Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Matema´tica Aplicada II Viatcheslav I. Priimenko e Fernando D. de Siqueira 11 de janeiro de 2017 Prefa´cio O presente livro tem como objetivo complementar a bibliografia para a disciplina Matema´tica Aplicada II, ministrada para estudantes do Curso de Po´s-Graduac¸a˜o do Laborato´rio de Engenharia e Explorac¸a˜o de Petro´leo - LENEP do Centro de Cieˆncia e Tecnologia - CCT da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF. Ale´m disso, acreditamos que este livro tambe´m possa ser um suporte dida´tico para va´rias outras disciplinas ministradas na UENF, bem como em outras instituic¸o˜es de ensino superior. 1 2 Cap´ıtulo 1 Introduc¸a˜o em Equac¸o˜es Diferenciais Parciais 1.1 Modelos Matema´ticos Muitas ide´ias importantes da matema´tica teˆm a sua origem em cieˆncias f´ısicas. Por exemplo, o ca´lculo foi criado na tentativa de escrever na forma correta o movimento de corpos. As equac¸o˜es matema´ticas sempre servem como uma linguagem para for- mular conceitos em f´ısica, como por exemplo as equac¸o˜es de Maxwell, que descrevem fenoˆmeno eletrodinaˆmico, equac¸o˜es de Newton descrevem sistemas mecaˆnicos, etc. Durante de muitos anos matema´ticos e f´ısicos estenderam tal conexa˜o, incluindo todas as a´reas da cieˆncia em tecnologia, criando uma nova a´rea chamada modela- gem matema´tica. O modelo matema´tico e´ uma equac¸a˜o (ou sistema de equac¸o˜es), cuja soluc¸a˜o carateriza o comportamento de um processo f´ısico relacionado. Neste sentido, podemos dizer que o sistema de Maxwell e´ o modelo para o fenoˆmeno eletrodinaˆmico. Em geral, o modelo matema´tico e´ a descric¸a˜o simplificada da reali- dade f´ısica explicada em termos matema´ticos. Os principais passos da modelagem matema´tica podem ser resumidos aa seguinte maneira, ver Fig.1.1. Usualmente o Figura 1.1: Modelagem Matema´tica processo comec¸a com a ana´lise de um problema real com objetivo de extrair o princi- pal processo f´ısico usando idealizac¸a˜o e va´rias proposic¸o˜es. Formulando um modelo f´ısico ideal, podemos tambe´m formular o correspondente modelo matema´tico em ter- mos de equac¸o˜es diferenciais, integrais ou modelos estat´ısticos. Apo´s essa etapa, o modelo matema´tico deve ser estudado em detalhes usando me´todos apropriados. Se os resultados obtidos for satisfato´rios, enta˜o o modelo matema´tico pode ser aceito. 3 4 Se na˜o, os dois modelos, f´ısico e matema´tico, devem ser modificados com base na avaliac¸a˜o realizada, e a seguir, os modelos atualizados devem ser avaliados de novo, diversas vezes, ate´ receber resultados satisfato´rios. Neste livro no´s estudamos modelos baseados em equac¸o˜es diferenciais parciais (PDE’s), ou, em outras palavras, examinamos fenoˆmenos f´ısicos os quais podem ser caracterizados por equac¸o˜es diferenciais parciais. O leitor provavelmente conhece sistemas f´ısicos governados por equac¸o˜es diferencias ordina´rias (ODE’s). Considere- mos como exemplo a modelagem do processo de decaimento radiativo. A radioatividade e´ uma propriedade caracter´ıstica de substaˆncias cujos a´tomos experimentam decomposic¸a˜o expontaˆnea. Tais substaˆncias podem existir em iso´topos, ”radioativos”insta´veis ou na forma esta´vel. O decaimento usualmente ocorre em uma taxa de variac¸a˜o constante. Como os a´tomos diminuem, a taxa de variac¸a˜o de massa do iso´topo radioativo e´ simplesmente proporcional a` massa presente. Inicialmente definimos as varia´veis do problema e fornecemos alguns dados relevantes. Seja t = tempo desde de in´ıcio do experimento, e m(t) = massa do iso´topo radioativo. A massa do iso´topo radioativo e´ sempre um nu´mero positivo mas, com o tempo, ela torna-se pequeno quanto mais a substaˆncia e´ convertida em material na˜o radi- oativo esta´vel. Recorde o fato de que a taxa de variac¸a˜o da massa dm dt do iso´topo radioativo e´ proporcional a massa m em um dado instante de tempo. Aqui temos que a massa e´ decrescente. Isto significa que a derivada, dm dt e´ negativa, o que implica que a constante de proporcionalidade k deve ser negativa. Escrevemos: (1.1) dm dt = −km . A soluc¸a˜o da Eq.(1.1) e´: (1.2) m(t) = m0e −kt , onde a constante m0 > 0 caracteriza a massa do iso´topo radiativo no tempo inicial t = 0. Observe que quando t → ∞ a func¸a˜o m(t) → 0. Alguns membros desta Figura 1.2: Soluc¸a˜o da Eq.(1.1) para diferentes valores de m. famı´lia de func¸o˜es (para va´rios valores de m0) sa˜o mostrados na Fig.1.1. Modelos baseados em PDE’s distinguem-se de baseados em ODE’s, porque as soluc¸o˜es delas dependem de mais que uma varia´vel e sa˜o baseados em PDE’s. Os modelos de PDE’s podem depender tambe´m da varia´vel de tempo, ale´m de depender de va´rias varia´veis espaciais. 5 1.2 Equac¸o˜es Diferenciais Parciais 1.2.1 Equac¸o˜es e Soluc¸o˜es A modelagem matema´tica de problemas em cieˆncias aplicadas resulta frequente- mente na formulac¸a˜o de uma Equac¸a˜o Diferencial Parcial (EDP), (ou sistema de equac¸o˜es diferenciais parciais), que e´ uma equac¸a˜o envolvendo uma func¸a˜o desco- nhecida, que depende de duas ou mais varia´veis independentes e de suas derivadas parciais. No caso de apenas duas varia´veis, podemos formular a definic¸a˜o qa seguinte maneira: Definic¸a˜o 1.1. Uma EDP da ordem n de duas varia´veis independentes e´ uma equac¸a˜o da seguinte forma (1.3) Φ(x, y, u, ux, uy, . . . , D nu) = 0 , (x, y) ∈ D ⊂ R2 , onde, como foi indicado, as varia´veis independentes (x, y) pertenc¸am a um domı´nio dado D e Dku = ∂ku ∂lx∂my , 1 ≤ k ≡ l +m ≤ n , l,m ∈ N . Definic¸a˜o 1.2. Como soluc¸a˜o da EDP (1.3) vamos entender uma func¸a˜o u = u(x, y), definida e diferencia´vel n vezes no domı´nio D, u ∈ Cn(D), que apo´s sua substituic¸a˜o em (1.3) reduza esta equac¸a˜o ate´ a igualdade va´lida para qualquer (x, y) ∈ D. A condic¸a˜o u(x, y) ∈ Cn(D) e´ necessa´ria para calcular as derivadas ate´ ordem n da func¸a˜o u e, depois, substituir elas em Eq.(1.3). Tal func¸a˜o suave chama-se soluc¸a˜o cla´ssica. Depois nos extenderemos esta definic¸a˜o para incluir func¸o˜es mais fracas tambe´m; tais soluc¸o˜es chamam-se soluc¸o˜es fracas. Graficamente, a soluc¸a˜o Figura 1.3: Representac¸a˜o da soluc¸a˜o u = u(x, y) no espac¸o R3 das varia´veis (x, y, u) u = u(x, y) da Eq.(1.3) e´ uma superf´ıcie suave no espac¸o R3 das varia´veis (x, y, u), que fica acima do domı´nio D ⊂ R2, ver Fig.1.2.1. Uma representac¸a˜o alternativa e´ Figura 1.4: Gra´fico da soluc¸a˜o u = u(x, y) no plano (x, u). plotar no plano (x, u) o gra´fico da func¸a˜o u = u(x, y0) para um tempo fixo y = y0, ver Fig.1.2.1. Em geral, uma EDP como (1.3) tera´ um nu´mero infinito das soluc¸o˜es que dependem de func¸o˜es arbitra´rias. 6 Exemplo 1.1. A equac¸a˜o da onda (1.4) utt − c20uxx = 0 , (c0 > 0− uma constante) , tem a soluc¸a˜o geral, representada como a soma de uma onda viajante para a direita F (x− c0t) com a velocidade c0 e de uma onda viajante para a esquerda G(x+ c0t) com a mesma velocidade c0, ou seja, (1.5) u(x, t) = F (x− c0t) +G(x+ c0t) para quaisquer func¸o˜es F,G ∈ C2. No caso de EDO’s, onde soluc¸o˜es dependem de va´rias constantes arbitra´rias, para achar uma soluc¸a˜o u´nica e´ necessa´rio saber alguns condic¸o˜es auxiliares, como por exemplo, iniciais e/ou de fronteira, que determinam estas constantes. Para as EDP’s temos uma situac¸a˜o parecida: utilizam-se as condic¸o˜es iniciais e de fronteira para selecionar uma soluc¸a˜o u´nica. Tais condic¸o˜es usualmente construam-se anali- sando o problema f´ısico associado com o modelo matema´tico. Essas sa˜o as chamadas condic¸o˜es iniciais e condic¸o˜es de fronteira. As condic¸o˜es de fronteira especificam o que acontece no limiar da regia˜o de definic¸a˜o, enquanto as condic¸o˜es iniciais forne- cem informac¸o˜es sobre o estado inicial do processo, ou a partir de onde e com qual valor a soluc¸a˜o vai se propagar.Quando a regia˜o e´ fechada e as condic¸o˜es de fron- teira sa˜o fixadas em todo entorno da regia˜o usa-se tambe´m a expressa˜o condic¸o˜es de contorno. PDE’s com condic¸o˜es auxiliares chamam-se problemas de valor inicial ou de Cauchy, problemas de valor contorno, dependendo do tipo das condic¸o˜es auxiliares especificadas. Exemplo 1.2. O problema de valor inicial (ou de Cauchy) para a equac¸a˜o de onda e´ utt − c20uxx = 0 , x ∈ R , t > 0 ,(1.6) u(x, 0) = f(x) , ut(x, 0) = g(x) , x ∈ R .