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Hemostasia Profa. Fabíola M. Ribeiro Departamento de Bioquímica e Imunologia Instituto de Ciências Biológicas Universidade Federal de Minas Gerais Hemostasia • Prevenção da perda de sangue • Ação ou efeito de estancar uma hemorragia (dicionário Aurélio) A hemostasia é alcançada por diversos mecanismos: 1. Vasoconstrição 2. Formação de tampão plaquetário 3. Formação de coágulo sanguíneo 4. Crescimento de tecido fibroso 5. Fibrinólise Visão geral dos mecanismos hemostáticos PAF: fator de ativação das plaquetas vWF – fator de von Willebrand PF3 – fator plaquetário 3 TXA2 – tromboxano A2 Va – fator V da coagulação ativado VIIIa – fator VIII da coagulação ativado tPA – ativador do plasminogênio tipo tecidual • Células endoteliais: função no intercâmbio de substâncias químicas, células e microrganismos entre o sangue e os tecidos corporais • Túnica íntima: formada por tecido conjuntivo rico em fibras colágenas • Túnica média: nas veias, é uma camada estreita formada por células musculares contráteis que permitem a vasoconstrição. As artérias e arteríolas apresentam uma camada muscular bem desenvolvida • Túnica adventícia: presente em vasos de maior calibre e formada por tecido conjuntivo de sustentação A lesão vascular tem papel fundamental nos mecanismos hemostáticos • O endotélio intacto é anti-trombótico, visto que produz vasodilatadores e inibidores da agregação plaquetária: prostaciclina (PGI2) e óxido nítrico (fator relaxante derivado do endotélio, sintetizado pela sintase endotelial do óxido nítrico), que ativam a guanilato ciclase E quando ocorre dano ao vaso? • Após o trauma o próprio vaso promove a contração do músculo liso, o que reduz instantaneamente o fluxo sanguíneo do vaso traumatizado. Este espasmo resulta de: �Reflexos nervosos (dor) �Fatores humorais locais �Plaquetas liberam serotonina e tromboxano A2 (TXA2): vasoconstritores �Quanto maior o trauma maior será o espasmo vascular E quando ocorre dano ao vaso? • Ocorre ativação plaquetária, que promove a liberação de serotonina e TXA2: vasoconstrição Formação de placas plaquetárias • Pequenas lesões vasculares desenvolvem normalmente a cada dia • Pequenas lesões são seladas através de placas plaquetárias em vez de coagulação sanguínea Plaquetas • Diâmetro de 2-3 µm (fragmentos de megacariócitos da medula óssea) • Concentração normal: 150-400 x 109/L • Agentes ativadores: ADP, epinefrina, colágeno, trombina e PAF (parede do vaso), complexos imunes e força de cisalhamento Plaquetas • A estimulação de receptores de membrana por agentes químicos promove: – Mudança da forma das plaquetas de disco para esférica – Liberação de ADP, serotonina e TXA2 – Agregação – Adesão à parede do vaso (colágeno subendotelial) através do vWF (liberado pelas células endoteliais) Características química e físicas das plaquetas • Plaquetas tem muitas características de células intactas mesmo não possuindo núcleo e não tendo capacidade de reproduzir � Possuem moléculas de actina e miosina � Possuem Complexo de Golgi e RE com capacidade de sintetizar várias enzimas e estocar grandes quantidades de cálcio �Mitocôndrias funcionais � Sistema enzimático que produz prostaglandina, fator estabilizador de fibrina e fatores de crescimento � A parede celular das plaquetas possui glicoproteínas que evitam a aderência ao epitélio normal Tampão hemostático inicial Plaquetas não ativada: forma discoide Plaquetas no primeiro estágio de ativação: esféricas e com formação de pseudópodos estendidos que facilitam a agregação Nos estágios seguintes, mais plaquetas apresentam a forma esférica e pequenas protrusões na forma de bulbo Plaquetas voltam à forma inicial: discoides e sem muitos pseudópodos Dipiridamol diminui a disponibilidade de ADP Coagulação sanguínea • Início – 15 a 20 segundos (Trauma intenso)/ 1 a 2 minutos (trauma leve) • Substâncias