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Noções Básicas de Cartografia

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IBGE 
Técnico em Informações Geográficas e Estatísticas A I 
 
Noções básicas de cartografia: Orientação: pontos cardeais; Localização: coordenadas geográficas 
(latitude, longitude e altitude); Representação: leitura, escala, legendas e convenções. .......................... 1 
 
Natureza e meio ambiente no Brasil: Grandes domínios climáticos; Ecossistemas. .......................... 14 
 
As atividades econômicas e a organização do espaço: Espaço agrário: modernização e conflitos; 
Espaço urbano: atividades econômicas, emprego e pobreza; A rede urbana e as Regiões Metropolitanas.
 ............................................................................................................................................................... 41 
 
Formação Territorial e Divisão Político-Administrativa: Divisão Político Administrativa; Organização 
federativa. .............................................................................................................................................. 58 
 
Dinâmica da população brasileira (fluxos migratórios, áreas de crescimento e de perda 
populacional). ......................................................................................................................................... 86 
 
 
 
 
Candidatos ao Concurso Público, 
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas 
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom 
desempenho na prova. 
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar 
em contato, informe: 
- Apostila (concurso e cargo); 
- Disciplina (matéria); 
- Número da página onde se encontra a dúvida; e 
- Qual a dúvida. 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O 
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. 
Bons estudos! 
 
1165766 E-book gerado especialmente para JOAB CARDOSO MAGALHAES
 
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NOÇÕES BÁSICAS DE CARTOGRAFIA 
 
A Geografia precisa situar com precisão na superfície da Terra aquilo que quer estudar e analisar. A 
elaboração de mapas nasceu da necessidade de representar a forma da Terra e dos continentes e medir 
as distâncias entre lugares. A cartografia é a ciência e a arte da representação gráfica da superfície 
terrestre. O seu produto final é o mapa. Os mapas são fundamentais para a Geografia, pois nada mais 
são do que a representação total ou parcial do espaço geográfico. 
Desde a Antiguidade há a preocupação de se elaborar vários tipos de mapas. Até a metade do século 
XV, os mapas eram representações de descrições de itinerários para viajantes, mas não representavam 
fielmente a realidade do espaço terrestre. 
No final da Idade Média começaram a ser desenhados os portulanos, verdadeiros mapas em duas 
dimensões: indicavam a posição dos portos e o contorno das costas. 
A partir do século XVII desenvolveu-se a ciência geodésica, que permitiu calcular com mais correção 
a latitude e a longitude de um determinado ponto e a altitude de um lugar em relação ao mar. 
Atualmente, os meios mais modernos utilizados pela cartografia são as fotografias aéreas, o 
sensoriamento remoto e a informática, que auxilia na precisão dos cálculos. A fotografia aérea, realizada 
de aviões, proporciona o material básico para a elaboração de mapas. As fotografias são feitas de maneira 
que, sobrepondo-se duas imagens do mesmo lugar, obtém-se a impressão de uma só imagem em relevo. 
Graças a elas representam-se os detalhes da superfície do solo. Sobre o terreno, o topógrafo completa o 
trabalho, revelando os detalhes pouco visíveis nas fotografias. 
Outra técnica cartográfica é o sensoriamento remoto. Consiste na transmissão, a partir de um satélite, 
de informações sobre a superfície do planeta ou da atmosfera. 
No Brasil utiliza-se o termo mapa, de forma genérica, para identificar vários tipos de representação 
cartográfica. Mesmo que, em alguns casos, a representação não passe de uma lista de palavras e 
números, ou de um gráfico que mostre como ocorre determinado fenômeno, essa representação recebe 
o nome de mapa. Embora o termo esteja popularizado, a grande maioria dos brasileiros possui um 
conhecimento muito restrito de cartografia devido ao nível de importância que é dado à alfabetização 
cartográfica no ensino formal e à difusão de mapas para uso cotidiano. Porém, os mapas estão em toda 
parte, jornais, revistas, canais abertos de televisão – quem não olha o mapa do tempo no jornal diário? - 
mapa rodoviário, do metrô, da cidade, e tantos outros que poderiam servir para alguma coisa, mas que 
quando existem, desorientam mais do que orientam. Talvez para o usuário não interesse como eles foram 
feitos, mas, se servem à necessidade imediata, se cumprem seu objetivo. 
Se considerarmos que os mapas servem de orientação e de base para o planejamento e conhecimento 
do território, a sociedade acaba sendo consumidora dessas representações cartográficas que são um 
meio de comunicação. Porém, na maioria das vezes, esses mapas não têm cumprido o seu papel. A 
função de um mapa quando disponível ao público é a de comunicar o conhecimento de poucos para 
muitos, por conseguinte ele deve ser elaborado de forma a realmente comunicar. Provavelmente, parte 
da responsabilidade pela atual proliferação de mapas pouco eficazes se deve também, ao acesso 
irrestrito às ferramentas tecnológicas desenvolvidas para análise de dados espaciais aliadas ao 
desconhecimento dos procedimentos inerentes à representação cartográfica. 
Do ponto de vista científico, a busca por métodos que dêem conta da representação de processos 
complexos da contemporaneidade também provocou o aumento de pesquisas em áreas emergentes 
como o geoprocessamento, a informática, o meio ambiente e a saúde pública, para os quais os sistemas 
de informação geográfica fornecem ferramentas que ajudam na produção de mapas. Isso certamente 
contribui, cada vez mais, para que os mapas sejam concebidos como documentos que revelam o visível 
e o invisível na imagem, como, por exemplo, as concepções ideológicas de uma sociedade. No entanto, 
independente do objetivo, o mapa como um meio de comunicação exige conhecimentos específicos de 
Cartografia, tanto de seu criador como do usuário, leitor e consumidor. 
 
 
 
 
Noções básicas de cartografia: Orientação: pontos cardeais; 
Localização: coordenadas geográficas (latitude, longitude e 
altitude); Representação: leitura, escala, legendas e 
convenções. 
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ORIENTAÇÃO: PONTOS CARDEAIS 
 
As coordenadas geográficas são um sistema de linhas sobre o globo ou o mapa. As coordenadas 
geográficas são os paralelos e os meridianos. 
As coordenadas geográficas são como imensas ruas ou caminhos que se cruzam sob toda a superfície 
terrestre, mas diferentes das ruas e avenidas de nossa cidade, as coordenadas não são visíveis. Por isso, 
os paralelos e os meridianos são linhas imaginárias, traçadas apenas sobre os mapas e o globo terrestre. 
Os paralelos e os meridianos são indicados por graus de circunferências. Um grau (1°) corresponde a 
uma das 360 partes iguais em que a circunferência pode ser dividida. Um grau por sua vez divide-se em 
60 minutos (60') e cada minuto pode ser divido em 60 segundos (60"). Assim um grau é igual a 59 minutos 
e 60 segundos. 
É um sistema referencial de localização terrestre baseado em valores angulares expressos em graus, 
minutos e segundos de latitude (paralelos) e em graus, minutos e segundos de longitude (meridianos), 
sendo que os paralelos correspondem a linhas imaginárias E-W paralelas ao Equador e os meridianos a 
linhas imagináriasN-S, passando pelos polos, correspondentes a interseção da superfície terrestre com 
planos hipotéticos contendo o eixo de rotação terrestre. 
O sistema de paralelos usa o Equador como referencial 0 (zero) e os valores angulares crescem para 
o N e para o S até 90 graus, cada grau subdividido em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos; para 
distinguir as coordenadas ao norte e ao sul devem ser usadas as indicações N e S respectivamente. 
O sistema de meridianos usa um meridiano arbitrário que passa em Greenwich, na Grã Bretanha, 
como origem referencial 0 (zero) e os valores angulares crescendo para o oeste e para o leste até 180 
graus, cada grau subdividido em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos; para distinguir as 
coordenadas dos hemisférios terrestres ocidental e oriental devem ser usadas as notações internacionais 
W e E, respectivamente. 
Assim, a localização de um ponto terrestre pode ser expressa pela interseção de latitude com 
longitude; exemplos: 20º35'45"N-45º25'00"W; 20º35'45"S-45º25'00"E. 
Deve ser observado que 1 grau de intervalo de longitude no Equador corresponde, aproximadamente, 
a 112 km e que vai se estreitando para os polos onde viram um ponto (à semelhança de um gomo de 
laranja). 
 
Existem pelo menos quatro modos de designar uma localização exata para qualquer ponto no globo 
terrestre. 
Nos três primeiros sistemas, o globo é dividido em latitudes, que vão de 0 a 90 graus (Norte ou Sul) e 
longitudes, que vão de 0 a 180 graus (Leste ou Oeste). Para efeitos práticos, usam-se as siglas 
internacionais para os pontos cardeais: N=Norte, S=Sul, E=Leste/Este, W=Oeste. 
 
 
Fonte: http://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2014/08/pontos-cardeais.jpg 
 
Para as longitudes, o valor de cada unidade é bem definido, pois a metade do grande círculo tem 
20.003,93km, dividindo este último por 180, conclui-se que um grau (°) equivale a 111,133km. Dividindo 
um grau por 60, toma-se que um minuto (') equivale a 1.852,22m (valor praticamente idêntico ao da milha 
náutica). Dividindo um minuto por 60, tem-se que um segundo (") equivale a 30,87m, 
Para as latitudes, há um valor específico para cada posição, que aumenta de 0 na Linha do Equador 
até aos Polos, onde está o seu valor máximo (90º de amplitude do ângulo). 
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LOCALIZAÇÃO: COORDENADAS GEOGRÁFICAS (LATITUDE, LONGITUDE E ALTITUDE) 
 
Linhas imaginárias traçadas em intervalos regulares que permitem a localização de pontos da 
superfície terrestre. Todos os pontos se cruzam em duas coordenadas: latitude e longitude. São medidas 
em grau, minuto e segundo. As coordenadas geográficas foram determinadas por meio de observações 
astronômicas e satélites geodésicos. 
 
