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Estimulação elétrica nervosa transcutânea Estimulação elétrica nervosa transcutânea Ao final deste capítulo você terá capacidade de: • Reconhecer as características biofísicas destas correntes; • Identificar as modalidades de TENS e suas indicações clínicas; • Descrever os mecanismos eletrofisiológicos pelo qual TENS atua; • Indicar e aplicar o TENS em diferentes condições clínicas. Livros de referência para estudo: 1. AGNE, J. Eletreotrermoterapia: Teoria e Prática. 1° edição, Ed. Orium, Santa Maria – RS, 2007. 2. LOW,J & ANN,R. Eletroterapia Explicada, 3° edição, editora Manole, São Paulo 2001. 3. KITCHEN, S; BAZIN, S. Eletroterapia: Prática baseada em evidências. 11° edição, Ed. Manole, SP, 2005. 4. NELSON, H; HAYES, K. Eletroterapia Clínica. 3° edição, editora Manole, São Paulo 2003. Neste capítulo você aprenderá sobre as modalidades de TENS e como prescrevê-las adequadamente. Esta é a corrente terapêutica mais utilizada pelos serviços de fisioterapia, porém, o seu uso indiscriminado favorece a aplicação inadequada na maioria das vezes. Como estudante de fisioterapia, você deverá compreender os efeitos fisiológicos desta corrente terapêutica e ajustar os parâmetros para potencializar os resultados em seu cliente. Embora a realidade predominante na maioria dos serviços de fisioterapia seja a negligência às condutas preconizadas cientificamente em decorrência de problemas como excesso de demanda, formação profissional deficitária, presença de técnicos de fisioterapia, caberá ao estudante discernir e se posicionar profissionalmente perante estas situações. O termo TENS vem da sigla em inglês Transcutaneus Eletrical nerve stimulation e consiste na aplicação de eletrodos sobre a pele intacta com o objetivo de estimular as fibras nervosas grossas mecanoceptoras. Esta ativação desencadeia a nível central, os sistemas analgésicos descendentes de caráter inibitório da dor (ver apostila 2 – fisiologia da dor). Os mecanismos inibitórios da dor são: A) Teoria das Comportas Medulares: Em 1965, Mellzack e Wall publicaram os seus trabalhos sobre as comportas medulares da dor. Eles afirmaram que a entrada dos impulsos dolorosos no SNC seria regulada pelos neurônios e pelos circuitos nervosos existentes na substância gelatinosa nas colunas posteriores da medula espinhal, que funcionaria como um portão, permitindo ou não a entrada de impulsos dolorosos. Esta teoria estabelece que pela medula entram informações pelas fibras de feixe de grosso calibre (tato de pressão) e pelas fibras de fino calibre (sensação de dor). B) Modulação endógena da dor ou liberação dos Opiatos A dor também pode ser inibida por influências neurais descendentes. A liberação de OPIATOS no SNC reduz o quadro álgico. Geralmente este mecanismo é ativado por TENS com freqüências mais baixas e larguras de pulsos mais altas. RESUMO INTRODUÇÃO Para mais informações ler o capítulo do livro: • Capítulo 5: Fisiologia da Dor do livro Eletroterapia: Prática Baseada em evidências, Sheila Kitchen e Sarah Bazin, edt. Manole, 11° edição, SP, 2008. Para mais informações ler o capítulo do livro: • Capítulo 8: As dores do livro Neurociências, autor: Roberto Lent, Edt. Guanabara Koogan, 1° edição, RJ, 2008. Estimulação elétrica nervosa transcutânea O termo TENS é genérico, portanto poderia representar QUALQUER corrente Monofásica ou Bifásica. Mas, ao descrevermos a corrente TENS devemos dirigir nossa atenção para o TENS de onda bifásica, retangular e assimétrica. Os gráficos descritos abaixo compreendem outras correntes de baixa freqüência que por vezes são chamadas errôneamente de TENS. A maioria dos estimuladores modernos oferece pulsos elétricos de várias formas de onda. Alguns aparelhos podem produzir pulsos retangulares bifásicos simétricos, pulsos senoidais, pulsos triangulares, senoidais e trapezoidais. Conhecer as características de cada parâmetro do TENS possibilita que o profissional adéqüe corretamente este recurso à necessidade do paciente. Os parâmetros são: • Amplitude ou intensidade (mA) • Freqüência dos pulsos (Hz) • Largura de pulso (ms) • Forma do pulso (bidirecional, assimétrica, retangular) Freqüência O controle da freqüência é facilmente manipulável. Permite um mínimo de 1-6 Hz até 200 Hz. Alguns aparelhos podem oferecem maior freqüência. Freqüências baixas (1 a 10 Hz) tendem a ativar e estimular as estruturas mioneurais, e freqüências mais altas (80 a 200 Hz) tendem a ativar o mecanismo da comporta medular. Largura de Pulso A correta programação da largura de pulso é crucial quando os estimuladores permitem variações de largura de pulso que vai de 1 a 300 ms. Corresponde ao tempo de passagem do pulso no tecido. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA Características de diferentes formas de onda para estimulação PARÂMETR O S BIOELÉTRICOS Estimulação elétrica nervosa transcutânea Intensidade Parâmetro subjetivo que depende da sensibilidade do paciente. Não existe uma escala. Trabalha-se com o limiar doloroso (varia de 80 a 100 mA). Se mesmo com o controle na posição máxima de intensidade não houver potência suficiente, deve-se aumentar progressivamente o controle da largura de pulso. 1. Convencional 2. Acupuntura 3. Breve Intenso 4. Burst (trens de pulso) TENS Convencional É o mais utilizado. Seu período de analgesia é curto, sendo mais aplicado no período agudo e na área dolorosa. Possui os seguintes parâmetros: • Frequência – Alta (80 a 100 Hz). • Largura de Pulso – Autores preconizam 60 a 120ms. • Intensidade – confortável (12 a 20 mA). • Tempo de tratamento de 30 a 40 podendo atingir até 60 minutos. • Início do alívio – 20 minutos após conduta. • Duração do Alívio – 20 min a 2 horas (curto). • Atua pelo mecanismo das comportas medulares. (ENTRETANTO É IMPORTANTE LEMBRAR QUE AS EVIDENCIAS RECENTES MOSTRAM QUE TODA ESTIMULAÇÃO ELETRICA GERA LIBERAÇÃO DE OPIOIDE) • Sensação – paciente terá que relatar leve formigamento ou parestesia sem contração muscular. • Utilizado em dores agudas. TENS Acupuntura: Possui este nome porque os eletrodos também podem ser utilizados sobre os pontos de acupuntura. Provoca um tempo de analgesia prolongado comparado ao TENS convencional, e possui os seguintes parâmetros: • Freqüência – Baixa (1 a 10 Hz). • Largura do Pulso – 150 a 250 us. • Intensidade – No limite do suportável (30 a 80 mA). • Tempo: Para a maioria das patologias é preconizado tempo de 30-40 minutos. • Início do alívio – 20 a 30 minutos, até 1 hora após a conduta. • Atua pelo mecanismo da liberação dos opiatos • Duração do alívio – 2 a 6 horas. • Sensação – Contrações musculares rítmicas. • Utilizado em dores crônicas. TENS Breve Intenso Os efeitos são mais transitórios do que os obtidos com o TENS convencional e acupuntura. Como esta técnica oferece uma curta duração de alívio da dor, ela é recomendada para Dica Importante: Fonte: Eletrotermoterapia: Princípios e prática, Agnes, J. Edt. Orion, pag. 127. Dores agudas •Frequencia elevada •intensidade moderada •TENS convencional •Atua pela teoria das comportas medulares Dores Crônicas •Frequencia baixa •Intensidade elevada •Burst e TENS acupuntura •Liberação de opiatos MODALIDADES DO TENS Estimulação elétrica nervosa transcutânea redução da dor antes dos exercícios de reabilitação.Deve ser utilizada por curtos períodos de tempo, utilizando máxima intensidade tolerada pelo paciente. Possui os seguintes parâmetros: • Freqüência – alta (100 a 150 Hz). • Largura de Pulso (150 a 250 us). • Intensidade – forte ao nível da tolerância (30 a 80 mA). • Tempo de aplicação de 20 a 30 minutos. • Não é aconselhado ultrapassar 30 minutos. • Ìnício do alívio – 10 a 15 minutos. • Duração do Alívio – pequena apenas durante a estimulação. • Sensação – fasciculações musculares não rítmicas ou contrações tetânicas. • Utilizada para alívio imediato. TENS BURST ou Trens de Pulso Este tipo de TENS foi desenvolvido em 1976 como o resultado das experiências com eletroacupuntura chinesa. Alguns artigos fazem referência a este tipo de TENS como sendo o TENS acupuntura, mas existe uma diferença na definição, pois o TENS Burst é uma alta freqüência de trens de pulso entregue numa baixa frequência. Esse tipo de estimulação é uma mistura do TENS convencional com o TENS acupuntura. Alguns pacientes preferem este tipo de TENS, pois ele proporciona uma contração muscular mais confortável. Possui períodos de analgesia prolongado, pois o TENS que utiliza freqüências baixas (1 a 10hz) tem sua ação mais prolongada devido à liberação de beta-endofirnas (opiatos). Os seus parâmetros são: • Freqüência – Alta (100 a 150 Hz) • Freqüência de Modulação – 1 a 10 Hz (freqüência dos trens de pulsos) • Duração do Pulso – 200 us • Intensidade – variável de forte a fraco (30 a 60 mA) • Tempo mínimo de 30 a 40 minutos de aplicação • Início do alívio de 10 a 30 minutos • Atua pelo mecanismo da liberação de opiatos. • Duração do alívio – 2 a 6 horas • Sensação – contrações musculares rítmicas, acompanhadas de parestesias • Utilizada em casos subagudos e crônicos ou para estimulação muscular. Disposição dos eletrodos Com muita freqüência temos encontrado na literatura, verdadeiras “receitas de bolo” sobre a disposição dos eletrodos. O mais importante neste aspecto é a compreensão dos princípios da analgesia do mecanismo de ação do TENS. Algumas regras são citadas abaixo que servirão para nortear o aprendizado: • Os eletrodos devem ser colocados sobre o nervo mais superficial e proximal da zona da dor, • Os eletrodos devem ser colocados sobre o dermátomo doloroso ou adjacente, • Os eletrodos devem ser colocados sobre o tronco nervoso, • Os eletrodos devem ser colocados acima ou abaixo da zona dolorosa • Nunca utilizar sobre áreas hipoestesicas, • Os eletrodos devem ser colocados sobre o ponto gatilho. Indicações O TENS Está indicado para todos os quadros de dor aguda e crônica. Contudo, deve-se levar em consideração as suas contra-indicações, que podem impedir a sua aplicação em um quadro álgico. Efeitos Colaterais do TENS • Reação alérgica na pele. • Queimaduras na pele se for aplicado por tempo prolongado. (podem ser evitada através da redução da freqüência a aproximadamente 50Hz ou menos). • Sobre as artérias carótidas (região anterior do pescoço), pois há um risco potencial de bloqueio cardíaco por causa da excitação do nervo vagus. Estimulação elétrica nervosa transcutânea Contra-Indicações • Útero gravítico • Prótese metálica • Tumor maligno • Genitália • Zonas hipoestesicas • Demais contra-indicações descritas nas correntes anteriores. Atividade Complementar 1. O que significa a sigla TENS? 2. Desenhe o gráfico do TENS: 3. Quais os modos de aplicação do TENS? 4. Especifique os parâmetros bioelétricos de cada uma das modalidades do TENS: 5. Faça uma breve revisão sobre a teoria das comportas medulares e descreva qual modalidade do TENS atua neste mecanismo: 6. Quais são os locais para posicionamento dos eletrodos? 7. Num quadro de entorse aguda do tornozelo num paciente atleta jovem que precisa retornar urgente para a competição, além das demais condutas fisioterapêuticas, qual modalidade do TENS você usaria e por quê? 8. O TENS pode causar efeitos colaterais? Quais seriam? 9. Sugira algumas patologias, onde o TENS e sua respectiva modalidade esteja indicado: Caso clínico Paciente do sexo masculino, casado, com 75 anos, pardo, com diagnóstico clínico de gonartrose bilateral, HAS, DM tipo II e osteoporose. Faz uso de Glimepirida (100mg), besilato de anlodipino (5mg), Oscal D (100mg) e Tylex (7,5mg) na presença de dor. Apresenta como queixas principais “dor nos joelhos, principalmente E quando fico em pé”, “tontura ao levantar” e “não consigo andar direito, com o corpo esticado”. SV: FC: 84 bpm; FR: 26 ipm; PA: 140x80 mmHg. Compareceu ao ambulatório em cadeira de rodas, calmo, lúcido e orientado no tempo e no espaço e pouco colaborativo. Pele e fâneros: turgor e elasticidade diminuídos, com descamações em dorso e micose nas unhas dos pododáctilos. AL: movimentação voluntária, ADM diminuída em joelhos (80º de flexão e 130º de extensão), quadris (90º de flexão e 150º de extensão) e cervical, que apresenta uma rigidez severa (20º de rotação e flexão anterior, e 15º de flexão lateral) e FM grau 4 globalmente. Deambula a curtas distâncias com auxílio de andador, com a marcha bastante instável e arrastada, com importante flexão de quadris e joelhos, diminuição da cadência, da velocidade e da amplitude dos passos, aumento da fase de apoio em MID e sem realizar o golpe de calcanhar, nem a fase de impulsão, permanecendo durante todo o ciclo da marcha com o apoio em médio-pé. Apresenta ainda cifoescoliose torácica sinistro-convexa, anteriorização da cabeça e retificação lombar. Cursa com déficit de equilíbrio estático e dinâmico e discreta alteração da coordenação Exames Complementares: RX de joelhos (15/08/08): diminuição dos espaços articulares, osteófitos marginais, esclerose do osso subcondral, patela E elevada e calcificações ectópicas. Prescreva o TENS para este caso: