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2SLDH06 Disciplina A ação investigativa na perspectiva dos Direitos Humanos

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PONTA GROSSA - PARANÁ
2014
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
A ação investigativa na 
perspectiva dos Direitos Humanos
Latif Antonia Cassab
CRÉDITOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD
Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR
Tel.: (42) 3220 3163
www.nutead.org
2014
Governo do Estado do Paraná
Carlos Alberto Richa
Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia
João Carlos Gomes
Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento
Fernanda Bernardi Vieira Richa
Secretaria de Estado da Administração e da Previdência
Dinorah Botto Portugal Nogara
Reitores
Prof. Dr. Carlos Luciano Sant’Ana Vargas – UEPG
Prof. Drª Nádina Aparecida Moreno – UEL 
Prof. Dr. Júlio Santiago Prates Filho – UEM 
Prof. Dr. Aldo Nelson Bona – UNICENTRO
Coordenação Pedagógica
Prof. Drª Solange de Moraes Barros – UEPG
Prof. Ms. Liza Holzmann – UEPG
Prof. Drª. Lenir Mainardes da Silva – UEPG
Prof. Dr ª. Rosiléa Clara Werner – UEPG
Prof. Ms. Adnilson José da Silva – UNICENTRO
Prof. Drª. Vera Suguihiro – UEL
Prof. Drª. Celene Tonella – UEM 
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância 
Prof. Ms. Eliane de Fátima Rauski 
Prof. Ms. Cleide Aparecida Faria Rodrigues
Nosso cotidiano está repleto de avanços tecnológicos, diferentes 
expressões culturais e mudanças sociais. Apesar de tantas novidades, 
nossa sociedade ainda convive com problemas básicos na área da saúde, 
da educação, assistência social, direitos humanos e tantas outras áreas. 
Por certo, de diferentes maneiras, os problemas vividos e noticiados tem 
estreita relação com a área da gestão pública.
Diferentes explicações são dadas para o enfrentamento da questão 
social. Pensar e buscar alternativas às demandas sociais é uma tarefa dos 
gestores e funcionários públicos do Estado do Paraná. Assim foi criado 
o Curso de Especialização em Gestão Pública com ênfase em: Sistema 
Único da Assistência Social, Sistema Único da Saúde, Direitos Humanos e 
Cidadania, Gestão Escolar e Planejamento e Avaliação de Políticas Públicas 
oferecendo quinhentas e sessenta vagas aos servidores públicos das 
diversas secretarias envolvidas, e ainda duzentas e sete vagas a residentes 
técnicos com ênfase no Sistema Único da Assistência Social.
O curso tem por objetivo habilitar profissionais já inseridos na área 
pública e egressos de diferentes áreas para atuarem em órgãos e empresas 
públicas, na prestação de serviços profissionais ou que pretendem trabalhar 
em projetos, convênios e serviços, no âmbito da administração pública.
Um projeto construído a muitas mãos, coordenado pela Universidade 
Estadual de Ponta Grossa - UEPG, em parceria com a Universidade 
Estadual de Maringá – UEM, Universidade Estadual de Londrina - UEL, 
Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO, Secretaria da 
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI, Secretaria de Estado da 
Família e Desenvolvimento Social – SEDS e Secretaria da Administração e 
da Previdência – Escola de Governo.
Nosso desafio é colaborar na qualificação de gestores públicos para 
o Estado do Paraná, melhorando o planejamento, a execução e a avaliação 
das políticas públicas. 
Bom Estudo!
Prof.ª Drª Lenir Mainardes da Silva (coord.da residência)
Prof.ª MS. Liza Holzmann (coord.de tutoria)
Prof. Drª. Solange de Moraes Barros (coord.pedagógica)
PREFÁCIO
 Cassab, Latif Antonia
C343 A ação investigativa na perspectiva dos direitos humanos / Latif
 Antonia Cassab. Ponta Grossa: UEPG/NUTEAD, 2014.
 85p.
 Curso de Especialização em Gestão Pública. Direitos Humanos e
 Cidadania.
 1. Direitos humanos. 2. Sistema Único da Assistência Social.
 Pesquisa ação. I. T.
 CDD : 323.4
Ficha Catalográfica Elaborada pelo Setor Tratamento da Informação BICEN/UEPG
SUMÁRIO
 ■ PALAVRAS DOS PROFESSORES 7
 ■ OBJETIVOS E EMENTA 9
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E CIÊNCIA 11
 ■ SEÇÃO 1: A aventura do conhecimento: um roteiro de viagens 13
 ■ SEÇÃO 2: O fazer ciência pela sociedade humana 22
 ■ SEÇÃO 3: Século XIX e as novas tendências para a construção 
 do conhecimento 30
 ■ SEÇÃO 4: Século XX e as tendências para a produção 
 do conhecimento científico 33
DESAFIOS DO CONHECIMENTO EM DIREITOS HUMANOS: 
DISCIPLINA, MULTIDISCIPLINARIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE
DO CONHECIMENTO 43
 ■ SEÇÃO 1 - Disciplinaridade 47
 ■ SEÇÃO 2 - Multidisciplinaridade 50
 ■ SEÇÃO 3 - interdisciplinaridade 52
A PESQUISA-AÇÃO ENQUANTO UMA PROPOSTA 
INVESTIGATIVA EM DIREITOS HUMANOS 63
 ■ SEÇÃO 1 - Pesquisa-ação: conhecer e agir 65
 ■ SEÇÃO 2 - O fazer pesquisa-ação 69
 ■ REFERÊNCIAS 83
PALAVRAS DA PROFESSORA
A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do (s) 
respectivo (s) autor (es). O leitor se compromete a utilizar o conteúdo 
desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e 
distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação 
desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita 
com indicação da fonte. A cópia desta obra sem autorização expressa ou 
com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com 
sanções previstas no Código Penal, artigo 184, Parágrafos 1º ao 3º, sem 
prejuízo das sanções cíveis cabíveis à espécie.
Contextualizar sobre a ação investigativa na perspectiva dos 
direitos humanos traduz-se em um grande desafio. Desafio pautado na 
responsabilidade para com o conhecimento teórico – ou seja, o processo 
de ensino e aprendizagem de forma competente – sobre pesquisa no 
âmbito humano social, bem como a responsabilidade com as atividades 
empreendidas, nas quais incidem, sempre, uma postura ética.
Mas não somente responsabilidades, mas prazer em se desvelar 
uma dada situação e/ou evento, que se encontrava escamotado e que 
através da pesquisa científica foi possível conhecer, ou como nos dizeres 
de Rubem Alves (1999, p. 132),
O conhecimento prazeroso é aquele que nos abre 
as janelas do mundo. Como se a gente estivesse 
viajando, e fosse vendo árvores, riachos, campos, 
vacas, cavalos, pássaros, casas, caminhos, 
nuvens… Conhecimento prazeroso é aquele que 
coloca diante de nós os cenários do mundo, que 
vão dos ovos num ninho de beija-flor até galáxias 
a milhões de anos luz de distância. Diante dos 
cenários que o conhecimentos nos abre, os olhos 
e a alma ficam até abobalhados.
Nesse caminho nos cabe apropriarmos de estudos que contribuam 
para delinear o objeto investigativo, elaborar o problema e objetivos 
de pesquisa. Mas não somente isso! Faz-se necessário planejar o 
desenvolvimento de todo esse processo de pesquisa, em outras palavras 
– a metodologia!
A atividade de pesquisa se reveste de grande importância, 
principalmente por se constituir em instrumento de conhecimentos, 
os quais, por sua vez, subsidiarão propostas de intervenção. É preciso 
enfatizar que a pesquisa científica não se reduz a solucionar qualquer 
questão social, mas, através dos conhecimentos produzidos, oferecer 
subsídios para o agir de forma acertada.
A realização desse empreendimento é resultado de minha jornada 
de estudos, no âmbito da academia, na condição de estudante e docente.
Assim, o documento que ora apresento, tem como referência a 
ementa: “Direitos humanos em construção. A atitude investigativa 
como instrumento de formação em Direitos humanos. A produção de 
conhecimento na perspectiva dos Direitos Humanos. As expressões 
sociais, políticas e éticas dos direitos humanosno âmbito das políticas 
públicas.”
Os objetivos do estudo encontram-se constituído por quatro unidades, 
com respectivas seções, sugestões de leituras, filmes e documentários, 
bem como algumas atividades a serem realizadas, além das referências 
bibliográficas. 
A primeira Unidade – A produção do conhecimento & ciência – relata 
sobre os tipos de conhecimentos, um pouco do contexto em que surge o 
conhecimento científico – o renascimento, o iluminismo – o período da 
modernidade.
A segunda Unidade – Desafios do conhecimento em direitos 
humanos: disciplina, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade do 
conhecimento – discorre sobre tais categorias teóricas e da contribuição 
delas em um processo investigativo.
A terceira Unidade – A pesquisa-ação enquanto uma proposta 
investigativa em direitos humanos – discute a pesquisa-ação como 
estratégia para conhecer e intervir, enfatizando a questão da participação 
e do diálogo neste processo.
Finalizando, desejo a todos, profícua e prazerosa leitura, na 
perspectiva que os conhecimentos apresentados contribuam para 
qualificar, sempre mais, o fazer pesquisa na perspectiva da materialização 
dos direitos humanos!
Dr.ª Latif Antonia Cassab
OBJETIVOS E EMENTA
ObjetivOs 
•	 Relatar um pouco do contexto em que surge o conhecimento científico.
•	 Discorrer sobre desafios do conhecimento em direitos humanos: disciplina, 
multidisciplinaridade e interdisciplinaridade.
•	 Discutir a pesquisa-ação enquanto uma proposta investigativa em direitos 
humanos.
ementa
Direitos humanos em construção. A atitude investigativa como instrumento de 
formação em Direitos Humanos. A produção de conhecimento na perspectiva dos 
Direitos Humanos. As expressões sociais, políticas e éticas dos direitos humanos 
no âmbito das políticas públicas. 
A produção do 
conhecimento & ciência
Latif Antonia Cassab
Un
id
ad
e 
I
•	 Contextualizar o que é conhecimento e a relação que o homem 
estabelece com o objeto a ser reconhecido.
•	 Tratar sucintamente da história da ciência.
•	 Discorrer sobre as principais tendências teórico-metodológicas para 
a produção do conhecimento científico.
ROteiRO De estUDOs
ObjetivOs De estUDOs
•	 SEÇÃO 1: A aventura do conhecimento: um roteiro de viagens 
•	 SEÇÃO 2: O fazer ciência pela sociedade humana
•	 SEÇÃO 3: Século XIX e as novas tendências para a construção do 
conhecimento
•	 SEÇÃO 4: Século XX e as tendências para a produção do 
conhecimento científico 
“Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao largo 
dos anos povoa um espaço com imagens de províncias, reinos, de 
montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, 
de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes 
de morrer descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a 
imagem de seu rosto.” 
BORGES, J. L. O fazedor. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995
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PARA INÍCIO DE CONVERSA
O homem desde sua origem tem se questionado sobre o mundo em 
que se insere – as questões da natureza, a sociedade e as sociabilidades 
que empreende consigo próprio. Enquanto sujeito cognoscente, questiona 
o mundo à sua volta, fazendo descobertas revolucionárias.
Nesse sentido, a ciência e a produção do conhecimento revelam 
um contexto humano, um patamar de civilidade, nem sempre disponível 
a todos.
Nesta Unidade, estarei expondo a vocês, de forma breve, conteúdos 
sobre as formas de conhecimento, como o senso comum ou empírico, 
o religioso ou confessional, o filosófico ou reflexivo e o científico. São 
maneiras de conceber um determinado evento e/ou objeto. Ainda, estarei 
relatando sobre a viagem histórica realizada pela ciência, a forma como, 
a partir das inúmeras tendências epistemológicas, se concebeu o sujeito 
e a sua realidade e o próprio conhecimento científico.
Epistemologia: e·pis·te·mo·lo·gi·a (epistem- + -o- + -logia) substantivo feminino. 
[Filosofia] Ramo da filosofia que se ocupa dos problemas que se relacionam com o 
conhecimento humano, refletindo sobre a sua natureza e validade. Filosofia do conhecimento, 
teoria do conhecimento. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. 
Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/epistemologia. Acesso em: 15 mar. 2014.
SEÇÃO 1
A AVENTURA DO CONHECIMENTO:
UM ROTEIRO DE VIAGENS
Quando discorremos sobre conhecimentos, uma primeira ideia 
que temos é: o que entendemos por conhecer? O que estamos 
compreendendo por conhecimentos?
Sucintamente podemos conceituar a palavra conhecer como um 
processo, uma relação entre uma pessoa e algo que se pretende conhecer. 
Segundo o Dicionário Aurélio, conhecer é, entre outros sentidos, ter a 
ideia, a noção mais ou menos precisa de alguma coisa, ter grande prática 
em certas coisas. Ou seja, conhecer evoca se apropriar de um saber que 
até então não tínhamos!
Segundo Cyrino e Penha (1992, p. 13), “[...] conhecer é elaborar 
um modelo de realidade [...], projetar ordem onde havia caos”. Nesta 
perspectiva, evidenciam-se três aspectos importantes para que haja a 
produção de conhecimentos:
•	 o sujeito, enquanto ser que busca e/ou conhece (cognoscente);
•	 o próprio objeto, a quem se dirige e/ou investiga o sujeito para 
conhecer;
•	 a questão mental que se coloca como opinião, ideia ou conceito, 
resultado da relação sujeito-objeto e que passa a existir na 
subjetividade daquele que conhece. 
Na relação que se estabelece entre sujeito cognoscente e objeto 
a ser conhecido, articulam-se sentimentos e pensamentos, os quais se 
expressam através da linguagem. “Essa linguagem pode ser oral ou 
escrita, [...]. Falar, escrever e gesticular seriam maneiras elementares 
de o sujeito humano produzir e veicular informações, conhecimentos e 
saberes.” (CORREIA, 2011, p. 1).
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Cognoscente: cog•nos•cen•te (latim cognoscens, -entis, particípio presente de 
cognosco, -ere, conhecer) adjetivo de dois gêneros. 1. Que conhece ou tem a capacidade 
de conhecer. = COGNOSCITIVO substantivo de dois gêneros. 2. Indivíduo que conhece 
“cognoscente”. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível 
em: www.priberam.pt/dlpo/cognoscente Acesso em: 04 mar. 2014.
Através de sua subjetividade o sujeito cognoscente apreende de 
maneira dinâmica o novo conhecimento, registrando-o em suportes 
materiais, fazendo uso desses para se relacionar, interagir com outras 
pessoas e compreender os objetos com os quais convive e mesmo aqueles 
que possa existir em seu plano abstrato.
A isso chamamos conhecimento, esse produto da 
inteligência simbólica humana por meio da qual 
o múltiplo ganha uma unicidade, a diversidade 
recebe certa harmonia e o vazio é preenchido por 
um sentido, sendo o principal deles, é o sentido 
existencial, a razão de ser da vida, o motivo pelo 
qual o homem e a mulher são, pensam, sentem, 
julgam, valoram, decidem e agem no aqui-agora 
de seu ser-estar no mundo. (CORREIA, 2011, p. 1).
No entanto, nesse universo, há distintos tipos de 
conhecimentos, mas, o que os distingue?
Esquematicamente podemos nos referir a diversos tipos de 
conhecimentos, os quais se encontram imbricados às diferentes formas 
de concebermos a realidade, no sentido de compreendê-la e explicá-la.
Assim, nesse primeiro momento, vamos conhecer o que se entende 
por conhecimentos (no plural!) e o que os distingue uns dos outros, para 
em seguida,mergulharmos em outros cenários teóricos. Em outros termos, 
como os diversos tipos de conhecimentos se engendraram na evolução da 
sociedade humana.
Um primeiro tipo de conhecimento, muito comum entre nós, é o 
conhecimento denominado como senso comum ou empírico. 
O conhecimento do senso comum, como todo conhecimento, 
produz informações sobre uma determinada realidade, no entanto, tais 
informações normalmente se prendem aos seus objetivos mais imediatos.
Ora, mas o que isso quer dizer?
O senso comum é resultado da relação empreendida pelo sujeito 
com o mundo. Importante destacar que o conhecimento do senso comum 
é uma construção que se inicia desde o nascimento e finaliza com a morte 
do sujeito; assim, tem como referência a vivência espontânea da vida de 
cada um. 
O sujeito ao nascer em um dado grupo social herda sua cultura, 
que serve de guia para o empreendimento adequado em suas relações 
sociais. Desta forma, é um conhecimento corrente e espontâneo de 
conhecer e que se produz na relação direta entre sujeitos e estes com 
objetos, situações. Suas principais características são:
•	 primeiro, tal conhecimento não se distingue de outros 
conhecimentos, em sua veracidade, nem pela sua natureza com 
o objeto conhecido, o que o diferencia de outros conhecimentos 
é a base de procedimentos metodológicos, feitos para conduzir 
a relação sujeito-objeto;
•	 seu processo de aquisição é assistemático, ou seja, não há uma 
organização nas ideias e experiências vivenciadas pelo sujeito, 
nem mesmo na expectativa de validar tais conhecimentos;
•	 apresenta-se acrítico, não há um debate sobre sua veracidade 
ou não, simplesmente o aceite desse, ou não;
•	 é superficial, ou seja, apresenta a aparência, sendo comprovado 
apenas estando junto das coisas: expressa-se por frases como 
“porque o vi”, “porque o senti”, “porque o disseram”, “porque 
toda a gente o diz” (FERNANDES, 2013) 1;
•	 é sensitivo, demonstra as vivências, condições de ânimo e 
emoções do sujeito no cotidiano;
•	 expressa-se como subjetivo, revelando a organização do sujeito 
frente suas experiências e conhecimentos, mas, também, pela 
situação de “por ouvir assim dizer”.
1 De acordo com FERNANDES, Marcello; BARROS, Nazaré. O senso comum ou a atitude 
natural. 2013. Disponível em: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/scomum.htm. Acesso em: 02 jan., 
2014.
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A expressão senso comum designa, também, um conjunto de saberes e opiniões que 
uma determinada comunidade humana acumulou no decorrer do seu desenvolvimento. Sendo 
produto das experiências vividas por um povo ou por um grupo social alargado, esse saber 
comum constitui um património que herdamos das gerações anteriores e que partilhamos 
com todos os indivíduos da comunidade a que pertencemos. Fonte: FERNANDES, Marcello; 
BARROS, Nazaré. O senso comum ou a atitude natural. Disponível em: http://ocanto.
esenviseu.net/apoio/scomum.htm. Acesso em: 02 jan. 2014.
Outro conhecimento é o religioso, confessional ou teológico. 
