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PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR Prof. Carlos Alfama 1 ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA PREVISTA NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO O Estatuto do Desarmamento entrou em vigor no dia 23/12/2003. No entanto, seu art. 30 previa que os proprietários e possuidores de armas de fogo não registradas teriam 180 dias para regularizarem a situação de suas armas. Art. 30 (redação original). Os possuidores e proprietários de armas de fogo não registradas deverão, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias após a publicação desta Lei, solicitar o seu registro apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em direito admitidos. Esse prazo foi sucessivamente dilatado pelas Leis 10.884/2004, 11.118/2005 e 11.191/2005, até 23 de outubro de 2005. Diante das sucessivas prorrogações, da vigência do Estatuto do Desarmamento até o dia 23/10/2005 não havia tipicidade na conduta de possuir arma de fogo sem o Certificado de Registro, tendo em vista que o agente estava, nesse período, dentro do prazo legal para regularização do armamento de sua posse ou propriedade. Essa atipicidade momentânea promovida pelo Estatuto do Desarmamento foi denominada pela doutrina e pela jurisprudência de abolitio criminis temporalis ou vacatio legis indireta. Importante observar que, da vigência do Estatuto do Desarmamento até o prazo final estabelecido para regularização do registro (23/10/2005) tanto a conduta da posse de arma de fogo de uso permitido como a conduta da posse de arma de fogo de uso restrito eram momentaneamente atípicas, pois o dispositivo não restringia a regularização às armas de fogo de uso permitido. Com base nesse entendimento, foi inclusive editada uma súmula pelo STJ: SÚMULA nº 513, STJ: A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005. PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR Prof. Carlos Alfama 2 PERGUNTA DE PROVA: A abolitio criminis temporária promovida pelo Estatuto do Desarmamento alcançou condutas praticas na vigência da Lei nº 9.437/97? Há divergência entre os tribunais superiores: o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: O STJ entende que sim. Para o tribunal, sendo lei penal benéfica ao acusado deve retroagir. JULGADOS: RHC 21.271/DF e REsp 895.093/RS. o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O STF tem entende que não. Para o Supremo, a norma teria caráter de norma temporária em razão do prazo estabelecido no dispositivo, não tendo, portanto, força retroativa, ainda que benéfico ao réu. JULGADOS: HC 90.995/SP e HC 8.180. PRORROGAÇÃO DA ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA PELA LEI Nº 11.706/08 Após as sucessivas prorrogações, o prazo para regularização do registro das armas de fogo estabelecido no art. 30 da Lei nº 10.826/03 terminou no dia 23/10/2005. No entanto, no dia 31 de janeiro de 2008 entrou em vigor a Medida Provisória nº 417 (convertida na Lei nº 11.706/08), que alterou o art. 30 do Estatuto do Desarmamento para possibilitar que os possuidores e os proprietários irregulares de armas de fogo de uso permitido solicitassem o registro de suas armas até o dia 31/12/2008. O prazo final mencionado acima foi prorrogado para 31 de dezembro de 2009, pela Lei nº 11.922/2009, que entrou em vigor no dia 13/04/2009. Em um primeiro momento, é importante observar que, a prorrogação da abolitio criminis temporária, promovida pela Lei nº 11.706/08 não abrangeu a conduta de posse irregular de arma de fogo de USO RESTRITO, mas apenas a POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. Em outras palavras, a atipicidade da posse irregular de arma de fogo de uso restrito não foi prorrogada pela Lei nº 11.706/08, que se PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR Prof. Carlos Alfama 3 restringiu a prorrogar a atipicidade momentânea da posse irregular de arma de fogo de uso permitido. Diante disso, podemos concluir que os prazos da abolitio criminis temporária do Estatuto do Desarmamento ficaram da seguinte maneira: o ATÉ 23/10/2005: A abolitio criminis temporária alcançava a posse de armas de fogo de uso permitido e a posse de arma de fogo de uso restrito. o LEI Nº 11.706/08: Entrou em vigor no dia 31 de janeiro de 2008 e prorrogou a abolitio criminis temporária apenas em relação à posse de armas de fogo de uso permitido até 31/12/2008 (posteriormente prorrogado até 31/12/2009). o APÓS 31/12/2009: A abolitio criminis temporária não alcançava mais nenhuma conduta. ATENÇÃO! Em nenhum momento o delito de PORTE ILEGAL de arma de fogo foi alcançado pela abolitio criminis temporária aqui analisada, que apenas se referia ao crime de POSSE IRREGULAR. PERGUNTA DE PROVA: A prorrogação da abolitio criminis temporária promovida pela Lei nº 11.706/08 abrangeu condutas praticadas entre 23/10/2005 e a data de sua vigência? O STF, no julgamento do RE 768.494/GO (reconhecida a repercussão geral), entendeu que não! De acordo com o STF, tendo a norma eficácia temporária expressamente determinada em seu texto não retroage, ainda que benéfica ao réu: Ex positis, dou provimento ao Recurso Extraordinário do Ministério Público para restabelecer a sentença condenatória de primeira instância, ante a irretroatividade da norma inserida no art. 30 da Lei nº 10.826/03 pela Medida Provisória nº 417/2008, considerando penalmente típicas as condutas de posse de arma de fogo de uso permitido ocorridas após 23 de junho de 2005 e anteriores a 31 de janeiro de 2008.
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