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Laudas para leitura PROCESSO PENAL I - PROFESSOR ABILIO

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Arrazoados de Direito Processual Penal –I 
PROFESSOR: ADRIANO CONCEIÇÃO ABÍLIO 
 
 
 
CONCEITO 
 
Pode-se, pois, definir o Direito Processual Penal, nos seguintes 
termos : o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação 
jurisdicional do Direito Penal objetivo, bem como as atividades 
persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função 
jurisdicional e respectivos auxiliares. ( José Frederico Marques ) – citado 
por Fernando da Costa Tourinho Filho. 
 
 
AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
O Direito Processual Penal é ciência autônoma no campo da 
Dogmática Jurídica, uma vez que tem objeto e princípios que lhe são 
próprios. A sua designação científica atual ( Direito Processual Penal ) bem 
demostra essa sua autonomia, ao revés do que antes sucedia, quando se 
falava pura e simplesmente em processo penal. ( Francesco Carnelutti ). 
 
 Em face dessa autonomia, não se pode falar em “Direito adjetivo”. É 
certo que, até hoje, muitos autores, quando se referem ao Direito 
Processual, usam expressões como estas: “Direito adjetivo”, “Direito 
acessório”. Por que “Direito acessório” ? Decerto por existir um Direito 
principal. Seria o Direito Penal o principal ? Não havendo Direito Penal, o 
Processo Penal não teria razão de ser. Por outro lado, existindo o Direito 
Penal, sem o Direito Processual, aquele seria de pouca valia, pois nenhuma 
pena pode ser imposta senão por meio do due process of law. Difícil, pois, 
dizer-se qual dos dois é o principal. Ambos são importantes. O que se pode 
e se deve afirmar é que ambos se completam e nenhum deles é inferior em 
relação ao outro. Por igual razão não se deve falar em “Direito adjetivo”, 
emprestando a tal expressão um sentido de inferioridade ou de 
subordinação. 
 
A propósito, o ensinamento de Niceto Alcalà-Zamora Y Castilho: 
“ adjetivo, sólo se puede aceptar en cuanto exprese contraste frente al 
Derecho material o substantivo, mas en maneira alguma si se quiere 
significar que el Derecho procesal sea de rango jurídico inferior ” ( cf. 
Derecho, cit., v. 1, p.35 ). 
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INSTRUMENTALIDADE DO DIREITO PROCESSUAL 
 
 Não se pode negar o caráter instrumental do Direito Processual, 
porquanto constitui ele um meio, o instrumento para fazer atuar o Direito 
Penal ( material ). 
 
No que concerne ao Direito Processual Penal propriamente, mais 
clara se apresenta tal instrumentalidade, uma vez que não sendo o Direito 
Penal de coação direta, e uma vez que o Estado autolimitou o seu jus 
puniendi, não se concebe aplicação de pena sem processo. Os princípios do 
nulla poena sine judice e nulla poena sine judicio, elevados à categoria de 
dogma constitucional ( artigo 5º, LIII da CF ), e segundo os quais nenhuma 
pena poderá ser imposta senão pelo Órgão Jurisdicional e por meio do 
regular processo, impedem a aplicação da sanctio juris (sanção legal) sem 
o devido processo. 
 
No campo civil é possível um entendimento entre os litigantes, de 
molde a sair vitorioso o titular do direito lesado, sem que haja necessidade 
da via processual. Desde que não estejam em jogo interesses indisponíveis 
( anulação de casamento, p. ex. ), podem os litigantes, por meio de 
autocomposição, solucionar seus conflitos. No campo penal, não se pode 
conceber a aplicação da sanctio juris senão por meio do processo. Nem 
mesmo naquelas hipóteses de ação penal de iniciativa privada, em que o jus 
persequendi in judicio (direito de reclamar, de exigir, de reivindicar) foi 
transferido para o particular, será possível a inflição de pena sem o devido 
processo. Possível será um acordo entre querelante e querelado no que 
tange ao ressarcimento do dano ex delicto (por delito, em virtude de delito), 
nunca, porém, um ajuste no sentido de o autor do fato típico submeter-se a 
uma pena sem processo. 
 
FINALIDADE 
 
Sua finalidade, em suma, é a de tornar realidade o Direito Penal. 
Enquanto este estabelece sanções aos possíveis transgressores das suas 
normas, é pelo Processo Penal que se aplica a sanctio juris, porquanto toda 
pena é imposta “processualmente”. Assim, não constitui o Processo Penal 
nem uma discussão acadêmica para resolver, in abstrato, um ponto 
controvertido de Direito nem um estudo ético tendente à reprovação da 
conduta moral de um indivíduo. Seu objetivo é eminentemente prático, 
atual e jurídico e se limita à declaração de certeza da verdade, em relação 
ao fato concreto e à aplicação de suas conseqüências jurídicas. 
 
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EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA 
 
 
 De acordo com o seu desenvolvimento científico, os historiadores 
dividem o Direito Processual Penal em dois períodos : 
 
No Primeiro período os doutrinadores identificam as seguintes 
fases : 
 
 Dos glosadores – estes limitaram-se a breves notas de interpretação ao 
Direito Romano Imperial ( Justiniano ). Deve-se ressaltar o mérito de 
haver iniciado, para o processo penal, o adequado tratamento jurídico, 
lançando assim os alicerces da doutrina processual penal. 
 
 Dos Pós-glosadores – estes desenvolveram o sistema de glosas 
( criticar, comentar, anotar ), passando aos comentários, ainda com base 
no direito romano, em estudos conjuntos com o direito processual civil. 
 
 Dos Práticos – estes passaram à exposição sistemática, ainda com 
caráter precário, mas numa ordem mais organizada de exposições que se 
elevavam ao plano das questões gerais. 
 
 Dos Precursores – estes surgem em meados do século XVIII, onde uma 
transformação notável se vai operando nas idéias, um espírito de 
reforma vai procurando harmonizar a legislação criminal com princípios 
de justiça e humanidade. Prepara-se, desta forma, a renovação estrutural 
dos princípios políticos informadores da Justiça Penal, que a Revolução 
Francesa acabaria consagrando. 
 
 
 
No Segundo período, iniciado após o Código de Processo Criminal, 
promulgado na França em 1808 ( Código Napoleônico ), surgem os estudos 
mais completos a respeito do processo penal, possibilitando um novo surto 
de progresso, ou seja, distanciado do direito material, caracterizando assim, 
a época do procedimentalismo com estudos descritivos e fragmentados de 
seus institutos particulares. Anote-se, sobretudo, as obras de Francesco 
Carrara como elaborador doutrinário. 
 
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EVOLUÇÃO EM RELAÇÃO AO BRASIL 
 
 
Período Colonial 
 
 Quando o Brasil foi descoberto estavam em vigor em Portugal as 
Ordenações Afonsinas, em honra de Afonso V, que foram publicadas em 
1446 e vigoraram até 1520. 
 
 Em 1521, no reinado de D. Manuel, o Venturoso, nova codificação 
foi empreendida, vigorando assim as Ordenações Manuelinas. O Código 
Manuelino foi o primeiro Código impresso na Europa e vigorou até 1603, 
sendo que no seu Livro V estava disciplinado o Direito ( delitos e sanções ) 
como também o Processo Penal. Havia pouca vida na colônia e, por isso, 
esse Código foi pouco usado. 
 
 Com a batalha de Alcácer Quibir, travada entre portugueses e 
mouros, em Marrocos, morre o rei D. Sebastião, de Portugal, sem deixar 
descendentes, passando o trono português a ser ocupado, dois anos depois, 
pelo rei de Castela, Felipe II, que mandou promulgar, em 1603, as 
Ordenações Filipinas, que vigoraram até 1830, tendo sido muito utilizada. 
 
 Durante o regime imperial, quem mais contribuiu para o 
desenvolvimento da doutrina penal foi Pimenta Bueno. 
 
Brasil Império 
 
 As idéias liberais que se propagavam na Europa no século XVIII 
repercutiram na justiça penal, exigindo várias reformas humanitárias. Além 
dos movimentos liberais,como o da independência dos Estados Unidos e o 
da Revolução Francesa, bem como as obras dos escritores do Iluminismo, 
como Rousseau (O contrato social), Montesquieu (Espírito das Leis), e 
outros, também influenciaram as reformas ocorridas. 
 
 Proclamada nossa independência, tratou-se de dotar o País de uma 
legislação própria; mas, antes que isso ocorresse, D. Pedro I, por Lei de 
1823, mandou que se continuasse aplicando as Ordenações Filipinas. Nossa 
primeira Constituição, a Constituição Política do Império, de índole liberal 
para a época, é promulgada em 25 de março de 1824. 
 
 
 
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Só em 1832 é que tivemos o primeiro Código de Processo Criminal, 
inspirado no Código Napoleônico, sendo previsto o habeas corpus. 
 
 
 Em 1841 foi ele modificado, para fortalecer o Governo, alterando o 
critério de escolha dos juízes e promotores, conferindo, à autoridade 
policial, atribuições judiciárias para formação de culpa e pronúncia. Só 
desapareceu em 1871. 
 
 
Período Republicano 
 
 
 Proclamada a República, com a promulgação da Constituição de 24 
de fevereiro de 1891, tendências inovadoras surgiram, ficando as garantias 
processuais revigoradas; o habeas corpus transformou-se em garantia 
constitucional, mas a grande inovação foi a quebra da unidade processual 
para o território nacional, dando a cada Estado competência para legislar 
sobre o processo criminal e o civil, instaurando-se a pluralidade processual, 
porém, nem todos os Estados tiveram o seu processo, sendo que muitos, 
inclusive o Estado de São Paulo, continuaram regendo-se pelas leis do 
Império. 
 
 
 Com a revolução de 1930, o regime pluralista foi mantido. Todavia, 
promulgada a Constituição de 16 de julho de 1934, restaurou-se a unidade 
processual que existia ao tempo do Império, e que vem sendo mantida até 
hoje. 
 
 
 Após a Constituição de 1934 foi nomeada uma Comissão para 
elaborar um projeto de Código de Processo Penal, o que foi feito em 1935, 
com Exposição de Motivos do Ministro da Justiça Vicente Ráo, que 
apresentou, como maior inovação, a supressão do Inquérito Policial e a 
adoção do Juizado de Instrução, questão esta que tem provocado debates 
até hoje. 
 
 
 
 
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 Mas, com a Constituição outorgada com o golpe de 10 de novembro 
de 1937, foi impedida a discussão e aprovação do projeto apresentado, 
ficando, assim, restabelecido o regime de unidade processual e mantido o 
inquérito policial, ungindo (marcando*) a elaboração de um Código de 
Processo Penal. 
 
 
 Após o golpe, nova Comissão foi nomeada para apresentar um 
projeto de Código de Processo para todo o País; dela faziam parte Narcélio 
de Queirós, Florêncio de Abreu, Cândido Mendes, Vieira Braga, Roberto 
Lyra e Nélson Hungria. 
 
 
 Esse projeto converteu-se no atual Código de Processo Penal, através 
do Decreto-Lei n. 3.689, de 03 de outubro de 1941, em vigor desde 1º de 
janeiro de 1942, com algumas alterações, e que até hoje vigora. 
 
 
 Durante a República, o maior processualista foi João Mendes de 
Almeida Júnior, salientando-se ainda os nomes de Galgino Siqueira, 
Costa Manso, Cândido Mendes, Firmino Whitaker, Florêncio de Abreu, 
João de Oliveira Filho, Pontes de Miranda. Sobre o Código de Processo 
Penal, devem ser ressaltados os comentários de Eduardo Espínola Filho, 
José Frederico Marquês, Hélio Bastos Tornaghi, E. Magalhães Noronha, 
Fernando da Costa Tourinho Filho, e, Joaquim Canuto Mendes de 
Almeida. 
 
 
 Valiosa também tem sido a colaboração dos novos processualistas 
brasileiros : Ada Pellegrini Grinover, Rogério Lauria Tucci, Afrânio 
Silva Jardim, Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, José Roberto Barauna, 
Hermínio Alberto Marques Porto, Paulo Lúcio Nogueira, Vicente Greco 
Filho, Antonio Scarance Fernandes etc. 
 
* Com razão afirmou JAMES GOLDSCHMIDT que a estrutura do 
processo penal de uma nação indica a força de seus elementos 
autoritários e liberais. ( Problemas Jurídicos y Políticos del Processo 
Penal, 1935, página 67 ) 
 
 
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FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
 
 
Sentido da expressão “fontes do direito” 
 
 
 No sentido comum, fonte é o lugar donde nasce alguma coisa. No 
sentido jurídico, é o poder encarregado de fazer leis. ( Paulo Lúcio 
Nogueira ). 
 
 
 A expressão “fontes do direito” designa “os modos de formação da 
norma jurídica, ou as formas que essas normas revestem” ( Guilherme 
Alves Moreira ). Fontes do Direito, portanto, nada mais são do que as 
formas pelas quais as regras jurídicas se exteriorizam, se apresentam. São, 
enfim, “modos de expressão do Direito”. 
 
 
Espécies de Fontes Normativas 
 
 
Giulio Battaglini distingue as fontes em Materiais e Formais : 
 
 
- Materiais ( também chamadas de Substanciais ou Fontes de Produção ) 
– são as que constituem a matéria com que é atingido (em que se busca) 
o conteúdo do preceito jurídico; São aquelas que dizem respeito à 
constituição e produção do direito. É a fonte que cria o direito, se refere 
ao órgão criador, que é sempre o ESTADO. 
 
 
- Formais ( também chamadas de cognição ou Fontes de Conhecimento ) 
– são os modos de expressão da norma jurídica positiva, isto é, as fontes 
no único sentido técnico possível. São aquelas que revelam o direito 
positivo ou a forma que pode assumir a norma em sua manifestação 
concreta, que constituem a exteriorização do direito, que são as LEIS. 
 
 
 
 
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As Fontes Formais, por sua vez, podem ser divididas em Diretas e 
Indiretas: 
 
- Fontes Diretas ( imediatas ) – são as constituídas pelas Leis, ou seja, 
as fontes que contêm a norma em si mesma. Estas dividem-se em: 
 
 Fontes processuais penais Principais, abrangendo a Constituição 
Federal e o Código de Processo Penal; 
 
 Fontes processuais penais Extravagantes, constituídas, com exceção do 
Código de Processo Penal, pelas demais leis processuais 
infraconstitucionais, como a Lei dos Juizados Especiais Criminais, a Lei 
de Imprensa, a Lei Antitóxico etc. 
 
Tais fontes comportam ainda uma subdivisão em : 
 
a) Complementares: são leis aplicáveis a setores que não foram 
compreendidos pelo Código de Processo Penal e completam normas já 
existentes; 
 
b) Modificativas: são leis que alteram normas anteriormente existentes. 
Modificam, extinguem ou ampliam normas e preceitos do Código de 
Processo Penal. 
 
 Fontes Orgânicas Principais: que são constituídas pelas leis de 
organização judiciária, e, Fontes Orgânicas Complementares: que são 
constituídas pelos regimentos internos dos tribunais. 
 
 
- Fontes Indiretas ( supletivas ou mediatas ) – são aquelas que, 
embora não contenham a norma, produzem-na indiretamente. Assim, 
são considerados como tais: os costumes (usos forenses), a 
jurisprudência e os princípios gerais do Direito (brocardos jurídicos). 
 
 
- Fontes secundárias – emprestando-se à expressão o sentido de 
fontes que, sem conterem a norma, produzem-na de maneira secundária 
ou incidental, têm, também, sua importância. Têm tal qualidade o 
Direito histórico, o Direito estrangeiro, as construções doutrinárias 
nacionais ou alienígenas que, inegavelmente, auxiliam a redação das 
leis, a sua interpretação e, às vezes, a própria aplicação da norma. 
 
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Tratados, convenções e regras de direito internacional 
 
 
Esta mencionado no artigo 1º, I do Código de Processo Penal. Os 
tratados são acordos assinados entre países em assuntos de natureza 
política, incluindo-se os da repressão aos ilícitos penais. As convenções,de uma maneira geral, têm natureza privada. Por fim, as regras de 
direito internacional são princípios induzidos das leis internas dos 
Estados civilizados ou inferidos de convenções internacionais ou afirmados 
na doutrina ou proclamados em congressos. ( Hélio Tornaghi ). 
 
 
 De acordo com a nova Constituição Federal, verificar os artigos 84, 
VIII, 49, I, 21, I. Nos termos do artigo 102, do Regulamento da ONU, os 
tratados estão sujeitos a registro para terem vigência. 
 
 
 Como os tratados devem ser submetidos à deliberação do Congresso 
Nacional para vigirem como norma jurídica interna, a doutrina os tem 
considerado como fonte secundária do direito. O Código de Processo 
Penal, porém, lhes dá o mesmo valor que a Lei, afastando esta quando o 
contraria. O Supremo Tribunal Federal, aliás, tem decidido que, no conflito 
entre a Lei e o Tratado há prevalência deste. Segundo esta orientação, o 
Tratado é fonte direta primária do Direito Processual Penal como dos 
demais ramos do direito. 
 
 
 
Analogia 
 
 
A analogia é uma forma de auto-integração da Lei. Somente pode ser 
aplicada na lacuna involuntária desta, não sendo cabível nas hipóteses em 
que a Lei processual tem caráter inflexível, taxativo, ou seja, na lacuna 
involuntária da Lei, aplica-se ao fato não regulado expressamente um 
dispositivo que disciplina hipótese semelhante. ( artigo 4º da LINDB, 126 
CPC, e, artigo 3º do Código de Processo Penal ). 
 
 
 
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RELAÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
 
 O Direito Processual Penal, sendo um ramo da “árvore jurídica”, 
deve ter íntima correlação com os demais ramos do Direito. 
 
 Essa relação mais se salienta com o Direito Constitucional, que trata 
da organização e estrutura do Estado, do funcionamento dos poderes e do 
exercício do direito público dos indivíduos. O Direito Constitucional, aliás, 
constitui o mais importante alicerce e fundamento da organização estatal, já 
que traça os princípios fundamentais de todo arcabouço jurídico. 
 
 Também mantém íntima correlação com os demais ramos das 
ciências jurídicas como Direito Penal, Direito Processual Civil, Direito 
Administrativo, Direito Civil, Direito Comercial, e, Direito Internacional 
Público. 
 
 Além disso, beneficia-se de ciências extra-jurídicas, que colaboram 
com os atos de investigação e do processo a fim de que a composição do 
caso penal se faça da forma mais adequada, inspirada sempre no ideal de 
Justiça. São as ciências auxiliares do Direito Penal e do Direito Processual 
Penal como a Medicina Legal, a Psiquiatria Forense, a Psicologia 
Judiciária, Odontoscopia, Estatística Criminal, e a Polícia Científica ou 
Criminalística. 
 
 
 
APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LEI 
PROCESSUAL PENAL 
 
 
 Não havia, antigamente, problemas de interpretação; as penas tinham 
aplicação automática. Hoje, toda Lei esta sujeita à interpretação, e os 
conflitos de Leis no tempo resolvem-se pelos princípios da retroatividade 
ou da irretroatividade. 
 
 Em regra, as Leis Penais são irretroativas, salvo quando beneficiarem 
o Réu (Acusado), é o que dispõe a Constituição (art. 5º, XL). Da mesma 
forma, o Código Penal prevê que ninguém será punido por fato que a Lei 
posterior deixa de considerar crime (art. 2º) – Abolitio criminis. 
 
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Interpretação 
 
 
A Lei processual, como toda Lei, está sujeita a interpretação, que é o 
processo lógico que busca mostrar a vontade contida na norma jurídica. 
Interpretar é desvendar o conteúdo desta. ( Magalhães Noronha ). 
 
 
A ciência ou método que se preocupa com a interpretação da Lei é 
denominado Hermenêutica, cujos príncípios aplicam-se a todos os ramos 
do direito e, portanto, à Lei Processual Penal. 
 
