de Adler era a de que uma inferioridade orgânica poderia ser uma influência para estímulos superiores, ao invés de derrotar o indivíduo. (FADIMAN, 1979). Adler é conhecido como um dos discípulos de Freud que rompeu com a psicanálise e formulou sua própria teoria. Por mais que Adler já tivesse iniciado sua própria teoria antes de conhecer Freud, ele sofreu uma forte influência da Psicanálise, principalmente nos conceitos que dizem respeito à relação mãe-filho, a importância do desenvolvimento psicológico nos primeiros seis meses de vida do indivíduo e à interpretação dos sintomas da neurose e dos sonhos. (FADIMAN, 1979). Segundo Fadiman (1979), os primeiros conceitos de Adler sobre os instintos agressivos se assemelham muito sobre a formulação de Nietzsche sobre a vontade do poder que o homem possui. Posteriormente, o conceito de busca pela superioridade veio a ser um conceito amplo sobre a luta pelo poder, enfatizando o papel do crescimento e do desenvolvimento criativos do indivíduo. Além de todas as influências citadas anteriormente, o trabalho de Jon Smuts sobre as propriedades diferentes de um sistema todo e o impulso para a totalidade de cada indivíduo, influenciou fortemente no trabalho de Adler, fazendo-o encontrar na filosofia holística, confirmações para a maioria de suas ideias. (FADIMAN, 1979). Adler também sofreu influência do trabalho do filósofo Hans Vaihinger, na sua elaboração de que o comportamento do homem é mais influenciado por suas expectativas (ficção) do que por suas experiênciaspassadas (real). Adler moldou essa doutrina filosófica de positivismo idealista para sua teoria, alegando que o homem é mais influenciado por suas expectativas futuras, do que por suas experiências passadas. Essas expectativas não existem no futuro, mas existem mentalmente no aqui e agora do indivíduo, afetando o seu comportamento presente. Como no exemplo dado por Hall, Lindzey & Campbell (2000, p.120), “se uma pessoa acredita, por exemplo, que existe um céu para as pessoas virtuosas e um inferno para as pecadoras, essa crença exercerá uma considerável influência em sua conduta”. Tais metas causam eventos psicológicos. 3. A PSICOLOGIA INDIVIDUAL Segundo Schultz & Schultz (2003), a Psicologia Individual de Adler consiste nos fatores sociais como determinantes do comportamento humano. O interesse social do indivíduo, seria o seu potencial inapto de cooperar com os demais para atingir metas pessoais e sociais, e tal interesse se desenvolve já na infância, através das experiências vivenciadas pelo indivíduo. Adler, ao contrário de Freud, minimizava a influência do sexo, concentrando nas determinantes conscientes do comportamento. Adler descartava a influência das experiências do passado no desenvolvimento do indivíduo, acreditando na influência dos próprios planos individuais para o futuro. O esforço do indivíduo ao buscar metas ou antecipar acontecimentos futuros influenciam seu comportamento presente. E além disso, o conceito de inferioridade e a menor resistência de um determinado órgão, que segundo Friedrich (2009) já pertencia à histórica médica. A seguir, iremos apresentar os principais conceitos da Psicologia Individual de Adler. 3.1. Inferioridade e Compensação Inicialmente, Adler acreditava que as doenças afetavam cada pessoa de uma maneira em particular, e que cada um possuía um determinado órgão mais fraco que os demais, tornando-se suscetível à algum tipo de enfermidade relacionada à tal órgão. Como por exemplo, uma pessoa desenvolve um problema cardíaco e outra no pulmão; Diante disso, sugeriu que tal órgão seria uma inferioridade básica existente, devido a hereditariedade ou alguma anormalidade no desenvolvimento do indivíduo. Além disso, observou que pessoas com fraquezas orgânicas buscavam compensar tal problema, podendo vir a tornar esse órgão fraco em um órgão forte, através de exercícios e treinos. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). Após as publicações sobre a inferioridade de órgão, Adler ampliou tal conceito afim de incluir qualquer outro tipo de deficiência, seja ela física, mental ou social, real ou imaginária, focando principalmente no sentimento psicológico de inferioridade existente nos indivíduos, com o argumento de que na infância, o sujeito é afetado por tal sentimento, devido ao seu tamanho e falta de poder. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). Segundo Hall, Lindzey & Campbell (2000, p. 122) “a criança é motivada por seus sentimentos de inferioridade a buscar um nível superior de desenvolvimento. Quando ela atinge esse nível, começa a sentir-se inferior novamente e inicia mais uma vez o movimento ascendente”. [...] Tem-se presente que toda criança se encontra na realidade em uma situação de inferioridade e que não poderia subsistir sem um alto grau de sentimento de comunidade por parte das pessoas que a rodeiam, é mister partir da base de que a vida da alma começa sempre com um sentimento de inferioridade mais ou menos profundo. Este sentimento é a força impulsora de que parte todos os esforços da criança e que lhe impõe uma meta ou objetivo de que espera toda segurança e tranquilidade para o futuro, obrigando-lhe a empreender a trajetória que lhe pareça mais adequada para seu ganho. (Barroco, 2007, p.227 apud CUNHA, AYRES & MORAES, 2010, p. 66). Diante disso, Schultz & Schultz (2003), alegam que na concepção de Adler, esse sentimento de inferioridade funcionava como um impulso motivador para o indivíduo e para a sociedade, pois motivava a busca continua pelo aperfeiçoamento. Entretanto, um sentimento de inferioridade extremo pode vir a impedir o crescimento e desenvolvimento positivo do indivíduo, ocasionando certas manifestações anormais, tais como o complexo de inferioridade ou o complexo de superioridade compensatório. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). 3.2. Busca pela Superioridade No decorrer do desenvolvimento de sua teoria, Adler elaborou o conceito de “busca pela superioridade”, observando que a agressão e a vontade de poder existentes no indivíduo eram expressões de um objetivo maior, como a perfeição ou superioridade. Tal superioridade não está relacionada à distinção social, liderança ou posição superior na sociedade, mas se apresenta como um princípio de auto realização, como a busca de uma completude perfeita. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; PERVIN, 2004). Tal busca pela superioridade é inata no ser humano, e age impulsionando o indivíduo de um estágio para o outro no desenvolvimento da vida. “A luta pela perfeição é inata no sentido de que faz parte da vida; uma luta, um impulso, um algo sem o qual a vida seria inimaginável”. (Adler, 1956, p. 104 apud FADIMAN, 1979, p. 75). Segundo Fadiman (1979), a superioridade alcançada pode vir a ser positiva ou negativa; aquele que viesse a buscar o bem estar e interesse social, estaria se desenvolvendo em uma direção construtiva e positiva; já aquele que buscasse apenas a superioridade pessoa, estaria se pervertendo neuroticamente. De acordo com Pervin (2004), normalmente, a busca do indivíduo pela superioridade é expressa no sentimento de cooperação social, como também na assertividade e competição, confirmando o argumento de que há um interesse inato no indivíduo em se relacionar com os demais ao seu redor, além de um potencial inato para a cooperação. 3.3. Interesse Social O interesse social é a ajuda em que o indivíduo se despende na sociedade, buscando alcançar a meta da sociedade perfeita; é “a verdadeira e inevitável compensação de todas as fraquezas naturais dos seres humanos” (Adler, 1929b, p. 31 apud HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 122), e também é o “senso de solidariedade humana, a relação de um homem com outro... a mais ampla conotação de um ‘senso de fraternidade na comunidade humana’”. (Wolfe em Adler, 1928, p. 32 apud FADIMAN, 1979, p. 78). Na argumentação de Fadiman, todo e qualquer comportamento do homem é social, pois ele cresce e se desenvolve em um meio social, logo, tal interesse social é mais do que uma preocupação com a sociedade, pois envolve os sentimentos de afinidade para com toda a humanidade e com a totalidade da vida. O interesse social se refere à preocupação com “a comunidade ideal de todo o gênero humano, o último estágio da evolução”. (Adler, 1964, p. 35 apud FADIMAN, 1979, p. 78). Hall, Lindzey & Campbell (2000) alegam que com o interesse pelo social, a busca pela superioridade do indivíduo se socializa, pois, o ideal de uma sociedade perfeita substitui uma ambição egoísta, logo, quando o homem trabalha pelo bem comum, ele compensa suas fraquezas individuais. Além disso, por mais que tal interesse social seja inato, ele precisa ser orientado, treinado e incentivado para que o indivíduo o realize. 3.4. Estilo e Objetivo de Vida A personalidade de cada indivíduo funciona de acordo com seu estilo de vida, explicando a singularidade de cada um, pois, cada um possui um estilo de vida, mas não existe duas pessoas com o mesmo estilo. O estilo de vida é único e integra a vida do indivíduo na busca do seu objetivo, e cada pessoa escolhe e cria o seu próprio. Tal estilo de vida próprio de cada um, envolve comportamentosque compensam a inferioridade vivenciada na infância. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). “O estilo de vida é definido como o esquema aperceptivo através do qual os indivíduos compreendem e dão sentido ao mundo que os rodeia”. (Adler, 1956 apud ARAÚJO, 2009, p. 18). A ciência da Psicologia Individual desenvolveu-se a partir do esforço para compreender esse misterioso poder criador da vida, que se expressa no desejo de desenvolver-se, lutar e realizar... Esse poder é teleológico expressa-se na luta por um objetivo e, nessa luta, todo o movimento corporal e psíquico é feito para cooperar. É, então, absurdo estudar movimentos corporais e condições mentais de forma abstrata, sem relação com um todo individual. (Adler, 1956, p. 92 apud FADIMAN, 1979, p. 77). De acordo com Hall, Lindzey & Campbell (2000) e Fadiman (1979), o estilo de vida do indivíduo é determinado pelas inferioridades vivenciadas por ele na realidade ou fantasia da infância, agindo como uma compensação de uma inferioridade particular. Cada hábito ou traço que a pessoa possui, adquire um significado dentro do contexto de vida e dos seus objetivos, onde cada pessoa cria seu próprio objetivo de vida, como uma compensação pelos sentimentos de inferioridade, insegurança e desamparo vivenciados. Tais objetivos atuam como proteção contra o sentimento de impotência e incentivo a um futuro brilhante, realizador e poderoso. 3.5. Holismo Influenciado pelas ideias de Jon Smuts, Adler fundou o sistema holístico da Psicologia Individual, que busca compreender cada indivíduo como uma totalidade integrada num sistema social. Cada pessoa é única, indivisível e unificada, que deve sempre ser considerada em relação ao seu contexto social do qual faz parte. Tal perspectiva holística, fez com que Adler encarasse o ser humano não só como um todo unificado, mas também como parte de outros todos, como a família, a sociedade, a comunidade e a humanidade. (FADIMAN, 1979). 3.6. Finalismo Ficcional Influenciado por Hans Vaihinger, Adler moldou sua doutrina filosófica para a Psicologia Individual, propondo que o homem vive de acordo com as ideias puramente ficcionais. Como já foi dito anteriormente, Adler alegou que o comportamento do homem é mais influenciado por suas expectativas futuras do que por suas experiências passadas. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000). 3.7. O Poder Criativo do “Self” Através da hereditariedade e da influência do ambiente, o indivíduo adquire algumas habilidades e experiências, mas o que proporciona a base para a formação da personalidade e das atitudes do indivíduo é a maneira de usar e de interpretar ativamente tais experiências e habilidades. O “Self” é a capacidade que o indivíduo possui de determinar a própria personalidade de acordo com o seu estilo de vida próprio, atuando entre os estímulos que agem sobre o indivíduo e as respostas que o mesmo tem por esses estímulos. Ao possuir um self criativo, o homem responde criativamente e ativamente à todas influências que possam afetar sua vida, criando sua própria personalidade a partir do material bruto de suas vivências e hereditariedade. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). Na visão de Adler, o indivíduo não é determinado pelas experiências do passado, ele se determina, moldando conscientemente sua própria personalidade e seu próprio destino. Tal poder criativo do Self codifica e interpreta cada experiência, desenvolvendo um esquema de apercepção individual, originando um modelo próprio de interação com o mundo. Todo esse processo orienta e impulsiona a resposta do indivíduo ao meio ambiente, fazendo com que ele seja único, consciente e tenha controle sobre o seu próprio estilo de vida. Tal criatividade dá significado à vida, sendo o princípio ativo da vida humana. (FADIMAN, 1979; HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). 3.8. O Esquema de Apercepção Em cada estilo de vida, o indivíduo desenvolve uma concepção acerca de si e do mundo, tal esquema é denominado por Adler como esquema de Apercepção, que, envolve uma interpretação subjetiva do que o sujeito percebe. A visão que a pessoa possui do mundo é o que influencia o seu comportamento, pois, “nossos sentidos não recebem fatos reais, mas apenas uma imagem subjetiva deles, um reflexo do mundo externo” (Adler, 1956, p. 182 apud FADIMAN, 1979, p. 77). Logo, se possuímos medo é provável que percebemos apenas ameaça do meio externo, reforçando tal crença. 3.9. Ordem de Nascimento Por seu interesse nos determinantes sociais da personalidade e por sua experiência familiar, Adler desenvolveu o conceito da ordem do nascimento como influenciador da personalidade do indivíduo. Observando a personalidade dos filhos por ordem de nascimento, como o do primogênito, o do filho do meio e do caçula, Adler atribuiu diferenças às experiências distintivas que cada um vivencia no grupo social. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). Por ser o primeiro, o filho mais velho acaba por receber a atenção total só para si durante um certo tempo, até quando o filho do meio chega e ele tem de dividir a atenção dos pais. Tal experiência pode condicioná-lo a tornar-se inseguro, hostil, autoritário e conservador, manifestando um grande interesse em manter a ordem. Além disso, o filho mais velho tende a se interessar pelo passado (época em que era o centro das atenções). Caso os pais saibam como lidar com a situação preparando-o para o inevitável, o indivíduo pode vir a transformar-se em uma pessoa responsável e protetora. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; SCHULTZ & SCHULTZ, 2003). De acordo com Schultz & Schultz (2003), o filho do meio tende a ser ambicioso, rebelde e ciumento, e se coloca em uma busca constante para tentar superar o filho mais velho, em qualquer circunstância. Com isso, tende a ser rebelde e invejoso. Já o filho mais novo, tende a ser mimado e com disposição a apresentar problemas comportamentais na infância e na vida adulta. Segundo Hall, Lindzey & Campbell (2000), o filho caçula tem maior probabilidade de se tornar um adulto neurótico desajustado. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente trabalho, discorreu-se sobre a história de vida e teoria de Alfred Adler. Quando pequeno, Adler fora um menino desajeitado e fisicamente frágil, sendo alvo de diversas doenças. Sua experiência de quase morte com a Pneumonia foi o que o levou a se formar em Medicina. Posteriormente, ao se interessar pela Neurologia e Psiquiatria, Adler passou a investigar o funcionamento e a adaptação do sistema nervoso do ser humano. Antes mesmo de se juntar ao círculo psicanalítico de Freud, Adler já elaborava sua teoria, influenciado por diversos pensamentos como a vontade do poder de Nietzsche, o Holismo de Jong Smuts, o finalismo ficcional de Hans Vaihinger, e logo depois, pela importância do desenvolvimento psicológico no início da vida do indivíduo, apresentado por Freud. Na elaboração da Psicologia Individual e de sua psicoterapia, Alfred Adler não aceitou nenhuma influência da Psicanálise em relação à determinação da libido no comportamento humano. Para ele, a busca pela superioridade era o maior fator motivacional para o comportamento do homem. Tal conceito fora vivenciado por ele mesmo em sua infância, ao superar todas as suas inferioridades e dificuldades, objetivando um crescimento e melhora pessoal, tanto nos estudos quanto na vida social. Tive como objetivo fazer um apanhado geral de sua obra, dando ênfase aos seus conceitos mais importantes dentro da Psicologia Individual. Atravésde uma revisão bibliográfica, cumpri tal objetivo ao descrever que os conceitos centrais de Adler são: a Inferioridade e Compensação do indivíduo, onde a criança se vê inferior perante os adultos e através de seus comportamentos, busca compensar tal inferioridade; a Busca pela Superioridade, que age impulsionando o homem a passar de um estágio para o outro no decorrer de seu desenvolvimento, sempre buscando a perfeição; o Interesse Social, como um fator importante na busca da superioridade; o Estilo e Objetivo de Vida único de cada ser humano; o Holismo; o Finalismo Ficcional; o Poder Criativo do “Self”; o Esquema de Apercepção e a Ordem de Nascimento. Por fim, pode- se concluir que este foi um pensador revolucionário para a Psicologia. Estudar sua obra nos permite pensar sobre a dimensão humana, sobre o todo que envolve o comportamento humano, como a influência da sociedade e das expectativas do futuro. Suas contribuições nos permitem compreender a complexidade e unicidade de cada ser humano presente em nossa sociedade. E que, por mais que vivenciem em uma mesma sociedade, seus estilos e objetivos de vida jamais serão os mesmos, pois suas inferioridades jamais foram as mesmas. Tudo isso nos permite ver que, o homem é mais do que traumas da infância, é mais do que sua libido, é mais do que suas possíveis neuroses. O homem é um ser único, complexo e social, que convive com outros homens únicos, complexos e sociais, dentro de uma comunidade, dentro de uma humanidade. Tal contribuição tem certo peso dentro da Psicologia nos tempos vivenciados atualmente, principalmente em uma sociedade que preza mais o social do que o individual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, A. M. D. C. Antecedentes, Dinâmica e Consequentes do Desenvolvimento Vocacional na Infância. Tese de Doutoramento em Psicologia. 2009. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10047/1/tese.pdf Acesso em 29 de março de 2014. CUNHA, N.V.S., AYRES, N., MORAES, B. A Teoria da Compensação em Adler e em Vigotski. Revista Eletrônica Arma da Crítica. Ano 2. Dezembro 2010. Disponível em: http://www.armadacritica.ufc.br/phocadownload/artigo_4_especial.pdf Acesso em 29 de março de 2014. FADIMAN, J. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1979. HALL, C.S., LINDZEY, G., CAMPBELL, J. B. Teorias da Personalidade. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. FRIEDRICH, S. M. Alfred Adler. Febra Psi – Federação Brasileira de Psicanálise. 2009. Disponível em: http://www.febrapsi.org.br/novo/wp-content/uploads/2013/02/alfred_adler.pdf Acesso em 29 de março de 2014. PERVIN, L.A. Personalidade: Teoria e Pesquisa. 8.ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. SCHULTZ, D.P., SCHULTZ. S.E. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
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