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Keynes vs o antigo modelo clássico 2.1 Introdução O debate de Keynes v. Clássico é extremamente necessário para entender as controvérsias dentro da macroeconomia na atualidade. Esse debate começou na década de 1930 e continuou em diversas formas desde então. Por exemplo, durante a década de 1980, as duas escolas de pensamento no centro do debate foram representadas pelos novos clássicos e novos keynesianos. Os primeiros seguem a tradição dos economistas clássicos e enfatizam o poder otimizador dos agentes econômicos no livre mercado. Os últimos acreditam que a compreensão das flutuações econômicas requer não apenas o estudo do equilíbrio geral, mas também das falhas de mercado. Para examinar-se as principais vertentes do pensamento macroeconômico associado aos economistas clássicos, deve-se estar ciente de que, antes da publicação da Teoria Geral (1936), não havia uma única teoria unificada ou formalizada do emprego agregado, e existiam diferenças substanciais entre economistas sobre a natureza e origem do ciclo econômico (ver Haberler, 1963). A estrutura da macroeconomia clássica surgiu principalmente após 1936 e fez isso em grande medida em resposta à própria teoria de Keynes. Assim, esse texto traz um resumo artificial da abordagem convencional da macroeconomia clássica, um pensamento que, na realidade, era extremamente complexo e diversificado (ver O'Brien, 1975). 2.2 Macroeconomia Clássica Os economistas clássicos acreditavam que se caso houvesse numa economia de mercado capitalista desvios do nível de equilíbrio de produção e emprego, estes seriam temporários, onde os mecanismos de mercado funcionariam para restaurar esse equilíbrio no pleno emprego. Nessa análise, a intervenção do governo, não seria necessária nem desejável, pois sua intervenção aumentaria a instabilidade. Os clássicos prestaram pouca atenção aos fatores que determinam a demanda agregada ou as políticas que poderiam ser usadas para estabilizar a demanda agregada em promover o pleno emprego. Para os economistas clássicos o pleno emprego era o estado normal das coisas. Principal contraponto de Keynes aos clássicos, dado o desemprego em massa experimentado em todas as grandes economias capitalistas na década de 1930. Mas como os economistas clássicos chegaram a esta conclusão tão otimista? A seguir, traz-se uma versão "simplificada" do modelo clássico que procura explicar os determinantes do produto real (Y), dos salários reais (W/P) e nominais (W), do nível de preços (P) e da taxa de juros reais (r) (ver Ackley, 1966). Os seus pressupostos são: 1. Todos os agentes econômicos são racionais e visam maximizar seus lucros ou utilidade. Além disso, eles não sofrem ilusão de dinheiro; 2. Os mercados são perfeitamente competitivos; 3. Há simetria de informação sobre as condições do mercado e os preços; 4. O comércio só ocorre quando os preços de compensação de mercado foram estabelecidos em todos os mercados, sendo assegurado por um leiloeiro de ficção de Walrasiana cuja presença impede falsas negociações; 5. As expectativas dos agentes são estáveis. O modelo clássico ao explicar a determinação de suas variáveis macros cruciais, divide a economia em dois setores: um setor real e um monetário. Além disso, assumem uma economia fechada. Na análise do comportamento dos setores real e monetário, deve-se considerar três componentes: (i) a teoria clássica da determinação do emprego e do produto, (ii) a Lei de Say e (iii) a teoria quantitativa da moeda. Os dois primeiros componentes mostram como os valores de equilíbrio das variáveis reais no modelo são determinados nos mercados de trabalho e commodities. O terceiro componente explica como as variáveis nominais no sistema são determinadas. Assim, no modelo clássico há uma dicotomia. Os setores real e monetário estão separados. Como resultado, as mudanças na quantidade de dinheiro não afetarão os valores de equilíbrio das variáveis reais no modelo. Nesse sentido, os economistas clássicos argumentaram que a quantidade de dinheiro era neutra. Assim, o nível de produção real independe da quantidade de dinheiro na economia. 2.3 Determinação de Emprego e Produto Uma componente chave do modelo clássico é a função de produção de curto prazo. Em termos gerais, no nível micro, uma função de produção expressa a quantidade de produto que uma empresa pode produzir a partir de quantidades determinadas de insumos, trabalho (L) e capital (K). No entanto, no curto prazo, o único insumo variável é o L, o K e a tecnologia estão constantes. Quando consideramos a economia como um todo, a quantidade de produção agregada (PIB = Y) também dependerá da quantidade de insumos utilizados e de sua eficiência. Esta relação, pode ser escrita da seguinte forma: Y = AF(K, L) (2.1) Y = produção real K = capital L = trabalho A = produtividade dos fatores – tecnologia ou outras influências que aumentam a eficiência dos fatores de produção. A relação expressa na equação (2.1) é expressa graficamente no painel (a) da Figura 2.1. Essa função de produção agregada de curto prazo mostra que: 1) Para valores dados de A e K, existe uma relação positiva entre o L e o Y, mostrado como um movimento ao longo da função de produção; 2) A função de produção exibe rendimentos decrescentes para o trabalho, uma vez que, ΔY/ΔL mede o produto marginal do trabalho (MPL), podemos ver pela inclinação da função de produção que um aumento no L está associado a um MPL decrescente. Isso é ilustrado no painel (b) da Figura 2.1 (o MPL diminui à medida que o emprego se expande de L0 a L1); 3) A função de produção se desloca para cima se o K for aumentado e/ou caso haja um aumento na produtividade dos insumos (A). Esse deslocamento é mostrado no painel (a) da Figura 2.1, onde Y desloca-se para Y* devido um aumento de A para A*. No painel (b), o impacto do deslocamento da função de produção faz com que a curva do MPL mude de DL para DL*. Note-se que, após tal alteração, a produtividade do trabalho aumenta (a quantidade de trabalho L0 agora pode produzir Y1 em vez de Y0). Embora a equação (2.1) e a Figura 2.1 nos digam muito sobre a relação entre a produção de uma economia e os insumos utilizados, elas não nos dizem nada sobre a quantidade de trabalho efetivamente empregado. Onde deve-se examinar o modelo clássico do mercado de trabalho. Primeiramente, devemos considerar a quantidade de trabalho que uma empresa que maximiza os lucros empregará. A condição para a maximização do lucro é que a receita marginal (MRi) seja igual ao custo marginal (MCi). Para uma empresa em concorrência perfeita, MRi = Pi. Então, a maximização de lucro é dada quando: Pi = MCi. Se uma empresa contrata trabalho dentro de um mercado de trabalho competitivo, um salário (Wi) deve ser pago a cada trabalhador extra. O custo adicional da contratação de uma unidade de trabalho extra será WiΔLi. A receita extra gerada por um trabalhador adicional é o produto extra produzido (ΔQi) multiplicado pelo preço do produto (Pi). A receita adicional é, portanto, PiΔQi. Para maximizar os lucros requer satisfação da seguinte condição: PiΔQi = WiΔLi Reorganizando, isso equivale a: 𝛥𝑄𝑖 𝛥𝐿𝑖 = 𝑊𝑖 𝑃𝑖 Uma vez que ΔQi/ΔLi é o produto marginal do trabalho, uma empresa deve contratar trabalho até o produto marginal do trabalho ser igual à taxa salarial real. Como o MCi é o custo do trabalhador adicional (Wi) dividido pelo resultado extra produzido por esse trabalhador (MPLi) podemos escreveresse relacionamento como: 𝑀𝐶𝑖 = 𝑊𝑖 𝑀𝑃𝐿𝑖 Combinando a última equação com a equação Pi= MCi, temos: 𝑃𝑖 = 𝑊𝑖 𝑀𝑃𝐿𝑖 = 𝑀𝐶𝑖 Como a MPL é uma função decrescente da quantidade de trabalho empregada, devido à influência dos retornos decrescentes, a curva MPL está inclinada para baixo (veja o painel (b) da Figura 2.1). Uma vez que mostramos que os lucros serão maximizados quando uma empresa equiparar o MPLi com Wi / Pi, a curva de produto marginal é equivalente à curva de demanda da empresa para mão-de-obra (DLi). A equação abaixo expressa essa relação: 𝐷𝐿𝑖 = 𝐷𝐿𝑖( 𝑊𝑖 𝑃𝑖 ) Esta relação nos diz que a demanda da firma por trabalho será uma função inversa do salário real: quanto menor o salário real, mais mão-de-obra será empregada lucrativamente. Na análise acima, consideramos o comportamento de uma empresa individual. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à economia como um todo. Assim, chegamos ao postulado clássico de que a demanda agregada de mão-de-obra também é uma função inversa do salário real. No painel (b) da Figura 2.1, essa relação é mostrada como DL. Quando o salário real é reduzido de (W/P)a para (W/P)b, o emprego se expande de L0 para L1. A função agregada de demanda de trabalho é expressa na equação: 𝐷𝐿 = 𝐷𝐿( 𝑊 𝑃 ) Agora, precisamos considerar o lado da oferta do mercado de trabalho. Assume- se no modelo clássico que as famílias pretendem maximizar sua utilidade. A oferta de mão-de-obra no mercado é, portanto, uma função positiva da taxa salarial real e é dada pela equação abaixo; isso é mostrado no painel (b) da Figura 2.2 como SL. 𝑆𝐿 = 𝑆𝐿( 𝑊 𝑃 ) A quantidade de mão-de-obra a ser ofertada depende das preferências por consumo e lazer, que produzem utilidade positiva. Um aumento do salário real torna o lazer mais caro em termos de renda perdida e tenderá a aumentar a oferta de mão-de-obra. Isso é conhecido como o efeito de substituição. No entanto, um aumento no salário real também permite que os trabalhadores possam se dar ao luxo de escolher mais lazer. Isso é conhecido como efeito de renda. O modelo clássico pressupõe que o efeito de substituição domina o efeito da renda, de modo que a oferta de mão-de-obra responda positivamente ao aumento do salário real. A seguir avaliamos a determinação do resultado de equilíbrio competitivo do produto e do emprego no modelo clássico, ilustrado no painel (b) da Figura 2.2: 1) O equilíbrio de mercado é obtido nos pontos (W/P)e e Le 2) Se o salário real fosse inferior a (W/P)e, como (W/P)2, haveria excesso de demanda por mão-de-obra de ZX e os salários nominais aumentariam, restaurando o real salário para seu valor de equilíbrio. 3) Se o salário real fosse acima do equilíbrio, como (W/P)1, haveria um excesso de oferta de trabalho igual a HG. Nesse caso, os salários nominais cairiam até que voltasse para (W/P)e. 4) Isto é possível porque os economistas clássicos assumiram mercados perfeitamente competitivos, preços flexíveis e informações completas. 5) O nível de emprego em equilíbrio (Le) representa o "pleno emprego", pois todos aqueles que desejam trabalhar recebendo o salário real de equilíbrio podem fazê-lo. 6) LT indica o número total de pessoas que desejam estar no mercado de trabalho a cada taxa de salário real. LT tem uma inclinação positiva, indicando que quantos mais altos os salários reais, mais pessoas desejam entrar no mercado de trabalho. 7) No modelo clássico, a distância EN representa o desemprego. O equilíbrio clássico de pleno emprego é perfeitamente compatível com a existência de desemprego friccional e voluntário, mas não admite a possibilidade de desemprego involuntário. Uma vez que o nível de equilíbrio do emprego é determinado no mercado de trabalho, o nível de produção é determinado pela posição da função de produção agregada. Na Figura 2.2(a), podemos ver que a quantidade de emprego Le produzirá o nível de produto Ye. Algumas mudanças podem alterar a curva de demanda de mão-de- obra e/ou a curva de oferta de trabalho. Por exemplo, uma mudança ascendente da função de produção devido a mudanças tecnológicas moveria a curva de demanda de mão-de- obra para a direita, levando a um aumento no emprego, na produção e no salário real. O crescimento populacional, ao mudar a curva de oferta de mão-de-obra para a direita, aumentaria o emprego e a produção, mas diminuiria o salário real. Observamos na análise acima que a concorrência no mercado de trabalho garante o pleno emprego no modelo clássico. No entanto, os economistas clássicos estavam perfeitamente conscientes de que o desemprego em excesso persistente no nível de equilíbrio era possível, se fossem colocadas restrições artificiais sobre a função de equilíbrio dos salários reais, por exemplo, pelo poder de monopólio sindical ou legislação de salário mínimo. A solução para tal "desemprego clássico" era reduzir os salários reais por meio da redução dos salários nominais. Keynes considerou o resultado de equilíbrio descrito na Figura 2.2 como um "caso especial" que não era típico da "sociedade econômica em que vivemos" (Keynes, 1936, p.3). O equilíbrio do pleno emprego do modelo clássico foi um caso especial porque correspondeu a uma situação em que a demanda agregada era apenas suficiente para absorver o nível de produção produzido. Keynes objetou que não havia garantia de que a demanda agregada seria em tal nível. Os economistas clássicos negaram a possibilidade de uma deficiência de demanda agregada apelando para a "Lei de Say", que é "equivalente à proposição de que não há obstáculo para o pleno emprego" (Keynes, 1936, p.26). 2.4 LEI DE SAY Em 1803, o Tratado de Economia Política de Jean-Baptiste Say foi publicado. Say entendia que o ato de produção simultaneamente cria renda e poder de compra, logo não pode há impedimento para o pleno emprego causad0 por uma deficiência da demanda agregada. O fornecimento da oferta cria a própria. Todavia, a lei não nega a possibilidade de uma má alocação de recurso, poderia ocorrer temporariamente um excesso de certas commodities e nenhum excesso de oferta poderia ocorrer para bens como um todo. A Lei de Say foi originalmente estabelecida no contexto de uma economia de troca, onde, por definição, o ato de fornecer um bem inevitavelmente implica exigir algum outro bem. Em geral, economistas clássicos, como Ricardo e Mill, apoiaram a Lei de Say, pois eles acreditavam que para uma economia de troca.O dinheiro não era mais do que um conveniente meio de troca que permitiu aos participantes do mercado evitar a estranheza e inconveniência de troca. Embora as forças do mercado, obviamente, levem a mudanças na composição da produção agregada. Se a demanda agregada e o abastecimento agregado forem sempre igualdade garantidos, então o dinheiro não é mais nada do que um "véu" cobrindo as forças reais subjacentes na economia. Neste ponto, é importante distinguir entre duas versões do Say's. Lei. De acordo com Trevithick (1992), a versão fraca é levada a implicar que cada ato de produção e oferta envolve necessariamente a criação de uma demanda equivalente de saída em geral. Mas esta versão da Lei de Say não garante que a produção seja consistente com o pleno emprego. Apenas afirma que qualquer nível de produção agregada seja brevemente destinada ao mercado. A versão forte da Lei de Say afirma que, numa economia de mercado competitiva, haverá uma tendência para o pleno emprego a ser estabelecida. Uma vez que a versão forte da Lei de Say implica em uma igualdade de agregados da demanda e oferta que seja consistente com o equilíbrio do mercado de trabalho, ouseja, a proposição de que não há obstáculo para a realização de mercadorias no pleno emprego. Para ver como os economistas clássicos justificaram sua crença de que os gastos agregados na economia sempre serão suficientes para o nível de pleno emprego de saída, precisamos examinar suas ideias relacionadas ao investimento, Taxa de interesse: A teoria clássica da determinação da taxa de juros desempenha um papel crucial na garantia de que não há uma deficiência da demanda agregada. Se imaginarmos uma economia composta por dois setores, empresas e famílias, podemos escrever abaixo a seguinte equação, que nos diz que em um