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DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 123 1.6.1.4. Disposies finais ................................................................................ 36 2. SUSPENSÌO CONDICIONAL DA PENA ........................................................ 41 2.1. Conceito ................................................................................................. 41 2.2. Requisitos objetivos............................................................................... 42 2.3. Requisitos subjetivos ............................................................................. 42 2.4. Espcies de sursis e condies ............................................................... 43 2.5. Revogao do sursis, prorrogao do prazo e cumprimento das obrigaes....................................................................................................... 44 3. LIVRAMENTO CONDICIONAL ..................................................................... 47 3.1. Conceito ................................................................................................. 47 3.2. Requisitos .............................................................................................. 48 3.2.1. Requisitos objetivos................................................................................ 48 3.2.2. Requisitos subjetivos .............................................................................. 49 3.3. Regras gerais relativas ao Livramento Condicional, revogao e extino do benefcio..................................................................................................... 50 4. MEDIDAS DE SEGURANA ......................................................................... 53 5. EFEITOS DA CONDENAÌO........................................................................ 56 5.1. Natureza e espcies ............................................................................... 56 5.2. Reabilitao ........................................................................................... 58 5.2.1. Sigilo das condenaes ........................................................................... 58 5.2.2. Efeitos secundrios extrapenais da condenao .......................................... 59 5.2.3. Pressupostos e requisitos para a Reabilitao ............................................. 59 6. EXECUÌO PENAL...................................................................................... 60 6.1. Dos regimes de cumprimento. Progresso e regresso de regime.......... 60 6.2. Das autorizaes de sada ...................................................................... 66 6.3. Da remio............................................................................................. 69 6.4. Disposies jurisprudenciais importantes sobre execuo penal............ 70 7. PUNIBILIDADE E SUA EXTINÌO .............................................................. 73 7.1. Introduo ............................................................................................. 73 7.2. Causas de extino da punibilidade diversas da prescrio .................... 74 7.3. Prescrio .............................................................................................. 78 7.3.1. Prescrio da pretenso punitiva .............................................................. 78 7.3.2. Prescrio da pretenso executria ........................................................... 86 7.3.3. Disposies importantes sobre a prescrio................................................ 88 8. AÌO PENAL NO CîDIGO PENAL ............................................................... 92 9. RESUMO .................................................................................................... 95 10. EXERCêCIOS DA AULA .......................................................................... 113 11. GABARITO............................................................................................ 123 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 123 Ol, meus amigos concurseiros! Hoje dia de entrarmos na ÒTeoria Geral da PenaÓ. Veremos as espcies de pena, sua cominao, aplicao e execuo. Estudaremos, ainda, a extino da punibilidade e a ao penal no Cdigo Penal. Esta uma aula especialmente importante para aqueles que pretendem fazer a segunda fase de Direito Penal, pois os temas aqui trabalhados so cobrados em praticamente todas as peas prtico- profissionais. Se voc no vai fazer a segunda fase de Direito Penal e est sem tempo, sugiro estudar diretamente pelo resumo, pois pode te poupar muito tempo! Bons estudos! Prof. Renan Araujo DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 123 1. DAS PENAS 1.1. CONCEITO A pena criminal , acima de tudo, um castigo1. Trata-se de um mal que se aflige a algum em razo da prtica de um delito2. O conceito no se confunde, porm, com os fins (ou finalidades) da pena. A pena possui como pressuposto de sua aplicao a culpabilidade do agente3. J as medidas de segurana no possuem a culpabilidade como pressuposto de sua aplicao (at porque o agente no plenamente imputvel, no possuindo, portanto, culpabilidade), mas sim a periculosidade. Isto importante! A pena pode ser conceituada como a resposta que a sociedade d ao indivduo que transgride a ordem jurdico-penal estabelecida, e consiste na privao ou restrio de um bem jurdico do condenado (liberdade, patrimnio, etc.), de forma a castig-lo e reeduc-lo. 1.2. PRINCêPIOS Alguns princpios norteiam a Teoria Geral da Pena: a) Reserva legal ou legalidade estrita Ð Somente a Lei (em sentido estrito) pode cominar penas: ÒNulla poena sine legeÓ. Est previsto no art. 5¡, XXXIX da Constituio e art. 1¡ do CP; b) Anterioridade Ð A Lei que prev a pena para a conduta deve ser anterior prtica do crime: ÒNulla poena sine praevia legeÓ. Tambm est previsto no art. 5¡, XXXIX da Constituio e art. 1¡ do CP, sendo, juntamente com o princpio da reserva legal, subprincpios do princpio da LEGALIDADE; c) Intranscendncia da pena Ð A pena deve ser cumprida somente pelo condenado, no podendo, em caso de morte deste, ser transferida aos seus familiares, salvo a obrigao de reparar o dano e o perdimento de bens, que podem ser cobrados dos sucessores at o limite do patrimnio transferido pelo condenado falecido. CUIDADO: A pena de multa, embora patrimonial, no pode ser cobrada dos sucessores! d) Inevitabilidade ou inderrogabilidade da pena Ð Presentes os requisitos para a condenao, a pena no pode deixar de ser imposta e cumprida. mitigado, atualmente, por institutos como o sursis, o livramento condicional, etc.; 1 BATISTA, Nilo; ZAFFARONI, Eugnio Ral. Direito Penal brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Revan, 2011. Tomo I, p. 99. 2 MIR PUIG, Santiago. Introduccin a las bases del Derecho penal. 2. ed. Montevideo, Buenos Aires: Ed. B. de F., 2003, p. 49. 3 DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal, parte geral. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2007. tomo I, p. 46-47 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.brPágina 5 de 123 e) Princpio da humanidade ou humanizao das penas Ð A pena no pode desrespeitar os direitos fundamentais do indivduo, violando sua integridade fsica ou moral, e tambm no pode ser de ndole cruel, desumano ou degradante (art. 5¡, XLIX e XLVII da Constituio); f) Princpio da proporcionalidade Ð A sano aplicada pelo Estado deve ser proporcional gravidade da infrao cometida e tambm deve ser suficiente para promover a punio ao infrator e sua reeducao social; g) Princpio da individualizao da pena Ð A pena deve ser aplicada de maneira individualizada para cada infrator em cada caso especfico. Essa individualizao se d em trs fases distintas: a) cominao: O legislador deve prever um raio de atuao para o Juiz aplicar a pena no caso concreto, estabelecendo penas mnimas e mximas, de forma que o Juiz possa aplicar a quantidade de pena que achar conveniente no caso concreto; b) aplicao: Saindo da esfera legislativa, passamos esfera judicial, segunda etapa, que consiste na efetiva aplicao individualizada da pena, que ser imposta conforme as circunstncias do crime e os antecedentes do ru, de acordo com a margem estabelecida pelo legislador; c) Na terceira e ltima fase temos a aplicao deste princpio da na execuo da pena (esfera administrativa), de forma que o cumprimento da pena, progresso de regime, concesso de benefcios devem ser analisados no caso concreto, e no abstratamente, pois entende-se que Òcada caso um casoÓ, e no cabe ao legislador retirar do Juiz a possibilidade de analis-lo e proceder da forma que melhor atenda aos anseios da sociedade. Est previsto no art. 5¡, XLVI da Constituio da Repblica. 1.3. FINALIDADE: TEORIAS Quanto finalidade da pena, trs teorias surgiram: 1.3.1. TEORIA ABSOLUTA E SUA FINALIDADE RETRIBUTIVA Para esta teoria, pune-se o agente simplesmente porque ele cometeu uma transgresso ordem estabelecida e deve ser castigado por isso. No h nenhuma finalidade educacional de reinsero do indivduo vida social. A pena mero instrumento para a realizao da vingana estatal. Trata-se de um imperativo categrico de Justia ou de Moral (se delinquiu, deve ser punido, independentemente de qualquer outra finalidade).4 1.3.2. TEORIA RELATIVA E SUA FINALIDADE PREVENTIVA Pune-se o agente no para castig-lo, mas para prevenir a prtica de novos crimes. Essa preveno pode ser: 4 BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera reimpressin. Bogot, 1996, p. 12 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 123 Preveno Geral Ð Busca controlar a violncia social, de forma a despertar na sociedade o desejo de se manter conforme o Direito. Pode ser negativa5, quando busca criar um sentimento de medo perante a Lei penal, ou positiva, quando simplesmente se busca reafirmar a vigncia da Lei penal. Preveno especial Ð No se destina sociedade, mas ao infrator, de forma a prevenir a prtica da reincidncia. Tambm pode ser negativa, quando busca intimidar o condenado, de forma a que ele no cometa novos delitos por medo, ou positiva, quando a preocupao est voltada ressocializao do condenado (Infelizmente, no h uma preocupao com isto na prtica). 1.3.3. TEORIA MISTA (UNIFICADORA OU ECLTICA OU UNITçRIA) E SUA DUPLA FINALIDADE Aqui, entende-se que a pena deve servir como castigo (punio) ao infrator, mas tambm como medida de preveno, tanto em relao sociedade quanto ao prprio infrator (preveno geral e especial). Alm de consagrada na maioria dos pases ocidentais6, foi a adotada pelo art. 59 do CP, que diz: Art. 59 - O juiz, atendendo culpabilidade, aos antecedentes, conduta social, personalidade do agente, aos motivos, s circunstncias e consequncias do crime, bem como ao comportamento da vtima, estabelecer, conforme seja necessrio e suficiente para reprovao e preveno do crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 1.4. Espcies Quanto s espcies, as penas podem ser: a) Privativas de liberdade Ð Retiram do condenado o direito liberdade de locomoo, por determinado perodo ( vedada pena de carter perptuo, art. 5¡, XLVII, b da Constituio). Mximo de 30 anos para crimes (art. 75 do CP) e de 05 anos para contravenes penais (art. 10 da Lei de Contravenes Penais); b) Restritivas de direitos Ð Em substituio pena privativa de liberdade, limitam (restringem) o exerccio de algum direito do condenado. Esto previstas no art. 43 do CP e em alguns dispositivos da Legislao Especial; c) Pena de multa Ð Recai sobre o patrimnio financeiro do condenado; d) Restritiva de liberdade Ð Restringem, mas no retiram o direito de locomoo do condenado. Na verdade, trata-se de uma espcie de 5 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general. Madrid: Civitas, 1997. tomo I, p. 91. 6 DOS SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal, Parte Geral. Curitiba: Ed. Lumen Juris, 2008, p. 470 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 123 pena restritiva de direitos. Exemplo: Proibir o marido de se aproximar da casa da ex-esposa no caso de violncia domstica; e) Penas corporais Ð Trata-se de castigos aplicados ao corpo do indivduo. espcie de pena vedada pela Constituio Federal (art. 5¡, XLVII, e). O CP previu, em seu art. 32, as penas privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa. Este quadro esquemtico vai ajudar na compreenso de vocs: 1.5. Penas em espcie 1.5.1. Privativa de liberdade Como j vimos, o Direito Penal ptrio admite trs espcies de penas privativas de liberdade: recluso, deteno e priso simples (somente para as contravenes penais). O regime de cumprimento de cumprimento da pena est previsto no art. 33, ¤ 1¡ do CP, e pode ser fechado, semiaberto ou aberto7. 7 Art. 33 - A pena de recluso deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de deteno, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferncia a regime fechado. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 1¼ - Considera-se: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) regime fechado a execuo da pena em estabelecimento de segurana mxima ou mdia; b) regime semiaberto a execuo da pena em colnia agrcola, industrial ou estabelecimento similar; c) regime aberto a execuo da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 123 O regime inicial de cumprimento da pena (fechado, semiaberto ou aberto) tem como regra o seguinte: pena de recluso Ð Qualquer regime inicial; pena de deteno Ð Regime inicial somente semiaberto ou aberto. A fixao, em concreto, do regime inicial de cumprimento da pena ir variar conforme trs