ativadoras: – Originadas da parede vascular – Plaquetas – Proteínas sanguíneas • Um coágulo pode obstruir completamente um vaso de médio calibre entre 3 a 6 minutos Teoria básica • Após 20 a 60 minutos o coágulo retrai • Uma vez formado o coágulo este pode seguir dois caminhos: 1. Pode ser invadido por fibroblastos, ao qual pode formar tecido conectivo em volta do coágulo 2. Pode ser dissolvido Teoria básica • Mais de 50 substâncias importantes que causam ou afetam a coagulação sanguínea foram encontrados no sangue e tecidos. • Estas substâncias podem ser divididas em: – Pró-coagulantes – Anticoagulantes Quando o sangue irá coagular? Anticoagulantes Pró-coagulantes Mecanismo geral • A coagulação acontece em três passos: 1. Após a ruptura do vaso ocorre uma cascata complexa envolvendo mais de uma dúzia de fatores de coagulação. O resultado final desta via é a ativação de substâncias chamadas coletivamente de ativadores de protrombina 2. O ativador de protrombina catalisa a conversão de protrombina em trombina 3. Trombina atua como um enzima que converte fibrinogênio em fibras de fibrina que envolvem as plaquetas e outras células sanguínea para formar o coágulo • O rompimento das células endoteliais expõe o sangue ao colágeno subendotelial (ativa via intrínsica) e ao fator tecidual subendotelial (via extrínsica) Coagulação sanguínea • A exposição ao colágeno ativa mais plaquetas, que se ligam ao colágeno por meio do fator de von Willebrand (vWF), liberado pelas células endoteliais • O fator de ativação de plaquetas (PAF) da parede dos vasos também pode levar à ativação plaquetária Conversão de protrombina em trombina e polimerização de fibrinogênio em fibrina O resultado final é a formação do tampão hemostático secundário rico em fibrina Protrombina e trombina • Protrombina é uma proteína plasmática, uma alfa-2- globulina, tendo o peso molecular de 68.700 DA • É uma proteína instável que pode ser dividida em componentes menores como por exemplo a trombina, a qual tem o peso molecular de 33.700 DA • A protrombina é produzida continuamente no fígado • Vitamina K é requerida pelo fígado para formação de protrombina e outros fatores de coagulação Fibrinogênio • É uma proteína de alto peso molecular - 340.000 DA • É formado no fígado e doenças hepáticas podem diminuir a concentração desta enzima e da protrombina Ação da trombina no fibrinogênio para formar fibrina • Trombina é uma enzima com capacidades proteolíticas fracas • A trombina age no fibrinogênio para remover quatro peptídeos de baixo peso molecular em cada molécula de fibrinogênio, formando uma molécula do monômero de fibrina • Cada monômero de fibrina tem a capacidade de polimerizar para formar as fibras de fibrina • O fator estabilizante de fibrina ativado pela trombina causa a ligação covalente entre as fibras de fibrina. O que é o coágulo sanguíneo? • É composto da rede de fibrina que aprisiona as células sanguíneas, plaquetas e plasma. A ativação de protrombina: duas vias Ativação de protrombina A via extrínseca começa com o trauma da parede vascular e tecidos adjacentes (fator tecidual) A via intrínseca começa no próprio sangue (colágeno subendotelial) Fatores da via extrínseca e intrínseca Via Comum Fator X Fator V Ativador da protrombina Via extrínseca Fator Tecidual Fator VII Via intrínseca Fator XII Fator XI Fator IX Fator VIII E E, IN E, IN Via extrínseca • O tecido lesionado libera diversos fatores chamados de fatores tissulares, que após se combinarem com o fatorVII, ativa os fatores IX e X, acelerando a coagulação • O fator tissular é um polipeptídio expresso em todas as células que não as células endoteliais • Teste: tempo de protrombina (TP) XI XIa IX IXa Intrinsic Extrinsic X Xa XII Prekalikrein HMWK Tissue Factor(III) VII + Ca2+ Final Prothrombin thrombin fibrinogen fibrin Stable fibrin XIIIa XIII VIII VIIIa VaV + + Via intrínseca • Na via intrínseca, a