ponto de equilíbrio a despesa (E) deve ser igual à saída agregada (Y). E = C( r) + I (r ) =Y (2.10) Além disso, as despesas agregadas consistem em duas componentes: o investimento (I) que decorrem de empresas e despesas de consumo (C) que decorre das famílias. A demanda planejada de bens (E) é a soma da demanda planejada de bens de consumo mais a demanda prevista para bens de investimento. No modelo clássico, a demanda por ambos os tipos de bens é uma função da taxa de juros (r). Como as famílias não gastam toda a sua renda, também podemos fazer a equação (2.11): Y – C ( r ) = S( r ) (2.11) A combinação (2.10) e (2.11) produz a condição de equilíbrio dada por (2.12): S ( r ) = I ( r ) (2.12) Podemos ver de (2.11) que, na economia clássica o modelo (S), também é uma função da taxa de juros. Quanto maior a taxa de juros, mais poupadores devem substituir o consumo atual pelo consumo futuro. Consequentemente os economistas clássicos viram a taxa de juros como uma verdadeira recompensa pela abstinência. O fluxo de poupança representa, portanto, uma oferta de empréstimos dos fundos no mercado de capitais. Uma vez que a economia doméstica responde positivamente à taxa de interesse (ΔS / Δr> 0), o consumo doméstico deve ser negativamente relacionado à taxa de juros (ΔC / Δr <0). Despesas de investimentos em capital, os bens estão negativamente relacionados com a taxa de interesse no modelo clássico (ΔI / Δr <0) e representa uma demanda por fundos emprestáveis no mercado de capitais. As despesas de investimento das empresas só podem ser justificadas se a taxa esperada de retorno da despesa é maior que, ou pelo menos igual, ao custo de adquirir os fundos utilizados para comprar os bens de capital. Podemos, portanto, representar despesas comerciais (I) como uma função decrescente da taxa de juros. O relacionamento entre investimento, economia e taxa de juros no modelo clássico é mostrado em painel (a) da Figura 2.3. Podemos ver a importância da flexibilidade na taxa de juros para o processo de equilíbrio clássico. No painel (a), representamos o modelo clássico para a determinação da taxa de juros, com a taxa de juros no eixo vertical Dentro do painel (b) a saída real é medida no eixo vertical com a demanda global para commodities (C + I) medidas no eixo horizontal. Da Figura 2.2 nós sabemos que a concorrência no mercado de trabalho produzirá um equilíbrio real de salário e nível de emprego que, quando combinados com a função de produção, dá um nível de produção de pleno emprego de Ye. Painel (b) da Figura 2.3 indica que são necessárias despesas agregadas de um montante igual a E0 para chegar ao resultado de Ye. Uma vez que a produção e a demanda são idênticas. Pontos ao longo da linha de 45 °, qualquer ponto como B e C são consistente com a versão fraca da Lei de Say. O ponto A no painel (b) corresponde ao forte a versão da Lei de Say. Não só as despesas agregadas e a produção, Ye corresponde ao nível de produção associado ao pleno emprego em equilíbrio do mercado de trabalho. Podemos ver melhor a importância da flexibilidade da taxa de juros neste modelo, o que aconteceria se as famílias de repente decidiram economizar mais (consuma menos). Isso é representado no painel (a) da Figura 2.3 por deslocamento para direita da função de S0 para S1. O excesso de oferta inicial dos fundos levaria a uma queda na taxa de juros de r0 a r1. Isso seria incentivar um aumento das despesas de investimento de I0 a I1. Desde que E0 - I0 seja igual à despesa de consumo, é claro que o aumento das despesas de investimento, I1 - I0, compensa exatamente a queda na despesa de consumo igual a -ΔC no diagrama. As despesas globais permaneceriam na E0, embora a composição mudaria. Embora no modelo clássico as decisões de guardar e investir possam ser realizadas por diferentes grupos de pessoas, a taxa de juros mudará de modo que concilie os desejos de economizar e investir. Nas divergências da teoria keynesiana entre S e I se diferenciam. O modelo keynesiano prevê uma queda nos gastos agregados, produção e emprego; ou seja, o paradoxo de Keynes de poupança. O modelo clássico com a Lei de Say entendem que são salários flexíveis, preços e taxa de juros podem experimentar mudanças na estrutura da demanda final, mas sem demanda prolongada haveria deficiência e desemprego involuntário. Um resultado notável. Nem todos os economistas clássicos aceitaram a Lei de Say e suas implicações. Robert Thomas Malthus argumentou que um excesso geral de mercadorias era possível. Enquanto Ricardo, Mill e os seguidores de Say acreditavam que as condições de fornecimento determinam a produção agregada, Malthus, antecipando Keynes, deu ênfase à demanda como fator determinante (ver Dorfman, 1989). Mas 'Ricardo conquistou a Inglaterra tão completamente quanto a santa Inquisição conquistou a Espanha '(Keynes, 1936, página 32). Para Keynes, a completude da vitória ricardiana foi uma curiosidade e um mistério. Por esta razão ele elogiou muito a Malthus por antecipar suas próprias idéias em relação a uma deficiência geral da demanda agregada (ver Keynes, 1936, pp. 362-71). Ricardo tinha os olhos fixos firmemente no longo prazo, enquanto Malthus, como Keynes, estava mais preocupado com o curto prazo. Na nossa discussão sobre o modelo clássico até agora, nos concentramos no setor real. O funcionamento dos mercados de trabalho e de capitais, apoiado pela Lei de Say, desde que os economistas clássicos sejam capaz de explicar teoricamente a determinação das variáveis reais no sistema. Mas o que determina o nível de preços no modelo clássico? O componente final. Isso explica a determinação do nível de preços e dos outros valores nominais no sistema de economistas clássicos é a teoria quantitativa da moeda. 2.5 A TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA A característica da teoria macroeconômica clássica é a separação das variáveis reais e nominais. Essa dicotomia clássica nos permite examinar o comportamento das variáveis reais no sistema econômico, ignorando as variáveis nominais. No modelo clássico estilizado que desenvolvemos, a quantidade de dinheiro é irrelevante para a determinação das variáveis reais. A neutralidade monetária a longo prazo é uma propriedade crucial do modelo clássico. Para explicar a determinação das variáveis nominais no sistema, os economistas clássicos apresentaram a teoria quantitativa da moeda. Uma longa linha de economistas famosos contribuiu para o desenvolvimento desta teoria ou tem sido associado a suas políticas de prescrição. A lista inclui Cantillon, Hume, Ricardo, Mill, Marshall, Fisher, Pigou, Hayek e até Keynes. Mais recentemente, a teoria quantitativa da moeda tem sido associada ao desenvolvimento do monetarismo e ao trabalho de Milton Friedman, talvez o economista mais influente do último quarto de século. Embora o termo "monetarismo" não tenha surgido até 1968 (ver Brunner, 1968), sua principal proposta central, a teoria quantitativa da moeda. Aqui apresentamos apenas umabreve exposição da teoria das quantidades para completar o esquema clássico. Para uma discussão mais detalhada, veja Laidler (1991). A teoria macroeconômica dominante antes da década de 1930 foi a quantidade de teoria da moeda. Duas versões altamente influentes da teoria das quantidades podem ser identificadas na literatura. A primeira versão, associada a Marshall e Pigou, é conhecida como a abordagem de equilíbrio de caixa de Cambridge. A segunda versão está associada a Irving Fisher. Os economistas de Cambridge estabeleceram uma clara distinção em sua versão da teoria das quantidades entre a demanda por dinheiro (Md) e o fornecimento de dinheiro (M). A demanda por dinheiro foi determinada principalmente pela necessidade de realizar transações que terão uma relação positiva com o valor monetário das despesas agregadas. Uma