fatores: reincidncia, quantidade da pena e circunstncias judiciais. Alm disso, a prpria Lei estabelece que a pena seja executada de forma progressiva (de um regime mais gravoso para outro, menos gravoso), ressalvada a hiptese de regresso (passagem de um regime menos gravoso para outro, mais gravoso), em qualquer caso, atendendo-se ao mrito do condenado, nos termos do art. 33, ¤¤ 2¡, 3¡ e 4¡ do CP.8 CUIDADO! O STJ possui entendimento no sentido deque possvel a fixao do regime semiaberto aos condenados que sejam reincidentes, desde que as circunstncias judiciais sejam favorveis. Vejamos: Smula 269 do STJ: admissvel a adoo do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favorveis as circunstncias judiciais. 1.5.1.1. Regras do regime fechado As regras do regime fechado so, basicamente, trs: a) Submisso a exame criminolgico9 inicial (O STJ passou a entender que ele agora facultativo Ð SòMULA 439 DO STJ); b) Submisso a trabalho durante o dia e descanso isolado durante a noite; c) Trabalho em comum (junto com outros presos) dentro do estabelecimento, SENDO ADMISSêVEL O TRABALHO EXTERNO em obras pblicas (Necessrio cumprimento de ao menos 1/6 da pena). 8 ¤ 2¼ - As penas privativas de liberdade devero ser executadas em forma progressiva, segundo o mrito do condenado, observados os seguintes critrios e ressalvadas as hipteses de transferncia a regime mais rigoroso: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos dever comear a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado no reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e no exceda a 8 (oito), poder, desde o princpio, cumpri-la em regime semiaberto; c) o condenado no reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poder, desde o incio, cumpri-la em regime aberto. ¤ 3¼ - A determinao do regime inicial de cumprimento da pena far-se- com observncia dos critrios previstos no art. 59 deste Cdigo.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 4o O condenado por crime contra a administrao pblica ter a progresso de regime do cumprimento da pena condicionada reparao do dano que causou, ou devoluo do produto do ilcito praticado, com os acrscimos legais. (Includo pela Lei n¼ 10.763, de 12.11.2003) 9 O exame criminolgico tem por finalidade permitir a individualizao da pena (um dos princpios da pena) em sua terceira fase, em homenagem ao disposto no art. 5¡, XLVI da Constituio: XLVI - a lei regular a individualizao da pena e adotar, entre outras, as seguintes: DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 123 O trabalho durante o regime de cumprimento da pena obrigatrio, e a recusa caracteriza falta grave, nos termos do art. 50, IV da LEP (Lei de Execues Penais), acarretando impossibilidade de obteno da progresso de regime e livramento condicional. Em resumo: O preso pode se negar a trabalhar (at porque, no h como obrig-lo fisicamente a isso), mas a recusa injustificada (se tiver problemas de sade, por exemplo, uma recusa justificada) gera consequncias gravssimas para ele. O trabalho do preso remunerado e ele tem direito, ainda, aos benefcios da previdncia social. Isso bastante importante, pois o preso foi condenado a uma pena Òprivativa de liberdadeÓ, ou seja, o nico direito do qual ele est privado a liberdade. Assim, o preso no se tornou um escravo do Estado, devendo receber pelo seu trabalho, como qualquer pessoa. 1.5.1.2. Regras do Regime semiaberto O regime semiaberto bem menos gravoso que o regime fechado, e possui como regras: a) Exame criminolgico inicial (O STJ passou a entender que ele agora facultativo Ð SòMULA 439 DO STJ); b) Trabalho diurno em colnia agrcola, industrial ou estabelecimento similar, com descanso isolado noite; c) Admisso do trabalho externo, BEM COMO FREQUæNCIA A CURSOS SUPLETIVOS PROFISSIONALIZANTES, DE INSTRUÌO DE SEGUNDO GRAU OU SUPERIOR. Vejam que as regras, embora parecidas, no so idnticas. Nesse regime o condenado pode trabalhar fora do estabelecimento de cumprimento da pena (em qualquer trabalho, e no apenas em obras pblicas), bem como estudar. Alm disso, o preso deve ficar recolhido em estabelecimento prprio (colnia agrcola, industrial ou similar), e no em presdio comum, onde se encontram os presos em regime fechado. Mas e se no houver vagas nos estabelecimentos especiais (colnias), o que fazer? O STF entende que se no houver vagas no regime semiaberto, o preso no pode arcar com essa deficincia do Estado, pois um direito seu. Desta forma, no pode o preso continuar no regime fechado. Por consequncia, a lgica determina sua transferncia diretamente para o regime aberto ou priso domiciliar. Alm disso, na fixao do regime inicial de cumprimento da pena, no pode o Juiz fixar regime mais gravoso do que aquele DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 123 abstratamente previsto tendo em conta a pena aplicada, tendo como base unicamente a gravidade abstrata do delito. O STF possui dois verbetes de smula muito importantes sobre o tema: SòMULA 718 A OPINIÌO DO JULGADOR SOBRE A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME NÌO CONSTITUI MOTIVAÌO IDïNEA PARA A IMPOSIÌO DE REGIME MAIS SEVERO DO QUE O PERMITIDO SEGUNDO A PENA APLICADA. SòMULA 719 A IMPOSIÌO DO REGIME DE CUMPRIMENTO MAIS SEVERO DO QUE A PENA APLICADA PERMITIR EXIGE MOTIVAÌO IDïNEA. 1.5.1.3. Regras do regime aberto O regime aberto o mais brando dos trs regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade, e baseia-se no senso de responsabilidade e autodisciplina do preso. Regras bsicas: a) Trabalho diurno fora do estabelecimento e sem vigilncia, frequncia curso ou outra atividade autorizada, bem como recolhimento noturno e nos dias de folga; b) Transferncia para regime mais gravoso no caso de prtica de crime doloso, frustrao dos fins da execuo (basicamente, a fuga), ou ausncia do pagamento da pena de multa. Onde se d o recolhimento do preso, e o que ocorre se no houver vagas no regime aberto? O recolhimento noturno do preso no regime aberto se d em casa de albergado, que um prdio urbano, separado dos demais estabelecimentos prisionais e que no deva possuir caractersticas de priso, principalmente no que se refere existncia de obstculos fsicos para a fuga. Caso no haja vagas no regime semiaberto (so rarssimas as casas de albergado), o STF entende que o preso deve ser posto em liberdade, at que surja vaga. O STJ, por sua vez, entende que deve o preso ficar recolhido priso domiciliar10. 10 (...) 4. Admite-se a concesso, em carter excepcional, da priso domiciliar na hiptese de falta de vagas em estabelecimento adequado para o cumprimento da pena em regime aberto, que no justifica a permanncia do condenado em condies prisionais mais severas. Precedentes. (...) (REsp 1201880/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 07/05/2013, DJe 14/05/2013) DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 123 1.5.1.4. Disposies gerais acerca dos regimes de cumprimento da pena Conforme havia dito a vocs, a pena privativa de liberdade atinge somente um direito do preso: a liberdade (bvio, no?). Assim, o preso mantm todos os direitos inerentes pessoa humana, como o respeito sua integridade fsica e moral. O respeito integridade fsica e moral, inclusive, possui ndole constitucional (art. 5¡, XLIX da Constituio).11 Em razo disso, o STF decidiu regulamentar o uso de algemas, editando a smula vinculante n¡ 11, que diz: SòMULA VINCULANTE N¼11 Sî LêCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTæNCIA E DE FUNDADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO Ë INTEGRIDADE FêSICA PRîPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL DO AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÌO OU DO ATO PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUêZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. O direito ao recebimento de salrio pelo seu trabalho realizado no estabelecimento prisional, bem como o direito integrar a previdncia social tambm so assegurados ao preso, conforme foi dito.12 E se antes do incio do cumprimento da pena sobrevier ao condenado doena mental? O CP diz que o condenado, neste caso, deve ser recolhido a Hospital de custdia e tratamento psiquitrico, ou outro estabelecimento adequado.13 CUIDADO! Se a doena mental sobrevm aps o incio da execuo da pena, aplica-se o art. 183 da LEP, que autoriza o Juiz a substituir a pena privativa de liberdade por medida de segurana. O Cdigo Penal estabelece, ainda, o fenmeno da Detrao, que o abatimento do tempo de cumprimento da pena imposta, em razo do tempo que o condenado permaneceu preso provisoriamente, administrativamente ou internado nos estabelecimentos psiquitricos previstos no art. 41. Vejamos: 11 XLIX - assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral; 12 Art. 38 - O preso conserva todos os direitos no atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito sua integridade fsica e moral. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Art. 39 - O trabalho do preso ser sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefcios da Previdncia Social. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 13 Art. 41 - O condenado a quem sobrevm doena mental deve ser recolhido a hospital de custdia e tratamento psiquitrico ou, falta, a outro estabelecimento adequado. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 123 Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurana, o tempo de priso provisria, no Brasil ou no estrangeiro, o de priso administrativa e o de internao em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Por fim, h ainda a previso de regime de cumprimento de pena especial s presidirias mulheres, que devem ser recolhidas a estabelecimento prprio.14 Trata-se de regra que materializa o direito previsto no art. 5¡, XLVIII da constituio, que trata do cumprimento da pena em estabelecimentos prisionais adequados.15 Na Lei de Execues Penais, inclusive, h regramento especfico para o tratamento das presidirias gestantes e que estejam em fase de amamentao, bem como dispe sobre a existncia de creches para que as mes presidirias no sejam privadas da companhia de seus filhos, e vice-versa. (FGV Ð IX EXAME UNIFICADO DA OAB) O sistema punitivo brasileiro progressivo. Por meio dele o condenado passa do regime inicial de cumprimento de pena mais severo para regime mais brando, at alcanar o livramento condicional ou a liberdade definitiva. A respeito da progresso de regime, assinale a afirmativa correta. A) O sistema progressivo brasileiro compatvel com a progresso Òpor saltosÓ, consistente na possibilidade da passagem direta do regime fechado para o aberto. B) O cumprimento da pena privativa de liberdade nos crimes hediondos uma exceo ao sistema progressivo. O condenado nesta modalidade criminosa deve iniciar e encerrar o cumprimento da pena no regime fechado, sem possibilidade de passagem para regime mais brando. C) A progresso est condicionada, nos crimes contra a Administrao Pblica, reparao do dano causado ou devoluo do produto do ilcito praticado com os acrscimos legais, alm do cumprimento de 1/6 da pena no regime anterior e do mrito do condenado. 14 Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento prprio, observando-se os deveres e direitos inerentes sua condio pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Captulo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 15 XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 123 D) O pedido de progresso deve ser endereado ao juzo sentenciante, que decidir independente de manifestao do Ministrio Pblico. COMENTçRIOS: A) No sistema brasileiro no se admite a progresso por saltos, de forma que progresso de regime deve sempre se realizar do regime mais gravoso para o regime imediatamente menos gravoso. B) A impossibilidade de progresso de regime nos crimes hediondos deixou de existir em 2006, com deciso do STF. Em 2007, a Lei 11.464/07 passou a possibilitar a progresso de regime para os crimes hediondos. C) Item correto. Os critrios do cumprimento de 1/6 da pena e do mrito do preso so genricos. Os demais esto previstos especificamente para este caso, nos termos do art. 33, ¤4¼ do CP: Art. 33 - (...) ¤ 4o O condenado por crime contra a administrao pblica ter a progresso de regime do cumprimento da pena condicionada reparao do dano que causou, ou devoluo do produto do ilcito praticado, com os acrscimos legais. (Includo pela Lei n¼ 10.763, de 12.11.2003) D) O pedido de progresso endereado ao Juiz da Execuo, nos termos do art. 66, III, b da LEP: Art. 66. Compete ao Juiz da execuo: (...) III - decidir sobre: (...) b) progresso ou regresso nos regimes; Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM) Helena, condenada a pena privativa de liberdade, sofre, no curso da execuo da referida pena, supervenincia de doena mental. Nesse caso, o juiz da execuo, verificando que a enfermidade mental tem carter permanente, dever a) aplicar o Art. 41, do CP, que assim dispe, verbis: Ò O condenado a quem sobrevm doena mental deve ser recolhido a hospital de custdia e tratamento psiquitrico ou, falta, a outro estabelecimento adequado.Ó b) aplicar o Art. 97, do CP, que assim dispe, verbis: Ò Se o agente for inimputvel, o juiz determinar sua internao (Art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punvel com deteno, poder o juiz submet-lo a tratamento ambulatorial.