(1.7) No caso quando c0 > 0 e´ uma constante e as func¸o˜es f, g ∈ C2(R), a soluc¸a˜o do problema (1.6)–(1.7) e´ dada pela fo´rmula D’Alambert (1.8) u(x, t) = 1 2 [f(x− c0t) + f(x+ c0t)] + 1 2c0 ∫ x+c0t x−c0t g(s)ds . Enta˜o, os dados auxiliares (1.7) selecionam uma u´nica soluc¸a˜o, definida pela fo´rmula D’Alambert (1.8). Os problemas considerados para EDP’s podem ser generalizados em va´rias direc¸o˜es. Por exemplo, considerando va´rias varia´veis independentes, va´rias func¸o˜es desconhecidas (governadas por sistemas de EDP’s), etc. 7 1.2.2 Problemas Bem Posto Dado um modelo matema´tico envolvendo EDP’s, condic¸a˜o inicial e/ou condic¸a˜o de fronteira, e´ deseja´vel que tal problema tenha uma soluc¸a˜o u´nica. Mais ainda, atendendo a que em geral dos dados do problema - obtidos por medic¸a˜o - sa˜o cons- tru´ıdas as expresso˜es que definem as condic¸o˜es, pretende-se que o problema seja tal que pequenos erros nas expresso˜es consideradas na˜o influenciem determinantemente a soluc¸a˜o. Estas considerac¸o˜es levam-nos ao conceito de problema bem-posto. O termo matema´tico problema bem-posto vem de uma definic¸a˜o dada por um matema´tico franceˆs Jacques Hadamard. Ele acreditava que modelos matema´ticos de fenoˆmenos f´ısicos deveriam ter as seguintes propriedades 1. Existeˆncia da soluc¸a˜o; 2. Unicidade da soluc¸a˜o: condic¸o˜es de contorno e iniciais insuficientes levam a soluc¸o˜es mu´ltiplas e quando esta˜o em excesso levam a soluc¸o˜es na˜o f´ısicas; 3. A soluc¸a˜o depende continuamente dos dados do problema: isto implica que pequenas mudanc¸as nos dados do problema causam pequenas mudanc¸as na soluc¸a˜o. Assim, podemos criar a seguinte definic¸a˜o. Definic¸a˜o 1.3. Um problema chama-se bem-posto, se todas essas condic¸o˜es sa˜o va´lidas. Se alguma das condic¸o˜es na˜o e´ satisfeita, tal problema chama-se mal-posto. Exemplos de problemas bem-postos incluem a equac¸a˜o de Laplace e a equac¸a˜o do calor, quando especificamos condic¸o˜es iniciais. Podemos dizer que sa˜o proble- mas naturais onde os quais tem fenoˆmenos f´ısicos envolvidos nos processos. Em contrapartida temos os problemas que na˜o sa˜o bem-postos, como por exemplo a equac¸a˜o de calor inversa, que deduz que a distribuic¸a˜o de temperatura a partir dos dados finais na˜o e´ bem-posto pois a soluc¸a˜o e´ altamente sens´ıvel a`s mudanc¸as nos dados finais. Um Problema inverso geralmente na˜o e´ bem posto. Problemas de continuidade geralmente tem que ser discretizados para que a soluc¸a˜o nume´rica seja obtida. Em termos de ana´lise funcional, esses problemas sa˜o tipicamente cont´ınuos, eles podem sofrer de instabilidade nume´rica quando resolvidos com precisa˜o finita, ou com erros nos dados. Mesmo que um problema seja bem-posto, ele ainda assim pode ser mal condicionado, significando que um pequeno erro nos dados iniciais pode resultar em erros muito maiores nas respostas. Um problema mal condicionado e´ caracterizado por ter um elevado nu´mero de condicionamento. Se o problema for bem-posto, sa˜o boas as chances de que ele possa ser resolvido por um computador 8 usando um me´todo nume´rico esta´vel. Se ele na˜o for bem-posto, ele precisa ser refor- mulado numericamente. Usualmente isso envolve incluir hipo´teses adicionais, como por exemplo suavidade na soluc¸a˜o. Exemplo 1.3. Consideremos o problema de Cauchy uxx + uyy = 0 , u(x, 0) = 0 , uy(x, 0) = 0 . E´ o´bvio que a func¸a˜o u = 0 e´ uma soluc¸a˜o do problema. Agora vamos mudar os dados iniciais para u(x, 0) = 0 , uy(x, 0) = 1 n sinnx , que para grandes n representa somente variac¸o˜es pequenas em dados iniciais. Po- demos verificar que a func¸a˜o u(x, y) = 1 n2 sinnx sinhny e´ a soluc¸a˜o do problema que para grandes n cresce ate´∞. Portanto, as variac¸o˜es pe- quenas em dados iniciais produzem as variac¸o˜es arbitrariamente grandes na soluc¸a˜o. De acordo com a nossa classificac¸a˜o, tal problema e´ mal-posto. 1.2.3 Linearidade×Na˜o-Linearidade Um crite´rio mais importante de classificac¸a˜o e´ distingir EDP’s como linear ou na˜o- linear. Definic¸a˜o 1.4. A EDP homogeˆnea chama-se linear se a combinac¸a˜o linear da duas soluc¸o˜es e´ uma soluc¸a˜o tambe´m. No caso contra´rio, esta equac¸a˜o chama-se na˜o- linear. A divisa˜o de EDP’s em duas categorias e´ muito importante. Me´todos ma- tema´ticos desenvolvidos para a soluc¸a˜o de equac¸o˜es lineares e na˜o-lineares e´ muito vezes totalmente diferentes, e o comportamento de soluc¸o˜es sa˜o bastante diferentes tambe´m. Mais formal, linearidade e na˜o-linearidade usualmente definam-se em termos de um operador diferencial, associado com a EDP. Vamos assumir que a EDP (1.3) pode ser escrita na seguinte maneira (1.9) Lu = f , 9 onde f = f(x, y) e L e´ um operador que inclua todas as operac¸o˜es (diferenciac¸a˜o, multiplicac¸a˜o, composic¸a˜o, etc.) com a func¸a˜o u = u(x, y). Por exemplo, a equac¸a˜o da onda utt−c20uxx = 0 pode ser escrita como Lu = 0, onde L e´ o operador diferencial parcial ∂2t − c20∂2x. Se f = 0, enta˜o a equac¸a˜o (1.9) chama-se homogeˆnea; no caso contra´rio - na˜o homogeˆnea. Usando a definic¸a˜o do operador linear, podemos dar a seguinte definic¸a˜o da linearidade. Definic¸a˜o 1.5. Um operador L chama-se linear se ele satisfaz as seguintes condic¸o˜es: 1. L(u+ v) = Lu+ Lv , 2. L(cu) = cLu , onde as func¸o˜es u e v pertenc¸am ao domı´nio de definic¸a˜o do operador L e c e´ uma constante qualquer. A EDP (1.9) e´ linear se operador L e´ linear; no caso contra´rio a EDP e´ na˜o linear. Exemplo 1.4. A EDP Lu ≡ ut + uux = 0 e´ na˜o linear porque, por exemplo, L(cu) = cut + c 2uux 6= cLu = c(ut + uux). As condic¸o˜es (1) e (2) significam que a EDP linear Lu = 0 tem a seguinte propriedade: se u1, u2, . . . , un sa˜o n soluc¸o˜es, enta˜o a combinac¸a˜o linear u = c1u1 + c2u2 + · · ·+ cnun tambe´m e´ uma soluc¸a˜o para quaisquer constantes c1, c2, . . . , cn. Este fato chama-se o princ´ıpio de superposic¸a˜o para equac¸o˜es lineares. Para EDP’s na˜o lineares nos na˜o podemos superposicionar soluc¸o˜es nesta maneira. 1.3 Leis de Conservac¸a˜o Va´rias EDP’s em cieˆncias e engenharias sa˜o obtidas de Leis de Conservac¸a˜o, que caracterizam a conservac¸a˜o de algumas quantidades ba´sicas da f´ısica de um sistema. Uma Lei de Conservac¸a˜o determina que a raza˜o de mudanc¸a da quantidade total de um material contido num volume fixo V e´ igual a fluxo deste material atrave´s da superf´ıcie fechada S deste domı´nio. Se denotar a densidade deste material como u(x, t) e o vetor de fluxo como F(x, t), enta˜o a Lei de Conservac¸a˜o sera´ dada por (1.10) d dt ∫ V udV = − ∫ S (F · n)dS , 10 onde dV e´ o elemento de volume e dS e´ o elemento de superf´ıcie, n e´ o vetor orto- normal externo a` superf´ıcie S, ver Fig.1.3 Aplicando a Teorema da Divergeˆncia de Figura 1.5: Volume V limitado por uma superf´ıcie fechada S com um elemento da superf´ıcie dS e vetor ortonormal externo n. Gauss e calculando a derivada com respeito a` varia´vel t dentro da integral, obtemos (1.11) ∫ V (∂u ∂t + divF ) dV = 0 . Este resultado e´ va´lido para qualquer volume arbitra´rio V , e, se o integrando e´ cont´ınuo, isso tem que ser igual ao zero em qualquer ponto do domı´nio. Portanto, obtemos a forma diferencial da Lei de Conservac¸a˜o (1.12) ∂u ∂t + divF = 0 . Emcasos da presenc¸a de uma fonte, caraterizada pela func¸a˜o f(x, t, u), na Eq.(1.10) tem que ser inserido mais um termo, correspondente a esta func¸a˜o (1.13) ∫ V f(x, t, u)dV . Assim obtemos a seguinte forma integral da Lei de Conservac¸a˜o (1.14) d dt ∫ V udV = − ∫ S (F · n)dS + ∫ V f(x, t, u)dV . Neste caso, repetindo as considerac¸o˜es utilizadas para obter a forma diferencial da Lei de Conservac¸a˜o Eq.(1.12), obtemos (1.15) ∂u ∂t + divF = f(x, t, u) . Equac¸o˜es Constitutivas A versa˜o um-dimensional da Lei de Conservac¸a˜o e´ (1.16) ut + Fx = f(x, t, u) , onde u = u(x, t), F = F (x, t, u), (x, t) ∈ R × R+. De ponto de vista matema´tica ou emp´ırica, e´ razoavelmente assumir que a relac¸a˜o funcional entre F e u e´ (1.17) F = F (u) . 11 Tal relac¸a˜o chama-se equac¸a˜o constitutiva. Assim, as Eqs.(1.16) e (1.17) formam um sistema fechado para u e F . Substituindo (1.17) em (1.16) obtemos a seguinte equac¸a˜o (1.18) ut + c(u)ux = f(x, t, u) , onde c(u) = dF du . Eq.(1.18) e´ universalmente considerada como a EDP de onda da primeira ordem, quasi-linear e na˜o-homogeˆneo. Tal equac¸a˜o e´ bem utilizada na ana´lise de va´rios processos na˜o-lineares, quando os feno´menos de dissipac¸a˜o, tais como viscosidade e difusa˜o sa˜o desprezados. Exemplo 1.5. Equac¸a˜o de Burgers. Consideremos o fluxo de um liquido inviscoso num meio isotro´pico e homogeˆneo. Neste caso a func¸a˜o de fluxo e´ dada pela seguinte expressa˜o (1.19) F = u2 2 . Substituindo esta expressa˜o na Eq.(1.16) obtemos a seguinte EDP, chamada de Burgers inviscoso (1.20) ut + uux = f(x, t, u) . Exemplo 1.6. Equac¸a˜o de Advec¸a˜o. O fluxo mais simples acontece quando o ma- terial esta´ carregado por um meio que move com velocidade constante, como, por exemplo, no caso quando as part´ıculas sa˜o carregadas por a´gua ou vento. Nestes casos a func¸a˜o de fluxo e´ definida pela seguinte simples relac¸a˜o linear (1.21) F = cu , onde c e´ uma constante positiva, qua carateriza a velocidade do processo. Subs- tituindo (1.21) em (1.16) obtemos a seguinte Lei de Conservac¸a˜o, chamada como equac¸a˜o de advec¸a˜o (1.22) ut + cux = f(x, t, u) . O termo advec¸a˜o e´ referido a movimento horizontal de um material (propriedade) f´ısico, por exemplo, a densidade de onda. Exemplo 1.7. Lei de Fourier. Para um material isotro´pico, caraterizado pela sua temperatura u, fluxo de calor F depende da magnitude do gradiente da temperatura u, e na˜o da sua orientac¸a˜o, (1.23) F = −κ∇u , onde κ > 0. Usando Eqs.(1.12) e (1.23) obtemos a seguinte EDP (1.24) ∂u ∂t − div(κ∇u) = 0 , chamada de calor, que carateriza a distribuic¸a˜o de temperatura num material. 12 1.4 Problemas de Valores Inicial e de Contorno Observamos que em alguns dos modelos matema´ticos estabelecidos surgiram dife- rentes tipos de condic¸o˜es: inicial e de fronteira. A condic¸a˜o inicial surge, em geral, quando a EDP’s envolve a varia´vel tempo e diz respeito a` soluc¸a˜o no instante em que se inicia a contagem deste. Pode ser dada indicando a soluc¸a˜o no instante inicial, como no caso da equac¸a˜o de calor, e a sua derivada relativamente ao tempo, como no caso da equac¸a˜o da onda. Um problema diferencial envolvendo apenas condic¸o˜es iniciais e´ chamado problema de valores (valor) iniciais (inicial) ou tambe´m problema de Cauchy. A indicac¸a˜o da soluc¸a˜o na fronteira do domı´nio, como nos modelos matema´ticos ja´ considerados, definem condic¸o˜es fundamentais para o modelo. Estas condic¸o˜es sa˜o chamadas condic¸o˜es de fronteira. O problema envolvendo EDP’s e apenas condic¸a˜o de fronteira diz-se problema de condic¸a˜o de fronteira. Se ale´m das condic¸a˜o de fron- teira, o problema apresenta condic¸a˜o (condic¸o˜es) inicial (iniciais), enta˜o o problema diferencial e´ chamado problema de condic¸o˜es iniciais (inicial) e de fronteira (misto). Exemplo 1.8. Problema com condic¸o˜es iniciais. (1.25) utt = c 2 0uxx , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R , ut(x, 0) = u1(x) , x ∈ R . Se o domı´nio espacial e´ substitu´ıdo por um intervalo (a, b), enta˜o a equac¸a˜o com derivadas parciais tem que ser complementada com condic¸o˜es, para u, na fronteira e passamos a ter um problema com condic¸o˜es iniciais e de fronteira. Exemplo 1.9. Seja Ω um domı´nio (aberto) de Rn com fronteira ∂Ω suave - admite plano tangente em cada ponto da fronteira. Os problemas seguintes apresentam apenas condic¸o˜es para a fronteira. 4u(x) = f(x) , x ∈ Ω , u = g1(x) , x ∈ ∂Ω ,(1.26) 4u(x) = f(x) , x ∈ Ω , ∂u ∂n (x) = g2(x) , x ∈ ∂Ω ,(1.27) 4u(x) = f(x) , x ∈ Ω , α(x) ∂u ∂n + β(x)u(x) = g3(x) , x ∈ ∂Ω ,(1.28) em que n e´ normal unita´ria exterior ao domı´nio Ω, f e´ uma func¸a˜o definida em Ω, e gk, k = 1, 2, 3, e α, β sa˜o func¸o˜es definidas em ∂Ω. 13 Os exemplos anteriores ilustram os diversos tipos de condic¸o˜es de fronteira. Estas condic¸o˜es podem ser classificadas do modo seguinte: 1. Primeiro tipo ou de Dirichlet - homoge´nea ou na˜o homoge´nea - a soluc¸a˜o e´ especificada na fronteira (ver 1.26), 2. Segundo tipo ou de Neumann - a derivada relativamente a` normal unita´ria exterior ao domı´nio e´ especificada na fronteira (ver 1.27), 3. Terceiro tipo ou de Robin - e´ especificada uma combinac¸a˜o linear da soluc¸a˜o e da derivada relativamente a` normal na fronteira (ver 1.28). Observamos que num problema podem surgir va´rios tipos de condic¸o˜es contornas. Por exemplo, se ∂Ω = Γ1 ⋃ Γ2, poderemos ter u(x) = g1(x) ,x ∈ Γ1 , ∂u ∂n (x) = g2(x) ,x ∈ Γ2 . 1.5 Ondas Uma das principais aplicac¸o˜es de EDP’s e´ a ana´lise de propagac¸a˜o das ondas. A onda e´ um sinal reconhecido que propaga-se de uma parte de meio para outra com uma velocidade conhecida de propagac¸a˜o. A energia e´ frequentemente transferida como uma onda. Podemos citar algumas a´reas onde a propagac¸a˜o de ondas tem a importaˆncia fundamental. • Mecaˆnica de flu´ıdos • Acu´stica • Elasticidade • F´ısica • Biologia • Meios porosos • Qu´imica 14 1.5.1 Ondas Viajantes A forma matema´tica mais simples de uma onda e´ uma func¸a˜o da seguinte forma (1.29) u(x, t) = f(x− ct) . Podemos interpretar u como a amplitude de um sinal, por exemplo, acu´stico. No tempo t = 0 a onda tem a forma f(x), que e´ o perfil inicial da onda. Enta˜o f(x−ct) representa o perfil da onda no tempo t, que e´ exatamente o perfil inicial transmitido para a direita na distaˆncia ct de unidades espaciais. A constante c representa a velocidade da onda. E´ obvio, que (1.29) representa uma onda viajante direita com a velocidade c. Semelhante, u(x, t) = f(x + ct) representa uma onda viajante para esquerda com a velocidade c. Estes tipos de ondas propagam se na forma na˜o distorcida ao longo das linhas x− ct = constante (ou x+ ct = constante). 1.5.2 Ondas Planas Outro tipo de onda interessante e´ uma onda plana. Essas ondas sa˜o definidas pela seguinte expressa˜o matema´tica (1.30) u(x, t) = A cos(kx− ωt) , onde A e´ a amplitude da onda, k e´ o nu´mero de onda, e ω e´ a frequeˆncia. O nu´mero k e´ uma medida do nu´mero de oscilac¸o˜es espaciais (por 2pi unidades), observadas num tempo fixo, e a frequeˆncia ω e´ uma medida do nu´mero de oscilac¸o˜es em tempo (por 2pi unidades) observadas num ponto espacial fixo. O nu´mero λ = 2pi/k chama-se o comprimento de onda, e P = 2pi/ω e´ o per´ıodo. Observamos, que (1.30) pode ser re-escrito como u(x, t) = A cos k(x− ω k t) , portanto (1.30) representa uma onda viajante que se propaga a` direita com veloci- dade c = ω/k. Este nu´mero chama-se a velocidade de fase. Para calculac¸o˜es a forma complexa (1.31) u(x, t) = A exp {i(kx− ωt)} e´ mais preferida porque o ca´lculo de derivadas de uma func¸a˜o exponencial e´ simples. Depois de completar o ca´lculo, podemos usar a fo´rmula de Euler expiθ = cos θ + i sin θ e achar partes real ou imagina´ria para recuperar uma soluc¸a˜o real. 15 Exemplo 1.10. (Equac¸a˜o da Onda) Substituindo (1.31) na equac¸a˜o da onda utt − c20uxx = 0 implica que ω = ±c0k. Portanto, a equac¸a˜o da Onda admite soluc¸o˜es da seguinte forma u(x, t) = A exp {ik(x± c0t)} , que representam ondas direita e esquerda viajantes com a velocidade c0. Exerc´ıcios 1. Verificar que a func¸a˜o u(x, t) = 1√ 4pikt e−x 2/4kt e´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o de calor ut − kuxx = 0 , k > 0− constante , no domı´nio D = {(x, t) : x ∈ R , t > 0}. 2. Verificar que a func¸a˜o u(x, y) = ln √ x2 + y2 satisfaz a` equac¸a˜o de Laplace uxx + uyy = 0 para qualquer (x, y) 6= (0, 0). 3. Para quais valores de a, b a func¸a˜o u(x, t) = eat sin bx sera´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o de calor ut − kuxx = 0? 4. Achar soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o uxt + 3ux = 1. Sugesta˜o: introduzir uma nova func¸a˜o v = ux e resolver a equac¸a˜o obtida; depois achar u. 5. Mostrar que a equac¸a˜o na˜o linear ut = u 2 x+uxx pode ser reduzida ate´ a equac¸a˜o de calor ut − kuxx = 0 depois de mudanc¸a w = exp(u). 6. Provar que a func¸a˜o u(x, y) = arctan(y/x) e´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o de La- place uxx + uyy = 0 para y > 0. 16 7. Verificar que a func¸a˜o u(x, t) = 1 2c0 ∫ t 0 dτ ∫ x+c0(t−τ) x−c0(t−τ) f(ξ, τ)dξ e´ uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o de onda utt − c20uxx = f(x, t) , c0 > 0− constante , para qualquer func¸a˜o f(x, t) cont´ınua com respeito a`s varia´veis x, t. 8. Representar a equac¸a˜o ut + uux + uxxx = 0 na forma de uma Lei de Conservac¸a˜o, identificando a func¸a˜o de fluxo. Cap´ıtulo 2 Equac¸o˜es Diferenc¸iais Parciais da Primeira Ordem Va´rios problemas em f´ısica, matema´tica, geof´ısica e engenharia de petro´leo pode ser formulados usando EDP’s da primeira ordem. Do ponto de vista da matema´tica as EDP’s da primeira ordem tem certa vantagem servindo como uma base conceptual que pode ser utilizado para EDP’s de ordem superior. 2.1 Classificac¸a˜o de EDP’s da Primeira Ordem Definic¸a˜o 2.1. A equac¸a˜o (2.1) F (x, y, u, ux, uy) = 0, (x, y) ∈ D ⊂ R2 , onde F e´ uma func¸a˜o dada de seus argumentos, u = u(x, y) e´ uma func¸a˜o desconhe- cida das independentes varia´veis x e y, que pertenc¸am a um domı´nio dado D em R2, chama-se a EDP da primeira ordem em duas varia´veis independentes x e y. Eq.(2.1) e´ frequentemente escrita em termos padronizados p = ux, q = uy: (2.2) F (x, y, u, p, q) = 0 . Semelhantemente, a EDP da primeira ordem mais geral, no case de treˆs varia´veis independents x, y, z, pode ser escrita como (2.3) F (x, y, z, u, ux, uy, uz) = 0 . Definic¸a˜o 2.2. Eq.(2.1) ou (2.2) chama-se EDP quasi-linear se ela e´ linear com respeito a`s derivadas da primeira ordem da func¸a˜o desconhecida u(x, y). 17 18 Assim, a EDP quasi-linear mais geral deve ter a seguinte forma (2.4) a(x, y, u)ux + b(x, y, u) = c(x, y, u) , onde seus coeficientes a, b e c sa˜o as func¸o˜es de x, y e u. Exemplo 2.1. As seguintes sa˜o exemplos das EDP’s quasi-lineares: x(y2 + u)ux − y(x2 + u)uy = (x2 − y2)u , uux + uy + 10u 2 = 0 , (y2 − x2)ux − xyuy = xu . Definic¸a˜o 2.3. Eq.(2.4) chama-se semi-linear se seus coeficientes a e b na˜o depen- dem de u. Portanto, a EDP semi-linear pode ser representada na seguinte forma (2.5) a(x, y)ux + b(x, y) = c(x, y, u) . Exemplo 2.2. As seguintes sa˜o exemplos das EDP’s semi-lineares: xux − yuy = u2 + x2 , (x+ 1)2ux + (y − 1)2uy = (x+ y)u2 , uy + aux + u 2 = 0 . Definic¸a˜o 2.4. Eq.(2.1) chama-se linear se a func¸a˜o F e´ linear em relac¸a˜o A˜ s u, ux, uy. A forma mais geral da EDP linear e´ (2.6) a(x, y)ux + b(x, y) + c(x, y)u = d(x, y) , onde a func¸a˜o d(x, y) e´ dada. Eq.(2.6) chama-se homogeˆnea se d(x, y) ≡ 0 or na˜o homogeˆnea se d(x, y) 6= 0. Exemplo 2.3. As seguintes sa˜o exemplos das EDP’s lineares: xux − yuy − 5u = 0 , 3ux + (x+ y) 2uy − u = e2x , xuy + yux = xy 2 . As vezes, uma EDP que e´ na˜o-linear chama-se na˜o-linear. Enta˜o, as EDP’s da primeira ordem frequentemente sa˜o classificadas como linear e na˜o-linear. 19 2.2 Construc¸a˜o de EDP’s da Primeira Ordem Consideremos um sistema de superf´ıcies geome´tricas, definidas pela equac¸a˜o (2.7) f(x, y, z, a, b) = 0 , onde a, b sa˜o constantes arbitra´rios. Diferenciando Eq.(2.7) com respeito das varia´veis x, y, obtemos (2.8) fx + pfz = 0 fy + qfz = 0 , onde p = ∂z ∂x e q = ∂z ∂y . Eqs.(2.8) envolvem dois paraˆmetros arbitra´rios a e b. Em geral, esses dois paraˆmetros podem ser eliminados das Eqs.(2.8) para obter a seguinte EDP da primeira ordem (2.9) F (x, y, z, p, q) = 0 . Assim, o sistema de superf´ıcies (2.7) foi reduzido a` Eq.(2.9). Definic¸a˜o 2.5. Uma equac¸a˜o de tipo (2.7), dependente de dois paraˆmetros ar- bitra´rios, chama-se soluc¸a˜o completa ou integral completa da Eq.(2.9). Definic¸a˜o 2.6. Qualquer relac¸a˜o de tipo (2.10) f(φ, ψ) = 0 , que involve uma func¸a˜o arbitra´ria f de duas func¸o˜es conhecidas φ = φ(x, y, z) e ψ = ψ(x, y, z) e representa uma soluc¸a˜o de PDE da primeira ordem e´ chamada soluc¸a˜o geral ou integral geral desta EDP. Obviamente, a soluc¸a˜o geral de EDP da primeira ordem depende de uma func¸a˜o arbitra´ria. Isso esta´ em contradic¸a˜o a` situac¸a˜o com equac¸o˜es diferenciais ordina´rias, onde a soluc¸a˜o geral depende de uma constante arbitra´ria. A soluc¸a˜o geral (2.9) de uma PDE pode ser constru´ıda usando sua integral completa (2.7). Quando esta func¸a˜o arbitra´ria e´ definida, nos obtemos, usando a soluc¸a˜o geral, uma soluc¸a˜o particular. Sendo que a soluc¸a˜o geral depende de uma func¸a˜o arbitra´ria, existe o nu´mero infinito de soluc¸o˜es. Na pra´tica, somente uma soluc¸a˜o, que satisfaz condic¸o˜es predefinidas, e´ requerida para um problema f´ısico. Tal soluc¸a˜o chama-se uma soluc¸a˜o particular. Finalmente, e´ importante dizer que podemos esperar que soluc¸o˜es de uma EDP sa˜o func¸o˜es sua´veis. Definic¸a˜o 2.7. Uma func¸a˜o chama-se suave se todas as derivadas dela existem e sa˜o cont´ınuas. 20 Embora, em geral, soluc¸o˜es na˜o sempre sa˜o sua´veis. A soluc¸a˜o que na˜o e´ diferenciavel em qualquer ponto, chama-se soluc¸a˜o fraca. As soluc¸o˜es fracas mais comuns sa˜o daquelas que tem suas primeiras derivadas discont´ınuas em pontos de uma curva. Exemplo 2.4. Mostrar que um conjunto de esferas (c, r > 0-constantes) (2.11) x2 + y2 + (z − c)2 = r2 satisfazem a seguinte EDP da primeira ordem yp− xq = 0 . Diferenciando Eq.(2.11) com respeito a`s varia´veis x e y, obtemos x+ p(z − c) = 0 , y + q(z − c) = 0 . Excluindo a constante arbitra´ria c dessas equac¸o˜es, obtemos a EDP da primeira ordem yp− xq = 0 . Exemplo 2.5. Mostrar que um conjunto de esferas (a, b, r > 0-constantes) (2.12) (x− a)2 + (y − b)2 + z2 = r2 satisfazem a seguinte EDP da primeira ordem z2(p2 + q2 + 1) = r2 . Diferenciando Eq.(2.1) com respeito a`s varia´veis x e y, obtemos (x− a) + zp = 0 , (y − b) + zq = 0 . Excluindo as constantes arbitra´rias a, b, obtemos a EDP na˜o-linear da primeira ordem z2(p2 + q2 + 1) = r2 . 2.3 EDP’s Lineares da Primeira Ordem e Cara- ter´ısticas A EDP da primeira ordem simples e´ uma equac¸a˜o hiperbo´lica, associada com a pro- pagac¸a˜o de sinais em velocidade finita. A ide´ia fundamental associada com equac¸o˜es hiperbo´lica e´ a noc¸a˜o de carater´ıstica, uma curva ao longo de qual sinais se propa- gam. A meta principal deste para´grafo e´ construc¸a˜o de uma base so´lida do conceito de carater´ısticas, examinando as EDP’s lineares da primeira ordem, dependentes de uma varia´vel espacial x e do tempo t. 21 2.3.1 Equac¸a˜o de Advec¸a˜o com Coeficientes Constantes Foi mostrado anteriormente que o problema de Cauchy para a equac¸a˜o de advec¸a˜o pode ser formuladana seguinte maneira (2.13) ut + cux = 0 , x ∈ R, t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . No caso da equac¸a˜o de advec¸a˜o a func¸a˜o de fluxo e´ F = cu, onde c > 0 e´ uma constante que carateriza a velocidade do processo. Neste caso mais simples, intro- duzimos um me´todo chamado me´todo das carater´ısticas para a soluc¸a˜o do problema de Cauchy (2.13). Consideremos o semi-plano R2+ = {x ∈ R , t > 0}. Suponhamos que x = x(t) e´ uma curva no semi-plano, comec¸ando de um ponto (x0, 0) do eixo Ox. Quando um ponto (x(t), t) move-se sobre essa curva, o valor de u(x(t), t) muda na raza˜o d dt u(x(t), t). Pela regra de cadeia, essa derivada pode ser escrita da seguinte forma (2.14) d dt u(x(t), t) = ux · dx dt + ut . Se selecionarmos uma curva x = x(t), tal que (2.15) dx dt = c , enta˜o as equac¸o˜es (2.13)–(2.15) fornecem o seguinte resultado d dt u(x(t), t) = cux + ut = 0 . Isso significa que o valor da func¸a˜o e´ uma constante sobre essa curva particular e que esse valor e´ igual ao valor de u no ponto inicial (x0, 0). Da condic¸a˜o inicial do problema de Cauchy (2.13) conclu´ımos que esse valor e´ u0(x0). A curva em especial x = x(t), que passa pelo ponto (x0, 0) e´ determinada pelas condic¸o˜es (2.16) dx dt = c , x(0) = x0 . A soluc¸a˜o do problema de Cauchy (2.16) e´ x = x0 + ct . Essa curva chama-se caracter´ıstica da equac¸a˜o ut + cux = 0, que defina linhas para- lelas no plano das varia´veis (x, t) passando os pontos iniciais (x0, 0) do eixo Ox com inclinac¸a˜o 1/c. 22 A derivada dx dt chama-se velocidade das caracter´ısticas, que para esse problema e´ c. Usando o fato que a soluc¸a˜o u e´ uma constante nas linhas x = x0 +ct, podemos construir o valor de u(x, t em qualquer ponto (x, t) ∈ R2+. Para o ponto (x, t) dado a caracter´ıstica e´ extendida para tra´s do (x, t) ate´ o ponto (x0, 0) do eixo Ox, onde x0 e´ dado pela fo´rmula x0 = x− ct. Uma vez que a func¸a˜o u(x, t) e´ uma constante ao longo da caracter´ıstica, o valor da u no ponto (x, t e´ igual da u no ponto (x0, 0). Utilizando a condic¸a˜o inicial do problema (2.13), esse valor e´ (2.17) u(x, t) = u(x0, 0) = u0(x0) = u0(x− ct) . A soluc¸a˜o (2.17) e´ uma onda com perfil inicial u0(x) viajando atrave´s de um meio um-dimensional com velocidade c. Teorema 2.1. Seja u0(x) ∈ C1(R). Enta˜o existe uma u´nica soluc¸a˜o u(x, t) ∈ C2(R2) do problema de Cauchy (2.13) e dada pela formula (2.18) u(x, t) = u0(x− ct) . Tal soluc¸a˜o depende continuamente do dado inicial do problema. Demonstrac¸a˜o. E simples verificar que a func¸a˜o (2.18) satisfaz a`s equac¸o˜es (2.12) e que essa func¸a˜o e´ u´nica. Para mostrar a dependeˆncia continua da soluc¸a˜o do problema de Cauchy (2.13), suponhamos que as func¸o˜es uk0(x), k = 1, 2, sa˜o duas func¸o˜es iniciais u k 0(x), k = 1, 2, e as func¸o˜es uk(x, t), k = 1, 2, sa˜o as soluc¸o˜es dos problemas de Cauchy que correspondem a esses dados iniciais. A equac¸a˜o de advec¸a˜o e´ linear, por isso, a func¸a˜o u ≡ u1 − u2 resolve o problema (2.13) com dado inicial u0 ≡ u10 − u20. Aplicando a fo´rmula (2.18), temos u(x, t) = u1(x, t)− u2(x, t) = u10(x− ct)− u20(x− ct) , que da´ max (x,t)∈R2+ |u1(x, t)− u2(x, t)| = max (x,t)∈R2+ |u(x, t)| = max x∈R |u10(x)− u20(x)| . Portanto, se |u10(x) − u20(x)| ≤ δ para qualquer ponto x ∈ R, enta˜o |u1(x, t) − u2(x, t)| ≤ δ para qualquer ponto (x, t) ∈ R2+. A dependeˆncia cont´ınua da soluc¸a˜o de dados iniciais e´ estabelecida no sentido de que pequenas mudanc¸as nos dados iniciais produzam pequenas mudanc¸as na soluc¸a˜o. 23 Exemplo 2.6. Consideremos um problema de Cauchy ut + 4ux = 0 , (x, t) ∈ R2+ , u(x, 0) = arctan x , x ∈ R . Ao longo da curva x = x(t), a derivada da u(x(t), t) e´ d dt u(x(t), t) = ut + ux dx dt . Considerando x(t) satisfazendo ao problema dx dt = 4 , t ∈ R+ , x(0) = x0 , temos que a caracterist´ıca e´ x = x0 + 4t. Ao longo da curva d dt u(x(t), t) = ut + 4ux = 0 , u(x(t), t) tem valor constante na curva x = x0+4t. Agora, qualquer ponto (x, t) pode ser ligado com o ponto (x0, 0) do eixo Ox atrave´s da caracter´ıstica, i.e., x0 = x− 4t. Uma vez a soluc¸a˜o u e uma constante na caracter´ıstica, o valor da u(x, t) e´ u(x, t) = u(x0, 0) = arctan x0 = arctan(x− 4t) . A soluc¸a˜o do problema de Cauchy e uma onda com perfil arctanx viajando com velocidade c = 4. As caracter´ısticas podem ser usadas para soluc¸a˜o do problema de Cauchy para equac¸a˜o de advec¸ao na˜o-homogeˆnea (2.19) ut + cux = f(x, t) , (x, t) ∈ R2+ , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . A raza˜o da mudanc¸a da soluc¸a˜o ao longo da curva x = x(t) e´ d dt u(x(t), t) = ut + ux dx dt , e a caracter´ıstica com comec¸o no ponto (x0, 0) que procura a soluc¸a˜o na qual dx dt = c , t ∈ R+ , x(0) = x0 , 24 e x = ct + x0. Enta˜o, a raza˜o na mudanc¸a da func¸a˜o u ao longo da caracter´ıstica para a (2.19) e dada pela fo´rmula d dt u(x(t), t) = ut + ux dx dt = f(x(t), t) . O valor da u ao longo da caracter´ıstica na˜o e´ constante, mas pode ser encontrado pela soluc¸a˜o do problema de Cauchy para a equac¸a˜o diferencial ordina´ria dU dt = f(x(t), t) , t ∈ R+ , U(0) = u0(x0) , onde U(t) ≡ u(x(t), t) e´ o valor da u ao longo da caracter´ıstica x = ct+ x0. Exemplo 2.7. Consideremos o problema de Cauchy ut + 4ux = 1 , (x, t) ∈ R2+ , u(x, 0) = arctan x , x ∈ R . A caracter´ıstica da equac¸a˜o e´ x = x0 + 4t. A raza˜o da mudanc¸a da u(x(t), t) ao longo da caracter´ıstica e d dt u(x(t), t) = ut + 4ux = 1 . Integrando a u´ltima com respeito a varia´vel t, temos u(x(t), t) = t+ C , onde C e´ uma constante qualquer. Para encontrar o valor de C, notamos que para t = 0 nas condic¸o˜es iniciais, C = u(x(0), 0) = u(x0, 0) = arctan x0 . A caracter´ıstica que passa no ponto (x, t) pode ser estendida para tra´s ate´ o ponto (x0, 0) do eixo Ox, onde x0 = x− 4t. O valor da u no ponto (x0, 0) portanto, da´ o valor da u no ponto (x, t) u(x(t), t) = t+ arctanx0 = t+ arctan(x− 4t) . Exerc´ıcios 1. Usando o me´todo das caracter´ısticas, resolver o problema de Cauchy ut + 2ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = e−x 2 , x ∈ R . 25 2. Usando o me´todo das caracter´ısticas, resolver o problema de Cauchy ut − 16ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = x2 , x ∈ R . 3. Mostrar que a EDP ut + kuux + q(t) = 0 pode ser reduzida ate´ a equac¸a˜o de Burgers inviscoso vs + vvx = 0 usando as transformac¸o˜es v = u exp (∫ q(t)dt ) , s = ∫ k exp ( − ∫ q(y)dy ) dt . 4. Resolver o problema mixto ut + cux = 0 , x > 0 , t > 0 u(x, 0) = 1 , x > 0 u(0, t) = 1 + t 1 + 4t2 , t > 0 , usando o fato que u deve ser constante em pontos das curvas x = ct+x0, onde c > 0 e x0 sa˜o constantes. Sugesta˜o: considerar as regio˜es x > ct e x < ct separadamente. 5. Utilizando o me´todo das caracter´ısticas, resolver o problema de Cauchy ut + 2ux = −u , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = 1 1 + x2 , x ∈ R . 6. Resolver o problema de Cauchy (c-constante) ut + cux + u = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . 7. Resolver o problema de Cauchy (c-constante) ut + cux = xt , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . 8. Resolver o problema de Cauchy (c-constante) ut + cux = u 2 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . 26 2.3.2 Equac¸a˜o de Advec¸a˜o com Coeficientes Varia´veis Ate´ agora, consideramos uma velocidade constante c para um meio homogeˆneo. Pore´m, e´ mais comum imaginar um meio com propriedades f´ısicas varia´veis. Nesse caso, a velocidade de propagac¸a˜o pode depender da coordenada espacial x e do tempo t, tal que c = c(x, t). Enta˜o, podemos formular um problema de Cauchy do seguinte modo (2.20) ut + c(x, t)ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . O coeficiente c(x, t) na˜o e´ mais constante,mas podemos usar o me´todo das ca- racter´ısticas para esse caso tambe´m. Uma caracter´ıstica que ultrapassa um ponto (x0, 0) pode ser constru´ıda como a soluc¸a˜o do problema de Cauchy do seguinte modo dx dt = c(x, t) , x(0) = x0 . O valor da func¸a˜o u(x(t), t) e´ uma constante nessa caracter´ıstica porque d dt u(x(t), t) = ut(x(t), t) + ux(x(t), x) dx dt = ut + c(x, t)ux = 0 pela equac¸a˜o de advec¸a˜o. Por isso, o valor da soluc¸a˜o do problema de Cauchy para a equac¸a˜o de advec¸a˜o no ponto (x, t) pode ser constru´ıdo por: 1. Construc¸a˜o das caracter´ısticas por soluc¸a˜o do problema de Cauchy (2.21) dx dt = c(x, t) , x(0) = x0; 2. Construc¸a˜o do ponto particular (x0, 0) para a caracter´ıstica passando o ponto (x, t); 3. Utilizando x0 para calcular u(x, t) = u(x0, 0) = u0(x0). Exemplo 2.8. Resolver o problema de Cauchy ut + xux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = f(x) . O problema de Cauchy para construc¸a˜o das caracter´ısticas (2.21), nesse caso e´ dx dt = x , x(0) = x0. A soluc¸a˜o do problema e´ x = x0e t. Por isso, a soluc¸a˜o do problema de Cauchy inicial e´ u(x, t) = u(x0, 0) = f(x0) = f(xe −t). 27 O seguinte teorema e´ va´lido: Teorema 2.2. Seja c(x, t) ∈ C2. Suponhamos que para t > 0 a caracter´ıstica que passa em qualquer ponto (x, t) possa ser constru´ıda para tra´s ate´ um ponto x0(x, t) do eixo Ox. Enta˜o existe a u´nica soluc¸a˜o u(x, t) ∈ C1 do problema de Cauchy (2.3.2). Ale´m disso, se a func¸a˜o u(x, t) e´ a soluc¸a˜o do problema de Cauchy com dados iniciais u0(x) e se v(x, t) e´ a soluc¸a˜o do mesmo problema de Cauchy com dados iniciais v0(x), enta˜o, max (x,t)∈R2 |u(x, t)− v(x, t)| = max x∈R |u0(x)− v0(x)| , o que significa que a soluc¸a˜o do problema de Cauchy (2.3.2) e´ esta´vel. Exerc´ıcios 1. Resolver o problema de Cauchy ut + xtux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = 1 1 + x2 , x ∈ R . a) Resolver o problema de Cauchy (2.21) com c(x, t) = xt para mostrar que a equac¸a˜o da caracter´ıstica passando o ponto (x0, 0) e´ x = x0e t2/2. b) Construir a soluc¸a˜o u(x, t) usando x0 = xe −t2/2. 2. Resolver o problema de Cauchy (c-constante) ut + cux + u = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . 3. Para o caso u0(x) = exp [−2(x− 2)2], resolver o problema de Cauchy ut + xux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R , e plotar, utilizando o MATLAB, o gra´fico da soluc¸a˜o u(x, t) , x ∈ [0, 10] em pontos t = 0, 5; 1; 1, 5. 28 2.4 EDP’s Na˜o-lineares da Primeira Ordem e Ca- rater´ısticas Consideremos, agora, o caso em que a velocidade de propagac¸a˜o c depende da soluc¸a˜o u. Vamos repetir as principais argumentac¸o˜es utilizadas na construc¸a˜o da Lei de Conservac¸a˜o para este caso, suponhando que uma substaˆncia flui atrave´s de um tubo, tal que a densidade dela e´ constante atrave´s de cada sec¸a˜o do tubo. Enta˜o, podemos assumir que a densidade e´ uma func¸a˜o de uma varia´vel espacial, por exem- plo da varia´vel x. Denotamos como u(x, t) a densidade no ponto x e tempo t. A dimensionalidade de u e´ massa/comprimento. A massa da substaˆncia no intervalo [a, b] e´ ∫ b a u(x, t)dx . Seja F (x, t) a raza˜o com que a substaˆncia ultrapassa o ponto x. Enta˜o, F chama-se fluxo. No´s adotamos F positiva quando a substaˆncia ultrapassa da esquerda para a direita e negativa para o caso contra´rio. Seja a equac¸a˜o de balanc¸o: (2.22) d dt ∫ b a u(x, t)dx = F (a, t)− F (b, t) . Essa equac¸a˜o diz que a raza˜o da mudanc¸a de massa no intervalo [a, b] e´ igual a` raza˜o (fluxo) na qual a substaˆncia entra no ponto a do intervalo menos a raza˜o na qual ela sai no ponto b. A equac¸a˜o (2.22) expressa a lei de conservac¸a˜o de massa no caso um-dimensional. Suponhamos que a densidade u e o fluxo F sa˜o func¸o˜es do C1. Neste caso, no´s podemos diferenciar dentro da integral e tambe´m representar a parte direita da fo´rmula (2.22) como uma integral do seguinte tipo∫ b a ut(x, t)dx = − ∫ b a Fx(x, t)dx , que da´ (2.23) ∫ b a [ut(x, t) + Fx(x, t)] dx = 0 . Portanto, essa igualdade e´ va´lida para qualquer intervalo [a, b] e o integrando deve ser igual a zero. Enta˜o, as func¸o˜es u, F tem que satisfazer a` equac¸a˜o (2.24) ut + Fx = 0 . 29 Para reduzir a u´ltima equac¸a˜o em uma func¸a˜o so´, no´s devemos fazer uma suposic¸a˜o sobre a relac¸a˜o entre u e F . Suponhamos que existe uma relac¸a˜o constitutiva entre fluxo e densidade dada na seguinte forma F (x, t) ≡ F (u) . Supondo que F ∈ C1, temos, enta˜o (2.25) ut + F ′(u)ux = 0 . A equac¸a˜o (2.22) chama-se a forma integral da lei de conservac¸a˜o e a equac¸a˜o (2.24) (e (2.25)) e´ a forma diferencial. A primeira forma e´ mais generalizada que a se- gunda. Vamos mostrar mais adiante que existem situac¸o˜es em que a equac¸a˜o (2.22) e´ satisfeita mas a equac¸a˜o (2.24) na˜o e´ definida. Exercicios 1. Mostrar que a soluc¸a˜o do problema de valor inicial ut + uux + au = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = bx , x ∈ R , onde a, b sa˜o constantes, e´ u(x, t) = abx exp (−at) (a+ b)− b exp (−at) . 2. Consideremos uut + ux = 1 com dado de Cauchy u = x/2 na linha x = t para x ∈ (0, 1). Provar que u = 4x− 2t− x2 2(2− x) . Achar o dominio de validade da soluc¸a˜o e plotar as carateristicas. 3. Consideremos uut + ux = 1 com dado de Cauchy u = x na linha t = 1 para x ∈ R. Provar que u = x− t2 1 + ln t + t2 . Achar o dominio onde a soluc¸a˜o e valida. 30 2.4.1 Carater´ısticas Voltando para o problema de valor inicial geral, vamos aplicar o me´todo das carac- ter´ısticas para o problema (2.26) ut + c(u)ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R , onde c = F ′(u). As caracter´ısticas com in´ıcio no ponto (x0, 0) para esse problema podem ser constru´ıdas utilizando as seguintes equac¸o˜es (2.27) dx dt = c(u(x, t)) , x(0) = x0 . Nesse caso, no´s na˜o sabemos a func¸a˜o u(x, t). Mas por outro lado, o valor da u(x, t) e´ uma constante ao longo da caracter´ıstica (x(t), t) porque d dt u(x(t), t) = ut + ux · dx dt = ut + c(u)ux = 0 . Como visto anteriormente, isso mostra que o valor da u sobre a caracter´ıstica e´ uma constante. O valor da u em cada ponto (x, t) da caracter´ıstica e´ o mesmo valor da u no ponto inicial (x0, 0), que pela condic¸a˜o inicial e´ u(x, t) = u(x0, 0) = u0(x0) . Sabendo que a func¸a˜o u e´ uma constante ao longo da caracter´ıstica, podemos Figura 2.1: As caracter´ısticas da lei de conservac¸a˜o na˜o-linear ut+c(u)ux = 0 podem ser na˜o paralelas reconsiderar o problema (2.27) para construir a u(x, t). Uma vez que a u(x, t) tem o valor constante u0(x0) sobre a caracter´ıstica que ultrapassa o ponto (x0, 0), podemos escrever o problema de valor inicial (2.27) como dx dt = c(u0(x0)) , x(0) = x0 . Resolvendo o problema, encontramos (2.28) x = c(u0(x0))t+ x0 . Como c = constante, as caracter´ısticas sa˜o linhas retas. Pore´m, elas na˜o sa˜o neces- sariamente linhas pararelas porque a inclinac¸a˜o 1/c(u0(x0)) de cada linha depende do valor de u no ponto inicial da caracter´ıstica, como mostra a Fig. 2.1. O procedimento de construc¸a˜o do valor de u no ponto (x, t) e´: 31 1. Construir as caracter´ısticas x = c(u0(x0))t + x0 usando a velocidade c(u) da equac¸a˜o ut + c(u)ux = 0 e perfil inicial u0(x0). 2. Achar o ponto inicial (x0, 0) da caracter´ıstica que passa atrave´s de (x, t) pela soluc¸a˜o x = c(u0(x0))t+ x0 para x0. 3. Usar o valor de x0 para calcular u(x, t) = u(x0, 0) = u0(x0). Exemplo 2.9. Se F = 1 2 u2, enta˜o a lei de conservac¸a˜o ut + Fx = 0 transforma-se na equac¸a˜o de Burgers, ut + uux = 0, com velocidade c(u) = u. Consideremos o problema de valor inicial ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = { 0, se x ≤ 0 e−1/x, se x > 0 Uma vez que c(u0(x0)) = u0(x0), a caracter´ıstica que passano ponto (x0, 0) e´ x = u0(x0)t+ x0, ou x = { 0 · t+ x0, se x0 ≤ 0 e−1/x0 · t+ x0, se x0 > 0 A soluc¸a˜o u(x, t) e´ a func¸a˜o Figura 2.2: As caracter´ısticas do problema u(x, t) = { 0, se x ≤ 0 e−1/x0 , se x > 0 onde x0 e´ a soluc¸a˜o da equac¸a˜o x0 + e −1/x0 · t = x , isto e´, x0 = x0(x, t). Exerc´ıcios 1. Achar a soluc¸a˜o do problema de Cauchy ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = −1, se x < 0 2x− 1, se 0 ≤ x ≤ 1 1, se x > 1 32 2. Construir a soluc¸a˜o do problema de Cauchy: ut + u 2ux = −u , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = 3 , x ∈ R . 3. Definir e plotar as caracter´ısticas do problema de Cauchy: ut + uux = xt , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = 1, if x ≤ 0 2, if x ∈ (0, 1) 3, if x ≥ 1 4. Definir e plotar as caracter´ısticas do problema de Cauchy: ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0 = 3, if x ≤ 0 2, if x ∈ (0, 1) 1, if x ≥ 1 5. Definir e plotar as caracter´ısticas do problema de Cauchy: ut + (u 2 + 1)ux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = 1, if x ≤ 0 2, if x ∈ (0, 1) 1, if x ≥ 1. 6. Definir e plotar as caracter´ısticas do problema de Cauchy: ut + u 3ux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = 2, if x ≤ 0 1, if x ∈ (0, 1) 2, if x ≥ 1. 