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ciências políticas

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Quais as principais semelhanças e diferenças entre as teorias contratualistas de Hobbes, Lock e Rousseau?
Três grandes pensadores modernos marcaram a reflexão sobre a questão política: Hobbes, Locke e Rousseau. Um ponto comum perpassa o pensamento desses três filósofos a respeito da política: a idéia de que a origem do Estado está no contrato social. Parte-se do princípio de que o Estado foi constituído a partir de um contrato firmado entre as pessoas. Aqui entende-se o contrato como um acordo, consenso, não como um documento registrado em cartório. Além disso, a preocupação não é estabelecer um momento histórico sobre a origem do Estado. A idéia é defender que o Estado se originou de um consenso das pessoas em torno de alguns elementos essenciais para garantir a existência social. Porém, existem algumas divergências entre eles:
Hobbes (1588-1679) acreditava que o contrato foi feito porque o homem é o lobo do próprio homem. Há no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre o seu semelhante (competição constante, estado de guerra). Por isso, torna-se necessário existir um poder que esteja acima das pessoas individualmente para que o estado de guerra seja controlado, isto é, para que o instinto destrutivo do homem seja dominado. Neste sentido, o Estado surge como forma de controlar os "instintos de lobo" que existem no ser humano e, assim, garantir a preservação da vida das pessoas. Para que isso aconteça, é necessário que o soberano tenha amplos poderes sobre os súditos. Os cidadãos devem transferir o seu poder ao governante, que irá agir como soberano absoluto a fim de manter a ordem.
Locke (1632-1704) parte do princípio de que o Estado existe não porque o homem é o lobo do homem, mas em função da necessidade de existir uma instância acima do julgamento parcial de cada cidadão, de acordo com os seus interesses. Os cidadãos livremente escolhem o seu governante, delegando-lhe poder para conduzir o Estado, a fim de garantir os direitos essenciais expressos no pacto social. O Estado deve preservar o direito à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser expressão da vontade da assembléia e não fruto da vontade de um soberano. Locke é um opositor ferrenho da tirania e do absolutismo, colocando-se contra toda tese que defenda a idéia de um poder inato dos governantes, ou seja, de pessoas que já nascem com o poder (por exemplo, a monarquia). 
Rousseau (1712-1778) considera que o ser humano é essencialmente bom, porém, a sociedade o corrompe. Ele considera que o povo tem a soberania. Daí, conclui que todo o poder emana (tem sua origem) do povo e, em seu nome, deve ser exercido. O governante nada mais é do que o representante do povo, ou seja, recebe uma delegação para exercer o poder em nome do povo. Rousseau defende que o Estado se origina de um pacto formado entre os cidadãos livres que renunciam à sua vontade individual para garantir a realização da vontade geral. Um tema muito interessante no pensamento político de Rousseau é a questão da democracia direta e da democracia representativa. A democracia direta supõe a participação de todo o povo na hora de tomar uma decisão. A democracia representativa supõe a escolha de pessoas para agirem em nome de toda a população no processo de gerenciamento das atividades comuns do Estado.
O contrato Hobbesiano
Thomas Hobbes, como a maioria dos pensadores humanistas de seu tempo, considera que todos os homens são iguais, mas isso não quer dizer que todos os homens são bons – muito pelo contrário. Segundo ele, a natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. (HOBBES, 1983, p. 74)
Portanto, a partir de um silogismo, descobriremos a verdadeira natureza humana. Primeira premissa: “Todos os homens são iguais”. Segunda premissa: “o homem é o lobo do homem”. Conclusão: “Todos os homens são lobos.” Isso não quer dizer que os homens são animais do gênero canídeo, mas sim que são animais selvagens dotados da razão, ansiando subjugar outrem em benefício próprio. Nesse sentido, verifica-se a necessidade de um contrato que seja o mantenedor da ordem social, haja vista que se não existisse o contrato, os homens viveriam permanentemente em guerra: o estado de bellum omnium contra omnes. Hobbes afirma que durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. (HOBBES, 1983, p. 75)
A causa dessa guerra deve ser atribuída à própria natureza humana, já que o homem é mau por natureza. Segundo o filósofo britânico, “na natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória. (HOBBES, 1983, p. 75). O conflito nasce porque “se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos.” (HOBBES, 1983, p. 75) Ou seja, o homem é egoísta, mesquinho e preza somente pelos seus próprios interesses, isto é, prioriza as suas paixões, em detrimento do Outro.