 
A interpretação se apresenta nos seguintes termos : 
 
 
 quanto ao agente ( quanto ao sujeito que realiza a interpretação ) : 
 
 
a) autêntica: (contextual, legislativa) é a que procede da mesma origem 
que a Lei e tem força obrigatória; vem inserida na própria legislação. 
Ex.: conceito de casa, de funcionário público ( arts. 150, §§ 4º e 5º e 
327, do CP ); A interpretação, porém, pode ser promovida por Lei posterior, elaborada para esclarecer o 
sentido duvidoso de uma Lei já em vigor. 
 
b)doutrinária (doutrinal): que é fruto do comentário dos estudiosos do 
direito; 
 
c)judicial (jurisprudencial) : quando realizada pelos juízes e tribunais. 
 
 
 quanto à natureza ( quanto ao meio empregado ) : 
 
 
a) gramatical, literal ou sintático : quando feita em função da letra da Lei. 
EX. : “denúncia” é a peça inicial da ação penal pública; 
 
 
b) lógica ou teleológica : quando feita em função da finalidade do 
dispositivo, da ratio legis, buscando a vontade do legislador. 
 
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 quanto à extensão ( quanto ao resultado ) : 
 
 
a) declarativa : quando a eventual dúvida se resolve pela correspondência 
entre a letra e a vontade da Lei, não se ampliando e nem se restringindo 
o texto. Ex.: “casa habitada” - artigo 248 do Código de Processo Penal ; 
 
b) restritiva : quando a Lei, dizendo mais do que queria, obriga o intérprete 
a restringir o seu texto, para adequá-lo à sua vontade. Ex.: “propor 
meios de prova” - artigo 271 do Código de Processo Penal; 
 
c) extensiva : quando a Lei, dizendo menos do que queria, obriga o 
intérprete a ampliar o seu texto, para adequá-lo à sua vontade. Ex.: 
“documentos” - artigo 479 do Código de Processo Penal. 
 
 
Os doutos costumam fazer referências à interpretação analógica e à 
interpretação progressiva, que são espécies de interpretação extensiva : 
 
- Interpretação analógica: ao lado da interpretação extensiva e mantendo 
com esta certa similitude, está a interpretação analógica. Não se deve 
confundir, contudo, interpretação analógica com analogia. A primeira é 
forma de interpretação; a segunda é integração. É aquela em que, a 
vontade da norma, é abraçar os casos análogos não previstos 
singularmente. Ex.: “quaisquer outros elementos” - artigo 6º, IX do 
Código de Processo Penal. 
 
* Não se confunde a interpretação analógica, que é a busca da 
vontade da norma através da semelhança com fórmulas usadas pelo 
legislador, com aplicação da analogia, que é forma de auto-integração 
da Lei com a aplicação a um fato não regulado por esta de uma norma 
que disciplina ocorrência semelhante. 
 
 
 
 
 
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Quando se pode proceder à Interpretação Analógica? Quando a 
própria Lei a determinar. 
 
Algumas vezes, a Lei Penal (a própria lei penal) a permite, e o faz 
“quando uma cláusula genérica se segue a uma fórmula casuística”, e, 
nessas hipóteses, “deve entender-se que aquela somente compreende os 
casos análogos aos destacados por esta, que, do contrário, seria ociosa”. 
Assim, por exemplo, quando o artigo 61, II, c, do Código Penal fala em “à 
traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que 
dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido”, pergunta-se: que 
outro recurso poderá ser este? Evidentemente deve ser um “recurso” 
semelhante, análogo á “emboscada”, à “traição”, à “dissimulação”, em 
molde a dificultar ou tornar impossível a defesa do ofendido. 
 
Não teria sentido que o legislador ali catalogasse todas as hipóteses 
que guardassem semelhança com a “emboscada”, com a “traição”, com a 
“dissimulação”. Preferiu, com boa técnica, fazer uso de uma fórmula 
casuística (à traição, de emboscada, mediante dissimulação) e, em seguida, 
lançar mão de uma fórmula genérica (ou outro recurso que dificultou ou 
tornou impossível a defesa do ofendido),entendendo-se, pois, que o 
recurso de que lança mão o agente, para se emoldurar no artigo 61, II, c, do 
Código Penal, há de ser semelhante à traição, à emboscada, à dissimulação. 
E ele o será, evidentemente, se dificultou ou tornou impossível a defesa do 
ofendido. Na Interpretação Analógica a vontade da norma é abraçar 
os casos análogos, semelhantes àqueles por ela regulados. (Veja-se, também, e a 
propósito, o art. 457, § 1º, do CPP.) 
 
 
Analogia é integração. Parte da doutrina entende que existe a 
plenitude do ordenamento jurídico e, por isso, não se pode cuidar de 
reintegrá-lo. A maioria, entretanto, entende que o ordenamento jurídico 
apresenta lacunas, vazios. Tais vazios, tais meatos, devem ser preenchidos, 
e o processo usado para o preenchimento, para inteirar, para completar, 
para integrar o ordenamento jurídico, chama-se analogia. 
 
 
Analogia é um Princípio Jurídico segundo o qual a lei estabelecida 
para determinado fato a outro se aplica, embora por ela não regulado, dada 
a semelhança em relação ao primeiro. Supõe, como diz Maggiore: a) a falta 
de uma disposição precisa no caso a decidir; b) a igualdade de essência 
entre o caso a decidir e o caso já regulado 
 
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* Como se percebe, nítida é a diferença entre a Interpretação Extensiva 
e a Analogia. Naquela, o intérprete conclui que a lei contém a disposição 
para o caso concreto, mas, como a expressão é mais defeituosa, procura-se 
adaptá-la à mens legis. Já, na Analogia, parte-se do pressuposto de que a lei 
“não contém a disposição precisa para o caso concreto, mas o legislador 
cuidou de um caso semelhante ou de uma matéria análoga”. 
 
 
 * Nítida é a diferença, também entre Interpretação Analógica e 
Analogia. Ali, a vontade da lei é abranger os casos análogos àqueles por 
ela regulados. Aqui, não há essa voluntas legis, não existe essa vontade, 
mas o intérprete, assim mesmo, preenche o meato, o claro, o vazio. 
 
* Por outro lado, como bem adverte Antolisei, para que exista uma real e autêntica analogia, é 
indispensável que o caso não contemplado tenha em comum com o que se prevê a ratio legis . 
 
 
Distinguem-se, na doutrina, duas espécies de analogia: analogia 
“legis” e analogia “juris”. A primeira seria o processo de integração da 
norma com outra norma e a segunda, a integração da norma ou a integração 
do ordenamento com os Princípios gerais do Direito. 
 
Manzini entende ser artificiosa essa divisão e, por isso, prefere falar 
em analogia simples, quando o processo de integração é feito com a 
própria lei, e em suplemento analógico, quando a integração se opera com 
norma heterogênea. 
 
Alcalá-Zamora, por seu turno, considera que a analogia e os 
Princípios gerais do Direito correspondem a critérios distintos de 
classificação: a analogia é método de integração e os princípios gerais do 
Direito não passam de fonte de inspiração; por isso, em tema de integração, 
prefere falar, à maneira de Carnelutti, em auto-integração e 
heterointegração. 
 
Assim, para a Alcalá-Zamora ocorre a auto-integração quando as 
lacunas se colmatam, se preenchem, com a própria Lei; a heterointegração 
verifica-se quando as lacunas são preenchidas com matéria distinta, isto é, 
por normas jurídico-processuais distintas da Lei (sensu stricto), como, por 
exemplo, um decreto, uma portaria. 
 
 
 
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Não vemos inconveniência em afirmar que a auto-integração ocorre 
quando se colmam as colunas com normas homogêneas, isto é, do próprio 
estatuto, e que a heterointegração se verifica quando as lacunas são 
preenchidas com normas heterogêneas, isto é, de outro estatuto. 
 
 
Desse modo, quando o artigo 368 do Código de Processo Penal 
dispõe que o réu no estrangeiro, em lugar certo e sabido, deve ser citado 
mediante rogatória (pouco importando seja o crime inafiançável ou não, 
ficando contudo suspenso o prazo prescricional), pergunta-se: que deve 
conter a rogatória ? O Código não diz. Entretanto, no artigo 354, esclarece 
o que deve conter a precatória. Evidente que a carta precatória e a carta 
rogatória são peças análogas. O réu residindo fora da comarca do Juízo 
processante, mas no território nacional, será citado por precatória. Se no 
exterior mediante rogatória. São peças similares a precatória e a rogatória. 
Assim, como o artigo 368 não diz qual o conteúdo da rogatória, fazendo-o, 
entretanto, no que respeita à precatória, no artigo 354, evidente, em face da 
analogia, que o vazio da norma que se contém no artigo 368 deve ser 
preenchido com a norma contida no artigo 354, todos do Código de 
Processo Penal Pátrio 
 
 
Quando, entretanto, o preenchimento da lacuna deva ser feito com 
norma extraprocessual-penal, vale dizer, com norma heterogênea, pode-se 
falar em heterointegração. E pomos exemplo: suponha-se que o Juiz penal 
seja amigo íntimo do filho do réu. Quer abster-se de funcionar no processo. 
Poderá faze-lo? Nos termos da Lei Processual Penal, não. O artigo 254, que 
cuida das causas que podem dar origem à suspeição, não trata da amizade 
íntima entre Juiz e o filho do réu. Também não admitiu, como causa de 
suspeição, o “motivo íntimo”. Todavia dispõe o parágrafo único do artigo 
135 do CPC que o Juiz pode abster-se de funcionar no processo por motivo 
íntimo. Diante disso, se ele se sentir realmente constrangido em funcionar 
no feito, poderá invocar o disposto no art. 135, parágrafo único, do estatuto 
processual civil. E assim estaria colmado um meato do estatuto processual 
penal com uma norma do estatuto processual civil. Heterointegração, 
portanto. Na verdade, não há motivo algum que impeça o Juiz penal de 
invocar motivo de foro íntimo para se abster de funcionar no processo. Se 
pode fazê-lo no cível, por que razão charadística não poderá fazê-lo no 
crime? 
 
 
 16 
 
 
Por outro lado, pode o intérprete inspirar-se nos chamados Princípios 
gerais do Direito. Diga-se de passagem que o artigo 3º do Código de 
Processo Penal dispõe: “A lei processual penal admitirá interpretação 
extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios 
gerais do Direito”. 
 
 
Mas que são esses Princípios gerais do Direito? Não existe, a 
respeito, uniformidade conceitual. Há quem os identifique com os 
Princípios do Direito Natural; outros, com os extraídos do sistema da 
legislação vigente; outros, com os da eqüidade; outros, com os contidos nas 
obras dos antigos intérpretes etc. Hugo Alsina identifica-os com aqueles 
Princípios da legislação estrangeira (apud Alcalá-Zamora). Para Battaglini, 
os Princípios gerais do Direito espelham aquilo que de mais abstrato 
contém o ordenamento jurídico em vigor, atestando a unidade fundamental 
do Direito. Para outros, são aquelas verdades que informam o sistema 
jurídico (não podem contradizê-lo, pois, então, não seriam fontes 
subsidiárias) e podem ser buscados na doutrina e na jurisprudência. 
 
 
Todavia parece que a grande maioria se inclina em identificá-los com 
os aforismos, os brocados jurídicos “que nada mais representam senão 
condensação de soluções e de noções tradicionais do nosso ordenamento 
jurídico”. Desse entender são Alcalá-Zamora, De Diego, Giovanni Leone, 
entre outros. E, como exemplo, podemos citar: ne procedat judex ex officio, 
res judicata pro veritate habetur, nulla poena sine judicio, o Princípio do 
contraditório, da indisponibilidade do processo etc. 
 
 
 E que falar da analogia no campo penal? Parte da doutrina entende 
que o processo analógico não tem aplicação no Direito Penal. Muitos, 
entretanto, defendem o ponto de vista de que o processo analógico não 
pode ser invocado no que respeita às chamadasnormas penais 
incriminadoras. Realmente, em face do Princípio do nullum crimen, nulla 
poena sine lege, não é possível. Assim, não se concebe possa ser invocado 
o processo analógico para “admitir delito que não esteja expressamente 
previsto em lei”. Com elevado acerto ensina Battaglini, sintetizando toda a 
doutrina, que, se o fato não constituir delito, de maneira alguma poderá o 
intérprete considerá-lo como tal. 
 
 
 17 
 
Assim, como exemplifica Hungria, se alguém constrange outrem, 
mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, 
comete crime (CP, art. 198). E se alguém constrange outrem, mediante 
violência ou grave ameaça, a não celebrar contrato de trabalho? As 
situações são semelhantes, análogas, entretanto tal fato não se subsume no 
tipo traçado no artigo 198 do Código Penal. 
 
 
Se, por acaso, no nosso ordenamento houver um tipo ao qual se 
possa ajustar o fato acima descrito, será ele punível, porque corresponde ao 
modelo legal; senão, não. Outro exemplo: o Banco, que tem autorização de 
uma empresa para fazer cobranças, expede o competente “boleto”. 
Descobre-se que o débito já havia sido pago. Não se pode instaurar 
processo pelo crime tipificado no artigo 172 do Código Penal, porquanto 
“boleto” não é fatura e tampouco duplicata simulada... 
 
Em algumas legislações, ferindo-se frontalmente o Princípio da 
reserva legal, admitiu-se a analogia. Assim, o artigo 16 do Código russo de 
1926 dispunha: “quando a ação socialmente perigosa ( abstcestvenno –
opasnoe deistvie) não for expressamente prevista pelo Código, o 
fundamento e os limites da respectiva responsabilidade serão deduzidos dos 
artigos que contemplam os delitos de índole mais análoga”. Também na 
Alemanha nazista, a Lei de 28-6-1935 dispunha: “Na hipótese de o fato não 
se enquadrar imediatamente em determinada lei penal, será punido com 
base na lei cujo conceito fundamental melhor se aplique” (cf. Battaglini). 
Também o artigo 1º do CP dinamarquês de 1930 admite a analogia. As 
“advertências preliminares” do CP abissínio de 1931 contêm disposições 
interessantes. Assim, o art. 11: “È evidente que não faltarão ocasiões em 
que se apresentam casos não previstos por este Código; será necessário, 
então, indagar se o mesmo contém casos similares; resolver-se-ão aqueles, 
aplicando por analogia as disposições que regulamentarem estes”. Art. 12: 
“Na hipótese de surgir caso novíssimo, jamais ouvido, será o Tribunal 
Superior o competente para julgá-lo”. 
 
 
Afora essas exceções (e são bem poucas), vigora nas legislações, 
inclusive na nossa (CP, art. 1º), o Princípio de que não há crime sem lei 
anterior que o defina, e, como definir um crime é descrever o fato que o 
constitui, é claro que, se não se puder proceder à perfeita adequação típica, 
inexistirá fato punível, porquanto, em face do Princípio da “reserva legal”, 
o fato deve ser conforme ao tipo descrito em lei. 
 
 18 
 
Mas, quando se trata se norma não incriminadora, a maioria se 
inclina por aceitar a aplicação analógica, desde que venha a beneficiar o 
réu. È chamada analogia in bonam partem. A respeito, já dizia o grande 
Carrara: “Por analogia não se pode estender a pena de um caso a outro; 
deve ser estendida de um caso a outro a justificativa por analogia”. 
 
 
Na verdade, quando se trata de norma não incriminadora ou norma 
não propriamente penal, como a chama Battaglini (e são todas aquelas da 
Parte Geral do CP), não há inconveniente em que se adote o processo 
analógico, desde que in bonam partem. 
 
 
Entre nós, Hungria dá-lhe combate, salientando que o nosso Código 
é profuso em causas de extinção da punibilidade; enumera em termos 
dúcteis as causas descriminantes e, além disso, ainda deixa grande arbítrio 
ao Juiz ao aplicar a pena. Assim, pouco lugar haveria para a analogia in 
bonam partem. Como exemplo de aplicação analógica in bonam partem, 
cita Noronha o caso do aborto médico à mulher violentada em seu pudor. 
Realmente. “A lei penal permite o aborto médico à mulher estuprada e, 
portanto, pergunta-se: se a mulher violentada em seu pudor 
excepcionalmente engravidar, poderá abortar? Não há norma a respeito, e, 
assim, a punição será fatal. A não ser pela analogia in bonam partem, 
aplicar-se-ão soluções diferentes a casos idênticos, o que é iníquo”. 
 
 
O Código consagra, como causa de extinção da punibilidade, nos 
crimes contra os costumes, o “casamento do agente com a ofendida”. E se, 
por acaso, fosse a mulher a autora do crime e o homem a vítima? A 
situação é análoga à prevista pelo legislador. Não fosse a aplicação da 
analogia in bonam partem e não se decretaria a extinção da punibilidade 
nesse caso. 
 
(Fernando da Costa Tourinho Filho, Processo Penal, Ed. Saraiva, 2002, 24ª Ed., 1º vol., p.158-163) 
 
 
- Interpretação progressiva: é aquela que se faz levando-se em conta as 
transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais, adequando-se a 
Lei à realidade do fato. Ex.: “chefe de polícia”, “ Tribunal de 
Apelação”. 
 
 
 19 
 Normas Penais em Branco : são aquelas complementadas por 
outra norma, que pode ser Lei, decreto, resolução, portaria etc. São, 
como lembrava Binding, “ como que corpos à procura de alma ”. 
 
 
Aplicação 
 
 
Lei Processual Penal no Tempo 
 
 
Havendo possibilidade de iniciar-se um processo na vigência de 
determinada Lei e sobrevir Lei nova que o regule, surge o problema de 
dirimir o aparente conflito entre as duas regras jurídicas, a anterior e a 
posterior. 
 
 
 De acordo com o artigo 2º do CPP vige o princípio tempus regit 
actum, ou seja, estabeleceu-se na Lei o chamado princípio da 
imediatidade ( efeito imediato ou aplicação imediata ), do qual derivam 
dois efeitos : 
 
 
a) os atos processuais realizados sob a égide da Lei anterior se consideram 
válidos; 
 
 
b) as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar 
restante do processo. ( Rogério Lauria Tucci ). 
 
 
* Irretroatividade : A Lei processual penal brasileira não é retroativa 
pois se aplica aos fatos processuais ocorridos durante a sua vigência, e, 
ademais, se tivesse, a retroatividade anularia os atos anteriores , o que não 
ocorre. A Lei não retroage para prejudicar a validade de atos já praticados 
sob a vigência da Lei anterior. 
 
 
O acusado do crime não tem o “direito adquirido” de ser julgado pela 
Lei processual vigente ao tempo em que ele ocorreu mas apenas que a Lei 
nova respeite as garantias constitucionais do devido processo legal, com os 
seus corolários explicitados da Carta Magna. 
 20 
 
Assim, se a nova Lei penal, ainda que não exclua a incriminação, for 
mais favorável ao agente, deve necessariamente retroagir para beneficiá-lo; 
Já no Processo Penal é diferente, porque o processo é instrumento de 
aplicação correta da Lei a fatos concretos, não interferindo no Direito 
Material do Acusado. 
 
 
Não se pode negar, porém, que existem normas mistas, ou seja, que 
abrigam naturezas diversas, de caráter penal (que versam sobre o crime, a 
pena, a medida de segurança, os efeitos da condenação e, de um modo 
geral, o jus puniendi), e de caráter processual (que regulam o processo 
desde o seu início até o final da execução ou extinção da punibilidade). 
 
 
Se um preceito legal, embora processual, abriga uma regra penal, de 
direito material, aplica-se a ela os princípios que regem a Lei penal, de 
ultratividade e retroatividade da Lei mais benigna. É evidente que uma Lei 
processual penal pode acarretar maiores gravames para o acusado, mesmo 
assim, aplica-se o princípio do efeito imediato previsto no artigo 2º do CPP.É verdade que muitas vezes a Lei processual que entra em vigor não 
pode ter total aplicação, principalmente nos processos em andamento. Por 
isso, processos que já estejam em andamento não são atingidos pela Lei 
nova, conforme seu estágio, sob pena de se criar embaraços, tumultos e 
dificuldades ( Paulo Lúcio Nogueira ). 
 
