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1 RESTRIÇÕES DO ESTADO SOBRE A PROPRIEDADE PRIVADA INTRODUÇÃO A propriedade, que logo em seguida ao período feudal e à Revolução Francesa, apresentava-se de conotação individualista, evoluiu, a partir da segunda metade do século XIX, para uma conotação social. A Constituição Federal de 1.988, bem como o recente Código Civil (Lei 10.406/2002), resguardam a propriedade, mas na conformação do respectivo direito, dispõem que a propriedade deve atender sua função social, conforme artigos 5º, XXIII, da CF e artigo 1.228, § 1º, do CC. As restrições do Estado sobre a propriedade privada, chamada por alguns de limitações à propriedade e, por outros, de intervenção do Estado sobre a propriedade privada, revelam com nitidez a dualidade do regime jurídico administrativo, marcado pelas prerrogativas conferidas à Administração Pública em nome do princípio da supremacia do interesse público sobre o particular, mas também pelas sujeições a que se submete para intervir na propriedade privada no exato limite do necessário para o bom atendimento do interesse público, sobretudo observando o princípio da legalidade. Cada uma das modalidades das restrições do Estado sobre a propriedade privada afeta algum de seus caracteres. Com algumas divergências doutrinárias a respeito das modalidades das restrições do Estado sobre a propriedade privada, podem-se enumerar as seguintes: a desapropriação, a ocupação temporária, a requisição, as limitações administrativas, a servidão e o tombamento. As restrições do Estado sobre a propriedade privada são tratadas a seguir, a começar pela desapropriação. DESAPROPRIAÇÃO CONCEITO Desapropriação é o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público, ou seus delegados, retira do proprietário um bem móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, bem como direitos em geral, mediante o pagamento de uma indenização, fundado em um interesse público. “À luz do Direito Positivo brasileiro, desapropriação se define como o procedimento através do qual o Poder Público, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, compulsoriamente despoja alguém de um bem certo, normalmente adquirindo-o para si, em caráter originário, mediante indenização prévia, justa e pagável em dinheiro, salvo no caso de certos imóveis urbanos ou rurais, em que, por estarem em desacordo com a função social legalmente caracterizada para eles, a indenização far-se-á em títulos da dívida pública, resgatáveis em parcelas anuais e sucessivas, preservado seu valor real” (Celso Antônio Bandeira de Mello – pág. 758/759). A desapropriação afeta o caráter perpétuo do direito de propriedade. Para o proprietário, a desapropriação acarreta a perda da propriedade; enquanto que para o poder público a desapropriação é meio de aquisição da propriedade. OBJETO DA DESAPROPRIAÇÃO A desapropriação, portanto, atinge bens e direitos, ressalvados os direitos inexpropriáveis, como os direitos personalíssimos (direito à honra, à imagem, à vida, à liberdade). Os bens públicos se sujeitam à desapropriação, mediante autorização legislativa, na seguinte ordem: A União pode declarar desapropriado um bem dos Estados, Municípios, Distrito Federal e dos Territórios; os Estados podem declarar desapropriado um bem do Município; nos dois casos deverá existir autorização legislativa. O inverso não é possível (art. 2º, § 2º, do Decreto-lei 3.365/41). A autorização legislativa, no caso, é da respectiva assembleia do expropriante. Daí resulta que os bens da União não são desapropriáveis. NATUREZA JURÍDICA OU CARACTERÍSTICAS DA DESAPROPRIAÇÃO A desapropriação é forma originária de aquisição da propriedade “porque não provém de nenhum título anterior” (Hely Lopes Meirelles/pág. 574). Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello “diz-se originária a forma de aquisição da propriedade quando a causa que atribui a propriedade a alguém, não deriva, de título precedente, portanto, não é dependente de outro. É causa autônoma, bastante, por si mesma, para gerar, por força própria, o título constitutivo da propriedade” (pág. 764). Isso acarreta as seguintes consequências principais: 1 a. caso a indenização seja paga a quem não é o proprietário, não se invalidará a expropriação ( o verdadeiro proprietário, no entanto, poderá pleitear perdas e danos em ação própria); 2 b. os ônus reais que incidiam sobre o imóvel extinguem-se com a desapropriação; c. os direitos reais de terceiros sobre o bem desapropriado ficam sub-rogados no preço, ao passo em que os titulares de direitos obrigacionais devem ser pleiteados em ação