No estado de natureza, o animal-homem vê como inimigo não apenas aqueles que lhe oferecem perigos, mas também aqueles que detêm direitos a que ele não possui. Enfim, trata-se daquele antigo dito popular: “Cada um por si e Deus contra todos.“ O homem luta por sua sobrevivência nem que tenha que agredir e matar o outro. De acordo com Hobbes, “no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria conservação, e às vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro (...)” (HOBBES, 1983, p. 74)
O estado de natureza hobbesiano é, portanto, o estado beligerante em que todos os indivíduos são soldados, lutando uns contra os outros, com um único propósito: a sobrevivência. Os homens, por conseguinte, não são mais que animais.
O Contrato Político
Para Hobbes, o estado de natureza é o império das paixões, em que o homem, não conseguindo dominar a si mesmo, sucumbiria em pouco tempo, se não conseguisse superá-lo. É um cenário de caos e miséria, onde todos lutam contra todos pela sobrevivência. São a razão e o instinto de conservação, denominado “medo da morte”, que farão com que o homem supere o estado de natureza e passe a integrar o estado político.
A finalidade do contrato é frear os instintos humanos, os quais, paradoxalmente, o levariam a perecer. O homem teme o animal que existe dentro de si e, por essa razão, tenta domá-lo utilizando-se da razão. Dentro do contrato social, o homem tem a possibilidade não só de melhor assegurar sua preservação como também de adquirir mais benefícios, isto é, os fins a que almeja seu instinto de conservação.
Isso, porém, não significa que são as paixões que determinam o contrato, muito pelo contrário, sem razão não haveria contrato, e sem contrato os homens continuariam à mercê de suas paixões. O contrato é instrumento da razão, que, por conseguinte, é instrumento das paixões. Contudo, a questão a ser respondida é a seguinte: como é que o contrato se estabelece? A resposta é: a partir de concessões feitas por todos. O homem abre mão de governar a si mesmo, transferindo sua autonomia ao Soberano. Segundo Hobbes, a única cláusula pétrea do contrato é a seguinte: “cedo e transfiro o meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações.” (HOBBES, 1983, p. 105).
É apenas a Razão, a capacidade de ceder em benefício próprio, que caracteriza o homem e o distingue dos demais animais. É a partir desse pacto que se garanteo bem comum: a segurança quanto à vida e os meios que são tomados para atingir esse fim. O Soberano é quem deve assegurar a ordem e fazer com que o contrato seja cumprido. Contudo, há um ponto que merece destaque no contrato social de Hobbes, porque, para ele, o homem, ao transferir todos os seus direitos ao Soberano, não recebe qualquer garantia de que eles se cumpram, isto é, não há garantias de que o Soberano cumpra as expectativas nele investidas, mesmo porque ele não faz parte do contrato, ele paira sobre tudo e todos com o poder absoluto que lhe foi delegado. Eis a afinidade de Hobbes com o sistema monárquico de governo e sua vinculação ao Absolutismo.
Hobbes afirma que a igualdade é a força motriz do contrato, pois, sem igualdade, os homens não fazem acordos, “só em termos igualitários os homens aceitam entrar em condições de paz.” (HOBBES, 1983, p. 74). Para o autor, o contrato só existe, porque há igualdade entre os contratantes. A igualdade é a condição sine qua non do contrato. Não há, portanto, divisão de classes a priori do estabelecimento do contrato, até porque, no estado de guerra, não havia classes, o que reinava era o “cada um por si e Deus contra todos.” Assim, os homens eram iguais antes do contrato e serão iguais também in stato em que vigorar o contrato, exceção feita, é claro, ao Soberano. A igualdade no estado de natureza diz respeito à autonomia, mas, principalmente, à insegurança a que todos estavam sujeitos. Ou seja, quem participa do contrato almeja vantagens em seu benefício, pois cada contratante calcula racionalmente tudo quanto poderá desfrutar ou limitar-se, então pesa os prós e os contras e opta por aquilo que se lhe afigura a melhor opção. Em suma, para Hobbes, o pacto realizado entre os homens revela muito mais uma atitude egoísta do que altruísta, pois, o homem firma o contrato pensando em si mesmo e não nos outros.
