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PROVISÃO PARA A CRIANÇA NA SAÚDE E NA CRISE (1962) Donald Woods Winnicott 1. Provisão para a saúde = saúde mental Interessa é o desenvolvimento emocional da criança e o estabelecimento das bases de uma vida de saúde mental Na Pediatria os desenvolvimentos do lado físico têm sido muito grandes Desenvolvimento corporal é provido por boa hereditariedade e resultado da boa alimentação e condições físicas As crianças a que Winnicott se refere estão sadias fisicamente ou, se com doença, sob controle pediátrico (em função das leis sociais da Grã-Bretanha) 2. Prover para a criança é uma questão de prover o ambiente que facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional O desenvolvimento emocional ocorre na criança se são providas condições suficientemente boas, vindo o impulso para o desenvolvimento de dentro da própria criança As forças da integração da personalidade e da independência são muito fortes e com condições NÃO suficientemente boas essas forças ficam contidas dentro da criança e tendem a destruí-la Casos psiquiátricos na vida adulta 3. Se saúde é maturidade, imaturidade de qualquer espécie é saúde mental deficiente, sendo uma ameaça para o indivíduo e uma perda para a sociedade É preciso prover: 1 – tolerância para com a imaturidade e saúde mental deficiente do indivíduo 2 – terapia 3 – profilaxia 4. Não está interessado somente na saúde e na maturidade individual mas sim na riqueza do indivíduo em termos de realidade psíquica Diz que um projeto de pesquisa pode até indicar que estatisticamente lactentes que são alimentados com mamadeira são fisicamente mais saudáveis, mas ele está interessado na riqueza da experiência da alimentação no seio e se isto afeta a riqueza potencial da personalidade do lactente Riqueza da qualidade, ainda mais do que saúde, é que fica no topo da escalada do progresso humano 5. Prover para a criança - e para a criança dentro do adulto A meninice consiste na progressão da dependência para a independência Precisamos examinar as necessidades da criança, que vão mudando à medida que esta muda da dependência para a independência - Isso leva ao estudo das necessidades mais precoces das crianças pequenas e lactentes e aos extremos da dependência Os distúrbios mentais que na vida adulta necessitam de hospitalização, têm sua origem em falhas ambientais que ocorrem no desenvolvimento da primeira infância A dependência na primeira infância é um fato que precisa ser inserido nos estudos acerca do desenvolvimento infantil GRAUS DE DEPENDÊNCIA: A) Dependência extrema - ou absoluta: as condições precisam ser suficientemente boas, senão o lactente não pode iniciar seu desenvolvimento inato O bebê não tem meios de saber nada a respeito do cuidado materno, que é, em grande parte uma questão de profilaxia Falha ambiental: deficiência mental não-orgânica, esquizofrenia da infância, predisposição à doença mental hospitalizável mais tarde B) Dependência: falhando as condições, traumatizam de fato, mas já há então uma pessoa para ser traumatizada (já há uma pessoal total) Falha ambiental: predisposição a distúrbios afetivos; tendência anti-social C) Mesclas dependência-independência: a criança está fazendo experimentações em independência, mas precisa que lhe seja possível reexperimentar dependência Falha ambiental: dependência patológica D) Independência-dependência: é a mesma coisa, mas com predomínio da independência Falha ambiental: arrogância; surtos de violência E) Independência: significando um ambiente internalizado: uma capacidade por parte da criança de cuidar de si mesma Falha ambiental: não necessariamente prejudicial F) Sentido social: o indivíduo pode se identificar com adultos e com o grupo social, ou com a sociedade, sem perda do impulso pessoal ou originalidade, ou sem perda dos impulsos agressivos e destrutivos que encontraram expressão satisfatória em formas deslocadas Falha ambiental: falta parcial da responsabilidade do indivíduo como pai ou mãe ou como figura paterna na sociedade 6. A história do desenvolvimento emocional de uma criança é complicada e mais complexa do que sabemos É preciso chegar a uma teoria do desenvolvimento normal para sermos capazes de compreender as doenças e imaturidades para que possamos preveni-las e curá-las Não aceitamos esquizofrenia infantil mais do que poliomielite A provisão ambiental suficientemente boa tende a prevenir doença esquizofrênica ou psicótica; mas apesar do melhor cuidado do mundo a criança ainda está sujeita aos distúrbios associados com os conflitos da vida instintiva A tendência inata no sentido da integração e do crescimento produz a saúde MAS! É necessária provisão suficientemente boa, de forma absoluta no princípio e de forma relativa em estágios posteriores, no estágio do complexo de Édipo, na latência e na adolescência 7. 1 – Desenvolvimento em termos de vida instintiva (id) – relações objetais 2 – Desenvolvimento em termos de estrutura de personalidade (ego) – para experimentar os impulsos instintivos e relações objetais que têm impulsos instintivos como base 1 – Há uma progressão de uma vida instintiva alimentar para uma genital. A latência marca o fim do período do crescimento que será retomado na adolescência Uma criança de 4 anos tem capacidade de experimentar identificação com ambos os pais, nas relações instintivas, mas esta experiência só se completa nos brinquedos e sonhos e pelo emprego de simbolismos Na puberdade, o crescimento da criança acrescenta a isso a capacidade física para a experiência genital 2 – tendências no crescimento da personalidade podem ser verificáveis desde o início mais precoce, nunca chegando a se completar: A) Integração – integração no tempo B) Inserção – a conquista de um relacionamento íntimo entre psique e corpo C) Capacidade de estabelecer relações com objetos D) Tendência à independência; capacidade para sentimento de preocupação e culpa; capacidade para amar; para sentir felicidade 8. Winnicott quer compreender porque uma mãe (e o pai) não necessita ter uma compreensão intelectual das necessidades do lactente As mães se tornam cada vez mais identificadas com o bebê, por isso elas sabem mais ou menos o que o bebê necessita Refere-se a coisas vitais como segurar no colo, mudá-lo de lado, acariciá-lo, alimentá-lo de modo sensato (que envolve mais do que a satisfação de um instinto) – Holding e Handling Isso facilita os estágios iniciais das tendências integrativas do lactente e o começo da estruturação do ego A mãe torna o fraco ego do bebê em um forte, porque está lá, reforçando tudo A identificação com o indivíduo (bebê) ocorre de tal maneira que podemos prover aquilo que ele necessita a qualquer momento Ex. Winnicott aos 4 anos ganhou carrinho azul no Natal. Capacidade dos pais em advinhar seus sentimentos. “Realização simbólica” de Sechehaye: ele conhecia a necessidade do paciente É como o oferecimento do seio ao lactente, e depois, de alimentos sólidos O pai não cria as necessidades do lactente mas as satisfaz no momento exato Winnicott diz que nós, como as mães, precisamos saber da importância: - da continuidade do ambiente humano e do ambiente não- humano que auxilia a integração da personalidade - da confiança que torna o comportamento da mãe previsível - da adaptação gradativa às necessidades cambiantes em expansão da criança: independência - da provisão para concretizar o impulso criativo da criança Importante: Mãe se manter vivaz Saber que precisa adiar seus impulsos até a época em que a criança possa utilizar sua existência separada de modo positivo Sabe que não deve deixar a criança por mais tempo da capacidade dela conservarsua lembrança vivaz e amiga Winnicott retoma 5 B (DEPENDÊNCIA) – separação da criança de um a dois anos da mãe, acima da capacidade de manter viva a lembrança da mãe, produzindo um estado que mais tarde pode se assemelhar a uma tendência anti-social Esse funcionamento interno é complexo, mas a continuidade das relações objetais da criança foi interrompida e o desenvolvimento fica detido. Quando a criança tenta preeencher este vazio, isto é chamado de roubo Para estudar o que prover na saúde e na crise podemos estudar a mãe (sempre incluindo o pai) e o que lhe ocorre naturalmente para prover ao bebê O aspecto principal é que ela sabe o que o lactente necessita através de sua identificação com o lactente. Ela sente Não temos que planejar os detalhes do que prover para as crianças sob nosso cuidado Devemos nos organizar de modo que em cada caso haverá alguém com tempo e inclinação para saber o que a criança precisa Quando a criança está doente, há uma crise, e a terapia necessária envolve o terapeuta pessoalmente; o trabalho não pode ser feito em outras bases REFERÊNCIAS WINNICOTT (1983) Capítulo 5: Provisão para a criança na saúde e na crise (1962), In O ambiente e os processos de maturação. - - - - daniela.giorgenon@docente.unip.br
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