própria, conforme arts. 31 e 26, respectivamente, do Decreto-lei 3.365/41. FUNDAMENTOS DA DESAPROPRIAÇÃO 3 Fundamento político: a supremacia do interesse público sobre o individual; Fundamento jurídico teórico: o domínio eminente do Estado sobre todos os bens existentes dentro de seu território; Fundamento normativo constitucional: arts. 5º, XXIV, 182, § 4º, III, e 184 e parágrafos da Constituição Federal. Fundamento normativo infraconstitucional: destacam-se as seguintes normas: Decreto-lei 3.365/41: denominada Lei Geral de Desapropriações, refere se à desapropriação por necessidade e utilidade pública; Lei 4.132/62: trata da desapropriação por interesse social; Decreto-lei 1.075/70: dispõe sobre imissão na posse no início da lide em imóveis residenciais urbanos habitados pelo proprietário ou por compromissário comprador que tenha compromisso registrado; Lei 8.629/93: regulamenta dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária; Lei Complementar 76/93, atualizada pela Lei Complementar 88/96: dispõe sobre o procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo de desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária. Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade): desapropriação da propriedade urbana não edificada, subutilizada ou não utilizada. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DESAPROPRIAÇÃO Diante do disposto no artigo 22, II, da Constituição Federal, somente a União é competente para legislar sobre desapropriação. COMPETÊNCIA DECLARAR A DESAPROPRIAÇÃO OU PARA DESAPROPRIAR Competentes para expedir a declaração expropriatória são: a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios, conforme art. 2º, do Decreto-lei 3.365/41 e art. 5º, da Lei 4.132/62. A União pode declarar desapropriado um bem dos Estados, Municípios, Distrito Federal e dos Territórios; os Estados podem declarar desapropriado um bem do Município; nos dois casos deverá existir autorização legislativa. O inverso não é possível (art. 2º, § 2º, da Lei 3.365/41). COMPETÊNCIA PARA PROMOVER A DESAPROPRIAÇÃO São competentes para promover a desapropriação, isto é, para praticar atos visando a tornar efetiva a desapropriação já declarada, as pessoas políticas, as entidades da Administração Indireta, os concessionários e os permissionários de serviço público, quando autorizados por lei ou contrato (art. 3º do Decreto lei 3.365/41). Os concessionários e permissionários de serviço público são autorizados, por lei, a promover desapropriação, conforme art. 40, § único, da Lei 8.987/95. AS LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS As limitações administrativas caracterizam-se por impor a proprietários indeterminados obrigações advindas de comandos gerais, tendo em vista o interesse público. Exemplo de limitação administrativa à propriedade é a restrição à altura das construções em determinada área da cidade, conforme a lei municipal respectiva, seja em benefício da estéticaou da segurança. As limitações administrativas são decorrentes do poder de polícia conferido à Administração Pública, seja para quem adota um conceito restritivo do poder de polícia, seja para quem adota conceito mais amplo, como se viu na Introdução. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA É forma de Restrição do Estado sobre a propriedade privada, mediante a qual o poder público usa o imóvel de particular, transitoriamente, com ou sem remuneração, para atender algum fim de interesse público. A ocupação temporária afeta o caráter exclusivo do direito de propriedade, segundo o qual um bem não pode pertencer simultaneamente a duas ou mais pessoas. O Decreto-lei 3.365/41 cuida do instituto no artigo 36: “a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização. O expropriante prestará caução, quando exigida”. Na hipótese, o poder público utilizará terreno não edificado vizinho ao local da obra, para servir como canteiro dessa mesma obra. Na lei 3.924/61 existe outra hipótese de ocupação temporária. Segundo o artigo 13, “a União, bem como os Estados e Municípios, mediante autorização federal, poderão proceder a escavações e pesquisas, no interesse da arqueologia e da pré-história, em terrenos de propriedade particular, com exceção das áreas muradas que envolvem construções domiciliares”. Não havendo acordo com o proprietário da área, o parágrafo único do mesmo artigo permite seja ela declarada de utilidade pública e autorizada sua ocupação pelo período necessário, aplicando-se o artigo 36 do Decreto-lei 3.365/41. 