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17 Biossíntese de Colesterol e Esteroides M.H. Dominiczak A.M. Wallace OBJETIVOS Após concluir este capítulo, o leitor estará apto a: Listar os principais passos envolvidos na síntese da molécula de colesterol. Discutir a regulação da concentração intracelular de colesterol. Explicar os mecanismos que governam o metabolismo e a excreção do colesterol. Descrever os ácidos biliares e sua circulação êntero-hepática. Resumir as principais vias de síntese dos hormônios esteroides. INTRODUÇÃO O colesterol é um componente essencial das membranas celulares dos mamíferos. Ele também é o precursor de compostos ativos biologicamente importantes, tais como os ácidos biliares, hormônios esteroides e vitamina D. A hemostasia do colesterol é importante na etiologia da aterosclerose (Cap. 18) e ele é o principal componente das pedras na vesícula. Os humanos sintetizam 1 g de colesterol a cada dia, principalmente no fígado. A taxa de síntese de colesterol endógeno e a ingestão pela dieta determinam sua concentração no plasma. Uma dieta diária típica do ocidente contém aproximadamente 500 mg (1,2 mmol) de colesterol diariamente, principalmente na carne, ovos e produtos do leite (Cap. 22). Sob circunstâncias normais, 30-60% disto são absorvidos durante a passagem através dos intestinos. Após a absorção intestinal, o colesterol é transportado para o fígado e para os tecidos periféricos como um componente das partículas de lipoproteína, os quilomícrons. Eles são absorvidos pelo fígado. O fígado reempacota o colesterol e os triglicerídeos em outras lipoproteínas menores – as lipoproteínas de muito baixa densidade, VLDL ( Cap. 18). Os triglicerídeos contidos nas VLDL passam por hidrólises sequenciais nos tecidos periféricos, transformando as partículas em VLDL remanescentes e então, após hidrólises mais extensas, em lipoproteínas de baixa densidade (LDL). As VLDL remanescentes e as LDL levam o colesterol de volta para o fígado pela ligação ao receptor de membrana apoBE (receptor de LDL). Entretanto, eles também podem entrar pela parede vascular. Os humanos não podem metabolizar o anel esteroide do colesterol – ele é excretado na bile ou como colesterol livre ou na forma de ácidos biliares. A maior parte dos ácidos biliares é reabsorvida no Íleo terminal e volta ao fígado. Este ciclo é conhecido como circulação êntero-hepática. Nos passos iniciais, a via da síntese do colesterol fornece substratos para a síntese de compostos importantes na proliferação celular e no crescimento tumoral, no transporte de elétrons e na melhora do estresse oxidativo. Os oxiesteroides gerados nos estágios tardios da via são moléculas de sinalização que tomam parte na regulação da homeostasia do colesterol (Fig. 17.1). Fig. 17.1 Síntese de colesterol e vias relacionadas (modificado de Charlton-Menys V, Durrington PN. Exp. Physiol. 2007; 93:27-42, com permissão). SMC, célula muscular lisa; CoQ, coenzima Q. ESTRUTURA DO COLESTEROL A estrutura do colesterol é mostrada na Figura 17.2. Ele tem um peso molecular de 386 Da e contém 27 átomos de carbono, dos quais 17 são incorporados em quatro anéis unidos (núcleo ciclopentanoperidrofenantreno), dois estão em ângulo com grupos metil ligados nas junções dos anéis AB e CD e oito estão na cadeia lateral periférica. O colesterol é quase inteiramente composto por átomos de carbono e hidrogênio; existe um grupo hidroxil solitário ligado ao carbono 3. O colesterol também é quase completamente saturado, tendo somente uma dupla ligação entre os átomos de carbono 5 e 6. Fig. 17.2 Estrutura do colesterol. A-D é a notação convencional usada para descrever os quatro anéis. Números 1-27 descrevem os átomos de carbono. O colesterol diminui a fluidez da membrana O colesterol (principalmente o colesterol livre) é um componente essencial das membranas celulares. Ele é encontrado em maiores concentrações nas membranas plasmáticas (até 25% do conteúdo lipídico), enquanto está virtualmente ausente nas membranas internas mitocondriais. Ele é mantido na bicamada lipídica por interações físicas entre o anel esteroide planar e as cadeias de ácidos graxos. A ausência de ligação covalente significa que ele pode se transferir para dentro ou para fora da membrana. As membranas são estruturas fluidas nas quais ambas as moléculas de lipídeos e proteínas se movem e passam por mudanças conformacionais ( Cap. 8). Quanto mais fluida a bicamada fosfolipídica for, mais permeável será a membrana. Na temperatura corporal, as cadeias longas de hidrocarbonetos da bicamada lipídica são capazes de movimentos consideráveis. O colesterol está localizado entre essas cadeias de hidrocarbonetos, formando interações fracas e assim reduzindo a fluidez. Esta rigidez relativa é aumentada ainda mais se o colesterol estiver adjacente a ácidos graxos saturados. O colesterol forma regiões de agregação dentro da bicamada lipídica. Em áreas de grupos de colesterol pode haver 1 mol de colesterol por 1 mol de fosfolipídeo, enquanto em áreas adjacentes pode não existir colesterol. Assim, a membrana contém áreas ricas em colesterol e impermeáveis e áreas sem colesterol e mais permeáveis. COLESTEROL LIVRE E ESTERIFICADO O colesterol é fracamente solúvel em água. Somente cerca de 30% do colesterol circulante ocorrem na forma livre, a maioria estando esterificada pelo grupo hidroxila a ácidos graxos de cadeia longa incluindo os ácidos oleico e linoleico. Os ésteres de colesterol são muito menos solúveis em água do que o colesterol livre. O colesterol da dieta trazido ao fígado está na maior parte de forma livre. No plasma, o colesterol está incorporado às lipoproteínas (Cap. 18) e presente principalmente na forma de ésteres de colesterol. Os ésteres também são as formas teciduais de armazenamento do colesterol. O colesterol é esterificado no plasma pela enzima colesterol-lecitina aciltransferase e nas células pela acil-CoA:colesterol aciltransferase (ACAT). Sessenta a oitenta por cento dos ésteres de colesterol presentes no plasma são absorvidos pelo fígado. BIOSSÍNTESE DE COLESTEROL O colesterol é sintetizado a partir da acetil-coenzima A. A HMG-CoA redutase é a enzima limitante de velocidade da via Virtualmente todas as células humanas têm a capacidade de fazer colesterol. O fígado é o principal local da biossíntese do colesterol, e pequenas quantidades são sintetizadas no intestino, córtex adrenal e gônadas. A geração das muitas ligações carbono-carbono e carbono-hidrogênio contidas na estrutura do colesterol requer uma fonte de átomos de carbono, uma fonte de força redutora e quantidades significantes de energia. A acetil-coenzima A (acetil-CoA) fornece o ponto de partida de alta energia. Ela pode ser derivada de várias fontes, incluindo a β-oxidação das cadeias longas de ácidos graxos, a desidrogenação de piruvato e a oxidação de aminoácidos cetogênicos, tais como leucina e isoleucina. A força redutora é fornecida pelo fosfato de nicotinamida dinucleotídeo reduzido (NADPH), que é gerado na via da pentose fosfato (Cap. 12). HMG-CoA REDUTASE: UM EXEMPLO DE ENZIMA VELOCIDADE LIMITANTE DE UMA VIA A HMG-CoA redutase é a enzima velocidade limitante na via da síntese de colesterol. Ela é uma enzima microssomal ativa no seu estado não fosforilado. A fosforilação por uma quinase inibe a sua atividade. Sua síntese é estimulada pelos níveis de colesterol no jejum ou na alimentação. Importante, a atividade da HMG-CoA redutase é controlada pela concentração intracelular de colesterol. Ela é influenciada também por vários hormônios: insulina e triiodotironina aumentam a sua atividade, enquanto glucagon e cortisol a inibem. Energia adicional é fornecida pela quebra do trifosfato de adenosina (ATP). No total, a produção de 1 mol de colestero necessita de 18 moles de acetil-CoA, 36 moles de ATP e 16 moles de NADPH. Todas as reações biossintéticas ocorrem dentro do citoplasma, embora algumas dasenzimas necessárias estejam ligadas às membranas do retículo endoplasmático. O ácido mevalônico é o primeiro composto na via da síntese do colesterol Três moléculas de acetil-CoA são convertidas no 6-carbono ácido mevalônico ( Fig. 17.3). O primeiro de dois passos são as reações de condensação levando à formação do 3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA (HMG-CoA). Estas reações, catalisadas pela acetoacetil-CoA tiolase e HMG-CoA sintase, são comuns na formação dos corpos cetônicos, embora o último processo ocorra dentro da mitocôndria em vez do citosol. Estas reações também são favorecidas energeticamente já que envolvem a quebra da ponte tioéster e a liberação da coenzima-A livre. A reação limitante da velocidade na biossíntese do colesterol é aquela catalisada pela enzima microssomal HMG-CoA redutase que leva à formação irreversível de ácido mevalônico. ABSORÇÃO INTESTINAL DE COLESTEROL O colesterol da dieta é absorvido a partir dos intestinos via um transportador de membrana conhecido como proteína Nieman-Pick semelhante a C1 (NPC1L1). Outro transportador presente no lado apical dos enterócitos é o “cassette” ligante de ATP G5/G8, contendo dois meio transportadores – ABCG5 e ABCG8. Estes transportam o colesterol de volta ao lúmen do intestino e também estão envolvidos na secreção de esteroides não colesterol para a bile. A expressão destes transportadores é regulada positivamente pelo receptor nuclear, receptor hepático X (ver adiante). Mutações no gene que codifica para estes transportadores resultam em acúmulo tecidual de esteroides de plantas (sitosterolemia). O fármaco ezetimibe suprime o transporte de colesterol mediado por NPC1L1 e tem sido usado no tratamento da hipercolesterolemia. Fig. 17.3 Biossíntese do ácido mevalônico. O ácido mevalônico contém seis átomos de carbono, que são derivados de três moléculas de acetil-CoA. Fármacos que inibem a HMG-CoA redutase (estatinas) Os inibidores da HMG-CoA redutase, conhecidos como estatinas, são fármacos diminuidores de lipídeos que são usados para reduzir as concentrações de LDL circulantes em pacientes com, ou em, risco de doença cardiovascular aterosclerótica. Eles reduzem o colesterol por inibir competitivamente a enzima hepática. Isto causa uma redução na concentração intracelular de colesterol e, como resultado, aumento na expressão de receptores de LDL. A eliminação de LDL aumenta, e o colesterol-LDL circulante (e o colesterol total no plasma) diminui. A atividade da HMG-CoA redutase hepática está no seu pico cerca de seis horas após o escuro e no seu mínimo algumas seis horas após a exposição à luz. Por este motivo as estatinas normalmente são tomadas à noite para garantir um efeito máximo. O farnesil pirofosfato é produzido de três unidades de isopreno Três moléculas de ácido mevalônico são, cada uma, descarboxiladas em 3 unidades de isopreno com 5 átomos de carbono, que são sequencialmente condensadas para produzir a molécula de 15 átomos de carbono farnesil pirofosfato ( Fig. 17.4). As duas primeiras reações necessitam de quinases e ATP para gerar o pirofosfato. Uma descarboxilação resulta nas unidades isopreno isoméricas isopentenil pirofosfato e dimetilalil pirofosfato, que se condensam para formar geranil pirofosfato. Uma condensação adicional com o isopentenil pirofosfato produz o farnesil pirofosfato. Assim como sendo um intermediário na biossíntese do colesterol, o farnesil pirofosfato é o ponto de ramificação para a síntese de dolicol e ubiquinona (Fig. 17.1). Fig. 17.4 Biossíntese do farnesil pirofosfato. O farnesil pirofosfato é composto de três unidades isopreno. ADP, adenosina difosfato; Mg2+, magnésio; PPi, pirofosfato. Para o desvio transmetilglutaconato (consulte o quadro da pág. 209). O esqualeno é uma molécula linear capaz de formar um anel A esqualeno sintase é uma enzima presente no retículo endoplasmático que facilita a condensação de duas moléculas de farnesil pirofosfato ( Fig. 17.5 ). Vários intermediários estão envolvidos, e o produto resultante é o esqualeno, um hidrocarboneto com 30 carbonos contendo seis duplas ligações, o que permite dobrar-se em um anel similar ao núcleo esteroide. Fig. 17.5 Biossíntese do esqualeno. As seis duplas ligações permitem que a estrutura se dobre em um anel similar ao núcleo esteroide. O esqualeno se cicliza em lanosterol Antes do fechamento do anel, o esqualeno é convertido a esqualeno 2,3-óxido pela esqualeno mono-oxigenase no retículo endoplasmático. Daí em diante, a ciclização ocorre sob a ação da enzima oxidoesqualeno ciclase ( Fig. 17.6). É interessante que, em plantas, existe um produto diferente da ciclização do esqualeno, conhecido como cicloartenol, que é metabolizado adicionalmente a uma variedade de fitoesteroides, incluindo o β-sitosterol, em vez de colesterol. Fig. 17.6 Biossíntese do colesterol. Estas reações ocorrem enquanto ligadas à proteína ligante de esqualeno e esteroides. FAD, flavina adenina dinucleotídeo; NADH, nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzida. Os estágios finais da biossíntese do colesterol ocorrem em uma proteína transportadora O esqualeno, o lanosterol e todos os intermediários seguintes são moléculas hidrofóbicas. A fim de que os passos finais da via ocorram em um meio aquoso, os intermediários reagem enquanto ligados à proteína ligante de esqualeno e esteroides. A conversão do lanosterol de 30 carbonos em colesterol de 27 carbonos envolve três reações de descarboxilação, uma isomerização e uma redução (Fig. 17.6). O NADPH é consumido em quatro dessas reações. Regulação da biossíntese do colesterol Muitos fatores estão envolvidos na regulação da concentração intracelular do colesterol ( Tabela 17.1 ). Sob circunstâncias normais, existe uma relação inversa entre a ingestão de colesterol pela dieta e a sua biossíntese. Isto garante um aporte diário relativamente constante de colesterol. Isto também explica por que uma restrição na dieta parece exercer uma redução moderada na concentração plasmática de colesterol. Tabela 17.1 Regulação do colesterol intracelular (Fig. 17.1) Regulaçâo do colesterol intracelular Fatores que aumentam a concentração intracelular de colesterol livre biossintese de novo hidrólise dos ésteres de colesterol intracelulares pela enzima colesterol éster hidrolase ingestão na dieta de colesterol e absorção dos quilomícrons absorção das lipoproteínas contendo colesterol (LDL) Fatores que reduzem a concentração intracelular de colesterol livre inibição da biossintese de colesterol regulação negativa do receptor de LDL esterificação intracelular do colesterol pela aci-coenzima A:colesterol acil transferase liberação de colesterol para as lipoproteinas de alta densidade (HDL) conversão do colesterol a ácidos biliares ou hormônios esteroides Fatores que influenciam a atividade da HMG-CoA redutase concentração intracelular de HMG-CoA concentração intracelular de colesterol hormônios: insulina, tri-iodotironina (+); glucagon, cortisol (-) Existem duas fontes de colesterol intracelular: a síntese de novo e o fornecimento externo. O colesterol exógeno (da dieta) alcança as células predominantemente como um componente das VLDL remanescentes e das LDL ( Cap. 18). Estas lipoproteínas se ligam ao receptor apoB/E presente nas membranas plasmáticas e os complexos lipoproteína/receptor são internalizados. No citoplasma, as vesículas carregando os complexos internalizados são atacadas por enzimas lisossomais, as quais separam as LDL da molécula do receptor e hidrolisam os ésteres de colesterol. O colesterol livre é liberado para o citoplasma. A apoproteína LDL é hidrolisada aos seus aminoácidos componentes. TRATAMENTO DA HIPERCOLESTEROLEMIA A despeito de um controle rígido da dieta, um homem de 50 anos de idade, com história familiar de doença cardiovascular precoce, apresentou um resultado de colesterol séricode 8,0 mmol/L (309 mg/dL); (níveis desejáveis <4,0 mmol/L (≤155 mg/dL) ( Cap. 18). Ele também fumava 15 cigarros por dia. Foi então aconselhado a parar de fumar, e prescrita uma estatina. Ele tolerou bem a terapia e três meses depois seu colesterol era de 5,5 mmol/L (212 mg/dL). A dose de estatina foi aumentada e após mais três meses sua concentração de colesterol era de 4,1 mmol/L (158 mg/dL). Comentário. A inibição parcial da HMG-CoA redutase levou a uma redução do colesterol plasmático total em cerca de 30-50% e do LDL-colesterol em 30-60%. Uma variedade de estatinas está agora disponível: elas seguem a descoberta original de que a compactina (posteriormente renomeada para mevastatina), um metabólito de fungo isolado do Penicillium citrinun, tinha propriedades inibitórias da HMG-CoA redutase. A inibição na atividade da HMG-CoA redutase leva a uma redução na concentração intracelular de colesterol e um consequente aumento da expressão do receptor apo B/E ( Cap. 18) e à redução no LDL-colesterol plasmático. Assim, o colesterol intracelular livre pode ou ser derivado das lipoproteínas ou ser recém-sintetizado dentro da célula. Estas duas fontes de fornecimento estão reciprocamente relacionadas. Um fator-chave regulando a síntese celular de colesterol é a sua concentração intracelular. O aumento da concentração intracelular de colesterol livre resulta no seguinte (Fig. 17.7): uma redução em ambas as atividades e expressão da HMG-CoA redutase, limitando mais síntese de colesterol. regulação negativa dos receptores de LDL, limitando mais entrada celular de colesterol. aumento no efluxo de colesterol e fosfolipídeo da célula para as apoproteínas A. aumento na taxa de conversão de colesterol para ácidos biliares e então sua excreção. Fig. 17.7 Regulação da concentração intracelular de colesterol. O colesterol livre (e os oxisteroides) regula a concentração intracelular de colesterol pela ligação com receptores nucleares e induzindo ou suprimindo a expressão de genes. Lembre que o aumento na concentração intracelular de colesterol irá suprimir a síntese da HMG-CoA redutase e do receptor ApoB/E e também aumentar a esterificação de colesterol e seu transporte das células. FFA: ácidos graxos livres; AcCoA: acetil coenzima A; LXR: receptor X do fígado; SREBP: proteína ligante do elemento regulador de esteróis. O DESVIO PARA TRANSMETILGLUTACONATO O dimetilalil pirofosfato, uma das unidades isopreno formadas a partir do mevalonato ( Fig. 17.4 ), pode ser desfosforilado e quebrado em acetoacetato e acetil-CoA, que podem então ser desviados para outras vias, tais como a biossíntese de ácidos graxos. Este mecanismo é conhecido como o desvio transmetilglutaconato. Assim, compostos de alta energia, uma vez destinados a serem convertidos em colesterol, podem ser alterados para satisfazer necessidades de maior prioridade. Incidentalmente, um aumento na síntese de ácidos graxos irá aumentar a quantidade de substrato para a esterificação do colesterol. DEFEITO NA BIOSSÍNTESE DE COLESTEROL (INCIDÊNCIA DE 1 EM 20.000-40.000) A síndrome de Smith-Lemli-Opitz se apresenta ao nascimento com microcefalia, seio nasal curto, queixo pequeno, palato arcado alto e frequentemente com fissura na linha média. Frequentemente é acompanhada por defeitos no sistema nervoso central (CNS), polidactilia e, em homens, genitália ambígua. A despeito da via de síntese e metabolismo do colesterol ser bem compreendida, um defeito na 7-desidrocolesterol redutase só foi identificado em 1993. Enquanto algumas dessas crianças morrem na infância, o restante, se assistidos na sua alimentação, sobrevive com retardo mental severo (QI 20-40). A maioria desenvolve retardo no crescimento. A patofisiologia envolve processamento incompleto das proteínas embrionárias de sinalização (proteínas HH), resultando em defeitos variáveis em diferentes tecidos. O tratamento envolve administração adicional de colesterol à criança. Isto melhora o crescimento, mas parece não ter benefícios no CNS, devido à microcefalia embrionária e a outros defeitos no CNS. Regulação da concentração intracelular de colesterol envolve a HMG-CoA redutase, o receptor de LDL, a 7α-hidroxilase e uma rede de receptores nucleares Os receptores X do fígado (LXR) são fatores de transcrição ativados por ligantes que são membros da superfamília de receptores nucleares ( Cap. 40). Eles formam heterodímeros com outras moléculas similares, tais como receptores X de retinoides (RXRs) e os receptores X de farnesil (FXR). Os complexos resultantes se ligam aos elementos de resposta LXR no DNA regulando a expressão gênica. O LXR detecta a concentração intracelular de colesterol e regula sua síntese e seu efluxo das células. Curiosamente, não é o próprio colesterol que se liga ao LXR, mas oxiesteroides, metabólitos do colesterol, tais como o 25-hidroxicolesterol ou o 27-hidroxicolesterol (Fig. 17.1). A ativação do LXR pelo ligante resulta em regulação positiva da síntese dos fatores de transcrição conhecidos como proteínas ligantes de elementos reguladores de esteroides (SREBPs). Os SREBPs são sintetizados como precursores integrais para a membrana do retículo endoplasmático. Eles são clivados por uma protease para liberar os fatores de transcrição ativos, que se translocam para o núcleo e iniciam a transcrição (Fig. 17.7). Existe uma outra molécula intermediária, a proteína ativadora da quebra de SREBP (SCAP) que possui um domínio sensor de esteroides e carreia o precursor SREBP para a sua protease ativa. Este passo é regulador porque é bloqueado pelos esteroides. Assim, quando a concentração intracelular de colesterol está alta, os genes de transcrição associados com a síntese do colesterol são reprimidos. Por outro lado, quando os esteroides estão ausentes, o complexo SCAP/SREBP alcançam a protease e a transcrição se inicia. As SREBPs agem nas regiões promotoras dos genes da HMG-CoA redutase, da HMG-CoA sintase e do receptor de LDL. Além da repressão da síntese intracelular de colesterol, sua concentração aumentada no hepatócito induz também, via LXR, genes que codificam para os transportadores de colesterol que controlam seu efluxo das células para as partículas de HDL. Isto inclui a expressão de ABCA1 (um transportador que controla o efluxo de colesterol das células para o HDL nascente) e de ABCG1 (um transportador que estimula o efluxo de colesterol para HDL2 e HDL3 mais maduras; Cap. 18). Note que o fator de transcrição PPARγ também age através do LXR regulando o efluxo de colesterol (Cap. 18). Finalmente, a alta concentração intracelular de