Esse tipo de conhecimento origina-se na crença em alguma divindade, 
implicando o uso da fé. As pessoas acreditam, e as têm como verdades, 
as revelações feitas por Deus através dos homens. Desta forma, o que 
é revelado se apresenta como respostas às questões que o homem 
não consegue responder com os conhecimentos vulgar, científico ou 
filosófico. (Galliano, 1979). O conhecimento confessional apresenta como 
características ser:
•	 valorativo– pois se fundamenta em proposições sagradas, ou 
seja, possui uma ortodoxia e escritos que se comportam como 
instrumento de fé, como a Bíblia (Novo e Antigo Testamento), no 
Cristianismo, a Torá, no judaísmo, o Alcorão, para os Islâmicos;
•	 inspiracional – decorrente de sua condição valorativa, se 
expressa tal característica, ou seja, sua validade ocorre através 
de uma revelação/inspiração além do natural, de origem divina;
•	 infalível – por ser valorativo se subentende sua característica 
inspiracional, ou seja, é decorrência de uma revelação fora do 
natural, de origem divina;
•	 exato – por tais motivos, o conhecimento confessional é tido 
como exato e não sujeito a erros;
•	 sistemático – pois busca identificar alguns sentidos no mundo, 
como origem, significado, finalidade e destino, e a relação com 
o criador divino; 
•	 não verificável – não se submete à verificação, pois depende da 
fé de cada pessoa. (LAKATOS; MARCONI, 2000).
Importante considerar que:
 » tais características coadunam-se para que haja uma postura e 
adesão das pessoas a um ato de fé. (LAKATOS; MARCONI, 
2000);
 » na história das religiões não existe um genérico certo ou errado, 
ou seja, não temos como afirmar se essa ou aquela religião de 
um povo é correta ou não, pois o conhecimento teológico sempre 
apresenta as características supracitadas.
Pimentalab - Tecnologia, Política e Conhecimento.
Cássio Hissa: entrevista sobre os desafios atuais da produção de 
conhecimentos
Disponível em: https://pimentalab.milharal.org/2013/02/25/
entrevista-cassio-hissa
Outra forma de conhecimento é o filosófico. 
Mas, como podemos compreender 
esse tipo de conhecimento? 
Muitos estudiosos do assunto expõem que o conhecimento filosófico 
baseia-se na especulação da realidade pela busca da verdade, através de 
questionamentos como: 
Quem é o homem? 
 De onde ele veio? Para onde ele vai? 
Qual é o valor da vida humana? 
 O que é o tempo? O que é o sentido da vida? 
Por isso, diz-se que tal conhecimento expressa uma atitude diante 
da vida, da realidade. Mas podemos, ainda, conceber tal conhecimento 
como resultado de um raciocínio, de uma reflexão. 
Em busca de respostas às questões formuladas por ele próprio, o 
conhecimento filosófico se apresenta ativo, racional ao empreender um 
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esforço em ir até as raízes das coisas, através de um rigor lógico para 
conhecê-las, em busca da verdade. 
Resumidamente suas características se constituem em ser:
•	 sistemático – tem como fundamento a reflexão, como tentativa 
para solução dos problemas; 
•	 elucidativo – não tem como premissa explicar o mundo, mas 
esclarecer e delimitar os pensamentos, conceitos e problemas; 
•	 crítico – tudo deve ser analisado metodicamente, não aceitando 
nada sem prévio exame; 
•	 especulativo – através de uma atitude teórica, abstrata, busca 
envolver os problemas numa visão total, neste sentido, admite 
hipóteses e possibilidades para a compreensão de um objeto, 
questionando-o através de vários aspectos.
Outro tipo de conhecimento é o científico.
Mas, qual a natureza do conhecimento científico?
O conhecimento científico é datado do século XVII, com a instauração 
da modernidade no ocidente. Naquela época, não havia a separação entre 
ciência e filosofia, mas ambas áreas do saber apresentavam-se com única 
– não que nos tempos atuais não haja um vínculo entre ciência e filosofia, 
ao contrário, este vínculo sempre se manteve. 
Havia uma interpenetração entre ciência e filosofia, mantendo-as 
em um vínculo comum, qual seja? A de questionarem a realidade quanto 
à felicidade humana. De modo geral, o conhecimento científico apresenta 
as seguintes características:
 > não é imediatista – ou seja, não se satisfaz com informações 
superficiais sobre uma dada realidade, mesmo considerando 
que tal informação seja útil;> é critica (de origem grega, kritikós) – procurar estar sempre 
julgando e corrigindo seus próprios resultados;
 > busca compreender ou explicar a realidade – quais os fatores 
que determinam sua existência;
 > generalidade – conhecendo os fatores que engendram dada 
realidade, deve-se garantir sua generalidade, conferindo o 
sentido de validade em outras situações;
 > a intersubjetividade na difusão de seus resultados – a garantia 
de que o conhecimento produzido está sendo posto em 
discussão e outros pesquisadores poderão ter acesso ao mesmo 
e empreenderem suas considerações, suas críticas;
 > não é dogmática – ou seja, o pesquisador ao relatar seus 
resultados, expondo-os aos seus pares, não pretende que os 
mesmos sejam reconhecidos como invioláveis, mas relata 
como os produziu, os procedimentos traçados para chegar aos 
resultados, ou seja, a apresentação do método denominado 
como científico.
Mas, o que entendemos por método científico?
O método apresenta-se na ciência como uma teoria e não como um 
ordenamento de passos, alcançando seus objetivos quando atende as 
seguintes etapas:
 → descobrir o problema ou a lacuna em um conjunto de 
conhecimentos — é preciso que o problema esteja enunciado 
com clareza para se passar à etapa subsequente; 
 → exposição precisa do problema — ou, ainda, a recolocação de 
um velho problema, à luz de novos conhecimentos (empíricos 
ou teóricos, substantivos ou metodológicos); 
 → busca de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao 
problema (por exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos de 
medição, técnicas de cálculo ou de medição) — ou seja, exame 
do conhecido para tentar resolver o problema; 
 → tentativa de solução do problema com auxílio dos meios 
identificados — se a tentativa resultar inútil, passa-se para a 
etapa seguinte; em caso contrário, à subsequente; 
 → invenção de novas ideias (hipóteses, teorias ou técnicas) — ou 
produção de novos dados empíricos que prometam resolver o 
problema. (MARCONI; LAKATOS, 2000; JUNIOR, p. 13, 14).
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Assim, na pesquisa, o investigador não somente traça os caminhos 
a percorrer em busca de um determinado objetivo, mas explicita também 
os motivos que o fizeram escolher esse e não outro caminho. Deste modo, 
a escolha do método é uma questão teórica (do grego theoria), uma 
vez que tais fundamentos embasam pressupostos e modo de pesquisar. 
Nesta perspectiva, fundamentos diferentes determinam procedimentos 
diferentes para se alcançar o conhecimento.
Mas exatamente o que são pressupostos?
Os pressupostos são suposições prévias 
(antes de a pesquisa acontecer) sobre o quê?
Basicamente os pressupostos e/ou suposições se relacionam a 
diversas condições, como:
•	 o sentido que se atribui ao ser homem, as possibilidades deste 
conhecer determinado fenômeno e/ou realidade, como se 
constituem essas possibilidades e como poderão se dar;
•	 concepção de sociedade e natureza que se tem; 
•	 através da concepção que se tem de homem, de sociedade e 
natureza, como se originam as ideias ou o saber da ciência, 
como ocorre o processo de produção do conhecimento.
A definição de método nas ciências encontra-se vinculada à 
condição de um aparato metodológico, que subjaz a uma matriz 
teórica. Tal condição pressupõe uma pluralidade de tendências teórico-
metodológicas que buscam fundamentar a produção de conhecimentos 
científicos em distintas áreas do saber.
Nesse sentido, apesar da ciência estabelecer critérios, aceitos de uma 
maneira geral por todos os cientistas, como definidores de sua maneira 
de trabalhar (como a criticidade, por exemplo), os pesquisadores, de uma 
forma geral, realizam seus trabalhos para a produção de conhecimento 
de distintas maneiras, mas sempre referenciando a concepção que se 
possui de conhecimento científico. 
Isto ocorre porque os pressupostos a respeito do que seja o homem, 
a natureza e/ou a sociedade e o próprio modo de produzir conhecimento 
não necessariamente precisam ser os mesmos para todos investigadores. 
Desta forma, sugere-se discorrer sobre visões de ciência ou em tendências 
metodológicas. 
Esquematicamente, podemos conceber as etapas da produção do 
conhecimento científico como:
Fonte: Autora, 2014.
Fonte: Autora, 2014.
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SEÇÃO 2
O FAZER CIÊNCIA PELA
SOCIEDADE HUMANA
As diferenças na forma de produzir e compreender o conhecimento 
científico encontram-se presentes no século XVII no surgimento da 
modernidade. No século seguinte, ou seja, XVIII, a ciência se constituía 
como uma extensão da filosofia – a epistemologia – e, no decorrer dos 
tempos, tem sido debatida e formulada a partir de diferentes fundamentos.
Na epistemologia de Immanuel Kant, constavam-se os termos 
sujeito e objeto como dois polos envolvidos na produção do conhecimento, 
ou seja: 
 ► o homem, disposto a conhecer algo, e,
 ► um aspecto da realidade a ser conhecido.