5 A REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA Para Celso Antônio Bandeira de Mello “requisição é o ato pelo qual o Estado, em proveito de um interesse público, constitui alguém, de modo unilateral e auto-executório, na obrigação de prestar-lhe um serviço ou ceder-lhe transitoriamente o uso de uma coisa in natura, obrigando-se a indenizar os prejuízos que tal medida efetivamente acarretar ao obrigado”. Tem-se, então, a requisição de bens e a de serviços. A respeito da requisição de bens o artigo 5º, inciso XXV, da Constituição Federal, permite à autoridade competente usar da propriedade particular, no caso de iminente perigo público, assegurando-se ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. Cita-se, por exemplo, a utilização de bem imóvel ocioso para abrigar pessoas desabrigadas em razão de enchentes. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA CONCEITO Também denominada de servidão pública, é o direito real de uso instituído por entidade pública ou seus delegados sobre bem de propriedade alheia em prol da satisfação de um interesse público específico. Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro “servidão administrativa é o direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por seus delegados, em favor de um serviço público ou de um bem afetado a fim de utilidade pública”. Exemplos de servidão administrativa são: a de passagem de fios elétricos, telefônicos e telegráficos e de aquedutos ou gasodutos por propriedades públicas ou privadas. Na hipótese da passagem de fios elétricos, cite-se a competência outorgada à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) para declarar a utilidade pública para fins de instituição de servidão administrativa das áreas necessárias à implantação de instalações de concessionários, permissionários e autorizados de energia elétrica, conforme art. 10 da Lei 9.074/95. CARACTERÍSTICAS DA SERVIDÃO ADMINISTRATIVA A servidão administrativa afeta o atributo de exclusividade do direito de propriedade, eis que o uso da propriedade também é disponibilizado ao titular da servidão administrativa. A servidão é instituída em caráter perpétuo, isto é, presume-se para sempre. O TOMBAMENTO Ensina José Rodrigues Arimatéa, em sua obra, o Direito de Propriedade, que “o tombamento tem raízes no século XVIII, quando D. João V baixou uma determinação para que fosse feito um inventário geral dos bens e do patrimônio histórico do reino. . . . A intenção era fazer o levantamento, lavrar o registro dos bens em livro próprio e confiná-lo na Torre do Tombo, em Lisboa, local destinado à guarda e conservação dos registros. Daí porque o livro de registros dos bens de valor histórico e cultural ficou conhecido como Livro do Tombo.” Hely Lopes Meirelles também esclarece: “as expressões Livros do Tombo e tombamento provêm do Direito Português, onde a palavra tombar significa inventariar, arrolar ou inscrever nos arquivos do Reino, guardados na Torre do Tombo”. CONCEITO Tombamento é a declaração do valor histórico, cultural, artístico, científico, paisagístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e turístico de coisas móveis ou imóveis, corpóreas ou incorpóreas, públicas ou privadas, e que, portanto, devam ser preservadas com a inscrição nos Livros do Tombo. FUNDAMENTO NORMATIVO DO TOMBAMENTO No plano constitucional, o tombamento se assenta no artigo 216, § 1º, o qual estabelece competir ao Poder Público, com a colaboração da comunidade, promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro, inclusive por meio do tombamento. A Constituição Federal dispõe no artigo 23, III, competir à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, “proteger os documentos, as obras, e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos”. No artigo seguinte, estabelece competir concorrentemente à União e aos Estados e ao Distrito Federal, legislar sobre proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico (inciso VII). O artigo 30, IX, da Carta Magna, conferiu aos Municípios a atribuição de “promover a proteção de patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual”. No plano infraconstitucional, destaca-se o Decreto-lei 25/37. CARACTERÍSTICAS DO TOMBAMENTO O tombamento afeta o caráter absoluto do direito de propriedade, isto é, o atributo segundo o qual o proprietário pode usar, gozar e dispor da coisa como bem lhe aprouver. 7 O tombamento restringe a propriedade porque a coisa tombada continua sob o domínio do proprietário, mas não poderá ser destruída, demolida, mutilada, pintada ou reparada sem prévia autorização do órgão competente, que, na esfera federal é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O proprietário ainda deve realizar as obras necessárias à preservação do bem e, caso não tenha condições, deverá comunicar a necessidade das obras ao referido órgão. Na hipótese de alienação do bem tombado, o proprietário deverá oferece- lo previamente à União, Estados e Municípios, para que, nessa ordem, exerçam o direito de preferência. Por fim, deverá o proprietário se sujeitar à fiscalização do bem pelo órgão técnico competente. Interessante notar que na vizinhança dos imóveis tombados é proibida construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade. Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende tratar-se de servidão administrativa, “em que dominante é a coisa tombada, e serviente, os prédios vizinhos”. SERVIÇOS PÚBLICOS BREVES CONSIDERAÇÕES E CONCEITO DE SERVIÇO PÚBLICO A definição do que deve ser entendido como serviço público decorre da opção feita pelo legislador. Em primeiro lugar, o legislador constituinte é quem elenca certas atividades como sendo “serviços públicos”. Além do legislador constituinte, o legislador infraconstitucional poderá descrever outras atividadescomo serviços públicos, desde que não invada o campo das atividades econômicas, deixado pela Constituição, à livre iniciativa dos particulares. Assim, por exemplo, os Municípios, em suas leis orgânicas, costumam tratar o serviço funerário como serviço público, exatamente porque esta atividade não invade o campo das atividades econômicas, a cargo dos particulares. A Constituição Federal aponta alguns serviços como públicos, citando-se, por exemplo, os artigos 21 e 23 da Constituição Federal. Os serviços públicos são, portanto, de titularidade do Estado (União, Estados, Municípios e Distrito Federal). A prestação do serviço público, por sua vez, pode ser feita pelo próprio Estado, isto é, pelas próprias pessoas políticas, ainda que por meio de seus órgãos; como pode ser feita por pessoas jurídicas diversas das pessoas políticas. Nesta hipótese, o Estado pode criar pessoa jurídica para prestação do serviço público, conferindo-lhe personalidade jurídica de direito público ou privado, como também pode transferir o exercício da atividade para particulares alheios ao aparelhamento estatal, mediante concessão ou permissão. CONCEITO DE CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO Para Celso Antônio Bandeira de Mello “concessão de serviço público é o instituto através do qual o Estado atribui o exercício de um serviço público a alguém que aceita prestá-lo em nome próprio, por sua conta e risco, nas condições fixadas e alteráveis unilateralmente pelo Poder Público, mas sob garantia contratual de um equilíbrio econômico- financeiro, remunerando-se pela própria exploração do serviço, em geral e basicamente mediante tarifas cobradas diretamente dos usuários do serviço”. CONTRATO DE CONCESSÃO Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a concessão é “contrato administrativo pelo qual a Administração confere ao particular a execução remunerada de serviço público ou de obra pública, ou lhe cede o uso de bem público, para que o explore por sua conta e risco, pelo prazo e nas condições regulamentares e contratuais”. LEGISLAÇÃO A Constituição Federal dispõe, no artigo 175, que a lei deverá estabelecer regras sobre a concessão (e também a permissão) de serviço público. A União tem competência para dispor a respeito de normas gerais sobre licitação e contratação, nos termos do artigo 22, XXVII, o que inclui a concessão de serviço público. A Lei 8.987/95 foi editada com a finalidade de dar cumprimento aos artigos supra citados da Constituição Federal, admitindo-se a aplicação subsidiária da Lei 8.666/93. Há ainda a Lei 9.074/95 que “estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviço público”. Existem também leis específicas disciplinando a concessão de energia elétrica, Lei nº 9.427/96, e a concessão de telecomunicações, Leis nºs 9.295/96 e 9.472/97. Todas as pessoas políticas têm competência para editar normas específicas sobre a matéria, desde que não contrariem as normas gerais de competência da União. Ex: Lei Paulista nº 7.835/92. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO 9 Para caracterização do contrato de concessão de serviço público é necessário que a remuneração do concessionário seja decorrente da exploração do serviço concedido. De regra, a remuneração provém das tarifas cobradas dos usuários. Como exceção à regra, a exploração do serviço público pode provir de outras fontes de receita, como acontece nas concessões de rádio e televisão (radiodifusão sonora e de sons e imagens) em que a remuneração advém da divulgação de publicidade de anunciantes. Acrescente-se que para favorecer a diminuição das tarifas, o poder concedente pode subsidiar parcialmente o concessionário, como também podem ser previstas fontes de receitas alternativas em seu favor. Confere-se ao concessionário apenas o exercício de um certo serviço público, permanecendo em mãos da Administração concedente a titularidade do serviço, o que lhe atribui as prerrogativas de alterar unilateralmente as cláusulas regulamentares e de rescindir unilateralmente o contrato por motivo de interesse publico. Na opinião de Celso Antônio Bandeira de Mello, somente os serviços públicos privativos do Poder Público é que podem ser objeto de concessão. Assim, não se sujeitam à concessão os serviços de saúde, de educação, de previdência social e de assistência social, visto que podem ser prestados pelos particulares, embora submetidos ao poder de polícia. Depende sempre de licitação, conforme art. 175 da Constituição Federal. Ressalvadas algumas hipóteses, a modalidade cabível é a concorrência (art. 2º, II , da Lei 8.987/95). O concessionário executa o serviço por sua conta e risco, correndo os riscos normais do empreendimento. Faz jus à remuneração, de regra, mediante tarifa. Tem direito ao equilíbrio econômico financeiro entre encargos e remuneração. O usuário tem direito à prestação do serviço público. O inciso II, parágrafo único, do artigo 175 da Constituição Federal prevê os direitos do usuário, como também o faz a lei 8.987/95, no art. 7º. Ao usuário deve ser prestado serviço adequado, entendido como aquele que satisfaz as condições de regularidade, generalidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, cortesia na prestação e modicidade das tarifas. O concessionário responde pelos prejuízos causados a terceiros em decorrência da execução do serviço e a responsabilidade é objetiva, nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Há responsabilidade subsidiária do Poder Público na hipótese do patrimônio do concessionário não ser suficiente para compor os prejuízos causados na prestação do serviço público. Isso ocorre porque a modificação subjetiva na prestação do serviço público não pode modificar a responsabilidade em detrimento do usuário. A rescisão unilateral da concessão antes do prazo estabelecido por motivo de interesse público recebe o nome de encampação, devendo a Administração indenizar o contratado pelas perdas e danos (art. 37, da Lei 8.987/85). A rescisão unilateral por motivo de inadimplência recebe o nome de caducidade ou decadência; a indenização circunscreverá apenas à parcela não amortizada do capital, formada pelos equipamentos necessários à prestação do serviço que reverterão ao concedente. Em qualquer caso de extinção da concessão, os bens afetados à prestação do serviço público incorporam-se ao patrimônio da Administração concedente; é o que se denomina de reversão. O fundamento da reversão é o princípio da continuidade do serviço público. A REVERSÃO DOS BENS É a passagem dos bens do concessionário aplicados ao serviço público ao poder concedente ao término da concessão. Trata-se de consequência da extinção do contrato de concessão de serviço público. A reversão dos bens pode se dar com ou sem indenização do concessionário. Na hipótese da concessão se findar pelo término de seu prazo, é de se presumir que o tempo do contrato tenha sido avençado para que proporcionasse ao concessionário o reembolso do capital investido e mais o lucro. Neste caso, seria cabível a indenização apenas para compor parcelas não amortizadas do capital, principalmente quando foi realizado algum investimento para garantir a atualização do serviço público. Na hipótese da concessão se findar antes do prazo previsto, seja por culpa do concessionário ou por interesse público, o concessionário tem direito a receber indenização pelas parcelas ainda não amortizadas do capital. Aliás, havendo rescisão por interesse público, o concessionário receberá, ainda, indenização por lucros não auferidos. No caso de rescisão por inadimplênciado concessionário, deverá ele indenizar a Administração pelos prejuízos a ela causados. Haverá, então, de ser feito o confronto entre o devido pela Administração em razão da reversão dos bens e o devido pelo concessionário pelos prejuízos causados ao Poder Público. O concessionário somente receberá verba indenizatória se o devido pela Administração pela reversão dos bens for superior aos prejuízos que causou. CONCESSÃO E PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO A concessão de serviço público, como se viu, é contrato administrativo, isto é, provém de acordo de vontades, de ato bilateral. A permissão de serviço público sempre foi entendida como ato unilateral, discricionário e precário, mediante o qual o particular recebia o exercício de serviço público que não necessitasse de grandes dispêndios financeiros. A precariedade conferia à Administração Pública 11 a possibilidade de revogar a permissão, sem qualquer indenização ao permissionário. A atual Constituição Federal tratou da concessão e da permissão no artigo 175, § único, inciso I, deu a ambas a natureza de contrato. A lei 8.987/95 também trata da permissão como contrato, embora o faça com impropriedade técnica porque lhe deu natureza jurídica contratual, mas estabeleceu a precariedade e a revogabilidade unilateral da permissão pelo poder concedente. A falta de técnica jurídica contida no artigo 40 da Lei 8.987/95 reside justamente em atribuir natureza contratual à permissão e, logo adiante, impor-lhe o traço de precariedade, admitindo a revogação da permissão, como se ato fora. É sabido que somente os atos unilaterais podem ser revogados, os contratos, diversamente, são rescindidos. ASSIM, PODEM SER RESUMIDAS AS SEGUINTES CARACTERÍSTICAS DA PERMISSÃO 1. Para a lei é contrato de adesão, precário e revogável unilateralmente pelo poder concedente; a doutrina a tratava tradicionalmente como ato unilateral, discricionário e precário; 2. depende de licitação, embora a lei não defina a modalidade; 3. o permissionário pode ser pessoa física ou jurídica, diferentemente da concessão de serviço público que exige pessoa jurídica ou consórcio de empresas; 4. defere-se apenas a execução do serviço público ao particular, que o faz por sua conta e risco, permanecendo com o poder público a titularidade do serviço; 5. o permissionário sujeita-se à fiscalização pela Administração, tanto quanto o concessionário; 6. pode ser alterada e revogada a qualquer momento, por motivo de interesse público; 7. é de sua natureza a outorga sem prazo, embora a doutrina admita a possibilidade de fixação de prazo, hipótese em que a revogação antes do termo dará direito ao permissionário à indenização. Para Hely, tem-se, na hipótese, permissão condicionada. Para Cretella Júnior, tem-se permissão qualificada. A permissão outorgada com prazo praticamente desfigura a permissão e acaba por equiparála à concessão, já que a não observância do prazo acarretará o dever da Administração Pública indenizar o permissionário. AS DISTINÇÕES DA CONCESSÃO EM RELAÇÃO À PERMISSÃO BASICAMENTE SÃO A precariedade da permissão, desde que instituída sem prazo, em exceção à regra do artigo 57, § 3º da lei 8.666/93. Caso seja instituída com prazo, praticamente desaparecerão as diferenças entre a concessão e a permissão. A possibilidade de outorga a pessoa física na hipótese da permissão. A concorrência é modalidade obrigatória para a concessão, mas a lei não estatui modalidade obrigatória alguma para a permissão. DISTINÇÃO ENTRE CONCESSÃO, AUTORIZAÇÃO E PERMISSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO Cumpre distinguir a concessão de uso de bem público da autorização e da permissão de uso de bem público. A concessão, como se viu, tem natureza contratual, ao passo que a autorização e a permissão são atos unilaterais. A autorização de uso de bem público é ato unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração confere ao particular a utilização de um bem público, gratuitamente ou não, com exclusividade. Por ser precária, pode ser revogada a qualquer momento, sem indenização. Confere ao particular mera faculdade de utilização do bem público, não um dever, já que é concedida para atender interesse predominante do particular. Reveste-se de maior precariedade do que a permissão. Destina-se à utilização de bens públicos por períodos transitórios. Independe de licitação e autorização legislativa. Ex: uso de área municipal para instalação de circo, para formar canteiro de obra pública. A permissão de uso de bem público é ato unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração confere ao particular a utilização de um bem público, gratuitamente ou não, com exclusividade para fins de interesse coletivo. A precariedade é mais acentuada na autorização do que na permissão. A permissão é conferida no interesse do particular e do público e, portanto, obriga o permissionário ao uso do bem, sob pena de caducidade do ato. Embora não dependa de autorização legislativa e nem de licitação, parece razoável exigir esta última se houver possibilidade de competição entre interessados. Ex: bancas de jornais em ruas, mesas e cadeiras nas calçadas em frente aos restaurantes e bares.
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