Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 83 Karla Corrêa Barcelos ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA INTRODUÇÃO A anestesia local é o principal método de controle da dor transoperatória na prática odontológica. Geralmente, é uma maneira segura e efetiva de eliminação de desconforto durante procedimentos dolorosos. Os anestésicos locais têm sido usados na prática odontológica há mais de cem anos. O advento dos anestésicos locais, com o desenvolvimento das técnicas de injeção para bloqueio nervoso, permitiu uma nova fase de conforto para os pacientes, per- mitindo procedimentos odontológicos mais extensos e mais invasivos.1 Atualmente, o cirurgião-dentista dispõe de soluções anestésicas locais que possibilitam um adequado controle da dor no período transoperatório, muitas vezes se estendendo no perío- do pós-operatório, de acordo com as necessidades dos diferentes procedimentos odontológicos e a solução anestésica selecionada. O conhecimento farmacológico do anestésico pelo cirur- gião-dentista é essencial, pois direciona e facilita sua escolha, proporcionando melhor segu- rança e conforto ao paciente. Todas as soluções anestésicas usadas em Odontologia são eficazes. A decisão de qual fármaco escolher deve ser baseada na duração de ação estimada requerida e no histórico médico do paciente. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4283 84 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA OBJETIVOS Ao final da leitura deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de: aprofundar o conhecimento farmacológico acerca de anestésicos locais, direcionando e facilitando sua escolha, proporcionando melhor segurança e conforto ao paciente; reconhecer as reações adversas relacionadas com a utilização de anestésicos locais; conhecer as melhores indicações de anestésicos locais para pacientes especiais; atualizar-se sobre as falhas na anestesia local. ESQUEMA CONCEITUAL Reação psicogênica Reação alérgica Toxicidade Razões farmacológicas Razões do tratamento Razões anatômicas Formas dos sais anestésicos Tempo de duração do efeito Biotransformação Metemoglobinemia Parestesia Hipertermia maligna Mulheres grávidas e lactantes Crianças Idosos Razões patológicas Razões fisiológicas Farmacologia Sais anestésicos Reações adversas Anestésicos em pacientes especiais Vasoconstritores Conclusão Falhas na anestesia local Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4284 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 85 FARMACOLOGIA Os anestésicos locais são fármacos que bloqueiam reversivelmente a condução nervosa, inibindo o estímulo doloroso, quando aplicados em uma área delimitada do corpo, e determinam a perda da sensação dolorosa sem alterar o nível de consciência do indivíduo.2 A anestesia local é induzida quando a propagação de potenciais de ação é bloqueada, de tal maneira que a sensação não possa ser transmitida da origem da estimulação, como, por exemplo, o dente ou periodonto para o sistema nervoso central (SNC). A teoria mais aceita para explicar o mecanismo de ação dos anestésicos locais é a teoria do receptor específico. Segundo essa teoria, os anestésicos locais, após se difundirem para o interior do nervo, se ligam aos canais de sódio nas células nervosas, bloqueando a entrada do íon sódio, evitando, assim, que ocorram o potencial de ação e a condução do impulso nervoso ao SNC, não sendo possível, portanto, a percepção da dor. Estruturalmente, os anestésicos locais têm características incomuns, possuem três porções bem definidas em suas moléculas: porção hidrofílica (geralmente uma amina terciária), que permite a injeção nos tecidos; porção lipofílica (aromática); porção intermediária, localizada entre as duas primeiras, que pode ser um éster ou uma amida. Os primeiros anestésicos locais que surgiram foram os ésteres, tendo como precursor a cocaína. Entretanto, os ésteres apresentam alto potencial alergênico causado pelo seu metabólito, o ácido paraaminobenzóico (PABA), originado por hidrólise no plasma.3 Com a grande ocorrência de casos alérgicos por causa dos ésteres, surgiram com grande sucesso, em 1948, as amidas, como a lidocaína. Todos os anestésicos locais injetáveis para uso odontológico no Brasil pertencem à classe das amidas como, por exemplo, a lidocaína, a mepivacaína, a articaína, a prilocaína e a bupivacaína. Encontra-se apenas como representante da classe dos ésteres a benzocaína, usada na forma de pomada ou géis para anestesia tópica de mucosa. O inicio da ação (tempo de latência) dos anestésicos locais é influenciado por vários fatores como: pH do tecido; pKa do fármaco; lipossolubilidade do fármaco; concentração do fármaco. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4285 86 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA A duração de ação dos anestésicos locais depende do grau de vascularização do local em que a solução anestésica é injetada, e da associação ou não de um agente vasoconstritor à solução. FORMAS DOS SAIS ANESTÉSICOS Dentro dos tubetes, os sais anestésicos apresentam-se em duas formas quimicamente em equilíbrio, a forma não-ionizada (base neutra) e a forma ionizada (cátion). Ao ser injetado, dependendo do pH do local, o equilíbrio pode se deslocar para formar maior número de uma ou de outra forma. Em pH ácido, o equilíbrio se desloca para maior formação da forma ionizada, porém, a forma neutra é capaz de atravessar a bainha nervosa e penetrar no nervo. Isso explica as falhas de anestesia em tecidos inflamados ou infeccionados.4 Quando a forma neutra dos sais anestésicos consegue atravessar a membrana nervosa e encontra-se no interior do nervo, um novo equilíbrio se estabelece com os íons H+ presentes no interior do nervo, formando novamente as formas químicas não-ionizada e ionizada. A forma ionizada constituída dentro da célula nervosa, por sua vez, é a que tem a capacidade de se ligar à porção interna dos canais de sódio, impedindo a despolarização e bloqueando a condução do impulso nervoso.5 Dependendo do pKa (constante de dissociação) do anestésico local, que é a medida de afinidade de uma molécula pelos íons hidrogênio (H+), um número maior ou menor de moléculas passará para a forma não-ionizada, entrando mais rapidamente no nervo, bloqueando a condução do impulso. Os anestésicos lidocaína, mepivacaína, prilocaína e articaína são os que apresentam menor tempo de latência, pois não possuem diferenças clinicamente significantes entre os valores de pKa (7,7 e 7,8). A bupivacaína, que apresenta pKa mais alto (cerca de 8,1), possui, ao contrário dos outros anestésicos, o inconveniente de levar longo tempo para o bloqueio efetivo, cerca de 10 minutos ou mais.4 TEMPO DE DURAÇÃO DO EFEITO O tempo de duração de efeito dos anestésicos locais depende do tempo que o fármaco permanece no nervo bloqueando os canais de sódio. Os anestésicos locais causam vasodilatação, o que leva a uma rápida difusão do sitio de ação, diminuindo seu tempo de ação. Esta difusão pode ser reduzida pela adição de um vasoconstritor ao anestésico local. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4286 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 87 As anestesias na técnica de bloqueio, em geral, duram mais do que as infiltrativas, assim como as anestesias em tecido mole duram mais do que a anestesia pulpar. No Quadro 1, está sintetizada a duração de ação do local anestesiado, de acordo com a administração de cada anestésico. * Valores aproximados em minutos. Fonte: Adaptado de Yagela (1998).6 BIOTRANSFORMAÇÃO A biotransformação das amidas ocorre principalmente no fígado, enquanto os ésteres são biotransformados no plasma por uma enzima chamada de pseudocolinesterase, que atua nos ésteres formando metabólitos do tipo PABA. Esses metabólitos são responsáveis pelos casos alérgicos que surgem comos anestésicos da classe dos ésteres. Em pacientes com desordem genética da pseudocolinesterase pode ser esperada metabolização da procaína (ou benzocaína) muito lenta. Entretanto, poucos efeitos clínicos seriam esperados, a menos que a dose fosse alta. Do ponto de vista clínico, o cirurgião-dentista deverá se preocupar caso o paciente tenha disfunção hepática do tipo severa, pois esse pode apresentar alterações na metabolização dos anestésicos. Quadro 1 DURAÇÃO DE AÇÃO DOS ANESTÉSICOS LOCAIS* Anestésico Articaína 4% com adrenalina 1:100.000 Bupivacaína 0,5% com adrenalina 1:200.000 Lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 Mepivacaína 3% sem vasoconstritor Prilocaína 3% com felipressina 60 190 40 340 60 170 25 90 90 230 240 440 85 190 40 165 Infiltração maxilar Polpa Tecido mole Bloqueio alveolar inferior Polpa Tecido mole Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4287 88 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA A redução da função hepática predispõe o paciente a efeitos tóxicos e aumento do tempo de ação quando os fármacos são administrados sistemicamente. Diferentemente, com os anestésicos, não haveria aumento significante do tempo de ação quando administrados localmente. Portanto, a função hepática não afeta o tempo de ação dos anestésicos locais, mas sim a redistribuição dos seus metabólitos e, assim, o risco de toxicidade sistêmica em doses elevadas. Devido à redistribuição dos metabólitos dos anestésicos locais, os pacientes que apresentam doença hepática precisam de uma quantidade mais limitada de anestésico local em cada sessão. Assim, em pacientes com significante injuria hepática, é prudente tratar um quadrante de cada vez podendo, dessa forma, minimizar a dose total do anestésico. Uso de ésteres nesses pacientes não oferece nenhuma vantagem, porque a pseudocolinesterase é também sintetizada no fígado. 1. Quais os benefícios para o paciente trazidos pelo advento dos anestésicos locais? 2. Qual o mecanismo de ação dos anestésicos locais? A) Bloqueiam canais de cálcio. B) Bloqueiam canais de cloro. C) Bloqueiam canais de sódio. D) Bloqueiam canais de potássio. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4288 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 89 3. Em relação às porções definidas de moléculas dos anestésicos locais, qual das alternati- vas está INCORRETA? A) A porção intermediária pode ser um éster ou uma amida. B) A porção hidrofílica (geralmente uma amina terciária) permite a injeção nos tecidos. C) A porção lipofílica é considerada aromática. D) A porção hidrofílica (geralmente uma amina quaternária) permite a injeção nos tecidos. Resposta no final do capítulo 4. Qual alternativa apresenta somente amidas que são utilizadas em Odontologia? A) Procaína, lidocaína, prilocaína. B) Lidocaína, mepivacaína, cocaína. C) Benzocaína, articaína, lidocaína. D) Lidocaína, mepivacaína, prilocaína. Resposta no final do capítulo 5. Assinale a resposta correta. A) Os ésteres são metabolizados principalmente pela enzima pseudocolinesterase. B) As amidas são metabolizadas principalmente pela enzima pseudocolinesterase. C) Os ésteres e as amidas são metabolizados pela pseudocolinesterase. D) As amidas e os ésteres somente são metabolizados na pele. Resposta no final do capítulo SAIS ANESTÉSICOS Todos os agentes anestésicos locais conhecidos tiveram sua origem a partir da descoberta de uma planta nativa da América do Sul, conhecida por erythroxylon coca. Um de seus alcalóides é a cocaína. Logo que descoberta, a planta foi levada à Europa, onde o alcalóide puro, a cocaína, foi quimicamente isolado. A cocaína, para fins de anestesia local e regional, logo foi utilizada em grande escala na América e na Europa. Os efeitos tóxicos da cocaína não foram bem identificados, resultando em algumas mortes de pacientes e de profissionais. A anestesia local teve uma profunda crise antes do desenvolvimento da moderna química orgânica, que proporcionou a síntese da cocaína pura em 1891. Novos anestésicos locais da família aminoéster foram sintetizados entre 1891 e 1930, como a tropocaína, eucaína, holocaína, orthoformio, benzocaína e tetracaína. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4289 90 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA Posteriormente, os anestésicos locais aminoamida foram preparados entre 1898 e 1972, incluíndo a nirvaquina, procaína, cloroprocaína, cinchocaína, lidocaína, mepivacaína, prilocaína, efocaína, bupivacaína, etidocaína e articaína. Todos esses fármacos são ostensivamente menos tóxicos do que a cocaína, embora difiram entre si em relação à toxicidade sobre o SNC e o sistema cardiovascular.7,8 A lidocaína continua sendo o anestésico local padrão. Devido ao seu pKa, possui tempo de latência (inicio de ação) curto, de cerca de dois a três minutos. Suas propriedades vasodilatadoras reduzem o tempo de ação quando utilizada sem vasoconstritor (5 a 10 minutos de anestesia pulpar e uma a duas horas em tecidos moles). Quando associada a um agente vasoconstritor, a duração da anestesia aumenta consideravelmente, passando para cerca de uma hora de anestesia pulpar e duas a três horas nos tecidos moles. A lidocaína, no Brasil, pode ser encontrada para uso odontológico nas concentra- ções de 2 e 3% sem vasoconstritores, ou associada a vasoconstritores como a adrenalina (1:50.000 e 1:100.000), noradrenalina (1:50.000) e fenilefrina (1:2.500). A lidocaina a 2% apresenta eficácia comprovada para uso odontológico, não sendo justificado o uso de solução mais concentrada (3%), predispondo o paciente a mai- or risco de toxicidade. Os primeiros sinais e sintomas da intoxicação pela lidocaína podem incluir sonolência, que leva à perda da consciência e à parada respiratória.9 Rood e colaboradores10 afirmaram que a lidocaína tem ação anticonvulsivante em baixas doses, embora tenha ação proconvulsivante quando aplicada em altas doses. A mepivacaína, assim como a lidocaína, é um anestésico de média duração, mas apresenta ação vasodilatadora menor do que a lidocaína. No Brasil, encontra-se a mepivacaína nas concentrações de 2% com vasoconstritor (adrenalina, noradrenalina e levonordefrina), e 3% sem vasoconstritor, apresentando nessa forma, anestesia pulpar de 20 minutos na técnica infiltrativa e de 40 minutos na técnica de bloqueio. A prilocaína é um derivado aminossecundário da toluidina. É um pouco menos potente do que a lidocaína, porém, menos tóxico. No Brasil, a prilocaína é comercializada a 3% com o vasoconstritor felipressina (Octapressin®) a 0,03UI/mL. Os casos de cianose observados após a administração de grandes doses de prilocaína (superiores a 400mg) são resultantes da formação de um metabólito, a o-toluidina, conhecido indutor da metemoglobina. Já está comprovado que 400mg de prilocaína são capazes de aumentar somente 1% do nível de metemoglobina. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4290 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 91 Para o ser humano desenvolver a metemoglobinemia é necessário ter um nível de metemoglobina superior a 20%. Pacientes normais têm níveis de 3 a 5%, portanto, o risco é mínimo. O risco de desenvolver a metemoglobinemia é maior em pacien- tes recém-nascidos (para os quais não se prescreve nem se aplica prilocaína), nos idosos (devido à possibilidade de terem taxa de metemoglobina aumentada) e em pacientes com patologias cardiorrespiratórias cianosantes (obstrutivas). Deve-se ci- tar o risco de metemoglobinemia causada pela prilocaína, mas não alarmar, como foi feito na década de 1990, por interesses comerciais. A articaína é um anestésico utilizado na Alemanha desde 1976 e introduzido nos Estados Unidos, no Canadá e no Brasil em 2000. Originalmente conhecida como carticaína, é o único anestésico do grupo amida que possui o grupo tiofeno,em vez do anel benzênico, o que lhe confere maior lipossolubilidade. A articaína também possui uma porção éster, que permite sua metabolização no plasma e no fígado. Essa diferença estrutural faz com que ela seja uma mistura de éster com amida sendo, inclusive, hidrolisada por estearases.11 Uma vez que essa hidrólise começa de forma rápida, iniciando imediatamente após a injeção, cerca de 90% da articaína são inativados nessa via. O principal produto metabólico resultante, o ácido articaínico, é inativo como anestésico local, não apresentando toxicidade sistêmica. A bupivacaína é o único anestésico de longa duração disponível no Brasil. A bupivacaína é homóloga à mepivacaína e é quatro vezes mais potente e mais tóxica. Apresenta tempo de latência maior do que as outras amidas, entre 5 a 10 minutos. Para a Odontologia, o cloridrato de bupivacaína a 0,5% é disponível com adrenalina 1:200.000, proporcionando, por meio do bloqueio alveolar inferior, anestesia pulpar de 3 horas e, em tecidos moles, anestesia de até 12 horas. 6. Qual anestésico local proporciona maior tempo de ação? A) Lidocaína. B) Bupivacaína. C) Prilocaína. D) Mepivacaína. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4291 92 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA 7. Correlacione as colunas com os respectivos anestésicos locais. (1) Anestésicos locais aminoamida (2) Anestésicos locais aminoéster Resposta no final do capítulo 8. Qual das alternativas corresponde ao anestésico local padrão? A) Nepivacaína. B) Articaína. C) Lidocaína. D) Prilocaína. Resposta no final do capítulo 9. Por que não é justificado o uso de lidocaína em solução mais concentrada (3%), e o que essa maior concentração pode causar em relação ao paciente? 