 
No que tange à fiança e prisão preventiva, é de se notar que o artigo 2º 
da LICPP excepciona o princípio da imediatidade, ou seja, a Lei nova é que 
as regula, pois não passam de medidas cautelares de coação processual. 
( José Frederico Marques ). 
 
 
* Repristinação : o fenômeno da Repristinação esta descrito no artigo 
2º da LINDB, sendo que a Lei revogada volta a viger quando a Lei 
revogadora perdeu a vigência, só existe se a Lei nova dispuser nesse 
sentido ou se, mesmo não o fazendo, da interpretação da nova Lei se 
conclui que foi essa, implicitamente, sua intenção. Nessas hipóteses 
revigora-se a Lei primitiva. 
 
 21 
 
 
Lei Processual Penal no Espaço 
 
 
No que diz com a eficácia da Lei penal no espaço existem quatro 
princípios : 
 
a) territorialidade : a Lei penal de um Estado só impera dentro dos 
seus limites territoriais. Dentro dos limites territoriais do Estado que 
a promulgou, a Lei penal é aplicável a todos quantos a infringirem, 
pouco importando ser nacional ou estrangeiro; 
 
b) nacionalidade ou personalidade : é aquele segundo o qual o 
indivíduo, onde quer que esteja, faz-se acompanhar do direito 
punitivo do seu Estado de origem. De acordo com tal princípio, se 
um cidadão brasileiro for à Grécia e praticar naquele país um fato 
punível, a Lei penal aplicável será a brasileira; 
 
c) real, proteção ou defesa social : leva-se em consideração a 
nacionalidade do bem jurídico ofendido ou ameaçado pelo fato 
punível, sendo de nenhuma importância o lugar onde haja ocorrido o 
fato e a nacionalidade do seu autor; 
 
d) justiça penal universal ou universalidade da Lei penal : 
aplica-se ao autor do fato punível a Lei penal do país em que se 
encontre, seja qual for o lugar onde o crime foi cometido, seja qual 
for sua nacionalidade ou o bem jurídico violado. 
 
 
O problema da aplicação da Lei penal no espaço não pode, entretanto, 
ser solucionado por qualquer desses princípios, isoladamente. Nos Códigos 
penais modernos vigora um verdadeiro sistema em que há predominância 
do princípio da territorialidade e aplicação dos demais princípios. 
 
O Direito Processual Penal é eminentemente territorial, uma vez que os 
órgãos judiciários só aplicam as normas processuais de seu próprio Estado. 
Vigora, assim, o princípio que Carnelutti enuncia dizendo que o processo 
está disciplinado pelas normas do Estado a que pertence o órgão judiciário 
que o dirige ( Niceto Alcalà-Zamora Y Castilho ). 
 
 
 22 
 
 
 
O nosso Código Penal adotou um sistema complexo ou misto, com 
aplicação dominante da Territorialidade (artigo 5º e 7º). Com referência à 
Lei processual, foi adotado o Princípio da Territorialidade, pois as Leis 
não ultrapassam os limites do Estado que as promulgou (artigo 1º do CPP). 
 
 
O artigo 1º do Código de Processo Penal Pátrio não firma, apenas, a 
regra da Territorialidade da Lei processual penal, e sim também o princípio 
da unidade do direito processual penal em território brasileiro. ( Fernando 
da Costa Tourinho Filho ). 
 
 
 
 
 Ressalvas : Dizendo o artigo 1º do CPP que “o processo reger-se-á em 
todo o território brasileiro, por esse Código”, dá a entender que todo 
caso de caráter penal que surgir no território pátrio será solucionada de 
acordo com as normas do CPP. E assim é. Todavia, por razões várias, 
foram feitas algumas ressalvas, textualmente previstas no próprio artigo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 23 
 
 
 
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 
 
 
Princípios do Processo Penal 
 
 
1) Princípio do inquisitório ou investigatório do inquérito policial ( CPP, 
art. 5º ) 
 
2) Princípio da legalidade ( CPP, arts. 5º e 24 ) 
 
3) Princípio da indisponibilidade ( CPP, arts. 42 e 576 ) 
 
4) Princípio da oportunidade ( CPP, arts. 30, 31, 33 e 34 ) 
 
5) Princípio da disponibilidade ( CPP, arts. 49 e s. ) 
 
6) Princípio da iniciativa das partes ( CPP, arts. 24, 29 e 30 ) 
 
7) Princípio da oficialidade ( CPP, art. 6º ) 
 
8) Princípio da publicidade ( CPP, art. 792 ) 
 
9) Princípio do livre convencimento ( CPP, art. 157 ) 
 
10) Princípio da verdade real ( CPP, art. 197 ) 
 
11) Princípio do contraditório e ampla defesa ( CPP, arts. 261 e 263 ) 
 
12) Princípio da imparcialidade do juiz ( CPP, arts. 252 e 424 ) 
 
13) Princípio do “ favor rei ” 
 
14) Princípio da fungibilidade recursal ( CPP, art. 579 ) 
 
15) Princípio da peremptoriedade recursal ( CPP, art. 798 ) 
 
 
 
 24 
 
Princípios Constitucionais 
 
1) Princípio do devido processo legal ( CF, art. 5º, LIV ) 
 
2) Princípio do juiz natural ( CF, arts. 5º, LIII e XXXVII ) 
 
3) Princípio do promotor natural ( CF, art. 5º, LIII ) 
 
4) Princípio da inocência ( CF, art. 5º, LVII e LXII ) 
 
5) Princípio da legalidade da prisão ( CF, art. 5º, LXVI ) 
 
6) Princípio da amplitude da defesa e do contraditório ou bilateralidade 
( CF, art. 5º, LV ) 
 
7) Princípio da individualização da pena ( CF, art. 5º, XLV ) 
 
8) Princípio da publicidade ( CF, art. 5º, LX ) 
 
9) Princípio da inadmissibilidade as provas ilícitas ( CF, art. 5º, LVI ) 
 
 
* O vigente Processo Penal contém ainda outros princípios, que serão 
vistos há seu tempo, e regras importantes. Ademais, adotou o Princípio da 
Identidade Física do Juiz ou da Vinculação do Juiz ao Processo (art. 399, § 
2º, CPP), que consiste na obrigação do juiz, que iniciar a instrução, ter que 
dar a sentença, como ocorre no Processo Civil (art. 132 CPC/1973), desde 
que concluída a instrução, pois o Princípio da vinculação de juiz é de suma 
importância na convicção do julgador, que colhe diretamente a prova na 
instrução, mormente levando-se em conta o interesse público que domina o 
processo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 25 
 
 
 
SISTEMA DE APLICAÇÃO DA PENA E DA MEDIDA DE 
SEGURANÇA 
 
 
 
 
 Sistema do DUPLO BINÁRIO ou Dualista : prevê a aplicação da pena 
e da medida de segurança cumulativa e sucessivamente para o 
condenado perigoso; 
 
 
 
 Sistema VICARIANTE ou Unitário : prevê a aplicação da pena para o 
imputável e da medida de segurança para o inimputável. 
 
 
 
A Exposição de motivos do Código Penal de 1984 esclarece: “ Extingue 
o Projeto a medida de segurança para o imputável e institui o sistema 
Vicariante para os fronteiriços. Não se retomam, com tal método, soluções 
clássicas. Avança-se, pelo contrário, no sentido da autenticidade do 
sistema. A medida de segurança, de caráter meramente preventivo e 
assistencial, ficará reservada aos inimputáveis. Isso, em resumo, significa : 
Culpabilidade – pena; Periculosidade – medida de segurança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26 
 
SISTEMAS PROCESSUAIS 
 
 
Segundo as formas com que se apresentam e os princípios que os 
informam são três os sistemas processuais utilizados na evolução histórica 
do Direito: o inquisitivo, o acusatório e misto. 
 
 
 Sistema Inquisitivo – não existe o contraditório, inexistem regras de 
igualdade ou paridade processuais, e, não há liberdades processuais. O 
processo é normalmente escrito e secreto e se desenvolve em fases por 
impulsooficial. As funções de acusar, defender e julgar são enfeixadas 
por uma mesma pessoa ou um mesmo órgão. A confissão é elemento 
suficiente para a condenação, permitindo-se inclusive a tortura etc; 
 
 
 Sistema Acusatório – caracteriza-se pela existência do contraditório 
( ou bilateralidade ), como garantia político-jurídica do cidadão, ou seja, 
supõe completa igualdade das partes. Devem ser conferidas as mesmas 
oportunidades para a produção de provas, para manifestações a respeito 
dos elementos probatórios etc. O processo é público, podendo ser oral 
ou escrito, e, as funções de acusar, defender e julgar são atribuídas a 
pessoas distintas; 
 
 
 Sistema Misto ou francês – também conhecido como sistema acusatório 
formal. Prevê um processo desenvolvido em três etapas, a saber: a) 
investigação preliminar; b) instrução preparatória; e c) julgamento. Nas 
duas primeiras etapas, coincide com o sistema inquisitivo. Inexiste 
contraditório, deve ser escrito, é sigiloso, e, as três funções são 
desenvolvidas pela mesma pessoa etc. No julgamento final, passa a ser 
semelhante ao acusatório. Há contraditório, é público e o julgador não 
pode ser quem acusa. 
 
 
* No Brasil, a Constituição Federal assegura o Sistema Acusatório no 
processo penal ( art. 5º, LV, LIX, LIII, LX, e arts. 129, I, 126 e 92 ), ou 
seja, o Sistema Acusatório é o contemplado pelo nosso ordenamento 
jurídico. 
 
 
 27 
 
INQUÉRITO POLICIAL 
 
 
 
PERSECUÇÃO PENAL 
 
 
 Praticado um fato definido como infração penal, surge para o Estado 
o jus puniendi, que só pode ser concretizado através do processo. Para que 
se proponha a ação penal, entretanto, é necessário que o Estado disponha 
de um mínimo de elementos probatórios que indiquem a ocorrência de uma 
infração penal e de sua autoria. 
 
 O meio mais comum, embora não exclusivo, para a colheita desses 
elementos é o Inquérito Policial. Tem este por objeto, assim, “ a apuração 
de fato que configure infração penal e respectiva autoria, para servir de 
base à ação penal ou às providências cautelares ”. 
 
 À soma dessa atividade investigatória ( art. 4º CPP ) com a ação 
penal promovida pelo Ministério Público ou ofendido se dá o nome de 
Persecução Penal ( persecutio criminis ). Com ela se procura tornar efetivo 
o jus puniendi resultante da prática do crime a fim de se impor ao seu autor 
a sanção penal cabível. 
 
 
 
SEGURANÇA PÚBLICA 
 
 
 A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de 
todos, é exercida pela polícia para a preservação da ordem pública e da 
incolumidade das pessoas e do patrimônio. ( artigo 144, caput da CF ). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 28 
 
 
POLÍCIA JUDICIÁRIA e POLÍCIA ADMINISTRATIVA 
 
 
 A Polícia ( do grego politeia, que significa “administração da 
cidade” – polis ), como instrumento da Administração, é uma instituição de 
direito público, destinada a manter e a recobrar, junto à sociedade e na 
medida dos recursos de que dispõe, a paz pública ou a segurança 
individual. ( Sérgio Marcos de Moraes Pitombo ). 
 
 
 Segundo o ordenamento jurídico do País, à Polícia cabem duas 
funções : 
 
 
a) Administrativa ( ou de segurança ): de caráter preventivo, garante a 
ordem pública e impede a prática de fatos que possam lesar ou pôr em 
perigo os bens individuais ou coletivos. Não se sujeita, no exercício de 
suas atividades, a nenhum tipo de autorização judicial, embora não 
possa ser arbitrária, devendo atuar dentro dos estritos limites legais. 
( artigo 144, § 5º da CF ); 
 
 
 
B) Judiciária : de caráter repressivo, após a prática de uma infração penal 
recolhe elementos que o elucidem para que possa ser instaurada a 
competente ação penal contra os autores do fato, enfim, age como auxiliar 
da justiça. Se a polícia de segurança ou preventiva não consegue evitar a 
ocorrência de infração penal, cabe à polícia judiciária a atividade 
repressiva, visando apurar, através da investigação, os indícios de autoria e 
da existência do fato ocorrido. Tal função é exercida constitucionalmente 
pelas polícias civis dos Estados, dirigidas por Delegados de Polícia de 
carreira, e pela Polícia Federal que desempenha com exclusividade as 
atribuições de polícia judiciária da União, ressalvados as infrações penais 
militares. ( artigos 144, §§ 1º e 5º da CF e 7º do CPPM ). 
 
 
 
 
 
 
 
 29 
 
 
NOTITIA CRIMINIS 
 
 
A investigação criminal, em qualquer de suas formas, tem início com 
a notícia do crime. Chama-se notitia criminis o conhecimento espontâneo 
ou provocado que tem a autoridade pública da prática de um fato 
delituoso.( José Frederico Marques ). 
 
 
Três são as formas de se apresentar a notitia criminis : 
 
 
1) Notícia-crime espontânea – é o conhecimento do crime ou da 
contravenção levado diretamente à autoridade pública, no exercício de 
suas funções. É a que se dá por cognição imediata ou comunicação não 
formal, isto é, por meio de formas diretas de conhecimento do fato. Ex.: 
por telefonema anônimo, por jornal, pelo rádio etc., ou advir do trabalho 
de investigação policial; 
 
 
2) Notícia-crime provocada – é o conhecimento que a autoridade tem 
sobre uma infração penal decorrente de atos jurídicos, previstos em Lei, 
como a provocação verbal da vítima (com a lavratura do boletim de 
ocorrência), o requerimento ou representação do ofendido ou de seu 
representante legal (nos crimes de ação penal de iniciativa privada ou 
pública condicionada), a requisição do Ministério Público ou do Poder 
Judiciário de modo geral etc.; 
 
 
3) Notícia-crime coercitiva – é aquela que provém da prisão em 
flagrante do autor do fato delituoso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 30 
 
CONCEITO 
 
 Inquérito Policial é o conjunto de diligências realizadas pela polícia 
judiciária para a apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que 
o titular da ação penal possa ingressar em juízo, ou seja, é um 
procedimento administrativo-persecutório de instrução provisória, 
destinado a preparar a ação penal. (FCTF/JFM). 
 
 
 
NATUREZA, CARACTERÍSTICAS e FINALIDADE 
 
 O Inquérito Policial é uma peça meramente investigatória, escrita 
(Art. 9º CPP), sigilosa (Art. 20 CPP), destinada a obter elementos do fato 
delituoso e da respectiva autoria para fundamentar a ação penal. É através 
dele que se colhem os indícios necessários para o oferecimento da denúncia 
ou da queixa-crime, que são as peças iniciadoras da ação penal pública ou 
privada, respectivamente. 
 
 As atribuições concedidas à polícia no inquérito policial são de 
caráter discricionário, ou seja, têm elas a faculdade de operar ou deixar de 
operar, dentro, porém, de um campo, cujos limites são fixados estritamente 
pelo direito (Art. 14 CPP). 
 
 
 
INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO 
 
 A autoridade policial ou o promotor de justiça poderão requerer, 
durante o inquérito policial, que o juiz decrete a incomunicabilidade do 
indiciado, até três dias, por despacho fundamentado, quando o interesse da 
sociedade ou da conveniência da investigação o exigir (Art. 21 e § Único 
do CPP), ou seja, visa garantir que o indiciado, através de terceiras pessoas, 
oculte provas ou desapareça com os vestígios do crime. 
 
 Os doutos divergem sobre a constitucionalidade dessa norma 
restritiva. (ver art. 136, § 3º, IV). 
 
 
 
 
 
 31 
 
 
VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO 
 
 
 
 O inquérito policial, como instrução provisória,de caráter 
inquisitivo, tem apenas valor informativo para a instauração da competente 
ação penal. 
 
 
 
 Tendo em vista os princípios do livre convencimento do juiz (Art. 
157 CPP), e da verdade real (Art. 197 CPP), é de se ver que o inquérito 
policial, como qualquer outra prova criminal, tem sempre valor relativo. 
 
 
 
* Há a observar, porém, que no inquérito se realizam certas provas periciais que, 
embora praticadas sem a participação do réu, contêm em si maior dose de veracidade, 
visto que nelas preponderam fatores de ordem técnica que, além de mais difíceis de 
serem deturpados, oferecem campo para apreciação objetiva e segura de suas 
conclusões. Ressalvada a hipótese de terem os peritos falseado os dados em que 
baseiam o seu laudo, essas provas periciais, notadamente quando realizadas por 
funcionários do Estado, devem ter valor idêntico ao das provas colhidas em juízo. 
Cumpre ressaltar, porém, que tudo isso se encontra condicionado às circunstâncias do 
caso e à formação do livre convencimento, uma vez que o Princípio da Verdade Real é 
básico e fundamental na Justiça Criminal.(JOSÉ FREDERICO MARQUES, 
Elementos de Direito Processual Penal, Ed. Bookseller, 1998, Volume I, p.155) 
 
 
 
VÍCIOS 
 
 
 
 Sendo o inquérito policial ‘mero’ procedimento informativo e não 
ato de jurisdição, os vícios nele acaso existentes não afetam a ação penal a 
que deu origem. A desobediência a formalidades legais podem acarretar a 
ineficácia do ato em si, mas não influi na ação já iniciada, com denúncia 
recebida. Não se erigem em nulidades, máxime para invalidar a própria 
ação penal subseqüente. 
 
 
 
 32 
 
Como bem obtemperou JOSÉ FREDERICO MARQUES, em sua 
magistral obra Elementos de Direito Processual Penal, Ed. Bookseller, 
1998, Volume I, p.153/154: 
 
 
“O inquérito, como instrumento da denúncia, não está sujeito a 
formas indeclináveis, tanto que, a não ser para o interrogatório e para o 
auto de prisão em flagrante, norma alguma está traçada pelo Código de 
Processo Penal, no tocante ao assunto. Tudo o que vem disposto sobre as 
atividades da autoridade policial, no texto do Código, constitui uma série 
de preceitos ditados em razão da eficiência investigatória da autoridade 
policial, e não como procedimento ou modus faciendi obrigatório. É contra-
senso, por isso mesmo, falar em nulidade do processo, por seu nulo o 
inquérito policial, como já vimos num habeas corpus impetrado ao 
Tribunal de São Paulo, e por este acertadamente repelido. O inquérito, 
como instrumento da denúncia, nunca é nulo, não estando sujeito, assim, às 
sanções que o Código prevê para os atos processuais. 
 
 
 
 Mas o inquérito não é só instrumento da denúncia ou queixa. É com 
base no inquérito que o juiz decreta a prisão preventiva do acusado, 
emitindo, assim, o juízo de probabilidade dessa providência cautelar, 
fundado tão-só no procedimento policial de instrução provisória que no 
inquérito se contém. Nesse caso, é evidente que se exige algum rigor 
formal da peça investigatória. O interrogatório do indiciado, por exemplo, 
deve ser feito com as cautelas do artigo 6º, nº V, do Código de Processo 
Penal, que assim dispõe: “ouvir o indiciado, com observância, no que for 
aplicável, do disposto no capítulo III, do título VII, deste livro, devendo o 
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido 
a leitura”. Se alguma dessas formalidades não for observada, não pode o 
juiz invocar a confissão do réu como elemento de convicção para 
fundamentar o decreto de prisão preventiva. Embora jurisdicional a 
providência cautelar que vai restringir o status libertatis do indiciado, 
extrajurisdicionais são os elementos de fato destinados à apuração dos 
indícios da autoria e prova do crime. Sendo assim, embora caiba ao juiz 
examinar esses indícios e provas segundo as regras do livre convencimento, 
a perfeição extrínseca dos fatos do inquérito constitui, sem sombra de 
dúvida, uma das mais fortes razões de convicção a nortear o magistrado nas 
pesquisas sobre os pressupostos da medida. 
 