O contrato Rousseauniano
Em Emílio ou da Educação, Rousseau aborda um dos principais conceitos de sua filosofia: o bom selvagem, isto é, o homem em seu estado de natureza. Nessa obra, Rousseau oferece, também, um novo modelo na educação dos homens, valorizando, sobretudo, a verdadeira natureza humana; ou seja, ele expõe uma pedagogia que procura conciliar a liberdade do homem na vida em sociedade com a liberdade em seu estado natural, mostrando-nos que o homem não se enquadra nos conceitos morais da civilização, pois sua essência está além do bem e do mal.4
Para Rousseau, o homem é, em sua natureza, bom, mas o convívio social o corrompe. Em suas palavras, ”o homem é naturalmente bom (...), a sociedade deprava e perverte os homens.” (ROUSSEAU, 1968, p. 267) Isto significa dizer que o estado de natureza do homem é pacífico, portanto, o inverso do que preconiza Thomas Hobbes. Se, para Hobbes, antes do contrato reinava o caótico estado de guerra; para Rousseau, era a paz que reinava absoluta. O autor faz a seguinte descrição do homem em seu estado de natureza:
Vejo-o alimentando-se debaixo de um carvalho, matando a sede no primeiro riacho, encontrando a sua cama junto da mesma árvore que lhe forneceu o alimento e vendo assim satisfeitas as suas necessidades. (ROUSSEAU, 1976, p. 26)
O homem, fora do contrato social, é um bom selvagem. Ele vive em função de suas necessidades, porém, posto que não se relacione com outros como ele, esse selvagem não necessita de glória, não precisa desconfiar, nem competir com ninguém – ao contrário do que pensa Hobbes. 
Rousseau era defensor ferrenho da liberdade individual e acreditava que o convívio com os outros homens apenas corrompia a natureza humana. Em suas palavras,
Os homens não são feitos para se amontoarem em formigueiros e sim para serem espalhados pela terra que devem cultivar. Quanto mais se juntam, mais se corrompem. (...) De todos os animais, o homem é o que menos pode viver em rebanho. (...) O hálito do homem é mortal para seus semelhantes; isso não é menos verdadeiro no sentido próprio do que no figurado. (ROUSSEAU, 1968, p. 38)
Rousseau, embora admita que os homens não sejam, por natureza, iguais, tanto que defende a individualidade, não faz concessões a respeito da desigualdade dentro da sociedade civil – assegurado pelo contrato social. Rousseau afirma que “nunca acreditei que a liberdade consistisse em fazer o que quisesse, mas sim em nunca fazer o que não quisesse (...).” (ROUSSEAU, 2008, p. 85). É esse o imperativo categórico de seu contrato. Enfim, o pensamento do filósofo genebrino é uma antítese de Hobbes, porque, para Rousseau, no estado de natureza, havia dois princípios inerentes ao homem anteriores à razão: a busca do bem-estar e conservação e a piedade. Poder-se-ia argumentar que a conservação é o principal propósito do homem para o autor de Leviatã, porém, para Rousseau, a conservação não encontra obstáculos, concorrência e disputas – como para Hobbes e Montaigne; desse modo, a piedade – atributo que distingue o homem dos demais animais – é a moderadora do bem-estar e da conservação, garantindo, por conseguinte, o respeito mútuo entre todos. Por essa razão, Rousseau afirma que o estado de natureza era um estado pacífico, “o mais próprio à paz, e o mais conveniente ao gênero humano.” (ROUSSEAU, 1976, p. 44). Este estado só será rompido com o advento da agricultura e o concomitante surgimento da noção de propriedade privada, idéias que são os pilares do contrato social.
