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Relatório de Iniciação Científica n. 2 (processo 02/03893-1) 
Tatiana de Souza Fonseca 
Orientadora: Heloisa Helena T. de Souza Martins
Cooperativismo e Participação Democrática: uma análise comparativa das perspectivas dos sócio-trabalhadores da Uniwídia e do 
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Julho/2003
ÍNDICE
	Resumo
	01
	Agradecimentos
	01
	1. Introdução
	02
	- Discussão sobre a metodologia
	07
	2. Democracia, participação e autonomia
	09
	3. Sindicalismo e Cooperativismo 
	17
	3.1 Dois momentos no Novo Sindicalismo
	17
	3.2 O Velho e o Novo Sindicalismo: ruptura e continuidade
	19
	3.3 O Novo Sindicalismo dos anos 90
	32
	4. Entre a ideologia e a utopia
	42
	5. Cooperativismo
	57
	5.1 Alguns dilemas do cooperativismo e da Uniwídia
	57
	5.1.1 Relação capital x trabalho e ruptura com o capitalismo
	57
	5.1.2 Quando a cooperativa enriquece
	69
	5.1.3 Responsabilidade e autonomia
	72
	5.1.4 Cooperativismo como reação ao desemprego
	73
	5.1.5 Sentimento de pertencimento ao grupo
	74
	5.1.6 Disputa pelos rendimentos
	77
	5.1.7 Questão da compra da Uniwídia
	79
	5.1.8 O que os trabalhadores não querem falar para não gerar briga
	81
	5.2 Resultado do perfil e das entrevistas
	85
	5.2.1 Análise da pesquisa sobre o perfil dos trabalhadores da Uniwídia 
	85
	5.2.2 Comentários sobre os resultados das entrevistas com os sócio-trabalhadores da Uniwídia
	97
	6. Análise comparativa: duas perspectivas sobre o cooperativismo – representantes e representados
	104
	7. Bibliografia
	114
	Anexo I – Questionário de Perfil dos Sócio-trabalhadores da Uniwídia 
	
	Anexo II - Questionário de Perfil dos Sócio-trabalhadores da Uniwídia (Conselho Administrativo)
	
RESUMO 
Este estudo procurou analisar as perspectivas dos sócio-trabalhadores da cooperativa Uniwídia quanto aos valores de democracia e participação ligados aos princípios do cooperativismo, tendo como objetivo principal fazer uma análise comparativa dessas perspectivas com as do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que se coloca em posição de agente organizador dos trabalhadores para a proposição de alternativas de geração de trabalho e renda, assim como para desenvolver a idéia de autogestão democrática e solidariedade no ambiente de trabalho e fora dele, especificamente, na esfera social, familiar e política.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a colaboração de todos os sócio-trabalhadores da cooperativa Uniwídia, que foram muito generosos em sua atenção e simpatia. Ao Aziel, que permitiu que eu estudasse essa cooperativa. À Solange e à Lourdes, que sempre me recebiam com tanto carinho. Aos que me deram carona. A todos que dispuseram de seu tempo de trabalho para me guiar pela fábrica, para me dar entrevistas e responder aos questionários. 
Ao Tadashi, por me indicar a Uniwídia, por fornecer material, dicas e sua amizade. Ao pessoal da Unisol, sempre muito atencioso comigo. Ao Tarcísio, pela sua atenção e entrevista valiosa. Ao Paul Singer, pelo seu entusiasmo e vontade de melhorar o Brasil. À FAPESP, que possibilitou essa pesquisa. 
E finalmente, à Heloísa Martins, que me orientou com muito carinho e dedicação (coisa rara nos professores do nosso sistema de ensino), e que contribuiu com sua sabedoria para me iniciar no mundo da investigação científica.
1. Introdução
Um dos grandes problemas que abalam nossa sociedade na época em que vivemos está estreitamente ligado com o desenvolvimento do sistema de produção capitalista. As contradições desse sistema, aliadas às concepções políticas neoliberais do final do século XX, contribuíram para uma crise nas relações de trabalho que vem sendo tema de diversos estudos em todo mundo. 
Buscar alternativas de geração de renda em meio ao desemprego crescente envolve muito mais do que vontade política ou competência dos agentes organizadores desse projeto. Envolve uma estrutura cultural relativamente rígida criada pelo capitalismo, que não poderá ser substituída sem grandes esforços. A Economia Solidária e o cooperativismo fazem parte desse esforço, no sentido de almejar e trabalhar por mudanças na sociedade a partir de práticas mais solidárias, na esfera cultural, social e no ambiente de trabalho. 
Este estudo teve como objetivo verificar os problemas relacionados a essas mudanças quando se dão no ambiente de trabalho, especificamente em uma cooperativa de produção formada a partir da falência de uma empresa capitalista, quando uma gestão tradicional-capitalista, centralizada nas mãos de uma ou de poucas pessoas detentoras do capital, é substituída por uma gestão coletiva dos trabalhadores, que se pretende mais democrática e participativa. 
Durante todo o estudo enfrentamos o dilema de lidar com duas racionalidades diferentes – o da Economia Solidária e o da Economia Capitalista. 
Dentro da economia capitalista nos moldes atuais de globalização, Dowbor(2002) apresenta um quadro da situação do trabalho no Brasil, trazendo uma perspectiva de muitas dúvidas, inseguranças e estatísticas desanimadoras como, por exemplo, o fato de o Brasil ter aproximadamente 170 milhões de habitantes, dos quais 72 milhões efetivamente empregados e, desses, 40% com baixíssima escolaridade. 
O autor avalia que as transformações geradas pelos avanços tecnológicos dos últimos tempos não serviram para garantir menor esforço do homem em relação ao trabalho, e sim para gerar a angústia do desemprego e a concentração de renda, e que por causa da rapidez dessas transformações, é “relativamente frágil a dinâmica de reorganização de políticas nos sindicatos, nas áreas de pesquisa, na legislação e nos partidos políticos”(idem:39).
Diante disso, é interessante avaliar essa fragilidade, talvez pela incapacidade de acompanhar tais mudanças, ou mesmo, pela possibilidade de que estejam no caminho errado. É a partir da análise da prática dos projetos empreendidos pelas organizações que fomentam mudanças nas relações capital/trabalho que se pode traçar um panorama do que vem sendo chamado de “alternativa ao desemprego”. 
A tendência de terceirizar a produção e livrar-se de seus riscos fez com que muitas falsas cooperativas surgissem. E não pode ser essa a “alternativa ao desemprego”, quando, ameaçados de perderem o emprego, muitos funcionários aceitam perder os vínculos empregatícios e formar uma cooperativa de “autônomos” inserindo-se em um processo de terceirização disfarçada.
“Os caminhos que temos pela frente envolvem indiscutivelmente uma transformação profunda das relações de trabalho em geral. O motor dessa transformação é, também sem dúvida, a tecnologia, que avança rapidamente. Mas os mecanismos reguladores da transformação, ou os novos pactos sociais que devem emergir, ainda engatinham. O descompasso gerado leva ao caos que enfrentamos.” (idem:70).
Dowbor propõe a descentralização das políticas sociais para que as pessoas possam participar ativamente dos projetos de sua região. Levar a comunidade a se interessar pela gestão das escolas, por exemplo, seria capitalizar seu interesse para a racionalização da gestão de sua própria comunidade, incentivando a gestão social. Para tanto, deve-se investir na criação de sistemas de informação, gerar transparência pelo uso dos meios de comunicação local, construindo cidadania através de uma cultura política. 
Mais uma vez a questão da cidadania e da cultura política coloca-se nas perspectivas para a melhoria da sociedade que se encontra reprimida pelas crises econômicas e sociais. 
“No geral, entendemos que defender trincheiras de direitos adquiridos mostra-se, sem dúvida, importante. No entanto, entendemos também que o essencial da luta por uma sociedade mais decente será cada vez menos manter o emprego e cada vez mais transformar o trabalho”. (Dowbor, 2002:106).
E é esse o ponto fundamental que os ideólogos do cooperativismo ressaltam, não só a preocupação com as relaçõeseconômicas, mas também a transformação nas relações sociais e emancipação política dos trabalhadores como forma de participarem da constituição de seus próprios direitos.
A força desse movimento se fez sentir a partir da crise dos anos 70. Sindicatos tiveram que agir propondo novas alternativas ao desemprego para não perderem sua base social. Surge um “novo cooperativismo” que volta aos princípios, valorizando a democracia e a igualdade e visando a autogestão dos trabalhadores. Segundo Singer, a economia solidária foi “reinventada” e fica difícil projetar tendências claras para um movimento tão recente. Contudo seus objetivos estão ligados à melhoria de vida dos trabalhadores e suas famílias, tanto economicamente como no relacionamento com a comunidade. Zaperlon(2002) fala de um “novo socialismo utópico”, construído a partir das noções de parceria, consenso e esfera pública, em que a possibilidade de transformação é pensada sem revoluções políticas e sem transição. Essas idéias estão ganhando prestígio em grande parte da esquerda do Brasil e do mundo. Segundo Zaperlon, Paul Singer e Alain Bihr são alguns dos maiores representantes desse novo socialismo utópico. Para essa autora, o sindicalismo adota perspectivas nesse sentido aproximando-se da economia solidária e do cooperativismo. Algumas das experiências que marcam a atuação da CUT no final dos anos 90 são: 
“Dentro das iniciativas da CUT nesse campo (economia solidária) estão a criação da ADS (Agência de Desenvolvimento Solidário), da Unisol cooperativas (União e Solidariedade das Cooperativas do Estado de São Paulo), ligada ao sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do LDSS (Laboratório de Desenvolvimento Sustentável e Solidário), ligado ao Projeto Integrar da CNM – projeto que promove a inserção dos metalúrgicos na área da qualificação profissional.”(idem: 229)
Em entrevista com Tarcísio Secoli, Secretário Geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e membro da diretoria da Unisol Cooperativas, desde 1997 o sindicato vem discutindo sobre as cooperativas de produção desde quando o presidente Lula, então presidente do Partido dos Trabalhadores, voltou de uma viagem à Itália trazendo boas impressões de experiências de cooperativismo.
“Ele andou vendo uma série de experiências lá e numa dessas era um encontro com cooperativas italianas. Na volta ele veio muito empolgado, daí ele falou com a gente, principalmente com o Marinho, que o sindicato deveria se aprofundar nisso porque não dava para ver as empresas fechando e não tem alternativa para os trabalhadores.”
A partir dessas primeiras conversas o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC mandou técnicos para a estudar a legislação e a metodologia de trabalho nas cooperativas, no norte da Itália e na região da Catalunha, Espanha, onde há uma federação de empresas auto-geridas. 
“Com isso aconteceu o caso da Uniforja, começamos a constituição de cooperativas, havia resistência dos trabalhadores que sobraram na empresa. Um grupo resolveu montar uma das cooperativas, e a partir daí a empresa quebrou com 600 trabalhadores, e 300 resolveram montar as outras cooperativas e o processo foi tocado.” 
Além da Uniforja, o sindicato também tem um trabalho parecido na Uniwídia, objeto deste estudo. 
“Outra empresa importante é a Cervin, que hoje é a Uniwídia, onde houve toda uma situação diferente, uma dificuldade maior por causa dos problemas jurídicos. Aqui o sindicato participou bastante, principalmente com pressão sobre o governo do Estado para viabilizar a inscrição estadual para o pessoal poder lidar com seus fornecedores.”
Esse trabalho que o sindicato faz junto às cooperativas faz parte de uma estratégia de ação que criada nos anos 90 denominada como “sindicato cidadão”. 
“No congresso de 1990 nós chegamos à conclusão de que não poderíamos ter o sindicato do não. Tudo que existia nós éramos contra, porque era ruim mesmo, nós éramos contra aquilo lá. Só que não adiantava ficar falando contra e começar a perder espaço na sociedade.” 
Segundo a OCB (Organização de Cooperativas do Brasil)�, as cooperativas geram hoje no Brasil 171 mil empregos, têm uma participação de 6% no PIB e U$ 1 bilhão em exportações. As expectativas de José Perez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é de que as cooperativas de produção poderão vir a representar cerca de 30% da economia brasileira, como já acontece na Itália e na Espanha.�
A cooperativa que estudamos aqui é uma das pioneiras a contribuir para essa expectativa do presidente do sindicato. 
A Uniwídia Cooperativa Industrial de Trabalhadores em Ferramentas de Metal Duro nasceu da falência da empresa Cervin Indústria e comércio Ltda., fundada pelo empresário alemão Josef Hellbruegg. Inicialmente operava na Vila Prudente, mas em 1975 transferiu-se para Mauá. Na década de 80 era líder no setor de wídia, faturava cerca de U$ 1 milhão / mês. Mas na década de 90 começaram as dificuldades devido à abertura comercial promovida por Collor, que não conseguiram ser sanadas pelos administradores. Começaram as demissões, o não recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e o não pagamento do 13º salário e outros direitos. 
A partir desse momento a empresa iria passar por uma série de tentativas mal sucedidas de administração ou mesmo de venda. Um grupo de advogados tentou administrar a empresa, eles aterrissaram com um helicóptero no pátio central, e tentaram tocar a Cervin durante o ano de 1998, mas descontentes e suspeitando desses novos administradores, os trabalhadores ocuparam o prédio da administração, expulsaram essas pessoas e exigiram uma solução satisfatória dos proprietários da Cervin. 
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tomou a frente e sugeriu que os trabalhadores constituíssem uma cooperativa. Apenas 45 pessoas levaram o projeto adiante, inicialmente em um processo de co-gestão com os administradores, mas não deu certo. Até que depois de muita luta e com o sindicato como fiador, os trabalhadores conseguiram o arrendamento da Cervin e assumiram também a administração. Começa a luta para legalizar a cooperativa. 
De início não conseguiram a Inscrição Estadual junto à Secretaria da Fazenda. Em 07/01/2000 a Uniwídia foi lacrada, apesar do protesto dos trabalhadores e sindicalistas. 
A cooperativa passou 55 dias fechada, segundo os cooperados, por “insensibilidade” da Juíza que cuidou do caso. A intervenção do departamento jurídico do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC fez com que o recurso, que havia sido negado em primeira instância, fosse aceito no Supremo Tribunal Regional de São Paulo e, com a ajuda do então governador Mário Covas, a Inscrição Estadual foi cedida.
Passado esse primeiro momento de luta, vitoriosa graças à união desses trabalhadores e à ajuda do sindicato, os sócio-trabalhadores começariam a experimentar no seu dia-a-dia dilemas que até então não lhe diziam respeito, como preocupação com as contas da empresa, investimento, vendas, cotação do dólar etc. É nessa passagem de funcionário para sócio-trabalhador que essas pessoas começaram a experimentar mudanças dentro e fora das costumeiras relações de trabalho.
Para Henrique Parra, essa passagem enseja mudança de status, pois esses trabalhadores deixam de ser empregados para serem autônomos. 
“Enquanto tais,espera-se que eles sejam os responsáveis pela gestão e pelas condições de realização do próprio trabalho, em oposição à situação de empregados assalariados, onde a legislação trabalhista reconhecia uma desigualdade fundamental entre o trabalhador (que vende sua força de trabalho) e o tomador de serviço (o empregador).
Tal modificação não é apenas formal, ela também possui contornos políticos que podem indicar uma profunda transformação em andamento no sistema de regulação público-estatal das relações de trabalho.”(2002:105)
São as questões sobre a participação desses sócio-trabalhadores nesse processo de democratização das relações de trabalho dentro da cooperativa, sob a perspectiva dos próprios cooperados e de seus agentes organizadores, que pretendo analisar neste trabalho. 
- Discussão sobre a metodologia
Quando pensei em fazer uma análise comparativa entre as perspectivas de um grupo de representantes e outro de representados pensei se realmente conseguiria captar tais “perspectivas”, pois essa tarefa não se refere àquilo que a pessoa diz que quer, mas a algo mais sutil, uma percepção de seu comportamento, de sua fala, de sua relação com os outros. 
A subjetividade que acompanha esse processo demonstra a individualidade que diferencia cada trabalhador interagindo com sua experiência em uma coletividade. 
Mas qual o papel do investigador no processo? É distinguir aquilo que eles dizem do que fazem realmente? Isso me parece muito difícil. O máximo que poderia fazer seria ouvir suas interpretações e construir a minha. 
Lembro-me das aulas sobre Geertz, quando a professora dizia: “o etnógrafo explica explicações através da interpretação de interpretações”. 
Para Clifford Geertz “toda a descrição já contém em si análise, na seleção dos temas, dos pontos de vista e na forma de apresentá-los. A escrita etnográfica parte da longa observação, do contato com a alteridade e constrói representações para caracterizar o modo de vida objetivado.” (Ferraz, 1999)
Essa questão representou uma grande dificuldade em minha pesquisa. Como estudar o “ponto de vista”, as perspectivas do outro? Conseguimos realmente captar esse ponto de vista ou nos limitamos a nossa interpretação sobre ele? 
Geertz trabalha com o que chamou “interpretativismo”, ou interpretação das culturas. Para ele, “o que chamamos de nossos dados são realmente nossa própria construção das construções de outras pessoas, do que elas e seus compatriotas se propõem – está obscurecido, pois a maior parte do que precisamos para compreender um acontecimento particular, um ritual, um costume, uma idéia, ou o que quer que seja está insinuado como informação de fundo antes da coisa em si mesma ser examinada diretamente”(1989:19). 
Sob essa perspectiva, podemos perceber que é comum que os cooperados repitam frases construídas pelos cursos de formação, pelos agentes organizadores e pelo “senso comum”. É muito difícil saber se eles refletiram sobre o que estão respondendo ou é mais conveniente responder assim. De outra forma, a literatura sobre o assunto apresenta vários problemas de precisão, explicitando dados, às vezes, de terceira ou quarta mão de outras obras.
Todavia, para essa pesquisa utilizei também questionários, entrevistas e conversas informais. Por meio de um questionário, com a maioria das perguntas abertas, recolhi informações acerca do perfil dos sócio-trabalhadores da Uniwídia. Escolhi fazer perguntas abertas com o objetivo de dar mais liberdade de resposta, para então avaliar os diferentes tipos de opiniões e montar uma amostragem para realização das entrevistas. 
Tive alguma dificuldade para recolher os questionários, como veremos mais adiante, muitas pessoas esqueciam de responder ou o perdia. Por outro lado, cheguei a pensar que deveria ter feito um questionário de perfil mais fechado, contudo correria o risco de limitar as respostas e não atingir o objetivo de identificar as pessoas para a entrevista. 
Após a análise das respostas, pude identificar cinco pessoas que tinham diferentes opiniões ou cuja resposta chamaram atenção por algum motivo específico. Após escolher sete questões abrangentes fiz as entrevistas, que considerei mais produtivas por permitirem maior interação com os cooperados para tirar as dúvidas mediante a resposta dada e aprofundar-me nos temas. 
Quanto ao sindicato, a intenção era fazer duas ou três entrevistas com os dirigentes, especificamente o Tarcísio, Secretário Geral, o Feijóo, Presidente do sindicato, e o Marinho, Presidente da CUT. Mas devido a questões internas do sindicato, não houve tempo para isso, sendo que entrevistei apenas o Tarcísio, mas procurei opiniões dos demais dirigentes através de jornais e literatura do sindicato. 
Outro problema encontrado na literatura sobre cooperativismo foi a questão da isenção dos autores. Muitas pessoas que escreveram sobre o assunto estão diretamente ligadas à confecção desse projeto como uma utopia. Singer é um bom exemplo. Outros estão envolvidos de alguma forma, como, por exemplo, participando das incubadoras de cooperativa ou do sindicato. Foi difícil encontrar autores que polemizassem diretamente com o tema, muitos fazem suas críticas à viabilidade do projeto em meio ao sistema capitalista, mas há raros casos de análise crítica do cooperativismo, talvez pela incipiência dessas experiências com esse novo tipo de cooperativismo. 
Não obstante, conseguir ficar isento com relação às influências ideológicas contidas nesse tema é uma tarefa do pesquisador. O movimento é de esperança e de solidariedade, todos estamos torcendo para que as experiências tenham sucesso, para que o novo governo ajude, para que as cooperativas avancem em seus ideais políticos e sociais e não apenas econômicos. 
Todavia, devemos tomar ciência da importância política que teve esse projeto de economia solidária e cooperativismo em um momento em que está na moda falar de cidadania e solidariedade. Dos resultados nas urnas que os partidos que defenderam as cooperativas obtiveram. E principalmente, das diversas ramificações que a doutrina dos socialistas utópicos criou em nossos dias, que vão desde a transformação da sociedade sem revolução, até as transformações de empresas capitalistas em cooperativas para diminuir os encargos trabalhistas. 
2. Democracia, participação e autonomia�
Na introdução de Santos (2002) temos uma interessante síntese sobre a história da democracia em que o autor passa pelos mais importantes pensadores desse tema. 
Ele diz que até o século XIX, a democracia era tida como idéia perigosa por demandar poder de governo às massas. No século XX abre-se o debate sobre a desejabilidade ou não da democracia como forma de governo, que começa a firmar-se após as duas grandes guerras mundiais, porém de forma a restringir a participação ampliada e tornar hegemônica a representatividade (procedimento eleitoral para a formação de governos). Inicia-se o debate acerca das condições estruturais da democracia, também abrangendo a compatibilidade ou não entre democracia e capitalismo. 
Esse debate é ampliado proporcionando o surgimento da questão acerca da forma da democracia e da sua variação. Vários autores envolveram-se com esse tema. Segundo Santos, essa questão recebeu a sua resposta mais influente na solução elitista proposta por Joseph Schumpeter de acordo com a qual o problema da construção democrática em geral deveria ser derivado dos problemas enfrentados na construção da democracia na Europa no período entre guerras. A partir dessa resposta funda-se o que poderíamos chamar de concepção hegemônica da democracia. 
“Os principais elementos dessa concepção seriam a tão apontada contradição entre mobilização e institucionalização (Huntington, 1968; Germani, 1971); a valorização positiva da apatia política (Downs, 1956), uma idéia muito salientada por Schumpeter, para quem o cidadão comum não tinha capacidade ou interesse político senão para escolher os líderes aos quaiscaberia tomar as decisões (1942:269); a concentração do debate democrático na questão dos desenhos eleitorais das democracias (Lijphart, 1984); o tratamento do pluralismo como forma de incorporação partidária e disputa entre as elites (Dahl, 1956; 1971) e a solução minimalista para o problema da participação pela via da discussão das escalas e da complexidade (Bobbio, 1986; Dahl,1991).” (idem:42) 
No entanto, para Santos, todos esses elementos não englobam uma questão que a “terceira onda de democratização” trouxe à tona, o problema da qualidade da democracia. Para ele “Quanto mais se insiste na fórmula clássica da democracia de baixa intensidade, menos se consegue explicar o paradoxo de a extensão da democracia ter trazido consigo uma enorme degradação das práticas democráticas. Aliás, a expansão global da democracia liberal coincidiu com uma grave crise desta nos países centrais onde mais se tinha consolidado, uma crise que ficou conhecida como a da dupla patologia: a patologia da participação, sobretudo em vista do aumento dramático do abstencionismo; e a patologia da representação, o fato de os cidadãos se considerarem cada vez menos representados por aqueles que elegeram. Ao mesmo tempo, o fim da guerra fria e a intensificação dos processos de globalização implicaram uma reavaliação do problema da homogeneidade da prática democrática”. (ibidem).
É quase senso comum dizer que a representatividade é a única solução possível em democracias de grande escala, segundo Dahl “quanto menor for uma unidade democrática maior será o potencial para a participação cidadã e menor será a necessidade para os cidadãos de delegar as decisões de governo para os seus representantes. Quando maior for a unidade, maior será a capacidade para lidar com problemas relevantes para os cidadãos e maior será a necessidade dos cidadãos de delegar decisões para os seus representantes” (Dahl, 1998:110)
Esse argumento também serve para a cooperativa, segundo alguns autores, como veremos mais adiante, o crescimento da cooperativa pode representar a incapacidade de manter os princípios democráticos e desta forma, possivelmente a cooperativa degenera. 
Santos aponta para o desenvolvimento da democracia participativa em países que não eram democráticos no pós-Segunda Guerra, 
“O processo de globalização suscita uma nova ênfase na democracia local e nas variações da forma democrática no interior do Estado nacional, permitindo a recuperação de tradições participativas em países como o Brasil, a Índia, Moçambique e a África”. (p.42) “A reinvenção da democracia participativa nos países do Sul está intimamente ligada aos recentes processos de democratização pelos quais passaram esses países” (idem:55) 
Todavia, na maioria dos países capitalistas, mesmo tendo aumentado o debate sobre a necessidade de maior participação e do desenvolvimento da cidadania, ainda não se conseguiu ultrapassar o modelo de democracia liberal que responde apenas aos interesses do capital:
“...as sociedades capitalistas, sobretudo nos países centrais, consolidaram uma concepção hegemônica de democracia, a concepção da democracia liberal com a qual procuraram estabilizar a tensão controlada entre democracia e capitalismo. Essa estabilização ocorreu por duas vias: pela prioridade conferida à acumulação de capital em relação à redistribuição social e pela limitação da participação cidadã, tanto individual, quanto coletiva, com o objetivo de não ‘sobrecarregar” demais o regime democrático com demandas sociais que pudessem colocar em perigo a prioridade da acumulação sobre a redistribuição.” (idem:59)
Por outro lado, os movimentos sociais que surgiram ao longo do século XX passaram por vários períodos de abertura e fechamento no processo de participação, reivindicação e até mesmo acomodação. Como veremos mais adiante, o sindicalismo é um bom exemplo disso. 
No livro Introdução à Economia Solidária, Singer descreve a trajetória do movimento operário, desde as lutas por direitos sociais e trabalhistas até a conformação a esses direitos e alienação do trabalhador. Depois da Segunda Guerra Mundial “em vez de lutar contra o assalariamento e procurar uma alternativa emancipatória ao mesmo, o movimento operário passou a defender os direitos conquistados e sua ampliação”. (p.109), os sindicatos tornaram-se os maiores agentes organizadores dessa luta. 
Tal comportamento criou gerações de acomodados ao assalariamento, ratificando uma cultura e um sistema educacional preocupados apenas na formação de trabalhadores para o mercado capitalista, e que dificilmente atêm-se para a formação de cidadãos politicamente participativos, ou mesmo de empreendedores (neste caso, somente nos cursos universitários específicos, geralmente freqüentados pela elite). 
Em resposta à crise dos anos 80 e 90 ressurge o movimento de Economia Solidária, que tem origens históricas no socialismo “utópico”, mas que se encontra reformulado para atender às condições atuais no intento de criar uma ordem econômica mais solidária dentro do sistema capitalista, a partir da construção de uma sociedade mais justa, que proporcione maior participação aos trabalhadores através de seu reconhecimento como cidadãos e protagonistas de ações sociais solidárias. 
“A economia solidária é ou poderá ser mais do que mera resposta à incapacidade do capitalismo de integrar em sua economia todos os membros da sociedade desejosos e necessitados de trabalhar. Ela poderá ser o que em seus primórdios foi concebida para ser: uma alternativa superior ao capitalismo. Superior não em termos econômicos estritos, ou seja, que as empresas solidárias regularmente superariam suas congêneres capitalistas, oferecendo aos mercados produtos ou serviços melhores em termos de preço e/ou qualidade. A economia solidária foi concebida para ser uma alternativa superior por proporcionar às pessoas que a adotam, enquanto produtoras, poupadoras, consumidoras etc., uma vida melhor”(p.114)
Com esses argumentos, Singer pretende demonstrar que o capitalismo não é um estado natural das coisas, seus efeitos sociais, principalmente os causados pela competição sem limites, podem ser mudados a partir do incentivo a uma cultura mais solidária, como por exemplo, com a constituição de cooperativas, onde “ninguém manda em ninguém. E não há competição entre os sócios” (idem:9), pelo contrário, os trabalhadores compartilham dos lucros e dos prejuízos. 
A empresa solidária exige mais engajamento dos seus sócios e proporciona maior autonomia para que eles possam cumprir suas tarefas, lidar com os conflitos internos e manter a cooperativa funcionando. No entanto, o desinteresse dos sócios é um dos fatores de risco para a autogestão democrática�. Segundo Singer, muitos sócios preferem deixar os problemas nas mãos da direção se isentando de suas responsabilidades, e dessa forma, “A prática autogestionária corre o perigo de ser corroída pela lei do menos esforço”. (idem:20).
O processo educativo é muito importante para sanar esses problemas. Para Singer, ninguém é inclinado naturalmente à autogestão ou heterogestão, mas a educação desde os primeiros anos da criança na escola impõe a obediência aos “superiores”, assim como a repressão dentro da própria família beneficia o comportamento alienado. Isso pode ser mudado quando se tem a oportunidade de participar de movimentos emancipatórios que envolve a coletividade, como as greves, ocupações de terra visando à reforma agrária, etc.
Desta maneira, percebemos a relação que o autor quer demonstrar entre o processo de educação e a emancipação política do cidadão. É essa uma das principais discussões do projeto de Economia Solidária, construir uma cultura solidária que envolva os trabalhadores em lutas sociais e políticas, pois foi a partir dessas lutas que se deu a conquista de vários direitos sociais e trabalhistas. 
Nesse sentido, o processoeducacional, tanto formal quanto informal, deveria estar voltado para a formação de cidadãos participativos e para o desenvolvimento da democracia nas relações de produção. O problema é que esses objetivos não condizem com os interesses da sociedade capitalista em que vivemos, isso torna muito difícil a mudança dos parâmetros do sistema educacional para torná-lo instrumento “formador de cidadãos”.
“Aqui (no Brasil) a realização do capital – que afinal é o sujeito do capitalismo – se faz às custas da marginalização da maioria dos brasileiros. Então fica a questão: como conseguir que, no limiar do século XXI, os brasileiros se transformem em cidadãos? “ (Buffa, 2002:29) 
Essa é a questão que aparece diante das perspectivas da Economia Solidária. Como se dará esse processo de educação, que é político e social, que visa a transformação cultural rumo à participação dos cidadãos por meio de relações solidárias e democráticas a partir do ambiente de trabalho?
Em Educação e exclusão da cidadania, Miguel G. Arroyo lembra que a relação entre educação e construção de uma nova ordem política faz parte de um movimento maior de interpretação dos processos de constituição das sociedades modernas. Da educação se espera o milagre de configurar o novo homem livre para o novo mercado econômico, social e político. O sujeito de participação no convívio social tem sido associado ao homem moderno, portador da nova racionalidade. 
No pensamento de Rousseau, a formação desse homem deveria ser feita desde a infância, a partir de um Estado educativo que prepararia cada novo sujeito político para torná-lo apto à participação. Enquanto não estivessem todos aptos, uma minoria esclarecida, moderna e racional deveria governar e decidir por todos e para o bem de todos. Tais práticas acabaram por configurar os novos limites da liberdade e cultura, as novas formas de submissão, de exploração e barbárie a que vem sendo submetidas as classes trabalhadoras. 
Diz Arroyo. “As camadas populares ainda são consideradas bárbaras demais, por não estarem educadas para o uso racional da liberdade e da participação política. Essa educação moderna passou a ser pensada como um dos mecanismos para estabelecer as novas cercas de uma liberdade conquistada, porém vigiada e limitada.” (2002:38).
Arroyo lembra o pensamento de Werneck Vianna que, em estudo sobre liberalismo e sindicato fala que uma das características da tradição liberal brasileira é tentar compatibilizar o indivíduo e seus interesses com uma suposta ordem comunitária, de forma que o bem coletivo norteando os interesses privados estabeleceria a harmonia do convívio social e das relações entre capital e trabalho. 
Essa questão também serve, de certa forma, para ilustrar a intervenção dos agentes organizadores do cooperativismo e da Economia Solidária. Compatibilizar os interesses de cada cooperado com os objetivos da cooperativa é um passo importante para construir uma identidade coletiva no ambiente de trabalho. 
Nesse momento entra, de fato, a questão do processo de educação a ser desenvolvido visando fazer a transformação cultural, de modo que haja uma superação dos padrões individuais de conduta nas relações de trabalho, para que se possa erguer alicerces seguros para o desenvolvimento da democracia e da participação dos trabalhadores cooperados. 
Arroyo questiona se esse processo se dá por intervenções externas, através de programas e agentes que outorgam e preparam para o exercício da cidadania ou se, ao contrário, a cidadania se constrói como um processo que se dá no interior da prática social e política das classes. 
Segundo esse autor, quem opta somente pela intervenção externa não considera a capacidade do povo comum de se tornar agente histórico, o que aconteceria somente a partir do reconhecimento e da preparação vindos de fora. 
Nosella (2002) retoma Gramsci para defender a capacidade de amadurecimento político através da prática. Para ele, “É no interior das lutas, na forma que modernamente se desenvolvem, que acontece o processo educativo do novo cidadão. Por ser um processo de classe e, portanto, social, o novo educador coletivo é o Partido que, visível ou invisivelmente, faz os diagnósticos, organiza atividades educativas, levanta prioridades e avalia resultados” (2002:89). No caso do cooperativismo, não só o partido, mas também os sindicatos e outras organizações que reivindicam a representação dos trabalhadores podem servir de educadores coletivos. 
Para tentar uma resposta de como os trabalhadores tornam-se cidadãos por meio das práticas de lutas sociais, farei uma rápida analogia dessa questão com o debate marxista de “consciência de classe”. 
Para Marx, classes são entendidas como forças sociais agentes de transformação da sociedade, que estão inseridas em um processo de luta de classes por causa dos interesses antagônicos entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. 
Esse conflito é inerente ao processo de produção capitalista, em que os proprietários dos meios de produção apropriam-se do trabalho excedente (mais-valia) produzido pelos que têm apenas sua força de trabalho para vender. O conceito de mais-valia funda-se na lógica de que salários e lucros estão inversamente relacionados, determinando o conflito entre as classes capitalista e operária. A partir do momento em que a classe operária adquire “consciência de classe” (reconhece-se como “classe para si”), ela consegue superar o capitalismo e abolir a propriedade privada, daí funda-se uma sociedade sem classes.
Mas como o proletariado chega à consciência de classe? 
Para Lukács o proletariado não chega a essa consciência espontaneamente, somente os intelectuais revolucionários poderiam chegar a essas idéias e mostrar para essa classe o caminho de sua desalienação. 
Para Thompson (2002) a classe resulta de processos históricos, é a relação estrutural que adquire caráter empírico através da luta de classe. A classe vem depois da luta e da consciência.
 “...para mim, as pessoas se vêem numa sociedade estruturada de um certo modo (por meio de relações de produção fundamentalmente), suportam a exploração (ou buscam manter poder sobre os explorados), identificam os nós dos interesses antagônicos, debatem-se em torno desses mesmos nós e, no curso de tal processo de luta, descobrem a si mesmas como uma classe. Classe e consciência de classe são sempre o último e não o primeiro degrau de um processo histórico real.”(p.274). 
No livro Uma Utopia Militante, Singer diz que o cooperativismo é um processo em que os trabalhadores pretendem tomar o lugar dos patrões – que representam o capital. Mas que isso é um processo de revolução social, em que a transferência do controle dos meios de produção aos trabalhadores deve ser desejada por estes e não ser instituída do “alto” como os exemplos históricos que fracassaram. Para ele, esse fracasso está ligado a uma diferença crucial entre a revolução capitalista e a revolução socialista: a primeira não exigiu a educação e conscientização dos empresários, enquanto que a segunda exigia uma desalienação dos trabalhadores para que ele buscasse os objetivos socialistas espontaneamente.
Para Singer (1998:131) “O espírito cooperativista ou a consciência socialista não surge espontaneamente. O anseio pela desalienação pressupõe que as pessoas estejam informadas de que estão alienadas da maioria das decisões que afetam suas vidas e dos seus dependentes”. 
Mas quem fornecerá as “informações” para fomentar o processo de “desalienação” dessas pessoas? 
 3. Sindicalismo e Cooperativismo 
3.1 Dois momentos no Novo Sindicalismo
Mal o “novo sindicalismo” dos anos 70 constituiusua identidade frente a uma sociedade em processo de democratização, tentando opor-se ao velho modelo corporativista, e já surge outra vez a necessidade, nos anos 90, de um sindicalismo novo, dito “cidadão”, que tenta se fortalecer em um quadro marcado por novos dilemas, especialmente os referentes à sua base, os trabalhadores, que se encontra cada dia mais fraca e vacilante em relação ao capital.
Pode-se dizer que esses dois momentos representaram uma revigoração do movimento sindical. Primeiro, com o surgimento de uma nova classe operária após o fim do período militar, que representava por sua vez o surgimento de novas demandas, o que obrigou o movimento sindical a reformular sua posição, tornado-se mais atuante, sobretudo na esfera política, e tentando se desvincular das formas corporativistas do sindicalismo oficial, caso quisesse continuar como representante dessa classe trabalhadora. 
O “novo sindicalismo” se caracterizaria, assim, por dedicação prioritária as reivindicações imediatas da classe, ainda que com impactos no campo político (daí o surgimento do próprio PT); uma proximidade maior de sua base de representação e um confronto com a estrutura sindical corporativa, tendo em vista o arcaísmo desta na limitação das ações dos representantes dos trabalhadores na busca de suas reivindicações (Santana, 1998:10).
Em um segundo momento, mais especificamente nos anos 90, o sindicalismo teve que encarar mudanças na relação capital/trabalho, sendo forçado novamente a se adaptar às novas demandas. O desemprego crescente fez com que as reivindicações salariais, as estratégias de greve, entre outras medidas sindicalistas, fossem repensadas. Os esforços em torno de negociações para a manutenção do emprego, incluindo flexibilização de jornada de trabalho e mesmo de salários, e a criação de novas alternativas de geração de emprego e renda, marcam a nova cara do sindicalismo. 
Blass� faz uma exposição interessante das propostas do novo sindicalismo, dizendo que ele tinha como estratégia politizar o cotidiano de vida e de trabalho. Ora, a grande proposta do cooperativismo, na visão de muitos de seus ideólogos, é a de fazer com que a participação democrática dentro das cooperativas contribua para a participação democrática na sociedade. 
É claro que os anos 90 trouxeram mudanças e novas demandas. No entanto, parece haver um reflorescimento das idéias originais do novo sindicalismo, não tanto no que diz respeito ao rompimento com o corporativismo, mas no que tange à esperança de levar à classe trabalhadora os ideais de uma participação política mais democrática e consciente, trazendo à tona não apenas a questão da democracia, mas principalmente, da cidadania. 
“De um ponto de vista mais geral, a grande questão da CUT e, por extensão, daquele movimento conhecido originariamente como novo sindicalismo, às vésperas do novo século, vale dizer, o seu maior desafio, é ter um projeto que chegue à sociedade e que situe o tema da cidadania como um aspecto central.” (Rodrigues, 1999:89)
Por outro lado, a discussão existente quanto à continuidade ou ruptura entre o velho e o novo sindicalismo, pode ser estendida, de maneira menos geral, a esses dois momentos do novo sindicalismo (o dos anos 70 e 80 e o dos anos 90). Segundo Colbari (1999) houve descontinuidade principalmente no discurso, que era mais agressivo e com tonalidades políticas e ideológicas mais marcantes, e agora tende a ser mais pragmático, refletindo as mudanças nas relações de trabalho que ocorreram no final do século, tornando a negociação mais eficaz que o confronto direto. 
Pretendo refletir aqui sobre essas questões no âmbito da relação sindicalismo/cooperativismo. Ao que parece, o trato com as cooperativas diferencia-se sensivelmente do trato com as empresas tradicionais, isso porque a lógica é outra, os conflitos são outros e as demandas também são diferentes. Acredito que as características ideológicas do início do novo sindicalismo puderam ser resgatadas em seu apoio ao cooperativismo. O fato de o sindicato incluir em sua pauta a elaboração de propostas alternativas ao desemprego, não reflete apenas uma postura pragmática diante das necessidades reais dos trabalhadores, mas antes, a busca de novos espaços de atuação dentro do processo produtivo e conseqüentemente, o resgate de seu espaço na esfera política nacional. Em entrevista com Tarcísio, Secretário Geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ficou bem clara a proposta política que o sindicato tem para as cooperativas: 
“O sindicato deve servir para despertar a consciência política das pessoas, mostrar a necessidade e possibilidade de mudança, tem que canalizar as pessoas que tem interesse nisso para que elas façam militância nos partidos, esse é o papel do sindicato, é o trabalho do sindicato, desse sindicato. O papel do sindicato é despertar as pessoas para a vida política e a partir daí vão lutar, no sentido de fazer com que a massa dos trabalhadores deixe de ser massa para se tornar agente de transformação social. Mas isso não se faz pelo sindicato, como não se faz pela cooperativa. Nas cooperativas o pessoal vai perceber que o Estado é limitador, que a justiça é autoritária, burguesa e reacionária, de direita e por aí vai. Tudo que cabe para o sindicato cabe para a cooperativa. Eu acho que a cooperativa é um viés que a partir do econômico, que disputa franjas da economia, mas você consegue fazer um debate político. Da forma como o Estado está dialogando nós temos um futuro, mas esse futuro é de competição, de disputa, de mercado.” 
3.2 O Velho e o Novo Sindicalismo: ruptura e continuidade
Farei uma breve exposição histórica do movimento sindical considerando a importância de realçar as diferentes correntes que existem no sindicalismo brasileiro. É claro que essa diferenciação não expressa a complexidade do movimento sindical, mas tenta dar uma idéia das origens da heterogeneidade que se observa até mesmo dentro de uma única corrente como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é o que nos interessa para esse estudo.
Enquanto que na Europa a Revolução Industrial suscitou uma série de movimentos de trabalhadores que reivindicavam melhores condições de trabalho, no Brasil, só com o grande influxo de imigração européia no século XIX pode-se dizer que surgiu a história do sindicalismo. 
A falta de leis que regulamentassem o trabalho no Brasil era reflexo da própria incipiência do processo industrial e da classe operária. No final do século XIX, as Ligas Operárias organizaram as primeiras greves reivindicando menores jornadas de trabalho, aumento de salários e melhores condições de trabalho.
Os socialistas e anarquistas participavam dos primeiros movimentos sindicais, mas tinham divergências quanto a uma organização em nível partidário, os primeiros a defendiam e os segundos a recusavam. Enquanto isso, a Revolução Soviética de 1917 foi uma inspiração para a primeira grande greve em São Paulo, que mesmo sob violenta repressão conseguiu alguma vitória corroborando para o desenvolvimento do movimento operário no Brasil, que culminou com a criação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922.
Nesse período, o desenvolvimento capitalista e industrial no Brasil tornou necessária a intervenção do Estado no mundo do trabalho, mais como medida de controle que de desenvolvimento propriamente dito. Todavia, somente após 1930, com as medidas populistas de Getúlio Vargas, é que o trabalho e os sindicatos foram regulamentados, o que significa também maior controle por parte do governo. A oficialização dos sindicatos resultou da promulgação da Consolidação das Leis de trabalho – CLT. 
“O sindicato surge, assim, como uma instituição ao lado do quadro burocrático em constituição, cuja função definida pelo Estado, é a de canalizador dos diferentes interesses, nem sempre e nem necessariamente convergentes, de categorias das classes sociais. Como um dos executores das metas ou objetivos das relações de trabalho, tem o sindicato também determinadas as maneiraspelas quais deve desempenhar as suas funções. Nessa atuação, deve-se organizar racionalmente, procurando reproduzir, na estrutura sindical, a racionalidade que é constitutiva da sociedade”(Martins, 1978:3).
Para manter o desenvolvimento econômico era necessário garantir o equilíbrio social. A questão operária passou a ser encarada de forma diferente, com o objetivo de manter a “paz social” (ausência de conflitos). O sindicato deveria fazer o papel de intermediário entre o governo e a massa, e a elaboração de leis trabalhistas deveria garantir o apoio do “povo” ao Estado protetor, ou seja, ele detinha o monopólio da representação dos sindicatos, reconhecia sua legitimidade, mas limitava e controlava. 
 “... o que se pretendeu a partir de então, segundo manifestações do próprio Governo, foi transformar a classe trabalhadora em colaboradora na constituição da sociedade capitalista. Para tanto, procuravam cercá-la de várias garantias, que lhe permitissem melhores condições de trabalho e de vida, através da legislação trabalhista. O objetivo fundamental era o de eliminar os conflitos e tensões sociais entre empresários e operários, permitindo, assim, uma produtividade maior e conseqüente desenvolvimento industrial.” (Martins, 1978:31).
Segundo Martins (1978), após 1935 os sindicatos foram obrigados a se enquadrarem nas exigências do Estado, fazendo com que os dirigentes sindicais se tornassem meros burocratas, e os sindicatos apenas instituições de assistência aos trabalhadores. Não podiam mais usar a greve como arma política, sua ação política ficou restrita às esferas governamentais através da Justiça do Trabalho, criada precisamente com essa finalidade. 
“O Estado que até 1930, atuara em relação aos sindicatos de forma meramente repressiva, passou a organizar e controlar as associações sindicais, no sentido de integrá-las à administração pública, como órgãos de colaboração.” (Martins, 1978:47).
Não obstante, após a queda de Vargas, o movimento sindical passa a ser de oposição ao governo, sofrendo, em contrapartida, uma forte repressão, principalmente após o partido comunista ter sido colocado na ilegalidade, em 1946. Com o retorno de Vargas, o sindicato volta a ser integrado ao governo, firmando-se como instrumento do Estado populista. 