Nesse contexto, o papel do sujeito adquire importância para se 
compreender a produção científica, “[...] uma vez que se refere à forma 
como o cientista (o sujeito) deve se comportar para produzir conhecimento, 
e, assim, revela pressupostos subjacentes a toda pesquisa” (CARVALHO 
et al., 2000, p. 5).
Três perspectivas sobre o papel do pesquisador na produção do 
conhecimento se evidenciam com mais ênfase na história da epistemologia, 
vamos conhecê-las!
1.ª o empirismo: nesta perspectiva, o objeto detém a primazia 
em relação ao sujeito, em outros termos, a produção do conhecimento deve 
estar vinculada à forma como a realidade se apresenta ao pesquisador, 
assim, o sujeito assume papel passivo diante dessa realidade, pois a 
principal fonte do conhecimento está dada no objeto;
2.ª o racionalismo: nesta perspectiva, a ênfase encontra-se no 
sujeito ou em sua atividade em relação ao objeto, essa relação – sujeito 
e objeto – está permeada pela razão, ou seja, na capacidade humana de 
pensar, avaliar e estabelecer interações entre determinados elementos 
como fonte principal do conhecimento. 
Mas, qual a semelhança entre tais perspectivas?
Empirismo ambas expõe uma separação entre sujeito e objeto;
Racionalismo ainda, as perspectivas são denominadas como 
representacionismo e fundacionismo, pois ambas 
pretendem representar ou fazer referência à 
realidade tal como se apresenta, independentemente 
do sujeito que a investiga.
Independente do ponto de vista do pesquisador existe uma 
realidade a qual deve ser conhecida pelo investigador através de 
sua percepção ou a razão. Ou seja, na perspectiva empirista, seja 
no racionalismo, o pesquisador faz parte do processo de produção 
de conhecimento, mas supondo-se que o objeto ou a realidade que 
se quer estudar existe por si só, fora e separado desse pesquisador.
3.ª perspectiva: o interacionismo, como o próprio nome indica, 
o conhecimento é produzido na interação que se estabelece entre sujeito 
e objeto. Os produtos da ciência, nesta perspectiva vinculam-se com a 
realidade na qual o pesquisador participa em suas práticas sociais.
O que é importante considerar nessa perspectiva:
a. a ciência enquanto prática social produz conhecimentos 
que revelam o aspecto cultural, ideológico de um lastro histórico de 
determinado grupo social;
b. nesse sentido, o conhecimento científico detém historicidade, e, 
dessa forma, o interacionismo não se coaduna com a ideia daneutralidade. 
Em outras palavras, a perspectiva interacionista não apresenta a 
neutralidade científica, pois não concebe em seu processo o investigador 
purificado de suas condições de vida.
Mas, qual é a historia da ciência?
O surgimento da ciência está vinculado ao surgimento da sociedade 
moderna. Neste cenário, a ciência centraliza suas discussões em várias 
propostas e/ou tendência de fundamentação do conhecimento científico 
a partir de dois aspectos. Quais sejam?
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Um, sobre o papel do sujeito na produção do conhecimento, outro, 
à forma como a natureza e/ou sociedade é pressuposta pelas diversas 
tendências.
A modernidade e os fundamentos do conhecimento científico 
balizam o fim do período da Idade Média; é marcado por grandes 
transformações da economia mundial, propiciadas em grande parte pelas 
descobertas geográficas. 
Um dos movimentos marcantes, com raízes no âmbito da Idade 
Média, que surge e se ramifica, através de um significativo número de 
pensadores é o renascimento, promovendo uma progressiva transformação 
no pensar e agir na sociedade. 
Maciejowski_Tower_of_Babel
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Maciejowski_Tower_of_Babel.jpg
O Renascimento propunha a valorização da capacidade humana de 
conhecer e transformar a realidade. Esse se distingue da Idade Média 
e do período vindouro, a Modernidade – o período renascentista e o 
humanismo constituem um só movimento e são datados entre os séculos, 
de 1400 a 1500.
O Renascimento instituiu uma nova arte, nova mentalidade e formas 
de ver, pensar e representar o ser humano e o mundo. 
Sucintamente, podemos elencar as principais características do 
Renascimento como:
a) antropocentrismo (o homem como centro do universo): valorização 
do homem como ser racional e como a mais bela e perfeita obra da 
natureza;
b) otimismo: os renascentistas tinham uma atitude positiva diante 
do mundo – acreditavam no progresso e na capacidade humana e 
apreciavam a beleza do mundo tentando captá-la em suas obras de arte;
c) racionalismo: contrapondo à cultura medieval, que era baseada 
na autoridade divina, os renascentistas valorizavam a razão humana 
como base do conhecimento. O saber como fruto da observação e da 
experiência das leis que governam o mundo;
d) humanismo: os humanistas eram estudiosos, sábios e filósofos, 
que traduziam e estudavam os textos clássicos greco-romamos. Os 
conhecimentos dos humanistas eram abrangentes e universais, versando 
sobre diversas áreas do saber humano. Com base nesses estudos, 
fundamentou-se à valorização do espírito humano, das capacidades, das 
potencialidades e das diversidades dos seres humanos;
e) hedonismo: valorização dos prazeres sensoriais, carnais e 
materiais, contrapondo-se a ideia medieval de sofrimento e resignação. 
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Renascimento
O humanismo renascentista expressou-se como um movimento 
cultural, embasado nas culturas clássica, grega e romana, com o sentido 
de retomar suas formas literárias e artísticas e difundir os valores 
humanos que as fundamentavam, propiciando o nascimento de outra 
civilização, bastante distinta da anterior. Em outros termos, o humanismo 
se apresentou “[...] como um fenômeno literário e retórico no final do 
processo, quando se expande o novo espírito de época, voltado para 
o humano, buscando a dignidade humana no reconhecimento e na 
afirmação da liberdade.” (MEIER, 2009, p. 1).
O humanismo constituiu-se de um movimento de regeneração, ou 
seja, à volta aos antigos, o renascer das origens e aos princípios autênticos, 
através de uma reforma espiritual, tendo o homem como foco principal.
O Iluminismo
Herdeiro do humanismo renascentista, o Iluminismo foi um 
movimento cultural, político e filosófico, também denominado como 
ilustração ou período das Luzes. Iniciou-se entre 1680 e 1780, em toda 
a Europa, originando-se na Inglaterra, porém, desenvolvendo-se e 
atingindo seu apogeu na França. 
Segundo Rouanet (1993, p. 203), o Iluminismo se apresentou, ao 
mesmo tempo, como um movimento de demolição global, sob a égide 
mútua da razão e da ciência: “[...] o Iluminismo é crítico por ser racional e 
Fonte: Linha do Tempo. Disponível em: http://antigo.rainhadapaz.com.br/projetos/historia/
linha_tempo/moderna/renascimento/textos/esquema/esquema.htm Acesso em 2 Fev. 2014
racional por ser crítico”. Com a desorganização e o caos socioeconômico 
e político do contexto feudal, a própria razão impelia à critica.
Segundo Severino (1994, p. 108), o Iluminismo, pode ser 
compreendido como uma,
[...] concepção filosófica de acordo com a qual 
o conhecimento se dá em função das luzes da 
razão e que só o conhecimento racional critico e a 
cientificidade emancipa o homem da superstição 
e do dogma, provendo seu progresso em todos os 
campos. Por extensão, é todo movimento político, 
literário ou cultural que se apoia nessa visão. 
Muitos de seus pensadores compartilhavam os mesmos interesses 
da classe burguesa, por sua vez, esses os apoiavam. Assim, o Iluminismo 
tinha várias criticas com relação ao Antigo Regime, como: o mercantilismo 
(intervenção na economia); o absolutismo monárquico (proteção à 
nobreza); o poder da igreja (verdades revelada pela fé).
Apresentou-se como um dos instrumentos para repensar a posição 
do homem como sujeito da história, imprimindo à sociedade seu caráter 
antropocêntrico, alterando radicalmente os referenciais ideológicos e 
culturais das relações sociais do período. 
Através desses aspectos, os iluministas preconizavam: a liberdade 
econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia; o avanço 
da ciência e da razão; o antropocentrismo; o predomínio da burguesia e 
seus ideais.
Através de forte luta empreendida pela razão humana, o Iluminismo 
fez frente às condições sociopolíticas postas pela monarquia e igreja, 
procurando desvendar a explicação dogmática das relações do homem 
com a natureza, através da ciência e explicando a vida humana em 
sociedade, oferecendo possibilidades do próprio homem construir seu 
destino.
A tradição religiosa e a autoridade perdem 
gradativamente seu caráter sagrado, assim 
como com os poderes estabelecidos (Igreja e 
monarquia), os pressupostos da autonomia 
social e individual entram em cena depois de 
um período de sombras da Idade Média, urgindo 
por novas teorias que explicassem a realidade 
e propusessem novas visões de mundo. Essas 
teorias seriam fundamentadas nos valores 
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da razão e do conhecimento / ciência como 
possibilidade de liberdade, de emancipação 
humana. Sob a influência das marcas iluministas 
“fomos emancipados” da crença no ato da 
criação, da revelação e da condenação eterna, 
encontramos por nossa própria conta a capacidade 
de aperfeiçoamento, de coragem, de vontade, de 
busca (LUIZ, 2006, p. 3). 
A superação do teocentrismo medieval, com a ênfase no homem e 
o racionalismo naturalista grego, constituiu “[...] o início de um processo 
de secularização, de emancipação das tutelas da religião e da Igreja, em 
direção a uma razão, a um conhecimento científico e a uma ação política 
moderna, radicalmente diferente das anteriores.” (MEIER, 2009, p. 1).