10. Qual é o motivo da articaína possuir maior lipossolubilidade do que outros anestésicos do grupo amida? 11. A duração da anestesia com lidocaína aumenta consideravelmente quando ocorre uma situação específica. Cite qual das alternativas explica esse fato. A) Quando há o aumento da concentração de 2 para 3%. B) Quando há a administração de grandes doses de lidocaína. C) Quando a lidocaína está associada a um agente vasoconstritor. D) Todas as alternativas estão incorretas. Resposta no final do capítulo ( ) Procaína, cloroprocaína, cinchocaína. ( ) Eucaína, holocaína, orthoformio. ( ) Benzocaína, tetracaína, tropocaína. ( ) Bupivacaína, etidocaína e articaína. ( ) Nirvaquina, procaína, cloroprocaína. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4292 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 93 12. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) em relação à administração de prilocaína. ( ) O risco de desenvolver a metemoglobinemia é maior em pacientes idosos, devido à possibilidade de terem taxas de metemoglobina diminuída. ( ) Para o ser humano desenvolver a metemoglobinemia é necessário ter um nível de metemoglobina inferior a 20%. ( ) O risco de desenvolver a metemoglobinemia é maior em pacientes recém-nascidos, para os quais não se prescreve nem se aplica prilocaína. ( ) Pacientes normais têm níveis de metemoglobina de 3 a 5%, portanto, o risco para desenvolver a metemoglobinemia é grande. Resposta no final do capítulo VASOCONSTRITORES A associação dos vasoconstritores com os anestésicos locais oferece vantagens para a anestesia local como o aumento do tempo de ação, absorção sistêmica mais lenta do fármaco, diminuindo assim, o risco de toxicidade e um menor sangramento cirúrgico. No Brasil, o cirurgião-dentista dispõe de soluções anestésicas locais com dois tipos de vasoconstritores: aminas simpatomiméticas (adrenalina, noradrenalina, levonordefrina e fenilefrina); felipressina. Deve-se ressaltar que, segundo as Denominações Comuns Brasileiras (DCB), a adrenalina é denominada como epinefrina, a noradrenalina como norepinefrina e a levonordefrina como corbadrina. Portanto, esses fármacos são utilizados nas embalagens e bulas das soluções anestésicas locais comercializadas no Brasil. A adrenalina somente começou a ser comercializada no Brasil associada com a lidocaína em 1997, nas concentrações de 1:50.000 e 1:100.000. A concentração de 1:50.000 de adrenalina é muito alta, não devendo ser utilizada em Odontologia, pois oferece maiores riscos cardiovasculares em caso de injeção intravascular acidental ou complicações locais como a necrose de tecidos, devido a uma isquemia muito intensa. A adrenalina encontra-se disponível em concentrações de 1:50.000 (lidocaína), 1:100.000 (lidocaína e articaína) e 1:200.000 (lidocaína, articaína, prilocaína e bupivacaína). A noradrenalina não parece oferecer vantagens sobre a adrenalina. Seu uso é restrito em vários países, pois a maioria dos relatos de reações adversas devido ao uso de vasoconstritores parece ter ocorrido com essa amina simpatomimética. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4293 94 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA A noradrenalina, quando injetada intravascularmente, eleva drasticamente a pres- são arterial, representando um risco adicional em pacientes com doenças cardiovasculares. A fenilefrina, apesar de possuir menor potência do que a adrenalina e, por isso, apresentar- se muito concentrada em soluções comerciais (1:2.500), tem maior estabilidade, pois não é facilmente metabolizada no organismo conferindo assim, duração mais prolongada. Portanto, no caso de uma injeção intravascular acidental, teoricamente, devido ao seu maior tempo de ação e alta concentração, poderá ocorrer crise hipertensiva com maior durabilidade. A felipressina é um análogo sintético da vasopressina (hormônio antidiurético), portanto se diferencia dos outros vasoconstritores por não ser uma amina simpatomimética. A felipressina age em receptores que estão predominantemente nas veias, e não em receptores α e β como as aminas simpatomiméticas, não induzindo, então, alterações significativas na pressão arterial. No Brasil, a felipressina, para uso odontológico, está somente associada ao sal anestésico prilocaína. 13. Qual(is) o(s) benefício(s) da associação dos anestésicos locais com os vasoconstritores? 14. A levonordefrina, a fenilefrina, a adrenalina e a noradrenalina correspondem a qual tipo de vasoconstritores? Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4294 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 95 15. Assinale V (verdadeiro) e F (falso) em relação às características da noradrenalina e da adrenalina. ( )A noradrenalina, quando injetada intravascularmente, eleva drasticamente a pres- são arterial representando um risco adicional em pacientes com doenças cardiovasculares. ( )A concentração de 1:50.000 de adrenalina é muito alta, podendo ser utilizada em Odontologia, pois não oferece maiores riscos cardiovasculares. ( )A noradrenalina oferece vantagens sobre a adrenalina. ( )A adrenalina somente começou a ser comercializada no Brasil associada com a lidocaína em 1997, nas concentrações de 1:150.000 e 1:200.000. Resposta no final do capítulo 16. Assinale a alternativa INCORRETA em relação à fenilefrina e à felipressina. A) A felipressina é um análogo sintético da vasopressina (hormônio antidiurético), por- tanto se diferencia dos outros vasoconstritores por não ser uma amina simpatomimética. B) A felipressina age em receptores que estão predominantemente nas veias, e não em receptores α e β como as aminas simpatomiméticas, não induzindo, então, altera- ções significativas na pressão arterial. C) No caso de uma injeção intravascular acidental de fenilefrina, teoricamente, devido ao seu menor tempo de ação e alta concentração, poderá ocorrer crise hipertensiva com maior durabilidade. D) A fenilefrina, apesar de possuir menor potência do que a adrenalina e, por isso, apresentar-se muito concentrada em soluções comerciais (1:2.500), temmaior esta- bilidade, pois não é facilmente metabolizada no organismo, conferindo assim, dura- ção mais prolongada. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4295 96 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA REAÇÕES ADVERSAS As reações adversas apresentadas com o uso de anestésicos locais são reação psicogênica, reação alérgica, toxicidade, metemoglobinemia, parestesia e hipertermia maligna. REAÇÃO PSICOGÊNICA A anestesia é um dos procedimentos clínicos que gera maior grau de ansiedade por parte do paciente. Essa ansiedade pode se manifestar de várias maneiras, sendo a mais comum a síncope. A reação psicogênica pode aparecer com grande variedade de sintomas, incluindo: hiperventilação; náusea; vômitos; alterações cardíacas e/ou de pressão arterial. REAÇÃO ALÉRGICA As manifestações alérgicas aparecem como outro fator de reações adversas, a partir da administração de anestésicos locais. A alergia aos anestésicos do tipo amida (que são os anestésicos injetáveis utilizados no Brasil) é rara, enquanto com os ésteres (alguns tipos de anestésicos tópicos) é mais freqüente. A alergia a um éster, por via de regra, impede o uso de outro éster devido ao componente alérgeno, o metabólito ácido PABA, e o metabolismo de todos os ésteres produz esse componente. A alergia à adrenalina é impossível. A alergia pode, também, se manifestar devido a outros componentes contidos no tubete anestésico. Por exemplo, alergia ao metilparabeno, que é um conservante necessário, principalmente, em tubetes de plástico. Pacientes que apresentam alergia ao ácido PABA não devem utilizar anestésico que contém metilparabeno. Os sulfitos são antioxidantes dos vasoconstritores do tipo aminas simpatomiméticas (adrenalina, noradrenalina, fenilefrina e levonodrefina) e, também, são responsáveis por casos de alergia. O vasoconstritor pode ser usado em pacientes com alergia aos antimicrobianos sulfonamidas, comumente chamados de sulfas, que não apresentam alergia cruzada com os sulfitos. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4296 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 97 TOXICIDADE A toxicidade com anestésico local tem maior chance de ocorrer quando ele está sem vasoconstritor, é utilizado em altas doses e é administrado por meio de injeção intravascular. Todas essas situações juntas contribuem para que haja uma absorção mais rápida, e que quantidades maiores de anestésicos estejam na circulação sistêmica, aumentando o risco de um quadro de toxicidade. Por essas razões é que a aspiração deve ser sempre realizada previamente, antes da injeção do anestésico. O conhecimento por parte do cirurgião-dentista sobre a dose máxima de segurança do anestésico local que pode ser administrada no paciente é fundamental, para evitar a toxicidade, principalmente em pacientes na odontopediatria. METEMOGLOBINEMIA A metemoglobinemia, uma reação adversa incomum, está associada principalmente à prilocaína, mas também pode ocorrer com a benzocaína. É um distúrbio hematológico induzido pelo excesso de metabólitos dos anestésicos locais, manifestando-se como uma aparência cianótica que não responde à administração de 100% de oxigênio. A cianose torna-se aparente mesmo quando níveis de metemoglobina estão baixos, mas sintomas mais graves, como náusea, sedação e até mesmo coma, podem ocorrer quando os níveis de metemoglobina estão altos. A prilocaína e a benzocaína devem ser evitadas em pacientes com metemoglobinemia congênita, em pacientes grávidas e em pacientes com anemia. A metemoglobinemia não é motivo de temor em pacientes normais. PARESTESIA A parestesia e as anestesias prolongadas fazem parte dos riscos cirúrgicos, mas também podem ocorrer após procedimentos não-cirúrgicos. A maioria dessas reações é transitória e apresenta melhora em cerca de oito semanas, mas há aquelas que se tornam permanentes. Segundo alguns relatos, a articaína e a prilocaína, entre os anestésicos do tipo amidas, são as mais associadas com a parestesia, uma diferença que foi estatisticamente significante em relação à distribuição de uso. O nervo lingual é o mais comumente afetado. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4297 98 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA HIPERTERMIA MALIGNA Acreditava-se que os anestésicos locais deveriam ser usados com precaução ou até mesmo evitados em pacientes com hipertermia maligna. Mas, hoje, já está estabelecido que a hipertermia maligna pode ocorrer quando pacientes com susceptibilidade genética para essa condição são expostos à inalação de anestésico geral ou à succinilcolina, mas não a anestésicos locais. Portanto, já está aceito que todos os anestésicos locais são seguros para pacientes susceptíveis à hipertermia maligna. Os anestésicos locais, apesar de serem fármacos relativamente seguros, podem apresentar efeitos adversos (Quadro 2). No Quadro 3, são apresentados efeitos colaterais de alguns anestésicos locais, os ésteres, o metabissulfito, o metilparabeno, a prilocaína, a benzocaína e a articaína. Quadro 2 EFEITOS ADVERSOS DOS ANESTÉSICOS LOCAIS DescriçãoEfeitos Síncope (mais comum) Hiperventilação Náusea Vômito Alterações na freqüência cardíaca e pressão arterial Mimetização de uma reação alérgica Pode inicialmente se manifestar como sedação, perturbação sensorial, desorientação Aumento da pressão respiratória pode resultar em tremores, depressão respiratória, convulsões tônico-clônica De forma mais severa pode resultar em coma, depressão respiratória e cardiovascular Psicogênicos Tóxicos Quadro 3 EFEITOS CAUSADOS POR ALGUNS ANESTÉSICOS LOCAIS AnestésicosEfeitos Ésteres (alergia com amida é rara) Metabissulfito (presente em anestésicos com aminas simpatomiméticas) Metilparabeno Prilocaína e benzocaína Articaína e prilocaína (aparentemente mais comum com esses fármacos) Alergia (alérgenos potenciais) Metemoglobinemia Parestesia Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4298 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 99 17. A ansiedade em relação à anestesia por parte do paciente pode se manifestar de várias maneiras. Assinale V (verdadeiro) e F (falso) para os sintomas que fazem parte do quadro que antecede o uso de analgésicos locais. ( ) Prurido. ( ) Sonolência. ( ) Vômitos. ( ) Alterações cardíacas. Resposta no final do capítulo 18. Qual o componente alérgeno que impede o uso de outro éster? A) A noradrenalina. B) A levonodrefina. C) O metabólito ácido PABA. D) A adrenalina. Resposta no final do capítulo 19. Qual a restrição para a administração de vasoconstritores em pacientes com alergia aos antimicrobianos sulfonamidas? 20. Qual substância não deve estar contida em anestésicos utilizados por pacientes que apre- sentam alergia ao ácido PABA? Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:4299 100 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA 21. Assinale a alternativa que reúne os três motivos que aumentam a chance de toxicidade com anestésico local. A) Quando o anestésico é utilizado em altas doses ou é administrado por meio de injeção intramuscular ou está com vasoconstritor. B) Quando o anestésico está sem vasoconstritor ou é utilizado em pequenas doses ou é administrado por meio de injeção intravascular. C) Quando é o anestésico é administrado por meio de injeção intramuscular ou é utilizado em altas doses ou está com vasoconstritor. D) Quando o anestésico é utilizado em altas doses ou é administrado por meio de injeção intravascular ou está sem vasoconstritor. Resposta no final do capítulo 22. Quais pacientes são contra-indicados para receber a prilocaína? A) Gestantes, anêmicos, e portadores de metemoglobinemia congênita. B) Cardiopatas, idosos. C) Crianças, cardiopatas, febre reumática. D) Diabéticos,cardiopatas, intolerância a sulfitos. Resposta no final do capítulo 23. Relacione a primeira coluna com a segunda, associando os anestésicos locais com seus efeitos adversos correspondentes. (1) Prilocaína e benzocaína (2) Metabissulfito e metilparabeno (3) Articaína e prilocaína (4) Psicogênicos Resposta no final do capítulo 24. Qual anestésico é capaz de induzir metemoglobinemia? A) Bupivacaína. B) Lidocaína. C) Prilocaína. D) Procaína. Resposta no final do capítulo ( ) Alterações na freqüência cardíaca e pressão arterial, mimetização de uma reação alérgica. ( ) Parestesia. ( ) Metemoglobinemia. ( ) Alergia. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42100 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 101 ANESTÉSICOS EM PACIENTES ESPECIAIS A administração de anestésicos em mulheres grávidas e lactantes, bem como em crianças e idosos devem seguir algumas recomendações. MULHERES GRÁVIDAS E LACTANTES Os anestésicos locais e vasoconstritores usados em Odontologia podem ser administrados com segurança em pacientes grávidas ou que estão amamentando. Entretanto, a aspiração prévia é recomendada para tentar evitar a injeção intravascular. Segundo a classificação da Food and Drug Administration (FDA), a lidocaína e a prilocaína ocupam melhores posições no ranking, sendo classificadas como fármacos B. Todavia, a lidocaína é preferível por apresentar uma formulação com menor concentração, oferecendo, assim, anestesia eficaz em menor dose. Para anestesia tópica, a lidocaína também é a mais segura. O uso de vasoconstritores é indicado como uma forma de reduzir a toxicidade do anestésico e aumentar sua duração e sua efetividade. A adrenalina é o vasoconstritor indicado em baixas doses (1:100.000), proporcionando segurança e conforto. O vasoconstritor felipressina deve ser evitado, pois devido a uma semelhança estrutural química com o hormônio ocitocina, poderia, em altas doses, alterar o grau de contração uterina. Além disso, a prilocaína (sal associado à felipressina no Brasil) tem, entre os anestésicos mais utilizados, o menor tamanho molecular, o que facilita sua passagem pela barreira placentária, proporcionando assim, maiores chances de toxicidade para o feto. CRIANÇAS O maior risco com pacientes crianças é a toxicidade. Antes da administração do anestésico em crianças, o cirurgião-dentista deve determinar, por meio do peso corporal, a dose máxima a ser administrada. Para se evitar a overdose com anestésico local, é prudente usar uma solução com baixa concentração. Assim, a lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 pode ser o anestésico local ideal para criança. A bupivacaína é contra-indicada para crianças abaixo de 12 anos, pois seu efeito prolongado em tecidos moles pode induzir a mastigação e ulcerações nos lábios e bochechas. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42101 102 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA IDOSOS Em idosos, é prudente também utilizar o anestésico abaixo da dose máxima recomendada, assim também com a dose de adrenalina. É válido lembrar que no idoso a função hepática é menor do que no adulto jovem. FALHAS NA ANESTESIA LOCAL As falhas durante a anestesia local podem estar associadas aos seguintes fatores: farmacológicos; de tratamento; anatômicos; patológicos; fisiológicos. RAZÕES FARMACOLÓGICAS Duas são as razões pelas quais os anestésicos locais podem perder sua eficácia: quando são usados após a data de validade; quando ficam estocados de forma inapropriada. A estocagem dos tubetes de anestésicos locais em lugares quentes e com a luz direta proporcionam a oxidação de todos os vasoconstritores do grupo das aminas simpatomiméticas, diminuindo seu efeito e alterando o pH da solução anestésica. O anestésico deve ser armazenado em lugares sem luz e de preferência na geladei- ra, sendo retirado antes da injeção para evitar o desconforto. A solução anestésica local, quando exposta à luz solar, sofre a ação dos raios ultravioleta que sozinhos ou em combinação com os raios infravermelhos provocam uma rápida diminuição da concentração do vasoconstritor. Também pode ser observada a redução do pH quando a solução é armazenada em ambiente com temperatura mais elevada. Analisando as soluções anestésicas locais disponíveis no mercado brasileiro por cromatografia líquida de alta eficiência por até dois anos, Ramacciato12 concluiu que a melhor forma de estocagem para manutenção da estabilidade química é dentro da caixa original do produto em geladeira (± 5oC). Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42102 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 103 RAZÕES DO TRATAMENTO A eficácia da anestesia depende do procedimento a ser realizado. Os tratamentos mais difíceis para o sucesso da anestesia são os endodônticos e extrações livres de dor. RAZÕES ANATÔMICAS Há vários fatores anatômicos que influenciam a eficácia da anestesia local, como constam no Quadro 4. RAZÕES PATOLÓGICAS Dentes com polpas inflamadas são mais difíceis para serem anestesiados em relação àqueles não-inflamados. Tem sido demonstrado que dentes com pulpites irreversíveis apresentam até oito vezes mais falhas na anestesia, quando comparados com dentes não-inflamados. As explicações clássicas para esse fato são: alterações no pH do tecido; aumento na vasculatura levando à absorção mais rápida do anestésico. Os nervos tornam-se hiperalgésicos na presença da inflamação. Isso significa que eles são excitados mais rapidamente com qualquer estímulo, levando a uma sensibilização e à ativação das fibras sensitivas. Os canais de sódio não são homogêneos e, nas fibras sensitivas, tem sido relatado que eles são quatros vezes menos sensíveis aos anestésicos locais. Para tentar resolver essa situação, podem ser utilizados alguns critérios: mudança de fármaco anestésico; aumento da concentração de anestésico local; injeção de mais solução. Quadro 4 FATORES ANATÔMICOS QUE INFLUENCIAM A EFICÁCIA DA ANESTESIA LOCAL ConseqüênciaFatores A mandíbula e corticais ósseas densas podem evitar ou dificultar a difusão dos anestésicos locais. As áreas consideradas “alvos” das técnicas anestésicas podem variar anatomicamente. Uma tomada radiográfica muitas vezes demonstra a localização de um forame. Nem todos os dentes são igualmente suscetíveis aos efeitos da anestesia local. No bloqueio alveolar inferior, os dentes molares apresentam melhor anestesia pulpar em relação aos anteriores. Uma explicação é que há mais nervos acessórios na região anterior. Barreiras para difusão da anestesia local Variações na posição do forame Posição do dente na arcada e nervos acessórios Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42103 104 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA Para maior eficácia, o melhor anestésico, em casos de hiperalgesia, é aquele que apresenta menor pKa. No Brasil, a mepivacaína é o anestésico com essa característica, apesar de não haver evidências clínicas que relatem essa vantagem. Há evidências que fármacos com maiores concentrações apresentam melhor eficácia, porém, o risco de toxicidade também aumenta muito, não justificando assim, sua utilização. A injeção com mais solução tem sido o método mais efetivo para solucionar o problema da hiperalgesia, repetindo a injeção inicial e combinando técnicas, tal como a intraligamentosa e o bloqueio regional. Vale lembrar que a sobredose de anestésico local pode levar à toxicidade, então, deve-se sempre respeitar o limite máximo do fármaco. RAZÕES FISIOLÓGICAS É mais difícil se conseguir a eficácia da anestesia com o paciente ansioso. A sedação consciente seja por meio de fármacos, seja por meio da inalação pode ajudar a contornar esse problema. 25. Qual é o maior risco em relação ao uso de anestésicos em crianças? 26. As falhas durante a anestesia local podem estarassociadas aos fatores abaixo, EXCETO: A) Farmacológicos. B) Patológicos. C) Neurológicos. D) Anatômicos. Resposta no final do capítulo Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42104 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 105 27. Cite alguns dos fatores anatômicos que influenciam a eficácia da anestesia local. CONCLUSÃO Todas as soluções anestésicas usadas em Odontologia são eficazes. A decisão de qual droga escolher deve ser baseada na duração de ação estimada requerida e histórico médico do paciente. RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 2 Resposta: C Comentário: Os anestésicos locais bloqueiam os canais de sódio. A teoria mais aceita para explicar o mecanismo de ação dos anestésicos locais é a teoria do receptor específico. Segundo essa teoria, os anestésicos locais, após se difundirem para o interior do nervo, se ligam aos canais de sódio nas células nervosas bloqueando a entrada do íon sódio, evitando, assim, que ocorra o potencial de ação e a condução do impulso nervoso ao SNC, não sendo possível, portanto, a percepção da dor. Atividade 3 Resposta: D Comentário: Geralmente, a porção hidrofílica é uma amina terciária. Atividade 4 Resposta: D Comentário: A alternativa D é a única que somente contém amidas; as alternativas A, B e C além de amidas, também têm exemplos de ésteres. Atividade 5 Resposta: A Comentário: Os ésteres são metabolizados pela pseudocolinesterase. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42105 106 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA Atividade 6 Resposta: B Comentário: A bupivacaína apresenta maior tempo de ação de todas as amidas disponíveis no mercado como solução de anestésico local no Brasil. Atividade 7 Chave de respostas: 2; 1; 1; 2; 2 Atividade 8 Resposta: C Comentário: A lidocaína continua sendo o anestésico local padrão. Devido ao seu pKa, possui tempo de latência (inicio de ação) curto de cerca de dois a três minutos. Suas propriedades vasodilatadoras reduzem o tempo de ação quando utilizada sem vasoconstritor (5 a 10 minutos de anestesia pulpar e uma a duas horas em tecidos moles). Quando associada a um agente vasoconstritor, a duração da anestesia aumenta consideravelmente, passando para cerca de uma hora de anestesia pulpar e duas a três horas nos tecidos moles. Atividade 11 Resposta: C Comentário: Quando associada a um agente vasoconstritor, a duração da anestesia aumenta consideravelmente, passando para cerca de uma hora de anestesia pulpar e duas a três horas nos tecidos moles. Atividade 12 Chave de respostas: F; F; V; F Atividade 15 Chave de respostas: V; F; F; F Atividade 16 Resposta: D Comentário: A alternativa D está incorreta, pois, no caso de uma injeção intravascular acidental de fenilefrina, teoricamente, devido ao seu maior tempo (e não menor tempo) de ação e alta concentração, poderá ocorrer crise hipertensiva com maior durabilidade. Atividade 17 Chave de respostas: F; F; V; V Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42106 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 107 Atividade 18 Resposta: C Comentário: A noradrenalina, a levonodrefina e a adrenalina são, apenas, aminas simpatomiméticas. Atividade 21 Resposta: D Comentário: A toxicidade com anestésico local tem maior chance de ocorrer quando ele está sem vasoconstritor; é utilizado em altas doses ou é administrado por meio de injeção intravascular. Todas essas situações contribuem para que haja uma absorção mais rápida, e que quantidades maiores de anestésicos estejam na circulação sistêmica, aumentando o risco de um quadro de toxicidade. Por essas razões é que a aspiração deve ser sempre realizada previamente, antes da injeção do anestésico. Atividade 22 Resposta: A Comentário: Somente pacientes na condição de gestante e portadores de anemia e metemoglobinemia congênita são contra-indicados. Atividade 23 Chave de respostas: 4; 3; 1; 2 Atividade 24 Resposta: C Comentário: A prilocaína é o anestésico capaz de desencadear o quadro de metemoglobinemia. Atividade 26 Resposta: C Comentário: Fatores neurológicos não estão associados entre as falhas da anestesia local. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42107 108 ANESTÉSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA REFERÊNCIAS 1. Budenz AW. Local anesthetics in dentistry: then and now. J Calif Dent Assoc. 2003 May;31(5):388-96. 2. Neidle EA, Kroeger DC, Yagiela JA. Farmacologia e Terapêutica para Dentistas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1983. 3. Eggleston ST, Lush LW. Understanding allergic reactions to local anesthetics. Ann Pharmacother. 1996 Jul-Aug;30(7-8):851-7. 4. Volpato MC, Ranali J, Ramacciato JC, de Oliveira PC, Ambrosano GM, Groppo FC. Anesthetic efficacy of bupivacaine solutions in inferior alveolar nerve block. Anesth Prog. 2005 Winter;52(4):132-5. 5 Meechan JG, Robb NB, Seymour RA. Pain and anxiety control for the conscious dental patient. New York: Oxford University Press; 1998. 6. Yagiela JA. Anestésicos Locais. In: Yagiela JA, Neidle EA. Farmacologia e Terapêutica para Dentistas. 4 ed. Saint Louis: Mosby; 1998. p. 217-34. 7. Ruetsch YA, Böni T, Borgeat A. From cocaine to ropivacaine: the history of local anesthetic drugs. Curr Top Med Chem. 2001 Aug;1(3):175-82. 8. Faria FA, Marzola C. Farmacologia dos anestésicos locais – considerações gerais. BCI. 2001;8(29): 19-30. 9. Malamed SF. Manual de Anestesia Local. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 10. Rood JP, Coulthard P, Snowdon AT, Gennery BA. Safety and efficacy of levobupivacaine for postoperative pain relief after the surgical removal of impacted third molars: a comparison with lignocaine and adrenaline. Br J Oral Maxillofac Surg. 2002 Dec;40(6):491-6. 11. Oertel R, Rahn R, Kirch W. Clinical pharmacokinetics of articaine. Clin Pharmacokinet. 1997 Dec;33(6):417-25. 12. Ramacciato JC. Estabilidade das soluções anestéscias locais comerciais disponíveis no Brasil [tese]. Piracicaba (SP): Faculdade de Odontologia de Piracicaba, FOP-UNICAMP; 2003. REFERÊNCIAS RECOMENDADAS Andrade ED. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. São Paulo: Artes Médicas; 1998. Gerke DC, Crabb GA, Frewin DB. The effect of irradiation and heat on the content of adrenaline in commercially manufactured local anaesthetic solutions—a pilot study. Aust Dent J. 1978 Aug;23(4):311-3. Haas DA. An update on local anesthetics in dentistry. J Can Dent Assoc. 2002 Oct;68(9):546-51. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42108 PRO-ODONTO | CIRURGIA | SESCAD 109 Haas DA, Lennon D. A 21 year retrospective study of reports of paresthesia following local anesthetic administration. J Can Dent Assoc. 1995 Apr;61(4):319-20, 323-6, 329-30. Haas DA, Pynn BR, Sands TD. Drug use for the pregnant or lactating patient. Gen Dent. 2000 Jan- Feb;48(1):54-60. Malamed SF, Gagnon S, Leblanc D. Efficacy of articaine: a new amide local anesthetic. J Am Dent Assoc. 2000 May;131(5):635-42. Malignant Hyperthermia Association of the United States. Malignant Hyperthermia: a concern in dentistry and oral & maxillofacial surgery. Disponível em: http://www.mhaus.org/dentoral.html Wilburn-Goo D, Lloyd LM. When patients become cyanotic: acquired methemoglobinemia. J Am Dent Assoc. 1999 Jun;130(6):826-31. Proodonto-cirurgia_2_Anestesicos locais.pmd 1/10/2007, 18:42109
Compartilhar