Latitude 
Latitudes ou paralelos são as linhas paralelas ao Equador e marcam a distância entre os polos. Partem 
do Equador (0º) até 90º ao norte e ao sul. Por convenção internacional, servem para determinar as zonas 
quentes, temperadas e glaciais da superfície do planeta. Os paralelos mais importantes são o trópico de 
Câncer e o círculo polar ártico, ao norte, e o trópico de Capricórnio e o círculo polar antártico, ao sul. No 
Brasil, o trópico de Capricórnio passa pelos estados do Paraná e de São Paulo. 
 
 
Fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/img/Latitude%20e%20longitude.jpg 
 
Longitude 
Longitudes ou meridianos são as linhas que partem do meridiano de Greenwich (0º) - desde 1884 
adotado por um acordo internacional como meridiano de origem - até 180º a oeste e a leste e convergem 
para os polos. A linha imaginária ganha esse nome porque passa pelo antigo observatório da cidade de 
Greenwich, situada perto de Londres, no Reino Unido. Os meridianos são usados para determinar os 
fusos horários ao longo do globo terrestre. O primeiro fuso encontra-se entre 7º30’ a leste e a oeste de 
Greenwich. A cada 15º leste desse intervalo se acrescenta uma hora e a oeste se diminui uma hora. 
 
 
Fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/img/Latitude%20e%20longitude.jpg 
 
Altitude 
A altitude corresponde a distância vertical de um determinado ponto quando comparado ao nível médio 
do mar. Essa altitude ainda pode ser dividida em ortométrica, sendo a distância vertical de um ponto sobre 
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a superfície da terra em relação a um geoide de referência, e elipsoidal, sendo a distância vertical entre 
um elipsoide de referência. As altitudes que são demonstradas em receptores de GPS (Global Positioning 
System) são do tipo elipsoidal. 
 
 
Fonte: http://www.mast.br/multimidia_instrumentos/images/barometro/home_04.jpg 
 
REPRESENTAÇÃO: LEITURA, ESCALA, LEGENDAS E CONVENÇÕES 
 
O mapa é uma imagem reduzida de uma determinada superfície. Essa redução - feita com o uso da 
escala - torna possível a manutenção da proporção do espaço representado. É fácil reconhecer um mapa 
do Brasil, por exemplo, independentemente do tamanho em que ele é apresentado, pois a sua confecção 
obedeceu a determinada escala, que mantém a sua forma. A escala cartográfica estabelece, portanto, 
uma relação de proporcionalidade entre as distâncias lineares num desenho (mapa) e as distâncias 
correspondentes na realidade. 
Um mapa pode possuir níveis distintos de abrangência, de modo que podemos mapear o mundo, 
continentes ou partes deles, países, regiões, Estados ou mesmo ruas. Todas as vezes que visualizamos 
um mapa, independentemente do seu tema (mapa político, físico, histórico, econômico), podemos saber 
a distância real que há entre dois pontos ou o tamanho de uma área. Isso é possível por meio da 
verificação da escala disposta nos mapas. 
Escala é variação de proporção de uma área a ser mapeada, quem a determina é o responsável pela 
elaboração do mapa. 
 
Leitura 
 
Para uma compreensão geral é necessário que o leitor faça uma leitura rápida para captar o que há 
de mais relevante para sua necessidade, isto é, obter as informações genéricas do texto. Para buscar as 
informações principais do texto se detendo com maior atenção nos pontos principais é necessário que o 
leitor observe cada parágrafo e identifique os dados específicos que mais lhe interessam. Para uma leitura 
detalhada e, portanto, mais profunda, é requerido mais tempo, pois é exigida a compreensão dos detalhes 
do texto. 
Existe um outro recurso que pode ser empregado com sucesso no ensino, na aprendizagem, na 
avaliação, na análise de conteúdo e na negociação de significados. Trata-se de mapas conceituais, isto 
é, grafos ou diagramas que indicam relações entre conceitos, podendo ter duas ou mais dimensões. 
Os mapas unidimensionais são listas de conceitos que tendem a apresentar uma organização linear 
vertical, sendo mais grosseiros e genéricos. Mapas conceituais bidimensionais beneficiam-se também da 
dimensão horizontal, favorecendo uma representação mais completa das relações entre os conceitos. 
Mapas conceituais tridimensionais constituem abstrações matemáticas de limitada utilidade para fins 
instrucionais. 
Desta maneira, procure elaborar um mapa conceitual bidimensional, ou seja, um diagrama 
bidimensional mostrando relações hierárquicas entre conceitos. É importante ressaltar que o mapa 
conceitual, de acordo com o princípio ausubeliano (David Ausubel), podem ser utilizados como 
instrumentos para promover a diferenciação conceitual progressiva bem como a reconciliação integrativa. 
Um mapa conceitual pode também ser pensado como uma ferramenta para negociar significados, o 
que é feito através de proposições (dois ou mais conceitos ligados por palavras em uma unidade 
semântica) que expressam significados atribuídos às relações entre conceitos. 
 
Escala 
Escala é variação de proporção de uma área a ser mapeada, quem a determina é o responsávelpela elaboração do mapa. 
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Exemplo prático: Quando se tem a intenção de construir um mapa de um espaço, de maneira que 
represente fielmente as medidas reais do mesmo, pode-se seguir o seguinte princípio: Se uma sala de 
aula possui 5 metros de largura por 5 metros de comprimento, a mesma pode ser representada da 
seguinte forma: se estabelece que cada centímetro no papel equivale a 1 metro ou 100 centímetros no 
real. Desse modo, a escala produzida é 1:100 (1cm: 100cm) ou 1/100 (1cm/100cm). 
As escalas podem ser indicadas de duas maneiras, através de uma representação gráfica ou de uma 
representação numérica. 
 
Escala Gráfica 
 
A escala gráfica é representada por um pequeno segmento de reta graduado, sobre o qual está 
estabelecida diretamente a relação entre as distâncias no mapa, indicadas a cada trecho deste segmento, 
e a distância real de um território. Observe: 
 
 
 
A escala representa que cada centímetro no papel corresponde a 3 km na superfície real. 
 
A escala gráfica apresenta a vantagem de estabelecer direta e visualmente a relação de proporção 
existente entre as distâncias do mapa e do território. É representada sob a forma de um segmento de 
reta, normalmente subdividido em seções e ao longo do qual são registradas as distâncias reais 
correspondentes às dimensões do segmento 
 
Ex.: Na escala 1: 100 000 - "1 cm" representa a distância no mapa enquanto que o "100 000 cm" 
representa a distância real. Isto significa que 1 cm no mapa corresponde a 100 000 cm na realidade, ou 
seja 1 km. 
 
 
 
Escala Numérica 
 
A escala numérica é estabelecida através de uma relação matemática, normalmente representada por 
uma razão, por exemplo: 1:300 000 (1 por 300 000). A primeira informação que ela fornece é a quantidade 
de vezes em que o espaço representado foi reduzido. Neste exemplo, o mapa é 300 000 vezes menor 
que o tamanho real da superfície que ele representa. 
Na escala numérica as unidades, tanto do numerador como do denominador, são indicadas em cm. O 
numerador é sempre 1 e indica o valor de 1cm no mapa. O denominador é a unidade variável e indica o 
valor em cm correspondente no território. No caso da escala exemplificada (1: 300 000), 1cm no mapa 
representa 300 000 cm no terreno, ou 3 km. 
 
Caso o mapa seja confeccionado na escala 1:300, cada 1cm no mapa representa 300 cm ou 3 m. 
Para fazer estas transformações é necessário aplicar a escala métrica decimal: 
 
Escala 1:300 000 
3 0 0 0 0 0 
km hm dam m dm cm 
3 km 0 0 0 0 0 
ou 
Escala 1:300 
 
 3 0 0 
km hm dam m dm cm 
 
 3 m 0 0 
 
 
 
 
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Legenda 
 
A legenda deverá ser organizada de acordo com a relação existente entre os dados utilizando as 
variáveis visuais que representem exatamente as mesmas relações, ou seja, essa relação poderá ser 
qualitativa, ordenada ou quantitativa. Na construção da legenda, após identificar a variável visual mais 
adequada ao tipo de informação que se quer representar, e seu respectivo modo de implantação, 
acontece a transcrição da linguagem escrita para a gráfica. Dessa forma, as relações entre os dados e 
sua respectiva representação, são pontos de partida na caracterização da linguagem cartográfica. 
 
O nível de organização dos dados, qualitativos, ordenados ou quantitativos, de um mapa está 
diretamente relacionado ao método de mapeamento e a utilização de variáveis visuais adequadas à sua 
representação. A combinação dessas variáveis, segundo os métodos padronizados, dará origem aos 
diferentes tipos de mapas temáticos, entre os quais os mapas de símbolos pontuais, mapas de isolinhas 
e mapas de fluxos; mapas zonais, ou coropléticos, mapas de símbolos proporcionais ou círculos 
proporcionais, mapas de pontos ou de nuvem de pontos. Abaixo, abordaremos alguns tipos de mapas 
temáticos e suas respectivas legendas. 
 
Fenômenos Qualitativos 
 
Os métodos de mapeamento para os fenômenos qualitativos utilizam as variáveis visuais seletivas 
forma, orientação e cor, nos três modos de implantação: pontual, linear e zonal. 
A construção de mapa de símbolos pontuais nominais leva em conta os dados absolutos que são 
localizados como pontos e utiliza como variável visual a forma, a orientação ou a cor. Também é possível 
utilizar símbolo geométrico associado ou não as cores. A disposição dos pontos nesse mapa cria uma 
regionalização do espaço formada especificamente pela presença/ausência da informação. 
 
 
 
Os mapas de símbolos lineares nominais são indicados para representar feições que se desenvolvem 
linearmente no espaço como a rede viária, hidrografia e, por isso, podem ser reduzidos a forma de uma 
linha. As variáveis visuais utilizadas são a forma e a cor. Esses mapas também servem para mostrar 
deslocamentos no espaço indicando direção ou rota (rotas de transporte aéreo, correntes oceânicas, fluxo 
de migrações, direções dos ventos e correntes de ar) sem envolver quantidades. Nesses mapas 
qualitativos a espessura da linha permanece a mesma, variando somente sua direção. 
Os mapas corocromáticos apresentam dados geográficos e utilizam diferenças de cor na implantação 
zonal. Este método deve ser empregado sempre que for preciso mostrar diferenças nominais em dados 
qualitativos, sem que haja ordem ou hierarquia. Também é possível o uso das variáveis visuais 
granulação e orientação, neste caso, as diferenças são representadas por padrões preto e branco. 
Quando do uso de cores, estas devem separar grupos de informações e os padrões diferentes a serem 
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aplicados, para fazer a subdivisão dentro dos grupos. Para os usuários, a visualização de fenômenos 
qualitativos em mapas corocromáticos, apenas aponta para a existência ou ausência do fenômeno e não 
a ordem ou a proporção do fenômeno representado. 
 
 
 
Fenômenos Ordenados 
 
Os fenômenos ordenados são representados em classes visualmente ordenadas e utilizam a variável 
valor na implantação zonal. Os mapas mais significativos para representar fenômenos ordenados são os 
mapas coropléticos. 
Os mapas coropléticos são elaborados com dados quantitativos e apresentam sua legenda ordenada 
em classes conforme as regras próprias de utilização da variável visual valor por meio de tonalidades de 
cores, ou ainda, por uma sequência ordenada de cores que aumentam de intensidade conforme a 
sequência de valores apresentados nas classes estabelecidas. Os mapas no modo de implantação zonal, 
são os mais adequados para representar distribuições espaciais de dados que se refiram as áreas. São 
indicados para expor a distribuição das densidades (habitantes por quilômetro quadrado), rendimentos 
(toneladas por hectare), ou índices expressos em percentagens os quais refletem a variação da 
densidade de um fenômeno (médicos por habitante, taxa de natalidade, consumo de energia) ou ainda, 
outros valores que sejam relacionados a mais de um elemento. 
 
 
 
Fenômenos Quantitativos 
 
Os fenômenos quantitativos são representados pela variável visual tamanho e podem ser implantados 
em localizações pontuais do mapa ou na implantação zonal, por meio de pontos agregados, como 
também, na implantação linear com variação da espessura da linha. 
Os mapas de símbolos proporcionais representam melhor os fenômenos quantitativos e constituem-
se num dos métodos mais empregados na construção de mapas com implantação pontual. Esses mapas 
são utilizados para representar dados absolutos tais como população em número de habitantes, 
produção, renda, em pontos selecionados do mapa. Geralmente utiliza-se o círculo proporcional aos 
valores que cada unidade apresenta em relaçãoa uma determinada variável, porém, podem-se utilizar 
quadrados ou triângulos. A variação do tamanho do signo depende diretamente da proporção das 
quantidades que se pretende representar. Geralmente o número de classes com utilização do tamanho, 
deve atingir no máximo cinco classes. 
 
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Mapa de círculos proporcionais com informação quantitativa no modo de implantação pontual 
 
Recomenda-se evitar duas formas de símbolos proporcionais num mesmo mapa (circulo e triângulo), 
pois dificultam a comunicação cartográfica. Especialmente, quando é necessário representar duas 
informações quantitativas com implantação pontual, pode-se recorrer ao mapa de círculos concêntricos 
ou o mapa de semicírculos opostos que permite a comparação de uma mesma variável obtida em 
períodos diferentes. 
O mapa de círculos concêntricos consiste na representação de dois valores ao mesmo tempo por meio 
de dois círculos sobrepostos com cores diferentes. Este tipo de representação é recomendado para a 
apresentação de uma mesma informação em períodos distintos, ou para duas informações diferentes 
com dados não muito discrepantes. 
 
 
 
Para representar quantidades na implantação zonal utilizam-se os mapas de pontos. Esse mapa 
possui a vantagem de possibilitar uma leitura muito fácil por meio da contagem dos pontos, dando a 
sensação de conhecimento da realidade. No entanto a elaboração desse mapa pressupõe muita 
abstração uma vez que a distribuição dos pontos não ocorre segundo a distribuição do fenômeno. 
Os mapas de pontos ou de nuvem de pontos expõem dados absolutos (número de tratores de um 
município, número de habitantes, totais de produção, etc.) e o número de pontos deve refletir exatamente 
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o número de ocorrências. Sua construção depende de duas decisões: qual valor será atribuído a cada 
ponto e como esses pontos serão distribuídos dentro da área a ser mapeada. 
 
 
 
Mapa de nuvem de pontos com informação quantitativa no modo de implantação pontual no qual se 
visualiza uma mancha mais clara ou mais escura consoante a ocorrência do fenômeno representado. 
 
Os mapas isopléticos ou de isolinhas são construídos com a união de pontos de mesmo valor e são 
aplicáveis a fenômenos geográficos que apresentam continuidade no espaço geográfico. Podem ser 
construídos a partir de dados absolutos de altitude do relevo (medida em determinados pontos da 
superfície da Terra); temperatura, precipitação, umidade, pressão atmosférica (medidas nas estações 
meteorológicas); distância-tempo, ou distância-custo (medidas em certos pontos ao longo de vias de 
comunicação) e outros, como volume de água (medida em pontos de captação); também podem ser 
construídos a partir de dados relativos como densidades, percentagens ou índices. 
Os mapas de fluxo são representações lineares que tentam simular movimentos entre dois pontos ou 
duas áreas. Esses movimentos podem ser medidos em certos pontos ao longo das vias de comunicação 
ou entre duas áreas, na origem e no destino sem necessariamente especificar a via de comunicação. 
Esse tipo de mapa mostra claramente em que direção os valores ou intensidades de um fenômeno 
crescem ou decrescem. 
 
 
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Vários tipos de mapas temáticos podem ser construídos de acordo com os métodos apresentados, 
porém, outros fatores, como o modo de expressão, escala e conteúdo dos mapas, são igualmente 
importantes e devem ser observados no processo de elaboração e leitura de mapas. 
 
Modo de Expressão 
 
Modo de expressão diz respeito a cada tipo específico de representação cartográfica e está 
relacionado ao objetivo da construção e a escala. Os mais comuns são o mapa e a carta. 
O mapa resulta de um levantamento preciso e exato, da superfície terrestre, e é apresentado em escala 
pequena (escalas inferiores a 1:1.000.000). Os limites do terreno representado coincidem com os limites 
político-administrativo, sendo que o título e as informações complementares são colocados no interior do 
quadro de representações que circunscreve a área mapeada. São exemplos característicos de mapas, o 
mapa mundi, mapa dos continentes, mapas nacionais, estaduais, regionais, municipais, mapas políticos 
e administrativos, organizados em atlas de referência, atlas temáticos e escolares, ou em livros didáticos. 
A carta é uma representação de parte da superfície terrestre em escala média ou grande, dos aspectos 
artificiais e naturais de uma área, subdividida em folhas delimitadas por linhas convencionais - paralelos 
e meridianos - com a finalidade de possibilitar a avaliação de detalhes, com grau de precisão compatível 
com a escala. Geralmente, essas representações possuem como limites as coordenadas geográficas, e 
raramente terminam em limites político-administrativo. As observações e informações tais como título, 
escala e fonte, aparecem fora das linhas que fecham o quadro da representação, ou seja, a linha que 
circunscreve a área objeto de representação espacial. 
Entre os tipos de mapas menos utilizados aparecem o cartograma e a anamorfose cartográfica. 
Cartograma ou mapa diagrama é uma das denominações que recebe um mapa que representa dados 
quantitativos em forma de gráfico sobre mapas de áreas extensas como estados, países, regiões. Esse 
termo se cristalizou no Brasil nas décadas de 1960-1980, como usual para mapas nessas escalas. São 
representações que se lidam menos com os limites exatos e precisos como as coordenadas geográficas, 
para se preocupar mais, com as informações que serão objeto de distribuição espacial no interior do 
mapa, a fim de que o usuário possa visualizar seu comportamento espacial. 
Anamorfose é uma figura aparentemente disforme que, por reflexão num determinado sistema óptico 
produz uma imagem regular do objeto que representa, a anamorfose cartográfica ou geográfica é uma 
figura que expõe o contorno dos espaços representados de forma distorcida para realçar o tema. A área 
das unidades espaciais é alterada de forma proporcional ao respectivo valor, mantendo-se as relações 
topológicas entre unidades contíguas. Por exemplo, numa carta que represente a distribuição geográfica 
da densidade populacional, as áreas dos municípios podem ser ampliadas ou reduzidas de acordo com 
o afastamento daquele parâmetro em relação à média. Em outros casos, a distorção do espaço é 
realizada de acordo com o valor de certos tipos de relação espacial entre lugares, tais como a distância 
medida ao longo das estradas ou o tempo de deslocamento gasto para percorrer essa distância. 
 
 
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Convenções 
 
Convenções são os sinais ou símbolos, como cores e figuras, usados para representar os fenômenos 
desejados no mapa. A maioria das figuras e cores é reconhecida internacionalmente. O conjunto dos 
símbolos usados no mapa constitui a sua legenda. 
 
As principais formas de representação do relevo terrestre são os mapas com curvas de nível, os 
mapas com gradação de cores, as hachuras e o perfil topográfico. As curvas de nível são linhas que 
ligam pontos ou cotas de altitude em intervalos iguais. A partir delas pode-se construir um tipo de gráfico 
especial, chamado perfil topográfico. Curvas de nível muito juntas indicam um terreno muito inclinado, e 
afastadas significam uma inclinação mais suave. As hachuras e a gradação de cores representam o 
terreno com uma informação visual imediata e direta. As hachuras representam o relevo por meio de um 
conjunto de linhas paralelas ou próximas umas às outras. Quanto mais intensas, mais inclinado é o 
terreno. A gradação de cores faz o mesmo utilizandouma gama de tonalidades em que são atribuídos 
valores numéricos aos tons e às cores. 
 
No entanto, para representar os diversos temas é preciso recorrer a uma simbologia específica que, 
aplicada aos modos de implantação - pontual, linear ou zonal, aumentam a eficácia no fornecimento da 
informação. As regras dessa simbologia pertencem ao domínio da semiologia gráfica. 
A semiologia gráfica foi desenvolvida por Bertin (1967) e está ao mesmo tempo ligada às diversas 
teorias das formas e de sua representação, e às teorias da informação. Aplicada à cartografia, ela permite 
avaliar as vantagens e os limites da percepção empregada na simbologia cartográfica e, portanto, 
formular as regras de uma utilização racional da linguagem cartográfica, reconhecida atualmente, como 
a gramática da linguagem gráfica, na qual a unidade linguística é o signo. 
O signo (símbolo) é constituído pela relação entre o significante (ouvir falar de algo como por exemplo, 
papel), o objeto referente (esse papel) e o significado (idéia de papel formada na mente do interlocutor ao 
ouvir falar papel, um papel qualquer). No entanto, o signo é constituído por significante (mensagem 
acústica: papel) e significado (conceito, idéia de papel). Por exemplo, num mapa do uso das terras, o 
signo constituído pelo significante "cor laranja" tem o significado de cultura permanente. Dessa forma, os 
signos são construídos basicamente, com a variação visual de forma, tamanho, orientação, cor, valor e 
granulação para representar fenômenos qualitativos, ordenados ou quantitativos nos modos de 
implantação pontual, linear ou zonal. 
 
 
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A variável visual tamanho corresponde à variação do tamanho do ponto, de acordo com a informação 
quantitativa; a variável visual valor pressupõe a variação da tonalidade ou de uma seqüência 
monocromática; a granulação corresponde a variação da repartição do preto no branco onde deve-se 
manter a mesma proporção de preto e de branco; a variável visual cor significa a variação das cores do 
arco-íris, sem variação de tonalidade, tendo as cores a mesma intensidade. Por exemplo: usar azul, 
vermelho e verde é usar a variável visual “cor”. O uso do azul-claro, azul médio e azul escuro corresponde 
à variável “valor”. A variável visual orientação corresponde às variações de posição entre o vertical, o 
oblíquo e o horizontal e, por fim, a forma, agrupa todas as variações geométricas ou não. 
A observação das regras apresentadas no quadro de variáveis visuais permite uma comunicação muito 
mais eficaz. Com exceção da variável visual cor (matiz), a utilização correta das demais permite a 
representação em preto ou tons de cinza; técnicas muito importantes quando o mapa elaborado precisa 
ser impresso com baixo custo, porém, com ótimos resultados. 
Para que o processo de comunicação entre o construtor do mapa e o usuário – leitor do mapa se 
estabeleça, os seguintes princípios jamais poderão ser ignorados: 
 
- Um fenômeno se traduz por um só sinal. Exemplo: arroz, feijão e milho. Não apresenta quantidade e 
nem ordem. A informação nesse caso é qualitativa e a variável visual mais adequada para sua 
representação é a forma ou a cor (matiz). 
- Uma ordem se traduz somente por uma ordem. Exemplo: densidades, hierarquias e sequências 
ordenadas, ou seja, quando a informação quantitativa é ordenada em classes e a variável visual mais 
adequada é o valor (monocromia). Nesses casos, não se deve utilizar a variável visual tamanho porque 
não é possível diferenciar quanto vale cada ponto dentro da classe estabelecida. 
- Variações quantitativas se traduzem somente pela variável visual tamanho. 
 
Além das variáveis visuais, o quadro apresentado, também apresenta os modos de implantação. Esses 
são diferenciados de acordo com a extensão do fenômeno na realidade. Dessa forma, distinguem-se três 
modos de implantação: implantação pontual, quando a superfície ocupada é insignificante, mas 
localizável com precisão; implantação linear, quando sua largura é desprezível em relação ao seu 
comprimento, o qual, apesar de tudo, pode ser traçado com exatidão; implantação zonal, quando cobre 
no terreno uma superfície suficiente para ser representada sobre o mapa por uma superfície proporcional 
homóloga. 
As variáveis visuais podem ser percebidas de modo diferente, conforme um conjunto de propriedades 
que podem ser: seletivas, associativas, dissociativas, ordenadas e quantitativas. São chamadas variáveis 
visuais seletivas, quando permitem separar visualmente as imagens e possibilitam a formação de grupos 
de imagens. A cor, a orientação, o valor, a granulação e o tamanho possuem essa propriedade. São 
associativas quando permitem agrupar espontaneamente, diversas imagens num mesmo conjunto; 
forma, orientação, cor e granulação possuem a propriedade de serem vistos como imagens semelhantes. 
Ao contrário, quando as imagens se separam espontaneamente, a variável é dissociativa; este é o 
caso do valor e do tamanho. São chamadas variáveis ordenadas quando permitem uma classificação 
visual segundo uma variação progressiva. São ordenados o tamanho, valor e a granulação. Finalmente, 
são quantitativas quando se relacionam facilmente com um valor numérico. 
A única variável visual quantitativa é o tamanho. Isto porque somente as figuras geométricas possuem 
uma área e um volume que pode ser visualizado com facilidade, permitindo relacionar imediatamente com 
uma unidade de medida e, portanto, com uma quantidade que é visualmente proporcional. 
Conhecer e distinguir as características de cada variável visual é importante porque ajuda o cartógrafo 
a construir mapas temáticos que atendem aos objetivos de comunicação e a fazer mapas capazes de 
transmitir a sensação condizente com as características dos dados, consequentemente, ajuda a fazer 
mapas úteis. 
 
QUESTÕES 
 
1. (SEE-SP-CESGRANRIO) 
 
ESTÃO SUJANDO NOSSA MATRIZ ENERGÉTICA 
 
O Brasil, sem lugar a dúvida, é o país que oferece maiores opções para diversificar as suas fontes de 
geração, renováveis e limpas. No que se refere à energia eólica, existem empreendimentos que dão um 
total de 2.381 MW; para o setor da hidroeletricidade, o total é de 15.693 MW; e quanto às termelétricas, 
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poluentes e caras, o total é 19.400 MW. Assim, esperamos que as autoridades, em vez de sujarem a 
nossa matriz energética, incentivem cada vez mais, as fontes limpas e renováveis. 
 
 
 
Considerando a perspectiva da matéria jornalística e as informações do mapa, o incentivo à produção 
de energia eólica deveria voltar-se, fundamentalmente, para os estados da região 
(A) Sul. 
(B) Norte. 
(C) Nordeste. 
(D) Sudeste. 
(E) Centro-Oeste. 
 
2. (SEE-SP –CESGRANRIO) 
 
 
Um dos maiores problemas urbanos do Brasil é o déficit habitacional, exigindo políticas públicas que 
promovam a moradia digna. Quanto à moradia irregular, no exemplo dos cortiços, o Estado da Federação 
que apresenta maior número dos mesmos é: 
(A) Rio de Janeiro. 
(B) São Paulo. 
(C) Maranhão. 
(D) Ceará. 
(E) Pará. 
 
3. (Policia Civil/SC – 2015 - Adaptado) O objetivo das projeções cartográficas é resolver os 
problemas decorrentes da representação da Terra num plano. A projeção acima tem como característica: 
 
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(A) Ser utilizada para a representação cartográfica de áreas de altas latitudes, como a América do 
Norte, a Europa Setentrional e a parte norte da Ásia. 
(B) Apresentar o inconveniente de deformar as superfícies nas altas latitudes e manter as baixas 
latitudes em forma e dimensão mais próximas do real. 
(C) Apresentar grandes deformações no ponto de tangência, enquantoque as porções da superfície 
mais distantes do centro tangenciado estão mais próximas do seu formato real. 
(D) Desenhar os paralelos em círculos; é utilizada geopoliticamente, pois pode realçar o "status" de 
um país em relação aos demais. 
 
RESPOSTAS 
 
1. Resposta: C 
Analisando o mapa percebe-se a informação na legenda, quando mais escura as áreas destacadas 
maior é a velocidade do vento. A Região com maiores ventos é a Nordeste devido a graduação da cor 
mais forte e todos os estados dessa região. O Nordeste localiza-se também mais próxima da linha do 
Equador, uma zona com maior incidência solar e ventos. 
 
 
2. Resposta: B 
Observando as informações do mapa através da legenda, fica fácil perceber, que o estado com maior 
concentração de cortiços é São Paulo. Esse é um mapa quantitativo. Quanto mais escuro a área 
destacada maior é o número de cortiços, pois se utilizou uma mesma graduação de cores 
 
3. Resposta: B 
As áreas próximas aos polos, altas latitudes ficam deformadas, pois, na projeção cilíndrica é feito um 
ajuste no espaçamento dos paralelos para que a escala seja mantida em pontos determinados. 
Geralmente, as projeções cilíndricas apresentam um alongamento no sentido Leste-Oeste e o 
achatamento no sentido norte-sul, nos países de latitude elevada. 
 
 
 
NATUREZA E MEIO AMBIENTE NO BRASIL1 
 
Um dos mais velhos e não resolvidos problemas da ciência geográfica diz respeito à dicotomia entre 
geografia física e humana, entre o estudo geográfico da natureza e da sociedade. 
Para os clássicos em geral, a geografia seria uma ciência de síntese, de união entre a natureza e o 
homem, de estudo das relações do social com o seu meio ambiente. A própria polêmica sobre essa 
questão, sempre retomada, indica-nos claramente que essa promessa epistemológica ficou na teoria, que 
a diferenciação entre essas duas modalidades da geografia sempre foi enorme, tendendo a se aprofundar 
cada vez mais nos dias atuais. 
 
1
 Adaptado de: VESENTINI, J. W. Geografia, Natureza e Sociedade. 
Natureza e meio ambiente no Brasil: Grandes domínios 
climáticos; Ecossistemas. 
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Richard Hartshorne (1969), um dos raros clássicos da ciência geográfica que tinha preocupações 
filosóficas, (e embasamento para tanto), ocupou-se longamente dessa problemática. Ele argumentou 
que existem várias dicotomias na geografia - física versus humana, sistemática versus regional, etc. - e 
que não cabe ao geógrafo distinguir entre fatos naturais e humanos porque nossa perspectiva seria outra. 
Numa ótica kantiana, seria realizar um estudo espacial ou coreológico (ligado à diferenciação de áreas, 
de lugares) e não sistemático ou mesmo histórico (temporal), que seriam outras duas perspectivas 
cognitivamente possíveis. 
A coerência lógica e a erudição desse velho mestre são indiscutíveis, mas suas respostas nos parecem 
ultrapassadas, datadas, próprias de um neokantismo que já vai ficando mais para a história do 
conhecimento do que para os seus dilemas e desafios atuais. A pro- posta de ignorar a diferenciação 
entre natureza e sociedade sugere al- go como esconder a cabeça para evitar o perigo. A atual "crise 
ecológica" nos mostra que há um desequilíbrio nas relações entre sociedade moderna e natureza, e a 
inquirição da origem desse fato nos conduz a uma concepção de natureza enquanto recurso, o que 
ocorreu na "revolução tecno-científica" dos séculos XVI e XVII. (Acontecimento, é bom ressaltar, 
interligado ao desenvolvimento do capitalismo e à ocidentalização de praticamente todo o planeta.) 
Essa concepção de natureza nova ou moderna (pois marca o advento da modernidade) - tão bem 
sintetizada pela frase de Descartes: "conhecer é nos tornarmos senhores e dominadores da natureza" -, 
trouxe consigo uma radical separação entre espírito (exclusivamente humano - o cogito cartesiano) e 
matéria ou objeto (ares externa, a coisa sem alma e consciência, cujas "leis" devem ser compreendidas 
como forma de instrumentalizá-la), entre o social e o natural. Toda a ciência moderna - inclusive a 
geografia, oficialmente nascida mais tarde, no século XIX - acabou reproduzindo essa dicotomia ocidental 
e capitalista entre o homem (ser produtor, criador, transformador) e a natureza (domínio a ser 
conquistado, explorado, submetido ao ritmo da produção - especialmente industrial, pois a fábrica viria a 
ser o protótipo das relações capitalistas). A diferenciação entre uma abordagem sistemática e outra 
regional, a nosso ver, não configura uma dicotomia (como a que há entre estudo da natureza e da 
sociedade), mas tão-só uma diferenciação metodológica que outras disciplinas "sem dicotomias 
estruturais" possuem (como a economia, a sociologia, etc.). E o problema crucial - que realmente 
ocasiona dicotomias - de estudar ou pretender estudar o social e o natural ao mesmo tempo, não é 
exclusivo da geografia (como muitos geógrafos pensam) e sim de todo ramo do conhecimento científico 
que se localize nessa interface. A antropologia, por exemplo, vive igualmente uma separação radical entre 
sua parte cultural e sua porção física. 
O distanciamento entre o geógrafo físico ou ambientalista e o geógrafo humano ou estudioso do social 
(mesmo que se trate do espaço social, construído) sempre foi sensível e nos nossos dias tende cada vez 
mais a crescer. Há os especialistas em cartografia, geomorfologia, climatologia, geografia urbana, 
geografia política, geografia da população, teoria e história do pensamento geográfico, etc., e a pretensa 
unidade ficando apenas uma justificativa acadêmica ou meramente de rótulos. E certo que há análise 
ambiental, o estudo do meio ambiente na perspectiva do impacto realizado pelo homem. E certo ainda 
que há expansões da análise economicista até a natureza, na questão da produção da segunda natureza 
pelo social. 
No entanto, tudo isso fica ainda marcado pela especialização do estudioso, e sempre há uma dicotomia 
entre natural e social por mais que as informações (sobre indústrias, poluição atmosférica, desmatamento 
e erosão das encostas, sobre expansão econômica irracional, desmatamentos de nascentes e 
assoreamento de rios com enchentes, etc.) se entrecruzem ou se justaponham. Isso porque há uma lógica 
do natural que é diversa da do social. Neste há dialética, contradição e lutas, vencedores e vencidos, 
ideologia, projetos políticos e dominação, indeterminação com contingências. As tentativas de se elevar 
ao natural a razão dialética, tão fértil na análise do social, sempre fracassaram. 
E o inverso também é verdadeiro: a natureza pode ser conhecida através de métodos- como as 
hipóteses, a testagem, a aplicabilidade, o princípio da não contradição (isto é, a lógica formal), as variáveis 
a serem isoladas e medidas, a matematização, etc. - que no estudo do social moderno geraram apenas 
aqueles tipos de aberração conhecidos tatu senso como positivismo. Razão analítica e razão dialética, 
para usar uma terminologia de Sartre (mas que pode ser encontrada de forma semelhante, com palavras 
diferentes, em outros importantes pensadores do social: Merleau-Ponty, Adorno, Horkheimer, Marcus, 
Castoriadis, etc.), parecem ser realmente diferentes e próprias para a compreensão de aspectos diversos 
do real. A clivagem que a modernidade implantou no real foi de fato eficaz, operacional e não meramente 
ideológica no sentido vulgar do termo. 
Existem tentativas de superar essa oposição. Elas inclusive se multiplicam, atualmente, em todos os 
campos do saber. É a economia alternativa, que tenta pensar a natureza não como recurso ou como 
"externalidades" e sim como limites e condição para a vida (cf., entre outros, Schumacher, 1982). É a 
física subatômica e mesmo a astronômica- a "nova física", nos dizeres de Capra, que procuraver o real 
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de forma não determinista, com o princípio da indeterminação, com a interpenetração sujeito-objeto, com 
a provável característica holística do real (o todo é mais importante que as partes, que em si nada 
significam), etc. E a agricultura alternativa ou ecológica, que procura combater as pragas com inimigos 
naturais, que evita adubos químicos e agrotóxicos, que condena as monoculturas, etc. E a medicina 
alternativa que evita os remédios químicos e propõe uma nova visão de saúde. Isso tudo sem falar na 
psicologia alternativa, na pedagogia, na tecnologia branda ou "ecológica". 
 
Um novo "paradigma" 
 
Alguns pensam que disso resultaria um "novo paradigma", diferente daquele cartesiano-newtoniana 
típico da "ciência moderna" (cf. Capra, s/d, entre outros), onde não haveria mais uma nítida oposição 
homem-natureza. Talvez. Não custa envidar esforços nessa direção, pois estamos sem rumos definidos, 
com forte indeterminação e perplexidade. Mas é forçoso reconhecer que as tentativas de sistematizar 
esse "conhecimento holístico" (cf. Capra, s/d, e, de forma menos ambiciosa, referindo-se em particular à 
geografia, Monteiro, 1984) redundaram pura e simplesmente em especulações semirreligiosas (na linha 
do taoísmo, uma mistura de filosofia com religião). 
Tais especulações pretendem ver uma "verdade trans-histórica e trans-empírica" nos ensinamentos 
do pensamento chinês (Yin e Yang, visão cíclica da história e da natureza, caminhos ou alternativas quase 
que já traçados, independentes dos projetos e lutas sociais, etc.), que acaba servindo como elemento 
unificador (de forma arbitrária e espúria, diga-se de passagem, pois a crítica da tecnologia "dura", a 
esperança na energia solar, os métodos ecológicos na agricultura, etc., nas- ceram e se desenvolvem de 
forma independente do taoísmo, do budismo, do hinduísmo ou do zen), como um pretenso cimento que 
daria coesão a essas interessantes práticas (ou teorias) ditas alternativas. 
Esta visão chega a lembrar até a dialética da natureza na sua versão stalinista (com a necessária 
ressalva de que não há um Stalin e um poder estatal para oficializar esse saber). Para comprovar isso, 
atente-se para a euforia com que muitos velhos e renitentes marxistas- leninistas recebem essa ideia do 
pensamento chinês (que, segundo eles, "é semelhante à dialética") como "essência" do movimento da 
realidade (social e natural). 
Pensamos que uma compreensão mais eficaz das razões da dicotomia na geografia deve retomar sua 
institucionalização no século XIX, intimamente ligada à legitimação dos Estados-nações e à expansão do 
sistema escolar. A geografia moderna nasceu na Alemanha, em meados do século passado, a partir de 
interesses específicos de conhecimento de territórios (no próprio país e no exterior, na África 
especialmente, palco da colonização naquele momento) e de inculcação, via sistema escolar, de uma 
ideologia patriótica e nacionalista. Seu paradigma tradicional, "A Terra e o Homem", decorreu 
provavelmente da visão da Pátria - do Estado-nação recém-construído e ainda praticando o etnocídio 
(homogeneização cultural) para unificar o povo e legitimar o poder estatal. Tal visão era necessária para 
fins de inculcação: o "país" se define em especial pelo território, pelo contorno que figura nos mapas, local 
onde se corporifica um "espírito nacional" e no qual o homem irá ocupar e se organizar economicamente. 
Foi esse paradigma, decorrente de uma necessidade ideológica, que criou a ideia de unidade, de "ciência 
de síntese", de "ponte" entre o natural e o social. 
Temos de admitir que a preocupação com a unidade, as queixas (e tentativas de resolução) da 
dicotomia física-humana, só têm sentido com vistas à legitimação da geografia no sistema escolar. 
Somente nesse nível se torna imprescindível unir ou justapor geografia física e humana. 
 
Sociedade moderna e natureza 
 
Serge Moscovitti (1968) fez uma afirmação que nos parece essencial para entendermos a 
contemporaneidade: o século XVIII colocou a questão política (da liberdade e da República), o século XIX 
a social (socialismo, movimento operário) e o século XX a problemática ambiental-ecológica. 
Devemos entender essa afirmativa com reservas. Não como a substituição de um problema por outro, 
mas como superposição de questões entrelaçadas, uma delas ganhando ênfase num momento da 
história: o século XVIII não resolveu o problema da liberdade, o século XIX não equacionou a questão 
social - econômica. Mas as problemáticas se refazem, permanecem dentro de uma nova (mesmo 
adquirindo novo sentido), e, por esse motivo, a questão ecológica hoje, igualmente o problema da 
liberdade e os reclamos por justiça social. 
 
 
 
 
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A natureza como questão 
 
De fato, não é possível em nossos dias qualquer projeto de reestruturação societária radical que não 
leve em conta as relações entre sociedade e natureza. Qualquer utopia ou projeto revolucionário ao estilo 
de Rousseau ou Marx, entre outros, deve incorporar a natureza como questão (e não como ideal 
romântico, como em Rousseau, ou como recurso instrumental, como em Marx), como dilema a ser pensa- 
do em conjunto com o futuro do social, como fator que coloca objetivamente limites ao ideal de progresso 
e à própria noção de consumo e necessidades. Uma série de indicadores, em grande parte ausentes até 
há poucas décadas (e podendo assim ser ignorados pelos grandes teóricos do social), mostram-nos esse 
fato com clareza: 
 
a) O planeta foi completamente unificado e ficou "pequeno" pela primeira vez na história da 
humanidade, mostrando-se como sistema fechado (e não mais aberto ou "infinito") e com limites bem 
tangíveis. A própria fotografia da Terra vista do espaço possui um significado simbólico enorme, de clara 
percepção: ocupamos uma mesma "nave espacial" onde existem condições para a vida e recursos que, 
no entanto, podem vir a ser rompidos. Somando-se a isso os elementos complementares de 
encadeamento da vida e do ambiente (ecossistemas, biosfera), e da interdependência- acima dos limites 
das soberanias nacionais - de fatores planetários como a circulação atmosférica, os oceanos, etc. (cf. 
Dubos e Ward, 1973), percebemos como a natureza hoje exige novos conceitos e formas de abordagem 
e como o futuro da humanidade liga-se à preservação da biosfera. 
 
b) O sistema produtivo e militar da humanidade pode em nossos dias - e isso também pela primeira 
vez na história - destruir ou exterminar toda a vida humana sobre o planeta. A lógica do desenvolvi- mento 
econômico que é adotada há alguns séculos - desde, pelo menos, a Revolução Industrial do final do 
século XVIII e do século XIX - está centrada numa concepção ultrapassada de natureza enquanto recurso 
infinito e inesgotável. Há nela uma ênfase na grande escala (enormes unidades produtivas, usinas 
hidrelétricas, metrópoles, etc.; cf. Schumacher, 1982) e na militarização crescente. Aliás, como 
mostramos com mais detalhes (Vesentini, 1987), evolução tecnológica e produção bélica são elementos 
indissociáveis desde a década de 1930. 
 
A multiplicação das centrais nucleares amplia os riscos de acidentes e contaminações radioativas do 
ambiente, sendo um processo explicado somente por fatores geopolíticos (ligações com o armamentismo, 
concepção militar de superpotência). Cerca de um trilhão de dólares são gastos atualmente (dados de 
1988), em todo o mundo, na produção bélica. Deixando-se de lado a irracionalidade (social) desse 
dispêndio improdutivo de recursos- e o tato de que gasto de outra forma ele poderia, talvez eliminar os 
problemas de tome e subnutrição-, o que se evidencia é o acúmulo incessante de meios de destruição 
com a possibilidade cada vez maior decatástrofes inclusive não desejadas por ninguém. Leia-se, a 
propósito, Thompson e outros, 1985; também Gorbachev (1987) chama a atenção para os perigos de 
guerras e catástrofes "acidentais" com a multiplicação atual- e o aperfeiçoa- mento contínuo- dos 
armamentos. 
c) A falência da ideia secular e capitalista (reproduzida igualmente no "socialismo real") de progresso 
enquanto produção sempre maior e em grande escala, às custas de uma despreocupação com a 
natureza. Uma série de degradações no meio ambiente colocou em pauta a necessidade de se repensar 
as bases da economia (que nunca incorporou a natureza, a não ser como "externalidades" ou como 
"custos", como demonstram Castoriadis, 1987 e Schumacher, 1982), do desenvolvimento econômico: 
 
- os desmatamentos e os riscos de elevação da temperatura pelo "efeito estufa"; 
- o aumento no buraco da camada de ozônio; 
- o gigantismo urbano e os problemas ambientais (e sociais) a eles interligados; 
- a desertificação em certas áreas (por exemplo, ao sul do Saara, onde contribui para agravar as tomes 
endêmicas); 
- a extinção de inúmeras espécies vegetais e animais; 
- a poluição crescente dos oceanos e rios; 
- a contaminação de alimentos por agrotóxicos; 
- o fracasso de programas de "desenvolvimento"- como a "revolução verde na Índia - em eliminar (ou 
sequer em diminuir sensivelmente) a tome e subnutrição de milhões de pessoas no Terceiro Mundo. 
 
 
 
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Socialismo e ecologia 
 
As utopias dos séculos XVIII e XIX- especialmente o socialismo e o marxismo- não levaram em 
consideração a dimensão ecológica em sua plenitude (e talvez nem pudessem incorporar de fato tal 
problemática, que só no nosso século adquiriu contornos mais nítidos). ' A problemática ecológica era 
considerada como "contradição secundária", a ser solucionada quase automaticamente após a resolução 
da contradição essencial: capital-trabalho, expresso pela "socialização dos meios de produção". Como 
sabemos hoje, essa "socialização" (ou melhor, estatização) dos meios de produção não eliminou nem 
diminuiu o problema ambiental, nos países que dizem seguir os ensina- mentos do marxismo. 
Um dos articuladores do movimento verde na URSS, o estoniano Tiit Made, comentou os inúmeros 
problemas ambientais nesse país: desde a poluição nos mares Arai e Báltico até inúmeros casos de 
crianças nascidas com cérebro deformado devido à elevada poluição atmosférica em Abovian (Armênia}, 
ressecamento de solos devido a desvios de cursos de rios (visando facilitar a extração de fosforita) na 
Estônia, etc. (in Folha de S. Paulo, de 09/10/88). E o sindicato Solidariedade, (Polônia) colocou em seu 
programa muitos itens relativos à melhoria do meio ambiente, mostrando como a industrialização do país 
se fez às custas de poluições que muitas vezes ultrapassam os limites máximos toleráveis pela vida 
humana. Thompson (1985), com fundamento em ecologistas soviéticos, cita inúmeros problemas 
ecológicos na URSS ligados ao gigantismo do é complexo industrial-militar, à experimentação de guerra 
química, etc. 
Não poucos estudiosos (Gorz e outros, 1980; Pignon e outros, 1976; Foucault, 1979; Castoriadis, 1987) 
já assinalaram o fato de que o "socialismo real" não conseguiu produzir uma outra tecnologia diferente da 
"ocidental", fato que demonstra seu modelo societário semelhante ao capitalismo. Também na concepção 
de natureza podemos dizer que existe algo parecido. A concepção de natureza dessas sociedades (e do 
próprio Marx, e principalmente do marxismo posterior) é a mesma engendrada pelo desenvolvimento do 
capitalismo (e da civilização ocidental no seu ato de expandir-se e dominar o globo terrestre), em especial 
a partir do século XVI. 
Gostaríamos de nos deter mais na construção de um conceito instrumental de natureza pelo 
pensamento ocidental, conceito esse acriticamente incorporado até mesmo pelos grandes teóricos que 
questionavam o modo de produção capitalista e propunham alternativas radicais de reestruturação 
societária. Pensamos que retomar essa ideia - esse conceito no seu processo social de construção, 
comparando-o inclusive com outras noções de natureza: da Grécia antiga, dos chineses (taoísmo), das 
sociedades indígenas, etc.- pode ser de grande valia para uma compreensão mais profunda das razões 
do atual desequilíbrio ecológico e da interligação indissociável entre o futuro da humanidade e a 
preocupação ambiental. 
Tanto a concepção de natureza como a de sociedade que são interligadas, pois uma se define, pelo 
menos na nossa civilização, em oposição à outra não são naturais e sim históricas e sociais. A ideia de 
natureza, normalmente, possui um duplo significado: a) Uma concepção de mundo (realidade, universo 
e, especialmente, meio circundante do homem, excluindo-se os artefatos por ele fabricados); e b) 
Relações práticas da sociedade com o seu habitat, nas quais se incluem a produção econômica, a 
organização do espaço e até mesmo as relações simbólicas com as coisas e com os deuses. 
A civilização ocidental, ao se mundializar e unificar povos de pontos extremos do planeta, processo 
iniciado no século XV com a expansão marítimo-comercial, se impôs (mesmo se mesclando com outras 
culturas, mas sendo hegemônica) a nível mundial em nome do progresso (identificado ao 
desenvolvimento do capitalismo, da produção de mercadorias em grande escala e com base na intensa 
divisão do trabalho e na tecnologia a ela associada). Em termos prático-operacionais, pode-se dizer que 
a mundialização da civilização ocidental (ou do capitalismo) significou a imposição a outros povos e 
regiões dos seguintes imperativos: 
 
1. Trabalho exaustivo e "produtivo" (o que significa trabalho voltado para a produção de mercadorias, 
dentro da lógica da acumulação do capital): daí a ideia de que os indígenas, por exemplo, eram 
"preguiçosos", já que só um tipo de trabalho é considerado como produtivo nessa lógica; 
2. O Esta- do como 'a organização política "normal", que deve existir em toda sociedade "civilizada" 
(só os povos com Estado são interlocutores, são reconhecidos); e, 
3. Uma concepção de natureza como recurso, como instrumento para o desenvolvimento econômico. 
 
Raízes da concepção pragmática 
 
As raízes dessa organização civilizatória- e especialmente dessa concepção pragmática de natureza 
- vêm desde a Grécia antiga. Elas incluem o antropocentrismo, a geometria supervalorizada, a natureza 
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- physis - como processo ligado à causalidade do real, etc. e o pensamento judaico-cristão (a dicotomia 
corpo/espírito - ou matéria/razão, o homem como criatura privilegiada, a única a ter alma, sendo as outras 
criaturas e coisas apenas complementos, que ele pode utilizar à vontade, o enaltecimento do trabalho 
exaustivo como finalidade da vida e aprimoramento do espírito e sacrifício, etc.). Mas o impulso decisivo 
ocorreu com a revolução Tecnocientífica dos séculos XVI e XVII, ligada ao desenvolvimento do 
capitalismo. 
Os séculos XVI e XVII conheceram uma verdadeira revolução no pensamento ocidental, com o advento 
da chamada “ciência moderna" e suas relações íntimas com uma nova concepção de natureza enquanto 
recurso. Inúmeros autores (Koyre, 1979, em especial, embora também Capra, s/d, Moscovitti, 1968, 
Collingwood, s/d, e Casini, 1979) já se detiveram nas diversas etapas ou capítulos desse processo, dessa 
construção de um saber e uma nova ideia de natureza com Giordano Bruno, Copérnico, Kepler, Galileu 
Galilei, Bacon e Descartes. Deixando-se de lado, por ora, as contradições e reviravoltas C:esse rico 
processo de engendramento de um novo saber, básico para uma nova tecnologia, o que cabe realçar são 
seus resultados teóricos - e até axiológicos - mais significativos. Entre estescertamente que existe uma 
nova concepção de saber, ou melhor de conhecimento (sistematizado, científico, pragmático), que passa 
a ser definido em termos de dominação da natureza. Como afirmou Descartes, a função da ciência é 
permitir que nos assenhoremos da natureza. A vida contemplativa, tradicional dos gregos, por exemplo, 
cede lugar à vida ativa: a prática é mais importante que a teoria, a ciência instrumental é mais importante 
que a reflexão filosófica. A separação sujeito/objeto se aprofunda, assim como a dicotomia entre fatos e 
interpretação. 
O universo vai sendo concebido à imagem da máquina, com o abandono do modelo organicista ou 
antropomorfo. Do cosmos fechado passamos ao universo infinito, e uma grande mudança ocorre quando 
o infinito - que era até então apenas um virtual - invade este mundo, a realidade com que nos 
relacionamos: 
Uma vez que não há limites para a progressão de nosso poder (e de nossa riqueza); ou, dizendo de 
outro modo, os limites, onde quer que se apresentem, têm um valor negativo e devem ser ultrapassados. 
Certamente, o que é infinito é inesgotável, de modo que jamais atingiremos, talvez, o conhecimento, 
absoluto e o poder absoluto; mas aproximamo-nos deles sem cessar Em suma, o movimento se dirige 
para o cada vez mais; mais mercadorias, mais anos de vida, mais casas decimais nos valores numéricos 
das constantes universais, mais publicações científicas, mais pessoas com o título de doutor- e o mais é 
o bom. 
Não cabe "classistizar" esse saber e essa nova concepção de natureza, tornando-o instrumento da 
burguesia. Estaríamos assim dentro de uma visão mecanicista que pretendemos ultrapassar, de relações 
unívocas de causalidade. Mas é fato que houve uma inter-relação entre o desenvolvimento do 
racionalismo ocidental e a ascensão progressiva do capitalismo. Não que um seja o instrumento de outro, 
nem causa e efeito. Mas sim que o desenvolvimento do capitalismo - que não é um processo linear 
centrado numa lógica econômica transcendente aos conflitos e contradições dos homens, às 
contingências afinal - deu-se a partir de lutas, projetos alternativos onde houve vencedores e venci- dos, 
contradições e reviravoltas. 
E nesse contexto social a "ciência moderna", o saber instrumental e racional engendrado e aprimorado 
nesses dois séculos (e melhor sistematizado e matematizado no século seguinte, com Newton), foi básico 
para o desenvolvimento da produção capitalista. As ideias capitalistas de trabalho e de natureza, sem 
dúvida que muito devem (e se entrelaçam) com a: definição de um conhecimento "objetivo" e "racional" 
enquanto instrumento de domínio do homem- do social- sobre o natural, a matéria inerte ou os seres sem 
inteligência. 
"A história dos esforços humanos para subjugar a natureza é também a história da subjugação do 
homem pelo homem", afirmou com propriedade Horkheimer (1976). Existe na realidade uma interligação 
estreita entre o novo significado de natureza com a modernidade, com o processo capitalista de criar uma 
divisão internacional do trabalho, uma dominação sobre a natureza e, ao mesmo tempo, uma ampliação 
do leque das desigualdades sociais. 
As desigualdades e a exportação do homem pelo homem não são criações do capitalismo, mas este, 
ao gerar enormes potencialidades de enriquecimento, ao erigir o trabalho exaustivo (destinado em grande 
parte a modificar a natureza, a humanizá-la) como valor máximo, como critério de progresso, criou um 
padrão de vida elevadíssimo por um lado (em classes privilegiadas e minoritárias e em certos países do 
chamado Primeiro Mundo) e, também (de forma complementar), gerou uma enorme massa de 
superexplorados, de pessoas vivendo com padrões de vida que não possuem antecedentes nem nas 
sociedades mais tradicionais. Não é por acaso que a intensa degradação ambiental que vivemos em 
nossos dias (e que muitas vezes nos leva até a colocar em dúvida o futuro do social tal como o 
conhecemos hoje) seja coeva de um desenvolvimento material ímpar, por um lado (com aviões 
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supersônicos, mísseis que podem percorrer 12 mil km em menos de 10 minutos, satélites que dão 
informações detalhadas sobre aspectos do planeta, engenharia genética que aprimora plantas e animais, 
etc.), e de uma situação crônica de miséria e subnutrição em escala nunca vista anteriormente pela 
humanidade, por outro lado. 
A concepção moderna de natureza- e de conhecimento científico, que se enleia com essa ideia 
instrumental de natureza- dessa forma, representou uma ruptura com noções anteriores: com o 
antropocentrismo antigo, com o pensamento mágico, com a natureza organizada e hominizada. A 
metáfora com a máquina industrial passou a imperar as partes são vistas separadamente, de forma 
analítica, o que importa é a funcionalidade de cada uma delas em relação ao maquinismo geral. Em outras 
palavras: 
A natureza desqualificada torna-se a matéria caótica para uma simples classificação, e o eu todo 
poderoso torna-se o mero ter, a identidade abstrata (...) O homem da ciência conhece as coisas na medida 
em que pode fazê-las. E assim que o seu em - si torna-se para - ele. Nessa metamorfose, a essência das 
coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato da dominação. Essa identidade constitui a 
unidade da natureza (...) O animismo havia dotado a coisa de uma alma, o industrialismo coisifica as 
almas." (Adorno e Horkheimer, 1985). 
Esse coisificar as almas, cabe notar, possui um significado pro- fundo: conhecer na perspectiva do 
objetivismo significa apartar-se enquanto sujeito (Razão). O critério para a cientificidade do saber é a sua 
eficácia, sua instrumentalidade para prever/reproduzir/dominar o real. A noção de objetividade, portanto, 
vincula-se à ideia de poder: conhecer é exercer um poder, é estabelecer as leis do objeto que, como tal, 
é oposto ao sujeito e "morto" no sentido de não dotado de "vida", de espírito próprio, de vontade e 
consciência. O escopo do saber passa a ser a manipulação do objeto, o seu conhecimento à imagem do 
cavalo de Tróia que penetra "nas linhas inimigas" para, de seu interior, conquistar a vitória sobre esse 
real 
 
A ciência moderna e o homem 
 
A ciência moderna de uma forma geral - e a geografia em particular- sempre teve dificuldades em tratar 
do homem. Por um lado ele é espírito, ser congnoscente, sujeito histórico e do saber, dotado de arbítrio, 
de livre vontade; e por outro lado ele é organismo biológico, ser natural submetido a "leis" físico-
químicas... Sempre houve, desde o advento do objetivismo e do pragmatismo no pensamento ocidental, 
uma dicotomia no homem: espírito e matéria, alma e corpo, sujeito (mente, inteligência) e objeto (corpo, 
organismo). 
Sabemos que o desenvolvimento do capitalismo operou uma mudança de valores, de ideologia, afinal, 
a crença no trabalho exaustivo e redentor (revalorização do trabalho, desprestigiado na Antiguidade e 
mesmo na Idade Média ocidentais), a correlata condenação do ócio, o enaltecimento do progresso, o 
individualismo possessivo (a ideia de propriedade definindo os direitos humanos), e a nova percepção 
não apenas da natureza mas, em seu interior, também do tempo (que passa a se "gastar'' e não mais ser 
vivido, que passa de valor de uso para valor de troca, sendo ipso facto matematizado) e do espaço (que 
se torna funcional, geometrizado, lócus da divisão de trabalho a nível territorial). Mas paralela e 
complementarmente a essa transformação nas mentalidades, houve igualmente um adestramento do 
corpo, uma fabricação de corpos dóceis, nos dizeres de Foucault (1977, 1979). Especialmente no século 
XVIII ocorreu a "descoberta" do corpo como objeto e alvo do poder. O corpo que se manipula, se modela, 
se treina, obedece, responde, se torna hábil. É a ideia do homem-máquina, que tem seu protótipo inicial 
(e fundante) na instituiçãomilitar, tão importante para o desenvolvimento (e os rumos) da sociedade 
moderna ou capitalista: 
Houve, durante a época clássica, a descoberta do corpo (...) em qualquer sociedade o corpo está preso 
no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Muitas 
coisas entretanto são novas nessas técnicas [do final do século XVIII em diante]. A escala, em primeiro 
lugar, do controle: não se trata de cuidar do corpo, em massa, grosso modo, como se fosse uma unidade 
indissociável mas de trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-
lo ao nível mesmo da mecânica (...) O objeto, em seguida, do controle: não, ou não mais, os elementos 
significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos, 
sua organização interna (...) A disciplina fabrica assim corpos submissos e dóceis. A disciplina aumenta 
as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos 
políticos de obediência). 
O próprio corpo humano, nesses termos, acaba por expressar e subsumir a oposição moderna de 
Razão (ou saber científico) versus natureza (ou objeto inerte, a ser instrumentalizado). É por isso que as 
diferenças que existem entre percepções alternativas de natureza, por exemplo: entre a nossa, ocidental 
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e moderna, com o pensamento tradicional chinês do taoísmo, confucionismo e budismo; ou com relação 
à sociedade indígena caiapó, passam também por diferenciadas leituras do corpo, das doenças, das 
ideias de saúde, vida e morte. A medicina tradicional chinesa, fundamentada numa ideia de organismo 
com a busca da harmonia entre o Yin e o Yang, possui técnicas e for- mas de encarar as doenças que 
são bastante diferentes da ocidental e alopática (cf. Capra, s/d). E também a percepção que os indígenas 
em geral possuem tanto sobre uma natureza integrada à vida humana (cf. Posey e Anderson, 1987), 
como uma noção de saúde, doença e morte onde o ser humano faz parte de uma natureza animista na 
qual um tempo mágico e cíclico integra o sentido da vida de cada um e da possível cura dos males por 
ervas acompanhadas de rituais destinados a convocar ou exorcizar espíritos (cf. Lévi-Strauss, 1976). 
Um importante pensador da modernidade (e, num certo sentido, também seu crítico) percebeu com 
muita acuidade esse paralelo entre natureza bruta ou "virgem", de um lado, inspirando (por conter odes- 
conhecido) medo e hostilidade, além de um certo fascínio, e humanizada ou organizada (ou dominada) 
de outro lado, inspirando - por ser conhecida e (ré) produzida pela ação humana - confiança e senso de 
poder e de segurança e consciência ou mente humana, interligada evidentemente ao corpo como um 
todo. 
Sigmund Freud assinalou que: a criação do domínio mental da fantasia encontra um paralelo no 
estabelecimento de reservas ou parques naturais em lugares onde as exigências da agricultura, das 
comunicações e da indústria ameaçam ocasionar mudanças na face original da terra que logo a tornarão 
irreconhecível. Uma reserva natural conserva o estado original que em todas as outras partes foi, para 
nosso pesar, sacrificado à necessidade. Todas as coisas, incluindo o que é inútil ou mesmo nocivo, nela 
podem crescer e proliferar livremente. 
A industrialização da natureza muda o seu estado original, toma o espaço geográfico um todo cada 
vez mais homogêneo, interligado de ponta a ponta, sem "mistérios" ou elementos desconhecidos, sem 
"perigos" advindos do medo frente ao não conhecido, ao não dominado e subjugado. Mas o fascínio pelo 
"selvagem" permanece, pois ele é não só externo a nós mas parte mesmo de nosso ser (como assinalou 
Freud a propósito do inconsciente ou do id). Assim como a modernidade (ré) produz, a natureza, no 
sentido industrial do termo ela igualmente fabrica os corpos humanos e até as mentes. Daí a ênfase de 
Freud na sublimação, na repressão e no superego como "guardião" das normas sociais interiorizadas. 
Assim como a necessidade de "reservas naturais" se coloca como uma forma de evitar e atenuar a 
massificação e industrialização da natureza, como forma de permitir e incentivar (mas dentro de certos 
limites) a existência das "coisas inúteis" ou "nocivas", também a busca da fantasia e os próprios sonhos 
seriam formas individuais de atenuar o predomínio do social, do artificial (que Freud de- fendia, diga-se 
de passagem) frente ao "espontâneo" ou "selvagem" do inconsciente, que deve igualmente ter o seu 
lugar. 
 
Movimentos alternativos 
 
Iremos agora nos ocupar dos movimentos alternativos da natureza ecológica ou ambientalista, 
nascidos a partir das preocupações com a degradação da natureza e suas leituras e perspectivas. 
O historiador Keith Thomas (1988) registra que essa preocupação, "ecológica" ou conservacionista 
existe no mundo ocidental e capitalista pelo menos desde o século XVIII, tendo surgido na Inglaterra 
justamente porque esse país foi pioneiro na industrialização e na degradação ambiental que a 
acompanha. Nesse mesmo século os ingleses se orgulhavam de ser o único país europeu a não ter mais 
preocupações com os lobos, exterminados pelos caçadores. Paralelamente, porém, à extinção não só do 
lobo mas também de inúmeras espécies vegetais e animais, crescia nos centros urbanos - especialmente 
em Londres - a preocupação com a poluição crescente. Assinala esse autor que desde o século XIII 
existem estatutos, editos e leis de caça destinados a proteger, por uma certa estação, animais como os 
cervos, gamos, lontras, lebres, falcões, etc., durante o período de sua procriação, sendo que o próprio 
termo conservation surgiu - no final da Idade Média -para designar os "guardiães" (especialmente o 
prefeito e os vereadores de Londres) do rio Tâmisa, que já naquele momento conhecia uma poluição e 
um progressivo desaparecimento de sua fauna ictiológica. Mas a multiplicação dessas leis, dos reclamos 
populares e da imprensa pela questão ambiental, tem seu momento decisivo no final do século XVIII, 
justamente o momento em que a Revolução Industrial inglesa se inicia em grande escala. 
Todavia, foi somente no nosso século- após a Segunda Guerra Mundial - que a denominada 
"consciência ecológica" alcança a sua plenitude. Isso porque a humanidade percebeu, nesse momento, 
que pode se autodestruir, que pode afetar seriamente a biosfera e exterminar não somente inúmeras 
espécies animais e vegetais (como o século XVIII já começara a perceber) mas também a própria vida 
humana, a espécie humana como um todo. A "consciência" ou "crise" ecológica é, assim, contemporânea 
da era nuclear, do crescimento dos complexos industriais-militares e da corrida armamentista, da difusão 
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da produção industrial a quase que todos os países do globo através das multinacionais, da nova divisão 
internacional do trabalho que reloca na “periferia” do capitalismo internacional certa indústrias que antes 
eram explosivas dos “centros”. As décadas de 1960 e, principalmente, 1970, forma importantíssimas para 
esse crescimento conservacionista em todo o mundo. 
 
Diversidade de atuação e organização 
 
As diversidades de formas de atuação e organização nos movimentos ecológicos são notórias. Existem 
as "comunidades alternativas" isoladas, normalmente vivendo no campo, numa propriedade específica 
onde os indivíduos tentam implementar um outro modo de vida, uma tecnologia doce ou alternativa 
(biogás, agricultura ecológica, educação informal e diferente da escola oficial, artesanato, alimentação 
naturalista ou vegetariana, piscicultura, aquecimento de água por energia solar, ausência de plásticos e 
detergentes não biodegradáveis, medicina alternativa com ervas, produtos alimentícios naturais, etc.).

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