ativação do fator XII ocorre quando o sangue entra em contato com uma superfície contendo cargas elétricas negativas - por exemplo, a parede de um tubo de vidro ou, endogenamente, superfícies aniônicas de membranas expostas devido à lesão do revestimento endotelial (ex. colágeno) ou exposição de fosfolípides na membrana das plaquetas ativadas. Tal processo é denominado “ativação por contato” • Teste: tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA), que é usado para excluir as hemofilias congênitas comuns (deficiência dos fatores VIII, IX e XI) XI XIa IX IXa Intrinsic Extrinsic X Xa XII Prekalikrein HMWK Tissue Factor(III) VII + Ca2+ Final Prothrombin thrombin fibrinogen fibrin Stable fibrin XIIIa XIII VIII VIIIa VaV + + Testes de hemostasia clínica Via Comum Tempo de trombina (TT) Via extrínseca Tempo de protrombina (TP) Via intrínseca Tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPA) Atenção !!! • Tromboplastina é uma mistura de fosfolipídios e fator tissular (fator III) • Tromboplastina parcialmente ativada é apenas fosfolipídeos, utilizada em ensaios de tempo de tromboplastina parcialmente ativada (via intrínseca) • Tromboplastina é utilizada para ensaios de tempo de protrombina (via extrínseca) Tempo de Protrombina: TP • O reagentes do TP contem íons Cálcio e tromboplastina de tecido cerebral de coelho – tempo normal é de 10-15 seg • O complexo protéico-lipídico de Tromboplastina (Fator tissular) é encontrado em tecidos fora dos vasos sanguíneos • Mede a função da via extrínseca • Sensível aos fatores I, II, V, VII e X • Usado para diagnosticar os defeitos congênitos raros desses fatores e, mais comumente, para diagnosticar distúrbios sanguíneos decorrentes da deficiência da vitamina K (necessária à síntese hepática dos fatores II, VII, IX e X), terapia com varfarina (antagonista da reciclagem de vitamina K) ou doenças hepáticas Tempo de Tromboplastina parcial ativada (TTPA) • O reagente contem fosfolipídios e um ativador de superfície (argila microparticulada) • Reagente com cloreto de cálcio é adicionado para começar a reação • Os reagentes do TTPA mimetizam a superfície das plaquetas • Mede a atividade dos fatores de coagulação da via intrínseca: fatores VIII, IX, X, XI e XII Usos do TTPA • Heparina inibe a atividade dos fatores de coagulação da via intrínseca - o TTPA é usado para monitorar o tratamento com heparina • Pode ser influenciado pela deficiência de vitamina K e terapia com anticoagulantes • Resultados negativos de TTPA usualmente descarta a possibilidade de hemofilias causadas pela deficiência dos fatores I, II, V, VIII, IX, X, XI e XII Valores esperados de TTPA • Normal: 30 a 50 s • Pouco elevado: 50 a 65 s • Extremamente elevado = > 70 s Hemofilia clássica: Deficiência congênita do fator VIII • Um menino de 3 anos de idade foi admitido no setor de emergência de um hospital local por causa de uma extensa equimose após uma queda de alguns degraus. Um painel de testes de rotina para coagulação mostrou um TTPA muito prolongado, maior que 150 s (tempo normal 30-50). Análise do fator de coagulação VIII mostrou um nível muito baixo; o fator de vWF estava normal. Sua mãe contou um história familiar de sangramento excessivo que tinha afetado seu irmão e seu pai. Hemofilia clássica: Deficiência congênita do fator VIII • Um menino de 3 anos de idade foi admitido no setor de emergência de um hospital local por causa de uma extensa equimose após uma queda de alguns degraus. Um painel de testes de rotina para coagulação mostrou um TTPA muito prolongado, maior que 150 s (tempo normal 30-50). Análise do fator de coagulação VIII mostrou um nível muito baixo; o fator de vWF estava normal. Sua mãe contou um história familiar de sangramento excessivo que tinha afetado seu irmão e seu pai. História de distúrbio de sangramento recessivo ligado ao X e um baixo nível de fator VIII: hemofilia clássica Tratamento: Injeção i.v. de fator VIII Tempo de Trombina (TT) • Mede as vias comuns • Não é sensível às deficiências das vias intrínsecas e extrínsecas • O reagente consiste de trombina animal • Se a amostra estiver elevada esta é misturada na proporção de um para um com amostra controle e então reanalisada. Se a coagulação normal não for restaurada então quer dizer que um anticoagulante esta presente. Tempo de Trombina (TT) • Tempo de coagulação normal é de 15 s • Prolongações desse tempo são observadas nas deficiências de fibrinogênio (congênita ou adquirida) ou devido à presença de drogas fibrinolíticas Importância da Trombina na hemostasia • Converte fibrinogênio em fibrina • Ativa fator XIII (faz ligação cruzada entre moléculas de fibrina: coágulo estabilizado) • Catalisa a ativação do fator XI, VIII e V • Ativa plaquetas (que também contribuem com fosfolipídeos) XI XIa IX IXa Intrinsic Extrinsic X Xa XII Prekalikrein HMWK Tissue Factor(III) VII + Ca2+ Final Prothrombin thrombin fibrinogen fibrin Stable fibrin XIIIa XIII VIII VIIIa VaV + + Prevenção da coagulação sanguínea por anticoagulantes endógenos 1. Fatores de superfície endotelial 2. Ação antitrombina da fibrina e antitrombina III 3. Heparina 4. Inibidor da via do fator tecidual (TFPI): 1. Fatores de superfície endotelial • Provavelmente os fatores mais importantes na prevenção da coagulação sanguínea no sistema vascular normal são: i. A lisura da superfície da célula endotelial ii. A camada de glicocalix a qual repele os fatores de coagulação e as plaquetas iii. A proteína ligada à membrana endotelial, trombomodulina, que se liga à trombina • Proteína C e seu co-fator, proteína S: – Dependentes da vitamina K e sintetizadas no fígado – Trombina se liga à trombomodulina (presente na superfície das células endoteliais) e ativa a proteína C, que forma um complexo com a proteína S – O complexo proteína C + proteína S degrada os fatores Va e VIIIa através de proteólise 2. Ação antitrombina da fibrina e antitrombina III • Entre os anticoagulantes mais importantes do sangue estão aqueles que removem trombina do sangue. Os mais poderosos são: – As fibras de fibrina que são formadas durante o processo de coagulação � 85-90% da trombina é removida pelas fibras de fibrina – Uma alfa-globulina chamada de antitrombina III ou cofator antitrombina-heparina • Antitrombina III: – Produzida no fígado – Sua atividade é aumentada pela heparina e pelas glicosaminoglicanas endógenas (incluindo ácido siálico e sulfato de heparan) encontradas na superfície das células endoteliais – Inativa a trombina e os fatores IXa e Xa 3. Heparina • A concentração da Heparina no sangue é baixa • A heparina sozinha tem nenhum ou pouco efeito anticoagulante, mas quando conjugada a antitrombina III é 100 a 1000 vezes mais eficaz em remover a trombina • Além da trombina, a antitrombina + heparina também inativa os fatores de coagulação Xa e IXa • Grandes quantidades de heparina são produzidas especialmente pelos basófilos 4. Inibidor da via do fator tecidual (TFPI)– Proteína sintetizada no endotélio e no fígado – Inibe o complexo fator tecidual-fator VIIa Fibrinólise • Age para limitar a formação excessiva de fibrina através da fibrinólise mediada por plasmina • O plasminogênio circulante se liga à fibrina e é convertido em plasmina ativa por ativadores de plasminogênio Fibrinólise • Oclusão venosa, exercícios e epinefrina estimulam a liberação do ativador de plasminogênio tipo tecidual (tPA) a partir das células endoteliais • PAI-1 (inibidor 1 do ativador de plasminogênio) inibe uPA (ativador de plaminogênio tipo urinário) e tPA Referências Bibliográficas • Bioquímica Médica, John W. Baynes e Marek H. Dominiczak, Editora Elsevier, 2 ed., Capítulo 6. • Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. 6ª edição, capítulo 24.5, Devlin, T M.
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