vez que este último é igual ao rendimento nacional de dinheiro, podemos representar a função de demanda de moeda de Cambridge como equação (2.13): Md = KPY onde Md é a demanda para manter os saldos monetários nominais, e k é a fração do valor anual da renda nacional monetária (PY) que os agentes (empresas e famílias) desejam manter. O leitor deve estar ciente de que a abordagem monetária de Cambridge reconheceu que k poderia variar no curto prazo (ver Laidler, 1993), mas, na apresentação estilizada que consideramos na equação (2.13), o coeficiente k é assumido como constante. Por enquanto, a equação de Cambridge é uma teoria da demanda da moeda. Para explicar o nível de preços, devemos apresentar o fornecimento de moeda. Se assumirmos que o fornecimento de moeda é determinado pelas autoridades monetárias (isto é, M é exógeno), podemos escrever a condição de equilíbrio monetário como equação (2.14): M = Md Substituindo (2.14) em (2.13) obtemos (2.15): M = KPY Para obter o resultado da teoria da quantidade, as mudanças na quantidade de dinheiro não têm efeitos reais a longo prazo, mas determinarão o nível de preços, basta lembrar da nossa discussão anterior que Y é predeterminado em seu valor de emprego completo pela função de produção e a operação de um mercado de trabalho competitivo. Com a constante k e Y, M determinam P. Se o mercado monetário está inicialmente em equilíbrio, então um aumento na oferta monetária cria desequilíbrio (M> Md). Como os valores de Y e k são fixos, o equilíbrio no mercado monetário só pode ser restaurado se o nível de preços aumentar. A razão pela qual os preços aumentam no modelo clássico é que, se as famílias e as empresas se encontrarem com mais dinheiro do que desejam, o excesso de saldos de dinheiro é usado para comprar bens e serviços. Uma vez que o fornecimento de bens e serviços é limitado pelo nível predeterminado de produção total, o excesso de demanda no mercado de bens faz aumentar o nível geral de preços em proporção ao aumento inicial da oferta monetária A segunda abordagem usa a versão de renda da equação de troca de Fisher. Esta relação é dada pela equação (2.16): MV = PY onde V é a velocidade de renda da circulação do dinheiro e representa o número médio de vezes que uma unidade de moeda é utilizada no decurso da realização de transações fi nais que constituem o PIB nominal. Como V pode ser definido como o recíproco de k, a constância de V pode ser justificada porque os fatores institucionais que determinam a freqüência das transações realizadas pelos agentes provavelmente mudarão lentamente ao longo do tempo. Que V é o recíproco de k pode ser visto comparando (2.15) com (2.16) e observando que ambos V e 1 / k igual a PY / M. Que o nível de preços depende da oferta monetária nominal é claramente apresentado se examinarmos a equação (2.17), que reorganiza (2.16): P = MV/ Y (2.17) Com constante V e Y, é fácil ver que P depende de M e que ΔM é igual a ΔP. Para ver como o nível de preços é determinado no modelo clássico e como o resultado real, os salários reais e o emprego são invariantes para a quantidade de moeda, considere a Figura 2.4. Nos quadrantes (a) e (b) reproduzimos a Figura 2.2. Aqui, um mercado de trabalho competitivo gera emprego de equilíbrio de L0 e um salário real de equilíbrio de W0 / P0. A partir da função de produção, podemos ver que o pleno emprego neste modelo leva a uma saída de Y0. No quadrante (c), temos as funções clássicas de demanda agregada (AD) e agregado (AS). A função AS é perfeitamente inelástica, indicando que a saída real é invariante ao nível geral de preços. A curva AD clássica é derivada da equação (2.16). Com um suprimento constante de dinheiro (por exemplo, M0) e V constante, um nível de preço mais alto deve ser associado a um menor nível de saída real. AD0 (M0) mostra como, para uma determinada oferta monetária, a MV pode ser dividida entre um número infinito de combinações de P e Y. Como assumimos V é fixo, o valor nominal de todas as transações na economia é determinado pelo fornecimento de dinheiro. Com os preços mais altos, cada transação exige mais unidades de moeda e, portanto, a quantidade de bens e serviços que podem ser comprados deve cair. Uma vez que a curva AD é desenhada para uma determinada quantidade de dinheiro, um aumento na oferta monetária deslocará a curva AD para a direita, conforme mostrado pelo AD1 (M1). Finalmente, no quadrante (d), mostramos a relação entre o salário real e o nível de preços de um determinado salário nominal. Se o salário nominal for W0, um nível de preço mais elevado reduzirá o salário real. Vamos assumir que os valores de equilíbrio inicial no modelo associado à quantidade de dinheiro M0 são Y0, W0 / P0 e L0. Suponha que as autoridades monetárias aumentam o suprimento de dinheiro para M1 na tentativa de aumentar a produção real e o emprego. Podemos ver que tal política será completamente ineficaz no modelo clássico. O aumento da quantidade de dinheiro, criando desequilíbrio no mercado monetário (Md <M), levará a um aumento na demanda por bens e serviços. Como Y está constrangido em Y0 pelo emprego no equilíbrio do mercado de trabalho (L0), os preços aumentam para P1. Para um determinado salário nominal de W0, um aumento no nível de preços reduz o salário real e cria desequilíbrio no mercado de trabalho. Um excesso de demanda por mão-de-obra de ZX emerge com um salário real de W0 / P1. A competitição entre os empregadores impulsionará o salário nominal até atingir um valor de W1, o que restaura o salário real para o seu valor de equilíbrio (isto é, W0/P0 = W1/P1). Irving Fisher (1907) também monstraram como a expansão monetária aumentaria a taxa de juros nominal através do "efeito Fisher". No modelo clássico, a taxa de juros real se ajusta para equiparar poupança e investimento no mercado de fundos emprestáveis. Uma vez que a taxa de juros real é igual à taxa de juros nominal menos a taxa de inflação e é determinada pelas forças reais de produtividade, a taxa de juros nominal se ajustará para refletir a influência das variações na taxa de juros real. A expansão monetária, ao aumentar a taxa de inflação, também aumentará a taxa de juros nominal. Para resumir, o resultado final de uma expansão monetária é que o nível de preços, os salários nominais e a taxa de juros nominal aumentará, mas todos os valores reais no sistema não serão afetados (ou seja, o dinheiro é neutro). Na linguagem de David Hume (1752), é evidente que a maior ou menor quantidade de dinheiro não tem conseqüência, pois os preços das commodities são sempre proporcionais à abundância de dinheiro ". Antes de passar para examinarmos as objeções de Keynes ao modelo clássico, devemos notar que a versão estilizada da teoria da quantidade apresentada acima não fazjustiça às complexidades e sofisticação das teorias desenvolvidas pelos economistas pré-keynesianos que trabalham na tradição da teoria das quantidades. Economistas clássicos como Ricardo estavam preocupados com os estados de equilíbrio longo e utilizaram um método de análise comparativo- estático para comparar um estado de equilíbrio com outro. Alguns economistas clássicos estavam bem conscientes de que a neutralidade da proposição de dinheiro não se manteria no curto prazo (ver Corry, 1962). De fato, Ralph Hawtrey, que se desviou do ninho clássico, ainda mais cedo do que Keynes, ao longo de sua carreira defendeu uma teoria puramente monetária do ciclo econômico, onde o dinheiro estava longe de ser neutro no curto prazo (ver Haberler, 1963, Deutscher, 1990). Mas visto do ponto de vista do início da década de 1930, durante as profundezas da Grande Depressão, o equilíbrio ricardiano a longo prazo também pode 2.6 TEORIA GERAL DE KEYNES O contributo de Keynes para a teoria econômica continua sendo um debate considerável, apesar de quase setenta anos que passaram desde a publicação da Teoria Geral, em fevereiro de 1936. Poucos economistas desafiaram a visão de Samuelson (1988) de que a influência de Keynes no curso da economia foi "o evento mais significativo na ciência econômica do século XX" ou que a macroeconomia foi sua criação. Os oponentes estão convencidos de que Keynes estava fundamentalmente enganado (Hayek, 1983, veja também as entrevistas de Friedman e Lucas no final dos capítulos 4 e 5, respectivamente). Os próprios keynesianos estão divididos entre aqueles que, como Keynes, consideram que as implicações políticas da Teoria Geral são moderadamente conservadoras (Tobin, 1987) e outras que vêem o magnum opus de Keynes representando uma ruptura revolucionária das principais doutrinas clássicas e neoclássicas (Robinson, 1971, Davidson, 1994 e Capítulo 8). Que a Teoria Geral teve uma profunda influência no desenvolvimento da macroeconomia e a condução da formulação de políticas macroeconômicas, para o bem ou para o mal, é incontestável. Keynes era essencialmente um economista aplicado, criado na tradição de Cambridge, de Alfred Marshall, onde a atração da economia estava na perspectiva que oferece aos seus praticantes um mundo melhor. Mas para Keynes escrever a Teoria Geral era "longa luta para escapar ... dos modos habituais de pensamento e expressão". As idéias antigas das quais Keynes procurou escapar foram as doutrinas do laissez-faire associadas à tradição liberal da economia clássica do século XIX. Seguindo Adam Smith, a economia política teve um preconceito subjacente ao laissez-faire. Os economistas clássicos, com algumas exceções, estavam preocupados com o fracasso do governo. Na sua opinião, o Estado deve confiar suas atividades para assegurar um ambiente pacífico e competitivo no qual os cidadãos possam atingir seus objetivos individuais o máximo possível. Somente os males do poder de monopólio ou demais envolvimento do Estado nos assuntos econômicos poderiam impedir que o mecanismo de preços produza a produção nacional máxima, dada a restrição de recursos escassos, mas totalmente empregados. Em contraste com essa ortodoxia, o aspecto mais revolucionário do trabalho de Keynes, que podemos detectar em seus escritos a partir de meados da década de 1920, era sua mensagem clara e inequívoca de que, no que se refere ao nível geral de emprego e produção, não havia "invisível" mão 'canalizando o interesse próprio para algum ótimo social. Embora a visão iconoclástica de Keynes emerge várias vezes em suas críticas à política do governo do Reino Unido durante a década de 1920, muitas de suas recomendações políticas não possuíam a estrutura teórica a partir da qual poderiam logicamente ser derivadas. 2.7 Interpretando a Teoria Geral A interpretação da Teoria Geral engloba divergentes pontos de vista, pois, esse livro é considerado altamente complexo, controverso e influente, o que faz com que não exista uma interpretação universal e definitiva ao seu respeito. Para ter uma ideia da diversidade de interpretações da Teoria Geral, que surgiram após 1936, o leitor deve consultar Hicks (1937), Modigliani (1944, 2003), Klein (1947), Patinkin (1956, 1976, 1990b), Leijonhufvud (1968), Davidson (1978, 1994), Chick (1983), Coddington (1983), Kahn (1984) e Meltzer (1983). Para entender o desenvolvimento das contribuições de Keynes no contexto mais amplo de sua vida e filosofia, o leitor deve consultar as biografias de Keynes de Harrod (1951), Moggridge (1992) e Skidelsky (1982, 1992 e 2000). 2.8 Principais Propostas de Keynes Na teoria geral, Keynes pretende descobrir o que determina a renda nacional de um determinado sistema e a quantidade de emprego (Keynes, 1936, p. 247). A novidade teórica e a proposição central do livro são o princípio da demanda efetiva, juntamente com o papel equilibrado das mudanças na produção e não nos preços. Essa ênfase dada à quantidade e não ao ajuste de preços na Teoria Geral está em forte contraste com o modelo clássico. O princípio da demanda efetiva afirma que, em uma economia fechada com capacidade disponível, o nível de produção (e, portanto, o emprego) é determinado pelas despesas agregadas, que consiste em duas componentes, as despesas/consumo do setor doméstico (C) e as despesas de investimento das empresas (I). Assim, na Teoria Geral existem dois setores (familia e empresas), e as despesas agregadas são dadas pela equação (2.18): E=C +I (2.18) Enquanto, no modelo clássico, C e I estão em função da taxa de juros. No modelo de Keynes, o C é endógeno e depende da renda em vez da taxa de juros. Enquanto, o I depende do lucro esperado (eficiência marginal do capital) e da taxa de juros. Assim, o emprego no modelo de Keynes torna-se dependente de um fator instável, o I (lucro esperado; taxa de juros), que envolvem expectativas sobre os níveis futuros de demanda e custos. As decisões de I frente a volatilidade das expectativas, causa grandes instabilidades, o que levou Keynes a questionar a eficácia dos ajustes das taxas de juros como forma de influenciar o volume de I. Nesse sentido, ele ressalta que as expectativas do lucro esperado são mais significativas do que a taxa de juro na vinculação do futuro com o presente (Keynes, 1937). Na sua análise da instabilidade, as "flutuações violentas" na eficiência marginal do capital formam os choques que alteram a demanda agregada real; isto é, a principal fonte de flutuações econômicas vem do lado real da economia, conforme descrito pela curva IS. A partir de sua análise da função de consumo, Keynes desenvolveu o conceito de propensão marginal a consumir (∆C/∆Y) que desempenha um papel crucial na determinação do tamanho do multiplicador. Devido ao multiplicador, qualquer desvantagem na despesa de investimento terá um impacto ampliado na produção agregada. Deixando c (propensão marginal a consumir) e α (consumo autônomo), podemos escrever a equação consumo como (2.19): C = α + cY (2,19) No modelo de Keynes, o valor do C depende da renda agregada. Substituindo (2.19) em (2.18) obtemos a condição de equilíbrio dada por (2.20): Y = α + cY + I (2.20) Uma vez que Y - cY = a + I e Y - cY = Y (1 - c), obtemos a equação familiar reduzida (2.21): Y = (a + I) / (1 - c) (2.21) Onde 1/1 - c representa o multiplicador. Deixando κ simbolizar o multiplicador de investimento, podemos reescrever a equação (2.21) como Y = (a + I) κ. Segue-se que, para uma determinadamudança nas despesas de investimento (∆I) ∆Y = ∆Iκ , a renda aumentará em um montante que é κ vezes a ∆I"(Keynes, 1936, p. 115). Keynes define o multiplicador de investimento (κ) como a proporção de uma mudança na renda para uma mudança na despesa autônoma. Em seguida, o autor ressalta, que devemos ter ciência, que estamos falando de uma economia com capacidade disponível para o aumento da produção, caso haja um aumento na demanda. Uma vez que o aumento da produção requer mais mão-de-obra, isso implica um multiplicador de emprego (Kahn, 1931). Trabalhadores recém- empregados em indústrias de bens de capital gastarão seus salários em bens de consumo. O aumento da demanda por bens de consumo, por sua vez, levará ao aumento do emprego nas indústrias de bens de consumo e resultará em novas rodadas de despesas. Em consequência, um aumento inicial no investimento autónomo produz um aumento mais elevado do rendimento. No caso de uma economia sem capacidade ociosa, Keynes reconheceu que qualquer aumento no I "criaria uma tendência inflacionária sem limites, independentemente da propensão marginal a consumir". A explicação de Keynes sobre a determinação da taxa de juros também marcou uma ruptura com seus predecessores clássicos. Keynes rejeitou a ideia de que a taxa de juros seja determinada pelo lado real da economia e pela produtividade marginal do capital. Na Teoria Geral, a taxa de juros