Buscar

prova testemunhal no processo penal

Prévia do material em texto

PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PENAL
	A prova testemunhal começou a ser utilizada na Grécia antiga, passando por todas as fases do Direito Romano e, nos tempos atuais, consiste em uma ferramenta muito utilizada e de importância vital ao processo penal, sendo a mesma um dos meios probatórios mais acessíveis no processo judiciário. Fortemente utilizada para suprir a falta de indícios materiais, nos casos em que há acusação por crimes que não deixam resquícios, sejam por sua natureza ou condição e ainda nos crimes contra a dignidade sexual, a prova testemunhal visa apurar, com maior grau de certeza, a autoria e materialidade delitiva.
	Para ser uma testemunha é necessário que a pessoa tenha presenciado os fatos e a mesma não poderá ter interesse no processo. O testemunho é dado oralmente perante o juiz, e a pessoa declarará os fatos presenciados com o compromisso de dizer a verdade, caso contrário poderá ser processada, por mentir em juízo, pelo crime de falso testemunho. As declarações prestadas em juízo, formarão a convicção do magistrado.
 Conforme disposto no art. 210 do CPP, as testemunhas serão ouvidas individualmente, pois serão reservados espaços separados de modo que umas não saibam e nem ouçam o depoimento das outras, a fim de garantir a incomunicabilidade das testemunhas. Os depoimentos são reduzidos a termo. Primeiramente o juiz faz as perguntas, posteriormente a acusação e pôr fim a defesa, sendo que tal ordem não pode ser alterada. 
 Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.
 A luz do art. 214 do CPP, o advogado poderá após a qualificação da testemunha, contradita-la imediatamente antes da mesma se manifestar, por suspeita de parcialidade ou por ser indigna de fé. Caso contrário precluirá.
 
 Um aspecto importante de ressaltar é que a doutrina aplica diferentes tipos de classificações para os tipos de testemunhas. Contudo, sobrepõe o entendimento majoritário vigorando a seguinte classificação:
 Testemunha direta: aquela que presenciou o fato. Este tipo de testemunha é a ideal para a investigação policial, pois apresenta maior possibilidade de ser útil ao processo; 
  Testemunha indireta: aquela que possui informações a respeito do fato por intermédio de terceiros. Ela não esteve presente no momento e local do fato, no entanto alguém lhe transmitiu alguma informação relevante ao processo;
  Informantes: são as pessoas que são ouvidas, mas que não prestaram compromisso.
 Referidas: aquelas que não constam no rol de testemunhas elencado pelas partes, entretanto foram mencionadas por outra testemunha já ouvida e podem trazer elementos sobre o fato.
  Própria: é a testemunha que depõe sobre o objeto do litígio.
 Imprópria: é aquela que presta depoimento sobre um ato do processo.
 Ademais, a sanção na esfera do processo penal se mostra intensa e gravosa, devendo haver cautela quando da decisão do magistrado que proferi-la a fim de se evitar prejuízos aos envolvidos. Fato é que, não poderia o nosso ordenamento jurídico deixar impune um crime que fora cometido, mesmo sendo impossível a realização de provas técnicas. A prova testemunhal busca a efetivação da prestação jurisdicional. Os diferentes meios probantes (prova pericial, prova documental, por ex.) admitidos no processo penal, não possuem hierarquia, não havendo restrições para prolação de sentença com base na prova testemunhal, desde que proferida de forma fundamentada pelo magistrado, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, transcrito abaixo:
STJ - HABEAS CORPUS HC 96665 ES 2007/0297488-1 (STJ)
Data de publicação: 13/10/2009
Ementa: HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. EMPREGO DE CHAVE FALSA. AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL. CONDENAÇÃO COM BASE NA PROVA TESTEMUNHAL. LIVRE CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. De acordo com o sistema de valoração de provas instituído no processo penal brasileiro, o magistrado é livre para formar o seu convencimento acerca dos fatos submetidos à persecução penal, desde que devidamente fundamentado com arrimo no conjunto probatório produzido nos autos. 2. Não se podendo falar, portanto, em hierarquia de provas, não há ilegalidade na condenação do paciente pelo crime de tentativa de furto qualificado em razão do emprego de chave falsa, com base apenas nos depoimentos colhidos no âmbito do devido processo legal. PROVA PERICIAL. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO. VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO ARTIGO 158 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL . INOCORRÊNCIA. CRIME QUE NÃO DEIXA VESTÍGIOS. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A produção da prova pericial reclama a necessidade de elucidar fatos que demandam conhecimentos específicos em determinada área do conhecimento, excepcionalidade não encontrada na hipótese, já que a utilização da chave falsa foi confirmada pelas testemunhas ouvidas em juízo. 2. Ademais, como a figura delitiva em apreço não deixa vestígios, inexiste a obrigação de se proceder ao exame de corpo de delito previsto no artigo 158 do Código de Processo Penal . Precedente do STF. CORRUPÇÃO ATIVA. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT. ÉDITO CONDENATÓRIO FUNDAMENTADO COM BASE NO DEPOIMENTO DE POLICIAIS MILITARES. MEIO DE PROVA IDÔNEO. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO DEMONSTRADA. ORDEM DENEGADA. 1. A alegada inocência do paciente, a ensejar a pretendida absolvição, é questão que demanda aprofundada análise de provas, o que é vedado na via estreita do remédio constitucional, que possui rito célere e cognição sumária.
	O valor da prova testemunhal é controverso entre os doutrinadores, sendo sustentado, por uns, a fragilidade do testemunho, vez que a memória humana subjetiva as imagens percebidas e, ainda, é passível de contaminação. Vejamos o posicionamento de Magalhães Noronha, transcrito in verbis:
“É dos mais discutidos o valor do testemunho humano, sabido que nossos sentidos frequentemente nos iludem. Influem ainda diversamente a capacidade de observação e a memória, já não se falando na mendacidade que frequentemente vicia o depoimento. Como quer que seja, máxime no processo penal, é ela a prova por excelência. O crime é um fato, é um trecho da vida e, consequentemente, é, em regra, percebido por outrem... Falível que é o testemunho, sujeitos a vícios que o deturpam, deve merecer toda cautela do juiz, não apenas quanto ao conteúdo, mas também quanto à idoneidade de quem o presta, o modo por que o faz[1].”
	Diante disso, é essencial que o magistrado exerça sua tarefa de julgador tomando as devidas cautelas para interpretar e valorar um depoimento, conferindo a credibilidade da prova testemunhal, crendo tratar-se de uma narração verdadeira ou falsa, enfim, analisando-o com precisão este jogo de comparações e confrontos.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes