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CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Aula Três Caros (as) Estudantes, Em continuidade ao curso de Economia Brasileira, informo a todos que a partir desta aula três passamos a abordar o item do conteúdo programático identificado por “Tópicos especiais em economia brasileira”. Os temas presentes nestes tópicos especiais inserem-se no contexto atual da economia brasileira, em que são cada vez mais discutidos aspectos inerentes à intervenção estatal no processo econômico. Este aspecto fica implícito pela própria seleção feita pela banca. Vejamos os itens a serem abordados nesta aula: Tópicos especiais em economia brasileira: as características do sistema tributário brasileiro; previdência social no Brasil; federalismo fiscal no Brasil; transferências constitucionais e transferências voluntárias. Como não poderia deixar de ser, tratam-se de tópicos bastante dissertativos, motivo pelo qual peço que tenham bastante atenção. Por último, gostaria de informá-los que inexistem questões cobradas pela CESGRANRIO sobre os temas da aula. Dessa forma, optei por inserir na aula questões cobradas por outras bancas organizadoras. Vamos à aula, Um grande abraço, Mariotti CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 1. O Estado Brasileiro Um Estado forte não é precisamente um Estado grande, mas sim ágil, eficiente, e que seja capaz de atender através de soluções específicas, as demandas da sociedade administradas por este. O Estado brasileiro foi o grande estimulador do processo de crescimento e desenvolvimento econômico do país entre os anos de 30 e início dos anos 70. A partir da crise internacional do petróleo, que evidenciou a chamada globalização das economias, este mesmo Estado passou a entrar em crise. As diversas políticas de centralização das decisões econômicas na mão de Estado brasileiro promoveram, dentre outras coisas, o inchamento da máquina para aquelas atividades não enquadradas nas funções básicas do poder público. A efetiva reforma do Estado brasileiro iniciou-se com a promulgação da Constituição de 1988. Foram estabelecidas uma série de diretrizes e orientações, trazendo, dentre outros fatores, o chamado federalismo fiscal, ponto a ser abordado por nós a frente. O processo de reforma inicia-se com um planejamento adequado, que procure aumentar a concorrência nos diversos mercados componentes da economia, de tal forma que o próprio Estado seja responsável pelo processo de coordenação e controle do desenvolvimento, via regulação da atividade privada. Basicamente, podemos definir o papel do Estado na condução econômica da sociedade por meio dos seguintes pontos: • A previdência, assistência e seguridade social pública; • O crescimento e modernização da infra-estrutura do país; CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br • A provisão de bens e serviços públicos; A seguridade social é ponto crítico na atuação do Estado, devido inicialmente ao crescente aumento das demandas sociais da população, o que leva o governo a ter ampliada suas responsabilidades, especialmente aquelas voltadas à saúde e à previdência da população. O governo Federal promoveu a cerca de 5 (cinco) anos (2006), mudanças na estrutura previdenciária no país, separando as atribuições de arrecadação previdenciária das demais atividades de saúde e assistência social. A modernização da infra-estrutura é condição sine qua non para o crescimento e o desenvolvimento econômico. A ampliação da malhas de transporte, adicionada de incentivos produtivos nas regiões mais distantes dos grandes centros consumidores, tende a reduzir as desigualdades regionais existentes em um país de demissões continentais. O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, inicialmente adotado no governo Lula, e dado continuidade no governo Dilma, é um programa que tem a si destinado à atribuição de corrigir parte destas distorções, sendo sustentado não somente com recursos públicos, mas também através da cooperação do Estado com a iniciativa privada (capital), o que torna e tornará mais efetivo e duradouro os resultados alcançados pela aplicação das políticas. Finalmente, mas não menos importante, é a ampliação do oferecimento dos bens públicos ou semi-públicos, tais como saúde, educação e segurança pública, uma vez que o próprio processo de desenvolvimento de um país exige do governo a contrapartida necessária. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 2. Previdência Social no Brasil A Previdência Social no Brasil é parte integrante do sistema de Seguridade Social, também composto pela Saúde e pela Assistência Social. A previdência é considerada um seguro social que, mediante contribuições previdenciárias, tem a finalidade de prover subsistência ao trabalhador, em caso de perda de sua capacidade laboral. A capacidade laborativa envolve aspectos como idade, incapacidade de trabalho continuado, etc.. No Brasil a Previdência Social é administrada pelo Ministério da Previdência, responsável também pelas políticas no seu campo de atuação. Para essa tarefa o Ministério conta com Instituto Nacional do Seguro Social. Todos os trabalhadores formais devem recolher, diretamente ou por meio de seus empregadores, Contribuições Previdenciárias para o Fundo de Previdência. No caso dos servidores públicos brasileiros, existem sistemas previdenciários próprios, a exemplo da Lei 8.112/90, o qual trata do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Federais. O sistema de previdência brasileiro tem a função principal função de realizar a proteção social de trabalhadores que se aposentam ou que, por algum motivo, fica impossibilitado de trabalhar. Muito embora exista uma legislação até certo ponto protetora dos trabalhadores, a sua aplicação prática tem demonstrado um relevante processo de deterioração da capacidade do Estado de executar a sua função. Neste contexto de piora da capacidade estatal de administrar o regime previdenciário encontra-se a constante ocorrência de déficits previdênciário (relação entre receitas e despesas previdenciárias). No intuito de tentar reduzir CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br o impacto do sistema sobre as contas do governo, em dezembro de 2003 o então presidente Lula fez publicar a Emenda Constitucional 41, a qual teve o intuito maior de tentar equilibrar, no longo prazo, a relação existente entre as receitas e as despesas. A título ilustrativo, apenas no ano de promulgação da reforma, o déficit previdenciário total, incluindo setor público e privado alcançou cerca de R$ 46 bilhões. O resultado da reforma previdenciária foi a cobrança de contribuição previdenciária dos inativos do setor público (Regime Próprio de Previdência Social _ RPPS), a criação de nova regra de cálculo de aposentadoria, nos moldes do Regime Geral, como forma de cobrir parte dosdéficits projetados para o futuro. Foram incluídas na reforma o fim da aposentadoria no serviço público pelo último salário recebido, de tal forma que o cálculo para o benefício é hoje representado pela média de contribuição salarial ao longo do período de trabalho do servidor. Adiciona-se ainda o estabelecimento de teto baseado no Regime Geral para os novos servidores públicos, com a criação de previdência complementar associada e, também, a criação de regra de cálculo de pensões e de aposentadorias, nos moldes do Regime Geral. Até hoje ainda não foram editadas as leis responsáveis pela regulamentação dos aspectos relacionados à previdência complementar, estando os servidores entrantes no serviço público desde 2004, sendo descontados em folha sobre o valor bruto de salário recebido. Observação: Corre em paralelo no Congresso Nacional, neste ano de 2011, a proposta do governo de regulamentar o regime de previdência dos novos servidores públicos. Muito preocupado com o impacto decorrente da possibilidade de aposentadoria de cerca de 40% dos servidores entre 2012 e 2015, e a consequente necessidade de contratação de novos servidores, o governo Dilma corre contra o tempo para aprovar a criação do Fundo de Previdência dos Servidores Públicos. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Em linhas gerais, a reforma previdenciária visou dar maior sustentabilidade e continuidade ao regime de previdência pública, procurando para isto formas alternativas de financiamento. Para os novos servidores, a reforma traz no seu bojo a necessidade (conforme já evidenciado na própria norma), da montagem de um regime de previdência complementar, em que o governo entrará como participante na contribuição de um para um com o fundo do servidor. No ano de 2005 o Congresso promulgou a EC 47, que restituiu alguns benefícios para a aposentadoria dos servidores públicos, retirados pela EC 41. A principal dela refere-se à paridade salarial para os servidores que se aposentarem segundo os critérios da EC 41, ou seja, reajustes salariais nas mesmas proporções e na mesma data que os concedidos aos funcionários em atividade, desde que sejam atingidos alguns requisitos importantes. A reforma previdenciária deve ser estendida, buscando-se formas complementares de equilibrar os déficits ainda existentes. A atuação do governo nestas reformas deve se dar apenas após o ano de 2010, até porque tais mudanças são geradoras de bastante descontentamento por parte das pessoas diretamente atingidas, e não seria esta a estratégia do governo para o ano eleitoral. 3. As características do sistema tributário brasileiro Várias são as discussões na sociedade brasileira em torno do sistema tributário nacional. Muito embora o sistema tributário nacional seja oficialmente considerado progressivo, discussões quanto ao caráter regressivo do sistema, em que os trabalhadores de mais baixa renda são os mais punidos, são constantes. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Na esteira das discussões inserem-se também os conflitos entre os setores público e privado bem como também a repartição da bolo fiscal. O sistema tributário do país necessita urgentemente de uma reforma profunda, a qual deve ser orientada por princípios como simplicidade e economicidade, de forma a tornar claro os deveres e direitos de cada um dos agentes envolvidos no processo. Em termos econômicos, uma efetiva reforma tributária de visa dar maior eficiência ao sistema, permitindo um maior volume de arrecadação conjuntamente com um menor custo de administração. Cabe destacar que algumas questões tendem a obstruir a geração de uma efetiva reforma no sistema. Segundo Biderman e Arvate, apud Bordin1, está obstrução é gerada por três conflitos de interesses: 1. O conflito de interesses entre o setor público (que quer maior disponibilidade de receitas) e o setor privado (que quer a redução do impacto negativo da tributação sobre a eficiência e a competitividade do setor produtivo nacional,a prestação de serviços públicos compatíveis e, ainda, que se faça a justiça social; 2. O conflito distributivo entre as regiões num mesmo nível de governo (conflito horizontal), como é o caso da tributação do ICMS na origem ou no destino, opondo os estados produtores do Sul e Sudeste e os estados do Norte e Nordeste. 3. O conflito entre as esferas de governo (conflito vertical) – União, estados e municípios (que brigam por fatias maiores no “bolo tributário” a fim de fazer face aos seus encargos e que lutam, no caso da União e estados, pela hegemonia legislativa em relação ao principal imposto da federação – o ICMS; 1 Biderman, C.;Arvate, P. Economia do Setor Público no Brasil. 2004, Ed. Campus. Rio de Janeiro, pág. 171. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br O conflito de interesses entre o setor público e o setor privado é o mais visível dos pontos que permeiam os debates sobre uma reforma tributária ampla e efetiva, uma vez que a visão da sociedade sobre o setor público é que este é extremamente ineficiente, impondo à iniciativa privada uma alta taxação sem uma contrapartida efetiva na forma de melhoria dos serviços públicos (educação, saúde) e no estímulo à competitividade da industria nacional. Diferentemente, o conflito distributivo entre as regiões num mesmo nível de governo está refletido na guerra fiscal que permeia a arrecadação do imposto gerador da maior fatia do “bolo tributário”, o ICMS. Dentre a série de mudanças impostas em matéria tributária pela Constituição Federal, destaca-se a mudança que trata da ampliação da base de cálculo do ICM, que passou a se chamar ICMS (o imposto sobre o consumo e de maior valor de arrecadação nacional). Os estados passaram a legislar plenamente sobre o imposto, podendo fixar as alíquotas internas2. Devido à lei Kandir, aprovada em 1996, o ICMS passou a não mais incidir sobre as operações com bens primários e semi-elaborados destinadas ao exterior. Considerando que a arrecadação do ICMS pertence ao estado de origem em transações dentro de suas divisas, mas que nas transações entre estados ela é dividida entre a origem e o destino, gerou-se a constante guerra fiscal entre estes. Segundo Giambiagi e Alem3, para que situações como estas sejam minimizadas, é necessária a redução da autonomia dos níveis subnacionais do governo quanto à capacidade de legislar sobre matéria tributária, sendo esta competência transferida ao governo central (União). 2 Considerando que as alíquotas dos produtos destinados ao exterior são fixadas pelo Senado Federal e que as exportações estão desoneradas da incidência do referido imposto. 3 Giambiagi. F; Além. Ana Cláudia. Finanças Públicas. Teoria e Prática no Brasil. Página 329. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Finalmente, destaca-se que o conflito entre as esferas de governo, também chamada de federalismo fiscal, a ser vistopor nós ainda nesta aula. 3.1 Reforma Tributária A organização político-administrativa brasileira apresenta-se na forma de uma federação abrangendo três níveis de governos autônomos, o federal, os estados e os municípios, configurando uma estrutura de governo descentralizada. É, teoricamente, um modelo que, segundo muitos autores, é defendido por trazer uma alocação mais eficiente dos recursos e um aumento da participação política da sociedade. Tal qual esta forma de governo, segue o nosso sistema tributário, que através do Código Tributário Nacional dividiu entre todos os entes federados as chamadas competências tributárias para legislar, instituir e cobrar tributos de suas alçadas. Sempre existiram discussões a respeito desta descentralização política e a arrecadação tributária, mais precisamente as competências de cada ente e a repartição das receitas geradas. Fenômeno conhecido como federalismo fiscal, estas questões apresentam-se como um grande dilema de assegurar a autonomia das unidades federativas, mas, ao mesmo tempo, coordenar os instrumentos fiscais preservando os interesses nacionais. Destaca-se que o regime federalista é mutável em alguns aspectos, entre os quais o tributário, podendo acomodar mudanças que com certeza já surgiram, foram ou não objeto de reformas passadas, e, também aquelas que ainda surgirão ao longo do tempo. Ao longo da evolução de Estado brasileiro sucederam-se inúmeras mudanças na forma de tributação, importância dos tributos e participação de CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br cada ente na receita total. Passou-se de uma tributação basicamente pautada no Imposto de Importação até os anos 1930 para um aumento gradativo da importância dos impostos internos sobre produtos, simultaneamente a um processo de desenvolvimento industrial, chegando à tributação sobre o valor agregado, com a criação de impostos sobre o consumo. Nos anos de 1960 houve uma grande reforma tributária, culminando na aprovação da Lei 5.172/66, atual Código Tributário Nacional. Buscou-se com esta reforma aumentar a capacidade de arrecadação do Estado visando solucionar o problema do déficit fiscal existente e, ao mesmo tempo, estimular o crescimento econômico, melhorando, entre outras coisas, a qualidade dos efeitos alocativos dos tributos. Buscou-se ainda com a reforma a centralização dos recursos nas mãos de União e consequente perda de autonomia financeira das demais unidades federativas. Objetivava-se com tudo isso um sistema amplamente conectado com as metas da política econômica em nível nacional. Ocorreu também uma racionalização do sistema tributário com a redução do numero de tributos e sua reformulação, principalmente de seus fatos geradores, que passaram a fundamentar-se principalmente em conceitos econômicos, facilitando a tributação sobre produção e comercialização. Os impostos passaram a ser classificados em quatro categorias, a saber: impostos sobre o comercio exterior; sobre o patrimônio e a renda; sobre a produção e a circulação; impostos únicos e receitas extra-orçamentárias. Mudanças ocorreram também na distribuição federativa, centralizando os recursos na esfera federal, tendo em vista a responsabilidade desta na coordenação do processo de crescimento econômico. O principal aspecto desta reforma, sem duvida, foi a mudança na sistemática de arrecadação, priorizando-se a tributação sobre o Valor Agregado CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br ao invés da sistemática “em cascata” dos impostos cumulativos. Este é o primeiro momento no país em que se utiliza uma forma de IVA (Imposto sobre o Valor Agregado ou Adicionado), apesar de não ter ainda este nome, sendo considerado um dos sistemas tributários mais modernos para a época, precedendo o uso deste instrumento de tributação inclusive pela própria Comunidade Econômica Européia, com exceção da França. Foram criados dois impostos sobre o valor agregado, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na esfera federal e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), de competência estadual, hoje transformado no conhecido Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Como o grande objetivo do país era o crescimento econômico, os impostos, principalmente sobre a produção, eram uma grande fonte de receitas amplamente utilizadas como instrumento de fomento, através da concessão de incentivos, subsídios e isenções. Contudo essa forma de agir deteriorava de forma expressiva a receita, levando o governo a estabelecer as contribuições conhecidas como PIS/PASEP, ampliando a geração de recursos para investimentos, porém retrocedendo a forma de tributação “em cascata”. Estes impostos e contribuições cumulativos tendem a elevar a carga tributária, e são do ponto de vista econômico, os de “pior qualidade”, prejudicando o desempenho do setor econômico. O aumento da participação na arrecadação dos impostos sobre bens e serviços tendeu a elevar a carga tributaria nos anos 1990 em diante, justamente pelo aumento da participação da tributação cumulativa, como as contribuições sociais criadas (oneram salários pagos pelas empresas e o preço de bem final, transferindo a carga tributária para a parcela da população com menor renda). A reforma trazida pela constituição de 1988 intensificou a descentralização do federalismo fiscal brasileiro que já vinha ocorrendo desde os anos 1980, aumentando o grau de autonomia fiscal de estados e CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br municípios, contudo trazendo consigo um aumento do desequilíbrio na questão federativa, pois houve um substancial aumento dos recursos destinados pela União aos estados e municípios e pelos estados aos municípios, tudo isso sem a contrapartida nas transferências dos encargos da União para os entes federados, e que naturalmente agravou o problema o déficit público. Por conseguinte, hoje o principal problema é a falta de articulação entre os recursos arrecadados e os encargos, deteriorando a qualidade da tributação e dos serviços públicos, pois a Constituição de 1988 não previu os meios legais e financeiros