é um fenômeno puramente monetário determinado pela preferência de liquidez (demanda de moeda), em conjunto com a oferta de moeda. Além do motivo transação para guardar moeda, Keynes acrescentou os motivos de precaução e de especulação. Em um mundo caracterizado pela incerteza, sempre haverá um motivo especulativo para manter o dinheiro em detrimento de outros ativos financeiros, e na visão de Keynes, a "preferência de liquidez" sempre exercerá uma influência mais poderosa sobre a taxa de juros do que decisões de poupança. Se a preferência de liquidez pode variar, isso prejudica o postulado clássico relativo à estabilidade da função de demanda de moeda. Isso, por sua vez, implica que a velocidade da circulação da moeda pode variar. A partir da estrutura básica da teoria de Keynes da demanda efetiva, o leitor pode ver que a dependência da produção agregada e do emprego nas despesas agregadas (C + I) cria o potencial de instabilidade, uma vez que a despesa de investimento é tipicamente instável devido à influência das expectativas do negócio em relação a um futuro incerto. Um futuro incerto aumenta a preferência por liquidez, de modo que as variações na demanda por moeda, bem como as mudanças na oferta monetária, podem influenciar a produção e o emprego. Portanto, no modelo de Keynes, a proposição clássica de que a quantidade de dinheiro é neutra é rejeitada. Um aumento na oferta de moeda, ao reduzir a taxa de juros, pode estimular as despesas agregadas através do aumento do investimento e do efeito multiplicador subsequente. No entanto, Keynes reconheceu que o poder da política monetária pode ser limitado, particularmente em uma profunda recessão (Keynes, 1936, p. 173). Se a política monetária se revelar ineficaz, as despesas agregadas poderiam ser estimuladas diretamente através de gastos governamentais ou, indiretamente, através de mudanças tributárias que estimulassem os gastos dos consumidores ao aumentar a renda disponível (Keynes, 1936, pág. 378). 2.9 Análise do mercado de trabalho de Keynes Já vimos, que o pleno emprego é garantido no modelo clássico, desde que haja concorrência no mercado de trabalho, e os preços e salários sejam perfeitamente flexíveis. Em contraste, Keynes não aceitou que o mercado de trabalho funcionasse de forma a garantir a limpeza do mercado, sendo provável que o desemprego involuntário seja uma característica do mercado de trabalho se os salários monetários forem rígidos. Além disso, segundo Keynes, a flexibilidade no salário nominal não é suficiente para levar a economia de volta ao pleno emprego. 2.9.1 Rigidez dos salários nominais Na Teoria Geral, para começar, Keynes assume que o salário (w) é "constante" para "facilitar a exposição" (Keynes, 1936, p. 27). O impacto de um choque da demanda negativa sobre a produção real e o emprego no caso da rigidez do salário nominal (Figura 2.6). Suponha que uma economia inicialmente em equilíbrio em pleno emprego (Le e YF) experimente uma queda na demanda agregada ilustrada por uma mudança da curva Demanda Agregada de AD0 para AD1. E se os preços são flexíveis, mas os salários nominais são rígidos, a economia passa de 𝑒0 para 𝑒1 no painel (b). Com a rigidez salarial nominal, a curva de oferta agregada torna-se W0AS. Com uma queda no nível de preços para P1 e os salários nominais permanecendo em W0, o salário real aumenta para 𝑤0/𝑃1 no painel (a). Com esse salário real, a oferta de mão-de-obra (Ld) excede a demanda por mão-de-obra (Lc) e o desemprego involuntário na área de cd emerge. Isso faz sentido quando nós lembramos que a curva de oferta de trabalho indica a quantidade máxima de trabalho fornecido em cada salário real. Uma vez que Le - Lc representa os trabalhadores em desemprego involuntário que estão preparados à trabalhar ao salário real de equilíbrio W0 /P0, então, 𝑤0/𝑃0 é aceitável, uma vez que eles estariam preparados à trabalhar por um salário real mais baixo, conforme indicado por a curva de oferta para trabalho entre b e e. Uma queda no salário real também induzirá as empresas que maximizam o lucro a exigir mais mão-de-obra. Mas como o salário real pode ser reduzido? Existem basicamente duas maneiras: ou os w devem diminuir em relação ao nível de preços ou o nível de preço deve aumentar em relação ao w. Keynes preferiu o último, e defendeu expansões da demanda agregada para exercer pressão ascendente sobre o nível de preços. Graficamente, na Figura 2.6, painel (b), são necessárias políticas que irá mudar AD de AD1 para AD0. O aumento do nível de preços de P1 a P0 reduz o salário real de volta ao seu nível de equilíbrio de 𝑤0/𝑃0 e o desemprego involuntário é eliminado. Keynes rejeitou o corte salarial nominal como um método de estimular o emprego. A razão prática era que, a redução do salário nominal enfrentaria grandes objeções por parte dos trabalhadores. Em contraponto, os trabalhadores não resistiriam à redução do salário real provocadas por um aumento no nível geral de preços, uma vez que isso deixará os salários nominais inalterados. Além disso, o trabalhador só pode negociar os w e o nível de preços está fora de seu controle (Keynes, 1936, p. 13). Todavia, Keynes rejeitou a flexibilidade dos salários e dos preços como um método confiável de restabelecer o equilíbrio. De fato, em muitas circunstâncias, a extrema flexibilidade do salário nominal em uma economia monetária provavelmente pioraria a situação. 2.9.2 Flexibilidade dos salários nominais Muitos keynesianos ortodoxos colocam a rigidez salarial no centro da explanação de Keynes sobre o desemprego involuntário na Teoria Geral (ver Modigliani, 1944, 2003; Snowdon e Vane, 1999b; Snowdon, 2004a). Keynes demonstrou na Teoria Geral, que se os cortes nos salários permitissem novas reduções do nível de preços, isso aumentaria o valor real da oferta monetária, reduziria a taxa de juros e estimularia o investimento. Em termos da Figura 2.6, painel (b), a queda do salário muda a curva de oferta agregada de W0AS para W1AS (onde W1 <W0). A economia retornaria ao pleno emprego na E2. O mecanismo de preços permitiu que a demanda agregada aumentasse sem a intervenção do governo sob a forma de um estimulo agregado da demanda. No entanto, Keynes introduziuduas razões pelas quais esse 'efeito Keynes' pode falhar. A existência de uma armadilha de liquidez que impede a queda da taxa de juros ou o cronograma de investimentos que impedem que a queda dos preços estimule a demanda agregada através de mudanças na taxa de juros (Figura 2.6, painel (b)), essas possíveis limitações da deflação como uma rota para a recuperação apareceriam como um curva AD que se torna vertical abaixo de E1; isto é, a economia está impedida passar de E1 para E2. Para Keynes, a política de permitir que os salários caíssem para um determinado nível de oferta poderia, em teoria, produzir os mesmos efeitos que uma política de expansão da oferta de moeda com um determinado salário nominal. Mas a política monetária estaria sujeita às mesmas limitações que o corte salarial como método para garantir o pleno emprego (Keynes, 1936, p. 269). Devido a estas várias limitações do mecanismo de preços, Keynes estava convencido de que as autoridades precisariam tomar medidas positivas para eliminar o desemprego involuntário. A menos que eles o fizessem, o sistema poderia encontrar-se preso numa situação de equilíbrio de subemprego, no qual demonstra a tendência das economias de mercado de permanecerem em condições crônicas de atividade subnormal por um período considerável “sem qualquer tendência marcada tanto para a recuperação ou para o colapso completo” (Keynes, 1936, página 249). Cap. 2 Snowdon e Vane (2005) KEYNES V. THE ‘OLD’CLASSICAL MODEL 2.10 Rejeição de Keynes à lei de Say Se aceita, a lei de Say faz da política macroeconômica de manejo da demanda redundante. No modelo clássico a decisão de ter consumo corrente equivale a consumir mais no futuro. Assim, um aumento na poupança automaticamente representa um aumento nos gastos com investimento. O principal objetivo da Teoria Geral de Keynes foi prover uma refutação teórica à Lei de Say. No modelo Keynesiano, produto e emprego são determinados pela demanda efetiva, e a operação do mercado de trabalho não pode garantir pleno emprego. A taxa de juros é determinada no mercado financeiro mais que pelas decisões de investimento e poupança. Variações na eficiência marginal do investimento (expectativa de lucro) levam a variações no produto real via efeito multiplicador e, como resultado, a poupança se ajusta ao investimento através de mudanças na renda. Por isso, no modelo Keynesiano, desigualdades entre investimento planejado e poupança planejada leva a ajustes nas quantidades ao invés de ajustes de equilíbrio da taxa de juros. No mundo de equilíbrio de subemprego de Keynes, demanda cria oferta! 