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Aula 09 Linguística II

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Linguística II
Marilda Franco de Moura
Aula 9
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Funcionalismo Linguístico
Conceito
“O funcionalismo é uma corrente linguística que difere do estruturalismo e gerativismo, se preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas.” (Cunha, 2010).
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Visão geral do modelo
O ponto de vista teórico (p. 165-169)
Para DeLancey (2001), o funcionalismo moderno, de certa forma, é uma retomada de concepções anteriores a Saussure, que enfoca fenômenos tanto sincrônicos como diacrônicos e que entende a estrutura linguística considerando imperativos psicológicos, cognitivos e funcionais. 
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A abordagem funcionalista "se preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas” (CUNHA, 2010). 
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Reação à teoria gerativa
Sociolinguística
Linguística Textual
Análise do Discurso
Análise da Conversação
Funcionalismo
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Presença da visão funcionalista
Na Escola Linguística de Praga (Jakobson e as funções da linguagem); 
Na tradição antropológica de Sapir (1921, 1949) e seguidores; 
Na teoria tagmênica de Pike (1967); 
No trabalho etnograficamente orientado de Hymes (1972); 
Na tradição britânica de Firth (1957) e Halliday (1970, 1973, 1985);
Na tradição filosófica que, a partir de Austin (1962) e por meio de Searle (1969), conduziu à teoria dos Atos de Fala; 
No trabalho de um grupo de pesquisadores que inclui Givón, Li, Thompson, Chafe, Hopper, DeLancey, Dubois entre outros; 
Na Gramática de Papel e de Referência; 
Em Lakoff e Langacker (tendência funcional-cognitiva).
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Motivação comum
A explicação linguística deve ser buscada na relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social
Verificar o fenômeno linguístico com base nas relações que contraem falante, ouvinte e a pressuposta informação pragmática de ambos. 
O compromisso do funcionalismo é descrever a linguagem não como um fim em si mesma, mas como um requisito pragmático da interação verbal. 
O pragmático é, então, o componente mais abrangente, dentro do qual se estudam a sintaxe e a semântica. 
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Funcionalismo - Adequações
Adequação pragmática
	A GF é uma teoria pragmática da linguagem - a interação verbal como objeto de análise.
 A GF deve revelar as propriedades das expressões linguísticas em relação à descrição das regras que regem a interação verbal. 
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Função da linguagem
	
Função pode designar as relações:
Função interna - entre uma forma e outra 
Função semântica - entre uma forma e seu significado 
	
Função externa - entre o sistema de formas e seu contexto 
	
	
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Função da sentença
(A) Fernanda chegou hoje pela manhã;
(B) Hoje pela manhã Fernanda chegou.
A ordem das palavras pode ser determinada por uma situação de comunicação específica. 
"Quem chegou?" ou "Fernanda chegou?", posso responder conforme consta em (A). 
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Função da sentença
(A) Fernanda chegou hoje pela manhã;
(B) Hoje pela manhã Fernanda chegou.
Se a pergunta for "Quando Fernanda chegou?", uma resposta possível é o que encontro em (B). 
Devemos considerar que em (B) se pressupõe alguma informação ou algum dado já conhecido e uma informação nova.
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Na perspectiva funcional da sentença "certas partes do que é dito carregam mais informação nova do que outras, e isso é refletido na maneira como os enunciados são organizados".
Há uma parte denominada “Tema” que tem menos informação e dinamicidade, e outra parte chamada “Rema” que é mais dinâmica. 
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Tema ou o tópico - é o assunto da sentença ou enunciado, e o rema é o comentário ou enunciação, ou seja, o que se diz do tema.
Tema - é aquilo que já se sabe ou parece óbvio
Rema - é a informação nova ou o que é acrescentado.
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Se ao responder à pergunta "Quando Fernanda chegou?" 
Resposta 1 - "Fernanda chegou hoje pela manhã”; 
Resposta 2 - "Hoje pela manhã Fernanda chegou”
O rema corresponde à informação nova "hoje pela manhã“
O tema tem a ver com a informação, já conhecida, de que "Fernanda chegou" 
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Adequação psicológica
	A GF deve relacionar-se o mais próximo possível com modelos psicológicos a respeito do processamento linguístico, ou seja, ao modo como os falantes constroem e formulam expressões linguísticas (modelos de produção) e ao modo como o ouvinte processa e interpreta expressões linguísticas (modelos de compreensão).
Adequação tipológica 
	A GF deve ser capaz de fornecer gramáticas a quaisquer línguas, levando em conta as similaridades e as diferenças entre os sistemas linguísticos. 
	
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Capacidades humanas
Capacidade linguística: produzir e interpretar corretamente expressões linguísticas; 
Capacidade epistêmica: construir, manter e explorar uma base de conhecimento organizado;
Capacidade lógica: derivar conhecimentos adicionais por meio de regras de raciocínio;
Capacidade perceptual: perceber seu ambiente, derivar conhecimento a partir de percepções e usar esse conhecimento na produção e na interpretação de expressões linguísticas;
Capacidade social: saber como dizer algo em uma situação comunicativa particular.
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Sistemas de regras envolvidos na análise linguística
As regras que governam a constituição das expressões linguísticas (semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas);
As regras que governam padrões de interação verbal em que essas expressões linguísticas são usadas (pragmáticas).
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A polêmica formalismo versus funcionalismo no Brasil (p. 174-176)
Votre e Naro (1989) - se posicionam a partir da distinção entre os enfoques funcionalista e formalista, considerando-os não apenas diferentes e excludentes, mas assumindo ainda a primazia daquele sobre este.
Nascimento (1990) não apenas rejeita a distinção, como também recusa a necessidade de escolher entre os dois, baseando-se no fato de que estudam objetos diferentes.” (p. 175)
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A teoria funcionalista
	A perspectiva funcional da sentença (p. 177-180)
“Weil distingue entre movimento de ideias expresso pela ordem de palavras e movimento sintático expresso pela desinência. A sentença contém o ponto de partida (a noção inicial) e o objetivo do discurso, sendo o primeiro ponto de encontro entre falante e ouvinte, e o segundo informação que deve ser partilhada com o ouvinte: o movimento da noção inicial em direção ao objetivo do discurso revela o movimento da mente.” (p. 177) 
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De acordo com Ilari (2004), a partir dos estudos de Mathesius, a Escola Linguística de Praga desenvolveu a chamada Perspectiva Funcional da Sentença. Mathesius sugere que o dinamismo comunicativo (DC) se distribui de maneira desigual nos enunciados que efetivamente são utilizados para fins de comunicação e assim chegou à ideia de que os enunciados comportam tipicamente uma parte menos dinâmica – o tema – e uma parte mais dinâmica – o rema. Essas duas funções são autônomas em relação ao sujeito e ao predicado. (p. 69-70)
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O estatuto informacional: noções de dado e novo (p. 180-183)
Dado ou informação velha:
	Conhecimento que o falante assume estar na consciência do ouvinte no momento da enunciação.
Novo ou informação nova:
	Informação que o falante acredita estar introduzindo na consciência do ouvinte com o que diz.
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Outros termos
Prince (1981) – a oposição informação dada versus informação nova explica tanto fenômenos no nível da sentença como no nível do discurso.
Kuno (1972), Halliday e Hasan (1976) – em termos de predizibilidade/recuperabilidade, se um elemento é recuperável pelo contexto, é considerado informação velha, caso contrário, novo. 
Clark e Haviland (1977) – dada é a informação que o falante acredita que o ouvinte sabe e aceita como verdade e nova, a informação que o falante acredita que o ouvinte ainda não conheça.
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Construção e Tópico
Chafe (1976)
	
Tópico
do inglês – é um foco de contraste colocado no início da oração. 
	Ex.: ... isso mui/muitos no interior fazem assim... 
	(DID-SP-18: 831)
 