2.4.2 Cata´strofe de Gradiente e Tempo de Queda Na sec¸a˜o anterior foi mostrado que a soluc¸a˜o da lei de conservac¸a˜o ut + Fx = 0 poderia ser constru´ıda no ponto (x, t) usando uma caracter´ıstica seguida do ponto (x, t) de volta em um ponto (x0, 0). Uma suposic¸a˜o impl´ıcita do me´todo e´ que existe somente uma caracter´ıstica extendida do ponto (x, t). No caso da lei conservativa na˜o linear, e´ poss´ıvel quando duas ou mais caracter´ısticas interceptam-se no ponto (x, t) como ilustra a Fig. 2.3. Para a ana´lise detalhada dessa situac¸a˜o consideremos 33 Figura 2.3: Exemplo das carater´ısticas cruzadas um problema de valor inicial (2.29) ut + c(u)ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . Na sec¸a˜o anterior foi mostrado que as caracter´ısticas do problema (2.26) sa˜o as retas x = c(u0(x0))t+ x0, onde a soluc¸a˜o u e´ uma constante. No caso quando c(u) e´ uma constante, as caracter´ısticas x = ct + x0 sa˜o as retas paralelas. Mas quando c(u) na˜o e´ uma constante, as caracter´ısticas x = c(u0(x0))t+x0 na˜o sa˜o necessariamente as linhas paralelas e podem ultrapassar uma a outra. O valor da soluc¸a˜o u deixa de ser constante em cada caracter´ıstica individual. Na Fig. 2.4 podemos ver que Figura 2.4: Carater´ısticas cruzadas podem resultar em declive infinito ux se as duas caracter´ısticas atravessam u e o valor de u e´ diferente sobre cada linha, fazendo com que ux(x, t) na direc¸a˜o x tenda para infinito quando t se aproxima da intersecc¸a˜o das linhas. A formac¸a˜o de declive (”slowness”) infinito ux na soluc¸a˜o u chama-se cata´strofe do gradiente. Vamos supor que c(u) aumenta com u, por exemplo, c(u) = u. Nesse caso, para valores maiores do que u ≥ 0 temos os maiores valores da velocidade c(u) e a parte superior do perfil u(x, t) (maiores valores de u) move-se com velocidade mais ra´pida do que a parte inferior (menores valores de u). Como mostra a Fig. 2.5, se o Figura 2.5: Parte superior do perfil de soluc¸a˜o u(x, t) propaga-se com a velocidade maior que a parte inferior quando ut + uux = 0 perfil de u(x, t) em tempo e´ uma func¸a˜o crescente da varia´vel x, enta˜o em um tempo posterior t o perfil da u(x, t) aparece como ”thinned out”ou ”rarified”. Por outro lado, se o perfil da u(x, t) tem a forma de um pulso, Fig. 2.6, enta˜o o topo do perfil alcanc¸a a parte de baixo do perfil que move-se com velocidade menor. Isso forma um valor infinito da ux criando a cata´strofe do gradiente. Definic¸a˜o 2.8. O mais cedo tempo tb ≥ 0 no qual acontece a cata´strofe do gradi- ente na soluc¸a˜o u(x, t) do problema (2.29) chama-se tempo de queda (ou ”breaking time”em ingleˆs). 34 Figura 2.6: Parte superior do perfil de soluc¸a˜o u(x, t) pode alcanc¸ar ate´ parte infe- rior, formando a cata´strofe de gradiente Exemplo 2.10. Consideremos um problema de valor inicial para a equac¸a˜o de Burgers no meio inviscoso ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = e−x 2 , x ∈ R . Com velocidade c(u) = u e perfil inicial u0(x) = e −x2 , as caracter´ısticas com comec¸o no ponto (x0, 0) sa˜o x = c(u0(x0))t+ x0 = e −x20t+ x0 . Figura 2.7: Parte superior do perfil de soluc¸a˜o u(x, t) pode alcanc¸ar ate´ parte infe- rior, formando a cata´strofe de gradiente Um diagrama das caracter´ısticas com pontos iniciais (x0, 0) esta´ representado na Fig. 2.7. Na figura, o tempo onde as caracter´ısticas ultrapassam uma e outra e´ aproximadamente igual a tb = 1, 2 (valor do tempo de queda). Consideremos, agora, um me´todo para o ca´lculo do tempo de queda no caso geral. Consideremos o seguinte problema de Cauchy: (2.30) ut + c(u)ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R . A soluc¸a˜o do problema no ponto (x, t) e´ u(x, t) = u0(x0), onde x0 = x0(x, t) de- termina o ponto inicial (x0, 0) da caracter´ıstica que ultrapassa o ponto (x, t). A derivada ux e´ (2.31) ux(x, t) = u ′ 0(x0) · ∂x0 ∂x , o valor x0 determina-se da equac¸a˜o x = x0 + c(u0(x0))t na forma impl´ıcita. Enta˜o ∂x ∂x = ∂ ∂x [c(u0(x0)t+ x0] , 35 1 = t d dx0 [c(u0(x0)] · ∂x0 ∂x + ∂x0 ∂x . Resolvendo a u´ltima equac¸a˜o com respeito a ∂x0 ∂x , temos (2.32) ∂x0 ∂x = 1 1 + t d dx0 [c(u0(x0)] . Substituindo a equac¸a˜o (2.32) na equac¸a˜o (2.31) temos (2.33) ux(x, t) = u ′ 0(x0) 1 + t d dx0 [c(u0(x0)] . O problema de determinac¸a˜o quando ux e´ igual a infinito reduz-se ao problema quando o denominador em (2.33) aproxima-se de zero. Se d dx0 [c(u0(x0)] ≥ 0 para todos os pontos iniciais (x0, 0), enta˜o o denominador em (2.33) nunca aproxima-se de zero quando t aumenta. Nesse caso, a cata´strofe do gradiente na˜o acontece nunca. Por outro lado, se d dx0 [c(u0(x0)] e´ negativa para um valor de x0, enta˜o a cata´strofe do gradiente pode acontecer quando t aproxima-se de − 1d dx0 [c(u0(x0)] . O valor de x0 que produz o tempo tb e´ o valor de x0 que produz o termo d dx0 [c(u0(x0)] mais negativo. Utilizando esse valor de x0, o tempo de queda e´ (2.34) tb = −1 d dx0 [c(u0(x0)] . Exemplo 2.11. Consideremos de novo o problema de Cauchy ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = e−x2 , x ∈ R . Com velocidade c(u) = u e o perfil inicial u0(x) = e −x2 temos c(u0(x0)) = c(e −x20) = e−x 2 0 . O tempo de queda tb requer buscar o valor mais negativo da func¸a˜o F (x0) = d dx0 [c(u0(x0)] = d dx0 e−x 2 0 = −2x0e−x20 . A derivada F ′(x0) = (−2 + 4x20)e−x20 mostra que F (x0) tem os pontos cr´ıticos x0 = ± 1√ 2 com x0 = 1√ 2 entregando o valor mais negativo da func¸a˜o F (x0). Enta˜o, o tempo de queda (2.34) com x0 = 1√ 2 e´ tb = − 1−2x0e−x20 = √ e 2 . 36 Exerc´ıcios 1. Considere o problema de Cauchy ut + u 2ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = 1 1 + x2 , x ∈ R . a) Construir as caracter´ısticas do problema. Usando MATLAB, construir as caracter´ısticas no plano das varia´veis (x, t). b) Calcular o tempo de queda tb. 2. Consideremos o problema de valor inicial ut + u 2ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = { 1, se x > 0 2x−1 x−1 , se x < 0 Plotar o dado inicial e definir o salto inicial em ux. Plotar as carater´ısticas e definir o tempo de queda tb. 2.4.3 Soluc¸a˜o Suave por Partes A construc¸a˜o da EDP na forma de uma lei de conservac¸a˜o pressupo˜e que a soluc¸a˜o e´ uma func¸a˜o cont´ınua junto com suas derivadas da primeira ordem. O me´todo das carater´ısticas pode construir tal soluc¸a˜o, mas somente ate´ do tempo quando primeira vez acontece o cata´strofe de gradiente, tb. Nessa sec¸a˜o a soluc¸a˜o u(x, t) sera´ continuada paraos tempos maiores do tempo de queda, permitindo que tal soluc¸a˜o pode ser caraterizada pela uma func¸a˜o suave por partes. Para fazer assim, no´s retornamos ate´ forma integral da lei de conservac¸a˜o em pontos (x, t) onde u(x, t) e´ descont´ınua. Como foi mostrado na sec¸a˜o anterior, as carater´ısticas para o problema de Cauchy (2.35) ut + c(u)ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R pode ser utilizadas para a construc¸a˜o de uma soluc¸a˜o u(x, t) comec¸ando no tempo t = 0, mas finalizando no tempo de queda tb de um cata´strofe de gradiente. Nesta sec¸a˜o no´s vamos modificar o me´todo de carater´ısticas, permitindo que a soluc¸a˜o u(x, t) quebra-se no tempo t = tb, formando uma func¸a˜o suave por partes para 37 Figura 2.8: Curva x = xs(t) e regio˜es R ± t ≥ tb. Para definir func¸o˜es (soluc¸o˜es) suaves por partes, suponhamos que x = xs(t) e´ uma curva no plano das varia´veis (x, t), que divide o semi-plano superior em duas partes, ver Fig. 2.8. Sejam R− a regia˜o a` esquerda da curva e R+ a` direita dessa curva. Definic¸a˜o 2.9. A func¸a˜o u(x, t) chama-se a soluc¸a˜o suave por partes do problema (2.35) com salto de discontinuidade ao longo da curva xs, se u(x, t) tem as seguintes propriedades: 1. u(x, t) tem derivadas da primeira ordem cont´ınuas ut e ux em R + e R−, e satisfaz o seguinte problema de Cauchy na regia˜o R− ut + c(u)ux = 0 , para (x, t) ∈ R− , u(x, 0) = u0(x) , parax < xs(0) , e na regia˜o R+ ut + c(u)ux = 0 , para (x, t) ∈ R+ , u(x, 0) = u0(x) , parax > xs(0) . 2. Em cada ponto (x0, t0) da curva x = xs(t) o limite u(x, t) quando (x, t) → (x0, t0) em R − e o limite u(x, t) quando (x, t)→ (x0, t0) em R+ ambos existem mas na˜o necessariamente sa˜o iguais. O gra´fico de tal func¸a˜o e´ composto por duas sec¸o˜es de uma superf´ıcie com um salto ao longo da curva x = xs(t), ver Fig. 2.9. Figura 2.9: Gra´fico de uma func¸a˜o suave por partes com descontinuidade em pontos da curva x = xs(t) Exerc´ıcios 2.4.4 Ondas de Choque A construc¸a˜o de uma soluc¸a˜o de equac¸a˜o ut+Fx = 0 pelo me´todo das caracter´ısticas temporariamente para-se quando um cata´strofe de gradiente acontece. No entanto, o processo f´ısico modelado pelo este lei de conservac¸a˜o na˜o necessariamente termina- se. Nesta sec¸a˜o nos vamos descrever como a soluc¸a˜o u(x, t) tem que ser continuada 38 depois do tempo de queda, permitindo u(x, t) ser suave por partes, mas obedecendo ao lei de conservac¸a˜o. A formac¸a˜o de uma discontinuidade depois de cata´strofe de gradiente e´ uma mudanc¸a drama´tica na natureza da func¸a˜o u(x, t). Tal func¸a˜o sera´ chamada soluc¸a˜o de tipo onda de choque do lei de conservac¸a˜o. Suponhamos que as carater´ısticas do problema (2.36) ut + Fx = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = u0(x) , x ∈ R cruzam-se primeira vez no tempo tb = 0, ver Fig. 2.10. Para aplicar o me´todo das carater´ısticas, uma curva x = xs(t) e´ plotada atrave´s a a´rea onde as carater´ısticas se cruzam, para separar as carater´ısticas que se aproximam de direita e esquerda, ver Fig. 2.10. Mas podem ser plotadas muitas curvas para separar as carater´ısticas cruzadas, por isso agora vamos discutir como usando o lei de conservac¸a˜o selecionar somente uma curva x = xs(t). Suponhamos que a func¸a˜o u(x, t) e´ uma soluc¸a˜o suave Figura 2.10: Uso de uma curva para dividir uma regia˜o de cruzamento das cara- ter´ısticas por partes do problema de Cauchy (2.36) com salto de descontinuidade ao longo da curva x = xs(t). Embora a func¸a˜o u(x, t) satsifaz ut + Fx = 0 em cada ponto (x, t) em R− e R+, as derivadas da u(x, t) na˜o necessaramente existem em pontos da curva x = xs(t). Para ver o que vai acontecer em pontos da curva x = xs(t), vamos retornar a` forma original do lei da conservac¸a˜o (2.22). Fixando um ponto (xs(t), t) na curva, escolhemos a e b em tal maneira, que a < xs(t) < b como mostrado na Fig. 2.11. A integral na lei de conservaca˜o (2.22) pode ser representado por duas Figura 2.11: Escolha de pontos a e b partes (2.37) ∫ b a u(x, t)dx = ∫ x−s (t) a u(x, t)dx+ ∫ b x+s (t) u(x, t)dx . Substituindo (2.37) na lei de conservac¸a˜o (2.22) e usando a regra de cadeia para calcular a derivada dessas integrais em relac¸a˜o da variavel do tempo t, obtemos∫ x−s (t) a ut(x, t)dx+ u(x − s , t) dxs dt + ∫ b x+s (t) ut(x, t)dx− u(x+s , t) dxs dt = F (a, t)− F (b, t) . 