O Contrato Político
Assim como não há apenas uma visão sobre o estado de natureza, Rousseau diverge, também, de Hobbes, no tocante ao contrato social. O autor de Emílio afirma que quanto mais o homem permanece perto de sua condição natural, mais a diferença de suas faculdades com seus desejos se faz pequena e menos, por conseguinte, ele se acha longe de ser feliz. Ele não é nunca menos miserável do que quando parece desprovido de tudo; pois a miséria não consiste na privação das coisas e sim na necessidade que delas se faz sentir. (ROUSSEAU, 1968, p. 62)
Para Rousseau, o Estado é um “Mal-desnecessário”, isto é, o fruto do engano, o embuste que as classes dominantes impuseram aos dominados. As classes dominantes lograram os dominados com o discurso de igualdade e direitos individuais, quando, na verdade, seu intuito era explorá-los. A passagem do estado de natureza para o estado político é a principal etapa do processo de dominação e exploração dos ricos sobre os pobres. É a partir desse momento a-histórico que Rousseau buscará compreender a origem da desigualdade humana. Eis a primeira sentença de Du Contrat Social, “L'homme est né libre, et partout il est dans les fers, Tel se croit le maître des autres, qui ne laisse pas d'être plus esclave qu'eux. “5 (ROUSSEAU, p. 6)
Entre o estado de natureza e o estado político, há o estado de guerra – um dos pontos de afinidade entre Hobbes e Rousseau. Esse estado beligerante tem seu início com a aquisição da propriedade privada, oriunda da agricultura. É no estado de guerra que o homem torna-se lobo do homem, é quando a raça humana desperta para razão. Segundo Rousseau, “a infância é o sono da razão” (ROUSSEAU, 1968, p. 98). O autor está se referindo à infância do homem, mas também à infância da humanidade. A partir do momento em que o homem passou a meditar sobre sua condição, ele começou a agir em interesse próprio, procurando a auto-satisfação, em detrimento de seus semelhantes. A idéia de “meu” e o “teu” surge junto com a consciência humana. Instaura-se o estado de guerra de todos contra todos, guerra nociva aos ricos, aos que possuíam mais propriedades.
“os ricos devem ter sentido bem depressa como lhes era desvantajosa uma guerra perpétua cujos encargos seriam os únicos a suportar e na qual o risco de vida era comum e o dos bens particular. (ROUSSEAU, 1976, p. 66)”
Daí a necessidade de se conceber um pacto social que livrasse os homens da barbárie e os tornasse parte integrante da grande idéia da classe dominante: a civilização. Estado, Cultura, Civilização – ou qualquer outro nome que queira se atribuir ao ardil da classe dominante – é apenas alegitimação da exploração e escravidão que os ricos exercem sobre os pobres. As normas que legitimam essa fraude compõem o contrato social: o direito, a religião, a moda, as artes, etc. Rousseau afirma que
“As boas instituições sociais são as que mais bem sabem desnaturar o homem, tirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe outra relativa e colocar o eu na unidade comum, de modo que cada particular não se acredite mais ser um, que sinta uma parte da unidade, e não seja mais sensível senão no todo. (ROUSSEAU, 1968, p. 13)”
Nesse sentido, o contrato é, em primeira instância, aquilo que garante o direito dos exploradores de explorar. É isso que leva Rousseau a afirmar: “Dizer que um homem se dá gratuitamente é dizer coisa absurda e inconcebível.” (ROUSSEAU, 2001, p. 16). Porque a idéia do contrato partiu dos exploradores e não dos explorados. Todavia, Rousseau oferece em Do Contrato Social a possibilidade de implementação de um contrato político que substitua o antigo contrato – resultado da saída do homem do estado de guerra. Segundo Viamonte, “o contrato social não é uma narração histórica; é uma doutrina política. Não é um fato que tenha acontecido, senão um fato que deve ocorrer.” (VIAMONTE, p. 163). Em outras palavras, o contrato social de Rousseau seria fundamentado sobre bases legítimas, em comum acordo e com a participação de todos, sem o predomínio das classes dominantes. Em suma, o contrato social rousseauniano é o modelo de instituição estatal através do qual cada povo, por meio da manifestação de sua vontade, constituirá um estado racional, em que predominarão a igualdade e a liberdade. Há, nesse sentido, uma solução utópica no pensamento do mestre genebrino, haja vista que ele acredita na bondade natural dos homens e idealiza um futuro perfeito. Não obstante, de acordo com Rousseau, o objetivo do contrato é “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda força comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, não obedeça, portanto, senão a si mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente. (ROUSSEAU, 2001, p. 24)”