Tópico do caddo – construções de duplo sujeito.
	Ex.: o Nelson ele saiu dos transportes... 
	(D2-SP-360: 837)
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Tópico do chinês – tem como função estabelecer um esquema espacial, temporal ou individual dentro do qual a predicação principal se mantém, de modo a limitar-lhe a aplicabilidade a certo domínio restrito.
	Ex.: Filme, eu gosto mais de comédia 
	(DID-SP-234: 05) 
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Tópico 
Sujeito
Noção interna à estrutura da oração
Noção discursiva 
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Ponto de vista e fluxo de atenção (p. 187-189)
“Chafe (1976) coloca o conceito de empatia ou ponto de vista como mais um fenômeno de empacotamento, uma vez que sua base cognitiva está ligada ao fato de as pessoas serem capazes de imaginar-se vendo o mundo por meio dos olhos dos outros, bem como do seu próprio ponto de vista.” (p. 187)
“O fluxo de atenção determina a ordenação natural dos SNs, que são apresentados na sequência desejada pelo falante para que o ouvinte atente para eles.” (p. 188)
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Transitividade e relevância discursiva (p. 189-193)
“Hopper e Thompson (1980) consideram que há uma alta correlação entre relevo discursivo e o grau de transitividade da sentença, uma vez que o pensamento e a comunicação humana registram o universo individual como uma hierarquia de graus de centralidade/perifericidade a fim de facilitar tanto a representação interna quanto sua exteriorização para as pessoas. Os usuários da língua constroem, assim, as sentenças de acordo com seus objetivos comunicativos e com sua percepção das necessidades do ouvinte. Ou seja, em qualquer situação de fala, algumas partes do que se diz são mais relevantes que outras, destacam-se de um fundo que lhes dá sustentação.” (p. 189-190).
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Língua
Visão formalista e visão funcionalista
Os formalistas estudam a linguagem como um sistema autônomo, enquanto os funcionalistas a estudam na relação com sua função social” (RODRIGUES; SANTOS, 2008, p. 254-255).
A língua é usada para descrever o mundo;
Atos de dizer.
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Na perspectiva funcionalista - a língua é concebida como "forma de interação social realizada por meio de enunciações", constituindo-se num produto sócio histórico.
A língua é usada para realizar ações sobre o mundo ou outros falantes;
Atos de fazer.
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Referências bibliográficas
	PEZATTI, E.G. O funcionalismo em linguística. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A.C. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2004. p. 165-218.
 
	ILARI, R. O estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004. p. 53-92.
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Linguística II
Marilda Franco de Moura
Atividade 9
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Análise funcionalista
Solicitada a redigir um documento para ser enviado ao Chefe do Departamento de Administração da repartição em que trabalhava, a funcionária incumbida dessa tarefa elaborou o seguinte texto: 
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Concluída a tarefa, a funcionária ficou insegura quanto ao texto que havia produzido. Dessa forma, e antes de submetê-lo à apreciação do Chefe do Departamento de Pessoal – que lhe havia feito a solicitação –, pediu a um dos assistentes em administração que revisasse cuidadosamente a correspondência.
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1- O assistente consultado, em primeiro lugar, teceu considerações sobre a intenção comunicativa do documento, dizendo que o objetivo do texto, certamente, era 
solicitar a remessa de novos microcomputadores. 
solicitar a cessão de novos microcomputadores. 
tratar da aquisição de microcomputadores. 
tratar da instalação de microcomputadores. X
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2- Após essa constatação, a funcionária sentiu necessidade de definir o gênero do texto. Não sabia de que documento se tratava. O revisor disse-lhe que, em função da situação de comunicação em que estava inserido, do conteúdo e da finalidade, se configurava como um(a) 
aviso. 
ofício. 
exposição de motivos. 
memorando. X
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3- Depois de identificar, no terceiro parágrafo, vários problemas linguísticos, tanto no que se refere à estruturação da frase quanto à norma linguística padrão e à escolha adequada de palavras, o assistente em administração propôs a reescritura seguinte como sendo a correta:
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O pessoal que irão operar esses micros serão treinados por especialistas da Seção de Treinamento do Departamento de Modernização, cuja chefia já manifestou seu acordo prévio. 
Os funcionários que irão operar esses micros serão treinados por especialistas da Seção de Treinamento do Departamento de Modernização, cuja chefia já manifestou seu acordo prévio. X
Os funcionários que irão operar esses micros e que serão treinados por especialistas da Seção de Treinamento do Departamento de Modernização, com cuja chefia já houve acordo prévio. 
O pessoal que irá operar esses micros e que será treinado por especialistas da Seção de Treinamento do Departamento de Modernização, com cuja chefia já houve acordo prévio.
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