para que se desenvolvesse um processo ordenado de descentralização de encargos. Em decorrência desta problemática, a União buscou então recursos tributários que não fossem partilhados com outras esferas de governo, criando contribuições como a COFINS, utilizando-se destes tributos “piores” do ponto de vista da eficiência do sistema econômico, mas com a vantagem de não terem a sua receita compartilhada. Novos tributos foram criados e as alíquotas dos já existentes, principalmente os não partilhados com os demais entes, foram elevadas, ocorrendo a reintrodução de impostos cumulativos, principalmente na forma de contribuições sociais (CSLL, IOF, CPMF). Em resumo, há uma queda na qualidade do sistema tributário sem que ocorra uma solução definitiva de seu desequilíbrio financeiro e fiscal. Em vista de todas estas reformas ocorridas ao longo dos anos, constituição após constituição, pode se considerar o sistema tributário vigente eficiente no sentido de gerar receitas elevadas, porém apresenta em seu contexto muitosproblemas. Para um país com o nível de renda médio do Brasil, o nível da carga tributária agregada acaba sendo muito elevado, representando um ônus importante ao cidadão. Cerca de 30% do PIB é CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br consumido na forma de tributação, o que torna o país um dos lideres em termos de incidência tributária sobre a geração de riqueza, perdendo apenas para alguns países Europeus, sendo expressivamente superior a dos países da América Latina. Por outro lado, se comparada a países com renda per capita alta, o Brasil apresenta-se em um patamar inferior, justamente pela progressividade da carga tributária, considerando-se que em países de renda elevada esta será maior, ou seja, quem ganha mais pagará mais. Este comparativo é um indicativo da pressão tributária incidente sobre a população, pois a carga tributária brasileira é superior a de outros países de renda média. Esta elevada carga deve-se principalmente a elevada tributação sobre bens e serviços, em detrimento da baixa participação da tributação da renda, que ocorre no país. Outro aspecto relevante é a falta de equidade do atual sistema. A tributação sobre a renda das pessoas torna o sistema mais progressivo, pois os impostos pessoais podem ser cobrados de acordo com a renda do contribuinte, sendo muito menor a possibilidade de transferência desta carga para outros contribuintes, diferentemente do que ocorre com impostos sobre bens e produtos, que tendem a ser transferidos, passados “adiante” e regressivos. Como o nível desta forma de tributação é baixo se comparado a de outros paises, há um aumento da carga de outros impostos que são prejudiciais a eficiência do sistema econômico. A elevada participação de tributos indiretos leva o sistema a ter um alto grau de regressividade, onerando mais as pessoas com menor rendimento. Um ponto importante, principalmente em relação ao aspecto econômico, é a estrutura tributária brasileira com forte presença de impostos cumulativos, conforme já comentado ao longo do texto. Por tais impostos não serem passiveis de desoneração plena, os produtos fabricados no país tornam- se muito mais caros se comparados aos similares importados, concorrendo no mercado externo com produtos sem essa elevada taxa tributária, o que CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br prejudica a competitividade doméstica e no mercado externo. Com o aumento do grau de abertura econômica, o impacto destes tributos sobre a competitividade torna-se cada vez mais visível, e, aliado ao alto custo do trabalhador para as empresas, que acaba estimulando a informalidade, e muitas vezes a dificuldade de compreensão da legislação, como no caso da complicada legislação do ICMS, acaba levando a sonegação fiscal, guerras fiscais entre estados e diminuição da arrecadação. Por todos estes fatores, uma nova reforma tributária faz-se extremamente necessária no Brasil, levando em conta as transformações que vem ocorrendo com a globalização e a criação e fortalecimento de blocos econômicos. Este processo de integração da economia mundial pressupõe também a harmonização legislativa dos países que compõe estes agrupamentos, notadamente de seus ordenamentos tributários internos, facilitando a liberdade de circulação necessária. Como muito mencionado, o ônus tributário exigido da sociedade brasileira já é extremamente elevado, portanto, o objetivo principal de uma nova reforma deverá ser o de aumentar a qualidade da tributação, melhorando o que já existe e promovendo uma evolução do sistema, não introduzindo mudanças abruptas que poderiam causar uma desordem do sistema produtivo, principalmente dos preços. A reforma, com certeza, não é um objetivo fácil de ser alcançado, principalmente porque não há como dispensar tudo o que foi feito até agora e simplesmente iniciar do zero. Uma reforma adequada deverá ocorrer ao longo do tempo, adaptando-se as mudanças que ocorrem principalmente nas políticas publicas. Há o fato das mudanças que, com a reforma, afetariam o pacto federativo e a distribuição dos recursos tributários entre os estados, que assim como todo o resto deve ser muito bem definido, discutido e pensado com cautela. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Entre os principais objetivos devem ser considerados as seguintes questões: i. diminuir os efeitos negativos que o sistema tributário atual exerce sobre a eficiência e competitividade do setor produtivo, aumentando a competitividade dos produtos domésticos. Neste contexto, vem de encontro à harmonização das políticas fiscais com os demais países; ii. simplificação do sistema tributário, reduzindo custos de administração, promovendo uma redução da grande variedade de bases tributárias. Com isso haveria um aumento da qualidade do sistema, podendo haver redução, inclusive, da sonegação fiscal. Essa harmonização simplificaria a legislação de impostos internos complexos e de difícil compreensão e evitaria em alguns casos a bitributação; iii. eliminação dos impostos cumulativos, considerados ruins do ponto de vista econômico e substituição por impostos sobre o valor agregado. A grande tendência que já vem se confirmando no setor internacional e tem sido amplamente discutida por governo e setores da sociedade é a introdução de tributos cuja base de incidência seja o valor adicionado na produção e distribuição das mercadorias. Destaca-se que a utilização do chamado IVA já ocorre em muitos países e constitui-se na cobrança dos tributos ser feita nas diversas etapas de produção e distribuição. A idéia seria substituir a série de tributos cumulativos, que oneram a produção, por uma espécie de IVA que minimizaria a possibilidade de sonegação e permitiria tributar somente as vendas destinadas ao consumo final, desonerando CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br investimentos e exportações. Em resumo, sua característica básica é a não cumulatividade, ou seja, o contribuinte paga apenas pelo que agrega à economia. A reforma tributária que tramita no Congresso Nacional através da PEC 233/2008, sugere a criação de dois tipos de imposto sobre o valor adicionado: o IVA federal (IVA-F) e o IVA estadual (IVA-E). O IVA-F seria formado pela fusão do PIS/ PASEP, da COFINS e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE). Já o IVA-E seria uma reestruturação do atual ICMS. Os dois impostos teriam então uma legislação única nacional e uma mesma base de cálculo. Nesta reforma o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o imposto de Renda (IR), acrescido da CSLL teriam a receita repartida entre todos os entes federados, diferente do que ocorre hoje com a CSLL que não sofre repartição. O Imposto sobre Serviços (ISS) continuaria também a existir, pois neste ponto existe uma grande resistência dos municípios. Uma das mudanças do IVA-E para o atual ICMS, seria a mudança da atual cobrança na origem, para uma cobrança no destino. Neste caso o Imposto deixaria de ser recolhido no Estado ondea mercadoria é produzida para ser cobrado onde ela é vendida ou consumida. O imposto teria uma alíquota uniforme em todo o território nacional com vistas a acabar com a “guerra fiscal” e os estados perderiam a autonomia para legislar sobre o tributo. Destaca-se que este é um aspecto político relevante da reforma, pois muitos estados, como São Paulo, são grandes produtores e acabariam perdendo parte de sua arrecadação. Não é à toa inclusive que, hoje, São Paulo adota o sistema de substituição tributária, tributando toda a cadeia produtiva e de venda já na origem da produção do bem. Partindo do pressuposto de que a reforma tributária que transita no Congresso Nacional necessariamente passará pelas duas casas legislativas, é grande a probabilidade de resistência CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br na aprovação da reforma, naturalmente porque não só São Paulo, mas os maiores estados do país, inclusive em termos de geração de riqueza, possuem maioria dos votantes ao menos na Câmara dos Deputados. Finalmente, quanto aos aspectos administrativos, dois pontos chamam a atenção, o primeiro referente à facilidade na administração da arrecadação, pela própria simplificação do processo de recolhimento e da quantidade de tributos e bases de cálculo, e o segundo referente ao processo de administração da tributação, principalmente em termos de evitar que os estados possam conceder incentivos fiscais diferenciados para atrair empresas para o seu território, impactando contrariamente a política de distribuição dos recursos econômicos entre as outras regiões menos favorecidas do país. Por todas as questões ora narradas, não se sabe ao certo se os representantes dos entes da federação, em especial os de maior representatividade, apoiarão a mudança um tanto quanto desvantajosa para eles, mesmo que a promessa seja de melhora da distribuição da arrecadação, o que é vantajoso para o país como um todo. A tão comentada reforma tributária discutida na PEC 233/2008, tramita no Congresso Nacional a passos muito lentos, pois, conforme já comentado ao longo do texto, envolve muitos interesses políticos contrários dos entes federativos e influencia muito na capacidade política, fiscal e administrativa dos estados e municípios. É clara e presente a idéia de que a reforma tributária baseada na criação de um IVA Federal e um IVA Estadual contribuirá positivamente para todo o país. Não obstante, afora os aspectos do aumento da eficiência e da eficácia do sistema tributário, a mesma reforma trás no seu bojo a necessidade de socialização das receitas tributárias, redistribuindo os recursos de uma forma mais proporcional entre os maiores e os menores arrecadadores. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br 4. Federalismo fiscal no Brasil. transferências constitucionais e transferências voluntárias. A Constituição Federal de 1988 trouxe uma grande mudança no processo de planejamento da administração pública, introduzindo um conjunto de instrumentos que orientam a intervenção governamental. Adicionalmente, a Carta Magna introduziu grandes mudanças nas relações entre os entes estatais, aumentando o processo de descentralização fiscal por meio tanto das receitas quanto das despesas. A esse fenômeno denominamos federalismo fiscal, o qual é caracterizado pela separação de atribuições entre os entes estatais referentes à arrecadação (receita) e a oferta de bens e serviços públicos (gasto). Até os anos de 1980 e, em especial, anteriormente à Promulgação da Constituição de 1988, o Federalismo Fiscal no Brasil se caracterizou por uma concentração excessiva das decisões nas mãos do governo federal, dado o poder concedido ao Chefe do Executivo. As decisões em pauta referiam-se tanto à legislação sobre competências tributárias quanto à atribuição de responsabilidades na execução dos gastos. Este processo permitia ao Governo Central uniformizar as políticas econômicas entre os Estados da Federação, ficando os demais entes da federação sujeitos apenas às intempéries das decisões políticas. Não obstante, em países que adotam o sistema federalista de organização governamental, o sistema tributário deve permitir certo grau de autonomia financeira dos membros da federação, minimizando a possibilidade de criação de um Estado Unitário. Dessa forma, considerando o regime democrático instalado, restaurado pelo Constituição de 1988, e como forma de descentralização do poder que se concentrava apenas nas mãos do governo federal, atribuiu-se aos governos subnacionais competências tributárias exclusivas e autonomia para legislarem sobre estes impostos, em especial o ICMS no caso dos estados. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Em conjunto com a autonomia dada aos estados e municípios, expandiu- se consideravelmente as fatias da arrecadação federal destinada aos demais entes estatais, e a fatia da arrecadação estadual destinada aos municípios, estas derivadas dos artigos 157, 158 e 159 da Constituição Federal. As repartições referem-se à arrecadação dos impostos, estas constituídas: Da União para os estados: • 21,5% da arrecadação do IR e do IPI, recursos formadores do chamado Fundos de Participação dos Estados – FPE; • 30% da arrecadação do IOF referentes às operações com ouro; • 20% da arrecadação de novos impostos criados após a Constituição Federal; e • 10% da arrecadação do IPI são destinados aos estados exportadores, em proporção às exportações de produtos industrializados. Da União para os municípios: • 22,5% da arrecadação do IR e do IPI, recursos formadores do chamado Fundos de Participação dos Municípios – FPM; • 70% da arrecadação do IOF referentes às operações com ouro; e • 50% da arrecadação do ITR. Dos estados para os seus municípios: • 25% da arrecadação do ICMS; • 50% da arrecadação do IPVA; • 25% da transferência que o estado recebe do Fundo do IPI-Exportação. Finalmente, adiciona-se que a CF estabeleceu que o IR retido na fonte dos funcionários públicos dos demais entes estatais é considerado receita destes. Destaca-se assim que, em decorrência do processo de descentralização das receitas promovido pela Constituição, a União teve uma grande redução da sua receita própria, necessitando buscar fontes alternativas de receita não CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br vinculadas à arrecadação de impostos. Segundo destaca Giambiagi e Alem4, entre as medidas tomadas neste sentido, temos a redução das transferências voluntárias pela União e a criação de contribuições sociais, nos moldes da CIDE e da CPMF; Aspecto importante já comentado, mas digno de destaque é referente às mudanças impostas pela CF de 1988 que tratam da ampliação da base de cálculo do ICM, que passou a se chamar ICMS (o imposto sobre o consumo e de maior valor de arrecadação nacional). Os estados passaram a legislar plenamente sobre o imposto, podendo fixar as alíquotas internas. Devido à lei Kandir, aprovada em 1996, o ICMS passou a não mais incidir sobre as operações com bensprimários e semi-elaborados destinadas ao exterior. Considerando que a arrecadação do ICMS pertence ao estado de origem em transações dentro de suas divisas, mas que nas transações entre estados ela é dividida entre a origem e o destino, gerou-se a constante guerra fiscal entre estes. Segundo Giambiagi e Alem5, para que situações como estas sejam minimizadas, é necessária a redução da autonomia dos níveis subnacionais do governo quanto à capacidade de legislar sobre matéria tributária, em especial sendo esta competência transferida ao governo central; O Federalismo Fiscal brasileiro derivado da Constituição de 1988 atribuiu diferentes responsabilidades aos três entes da federação. O problema associado a estas atribuições foi a desproporção imposta principalmente aos estados frente a sua parte no “bolo” da arrecadação. A transferência das atribuições de oferecimento de saúde e educação sem o repasse de pessoal e de bens do ativo fixo destinados a este fim, obrigaram os entes subnacionais a expandirem consideravelmente os seus gastos; Resumidamente, pode-se afirmar que à União coube a responsabilidade do pagamento de pessoal, auxílio desemprego, aposentadorias e os serviços da dívida pública, inclusive 4 Giambiagi. F; Além. Ana Cláudia. Finanças Públicas. Teoria e Prática no Brasil. Página 329. 5 Giambiagi. F; Além. Ana Cláudia. Finanças Públicas. Teoria e Prática no Brasil. Página 329. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br por meio do assunção das dívidas de estados e municípios nos anos de 1990; Não obstante, e conforme já abordado, coube à União à competência residual de criação de novas contribuições sociais, permitindo ao ente recompor a sua receita disponível. No caso dos municípios, em termos de verticalidade do “bolo” da arrecadação, estes foram os principais beneficiados, em especial os pequenos municípios que sem necessidade de atendimento de grandes demandas da sociedade, puderam desfrutar de uma receita total muito maior do que a receita própria gerada. Por fim, destaca-se que os estados foram os mais prejudicados na repartição de competências, uma vez que tendo a si associado a necessidade de atendimento de demandas na área de saúde a educação, teve a sua receita disponível diminuída, por mais que este receba transferências da União, pois boa parte das receitas dos impostos de sua competência, ICMS e IPVA e também 25% da transferência que o estado recebe do Fundo do IPI-Exportação deve ser destinado aos municípios. Adiciona-se que o subterfúgio utilizado por estes no início dos anos de 1990, derivado do financiamento dos seus gastos via os antigos bancos estaduais, foi proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, enrijecendo ainda mais as ações dos governos estaduais. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Questões Propostas: 1 - (APO/MPOG – ESAF/2005) Com relação ao Federalismo Fiscal não é correto afirmar que a) um modelo ideal de responsabilidade fiscal entre diferentes níveis de governo atribuiria aos governos estaduais e municipais atividades alocativas, enquanto atividades distributivas, bem como atividades alocativas de caráter nacional seriam executadas pelo governo federal. b) a estabilidade e equilíbrio financeiros são condições necessárias mas não suficientes para que o propósito de eficiência na gestão dos recursos por meio da descentralização seja de fato alcançado. c) a descentralização e a integração são os ingredientes necessários à instituição de formas eficientes de controle da sociedade sobre as ações do Estado. d) a descentralização favorece uma maior integração social, através do envolvimento dos cidadãos na determinação dos rumos da sociedade. e) as decisões sobre um aumento de despesas ou sobre a distribuição setorial dos gastos governamentais são tomadas no mesmo nível das decisões relativas às medidas a serem utilizadas em um país onde a organização é federativa. 2 – (APO/MPOG – ESAF/2008) Em organizações federativas, o sistema tributário é o elemento central na estruturação das relações financeiras entre níveis de governo. Com relação ao Federalismo Fiscal no Brasil, não se pode afirmar que: a) a Constituição Federal brasileira de 1988 provocou graves desequilíbrios no federalismo fiscal, especialmente porque não dimensionou bem as atribuições de cada ente federado e suas respectivas fontes de receitas. b) na concepção do federalismo fiscal de 1988, não foi considerado o cenário de abertura e de competitividade econômica internacional nem os processos de integração econômica internacional. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br c) o equilíbrio federativo e a descentralização fiscal são importantes para que o Brasil se insira num contexto de integração econômica internacional com uma harmonização jurídico-tributária e com a remoção de tributos que inviabilizem a competição e impeçam uma integração econômica bem sucedida. d) durante o período de 1970/1988, a fragilidade financeira dos Estados e Municípios impossibilitou a maior atribuição de funções de caráter regional e local a esses níveis de governo. e) em termos verticais, os principais privilegiados pelo processo de descentralização brasileiro, principalmente após a Constituição de 1988, foram os estados, que praticamente dobraram sua participação no total da receita tributária disponível. 3 – (AFRFB/SRFB – ESAF/2009) Os principais pontos da reforma da Previdência Social brasileira, entre outros, são os seguintes, exceto: a) teto do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) também para os futuros servidores públicos, desde que seja constituída a sua previdência complementar. b) aplicação de teto remuneratório geral (federal, estadual e municipal). c) nova regra permanente de cálculo de aposentadoria e pensões, alinhada com a regra do Regime Geral. d) idade de referência para os atuais servidores sobe de 50/55 (H/M) para 65/70 (H/M), incluindo-se regras que desestimulam a aposentadoria precoce. e) contribuição solidária de aposentados e pensionistas à estabilidade do Regime Próprio de Previdência Social. 4 – (AFRFB/SRFB – ESAF/2009) Com relação à descentralização fiscal no Brasil, indique a opção falsa. a) Em meados dos anos 1990, o processo de descentralização fiscal foi aprofundado com a criação do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF). CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br b) O processo de descentralização, iniciado nos anos 1980 e aprofundado com a Constituição de 1988, teve basicamente uma motivação política. c) Com o agravamento da crise econômica e o processo de redemocratização do país ao fim dos anos 1970, as esferas subnacionais de governo começaram sua luta pela descentralização tributária. d) A partir da Constituição de 1988, a combinação de maiores receitas, com assunção de responsabilidades que inicialmente eram da União, levou a soma de estados e municípios a ter uma participação crescente no total do gasto público do país.e) A federação brasileira é marcada por expressivas disparidades sócio- econômicas que se refletem em diferentes capacidades fiscais. 5 - (APO/MPOG – ESAF/2003) Uma das preocupações importantes no desenho de sistemas tributários em regimes federativos é assegurar o necessário equilíbrio entre a repartição de competências impositivas e autonomia dos entes federados. Aponte a opção falsa no tocante ao federalismo fiscal. a) A federação reforça a descentralização e a descentralização amplia os espaços da democracia. b) O governo central deve procurar equalizar ou amenizar as desigualdades fiscais entre as jurisdições, por meio de transferências intra-governamentais. c) A descentralização dos recursos e do poder para administrá-los afeta a capacidade de o Estado atuar com a finalidade de evitar a concentração regional de renda. d) A partilha de competências tributárias é um instrumento poderoso de incentivo à cooperação. e) A descentralização de recursos aumenta as dificuldades de coordenação de política fiscal, com riscos para o atingimento das metas de equilíbrio macroeconômico. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Gabarito Comentado: 1 - (APO/MPOG – ESAF/2005) Com relação ao Federalismo Fiscal não é correto afirmar que a) um modelo ideal de responsabilidade fiscal entre diferentes níveis de governo atribuiria aos governos estaduais e municipais atividades alocativas, enquanto atividades distributivas, bem como atividades alocativas de caráter nacional seriam executadas pelo governo federal. b) a estabilidade e equilíbrio financeiros são condições necessárias mas não suficientes para que o propósito de eficiência na gestão dos recursos por meio da descentralização seja de fato alcançado. c) a descentralização e a integração são os ingredientes necessários à instituição de formas eficientes de controle da sociedade sobre as ações do Estado. d) a descentralização favorece uma maior integração social, através do envolvimento dos cidadãos na determinação dos rumos da sociedade. e) as decisões sobre um aumento de despesas ou sobre a distribuição setorial dos gastos governamentais são tomadas no mesmo nível das decisões relativas às medidas a serem utilizadas em um país onde a organização é federativa. Comentários: Em países em que a organização não é federativa, como no caso de países como a França, as decisões sobre um aumento de despesas ou sobre a distribuição setorial dos gastos governamentais, são tomadas no nível Nacional, promovendo-se assim uma política uniforme entre todas as regiões pertencentes ao mesmo Estado Unitário. No caso brasileiro, em que a organização é federativa, é comum a existência de distorções, inicialmente porque os Estados e os Municípios que apresentam a maior população e a maior carga de arrecadação tributária, tende a receber a maior da repartição CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br do bolo da arrecadação, por meio dos Fundos de Participação, o que tende a enrijecer a capacidade de União de realizar políticas que visem modificar a estrutura de desenvolvimento de cada Estado da Federação. Os programas de transferências voluntárias, tal como o “Bolsa Família”, procuram minimizar este problema, uma vez que os principais beneficiados são os habitantes de Estados e Municípios que possuem a menor parte do bolo da arrecadação. Gabarito: letra “e”. 2 – (APO/MPOG – ESAF/2008) Em organizações federativas, o sistema tributário é o elemento central na estruturação das relações financeiras entre níveis de governo. Com relação ao Federalismo Fiscal no Brasil, não se pode afirmar que: a) a Constituição Federal brasileira de 1988 provocou graves desequilíbrios no federalismo fiscal, especialmente porque não dimensionou bem as atribuições de cada ente federado e suas respectivas fontes de receitas. b) na concepção do federalismo fiscal de 1988, não foi considerado o cenário de abertura e de competitividade econômica internacional nem os processos de integração econômica internacional. c) o equilíbrio federativo e a descentralização fiscal são importantes para que o Brasil se insira num contexto de integração econômica internacional com uma harmonização jurídico-tributária e com a remoção de tributos que inviabilizem a competição e impeçam uma integração econômica bem sucedida. d) durante o período de 1970/1988, a fragilidade financeira dos Estados e Municípios impossibilitou a maior atribuição de funções de caráter regional e local a esses níveis de governo. e) em termos verticais, os principais privilegiados pelo processo de descentralização brasileiro, principalmente após a Constituição de 1988, foram os estados, que praticamente dobraram sua participação no total da receita tributária disponível. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Comentários: Conforme destacado na parte teórica da aula, os estados foram os principais prejudicados com o efeito derivado do federalismo fiscal, uma vez que as suas receitas não aumentaram na mesma proporção das suas responsabilidades consubstanciadas na geração de despesas. Gabarito: letra “e”. 3 – (AFRFB/SRFB – ESAF/2009) Os principais pontos da reforma da Previdência Social brasileira, entre outros, são os seguintes, exceto: a) teto do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) também para os futuros servidores públicos, desde que seja constituída a sua previdência complementar. b) aplicação de teto remuneratório geral (federal, estadual e municipal). c) nova regra permanente de cálculo de aposentadoria e pensões, alinhada com a regra do Regime Geral. d) idade de referência para os atuais servidores sobe de 50/55 (H/M) para 65/70 (H/M), incluindo-se regras que desestimulam a aposentadoria precoce. e) contribuição solidária de aposentados e pensionistas à estabilidade do Regime Próprio de Previdência Social. Comentários: A letra “d” é o gabarito da questão, ou seja, a questão incorreta. Não existe este tipo de regra no atual sistema. Na verdade o que existe refere-se à regra de transição para os servidores da ativa que não tinham, na data de promulgação da EC 41, direito adquirido para a aposentadoria e sequer poderiam pagar o pedágio (20% do tempo de contribuição requerido). Trata-se assim do exemplo de um servidor que ingressou no serviço público federal por meio do Regime Próprio de Previdência Social – RPPS. Neste caso, os atuais CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br servidores, homens e mulheres, com idade mínima de 60/55 (H/M), além de períodos mínimos de permanência de 20 anos no serviço público, 10 anos na carreira e 5 anos no cargo, teriam direito assegurado, ressaltando a necessidade de cumprimento de 35 anos de contribuição para homens e 30 para as mulheres. Quanto aos comentários das demais alternativas, merecem destaque as assertivas: b – O teto remuneratório refere-se ao subsídio concedido aos Ministros do Supremo Tribunal Federal – STF. e – A contribuição previdenciária passou a incidir sobreos inativos do RPPS, nos rendimentos auferidos acima do teto dos benefícios concedidos pelo RGPS. Gabarito: letra “d”. 4 – (AFRFB/SRFB – ESAF/2009) Com relação à descentralização fiscal no Brasil, indique a opção falsa. a) Em meados dos anos 1990, o processo de descentralização fiscal foi aprofundado com a criação do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF). b) O processo de descentralização, iniciado nos anos 1980 e aprofundado com a Constituição de 1988, teve basicamente uma motivação política. c) Com o agravamento da crise econômica e o processo de redemocratização do país ao fim dos anos 1970, as esferas subnacionais de governo começaram sua luta pela descentralização tributária. d) A partir da Constituição de 1988, a combinação de maiores receitas, com assunção de responsabilidades que inicialmente eram da União, levou a soma de estados e municípios a ter uma participação crescente no total do gasto público do país. e) A federação brasileira é marcada por expressivas disparidades sócio- econômicas que se refletem em diferentes capacidades fiscais. CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Comentários: Genericamente falando, pode-se definir o Fundo de Estabilização Fiscal, constituído pela EC 10/96, como sendo os recursos financeiros retidos pela União e consequentemente não repassados aos demais entes da federação destinados ao pagamento de gastos de caráter vinculado determinados pela Constituição. A desvinculação de recursos surgiu inicialmente a partir da criação do Fundo Social de Emergência (FSE) de 1994, constituída pela Emenda de Revisão número 1, a qual liberava 20% de recursos vinculados constitucionalmente à área social para livre disposição pela área econômica do governo. Já em 2000 o FEF passa a receber a denominação de Desvinculação das Receitas da União (DRU) que, recentemente, teve nova prorrogação, por meio da Emenda Constitucional número 56 de 2007, sendo válida até 31 de dezembro de 2011. Apenas pelo exposto acima pode-se afirmar que o FEF teve o objetivo de promover nova centralização fiscal das receitas nas mãos da União, diminuindo, em parte, a descentralização fiscal imposta pela Constituição de 1988. As demais alternativas versam essencialmente sobre os aspectos que norteiam o próprio federalismo fiscal, que trata tanto da repartição das competências tributárias como pela assunção de obrigações em termos de gastos a serem realizados pelos demais entes da Federação (Estados, DF e Municípios). Gabarito: letra “a”. 5 - (APO/MPOG – ESAF/2003) Uma das preocupações importantes no desenho de sistemas tributários em regimes federativos é assegurar o necessário equilíbrio entre a repartição de competências impositivas e CURSO ON-LINE – PROFISSIONAL BÁSICO - BNDES ECONOMIA BRASILEIRA PARA ECONOMISTA PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br autonomia dos entes federados. Aponte a opção falsa no tocante ao federalismo fiscal. a) A federação reforça a descentralização e a descentralização amplia os espaços da democracia. b) O governo central deve procurar equalizar ou amenizar as desigualdades fiscais entre as jurisdições, por meio de transferências intra-governamentais. c) A descentralização dos recursos e do poder para administrá-los afeta a capacidade de o Estado atuar com a finalidade de evitar a concentração regional de renda. d) A partilha de competências tributárias é um instrumento poderoso de incentivo à cooperação. e) A descentralização de recursos aumenta as dificuldades de coordenação de política fiscal, com riscos para o atingimento das metas de equilíbrio macroeconômico. Comentários: No que se refere á alternativa “b”, não se trata em equalizar as desigualdades fiscais, mas sim as desigualdades sociais e econômicas, que diferentemente da desigualdade fiscal, derivada do próprio federalismo e enrijecida pela Constituição, pode ser amenizada por meio de transferências intra- governamentais, ou seja, entre o governo federal e o estadual, ou federal e municipal, via, por exemplo, distribuição de recursos do “Bolsa Família”. Gabarito: letra “b”.
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