É esse o objetivo do contrato social de Rousseau: oferecer dentro do estado político a mesma liberdade e igualdade que o homem possuía em seu estado de natureza, anterior ao estado de guerra. Seria possível argumentar, no entanto, que, dentro do estado político, o homem não teria a mesma liberdade de outrora, porque sua vontade estaria subordinada à vontade geral, mas Rousseau refutaria com a seguinte afirmação: cada qual, dando-se a todos, não se dá a ninguém, e, como não existe um associado sobre quem não se adquira o mesmo direito que lhe foi cedido, ganha-se o equivalente de tudo o que se perde e maior força para se conservar o que se tem. (ROUSSEAU, 2001, p. 25)
“O contrato social é, portanto, a base de toda sociedade civil, e é na natureza desse ato que cumpre procurar a base da sociedade que ele forma.” (ROUSSEAU, 1968, p. 555). Isto significa dizer que, para garantir a igualdade e liberdade de todos, é necessário que todos se submetam à vontade geral – é essa a única cláusula do contrato rousseauniano: “a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, em favor de toda a comunidade.” (ROUSSEAU, 2001, p. 24 – 25)
Para Rousseau, mesmo a própria vida é alienável em vontade do Estado, ao contrário de Hobbes, em que a vida é inalienável. Contudo, enquanto para Hobbes o homem está “nu” diante do Soberano – que se encontra além do contrato, para Rousseau, o Soberano possui os mesmos direitos e deveres que os contratantes. Ressalta-se, ainda, que o contrato de Rousseau não é firmado no estado de natureza, mas sim a partir do estado de guerra; porém, tanto o estado de guerra pré-estatal de Hobbes, quanto no pós-revolucionário de Rousseau, o homem conserva sua liberdade e mantém-se igual aos demais.
Uma última observação a ser feita no tocante ao contrato rousseauniano é que, ao contrário de Hobbes, os homens, ao aceitarem fazer parte do contrato, não o fazem egoisticamente, mas sim com o intuito de livrar todos dos males gerados pelo estado de guerra e pelo primeiro contrato. Rousseau concebe, em Do Contrato Social, a Utopia do século XVIII, pois delineia um sistema planejado de uma sociedade ideal, instituída pelo contrato, em que se aboliriam as classes [ricos e pobres] e todos trabalhariam em favor do bem comum: o Estado. É o contrato rousseauniano, que repudia a propriedade privada, que servirá de base para a doutrina mais influente do século XIX: o socialismo.
O Contrato para Locke
Locke segue o modelo hobbesiano do argumento contratualista, mas como discorda profundamente o absolutismo, vai incluir expressamente entre as tarefas da sua análise contratualista a formulação de critérios precisos, através dos quais seja possível: distinguir claramente um poder legítimo de um poder ilegítimo; definir a amplitude de competências e os limites do exercício do poder político. Todos esses critérios estão interligados e obrigam Locke a reformular o argumento contratualista, começando por redesenhar o ponto de partida, o estado de natureza. Numa perspectiva diametralmente oposta à de Hobbes, Locke atribui aos indivíduos, no estado de natureza, direitos básicos inalienáveis por qualquer contrato: o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Note-se que este direito natural à propriedade, no sentido de um direito a fazer seus, pelo trabalho, os bens sem dono, se distingue claramente da justificação contratualista de Hobbes e mesmo de alguns jus naturalistas, como Grócio e Pufendorf. O homem natural de Locke vive já num estado socializado, em que as leis naturais regulam o comportamento dos indivíduos já possuem os direitos fundamentais no estado de natureza, que motivos podem ter para celebrar um contrato que dê origem ao poder político? As razões para abandonar o estado de natureza prendem-se com a insegurança e a incerteza que o homem tem na defesa dos seus direitos à vida, à liberdade e à prosperidade (Locke, STG, §§124-126). Isto é assim porque a lei natural precisa ser especificada para poder regulamentar, com eficácia, a interação social em cada situação concreta. Falta ainda, no estado de natureza, além dessa instância legisladora, um juiz imparcial e reconhecido por todos, que possa arbitrar, com justiça, todas as questões pendentes. O contrato social, em Locke, dá origem à constituição de uma sociedade política, na medida em que cada indivíduo se obriga contratualmente a ceder o exercício da defesa de seus direitos fundamentais ao corpo político. Dá-se apenas a transferência da defesa destes direitos, por razões de ordem pragmática, para instituições especialmente criadas para este fim num quadro constitucional. O poder político, em Locke, não reside num soberano absoluto com autorização contratual, como em Hobbes, nem é parceiro de qualquer duplo contrato, como nas teorias jus naturalistas. Entre o poder político e o povo de reinar uma relação de confiança: o legislador é fiel depositário do direito de soberania do povo que lhe é confiado; e o governo administra o poder político da comunidade, nas qualidade de comissário, no quadro da constituição. (Locke, STG, §95).