2.11 Teoria Quantitativa da Moeda No modelo clássico o dinheiro é neutro. Uma vez que a quantidade de produto real é predeterminada pelo impacto combinado de um mercado de trabalho competitivo e da Lei de Say, qualquer alteração na quantidade de dinheiro só pode afetar o nível geral de preços. A lei de Say e o modelo clássico são rejeitados por Keynes, o autor não supõe mais que o produto real seja predeterminado em seu nível de pleno emprego. No Capítulo 21 da Teoria Geral, Keynes discute as várias possibilidades. Se a curva de oferta agregada for perfeitamente elástica, então uma mudança na demanda efetiva provocada por um aumento na quantidade de moeda fará com que a produção e o emprego aumentem sem efeito sobre o nível de preço até que o pleno emprego seja atingido. No entanto, no curso normal dos eventos, um aumento na demanda efetiva provocará um aumento tanto na quantidade de emprego quanto no nível de preços. Uma vez que o volume agregado de produto correspondente ao pleno emprego é estabelecido, Keynes aceitou que "a teoria clássica volte a existir" e as expansões monetárias produzirão "inflação verdadeira". Uma outra complicação no modelo de Keynes é que a relação entre uma mudança na quantidade de moeda e uma mudança na demanda efetiva são indiretos, ocorrendo via sua influência nas taxas de juros, no investimento e no tamanho do multiplicador. Devemos também notar que, uma vez que Keynes introduziu a teoria da preferência de liquidez, a possibilidade de que a função de demanda por dinheiro possa mudar de forma imprevisível, fazendo com que a velocidade varie, implica que mudanças em M podem ser compensado por mudanças em V na direção oposta. Como Y e V já não foram assumidos como constantes na equação MV = PY, é claro que as mudanças na quantidade de dinheiro podem levar V, P ou Y a variar. Assim, a neutralidade do dinheiro não é mais garantida. 2.12 Três Importantes Interpretações de Keynes Na vasta literatura relativa à contribuição de Keynes desde 1936, podemos identificar três interpretações: (i) a interpretação "hidráulica", (ii) a interpretação "fundamentalista" e (iii) a abordagem de equilíbrio geral modificada. 2.12.1 A interpretação hidráulica Intepretação ortodoxa inspirada e iniciada por Hicks, Modigliani, Klein, Samuelson e Hansen. O modelo IS-LM é a base desta abordagem. Seguindo a contribuição de Modigliani, a economia keynesiana foi considerada a economia do salário e da rigidez de preços. O impacto desestabilizador das expectativas instáveis foi minimizado nesta abordagem. Uma importante fraqueza da interpretação hidráulica era a falta de um motivo convincente para a rigidez dos salários e dos preços com base no comportamento racional. 2.12.1 A interpretação fundamentalista Esta interpretação da Teoria Geral considera o trabalho de Keynes como um ataque frontal à ortodoxia neoclássica. Os fundamentalistas consideram a influência das expectativas instáveis devido à incerteza como característica fundamental do trabalho de Keynes. Autores chaves fundamentalistas: George Shackle, Joan Robinson e Townshed. Fundamentalistas rejeitam a interpretação hidráulica, considerando-a uma "bastardização" da contribuição de Keynes. 2.12.1 A abordagem do equilíbrio geral modificado Coddington (1983) refere-se a essa visão como "reducionismo reconstituído". Sendo os reducionistas aqueles economistas cujo método de análise consiste em "analisar os mercados com base nas escolhas feitas pelos comerciantes individuais". O estímulo inicial desta abordagem foi dado por Patinkin (1956). Patinkin acreditava que o desemprego involuntário é um problema de desequilíbrio dinâmico e a correção deste desequilíbrio ocorreria por meio da coordenação. Esta linha de indagação foi seguida por Clower (1965) e Leijonhufvud (1968), que desenvolveram uma abordagem de equilíbrio geral modificada na linha Walrasiana, a fim de dar sentido a problemas de coordenação que inevitavelmente emergem em uma economia de mercado que opera sem o "leiloeiro" fictício. Clower argumenta que o objetivo de Keynes era matar o mito do leiloeiro para levar as dificuldades de coordenação do perfil da informação e da intertemporalidade para dentro das economias reais. O declínio acumulado do produto na Teoria Geral de Keynes resulta de massivas falhas de coordenação, onde os agentes respondem a sinais de preço errados (falsos). Clower tem sido bastante criticado pelas principais escolas de macroeconomia por não levar em consideração os processos de mercado. Leijonhufvud, seguindo Patinkin (1948), mostrou como o conceito de "desemprego involuntário" de Keynes surgia como um fenômeno de desequilíbrio dinâmico. Na reinterpretação de Leijonhufvud da Teoria Geral, a principal inovação de Keynes foi sua tentativa de fornecer uma análise coerente e sistemática de como uma empresa privada reage, responde e se ajusta em uma economia de mercado no curto prazo para agregar choques de demanda quando ajustes de preços e salários são menos do que perfeitamente flexíveis. Para Leijonhufvud, os pressupostos walrasianosde flexibilidade instantânea de preços e salários e informações completas não são mais que ficção. Leijonhufvud, portanto, argumenta que Keynes forneceu uma Teoria Geral onde a informação incompleta dos agentes impede a economia sistema de se mover rapidamente e suavemente para um novo equilíbrio após um choque de demanda agregada. Leijonhufvud argumenta que a síntese neoclássica totalmente desconhece e interpreta mal Keynes. A história da ortodoxia keynesiana destaca elementos que não tem parte real no argumento da Teoria Geral (mas uma parte significativa no trabalho dos keynesianos) - tais como as afirmações de que os salários são rígidos; que a armadilha de liquidez existe na atualidade; e que os investimentos são inelásticos a taxa de juros. Após a década de 70, enquanto a geração mais nova de novos economistas clássicos pronunciava o fim da era keynesiana e abraçava a racionalidade de expectativas e as teorias de equilíbrio do ciclo econômico, Leijonhufvud continuou a argumentar que a economia keynesiana tem um futuro. Leijonhufvud (1992) sugere duas razões principais para esse otimismo. Primeiro, o problema de coordenação é uma questão muito importante para ser mantida definitivamente fora da agenda de pesquisa dos economistas. "O sistema de mercado" automaticamente "coordenará as atividades econômicas?” Em segundo lugar, Leijonhufvud acredita que mais cedo ou mais tarde, os economistas devem abrir suas estruturas teóricas para permitir que os resultados de outras ciências comportamentais sejam utilizados nas análises econômicas. Quando isso acontecer, "o postulado da ‘racionalidade ilimitada’ terá que ir". 2.13 A Nova Escola de Keynes Durante a década de 1980, houve um interesse crescente no Keynes mais novo, a fim de compreender melhor o Keynes mais recente (da Teoria Geral). Embora muito tenha sido escrito sobre a teoria de Keynes, pouco se havia tratado do método e da filosofia de Keynes. Carabelli (1988), Fitzgibbons (1988) e O'Donnell (1989) realizaram contribuições neste sentindo. As mais recentes tentativas de explorar os fundamentos metodológicos e filosóficos da política econômica Keynesiana têm sido realizadas por uma nova escola, que foi denominada por Skidelsky como "A Nova Escola de Keynes". O principal objetivo desta escola é destacar a necessidade de reconhecer que a economia de Keynes tem uma forte base filosófica e fornecer um exame detalhado do tratamento rico e elaborado de Keynes sobre a incerteza, conhecimento, ignorância e probabilidade. A nova escola também prima pela fascinação vitalícia de Keynes pelo problema de tomada de decisão sob condições de incerteza. Para Fitzgibbons, Keynes forneceu uma alternativa ao pensamento de longo prazo firmemente baseada na natureza temporária do curto prazo. Argumenta-se que a Teoria Geral é centrada em uma economia de incerteza organizada em torno de "espíritos animais" e impulsos criativos, onde a moeda tem impacto sobre o lado real da economia. Keynes é visto como preocupado com os problemas de indeterminação econômica e do abandono do equilíbrio. Carabelli enfatiza o foco de Keynes na relação entre o tempo e a mudança e a necessidade de analisar e atender aos problemas em curto período (resposta rápida). O'Donnell tentou conciliar as interpretações de curto e longo prazo de Keynes pelo conhecimento da taxa de juros keynesiana em ambos os períodos, mas dando ênfase ao curto prazo. Embora a nova escola tenha aumentado a conscientização sobre os vínculos entre a filosofia de Keynes e sua economia, pode-se argumentar que, ao localizar o núcleo do método de Keynes no trabalho A Treatise on Probability, um trabalho que está muito distante (pré-data) cronologicamente de seu trabalho mais importante (Teoria Geral), autores tais como Carabelli falham ao considerar a influência recíproca da economia sobre a filosofia e sua interação e desenvolvimento contínuo. 2.14 Causas e Consequências da Grande Depressão A Grande Depressão foi a mais significativa catástrofe econômica dos tempos modernos a afetar economias de mercado capitalistas e, até hoje, a maioria dos economistas consideram a crise de 1930 o evento macroeconômico mais importante do século XX. Os economistas têm concluído que as causas imediatas da Grande Depressão envolveram a interação de vários fatores que levaram a uma diminuição drástica da demanda agregada. Dados revelam evidências fortes de um enorme choque de demanda agregada devido ao forte movimento anticíclico do nível de preços, ou seja, o nível de preços caiu à medida que o PIB diminui. Além do aumento dramático do desemprego. Os dados também mostram que na grande maioria dos países houve um movimento anticíclico do salário real. Esse padrão emergiu em resposta a um choque de demanda agregada em países onde a deflação de preços excedeu a deflação de salário nominal. Daí a evidência da "não-vertical" curva de oferta agregada na era da depressão era forte. No debate relativo às causas da Grande Depressão nos EUA, cinco principais hipóteses foram apresentadas, das quais as quatro primeiras focam nas causas do grande declínio da demanda agregada: 1. Hipótese não monetária / não financeira: foca no impacto do declínio nas despesas de consumo e investimento, bem como os efeitos adversos nas exportações Tariff Smoot-Hawley. Acredita-se que a crise foi provocada por um colapso na eficiência marginal do capital. 2. Hipótese monetária de Friedman e Schwartz: atribui o grande declínio no PIB, principalmente, ao declínio sem precedentes no valor nominal da oferta de dinheiro, especialmente após a sucessão de falhas bancárias que começaram em 1930 e que o FED não conseguiu conter ao usar as políticas monetárias de crescimento expansionistas. 3. Hipótese não monetária / financeira: associada, em particular, ao paper seminal de Bernanke. A quebra de muitos bancos durante a crise levou a uma quebra no sistema financeiro e com isso a rede de conhecimento e informação que os bancos possuíam sobre clientes existentes e potenciais. Muitos tomadores de empréstimo tiveram pedidos de crédito negados, apesar de suas credenciais financeiras serem de confiança. 4. Hipótese Gold Standard de Bernanke-Eichengreen-Temin: a Grande Depressão não começou em 1929, assim uma análise adequada das causas da Grande Depressão deve observar o contexto de desenvolvimento econômico que precedeu o período. 5. Hipótese do ciclo econômico real neoclássico não monetário: esta abordagem destaca o impacto de choques reais para a economia decorrente de mudanças nas instituições econômicas que reduziram as horas de mercado normal ou estável por pessoa em no máximo a 16 horas. Grande parte da pesquisa recente sobre a Grande Depressão tem deixado de lado a análise tradicional, que enfocava nos eventos dentro dos EUA, e tem se concentrado na análise do sistema monetário internacional que operou durante o período entre guerras. O auge do Gold Standard foi no período 40 anos antes da Primeira Guerra Mundial. O equilíbrio da balança de pagamentos operava via o que costumava ser conhecido como o "mecanismo de fluxo de dinheiro em espécie". Países com déficit experimentavam uma saída de ouro, enquanto os países excedentes recebiam entradas de ouro. Uma vez que a oferta monetária de um país estava ligada ao fornecimento de ouro, os países deficitários experimentariam uma deflação de preços pois a quantidade de dinheiro havia diminuído, enquanto os países excedentes experimentariam a inflação. Este processo tornaria as exportações do país deficitário mais competitivas e vice-versa, resgatando assim o equilíbrio internacional nas balanças de pagamentos. Estas eram as "regras do jogo". Este sistema funcionou razoavelmente bem antes da Primeira Guerra Mundial.No entanto, a Primeira Guerra Mundial criou grandes desequilíbrios no padrão de assentamentos internacionais que continuaram a minar o sistema econômico internacional ao longo da década de 1920. Para Temin e Eichengreen, a guerra representou um enorme choque para o Gold Standard e a tentativa de restaurar o sistema antigo (pré-guerra) foi desastroso. Em 1928, em resposta ao temor de que a economia dos EUA estivesse superaquecendo, o FED apertou a política monetária e os EUA reduziram o seu fluxo de empréstimos para a Europa e América Latina. À medida que os bancos centrais começaram a sofrer perda de reservas devido aos déficits de pagamentos, eles responderam de acordo com os requisitos do Gold Standard e também apertaram suas políticas monetárias. E assim o processo deflacionário já estava bem encaminhado a nível internacional no verão de 1929, e bem antes do mercado de ações entrar em crise tão dramática em outubro. Eichengreen e Temin argumentam que, uma vez que a desaceleração da economia internacional estava em curso, a "ideologia, mentalidade e retórica do Gold Standard levou os tomadores de decisão a realizarem medidas que apenas acentuaram a angústia econômica na década de 1930. Sob o regime do Gold Standard, os países foram impedidos de desvalorizar suas moedas para estimular exportações, ao mesmo tempo políticas monetárias expansionistas de forma unilateral também foram excluídas porque prejudicariam a estabilidade da taxa de câmbio do país. A menos que os governos dos países do Golden Standard pudessem organizar uma reflação coordenada. Mas as disputas políticas, o surgimento do protecionismo e a incompatibilidade de estruturas conceituais revelaram-se uma "barreira intransponível" para a cooperação internacional. E a recessão, que começou em 1929, foi convertida na Grande Depressão.
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