 
 33 
 
 No tocante ao auto de prisão em flagrante, distinções análogas 
devem ser feitas. 
 
 A prisão em flagrante é uma restrição à liberdade individual, de 
natureza administrativa, a qual, embora permitida pela Constituição, possui 
caráter excepcional, pois amplia o poder estatal de supremacia, em 
detrimento do direito de locomoção, sem as formalidades processuais de 
prévio controle jurisdicional. Em tal conjectura, as normas formais 
impostas à autoridade administrativa são indeclináveis: trata-se de 
requisitos ad solenitatem, cuja razão de ser se encontra na excepcionalidade 
do poder conferido à referida autoridade. Faltando qualquer elemento 
exigido pela lei, o ato será nulo, ex vi do artigo 564, nº IV, do Código de 
Processo Penal. A nulidade, porém, só atingirá os efeitos coercitivos da 
medida cautelar, e nunca o valor informativo dos elementos colhidos no 
auto de flagrante. O juiz pode “relaxar” a prisão do indiciado, em virtude 
da nulidade do respectivo auto de flagrante delito; todavia, o Ministério 
Público, com base nesse flagrante, que foi anulado para efeito de restaurar 
a liberdade do indiciado, também poderá oferecer denúncia contra este.” 
 
 
JUIZADO DE INSTRUÇÃO 
 
 Não adotou nosso Código o Juizado de Instrução. 
 
O Juizado de Instrução é o instrumento destinado à apuração das 
infrações penais sob a presidência de um juiz. A função da polícia, nesse 
caso, fica reduzida a prender os infratores e a apontar os meios de prova, 
inclusive testemunhal, cabendo ao “juiz instrutor”, como presidente do 
procedimento, a colher todos os elementos probatórios à instruir a ação 
penal. Assim, colhidas as provas pelo citado Magistrado, vale dizer, feita a 
instrução propriamente dita, passar-se-ia à fase do julgamento. O Inquérito 
Policial seria suprimido. 
 
PROCEDIMENTO E PROVIDÊNCIAS 
 
 Inicialmente, a autoridade policial deve proceder de acordo com os 
artigos 6º ao 13 do Código de Processo Penal, embora não preveja a lei um 
rito formal nem uma ordem prefixada para as diligências que, regra geral, 
devem ser efetuadas para que “a autoridade possa colher ao vivo os 
elementos da infração, devendo por isso agir com presteza, antes que se 
mude o estado das coisas no local do crime ou desapareçam armas, 
 34 
instrumentos ou objetos do delito, enfim, colhendo as provas que sirvam 
para a elucidação do fato e suas circunstâncias” (E. Magalhães Noronha). 
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL 
 
 A instauração do inquérito policial ocorre através do auto de prisão 
em flagrante ou por portaria. 
 
 A portaria é baixada : 
 
a) mediante simples notícia do crime; 
 
b) a requerimento do ofendido ou de seu representante; 
 
c) por requisição do promotor de justiça ou do juiz; 
 
d) por requisição do Ministro da Justiça. 
 
CONCLUSÃO E REMESSA DO INQUÉRITO POLICIAL 
 
De regra, tratando-se de acusado preso, a polícia tem dez dias para 
concluir, relatar e remeter o inquérito a juízo, mas, se estiver solto, o prazo 
será de trinta dias (Art. 10 CPP). Na legislação extravagante há prazos 
especiais. Ex.: Lei de Tóxicos, Lei 11.343; Crime contra a Economia 
Popular, Lei 1521/51, art. 10, §1º ( Acusado preso ou solto-10 dias ); Crime 
apurado perante a Justiça Federal, Lei 5010/66, art. 66 ( Acusado preso-15 
dias prorrogável por mais 15 dias ). 
 
O inquérito inicia-se por flagrante ou portaria, e conclui-se com o 
relatório da autoridade, e, posterior envio dos autos ao juízo competente 
(Art. 10, § 1ºdo CPP) , para que seja aberta vista ao Promotor de Justiça, 
ao qual cabe, por mandamento constitucional (Art. 129, I, CPP), 
exclusivamente a iniciativa da ação penal pública. Este relatório é peça 
objetiva e não opinativa, embora muitas autoridades policiais cheguem a 
dar verdadeiros pareceres nessa oportunidade, indevidamente. 
 
 
O promotor, ao receber o inquérito, terá as seguintes opções : 
oferecer denúncia, pedir arquivamento ou requerer a volta à polícia para 
novas diligências. O Magistrado poderá concordar ou não com o Ministério 
Público. ( ver Art. 28 CPP). 
 
A autoridade policial não pode arquivar inquérito (Art. 17 CPP), pois 
essa atribuição é do juiz, a pedido do Ministério Público. 
 35 
 
 
AÇÃO PENAL 
 
 
CONCEITO 
 
 
 Podemos definir a Ação Penal como sendo o direito de se pedir ao 
Estado-Juiz a aplicação do Direito Penal Objetivo. Ou o direito de se pedir 
ao Estado-Juiz uma decisão sobre um fato penalmente relevante. (FCTF). 
 
 
CARACTERÍSTICAS 
 
 É um direito público (a Lei processual é matéria de ordem pública, e, 
é conferido pelo Estado esse direito de ação a todos, indistintamente); 
subjetivo (pertence a cada um); determinado (porque instrumentalmente 
ligado a um fato concreto); autônomo (porque distinto do direito de que 
ele tende a tornar efetivo em juízo); específico (porque apresenta um 
conteúdo, e este nada mais é que a pretensão que se deduz em juízo); e, 
finalmente, abstrato (porque embora instrumentalmente conexo a um fato 
concreto, o direito de ação existe e se exercita, ainda naquelas hipóteses em 
que o Juiz julga o petitum improcedente ou infundado) de pedir a aplicação 
do Direito Penal positivo ao caso concreto. 
 
 
 CONDIÇÕES DA AÇÃO 
 
 
 Como lembra José Roberto Baraúna, “ a ação penal para prosperar e 
chegar até o exame de mérito ( que pode ser desfavorável ou não ao réu ) 
precisa subordinar-se a certos requisitos, alguns genéricos (gerais), outros 
específicos (especiais) para determinados casos. 
 
 Diante da norma geral do artigo 43, III, segunda parte, que exige 
para o recebimento da denúncia ou queixa “condição exigida pela Lei para 
o exercício da ação penal”, deve-se ter por obrigatória a existência de 
condições genéricas e de condições especiais para o exercício desse direito. 
(Julio Fabbrini Mirabete). 
 
 
 
 36 
 
 
 
 As condições gerais, de admissibilidade do julgamento do caso 
penal, denominadas “Condições da Ação” são três : 
 
 
1ª) Possibilidade Jurídica do Pedido – diz respeito à tipicidade do fato. O 
pedido deve encontrar proteção no direito positivo, isto é, deve haver 
previsão legal. Dessa forma, é impossível denunciar alguém por incesto, 
que não é crime na nossa Lei penal; 
 
 
2º) Legítimo Interesse de Agir – ninguém poderá provocar a atuação do 
Estado se não tiver interesse na punição. Assim, comprovada alguma 
excludente no inquérito, deve o promotor de justiça pedir seu 
arquivamento, ou o juiz rejeitar a denúncia, se for proposta; 
 
 
3º) Legitimidade para Agir (“legitimatio ad causam”) – refere-se à 
titularidade da ação, pois só o seu titular pode propô-la. Portanto, o 
Ministério Público não pode oferecer denúncia em ações de natureza 
privada ou mesmo em ação pública condicionada à representação, se esta 
não for apresentada. 
 
 
 Fala-se também nas “Condições Negativas da Ação”, ou seja, a 
falta de fatos extintivos da ação (decadência, renúncia etc.). Mas tais 
condições podem ser consideradas como pressupostos processuais. 
 
 
 
As condições específicas são aquelas exigidas pela Lei penal ou 
processual penal, em determinados crimes, para o exercício da ação penal, 
atinentes à admissibilidade da persecução penal. São as chamadas de 
“Condições de Procedibilidade”. As principais estão inseridas no 
artigo 24 do Código de Processo Penal, existindo outras em dispositivos 
extravagantes. 
 
 
 
 
 37 
 
 
 
* De acordo com a doutrina, além das Condições da Ação 
(condições genéricas e exigidas sempre) existiriam as chamadas Condições 
de Procedibilidade (condições especiais que tornam-se necessárias num ou 
noutro caso). Hoje, inclinam-se os doutrinadores no sentido de considerar 
Condições de Procedibilidade também as condições da ação, que seriam 
uma espécie daquelas. 
 
 
* É de se notar que, oferecida a condição de procedibilidade, tal não 
significa, obrigatoriamente, deva o órgão estatal encarregado da persecução 
penal pública (o Ministério Público) promover a ação, podendo, se assim 
entender , requerer o arquivamento do inquérito ou peças de informação. 
 
 
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 
 
 As Condições da Ação nada tem a ver com as condições de decisão 
favorável ao autor; e também se não confundem com os denominados 
pressupostos processuais. 
 
 Antes de decidir do mérito, para julgar procedente ou improcedente o 
caso penal, o juiz examina se o processo está regular e se estão atendidos os 
pressupostos da relação processual. Em seguida passa a examinar, se 
regular o processo, as condições do direito de ação. 
 
 
Pressupostos Processuais são requisitos imprescindíveis para a 
constituição e desenvolvimento regular do processo. Podem se referir ao 
juiz (investidura, competência, imparcialidade), às partes (capacidade de 
ser parte, capacidade processual e capacidade postulatória) e à inexistência 
de fatos impeditivos (litispendência, perempção, obediência ao 
procedimento previsto em Lei para o tipo de ação penal etc). 
 
 
* A falta de pressupostos processuais torna inadmissível o 
julgamento do mérito, o mesmo sucedendo com a ausência de condições da 
ação. 
 
 
 38 
 
Ação e Processo são coisas distintas. Por meio da Ação instaura-se o 
Processo. Se estão satisfeitas as condições mínimas para o exercício do 
direito de Ação, resta ao Juiz investigar se também estão satisfeitas as 
condições mínimas de viabilidade da relação processual. Deixando de lado 
os Pressupostos de Existência, que a esta altura devem ter coexistido, pois 
sem elas o Processo é inexistente, observa, naquela fase inaugural, se estão 
presentes os Pressupostos de Validade. 
 
A esta altura cumprir-lhe-á indagar se tem ou não competência para 
receber a peça acusatória. Observa se as partes têm legitimatio ad 
processum, isto é, legitimidade para atuar naquele processo cuja 
instauração se pede. Assim, o Promotor que não esteja em exercício numa 
comarca não pode aí oferecer denúncia, salvo se houver um ato do chefe da 
instituição designando-o. 
 
 
 
 CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES 
 
 
QUANTO À TUTELA JURISDICIONAL 
 
 Em razão da tutela jurisdicional invocada, a ação pode ser penal 
(abrangendo os casos penais), e, extra-penal ( compreendendo todas as 
demais lides: civis, trabalhistas, comerciais etc. ). 
 
 
QUANTO AO CONTEÚDO 
 
 Em razão de conteúdo as ações penais podem ser de conhecimento 
(cognição), cautelar ou de execução. 
 
 
a) Ação Penal de Conhecimento – é aquela em que a prestação 
jurisdicional consiste numa decisão sobre a situação jurídica 
disciplinada no Direito Penal. Se subdividem em : 
 
 
- Declaratórias (também denominadas “meramente declaratórias): se limitam à 
declaração, reconhecimento de existência ou inexistência de direito, ou 
ainda, de autenticidade ou falsidade de documento. Ex.: Habeas Corpus 
Preventivo; 
 39 
 
 
- Constitutivas: são as que criam, modificam ou extinguem uma situação 
jurídica existente já definida. Ex.: Revisão Criminal, Reabilitação;- Condenatórias: são as que buscam a imposição de uma sanção. Ex.: 
aplicação de uma medida de segurança ou aplicação de uma pena – 
privativa de liberdade, restritiva de direitos ou pecuniária; 
 
 
- Absolutórias: são as que visam um juízo de absolvição, com 
fundamento no artigo 386, I a VI do Código de Processo Penal. 
 
 
 
 
 
 
b) Ação Penal Executiva ( de Execução) – é a que dá cumprimento ao 
que foi solucionado no processo, isto é, a execução da sanção penal 
imposta pelo juízo de cognição é automática, bastando a expedição de 
guia de recolhimento (quando se tratar de pena corporal), de ofício 
judicial (em se tratando de penas restritivas de direito), ou de guia para 
execução (se a hipótese for de execução de pena pecuniária). 
 
 
c) Ação Cautelar – é a que visa assegurar ou resguardar, através de 
medidas urgentes, os objetivos da ação principal. Seriam meras 
medidas cautelares. A Ação Cautelar pode ser : 
 
- Pessoal: quando incide sobre um direito pessoal (Ex.: prisão preventiva, 
interdições de direito, fiança); 
 
- Real: que deriva de um direito real sobra a coisa, seja própria ou alheia 
(Ex.: arresto, seqüestro). 
 
 
 
 
 
 
 
 40 
 
EM RAZÃO DO TITULAR DO DIREITO DE AGIR 
 
 
 Pelo critério subjetivo, isto é, considerando-se o sujeito ou titular 
para o exercício da ação penal, podemos classificar as ações em pública, 
privada, popular e originária. Senão vejamos: 
 
 
1) Ação Penal Pública – é a promovida pelo Ministério Público, 
através da Denúncia, bastando, para seu oferecimento, no caso, indícios 
da autoria e da materialidade. Se subdivide em : 
 
 
a) Ação Penal Pública Incondicionada (ou principal) – quando o 
promotor deve propô-la independente de provocação, ou seja, nos casos 
em que a Lei Penal Incriminadora não condiciona o exercício do direito 
de ação à manifestação volitiva do ofendido; 
 
b) Ação Penal Pública Condicionada (ou secundária) – depende da 
representação do ofendido ou seu representante legal, isto é, dá-se nas 
hipóteses em que a Norma Penal Incriminadora exigir a manifestação de 
vontade do ofendido, que deve conferir ao órgão do Ministério Público 
a condição de procedibilidade. O Código Penal (ou a Lei Extravagante), 
nesse caso, deve fazer a seguinte ressalva “somente se procede mediante 
representação”; 
 
 
c) Ação Penal Pública Condicionada à requisição do Ministro da 
Justiça – nos casos de crime contra a honra do Presidente da República 
ou chefe de governo estrangeiro (arts. 145, § único do CP e 40, I, a da 
Lei 5250/67) e em crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora 
do Brasil (art. 7º, § 3º, b do CP). 
 
 
 
2) Ação Penal Privada – é aquela em que a iniciativa de propô-la cabe 
ao ofendido ou seu representante legal. O Código Penal (ou a Lei 
Extravagante), após descrever o delito, faz referência à titularidade 
exclusiva do ofendido ou de seu representante legal, empregando a 
expressão “somente se procede mediante queixa”, que é a peça inicial 
dessa espécie de ação. Se subdivide em : 
 
 41 
a) Principal ou Exclusivamente privada – é a comum, a que 
encontramos com extrema facilidade, posto que basta consultar a Norma 
Penal Incriminadora e identificar-se a expressão “somente se procede 
mediante queixa”. 
 
 
b) Secundária ou Subsidiária da Pública – é a oferecida pelo particular, 
em face da inércia do Ministério Público, quando o caso ordinariamente 
for de ação penal pública (arts. 5º, LIX da CF, 100, §3º do CP e 29 do 
CPP). Só é admissível quando há desídia do Ministério Público, não o 
sendo quando o inquérito policial é arquivado pelo juiz a requerimento 
do Promotor de Justiça. 
 
 
c) Personalíssima – quando a Norma Penal Incriminadora exige que 
somente o ofendido possa exercer o direito de queixa ( arts. 240, §3º, 
236, § único). 
 
 
d) Adesiva (Litisconsorcial ou assistencial) – ocorre nas hipóteses em 
que houver conexão entre crime de ação penal pública e crime de ação 
penal privada. Nesse caso, deverá haver denúncia e queixa apresentada 
nos mesmos autos. Ressalte-se que nada obsta que existam dois 
processos, malgrado a conexidade. A escolha é do ofendido que, se 
quiser, ingressa com a queixa-crime, aderindo à denúncia. 
 
 
 
3) Ação Penal Popular – é aquela cujo exercício compete a qualquer 
pessoa. Não existe propriamente a Ação Penal Popular em nosso direito, 
que seria aquela proposta por qualquer cidadão, que não se confunde 
com Ação Popular de natureza civil, que compete a qualquer cidadão ( é 
indispensável a apresentação do título de eleitor ) e visa resguardar 
interesses do patrimônio público. O Habeas Corpus seria uma Ação 
Penal Popular no sentido de que qualquer do povo pode impetrá-lo em 
causa própria ou em favor de alguém. 
 
 
 
4) Ação Penal Originária – é aquela proposta pelos chefes do 
Ministério Público Federal ou Estadual perante os tribunais superiores 
ou estaduais, quando o acusado tiver foro especial. Ex.: arts. 102, I, b, 
105, I, a, 96, III da Constituição Federal. 
 42 
PRINCÍPIOS INFORMADORES DA AÇÃO PENAL 
 
 
1) Os princípios informadores da Ação Penal Pública são: 
 
a) Legalidade ou obrigatoriedade – presentes os elementos que 
autorizam a propositura da ação penal, o Ministério Público deverá agir 
obrigatoriamente, desde que convencido de sua necessidade; 
 
b) Indisponibilidade – desde que proposta a ação penal, o Ministério 
Público não poderá dela dispor, transigindo, desistindo ou fazendo 
acordo; 
 
c) Oficialidade – significa que a ação pública é de iniciativa do Ministério 
Público e se desenvolve por impulso oficial, isto é, as partes não 
precisam requerer o seu andamento, pois o juiz determinará de ofício 
seu prosseguimento. 
 
 
2) Os princípios informadores da Ação Penal de iniciativa Privada são: 
 
a) Oportunidade ou Conveniência – cabe ao ofendido ou seu 
representante legal a faculdade de promover a ação penal; 
 
b) Disponibilidade – significa que pode haver renúncia, desistência, 
expressa ou tácita, da ação depois de proposta, assim como é admitido o 
perdão antes do trânsito em julgado da sentença (CP, art. 106, § 2º); 
 
c) Indivisibilidade – a queixa-crime deverá ser oferecida contra todos que 
praticarem a infração, não podendo haver exclusão de nenhum; cabe ao 
Ministério Público zelar pela indivisibilidade da ação de iniciativa 
privada. 
 
 
 
* Existe, ainda, o Princípio da Intranscendência, que trata-se de 
princípio comum a toda e qualquer Ação Penal e consiste no fato de ser a 
ação penal limitada à pessoa ou às pessoas responsáveis pela infração, não 
atingindo, desse modo, seus familiares ou estranhos. Esse princípio não é 
acatado nas legislações que incluem na sanção penal a reparação do dano 
inclusive pelos sucessores do autor do fato. Ex. México. (FCTF). 
 
 43 
* O princípio da indivisibilidade, segundo alguns autores, seria próprio 
também da ação penal pública; outros entendem que diz respeito apenas à 
ação penal de iniciativa privada, já que na ação pública poderá haver 
aditamento da denúncia sempre que for necessário, e, também se fala em 
oficialidade da ação penal de iniciativa privada no sentido de que a infração 
se apura através de órgãos oficiais, tanto na fase investigatória como na 
contraditória, embora o impulso seja promovido por iniciativa da parte 
ofendida ou do seu representante legal. (PLN). 
 
 
RENÚNCIA, DESISTÊNCIA, PERDÃO E PEREMPÇÃO 
 
 Renúncia – é ato unilateral que se dá antes da apresentação da queixa-
crime, ou seja, é a abdicação do direito de

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