Em umainterpretação histórica, ao elevar os valores humanos e 
ações políticas, o Iluminismo propiciou outro padrão civilizatório, sendo 
esse designado por estudiosos como um processo de “emancipação”.
[...] a ideia iluminista propõe estender a todos os 
indivíduos condições concretas de autonomia, 
em todas as esferas. Em outras palavras, ela 
é universalista em sua abrangência – ela visa 
todos os homens, sem limitações de sexo, raça, 
cultura, nação – individualizante em seu foco – 
os sujeitos e os objetos do processo de civilização 
são indivíduos e não entidades coletivas 
– e emancipatória em sua intenção – esses 
humanos individualizados devem aceder à plena 
autonomia, no tríplice registro do pensamento, da 
política e da economia. (ROUANET, 1993, p. 33).
Nessa perspectiva, o homem sente-se capaz de, por si só, descobrir 
o modo de funcionamento da natureza, com a mesma capacidade com 
que estava descobrindo outros povos, outros continentes, outras terras 
estrangeiras. 
Submeter-se à natureza aparece como o primeiro passo do projeto 
moderno de produção de conhecimento. O segundo passo, relacionado 
intrinsicamente ao primeiro, refere-se ao domínio e controle da natureza 
em benefício do próprio homem. Há uma procura, pelo homem, em 
produzir corretamente os conhecimentos, marcando o surgimento da 
ciência moderna, a qual tinha como principal objetivo a previsão da 
ocorrência futura dos fenômenos, previsão esta subjacente à elaboração 
das leis científicas.
Mas, tal busca pelo conhecimento não foi um processo tranquilo. 
Havia, entre os estudiosos da época, divergências quanto a um 
otimismo epistemológico, ou seja, para muitos não era possível obter um 
conhecimento puro, destituído das vicissitudes ou caprichos humanos. 
No entanto, a base dada pela capacidade humana de conhecer-se a si 
própria, com autonomia, tornou-se hegemônica na modernidade.
Assim, na ciência moderna, o problema central foi posto no 
método. Em outras palavras, sem determinada ordenação não é possível 
conhecer. “O problema dos modernos vai ser o ponto de vista filosófico, 
ou mais especificamente epistemológico, fornecer as bases seguras do 
conhecimento, desprovendo-o de erros advindos da falta de método, da 
ordem e medida necessárias ao correto proceder da razão.” (CARVALHO 
et al., 2000, p. 9).
Na busca obsessiva pela superação do erro e contrária à parcialidade 
humana, os afetos e suas vicissitudes, a imaginação que destrói a 
diferença entre o real e o onírico, a influência dos interesses particulares 
(pessoais, culturais, grupais, etc.) na construção do conhecimento e contra 
a linguagem que carrega consigo os preconceitos do real, e, portanto, não 
consegue descrever a realidade tal como ela é, nasce a ciência moderna.
Os primeiros modernos ao buscarem os fundamentos seguros do 
conhecimento, supõem que há uma unidade ou permanecia na natureza. 
Assim, ao indicarem as bases seguras para o conhecimento, apresentam, 
também, uma concepção de verdade: aquela comprometida com a 
valorização dos fenômenos.
O termo positivo expressa o real por oposição ao quimérico, o útil em oposição ao 
ocioso. Significa também o contrário de negativo e indica tendência de substituir o absoluto 
pelo relativo. Disponível em: http://professorbical.blogspot.com.br/2012/11/o-positivismo-de-
comte.html Acesso em: 19 dez. 2014.
Nesse processo da busca pela verdade, estava posto a necessidade 
de uma purificação do sujeito produtor de conhecimento. 
Mas, será que era possível obter um conhecimento tão destituído de 
humanidade, ainda que feito em nome do homem e de sua transformação?
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SEÇÃO 3
SÉCULO XIX E AS NOVAS TENDÊNCIAS 
PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
No raiar do século XIX surgem, com o propósito de compreensão das 
crises do conhecimento, as ciências humanas. Duas foram as tendências 
metodológicas que marcaram e configuraram profundamente a produção 
do conhecimento: o positivismo e o materialismo histórico-dialético.
O positivismo, fundado por Augusto Comte, relacionou ao 
surgimento da sociologia, sendo seus fundamentos:
•	 assim como a natureza é compreendida como um fenômeno 
natural e harmônica, a vida social também deve ter a mesma 
compreensão, ou seja, harmônica e natural;
•	 constituída por um todo integrado por partes, a sociedade 
tende a se desenvolver naturalmente – nesse contexto, a 
ordem capitalista representaria a culminância da evolução da 
humanidade;
•	 desta forma, as leis que ordenam a vida social devem ser 
naturais e invariáveis, portanto, independentes da vontade e da 
ação humana.
O positivismo de Comte propunha para as ciências sociais o método 
que embasava as ciências naturais. Suas principais características eram:
1. Observação neutra, objetiva, desligada dos 
fenômenos, o que implica uma separação entre 
o sujeito produtor de conhecimento e seu objeto 
de estudo.
2. Valorização exclusiva do fato, tomado como 
aquilo que pode ser conhecido somente através 
da observação e da experiência.
3. Segmentação da realidade, ou seja, a 
compreensão da totalidade se dá pela compreensão 
das partes que a compõem. (CARVALHO et al., 
2000, p. 25).
Tal proposta, no entanto, apresentou algumas críticas, como:
 ► a valorização do fato, a partir de um constructo teórico, o 
qual serve para a análise dos fenômenos sociais, é um dos 
fundamentos criticados, pela ideia de harmonia na natureza e 
na vida social;
 ► outro, sobre as ideias de ordem e progresso, elaborado pela 
burguesia, e a integração perfeita do todo pelas partes, “[...] 
revelando um compromisso com o modo capitalista de se 
entender como o mais avançado dos sistemas sociais elaborados 
pela humanidade”;
 ► a forma rígida com que se concebe a natureza e o sistema social, 
impedindo de se perceber a realidade enquanto um processo.
Quanto ao materialismo histórico-dialético concebido por Karl 
Marx, outra tendência metodológica se constitui a partir de uma série de 
influências, quais sejam:
a. A dialética hegeliana, ou seja, o real existe 
como movimento contraditório e processual; 
a construção do conhecimento científico, 
portanto, deve ser feita nessa perspectiva. 
Pensar dialeticamente a realidade é desvendar 
os movimentos contraditórios que a compõem. 
O que diferencia Marx de Hegel é a concepção 
do primeiro de que é o ser social do homem que 
determina sua consciência e não, como afirma o 
segundo, sua consciência ou ideia.
b. Feuerbach foi um segundo marco. Segundo 
a análise da religião feita por este autor, o 
homem se aliena quando atribui a entidades, 
que são criações suas qualidades e poderes que 
pertencem ao próprio homem. Surge, assim, uma 
concepção materialista e naturalista de homem.
c. De A. Smith e D. Ricardo, Marx se apropriou da 
noção de valor do trabalho.
d. Dos socialistas utópicos (Owen, Fourier e 
Saint Simon), Marx considerou a possibilidade 
de construção de uma abordagem científica da 
sociedade capitalista e de suas condições de 
superação. Este, aliás, é o cerne do trabalho de 
Marx. Em outras palavras, Marx busca estudar as 
leis que regem o desenvolvimento do capitalismo 
e indicam sua superação. (CARVALHO et al., 
2000, p. 26).
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Quanto aos fundamentos do materialismo histórico-dialético, Marx 
os concebia como:
 ■ a base da sociedade e do próprio homem, é o trabalho. Através do 
trabalho o homem se relaciona com a naturezae com os outros 
homens de forma a produzir sua existência material, incluindo 
a compreensão material das formas de organização jurídica, 
política, artística ou outro tipo qualquer de ideia;
 ■ historicamente o homem se constrói. Ao realizar sua história, 
em determinadas condições, o homem se torna determinado e 
determinante da/pela natureza e por outros homens, à medida 
que transforma a natureza para satisfazer suas necessidades 
básicas e, nesse processo, cria novas necessidades que se 
transformam também;
 ■ o conhecimento científico constitui-se em uma forma de 
compreender e transformar o homem e a sociedade, o que 
implica a ausência de neutralidade da ciência, pois o que se está 
conhecendo sempre é uma determinada formação histórica, a 
partir de dado ponto de vista: o da classe explorada. 
O conhecimento que se pretende neutro é tratado 
como ideológico, isto é, são ideias produzidas pela 
classe que detém o poder e que são apresentadas 
como entidades, como verdades eternas, como 
universais a-históricos. Na verdade, trata-se de 
uma universalização de interesses particulares, 
ou seja, uma classe apresenta os seus interesses 
como sendo os interesses de todos os membros da 
sociedade. (CARVALHO et al., 2000, p. 27).
 ■ o conhecimento a-histórico se constitui como aparência, pois 
não revela suas condições históricas de produção. Desta forma, 
considerar a história e a dialética, pressupõe o alcance da 
essência dos fenômenos, revelando-os como inter-relacionados 
com outros fenômenos com os quais e a partir dos quais 
constituem totalidades dinâmicas.
SEÇÃO 4
SÉCULO XX E AS TENDÊNCIAS
PARA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
No cenário do século XX, em específico em suas primeiras décadas, 
as propostas de produção de conhecimento científico encontravam-
se vinculadas ao ideal de objetividade posto pela ciência moderna. O 
sentido iluminista apoiado na razão predominava. Outras tendências para 
a produção do conhecimento se impunham, como o empirismo lógico e a 
fenomenologia. 
Surgem outras tendências metodológicas: o neopositivismo, 
o estruturalismo e a fenomenologia, na perspectiva de manterem e 
aprofundarem, ao mesmo tempo, os fundamentos teóricos editados 
no nascimento da ciência moderna. A ênfase se coloca na questão da 
neutralidade da ciência, ou seja, a possibilidade da independência do 
sujeito com relação ao objeto investigativo. “Se o conhecimento não 
é neutro (como já propunha Marx), então a questão da produção do 
conhecimento científico não é só cognitiva, mas também ética e política.” 
(CARVALHO et al., 2000, p. 28).
O neopositivismo, também denominado como empirismo lógico, 
teve como representantes principais R. Carnap, O. Neurath, H. Hahn 
e M. Schlick. Para esse grupo de estudiosos, conhecidos também como 
Círculo de Viena, a produção do conhecimento deveria fundamentar uma 
transformação racional da ordem social, a realidade.
Duas condições são essenciais para compreensão do 
neopositivismo,”[...] a) trata-se de uma concepção empirista e positivista, 
isto é, só existe conhecimento legítimo baseado numa experiência 
empírica; e b) pela aplicação do método da análise lógica ao material 
empírico, busca-se o ideal da ciência unificada.” (CARVALHO et al., 
2000, p. 28).
A outra tendência, que surge no início do século XX é a 
fenomenologia, tendo como precursor F. Brentano (segunda metade do 
século XIX), porém, nessa tendência, seus princípios são elaborados por 
E. Husserl na primeira metade do século XX. 
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Os estudiosos dessa tendência são: Sartre, Heidegger, Merleau-
Ponty, Schutz, Poiret e Koyré, os quais foram influenciados pelo 
pensamento de Husserl.
A fenomenologia, ao contrário do positivismo em voga no início do século XX, sobretudo 
como modelo metodológico para as ciências humanas –, e mesmo do cartesianismo, se opõe à 
separação entre o sujeito produtor de conhecimento e o objeto. (CARVALHO et al., 2000, p. 29).
Inverso ao positivismo, a fenomenologia é contrária à separação 
entre o sujeito produtor de conhecimento e o objeto de pesquisa. Afirma 
que o conhecimento é o produto da interação entre o que o sujeito observa 
e o sentido que ele fornece à coisa percebida. 
O método fenomenológico busca a essência da experiência humana, 
conduzindo o pesquisador a refletir sobre a realidade e sobre a sua 
própria existência nessa instância. Assim, a prática reflexiva na análise 
fenomenológica das próprias experiências em um processo investigativo 
poderá ser utilizada como uma estratégia para o desenvolvimento do 
pensamento crítico e para a compreensão da teoria do conhecimento e da 
relação teoria-prática. (PSICOLOGIA, 2013).
Dessa forma, não tem como se obter uma observação independente 
dos significados que o pesquisador atribui ao objeto investigativo. Em 
outros termos, o objeto, a realidade investigada se constitui a partir dos 
sentidos conferidos a eles pela consciência.
Por isso se fala em fenômenos nessa tendência e 
em intencionalidade, ou seja, o fenômeno é algo 
que aparece para a consciência, que é sempre 
a consciência de algo. [...] a fenomenologia 
não admite que existam fatos que por si só 
garantem a objetividade da ciência. [...]. Para a 
fenomenologia, portanto, não existe fenômeno 
que não se dê no plano da intencionalidade da 
consciência. (CARVALHO et al., 2000, p. 30).
A terceira tendência relacionada, sobretudo às ciências humanas, 
surge no início da segunda metade do século X, o estruturalismo. 
Inicialmente suas bases foram formuladas no campo da linguística, 
pelo estudioso Ferdinand de Saussurre. A partir da metade do século XX, 
C. Lévi-Strauss elabora uma perspectiva estruturalista para a análise de 
fenômenos culturais, constituindo, assim, uma tendência aos estudos da 
antropologia. 
Mas, o que é a estrutura?
A estrutura se constitui em um conjunto de elementos, 
intercambiáveis que mantêm relações necessárias, funcionais entre si, ou 
seja, cada parte que participa do sistema concorre para a manutenção dos 
que lhe estão relacionados, cada parte tem uma função no todo.
De uma maneira geral, o método estruturalista 
pretende alcançar leis universais que expliquem 
o modo de funcionamento dos fenômenos 
humanos. [...]. E são essas estruturas que, de 
forma inconsciente, controlam o comportamento 
humano. Nesse sentido, é alcançado o ideal 
de cientificidade para as ciências humanas, 
uma vez que, ao desvendar as estruturas, 
está-se enunciando leis gerais sobre o modo 
de funcionamento das sociedades humanas. 
(CARVALHO et al., 2000, p. 31).
A liberdade, a criatividade e a historicidade humana, no 
estruturalismo, somente poderão ser compreendidas no cenário das 
determinações estruturais de cada grupo social. Assim, enfatiza-se a 
sincronia (dimensão estrutural) do que a diacronia (dimensão histórica).
Outras tendências, final do século XIX e XX, manifestaram-se 
contrárias ao modo de conhecer da ciência moderna, constituindo-se em 
outros fundamentos de produzir conhecimentos.
Para Husserl, os fenômenos são percebidos pela consciência e se 
referem à realidade dos objetos, ao que eles são. Mas, alcançar a essência 
de tais fenômenos requer um método (o fenomenológico). Assim, uma 
questão que se coloca é: Como a nossa consciência pode ter acesso à 
realidade?
A responsabilidade com a produção do conhecimento envolve, 
portanto, aliar-se, continuamente, ao esforço de se alfabetizar 
cientificamente, seja sobre os grandes e/ou pequenos temas científicos, 
desde o ensino do primeiro ao terceiro grau.36
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Alfabetizar compreende ensinar a ler, mas adicionada à definição 
de Ciências, conforme Chassot (2003) conclui-se que a alfabetização 
científica significa ensinar a ler e interpretar a linguagem instituída por 
homens e mulheres para explicar o mundo. 
Para Freire (1980, p.111), 
[...] a alfabetização é mais que o simples domínio 
psicológico e mecânico de técnicas de escrever 
e de ler. É o domínio destas técnicas em termos 
conscientes. [...] Implica numa autoformação de 
que possa resultar uma postura interferente do 
homem sobre seu contexto.
Nestas perspectivas, a alfabetização científica envolve não apenas o 
conhecimento de leitura, mas de interpretação da realidade, a competência 
técnica no sentido da intervenção humana no contexto em que se insere.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE) a importância de uma educação científica consiste em 
um dos fatores mais importantes para a realização do bem-estar econômico 
de uma nação. Em outros termos, a OCDE expressa a importância da “[...] 
capacidade de usar o conhecimento científico para identificar questões e 
chegar a conclusões baseadas em provas, de modo a entender e ajudar a 
tomar decisões sobre o mundo natural e as mudanças nele operadas pela 
atividade humana.” (SILVA, 2012, p. 50).
A contemporaneidade democrática requer, além do exercício civil, 
cidadãos que disponham de conhecimentos consistentes para decidirem 
sobre temáticas que estão além do senso comum.
Nesse desafio, algumas condições devem ser enfáticas, como o 
papel das mídias, ou seja, os meios de comunicação em massa, com a 
relevante função de expandir os veículos do noticiário científico, bem 
como qualificar o desenvolvimento profissional de seus agentes para 
uma atuação competente. Nesta perspectiva, espera-se manter bem 
informados os atuais interessados por ciência ou aqueles que a praticam, 
mas, necessariamente, investir na expansão de seu público. 
Outra condição, fundamental, refere-se ao sistema educacional 
brasileiro.
A escola será tanto mais eficiente quanto mais 
estiver aberta às condições do país e do mundo em 
que vivemos. O interesse pelos problemas atuais 
que afligem a humanidade não poderá deixar 
de existir dentro da escola, na medida em que 
esta pretende formar pessoas para atuarem de 
forma construtiva na solução desses problemas; 
a civilização é instigada a superar o desafio da 
busca pelo conhecimento, pela democracia e pela 
educação universal, num caráter interdependente. 
(BIZZO, 2002, p. 307-314).
O âmbito educacional deve se revestir de excelência no ensino 
e produção de conhecimentos, possibilitando a oferta de espaços de 
aprendizado e discussões através de professores comprometidos com a 
cientificidade.
Finalizamos esta Unidade expondo, de modo sucinto, duas questões. Quais sejam? 
Expor os diferentes modos da produção da ciência, a partir de diferentes concepções teóricas, 
a relação sujeito-objeto de pesquisa nas diversas tendências no decorrer da história. Outra 
buscou retratar como a realidade era concebida por essas diversas tendências. Percebemos 
que as questões encontram-se imbricadas, ou seja, ambas são marcada por uma relação 
dialética.
O produtor do conhecimento, no início das concepções teóricas da ciência, apresenta-
se como um sujeito racional e livre, capaz de, por si só, elaborar pressupostos para a ciência 
– a autonomia é uma das maiores invenções do mundo moderno.
A epistemologia – sua constituição e desenvolvimento – faz parte do mundo moderno 
até os dias atuais. Assim, percebemos o quanto a ciência é partícipe e resultado das condições 
históricas. Também, o conhecimento científico e seus produtos propiciam alterações na 
realidade social, de tal forma que, vinculados às determinações socioeconômicas, constituem-
se em novas formas de vida e de sociabilidades.
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Sugestão de leitura 
GOHN. Maria da Gloria M. A pesquisa na produção do conhecimento: questões metodológicas. 
EccoS Revista Científica, v. 7, n. 2, p. 253-274, São Paulo, jul. – dez. 2005.
MADURO, Otto. Mapas para a festa: reflexões latino americanas sobre a crise do 
conhecimento. Rio de. Janeiro: Vozes, 1994.
A roda de leitura2 1
Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=%22Roda+de+leitura%22+de+Agostin
o+Ramelli&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=p2UrU-P7HMuNkAfO8IHIDg&ved=0CE
8QsAQ&biw=911&bih=429 Acesso em: 24 fev.
2 Inventada e projetada pelo engenheiro militar italiano, Agostino Ramelli, em 1588. “A 
roda da leitura consistia em uma roda giratória vertical, capaz de acomodar vários livros, a serem 
consultados por um leitor que podia voltar sua atenção de um para o outro sem sair do seu lugar.” 
BELLEI, Sérgio Luiz Prado. Hiper texto e literatura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. P. 36-37.
1. Sinalize nas questões abaixo, a correta.
1.1 O processo científico pode ser guiado por distintos pressupostos, determinando 
procedimentos diferentes para alcançar o conhecimento. Mas, exatamente, sobre o que se 
referem tais pressupostos?
I. O que é o homem, suas possibilidades de vir a conhecer a realidade e, se existem, 
quais são elas e como poderão se dar.
II. As maneiras pelas quais a natureza e a sociedade são concebidas.
III. O processo de produção de conhecimento, isto é, considerando determinada concepção 
de homem e de natureza e/ou sociedade, resta supor como se originam as ideias ou o 
saber da ciência, como deverá ser possível produzi-lo.
 ( ) I ( ) II ( ) III ( ) II, III ( ) III ( ) I, II, III.
1.2 Na história da epistemologia surgiram três perspectivas sobre o papel do pesquisador na 
produção do conhecimento. Quais são tais epistemologias?
I. Empirismo e racionalismo: ambos pressupõem uma separação entre sujeito e objeto, 
isto é, partem do princípio de que existe uma realidade que independe do ponto de vista 
do pesquisador e que deve ser por este alcançada, seja tomando como sua via principal 
de acesso a percepção ou a razão.
II. Empirismo e racionalismo, em ambos os casos, o pesquisador participa do processo de 
produção de conhecimento, mas supondo-se que o objeto ou a realidade que se quer 
estudar existe por si só, fora e separado desse pesquisador. 
III. Empirismo e racionalismo, ambos são também denominados como representacionismo 
e fundacionismo, uma vez que ambas pretendem representar ou fazer referência à 
realidade tal como ela, de fato, é, independentemente do sujeito que a estuda.
IV. Outra perspectiva: o interacionismo, o qual indica que o conhecimento é produzido no 
quadro da interação entre sujeito e objeto. Nesta perspectiva, os produtos da ciência 
seriam os resultados das inter-relações que mantemos com a realidade, a partir de 
nossas práticas sociais.
V. Na perspectiva interacionista, pressupõe-se um cientista “contaminado” pelas condições 
que determinam a sua própria existência como homem e pesquisador.
( ) III ( ) IV ( ) V ( ) II, III, V ( ) I, II, III, IV.
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Caça-palavras
1. Encontre no caça-palavras as seis características do conhecimento religioso.
N A O V E R I F I C A V E L I
O P E C L C F Z R Q U J X I U
I E T P U M X R E X L B N O E
U Y L V C FN L I L K O T K O
X I N V I V O G T T Z A N I P
I N L U D H V X Q B X V V T H
Q F R R A V I H S E L H X P E
D A D W T K T E B Q D L N A R
Q L Y V I K A Z G L J D A E P
S I I L V O R K M V U G Y D L
B V N F O P O K R F G U K G H
K E V C Q G L R C P L M Q I S
K L T M N C A F I A R C Y N S
Y Q Y K L V V L L Z R R W S P
Z X P A F O S M Q P A I C P M
C L Z H O C I T Á M E T S I S
H U P F W B R D K A F I L R P
Q E I R D L H Y F K C C O A R
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T Z M H Z F S H H B C M G O C
O C I T Á M E T S I S K Q N D
J I I Q G O H I Y K B A F A T
2. Descubra no caça-palavras as quatro características do conhecimento filosófico.
Desafios do conhecimento 
em Direitos Humanos: 
disciplina, multidisciplinaridade 
e interdisciplinaridade 
do conhecimento
Latif Antonia Cassab
Un
id
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II
•	 Contextualizar a disciplinaridade enquanto categoria constituída sob 
diferentes perspectivas e formatos teórico-metodológicos.
•	 Abordar a multidisciplinaridade constituída pela integração de 
conhecimentos.
•	 Compreender a interdisciplinaridade como uma abordagem que 
busca a unidade do saber.
ROteiRO De estUDOs
ObjetivOs De estUDOs
•	 SEÇÃO 1: Disciplinaridade
•	 SEÇÃO 2: Multidisciplinaridade
•	 SEÇÃO 3: Interdiciplinaridade
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“Nada perturbará esse voo nas alturas, nem o monte selvagem, abismos 
e vertentes, abrem-se enfim o mar com enseadas ardentes, e meus olhos 
humanos fartam deslumbrados. [...] Ao homem, por nascença, é dado, 
nesta vida, deixar que a alma ascenda ao páramo a sonhar.” 
(GOETHE, 2003, p. 50).
No atual estágio da sociedade, a produção de conhecimento em 
direitos humanos tem se instituído na pós-graduação, através de um 
esforço acadêmico, no sentido de fortalecer os laços, os vínculos e 
amarras para aprimorar, desenvolver, consolidar e dar fundamento ao 
debate sobre os direitos humanos no Brasil. Mas não somente. À medida 
que os direitos humanos comparecem à agenda política nacional, há uma 
demanda pelo engendramento de conhecimento com qualidade. 
Inúmeras organizações não governamentais e governamentais 
que atuam na promoção e defesa dos direitos humanos, no cenário 
nacional e internacional, requerem para seus quadros recursos humanos 
especializados. Em outras palavras, como importante ator em direitos 
humanos, as organizações não governamentais e governamentais 
passaram a exigir “[...] profissionais capazes de dominar informação 
qualificada, que inclui compreensão de instrumentos técnicos e 
metodológicos próprios do saber acadêmico e profissional produzido nas 
universidades e centros de pesquisa.” (ADORNO; BRITO, 2006, p. 1).
A qualificação profissional em direitos humanos permite o 
refinamento de pareceres e a construção de cenários institucionais 
comprometidos com a participação nos processos de formulação e 
implementação de políticas públicas de proteção e promoção de direitos 
humanos. Assim, “[...] considera-se que o agir teórico, ético e crítico é de 
fundamental importância para o agir reflexivo transformador.” (BITTAR, 
2008, p. VII).
No entanto, se a produção do conhecimento em direitos humanos é 
questão fundamental para a instauração de outro patamar de civilidade – 
posto pela relação teoria e práxis – é preciso considerar o estágio em que 
se encontra a produção desse conhecimento.
PARA INÍCIO DE CONVERSA No âmbito brasileiro, apesar da temática se vincular de forma 
progressiva e ampliada aos cursos de terceiro grau e na pós-graduação 
latu sensu, em diferentes formações profissionais, o mesmo não ocorre 
nos cursos de stricto senso – mestrados e doutorados. 
Mas, o que tal situação significa? Segundo Adorno e Brito (2006), 
significa a necessidade de superar alguns desafios. Quais sejam?
O reconhecimento da indivisibilidade dos direitos humanos, 
pressupondo a superação de uma única ou restrita perspectiva para se 
investigar o campo de direitos humanos. Assim, um dos desafios postos 
à pesquisa nessa área se constitui no avanço teórico-metodológico, 
através do desenvolvimento conceitual da pesquisa teórica e da pesquisa 
empírica, expressa por objetivos delineados, com objetividade e precisão. 
“É sob esta perspectiva que se pode compreender questões de direitos 
humanos relacionadas à ecologia, ao meio ambiente e ao desenvolvimento 
sustentável.” (ADORNO, BRITO, 2006, p. 2). 
O desafio se faz, então, em produzir pesquisas que possam, de alguma 
forma, tratar o assunto de modo concentrado, multidisciplinar e interdisciplinar. 
Mas, qual a distinção conceitual entre tais termos?
Nos últimos quatro séculos, o desenvolvimento da ciência centrou-
se no objetivo de compreender a natureza e os fenômenos vinculados ao 
mundo real. Nesse processo, o conhecimento foi subdividido em inúmeras 
disciplinas, as quais contribuíram para o avanço da ciência, em específico 
a ciência clássica, a qual faz uso de métodos, quase sempre ineficazes, 
para operar com problemas contemporâneos de maior complexidade.
A ciência clássica, de modo geral, caracteriza-se por ser constituir 
em campos distintos, com teorias, objetos e métodos próprios de estudo. 
O modelo científico dominante até o final do século XIX se guiava pelo 
entendimento de que o conhecimento das partes constituintes de uma 
realidade conduz ao conhecimento do sistema como um todo, condição 
que resultou no saber especializado (as ciências) e aos especialistas 
(cientistas, técnicos) para soluções de ordem teórica ou prática.
A partir do pós-guerra3,1surgiram outras ciências que se 
desenvolveram de forma diferenciada da ciência clássica, tendo 
como um de seus traços identificadores as práticas multidisciplinares, 
interdisciplinares necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.
3 Conforme Judt (2008), o pós-guerra, na historiografia contemporânea, quase sempre se 
refere ao período entre 1945 e 1955, ou seja, após a Segunda Guerra Mundial. 
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Contudo, o conhecimento científico que se 
estabelece, com maior expressão a partir da 
segunda metade do século XX, não nega o valor 
da ciência clássica, tampouco concorre com 
ela. Mas, uma revolução iniciada na física veio 
questionar as ideias de ordem, separabilidade, 
redução e lógica clássica, transformando e 
alterando o paradigma científico vigente até 
então. Em seguida, vieram as ciências sistêmicas 
que reagruparam disciplinas em torno de um 
complexo de interações ou de um objeto que 
constitua um sistema, representando uma 
segunda revolução. (BICALHO, OLIVEIRA, 
2011, p. 4).
As inovações tecnológicas, nesse período, também contribuiriam 
para mudanças importantes no papel do conhecimento nas relações 
sociais, engendrando um novo paradigma, econômico e tecnológico, 
tornando-se a base da atual sociedade, e cujas principais consequências 
foram: 
[...] a despersonalização do conhecimento; a 
credibilidade do conhecimento, que, em alguma 
extensão, já não é possível ser provado pela 
observação do mundo; a fragmentação do saber, 
devido à grande quantidade disponível e ao 
desenvolvimento de diferentes padrões de ação 
e aceitação entre os campos e dentro de cada 
um; e a racionalização do conhecimento, exigida 
pela crescente complexidade do mundo atual e 
pela concepção ocidental empirista. (BICALHO, 
OLIVEIRA, 2011, p. 4).
Nesse cenário, evidenciou-se a requisição, pela ciência, de novas 
abordagenspara a solução de situações complexas, principalmente 
nas interações estabelecidas entre o homem e os sistemas naturais, nas 
áreas de grande desenvolvimento tecnológico e no campo da competição 
econômica. Outras estruturas passaram a ser discutidas e desenvolvidas 
para compreensão de temas atuais, como a ecologia, os estudos da paz, 
a avaliação de tecnologia, as áreas do trabalho e do lazer, propiciando 
a aproximação entre as fronteiras do conhecimento na perspectiva 
de conduzir, com sucesso, os empreendimentos desenvolvidos pelas 
disciplinas.
A multi-, a inter- e a transdisciplinaridade (apesar de existirem 
outras denominações e subdivisões desses termos)42ofereceram outros 
modos de pensar e fazer diferente da ciência clássica, colocando, para 
além do pensamento analítico reducionista, formas de investigação 
científica que possibilitem a compreensão de eventos e fenômenos em 
toda a sua complexidade. 
Os níveis de classificação das disciplinas constituem-se sob 
diferentes perspectivas e formatos, com empréstimos de teorias e de 
metodologias “[...] deslocamentos ou diluição de fronteiras entre os 
campos científicos envolvidos, sem uma distinção muito precisa dos 
limites entre esses níveis, dentro de uma “cadeia conceitual” sucessiva e 
crescente [...]”. (BICALHO, OLIVEIRA, 2011, p. 4).
4 “Os conceitos associados aos três termos aqui mencionados não são, contudo, únicos ou 
aceitos com tranquilidade pelos estudiosos. Eles foram assumindo significações diversas ao longo 
das últimas décadas, mantendo em comum a ideia de que representam movimentos que surgiram 
em resposta à fragmentação do conhecimento.” (BICALHO, OLIVEIRA, 2011, p. 5).
SEÇÃO 1
DISCIPLINARIDADE
Segundo Morin (2002), a expressão disciplina se deriva do 
conhecimento acadêmico-científico – esse oriundo no século XIX e, 
ao longo do século XX –, através do surgimento de vários ramos ou 
especializações no âmbito da ciência e, desenvolvendo-se, à medida do 
progresso científico da pesquisa. Também, pode se expressar como um 
coletivo de conhecimentos em determinada cadeira de uma instituição de 
ensino ou, simplesmente, uma matéria de ensino. 
Consonante a uma ampla perspectiva epistemológica Morin (2002, 
p. 37) apresenta a disciplina como,
[...] uma categoria que organiza o conhecimento 
científico e que institui nesse conhecimento 
a divisão e a especialização do trabalho 
respondendo à diversidade de domínios que as 
ciências recobrem. Apesar de estar englobada 
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num conjunto científico mais vasto, uma 
disciplina tende naturalmente à autonomia pela 
delimitação de suas fronteiras, pela linguagem 
que instaura, pelas técnicas que é levada a 
elaborar ou a utilizar e, eventualmente, pelas 
teorias que lhe são próprias.
Segundo Gusdorf (2006), a disciplina busca “[...] uma aproximação da 
realidade humana segundo a dimensão que lhe é própria, tendo o homem como 
centro comum”, revelando distintos padrões de organização e formalidade. 
Para Heckhausen (2006), a disciplina apresenta determinados 
critérios que permitem a compreensão de sua natureza, possibilitando 
aproximações ou as distinguindo uma das outras em seus aspectos, os 
quais nem sempre são muito bem definitivos, como:
 ► domínio material – constitui os objetos com os quais se ocupam, 
sendo que muitas disciplinas se sobrepõem a este domínio;
 ► domínio de estudo – apresenta aspecto específico de seu domínio 
material;
 ► nível de integração teórica – construção da realidade a partir de 
seus domínios em termos teóricos, ou seja, sua fundamentação 
teórica deve ser consistente e para abranger suficientemente 
para explicar e prever os eventos de seu domínio de estudo. Tal 
condição expressa a maturidade da disciplina, e se constituindo 
no critério mais importante para identificação de uma disciplina;
 ► métodos próprios – para apreender e transformar os eventos, 
denotando autonomia e aperfeiçoamento, os quais devem ser 
adaptados à natureza do domínio de estudo, com correspondência 
entre aplicação concreta dos métodos e as leis gerais no plano 
teórico;
 ► instrumentos de análise – baseiam-se em estratégia lógica, 
em raciocínios matemáticos e na construção de modelos de 
processos; aplicam-se a diversos domínios e são critérios neutros;
 ► aplicações – orientação para a aplicação e uso em atividade 
profissional;
 ► contingências históricas – situação pela qual a disciplina passa 
em seu processo de evolução histórica, com interferências 
internas em seu domínio de estudo quanto de forças exteriores. 
(HECKHAUSEN, 2006 apud BICALHO, OLIVEIRA, 2011).
D’AMBROSIO, Ubiratan. Disciplinaridade. Conferência “Reflexos 
sobre os desafios da universidade no mundo globalizado e na 
sociedade do conhecimento”, set. 2009.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=4qDz_j6n7ZM
Em outra perspectiva podemos acrescentar que as disciplinas se 
constituem por grupos de pessoas com determinadas metas intelectuais em 
comum, representando uma estrutura organizacional institucionalizada 
que negocia critérios, interesses e objetivos dos pesquisadores e dos 
setores de demanda, no âmbito da política científica.
Sugestão de filme: Contato
Direção de Robert Zemeckis e atuação central de Jodie Foster, 
Mattew McConaughey e James Woods. 
Disponível em: http://sementesdasestrelas.blogspot.com.
br/2013/09/contato-filme-completo.html
O filme em questão focaliza interações dialógicas entre porta-vozes de 
distintas formas de conhecimento (modo de pensar) acerca da possibilidade de 
vida inteligente fora da terra e mostra também as relações que se passam nos 
“bastidores” do processo de construção do conhecimento científico.
[...] coloca em questão a hegemonia do paradigma da Ciência Moderna, 
trazendo à tona a convivência e simultaneidade de outros paradigmas construídos 
ao longo da história. Como diz Assmann (1996: 92-93): os paradigmas não existem 
apenas para explicar o mundo, mas para organizá-lo mediante o uso do poder 
[...] Além de humanamente necessários, historicamente relativos e naturalmente 
seletivos, os paradigmas tendem a territorializar-se. 
No filme, cada uma das formas do conhecimento é expressão do 
pensamento hegemônico (dominante) a cada momento na história do pensamento 
humano que, por sua vez, está articulado diretamente com suas condições 
de produção (econômica, política, social e cultural); e distingue-se das demais, 
fundamentalmente, pela natureza do conteúdo e forma discursiva. Vale dizer que 
argutas observações da sociedade contemporânea demonstram que todas as 
formas resistiram ao tempo e convivem contemporaneamente. 
SANTOS, Ana Cristina Souza dos; SANTOS, Akiko. Da disciplinaridade 
à transdisciplinaridade: obstáculos epistemológico. Disponível em: http://www.
ufrrj.br/leptrans/arquivos/Da_disciplinaridade_transdisciplinaridade_ANPED.pdf 
Acesso em: 28 fev. 2014.
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SEÇÃO 2
MULTIDISCIPLINARIDADE
Inicialmente é importante enfatizar que muitos estudiosos do 
assunto, como Gusdorf (1990), Pombo (1994), Nicolescu et al. (2000), entre 
outros, compreendem o conceito da multidisciplinaridade equivalente à 
pluridisciplinaridade, tendo como principal característica a justaposição 
de ideias, nas relações em que ocorre esse tipo de abordagem. 
Segundo Nicolescu et al. (2000), a multidisciplinaridade 
corresponde à busca da integração de conhecimentos, através do estudo

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