39 Dirigindo a→ x−s e b→ x+s obtemos a seguinte equac¸a˜o u(x−s , t) dxs dt − u(x+s , t) dxs dt = F (x−s , t)− F (x+s , t) , de qual nos podemos construir a seguinte equac¸a˜o diferencial ordinaria (2.38) dxs dt = F (x+s , t)− F (x−s , t) u(x+s , t)− u(x−s , t) . A equac¸a˜o (2.38) mostra que para que uma soluc¸a˜o suave por partes do problema (2.36) satisfaria a forma integral da lei de conservac¸a˜o (2.22), a curva x = xs(t) tem que satisfazer a` equac¸a˜o (2.38). Esta equac¸a˜o chama-se a condic¸a˜o de salto de Rankine-Hugoniot para u(x, t). Usando a notac¸a˜o de salto [F ](x, t) = F (x+, t)− F (x−, t) , [u](x, t) = u(x+, t)− u(x−, t) , A condic¸a˜o de salto de Rankine-Hugoniot reescreve-se como dxs dt = [F ] [u] . Definic¸a˜o 2.10. Uma soluc¸a˜o suave por partes u(x, t) da equac¸a˜o ut + Fx = 0 com um salto ao longo de curva xs(t), que satisfaz a` condic¸a˜o de Rankine-Hugoniot (2.38), chama-se soluc¸a˜o de tipo onda de choque da lei de conservac¸a˜o. A curva xs(t) chama-se caminho de choque. Exemplo 2.12. Consideremos o seguinte problema de Cauchy para a equc¸a˜o de Burgers inviscoso: ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = { 1, se x ≤ 0, 0, se x > 0. As carater´ısticas x = x0+t·c(u0(x0)) do problema sa˜o x = x0+t·0 para x0 ≤ 0, e x = Figura 2.12: As carater´ısticas e curva que separa as carater´ısticas cruzadas para o exemplo x0+t·1 para x0 > 0. Com base na ana´lise das carater´ısticas no semi-plano t ≥ 0 (ver Fig. 2.12) podemos concluir que a primeira vez o cata´strofe de gradiente acontece no ponto (0, 0) com tempo de queda tb = 0. Por esta raza˜o vamos procurar uma soluc¸a˜o de tipo onda de choque com caminho de choque comec¸ando no ponto (0, 0). Construindo o caminho de choque x = xs(t), podemos separar as carater´ısticas cruzadas e, usando o me´todo das carater´ısticas, construir a soluc¸a˜o do problema em 40 Figura 2.13: Interpretac¸a˜o gra´fica da soluc¸a˜o do problema domı´nios R− e R+, ver Fig. 2.13. Se (x, t) ∈ R−, enta˜o existe uma carater´ıstica que passa este ponto e um ponto (x0, 0) do semi-eixo negativo x < 0. Visto que u e´ uma constante ao longo dessa linha e o valor de u no ponto (x, t) e´ u(x, t) = u(x0, 0) = 1 para x0 < 0, o valor de u no ponto (x, t) seraˆ u(x, t) = u(x0, 0) = 1. Semelhante, se um ponto (x, t) ∈ R+, enta˜o u(x, t) = u(x0, 0) = 0. Construindo o caminho de choque, a soluc¸a˜o do problema de Cauchy seraˆ dada pela seguinte fo´rmula u(x, 0) = { 1, se (x, t) ∈ R−, 0, se (x, t) ∈ R+. A curva x = xs(t) para separar as duas regio˜oes pode ser construida usando a condic¸a˜o de salto Rankine-Hugoniot; comec¸ando o caminho de choque do ponto (0, 0): dxs dt = [F ] [u] , xs(0) = 0 . A funca˜o de fluxo para a equac¸a˜o de Burgers e´ F = u2/2, portanto dxs dt = 1 2 [u2] [u] = u+ − u− 2 , onde u± sa˜o valores da func¸a˜o u em pontos da curva (da direita - com sinal +, e da esquerda - com sinal −). Mas u = 1 em R− e u = 0 em R+, portanto u− = 1 e u+ = 0. A condic¸a˜o de salto simplifica-se ate´ dxs/dt = 1/2, o que junto com a condic¸a˜o inicial xs(0) = 0 permite construir o caminho de choque xs(t) = t/2. A Fig. 2.13 illustra o caminho de choque x = xs(t) ≡ t/2 e as carater´ısticas do problema de Cauchy u(x, 0) = { 1, se x ≤ t/2, 0, se x > t/2. Animac¸a˜o dessa func¸a˜o e´ representada na Fig. 2.14. Notamos, que o salto de Figura 2.14: Animac¸a˜o da soluc¸a˜o detipo onda de choque discontinuidade propaga-se para a direita com velocidade 1/2. 41 Exerc´ıcios 1. Achar a soluc¸a˜o de tipo onda de choque para o seguinte problema de Cauchy: ut + u 2ux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = { 2, se x < 0, 1, se x ≥ 0. Definir o valor da soluc¸a˜o no ponto (x, t) = (7, 3). 2. Resolver o problema de Cauchy: ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = { 2, x ≤ 1 0, x > 1 Achar o valor da soluc¸a˜o em ponto (x, t) = (2, 3). Analizar a variac¸a˜o de perfil da soluc¸a˜o. 3. Provar que o caminho de choque x = 3t/2 e a func¸a˜o u(x, t) = { 2, x ≤ 3t/2 1, x > 3t/2 satisfaz a condic¸a˜o de Rankine-Hugoniot e a Lei de Conservac¸a˜o na forma integral do problema de Cauchy ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = { 2, x ≤ 0 1, x > 0. 2.4.5 Ondas de Rarefac¸a˜o Ate´ agora, utilizando as caracter´ısticas, foram constru´ıdas as soluc¸o˜es da lei de conservac¸a˜o na forma de ondas de choque. A partir de agora, vamos examinar o problema em outra situac¸a˜o extrema: para a equac¸a˜o na˜o linear e´ poss´ıvel ter no plano das varia´veis (x, t) algumas regio˜es que na˜o conteˆm nenhuma caracter´ıstica. Para regio˜es desse tipo, o me´todo das caracter´ısticas sera´ modificado para formar as soluc¸o˜es na forma de ondas de rarefac¸a˜o. Para mostrar isso, vamos considerar nosso problema de valor inicial para a equac¸a˜o de Burgers inviscoso (2.39) ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = { 0, se x ≤ 0 1, se x > 0 42 As caracter´ısticas do problema sa˜o as linhas definidas pela seguinte fo´rmula (2.40) x = { x0, se x0 ≤ 0 t+ x0, se x > 0 Plotando as caracter´ısticas no plano (x, t) (Fig. 2.15), podemos observar que as caracter´ısticas na˜o sa˜o exibidas na regia˜o (x, t) : 0 < x < t < ∞. Nessa sec¸a˜o, vamos ver, com a ajuda das ondas de rarefac¸a˜o, onde podemos construir uma soluc¸a˜o u(x, t) do problema (2.39) nessa regia˜o. Suponhamos que o perfil inicial u(x, 0) Figura 2.15: Carater´ısticas que na˜o entram numa parte do semi-plano t > 0 Figura 2.16: Suavizac¸a˜o do dado inicial u(x, 0) para criar uma famı´lia de cara- ter´ısticas, quando ∆x→ 0 e´ modificado para fazer uma transic¸a˜o suave de u = 0 ate´ u = 1 atrave´s de um intervalo de comprimento ∆x sobre o ponto x = 0. Como mostra a Fig. 2.16, as caracter´ısticas fazem uma transic¸a˜o suave de linhas com velocidade c = 0 (vertical) ate´ linhas com velociade c = 1. Considerando o limite ∆x→ 0 (Fig. 2.16) podemos sugerir que a soluc¸a˜o da equac¸a˜o ut + uux = 0 na regia˜o 0 < x < t < 0 pode ser constru´ıda usando a ”famı´lia de caracter´ısticas”. Essa famı´lia consiste de linhas x = ct, onde c varia de 0 ate´ 1. A func¸a˜o u(x, t) que e´ uma constante sobre cada uma dessas caracter´ısticas pode ser representada na forma u(x, t) = g(x/t) e e´ uma func¸a˜o da velocidade das linhas x = ct. Para buscar uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o ut + uux = 0 na forma u(x, t) = g(x/t), calculamos as derivadas ut = − x t2 g′( x t ) , ux = 1 t g′( x t ) . Substituindo essas derivadas na equac¸a˜o ut + uux = 0, temos: 1 t g′( x t ){−g′(x t ) + x t } = 0 . Isso mostra que g′ = 0 (g e´ uma constante) ou g(x/t) = x/t. O exerc´ıcio seguinte mostra que o caso g′ = 0 e´ imposs´ıvel. Exerc´ıcio: Consideremos o problema de valor inicial (2.39). Usando o me´todo das caracter´ısticas, mostrar que u(x, t) ≡ 0 para x ≤ 0 e u(x, t) ≡ 1 para x > t. Suponhamos que no domı´nio 0 < x < t, u(x, t) = g(x/t) = A, isto e´, (2.41) u(x, t) = 0, se x ≤ 0 A, se 0 < x ≤ t 1, se x > t 43 Usando a condic¸a˜o de Rankine-Hugoniot para as linhas x = 0, x = t, provar que u(x, t) na˜o pode ter a soluc¸a˜o do tipo de onda de choque dada no problema (2.39). A Figura 2.17: Interpretac¸a˜o gra´fica da soluc¸a˜o do problema, constr´ıda usando a funca˜o u(x, t) = x/t outra possibilidade para g e´ g(x, t) = x/t. A Fig. 2.17 mostra o diagrama formado pela func¸a˜o u(x, t) = g(x/t) = x/t na regia˜o 0 < x < t e, usando o me´todo das carater´ısticas, em domı´nios x < 0 e x > t. A func¸a˜o e´ agora suave por partes e definida pela fo´rmula (2.42) u(x, t) = 0, se x ≤ 0 x/t, se 0 < x ≤ t 1, se x > t Notamos que embora a func¸a˜o u(x, t) seja cont´ınua para t > 0, as derivadas ut e ux na˜o existem em pontos das linhas x = 0 e x = t e, por isso, a func¸a˜o u(x, t) na˜o satisfaz a equac¸a˜o diferencial ut + uux = 0 nesses pontos. Mas essa func¸a˜o satisfaz as condic¸o˜es da definic¸a˜o de soluc¸a˜o fraca da equac¸a˜o ut+uux = 0, que sera´ introduzida posteriormente. Figura 2.18: Animac¸a˜o da funca˜o u(x, t) Em geral, uma onda de rarefac¸a˜o e´ uma func¸a˜o na˜o constante dada na seguinte forma u(x, t) = g((x − a)/t). As linhas x = a + ct no plano das varia´veis (x, t) sa˜o frequentemente chamadas carater´ısticas porque u e´ uma constante ao longo delas; embora elas na˜o sa˜o contru´ıdas usando a equac¸a˜o de carater´ısticas dx/dt = c(u) derivadas de ut + c(u)ux = 0. Estas linhas se distinguem pela sua forma origina´rias do ponto x = a no eixo Ox, ver Fig. 2.19. Figura 2.19: Carater´ısticas para uma onda de rarefac¸a˜o u(x, t) = g((x− a)/t) Exerc´ıcios 1. Construir uma soluc¸a˜o de rarefac¸a˜o do problema ut + u 2ux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = { 1, se x ≤ 0 2, se x > 0 44 2. Construir uma soluc¸a˜o de rarefac¸a˜o do problema ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = { 0, se x ≤ 1 1, se x > 1 3. Resolver o problema de Cauchy: ut − uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = { 2, x ≤ 1 0, x > 1 Achar o valor da soluc¸a˜o em ponto (x, t) = (1, 3). Analizar a variac¸a˜o de perfil da soluc¸a˜o. 4. Achar a soluc¸a˜o do problema de Cauchy ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 u(x, 0) = −1, se x < 0 2x− 1, se 0 ≤ x ≤ 1 1, se x > 1 2.4.6 Um Exemplo com Ondas de Rarefac¸a˜o e Choque Em geral, leis de conservac¸a˜o na˜o-lineares podem ter soluc¸o˜es const?u´ıdas como uma combinac¸a˜o das ondas de choque e rarefac¸a˜o. Vamos analisar um exemplo de tal soluc¸a˜o. Consideremos o problema de valor inicial para a equac¸a˜o de Burgers inviscoso (2.43) ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = 0, se x ≤ 0 1, se 0 < x < 1 0, se x ≥ 1 Com c(u) = u as carater´ısticas x = x0 + tc(u(x0, 0)) sa˜o x = x0 + t · 0 , se x0 ≤ 0 x = x0 + t · 1 , se 0 < x0 < 1 x = x0 + t · 0 , se x0 ≥ 1 A posic¸a˜o das carater´ısticas no plano das varia´veis (x, t) e´ apresentada na Fig. 2.20. Podemos ver a´reas como com crusamento das carater´ıstcas tanto sem nenhuma 45 Figura 2.20: Carater´ısticas do problema de Cauchy (2.43) carater´ıstica. Uma vez que u e´ constante ao longo das carater´ısticas, a condic¸a˜o inicial e o diagrama de carater´ısticas mostram que u(x, t) = 0 para x < 0, u(x, t) = 1 para 0 < t < x < 1, e u(x, t) = 0 para 0 < x < t < x− 1 <∞, ver Fig. 2.21. Uma Figura 2.21: Valor da soluc¸a˜o u e´ constante ao longo das carater´ısticas em regio˜es de simples carater´ısticas soluc¸a˜o suave por partes do problema (2.43) sera´ constru´ıda usando uma combinac¸a˜o das ondas de choque e rarefac¸a˜o em regio˜es restantes do plano das varia´veis (x, t). Passo I. Rarefac¸a˜o. Vamos comec¸ar pela construc¸a˜o de uma onda de rarefac¸a˜o para preencher a regia˜o que na˜o conta nenhuma carater´ıstica. Como foi mostrado na Fig. 2.20, a soluc¸a˜o na forma de uma onda de rarefac¸a˜o da equac¸a˜o ut + uux = 0 com uma famı´lia das carater´ısticas origina´das no ponto (0, 0) e´ u(x, t) = x t . Plotagem da famı´lia de carater´ısticas para esta rarefac¸a˜o no triaˆngulo resulta no diagrama de caratereisticas representado na Fig. 2.22 e num diagrama atualizado representado na Fig. 2.23. Figura 2.22: Carater´ısticas da rarefac¸a˜o u(x, t) = x/t que preencham regia˜o com acunhamento comec¸ando do ponto (0, 0) Passo II. Choque. O diagrama da Fig. 2.22 mostra o crusamentode carater´ısticas com o tempo de queda tb = 0. O pro´ximo passo sera´ construir um caminho de choque, comec¸ando no ponto (x, t) = (1, 0), que separa as carater´ısticas x = x0 + t das linhas verticais x = x0. Com a func¸a˜o de fluxo F (u) = u 2/2 para a equac¸a˜o de Burgers ut+uux = 0, a condic¸a˜o de Rankine-Hugoniot (2.38) para o caminho de choque transforma-se em dxs dt = F (x+s , t)− F (x−s , t) u(x+s , t)− u(x−s , t) = 1 2 · (u +)2 − (u−)2 u+ − u− = u+ + u− 2 . As carater´ısticas de lado esquerdo do caminho de choque extendam-se para tra´s ate´ pontos (x0, 0) do eixo Ox onde 0 < x0 < 1. O valor da func¸a˜o u(x, t) ao longo dessas linhas sera´ u(x, t) = u(x0, 0 = 1, ass´ım, o valor de u(x, t) quando (x, t) aproxima-se o caminho de choque do lado esquerdo e´ u− = 1. Similarmente, as carater´ısticas de 46 Figura 2.23: (x, t)-diagrama da soluc¸a˜o incluindo a onda de rarefac¸a˜o lado direito do caminho de choque sa˜o as linhas verticais, que estendam-se para tra´s ate´ pontos (x0, 0) no eixo Ox onde x0 > 1. O valor da func¸a˜o u(x, t) ao longo essas linhas sera u(x, t) = u(x0, 0 = 0, ass´ım, o valor de u(x, t) quando (x, t) aproxima-se o caminho de choque do lado direito e´ u+ = 0. A condic¸a˜o de salto para este caminho dechoque torna-se em dxs dt = 1 + 0 2 = 1 2 , de onde obtemos xs = t/2 + C, 0 ≤ t ≤ 2. O constante C e´ encontrado usando a condic¸a˜o que o choque comec¸a no ponto (xs, t) = (1, 0). Neste caso C = 1, e o caminho de choque e´ xs = t 2 + 1 , 0 ≤ t ≤ 2 . Como mostra-se na Fig. 2.24, esta parte do caminho de choque termina-se no ponto t = 2, onde as carater´ısticas verticais comec¸am intercec¸ar as carater´ısticas construidas para a onda de rarefac¸a˜o. Figura 2.24: Caminho de choque xx(t) = t/2 + 1 para 0 ≤ t ≤ 2 separa a regia˜o onde u(x, t) = 1 da regia˜o onde u(x, t) = 0. O caminho de choque precisara´ ser prorrogado depois do ponto (2, 2) na regia˜o das carater´ısticas da onda de rarefac¸a˜o Passo III. Extensa˜o de Choque. O caminho de choque construido no Passo II separa as carater´ısticas x = x0 + t das linhas verticais x = x0. Como um passo final na construc¸a˜o da soluc¸a˜o u(x, t), o choque sera´ extendido do ponto (x, t) = (2, 2) na regia˜o t > 2 onde as linhas verticais x = x0 cruzam a famı´lia de carater´ısticas da onda de rarefac¸a˜o, ver Fig. 2.24. Como no Passo II, a condic¸a˜o de salto para o caminho de choque e´ dxs dt = 1 2 · (u +)2 − (u−)2 u+ − u− = u+ + u− 2 . As carater´ısticas do lado direito do caminho de choque sa˜o as linhas verticais, que se extendam para tra´s ate´ pontos (x0, 0) do eixo Ox, onde x0 > 1. O valor da func¸a˜o u(x, t) ao longo dessas linhas sera´ u(x, t) = u(x0, 0) = 0, ass´ım, o valor de u(x, t) quando (x, t) aproxima-se o caminho de choque do lado direito e´ u+ = 0. Do lado esquerdo do caminho de choque, ja´ determinado que o valor de u e´ u(x, t) = x/t, ass´ım, quando (x, t) aproxima-se o caminho de choque do lado esquerdo, temos u− = x/t. A condic¸a˜o e salto para pontos no caminho de choque e´ dxs dt = 0 + xs/t 2 = xs 2t . 47 A EDO da primeira ordem para xs e´ separa´vel; re-escrevendo a equac¸a˜o como 1 xs dxs dt = 1 2t e integrando, obtemos lnxs = ln √ t + C, ou xs = C1 √ t. Visto que esta parte do caminho de choque comec¸a no ponto (x, t) = (2, 2), determinamos que C1 = √ 2, enta˜o o caminho de choque aqui e´ xs(t) = √ 2t , t ≥ 2 . Como mostra-se na Fig. 2.25, esta curva separa na regia˜o as carater´ısticas de ra- refac¸a˜o das carater´ısticas verticais para tempos t ≥ 2. O diagrama de carater´ısticas Figura 2.25: Extensa˜o do caminho de choque pela xx(t) = √ 2t para t ≥ 2 para separar as carater´ısticas da onda de rarefac¸a˜o das carater´ısticas verticais na Fig. 2.25 completa a construc¸a˜o de uma soluc¸a˜o suave por partes do problema de Cauchy (2.43); a soluc¸a˜o final e´ interpretada na Fig. 2.26. Para 0 ≤ t ≤ 2 a Figura 2.26: Interpretac¸a˜o da soluc¸a˜o obtida no plano das varia´veis (x, t) soluc¸a˜o e´ dada pela seguinte fo´rmula (2.44) u(x, 0) = 0, se x < 0 x/t, se 0 < x < t 1, se t < x < t/2 + 1 0, se t/2 + 1 < x E para t ≥ 2 (2.45) u(x, 0) = 0, se x ≤ 0 x/t, se 0 < x < √ 2t 0, se √ 2t < x Exerc´ıcios 2.4.7 Condic¸a˜o de Entropia As ondas de rarifac¸a˜o e de choque sa˜o soluc¸o˜es especiais de leis de conservac¸a˜o. Du- rante do processo de construc¸a˜o dessas soluc¸o˜es no´s percebemos que a generalizac¸a˜o 48 da definic¸a˜o de soluc¸a˜o da lei de conservac¸a˜o ut + Fx = 0 forma uma lei de con- servac¸a˜o na forma integral, onde a func¸a˜o u e´ na˜o cont´ınua. Nesta sec¸a˜o no´s vamos ver que esta generalizac¸a˜o da soluc¸a˜o faz possivel que um problema de Cauchy pode ter va´rias soluc¸o˜es. A condic¸a˜o de entropia enta˜o sera´ introduzida como um exemplo de uma condic¸a˜o utilizada para selecionar uma soluc¸a˜o entre todas as outras. Na˜o-Unicidade de Soluc¸o˜es Suaves por Partes A onda de rarefac¸a˜o da Sec¸a˜o 2.4.5 (2.46) u(x, t) = 0, se x ≤ 0 x/t, se 0 < x < t 1, se x ≤ t foi constru´ıda como uma soluc¸a˜o suave por partes do seguinte problema de Cauchy (2.47) ut + uux = 0 , x ∈ R , t > 0 , u(x, 0) = { 0, se x ≤ 0 1, se x ≥ 1 Por outro lado, e´ possivel achar outras soluc¸o˜es do problema usando ondas de choque. De fato, se A, 0 < A < 1, um nu´mero qualquer, enta˜o a func¸a˜o (2.48) u(x, t) = 0, se x ≤ At/2 A, se At/2 < x < (A+ 1)t/2 1, se x ≤ (A+ 1)t/2 representada na Fig. 2.24 e´ uma soluc¸a˜o de tipo onda de choque com dois caminhos de choque (ver Exerc´ıcio a seguir). Portanto, existe um nu´mero infinito de soluc¸o˜es do problema (2.47) - uma onda de rarefac¸a˜o e um nu´mero infinito de ondas de choque. Figura 2.27: Soluc¸a˜o de tipo onda de choque do problema (2.47) com os dois cami- nhos de choque Exerc¸´ıcio. Consideremos a func¸a˜o u(x, t) dada pela fo´rmula (2.46). a. Verificar que u(x, t) satisfaz ut + uux = 0 em cada de treˆs regio˜es x < At/2, At/2 < x < (A+ 1)t/2, e x > (A+ 1)t/2. b. Verificar que as curvas de discontinuidade xs = At/2 e xs = (A + 1)t/2 satis- fazem a condic¸a˜o de salto Rankine-Hugoniot. 49 Condic¸a˜o de Entropia Quando um problema de valor inicial tem mais que uma soluc¸a˜o, informac¸a˜o adi- cional tem que ser usada para selecionar uma soluc¸a˜o particular. Em dinaˆmica de flu´ıdos, por exemplo, a condic¸a˜o de entropia utizia-se para selecionar uma soluc¸a˜o com maior sentido f´ısico. Definic¸a˜o 2.11. Uma func¸a˜o u(x, t) satisfaz a condic¸a˜o de entropia, se e´ possivel achar uma constante positiva E, tal que (2.49) u(x+ h, t)− u(x, t) h ≤ E t para quaisquer t > 0, h > 0, and x. Graficamente, essa condic¸a˜o e´ uma limitac¸a˜o no declive do perfil da soluc¸a˜o u(x, t) em cada tempo t - o declive entre quaisquer dois pontos do perfil (declive de secante) em cada tempo t e´ menor que E/t. Notamos que esta condic¸a˜o restringe Figura 2.28: Interpretac¸a˜o da condic¸a˜o de entropia no plano das varia´veis (x, u) como grande o positivo declive de secante pode ser, e na˜o prohibe de ter uma curva com declives negatives. Ale´m disso, E/t→ 0 quando t→∞. No problema de Cauchy (2.47) temos um nu´mero infinito das soluc¸o˜es tipo onda de choque dadas pela fo´rmula (2.48). Fig. 2.26 mostra o perfil dessas soluc¸o˜es e indica que maiores positives declives da secante sa˜o poss´ıveis escolhendo x and x+ h em lados opostos do choque. O declive de secante u(x+ h, t)− u(x, t) h = 1− A h cresce arbitrariamente grande quando x e x+h aproximam a locac¸a˜o de salto, assim na˜o e´ possivel achar uma constante E tal que este secante decliva menor que E/t para quaisquer x e h > 0. As soluc¸o˜es do tipo onda de choque (2.48) na˜o satisfazem a condic¸a˜o de entropia
Compartilhar