colesterol, também através de uma das SREBPs, induz as enzimas que catalisam a síntese de ácidos graxos, fornecendo substratos para a esterificação do colesterol. ÁCIDOS BILIARES O fígado remove o colesterol ou em forma livre ou como ácidos biliares Quantitativamente, os ácidos biliares são os produtos metabólicos do colesterol mais importantes. No homem, existem quatro principais ácidos biliares (Fig. 17.8). Todos eles têm 24 átomos de carbono com os três átomos de carbono terminais da cadeia lateral do colesterol sendo removidos durante a síntese. Eles também têm um núcleo esteroide saturado e diferem somente no número e posição dos grupos hidroxila adicionais. Todos estes grupos hidroxila têm a configuração α (abaixo do plano do núcleo) e isto significa que a isomerização do grupo hidroxila 3β do colesterol deva ocorrer. Fig. 17.8 Estrutura dos ácidos biliares. Os ácidos biliares primários são sintetizados no fígado, e os ácidos biliares secundários no intestino. Os ácidos biliares são sintetizados no fígado A biossíntese dos ácidos biliares ocorre nas células parenquimatosas do fígado, onde os ácidos cólico e quenodes oxicólico são produzidos. Eles são conhecidos como os ácidos biliares primários. O passo limitante na biossíntese é a enzima microssomal 7α-hidroxilase (também designada como CYP7A1), queintroduz um grupo hidroxil na posição 7 α do anel do colesterol. Ela é uma mono-oxigenase microssomal que consiste de citocromo P-450 e necessita de NADPH e oxigênio molecular. Antes da sua secreção, os ácidos biliares primários são conjugados através do grupo carboxila, formando ligações amida com glicina ou taurina (Fig. 17.8). No homem, existe uma razão 3:1 em favor dos conjugados de glicina. Os produtos secretados são assim, principalmente os ácidos glicocólico, glicoquenodesoxicólico, taurocólico e tauroquenodesoxicólico. No pH fisiológico, os ácidos biliares estão principalmente ionizados, assim eles ocorrem como sais de sódio ou potássio. Os termos “ácidos biliares” e “sais biliares” são usados intercambiavelmente. Como seus nomes sugerem, estes compostos são secretados a partir do fígado, via canalículos biliares e ductos biliares maiores, ou diretamente no duodeno ou armazenados na vesícula biliar. Eles são importantes componentes da bile junto com água, fosfolipídeos, colesterol e produtos excretórios, tais como a bilirrubina. O colesterol é bombeado para a bile pelas proteínas ABCG5 e ABCG8, cuja expressão é regulada pelo LXR (ver anteriormente). Importante, a bile saturada com colesterol facilita a formação de pedras de colesterol na vesícula. CÁLCULOS BILIARES Uma mulher de 45 anos de idade se queixa de dor abdominal no quadrante superior direito e vômitos após alimentos gordurosos. A única anormalidade bioquímica foi um aumento moderado na fosfatase alcalina para 400 U/L (<260 U/L). Entretanto, um ultrassom abdominal mostrou que a vesícula biliar continha cálculos biliares. Ela foi encaminhada ao cirurgião. Comentário. Os cálculos biliares ocorrem em até 20% da população dos países do ocidente. A condição resulta da formação de pedras ricas em colesterol dentro da vesícula biliar. O colesterol está presente em altas concentrações na bile, estando solubilizado em micelas que também contêm fosfolipídeos e ácidos biliares. Quando o fígado secreta a bile com uma razão colesterol para fosfolipídeo maior do que 1:1, torna-se difícil solubilizar todo o colesterol nas micelas; assim, existe uma tendência para o excesso se cristalizar em torno de qualquer núcleo insolúvel. Isso é reforçado por maior concentração da bile na vesícula biliar que ocorre como resultado da reabsorção de água e eletrólitos. A condição pode ser controlada cronicamente através da redução do colesterol da dieta e aumento da disponibilidade de ácidos biliares que irão auxiliar na solubilização do colesterol na bile e excreção via intestinos. O tratamento alternativo inclui a desintegração das pedras por ondas de choque (litotripsia) e cirurgia. A fosfatase alcalina elevada é um marcador da colestase (Cap. 29). Os receptores X participam na síntese e secreção de bile Os receptores X coordenam a expressão de vários genes relevantes para a excreção de colesterol incluindo a expressão da colesterol 7 α-hidroxilase. A excreção de colesterol para a bile também é regulada por outros receptores nucleares. O receptor X de farnesil (FXR) se heterodimeriza com o receptor X de retinoides e se liga aos elementos de resposta do ácido biliar no DNA. O FXR age como sensor celular do ácido biliar através da ligação do ácido biliar e suprimindo suas sínteses. O FXR também induz a bomba de exportação de ácido biliar ABCBII que remove os ácidos biliares do hepatócito para a bile. Os ácidos biliares secundários são formados no intestino Os ácidos biliares secundários se formam dentro do intestino pela ação de bactéria anaeróbica (principalmente Bacteroides) nos ácidos biliares primários. Eles são os ácidos desoxicólico e litocólico ( Fig. 17.8). Somente uma proporção dos ácidos biliares primários é convertida em ácidos biliares secundários. Isto necessita de hidrólise da ligação amida à glicina ou taurina antes da remoção do grupo 7α-hidroxila. Os ácidos biliares ajudam na digestão da gordura da dieta A secreção de bile a partir do fígado e o esvaziamento do ducto biliar são controlados pelos hormônios gastrointestinais hepatocrinina e colecistocinina, respectivamente. Eles são liberados quando o alimento parcialmente digerido passa do estômago para o duodeno. Uma vez secretados no intestino, os ácidos biliares agem como detergentes (eles possuem grupos polares carboxila e hidroxila), auxiliando na emulsificação dos lipídeos digeridos; isto ajuda a digestão enzimática e a absorção da gordura da dieta (Cap. 10). Os ácidos biliares recirculam via circulação êntero-hepática Até 30 g de ácidos biliares passam do ducto biliar para dentro do intestino a cada dia, mas somente 2% disto (aproximadamente 0,5 g) são perdidos pelas fezes. A maioria seria desconjugada e reabsorvida. A reabsorção passiva dos ácidos biliares ocorre no jejuno e cólon, mas a maioria tem lugar no Íleo por transporte ativo. Os ácidos biliares reabsorvidos são transportados no sangue via a veia portal ligados não covalentemente à albumina e são novamente secretados na bile. O processo é conhecido como circulação êntero-hepática. A reabsorção intestinal explica por que a bile contém ambos os ácidos biliares primários e secundários. O conjunto total de ácidos biliares é de somente 3 g, e por este motivo eles têm de recircular 5-10 vezes ao dia. Este fluxo de ácido biliar também contribui para o controle da síntese de ácidos biliares; a 7 α-hidroxilase está sob controle por retroalimentação pela quantidade de ácidos biliares que retornam ao fígado através da veia porta. Os ácidos biliares da dieta também reduzem a expressão da 7 α-hidroxilase. O metabolismo dos ácidos biliares está resumido na Figura 17.9. Fig. 17.9 Circulação êntero-hepática dos ácidos biliares. Para a estrutura dos ácidos biliares primários e secundários, veja a Figura 17.7. O colesterol é excretado nas fezes Assim, existe um considerável fluxo de colesterol do fígado para a bile e então para o duodeno. Cerca de 1 g de colesterol é eliminado do corpo a cada dia através das fezes. Aproximadamente 50% disto são excretados como ácidos biliares e o restante como os esteroides neutros isoméricos saturados coprostanol (5 β-) e o colestanol (5α-) produzidos pela redução bacteriana da molécula de colesterol. A colestiramina é uma resina ligante de ácido biliar que tem sido usada para reduzir o colesterol plasmático A colestiramina é um fármaco que interrompe a circulação êntero-hepática de ácidos biliares. Ela leva a um aumento na atividade da 7 α-hidroxilase, síntese aumentada de ácidos biliares e excreção aumentada de ácidos biliares. Consequentemente existe uma síntese aumentada de colesterol e uma expressão aumentada do receptor de LDL. A colestiramina foi um dos primeiros agentes efetivos e redutores de colesterol, mas tem sido substituída pelas estatinas. O mais novo fármaco redutor de lipídeo que age no intestino é o azetimibe, mencionado anteriormente. HORMÕNIOS ESTEROIDES O colesterol é o precursor de todos os hormônios esteroides Os mamíferos produzem muitos hormônios esteroides, alguns dos quais diferem somente por uma dupla ligação ou pela orientação de um grupo hidroxila. Consequentemente foi necessário o uso de nomenclatura sistemática para detalhar as estruturas exatas. Existem três grupos de hormônios esteroides ( Fig. 17.10). Os corticosteroides têm 21 átomos de carbono na estrutura básica do anel de pregnano. A perda dos dois átomos de carbono restantes da cadeia lateral do colesterol produz o anel androstano e o grupo de hormônios conhecidos como androgênios. Finalmente, a perda adicional do grupo metila angular no átomo de carbono 19 como parte da aromatização do anel A resulta na estrutura estrano encontrada nos estrogênios. A presença e posição de duplas ligações e a posição e orientação do grupo hidroxila ou outros grupos funcionais no núcleo básico são características particulares de cada hormônio. Fig. 17.10 Estrutura e nomenclatura dos hormôniosesteroides humanos mais importantes. São mostrados seus nomes triviais e sistemáticos (em parênteses). Para a numeração dos átomos em uma molécula esteroide (Fig. 17.1 e Cap. 39). A MEDIDA DE ESTEROIDES POR CROMATOGRAFIA GASOSAESPECTROMETRIA DE MA (GC/MS) No laboratório de endocrinologia clínica, a medida dos metabólitos esteroides urinários ajuda no diagnóstico de um número de distúrbios herdados da síntese e metabolismo de esteroides adrenais e tumores produtores de esteroides. Isto é particularmente valioso na identificação do local do defeito na hiperplasia adrenal congênita. Estas investigações são mais frequentemente realizadas em neonatos com genitália ambígua, crianças com puberdade precoce e em pacientes com suspeita de síndrome de Cushing ( Cap. 39). As anormalidades na síntese de esteroides são reveladas por uma alteração no padrão dos metabólitos esteroides urinários. A técnica usada é a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC/MS); ela é muito similar ao método adotado para a identificação de esteroides anabolizantes no esporte. Os metabólitos esteroides são excretados na urina principalmente como conjugados com sulfato ou ácido glicurônico hidrossolúveis. O primeiro passo na análise envolve a liberação enzimática dos esteroides de seus conjugados; isso é seguido por derivatização química para aumentar suas estabilidades e melhorar a separação, que é realizada por cromatografia de gás em colunas capilares a altas temperaturas. A detecção final é por fragmentação de massa: para cada metabólito esteroide, um único padrão de fragmentação iônica é obtido, o que permite a identificação positiva e a quantificação. DEFICIÊNCIA DE ESTEROIDE 21-HIDROXILASE Uma criança nasceu com genitália ambígua. Dentro de 48 horas a criança estava hipotensa e em sofrimento. A investigação bioquímica revelou: Na+ 115 mmol/L (135-145 mmol/L) K+ 7,0 mmol/L (3,5-5,0 mmol/L) 17-hidroxiprogesterona 550 nmol/L (<50 nmol/L) Comentário. Este neném tem uma forma severa de deficiência de esteroide 21-hidroxilase, a mais comum de um grupo de condições caracterizadas por defeitos na atividade de uma das enzimas da via esteroidogênica, conhecida como hiperplasia adrenal congênita. A condição tem uma origem genética e leva à falência na produção de cortisol (e possivelmente também aldosterona). Isto resulta em inibição reduzida na retroalimentação negativa na produção de ACTH pela pituitária. O ACTH continua a estimular a glândula adrenal a produzir esteroides anteriores ao bloqueio da enzima. Os esteroides incluem a 17-hidroxiprogesterona, que é ainda metabolizada à testosterona ( Fig. 17.10). Isto resulta em androgenização de uma recém-nascida menina. A deficiência de mineralocorticoide causa eliminação renal de sal e necessita de tratamento urgente com esteroides e fluidos. A terapia de manutenção de longo prazo com hidrocortisona e mineralocorticoides suprime a produção de ACTH e androgênios. Uma forma menos severa desta condição, uma deficiência parcial da enzima, ocorre em mulheres jovens que apresentam irregularidade menstrual e hirsutismo como consequência do excesso de androgênios adrenais. Biossíntese dos hormônios esteroides A conversão do colesterol em hormônios esteroides ocorre somente em três órgãos: o córtex adrenal, os testículos nos homens e o ovário nas mulheres. Uma simplificação usada na prática é se considerar os corticosteroides como produtos do córtex adrenal, androgênios como os produtos dos testículos e estrogênios como produtos do ovário. Uma via simplificada da síntese dos esteroides é mostrada na Figura 17.11 (Cap. 39). A atividade relativa das enzimas esteroidogênicas em cada um desses três órgãos determina o principal produto secretado; entretanto, isto não é regra e todos os três órgãos são capazes de secretar pequenas quantidades dos esteroides pertencentes aos outros grupos. Em situações patológicas, tais como um defeito na esteroidogênese ou um tumor secretor de esteroides, um padrão muito anormal de secreção de esteroides pode ocorrer. Fig. 17.11 Via biossintética de esteroides. Note como a via se ramifica a partir do colesterol, levando circunstancialmente à síntese de mineralocorticoides (p. ex., aldosterona), glicocorticoides (cortisol), androgênios (testosterona) e estrogênios (estradiol). As enzimas mono-oxigenases citocromo P-450 controlam a esteroidogênese A maioria das enzimas envolvidas na conversão do colesterol em hormônios esteroides são as proteínas do citocromo P-450, que necessitam de oxigênio e NADPH. Em sua forma mais simples, este complexo enzimático catalisa a substituição de uma ligação carbono-hidrogênio com uma ligação carbono-hidroxila; por isso, o termo coletivo ser mono-oxigenase. A hidroxilação dos átomos de carbono adjacentes é o precursor da quebra da ligação carbono-carbono. A comparação da estrutura do colesterol ( Fig. 17.2) com aquelas dos hormônios esteroides ( Fig. 17.10) demonstra que a via biossintética é amplamente realizada pela quebra de ligações carbono-carbono e reações de hidroxilação. As enzimas envolvidas têm suas próprias nomenclaturas nas quais o símbolo CYP é seguido por um sufixo específico. Assim, CYP21A2 se refere à enzima que hidroxila o átomo de carbono 21 (Cap. 29). Corticosteroides A subestrutura celular do córtex adrenal é organizada em três camadas. As duas camadas internas ( zona fasciculata e zona reticularis) são responsáveis pela síntese de cortisol (o principal glicocorticoide) e androgênios adrenais. A camada externa (zona glomerulosa) é responsável pela síntese da aldosterona, o principal mineralocorticoide ( Cap. 23). Embora muitas das etapas sejam similares, elas são controladas por mecanismos muito diferentes. A biossíntese do cortisol depende da estimulação pelo hormônio pituitário adrenocorticotrófico (ACTH) que se liga ao seu receptor de membrana e dispara um grupo de eventos intracelulares que causam a hidrólise dos ésteres de colesterol armazenados em gotículas de lipídeos e a ativação da enzima colesterol 20,22-desmolase que converte o C-27 colesterol em pregnenolona, a primeira da família C-21 pregnana dos corticoides. Esta é a etapa velocidade limitante da esteroidogênese. Depois disso, a conversão do cortisol necessita da desidrogenação-isomerização e três reações sequenciais de hidroxilação em C-17, -21 e -11, sob o controle das enzimas CYP. O controle da velocidade de biossíntese de cortisol é obtido por retroalimentação negativa pelo cortisol na secreção de ACTH (Cap. 39). O principal estímulo para a síntese de aldosterona não é o ACTH, mas a angiotensina II ( Cap. 23). O potássio é um importante estímulo secundário. A angiotensina II, por ligação ao seu receptor, e o potássio trabalham cooperativamente para ativar a primeira etapa da via: a conversão de colesterol em pregnenolona. A zona glomerulosa carece de 17 α-hidroxilase, mas tem quantidades abundantes da 18-hidroxilase que catalisa a primeira reação de dois estágios, formando o grupo 18- aldeído encontrado na aldosterona. Androgênios A conversão dos corticoides em androgênios necessita da 17-20 liase/desmolase e um substrato que contém o grupo 17 α- hidroxila. Isto estimula a adição de um grupo 17α-hidroxila antes da quebra da ligação C17-C20 para produzir a estrutura do anel androstano. Esta enzima é abundante nas células de Leydig dos testículos e nas células da granulosa do ovário. Nesses casos, entretanto, a etapa limitante na quebra da cadeia lateral do colesterol é estimulada pelo hormônio luteinizante (LH) nos testículos e pelo hormônio folículo estimulante (FSH) nos ovários. Assim, em dois tecidos diferentes o mesmo passo biossintético é controlado por dois hormônios diferentes. Estrogênios A conversão dos androgênios em estrogênios envolve a remoção do grupo metila em C-19 pela 19-aromatase (Fig. 39.7). O anel A passa por duas desidrogenações como parte dareação, produzindo o núcleo 1,3,5(10)-estratrieno característico. Esta aromatase é mais abundante nas células da granulosa do ovário, embora a enzima do tecido adiposo também possa converter alguma testosterona em estradiol. As ações biológicas dos hormônios esteroides são diversas e são melhor consideradas como pertencentes ao sistema de hormônios trópicos. Esse sistema é descrito no capítulo 39. Muitos defeitos genéticos foram identificados na estrutura das enzimas CYP – estes defeitos levam à biossíntese anormal de esteroides e a distúrbios clínicos, tais como hiperplasia adrenal congênita. Mecanismo de ação e eliminação dos hormônios esteroides Os hormônios esteroides agem via receptores nucleares Todos os hormônios esteroides agem pela ligação aos receptores nucleares ativados por ligante. Os receptores de hormônios esteroides pertencem à superfamília de receptores hormonais, que incluem os receptores para o hormônio T3 da tireoide e as formas ativas das vitaminas A e D ( capítulo 40). A especificidade de cada receptor é alcançada através das diferentes cavidades hidrofóbicas em um pequeno domínio ligante de hormônio. Adjacente ao domínio ligante de hormônio está um domínio ligante de DNA altamente conservado, que é caracterizado pela presença de dois zinc fingers (Fig. 34.3). A ligação do esteroide facilita a translocação do receptor ativado para o núcleo e à ligação a um elemento específico de resposta ao esteroide nas regiões promotoras dos genes-alvo, levando à transcrição ( Cap. 34). A variabilidade genética na estrutura dos receptores esteroides pode transmitir um grau variável de resistência hormonal e diversas apresentações clínicas. As ações biológicas dos hormônios esteroides são melhor consideradas como parte do sistema de hormônios trópicos descrito no capítulo 39 . Os hormônios esteroides são excretados na urina A maioria dos hormônios esteroides é excretada pelos rins. Existem duas vias principais neste processo. Primeiro, a potência biológica do esteroide tem que ser removida e isto é conseguido por uma série de reações de redução. Segundo, a estrutura esteroide tem que se tornar hidrossolúvel, conseguido pela conjugação a um grupo glicuronídio ou sulfato, geralmente através do grupo hidroxila em C-3. Como resultado, muitos conjugados de hormônios esteroides diferentes estão presentes na urina, alguns em altas concentrações. Os esteroides urinários analisados por cromatografia gasosa- espectrometria de massa identificam tipicamente mais de 30 de tais esteroides, e suas concentrações relativas podem ser usadas para localizar defeitos específicos na via esteroidogênica (Fig. 17.12). Fig. 17.12 Separação dos esteroides urinários realizada por espectrometria de massa. Este cromatograma de um teste clínico ilustra um padrão de metabólitos esteroidais urinários de um paciente com uma variante de deficiência da 21-hidroxilase de uma hiperplasia adrenal congênita. Nessa condição, os metabólitos esteroides mais evidentes são a 17-hidroxipregnenolona, o pregnanotriol e o 11-oxopregnanotriol. Eixo-x, tempo em minutos, no qual os metabólitos esteroides cromatograficamente separados são detectados pelo espectômetro de massa; eixo-y, abundância relativa (quantidade de Íons). VITAMINA D3 A vitamina D3 (colecalciferol) também é derivada do colesterol e tem um papel-chave no metabolismo do cálcio. A vitamina D e seus metabólitos são descritos no capítulo 25. Resumo O colesterol é um constituinte vital das membranas celulares e a molécula precursora dos ácidos biliares, hormônios esteroides e vitamina D. O colesterol é derivado da dieta e também é sintetizado de novo a partir da acetil-CoA. A biossíntese do colesterol é finamente regulada. A enzima limitante de sua síntese é a HMG-CoA redutase. O metabolismo do colesterol em ácidos biliares e hormônios esteroides envolve várias reações de hidroxilação catalisadas pelas enzimas mono-oxigenases citocromo P-450. Várias doenças estão associadas com anormalidades na regulação da homeostasia do colesterol ou seu metabolismo. QUESTÕES DE APRENDIZADO 1. Descreva a regulação da concentração intracelular do colesterol. 2. O que são os ácidos biliares secundários e como eles são produzidos? 3. Discuta a circulação êntero-hepática dos ácidos biliares. 4. Discuta o papel das mono-oxigenases na síntese dos esteroides. Leituras sugeridas Charlton-Menys V, Durrington PN. Human cholesterol metabolism and therapeutic molecules. Exp Physiol. 2007;93:27-42. Janowski BA, Willy PJ, Devi TR, Falck JR, Mangelsdorf DJ. An oxysterol signaling pathway mediated by the nuclear receptor LXRa. Nature. 1996;383:728-731. Marcil M, Brooks-Wilson A, Clee SM, et al. Mutations in the ABC1 gene in familial HDL deficiency with defective cholesterol efflux. Lancet. 1999;354:1341-1346. Ory DS. Nuclear receptor signaling in the control of cholesterol homeostasis. Circ Res. 2004;95:660-670. Sakai J, Rawson RB. The sterol regulatory element-binding protein pathway: control of lipid homeostasis through regulated intracellular transport. Curr Opin Lipidol. 2001;12:261-266. Vegiopoulos A, Herzig S. Glucocorticoids, metabolism and metabolic diseases. Mol Cell Endocrinol. 2007;275:43-61.
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