“Aceitando as regras do jogo político, a esquerda atuou no “intervalo democrático” que se estendeu de 1945 a 1964, procurando assumir o controle dos sindicatos existentes. A aliança estabelecida com o governo populista fez com que ela se compusesse ou se opusesse às diferentes facções e partidos que, igualmente, disputavam o controle do operariado”. (idem: 80) 
Nesse período surgem outros órgãos de representação operária, com discursos mais radicais, como, por exemplo, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNT), que não estavam previstos na CLT e, por isso foram considerados ilegais, ainda que se constituíssem em órgãos legítimos de expressão da vontade política dos trabalhadores.
O rumo que o sindicalismo estava tomando, através desses órgãos mais radicais e do seu desenvolvimento político, não agradou às classes dominantes. Em 1964 o governo militar recolocou o sindicato em seus marcos legais, condicionando sua ação aos interesses do Estado racional, o que significa a aniquilação dos interesses incompatíveis através de intervenção, cassação de direitos, prisão de dirigentes sindicais e nomeação de novos diretores. 
Segundo Heloisa Martins, “a proposta sindical do Estado Novo encontrou sua efetivação na conjuntura política de 1964”, o sindicato foi obrigado a agir apenas dentro dos limites do Estado sob pena de repressão e punições. O sindicato populista da Era Vargas foi reformulado pela racionalização e modernização do período militar. As normas legais, racionalmente criadas, legitimaram a ordem estabelecida. 
A autora conclui que “o reconhecimento do poder do sindicato, na verdade, constituiu na sua integração ao sistema como instrumento do desenvolvimento capitalista do país.”(1978:185).
Somente após os anos 70 o movimento sindical conseguiu ressurgir com alguma força, tendo como marco a greve de 1978 na empresa Scania na região do Grande ABC. Uma nova fase do sindicalismo brasileiro se inaugura nesse período. Luís Inácio Lula da Silva (então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema) surge como uma nova liderança. Sua ação avançaria para o âmbito político com a criação do Partido dos trabalhadores (PT). Posteriormente é criada a CUT (Central Única dos Trabalhadores), visando a unificação nacional dos trabalhadores. 
A região do ABC paulista teve um grande surto de desenvolvimento desde a década de 50, atraindo trabalhadores das áreas urbanas e rurais, contribuindo para o aparecimento de uma população operária numerosa. 
Tal desenvolvimento econômico favoreceu a formação de um sindicalismo mais autônomo do que em outras regiões, principalmente fora de São Paulo, onde faltava uma classe empresarial e uma classe operária desenvolvida�. Todavia, por mais que se desejasse romper com o corporativismo ainda persistia a burocracia dentro do sindicato, afinal, o sindicato era também um meio de ascensão social e política para seus diretores e garantia de cargos para os burocratas das federações e confederações. 
Na década de 70, o sindicato empreendeu grande luta contra o corporativismo, principalmente na região do ABC, tentando, em um primeiro momento, construir sua identidade em oposição ao modelo corporativo. 
Em 1972, a vitória de Paulo Vidal para a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, marcou a oposição radical ao corporativismo através da proposta de elaboração de um autêntico código de trabalho em substituição às normas da CLT, consideradas obsoletas. O sindicato procurava se aproximar da base, fortalecendo o contato com os trabalhadores no interior das empresas. Criavam comissões de fábrica, delegados sindicais, lutavam por negociações diretas com as empresas e pela não intervenção do Estado na relação capital/trabalho. 
No decorrer das movimentações, surge uma ala renovadora chamada de “Novo Sindicalismo” que se pautava pela oposição ao corporativismo, diferenciando-se dos que se haviam estabelecido como burocracia sindical e promovendo dissidência no V Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias (CNTI)�, buscando a liberdade de negociação (sem a presença do Estado) e a negociação coletiva, acreditando na força da união da classe trabalhadora.
“O ano de 1978 foi particularmente movimentado para os sindicalistas. Encontros, congressos e reuniões informais foram quebrando o isolamento das lideranças renovadoras dispersas pelo país. Este foi o movimento em que o Novo Sindicalismo tornou-se uma corrente nacional com identidade própria”(Almeida: 1996:162). 
Não obstante, Leôncio Rodrigues Martins (1989) nos lembra que muitas dessas pessoas ligadas ao movimento grevista do final dos anos 70 vieram de dentro da estrutura sindical corporativa, “...o mesmo sistema que serviu de expressão de protesto dos trabalhadores, nas grandes greves do ABC, serviu também para o seu controle, possibilitando ao Ministério do Trabalho, em abril de 1980, intervir legalmente nos sindicatos dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e de Santo André e destituir toda a diretoria”(p.67).
Os fatores de continuidade do modelo corporativo foram muito estudados no Brasil.� Segundo Rodrigues (1989), mesmo com alguns ganhos, como o fim do direito de intervenção governamental nos sindicatos e a ampliação de direito de greve, a Constituição de 1988 conservou outros elementos da estrutura corporativa, como o sindicato único, o monopólio da representação e a contribuição sindical.
“No final, a Constituição entrelaçou elementos de uma concepção liberal-democrática (amplo direito de greve, autonomia das organizações sindicais ante os poderes públicos) com a permanência de outros de nítidas feições corporativas(unicidade sindical, estrutura verticalista etc.” (p.69). 
A partir do Encontro Nacional de Dirigentes Sindicais (1979) vieram à tona as divergências entre os sindicalistas renovadores a respeito de dois elementos do modelo corporativista: o monopólio de representação assegurado por lei e a contribuição sindical compulsória. Foi a partir dessas discussões internas que começou o processo de ruptura que criaria a Unidade Sindical e que desvendariam diferenças de fundo partidário: de um lado, os que queriam a criação de um partido dos trabalhadores e de outro, os que apoiavam o MDB.� Tal ruptura se efetivou em 1983 com a constituição de Conclats (Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras) separadas, cada qual expressando seus objetivos. O Conclat de São Bernardo criou a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Conclat da Unidade Sindical criou a Central Geral dos Trabalhadores (CGT).
“Em 1980, dois grandes blocos, de composição bastante heterogênea, disputavam as posições de poder no movimento sindical. De um lado, situavam-se as forças do Novo Sindicalismo em aliança com as Oposições Sindicais, sob a liderança inconteste de Lula. De outro, a Unidade Sindical agrupava sindicalistas dos partidos comunistas ou sob sua influência e dirigentes comprometidos com a manutenção das instituições corporativistas”. (Almeida:1996:166).
Na tese de Ana Lúcia Ferraz (1999:45), a entrevista com um ex-diretor do sindicato dá pistas sobre a intenção de Lula ao criar um partido. Segundo esse informante, Lula dizia: “Eu viajei muito por aí para fora, sindicato não muda a sociedade, o que muda é o partido político. A gente tem que fazer política, e o sindicato não faz política grande. Sindicato luta por salário, você não muda a sociedade, o que muda a sociedade é o partido político”.
Lula estava voltando da Alemanha, onde viu muitos movimentos de trabalhadores ligados à esfera política propriamente dita. De início foi criticado por sindicalistas mais radicais, mas depois conseguiu uma ampla base de apoio entre sindicalistas e operários.
Os anos 80 representaram um período de crise e estagnação econômica para o Brasil. A política foi marcada pela luta por democracia e proteção dos salários frente à inflação. A constituição de Câmaras Setoriais inaugurou um sindicalismo vinculado à elaboração de políticas públicas e proposição de soluções econômicas numa situação de crise. A relativa homogeneidade dos interesses do conjunto dos trabalhadores favoreceu a atuação do movimento sindical. 
“A forma como essa direção se coloca frente aos governos e os poderes públicos em geral, propondo soluções para problemas sociais existentes, marca sua pretensão ao poder de Estado, uno e universalista. A forma como freqüentemente lhes é negado o status de interlocutores, dado o estado de incipiência da democracia nacional, configura sua posição de oposição”. (Ferraz,1999:139)
Todavia, a luta do sindicalismo dos anos 80 para defender o salário dos trabalhadores frente à inflação, cedeu espaço, nos anos 90, para a luta contra o descumprimento da legislação trabalhista diante da escassez de emprego.
Para Pochmann, as dificuldades por que passa o movimento sindical nos anos 90 apontam para sua acomodação à estrutura corporativa (1998:150). Segundo esse autor, a reformulação do sindicato nos anos 80 e sua crescente presença no cenário político nacional deu lugar a uma relativa perda de espaço sindical no plano político nacional nos anos 90, uma vez que seu papel de intermediação entre governo e trabalhadores perdeu a importância já que tiveram que centrar sua atuação em temas mais pontuais como qualificação profissional e geração de emprego e renda. Isso está relacionado à condicionantes exógenos e endógenos� que marcaram as mudanças das relações de trabalho no Brasil nesse período, os quais dizem respeito à crise econômica, fragmentação dos interesses sociais frente ao cenário político e econômico, reestruturação empresarial, flexibilização das relações de trabalho etc.
“Até o final dos anos 80, parecia inegável que a estrutura corporativa se encontrava fortemente questionada diante da crescente efetividade dos sindicatos e de sua insatisfação com o sistema de relações de trabalho. Na década de 90, contudo, o grau de contestação foi contido em face do aumento das resistências às mudanças por parte dos atores solidários à velha estrutura sindical, dos novos riscos colocados pelas transformações econômicas e da ausência de maior convergência entre os atores sociais relevantes na construção de um novo sistema de relação de trabalho.”(Pochmann:1998:159)
Não tendo a menor possibilidade de generalizar, há ainda alguns segmentos combativos no sindicalismo que luta por maior democratização nas relações de trabalho. Mas mesmo estes ficaram limitados pela agenda liberal do governo Fernando Henrique Cardoso que se baseava em medidas de desregulamentação do mercado de trabalho. 
Dessa forma, Ana Lúcia Ferraz conclui que “ao longo da década de 90, as greves já não são as melhores estratégias.” (1999:160).
 “O desafio colocado para o sindicato é o de constituir-se como elaborador de propostas que sejam de uma só vez técnicas, econômicas, políticas e comunicativas, isto é, que tenham como horizonte o diálogo com os trabalhadores e com a sociedade.” (idem: 161)
Conforme Parra (2002), a crise do trabalho e a crise do sindicalismo motivaram a CUT a agir no âmbito da chamada Economia Solidária. Os altos índices de desemprego e a queda nas taxas de sindicalização foram fatores que atuaram como combustível na reflexão de novas estratégias de atuação dos sindicatos. Poderíamos dizer que o apoio por parte de segmentos do sindicalismo (como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) ao cooperativismo, com base na Economia Solidária, constitui uma tentativa de atuar propositivamente junto aos trabalhadores desempregados, geralmente marginalizados, mas que representam uma grande força política para quem consegue oferecer-lhes uma esperança. 
Esse trabalho já era feito através de cursos de requalificação profissional, mas não havia garantia de emprego após os cursos. A constituição de cooperativas foi um passo adiante na organização dos trabalhadores. Ao mesmo tempo em que gera renda também fomenta a autonomia e o controle da produção pelos trabalhadores, e é vista por alguns sindicatos como uma maneira eficaz de se posicionarem como atores sociais para a transformação da sociedade.
Para tanto, o sindicato fortaleceu sua dimensão pedagógica, atuando como formador de ideologias e, ao mesmo tempo, dando assessoria a essas novas empresas. 
“Quanto aos desempregados, o enfoque central é a economia solidária e o objetivo é a reinclusão do desempregado e o resgate da cidadania”(Colbari, 1999:177).
Segundo as perspectivas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e de alguns intelectuais sobre a participação dos trabalhadores na gestão da empresa, o desenvolvimento de valores como democracia, autonomia e solidariedade tende a se expandir para fora do ambiente de trabalho. Para tanto, o desenvolvimento de cooperativas seria, ao mesmo tempo, uma alternativa para geração de trabalho e renda, e também um exercício de cidadania e de gestão democrática.
“Assim, o sindicalismo têm como ponto de partida o chão dos locais de trabalho e ponto de chegada o espaço público democrático das praças, ruas, bairros e cidades”, (Nascimento, 2000:49). 
Todavia, esses objetivos dependem da capacitação política e ideológica que os trabalhadores possam adquirir através da organização dentro e fora dos locais de trabalho, uma organização em que a “emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores, (idem:35). 
Segundo Cláudio Nascimento, esses são os passos que deverão ser dados em direção à possibilidade de um “Sindicato Cidadão” que possa colaborar para a maior participação dos trabalhadores na gestão do trabalho, através da ampliação do “seu mandato enquanto representante dos trabalhadores, mas, sobretudo, como movimento socialque diz respeito à cidadania ativa, articulando-se com vários segmentos da sociedade.” (idem:31). 
Poderíamos dizer que esse tipo de ação do sindicato o exclui da acomodação ao modelo corporativo? Ao lutar pela inclusão social dos trabalhadores através da formação de cooperativas, os sindicatos obtêm mais força política? Ele luta contra ou reforça o corporativismo? 
Primeiramente, temos que pensar nas diferenças que existem entre cooperativas e empresas tradicionais. Na tese de Parra (2002) uma questão evidencia o paradoxo na ação dos sindicatos quanto às cooperativas e quanto às empresas tradicionais: “ao mesmo tempo em que o sindicalismo luta pela preservação do status de empregado para seus filiados, nas cooperativas ele luta por um tipo de trabalho contrário ao emprego. Uma das maiores dificuldades para os trabalhadores que constituem uma empresa autogerida é justamente a ruptura com anos de prática de trabalho fragmentado e subordinado, para fazer com que os cooperados participem do processo gestionário sem que se reproduzam as antigas relações hierárquicas com todas as suas dimensões de controle e dominação”(p.191)
Por outro lado, Colbari (1999:181) coloca em questão se a preocupação do sindicato com requalificação profissional e proposição de alternativas ao desemprego, não estaria fazendo o papel que o sindicato corporativista fazia outrora a partir do assistencialismo, ou contrariamente, isso indicaria o nascimento de um novo modelo de organização de interesse. 
Temos aqui duas questões referente à relação do sindicalismo com o corporativismo: 
Se o sindicato “cidadão”, através de suas ações na formação de cooperativas está reforçando a luta contra o corporativismo.
Se esse tipo de ação por parte do sindicato, principalmente referente à re-inclusão dos trabalhadores desempregados, seja através de requalificação profissional, seja através de formação de cooperativas, pode ser visto como um trabalho assistencialista, ou como um novo modelo de organização de interesse. 
Para responder a essas perguntas precisamos definir o que é corporativismo. Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (1986:276) é um mecanismo de controle desenvolvido na Itália fascista que procurava reorganizar a vida e a estrutura econômica desse país. Para tanto, a organização do sistema econômico foi dividido em corporações (sindicatos), subordinadas ao Estado. Podemos definir algumas características desse sistema: 1) havia apenas um sindicato para cada ramo de indústria ou comércio; 2) o pagamento de mensalidades era obrigatório, mesmo que a filiação não o fosse; 3) os funcionários dos sindicatos eram pessoas fiéis ao Partido fascista; 4) as corporações (união das associações de trabalhadores e empregadores, ou seja, dos diversos sindicatos) eram meros instrumentos da política do Estado, com pouca autonomia. 
Esse meio de organização e controle era legitimado por duas premissas. A primeira era a de que os problemas políticos estão além da compreensão do povo, daí ele deve expressar-se como trabalhador ou empregador, e não como cidadão; outra premissa diz respeito à capacidade de governo, que se encontra apenas nos membros da classe dirigente. 
Como foi exposto anteriormente, o corporativismo no Brasil foi adotado a partir de 1937 sendo fortemente combatido pelo novo sindicalismo nos anos 70, mas segundo alguns estudiosos, muitas de suas características ainda aparecem como resquícios. 
Nesse momento o nosso interesse volta-se para a relação do corporativismo com sindicalismo “cidadão”, formador e apoiador do cooperativismo.
 Segundo Blass�, “Quanto mais os sindicatos, enquanto instituição, se fazem presentes no cotidiano de trabalho e de vida dos trabalhadores(as) dentro e fora das empresas, mais se distanciam da sua face institucional”. Ora, se isso for considerado, então a relação sindicato/cooperativa pode significar um avanço no rompimento com o corporativismo, visto que a relação do sindicato dos metalúrgicos do ABC com as cooperativas que apóia dá-se de maneira muito presente. 
De outra forma, vimos o paradoxo a que o sindicato foi submetido. Para alguns trabalhadores ele defende os direitos adquiridos pela CLT (originários do corporativismo), para outros (os cooperados), ele tenta criar um modelo alternativo, ainda que através de fundos para garantir, mesmo que “psicologicamente”, direitos como férias, 13º salário e outros. Digo “psicologicamente” porque verificamos que a mentalidade do trabalhador ainda é formada a partir do conceito desses direitos trabalhistas, não tê-los formalmente gera insegurança na formação de cooperativas. 
Para Cardoso (1997:116) “representação sindical digna desse nome” tem as seguintes características: está enraizado nas empresas, tem altas taxas de sindicalização, é coordenado horizontalmente e centralmente representado.
Pautando-se pela relação do sindicato dos Metalúrgicos do ABC com a Uniwídia, podemos dizer que há um forte vínculo, tanto no que diz respeito à atuação do sindicato dentro da cooperativa, dando assistência e agindo em sua formação (principalmente no começo através de cursos e acompanhamento), quanto no que diz respeito à sindicalização dos cooperados. 
A inclusão desses trabalhadores (e dos trabalhadores das demais cooperativas) como sócios do Sindicato deu-se a partir do 2º Congresso dos Metalúrgicos do ABC em 1996.� Isso significa que os sócio-trabalhadores poderiam se eleger como diretores do sindicato e levar os interesses das cooperativas para serem discutidas no sindicato, como ocorreu em 1999 no 3º Congresso dos Metalúrgicos do ABC, quando a discussão sobre cooperativismo tomou lugar de destaque, evidenciando opiniões diversificadas entre algumas correntes sindicais. Para as correntes mais radicais, as cooperativas apenas reproduzem o sistema de exploração capitalista, enquanto que para outras correntes, elas representam um caminho alternativo para a geração de trabalho e renda, mas principalmente, “constituem-se na possibilidade do avanço de conhecimento dos trabalhadores no que se refere ao controle do processo de gerenciamento e produção, representando um passo coerente com o compromisso histórico com o socialismo”(Oda, 2000:96). Esta segunda linha de pensamento corresponde à visão majoritária dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC segundo esse autor. 
A estratégia de ação apresentada no 3º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1999, reforça o conceito do trabalhador enquanto cidadão, segundo texto apresentado no Caderno de Resoluções desse congresso, isso exige presença do sindicato não somente no chão da fábrica, como também no bairro, cidade e no país. “Aproximar cada vez mais o sindicato/fábrica do sindicato/política é um dos movimentos que ajudam a diferenciar o sindicalismo combativo do sindicalismo pelego. Não basta ocupar o interior das fábricas se não tivermos políticas – especialmente, em parcerias com os movimentos sociais – para unificar a luta do chão de cada fábrica aos destinos do País, do Estado e dos Municípios.”(p.21).
Segundo Tarcísio�, o sindicato construiu uma lógica que visa não somente discutir emprego e salário, mas também preocupa-se com as condições de vida das pessoas, pensadas como cidadãos, “é o sindicato voltado para as necessidades do cidadão, porque ele mora, ele precisa comer, ele tem outras necessidades educacionais, transporte, tem que estar preocupado com essa questão também. Preocupados com essas outras questões é que nós fomos desenvolvendo essa lógica do sindicato cidadão, ao invés de sermos apenas contra começamos a colocar um monte de coisa que nos interessava. Então esse sindicato aqui por exemplo, tem um curso pré-vestibular, organizado pelo sindicato, com voluntários da categoria, damos aulas nos fins de semana à população carente. Esse sindicato foi quem organizou o MOVA, o movimento de alfabetização aqui da região, esse sindicato está montando uma cooperativa de crédito aqui para as pessoas poderem pagar menos juros. São coisas que não sãodo mundo sindical. São da vida das pessoas que o sindicato precisa interagir. Então o sindicato cidadão apenas é isso, é você pensar a pessoa na integralidade do ser e não só como uma ferramenta de trabalho que você tem melhorar ou não o quanto ela custa para o empresário.”
Ainda nos resta refletir sobre a segunda questão: Se esse tipo de ação por parte do sindicato, principalmente referente à preocupação em gerar emprego e renda, seja através de requalificação profissional, seja através de formação de cooperativas, pode ser visto como um trabalho assistencialista, ou como um novo modelo de organização de interesse. 
Minha análise está baseada na hipótese de que há uma ideologia referente à democracia participativa, de fundo socialista, que se junta aos ideais de solidariedade e autonomia incentivados pela Economia Solidária, que dá o substrato do projeto de criação de cooperativas como forma de geração de trabalho e renda. 
Dessa maneira, creio que o projeto político que está sendo formado com esses ideais ultrapassa o mero assistencialismo, refletindo valores como autonomia, responsabilidade coletiva, solidariedade, ou seja, fomentando um processo de emancipação do trabalhador, e isso não é característica de assistencialismo, mas talvez, como diz Colbari de um “novo modelo de organização de interesse”.
Não obstante, para Zaperlon (2002), essa nova postura do sindicalismo cutista nos anos 90, com base na ação propositiva, tenta elaborar propostas que possam ser aceitas e que tragam ganhos tanto para o governo (neoliberal, no caso), quanto para os empresários e trabalhadores, pressupondo que possa haver interesses comuns entre o governo neoliberal, os trabalhadores e o empresariado. Ela alerta para o perigo de que o movimento de economia solidária e o sindicalismo cutista acabem por contribuir para a proliferação de políticas neoliberais, por incentivar a participação popular não ao nível de ações estatais, mas apenas em prol do combate ao desemprego, provocando uma desmobilização dos movimentos populares que deveriam, por sua vez, responsabilizar as políticas neoliberais pela crise que gerou esse desemprego. 
3.3 O Novo Sindicalismo dos anos 90
No primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), a estabilidade econômica e o controle da inflação conviviam com a elevação da taxa de desemprego causada pela reestruturação industrial e pela política de juros elevados. 
Nesse novo quadro político e econômico, como já foi indicado ao longo desse texto, a relação capital/trabalho sofreu mudanças que exigiram novas ações do movimento sindical, que, para tanto, teve que enfrentar um paradoxo: ter uma atitude mais flexível sem, contudo, perder sua identidade. (Martins & Rodrigues, 1999:155-156).
Iram Jácome Rodrigues, em um artigo intitulado “A trajetória do Novo Sindicalismo”�, coloca o mesmo dilema para a ação sindical no Brasil nos anos 90: “como manter uma forte identidade coletiva e, ao mesmo tempo, uma maior capacidade de flexibilização de suas demandas?” (p.75). 
Este está sendo um desafio para o sindicalismo desde os anos 70, reinventar-se como instituição sem perder sua identidade de movimento combativo. Isso porque as sucessivas crises econômicas e transformações no mundo do trabalho dificultam a ação sindical, principalmente quando ela pretende defender direitos adquiridos, quando o momento é de flexibilização e desregulamentação das relações de trabalho. 
Segundo Rodrigues(1999:84) “hoje, o tema central na pauta sindical – em muitas áreas – é a defesa do emprego, a participação nos resultados, a flexibilização da jornada de trabalho (banco de horas) e a discussão de mudanças na gestão e organização do trabalho”.
Cabe aqui ressaltar que o autor está se referindo principalmente aos setores sindicais ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores), e que, mesmo em seu interior apresenta-se duas posições distintas quanto a essas questões: a esquerda contratualista que é representada pela “Articulação Sindical”e está mais ligado ao setor privado, e a esquerda socialista representada pela “Alternativa Sindical Socialista”, pelo PSTU, Corrente Sindical Classista e outros, mais ligados ao setor público. 
Como pudemos ver na breve exposição histórica feita anteriormente, essas divisões dentro do sindicalismo sempre aconteceram. Se por um lado, demonstra a pluralidade e a possibilidade de discussão democrática dentro da instituição, por outro pode gerar conflitos que dificultem a implantação de projetos e desgaste as relações dentro do sindicato. Quanto a isso, Rodrigues chama atenção para a falta de um projeto sindical mais claramente delineado, uma vez que a variedade de “práticas” e “discursos” acaba distanciando esses elementos. 
Contudo, cabe notar que a tendência do sindicalismo nos anos 90, em face das transformações no mundo do trabalho e da reestruturação produtiva, não é mais no sentido do conflito, como nos anos 70 e 80, mas sim está calcada no que Rodrigues� chama de “realismo defensivo”, ou seja, levando em consideração as dificuldades reais que a conjuntura lhe apresenta, diminuindo as expectativas ideológicas da fase anterior. 
Ao considerar essa observação de Rodrigues, temos que levar em conta a relação sindicalismo/cooperativismo. Podemos dizer que essa relação é marcada por elementos ideológicos que caracterizava o novo sindicalismo: maior participação da classe trabalhadora tanto nas questões da produção quanto nas questões políticas e, em maior grau, organização desses trabalhadores para tomar os meios de produção (no caso de falência das empresas). 
A partir da formulação de alternativas para a geração de trabalho e renda, houve a aproximação entre o sindicalismo e o cooperativismo. Cabe ressaltar que nem sempre os sindicatos apoiaram o movimento cooperativista. Principalmente pela desconfiança de que o cooperativismo era apenas mais uma forma de degenerar as relações de trabalho e tirar os direitos dos trabalhadores (como vimos anteriormente, algumas correntes sindicais ainda pensam dessa forma), isso por causa da proliferação de falsas cooperativas que transformam cooperativismo em terceirização. 
Jacob Lima e Neyara Araújo� tratam de três modelos de alternativas para geração de emprego e renda: 1) o informal trabalho a domicílio; 2) a subcontratação de pequenas empresas com forte presença da informalidade nas relações de trabalho; 3) subcontratação de cooperativas de trabalho. Esse último modelo subdivide-se em: a) as cooperativas organizadas por movimentos sociais e/ou sindicatos para atender a comunidades carentes ou empresas em processo falimentar; b) cooperativas formadas por profissionais liberais ou autônomos por meio de adesão; c) cooperativas formadas mediante parceria entre Estado e empresas contratantes de serviços de terceirização de produção industrial.� 
Eles questionam a diferença de atuação da CUT no nordeste e no sul:
 “A CUT incentiva as cooperativas gaúchas vistas como solução possível ao desemprego, no Ceará propõe seu fechamento... Mais que uma questão política, essa posição, talvez possa ser explicada pela dimensão cultural do processo. Enquanto no sul discute-se o possível fim do assalariamento, no outro extremo o país briga por ele ”�.
 E concluem:
“O sindicato como instrumento de representação de uma classe trabalhadora em mutação, se transforma ou desaparece perdido em bandeiras empoeiradas. Para além de um novo sindicalismo é necessário um novíssimo sindicalismo que acompanhe as mudanças garantindo minimamente condições de trabalho dignas à massa de trabalhadores assalariados ou não, envolvidos nas mais distintas relações de trabalho, deixando de lado um corporativismo restrito que tem como horizonte sua própria extinção”.(Ibidem: 19).
Talvez por ser uma relação relativamente nova, os sindicatos não sabem ainda como lidar com as cooperativas. Ao mesmo tempo em que querem utilizá-las como instrumento de geração de emprego e renda, temem a precarização do trabalho que,

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Relatório final

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Carlos

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