Qual a relação desses autores com o Jus naturalismo?
Thomas Hobbes é considerado por muitos o precursor do positivismo jurídico, visto que, sua idéias representam um verdadeiro divisor de águas para a época, já que este não aceita a existência de vários direitos naturais anteriores ao Estado, mas somente de um: o direito à legitima defesa. Por isso, Hobbes não é considerado um jus naturalista tradicional.
Sendo assim, pela necessidade de se controlar as paixões e crenças desse homem, cuja condição natural é dominada pelas fantasias de seu mundo mental imaginário, deve-se criar o Estado, que, segundo Hobbes, seria um homem artificial (O Leviatã), cuja força ultrapasse a de muitos homens naturais para garantir sua segurança, não apenas contra o inimigo comum, mas também contra as suas próprias paixões hedonistas. Évisível, portanto, que Thomas Hobbes parte de uma definição negativa da natureza humana para justificar a necessidade do Estado.
Se Hobbes é considerado o precursor do positivismo jurídico, Locke, por sua vez, é o pai do Estado Liberal. Este, advindo de família burguesa e intensamente envolvido com o movimento iluminista, se mostra altamente propenso às ideologias liberais do período.Ao contrário de Hobbes, John Locke, além de ser liberal, é um jus naturalista tradicional, no sentido de que, este, acredita que existem direitos naturais anteriores ao Estado Civil. Tal fato se mostra verossímil ao se analisar a crença de Locke nas leis naturais, que se antepõem a sociedade civil, ou seja, caso ocorram danos a tais direitos naturais, pode haver retaliação afim de se proteger estes direitos. A  priori, Rousseau buscou analisar o passado humano visando explicar por que o homem abandonou seus instintos, inocência e bondade natural se socializando com outros semelhantes, criando, assim, desigualdades, desafetos e hedonismos. Dizia Rousseau, que o homem primitivo não conhecia a sociedade, não haviam vínculos entre os homens, ou seja, cada um vivia isoladamente. Tal homem original não possuía razão, mas sim o chamado ‘amor de si’, sendo por isto, naturalmente bom e não podendo se tornar mal já que não há sociedade que o corrompa. Neste ponto, existe um contraste nítido com a teoria antropológica de Hobbes, visto que, para este, o homem é falho e possui uma natureza malévola por natureza.
Diferentemente de Hobbes e Locke, Rousseau acredita que o estado de natureza se divide em dois momentos. No primeiro momento, os homens vivem isolados, não há interações sociais, ninguém mandava, obedecia ou trabalhava, havia plena igualdade e liberdade para todos. Desta forma, a felicidade humana se constituía plenamente, em razão do fato de que, nesta fase, encontrava-se o ‘bom selvagem’, este que possuía o ‘amor de si’, isto é, um instinto de auto conservação, altruísmo e piedade perante os seus semelhantes. Em suma, todos tem direitos e são soberanos de si mesmos.
REFERÊNCIAS:
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil. 3ª Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Col. Os Pensadores.
MONTAIGNE, Michel de. Ensayos: Libro 1. Edición digital basada en la de París, Casa Editorial Garnier Hermanos, [s.a.]. Disponível para download em:http://www.scribd.com.
PLAUTO. In: Asinaria. Disponível em: http://www.thelatinlibrary.com/. Acesso em: 30/04/10.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Trad.: Rolando Roque da Silva. Disponível para download em: www.ebooksbrasil.com. Edição Ridendo Castigat Mores, 2001.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Du Contrat Social ou Principes du Droit Politique. Une édition produite à partir du texte publié en 1762. Disponível para download em:www.4shared.com.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e fundamentos sobre a desigualdade entre os homens. Publicações Europa-América. Mem Martins, 1976.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os Devaneios do Caminhante Solitário. Trad.: Julia da Rosa Simões. Porto Alegre: L & PM, 2008.
VIAMONTE, Carlos Sanchez. El poder constituyente. Buenos Aires: Editorial Bibliográfica Argentina, s/d.

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