Ó c) aplicar o Art. 183 da LEP (Lei n. 7.210/84), que assim dispe, verbis: ÒQuando, no curso da execuo da pena privativa de DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 123 liberdade, sobrevier doena mental ou perturbao da sade mental, o Juiz, de Ofcio, a requerimento do Ministrio Pblico, da Defensoria Pblica ou da autoridade administrativa, poder determinar a substituio da pena por medida de segurana.Ó d) aplicar o Art. 108 da LEP (Lei n. 7.210/84), que assim dispe, verbis: ÒO condenado a quem sobrevier doena mental ser internado em Hospital de Custdia e Tratamento PsiquitricoÓ. COMENTçRIOS: Como o condenado j estava cumprindo pena quando sobreveio doena mental, deve ser aplicado o art. 183 da LEP, e no o art. 108. O art. 108 da LEP aplica-se apenas quando a doena mental surgeentre a condenao e o incio do cumprimento da pena. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. 1.5.2. Penas restritivas de direitos As penas restritivas de direitos so tambm chamadas de Òpenas alternativasÓ, pois se apresentam como uma alternativa aplicao da pena privativa de liberdade, muitas vezes desnecessria no caso concreto. So divididas em cinco espcies, conforme j adiantado, nos termos do art. 43 do CP. Duas so as caractersticas elementares das penas restritivas de direitos: autonomia e substitutividade.16 Por autonomia entende-se a impossibilidade de serem aplicadas cumulativamente com a pena privativa de liberdade. Por substitutividade entende-se o carter substitutivo das penas restritivas de direito, ou seja, elas no so previstas como pena originria para nenhum crime no Cdigo Penal, sendo aplicadas de maneira a substituir uma pena privativa de liberdade originariamente imposta, quando presentes os requisitos legais. Entretanto, as penas restritivas de direitos devem ser aplicadas somente se presentes alguns requisitos, que a doutrina divide em objetivos e subjetivos.17 Os primeiros referem-se ao crime em si, e penalidade imposta. Os ltimos esto ligados pessoa do criminoso. Esto previstos nos incisos do art. 44 do CP.18 16 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, 21¼ edio. So Paulo, 2015, p. 659/660 17 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 662/666 18 Art. 44. As penas restritivas de direitos so autnomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redao dada pela Lei n¼ 9.714, de 1998) I - aplicada pena privativa de liberdade no superior a quatro anos e o crime no for cometido com violncia ou grave ameaa pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; (Redao dada pela Lei n¼ 9.714, de 1998) II - o ru no for reincidente em crime doloso; (Redao dada pela Lei n¼ 9.714, de 1998) DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 123 pena restritiva de direitos; b) Pena superior a um ano = Substituio por pena de multa e uma pena restritiva de direitos, ou por duas restritivas de direitos. No caso de serem aplicadas duas restritivas de direitos, o condenado poder cumpri- las simultaneamente, se forem compatveis, ou sucessivamente, se incompatveis (art. 69, ¤ 2¡ do CP). ATENÌO! O art. 60, ¤ 2¡ do CP prev que: ¤ 2¼ - A pena privativa de liberdade aplicada, no superior a 6 (seis) meses, pode ser substituda pela de multa, observados os critrios dos incisos II e III do art. 44 deste Cdigo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984). Como conciliar este artigo com o art. 44, ¤ 2¡ do CP, que expressamente permite a substituio pela pena de multa nos casos de crime cuja pena seja igual ou inferior a um ano? Como fazer quando a pena privativa de liberdade for superior a seis meses, mas no superior a um ano? O entendimento majoritrio o de que o art. 44, ¤ 2¡, por ter sido includo pela Lei 9.714/98, sendo mais recente, portanto, que o art. 60, ¤ 2¡ (includo pela Lei 7.209/84), revogou este ltimo, de forma que a substituio da pena privativa de liberdade pela pena de multa pode ocorrer quando a pena aplicada no for superior a um ano.19 Pode ocorrer, no entanto, durante o cumprimento da pena restritiva de direitos, que o condenado descumpra a obrigao imposta pelo Juiz. Nesse caso, ocorrer o que se chama de RECONVERSÌO OBRIGATîRIA. Embora a lei diga ÒconversoÓ, a converso ocorreu da primeira vez, quando se converteu a pena privativa de liberdade em restritiva de direitos. O que acontece, agora, uma reconverso pena original. Nos termos do art. 44, ¤ 4¡ do CP: ¤ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrio imposta. No clculo da pena privativa de liberdade a executar ser deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mnimo de trinta dias de deteno ou recluso. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) Mas a Lei no injusta, de forma que se o condenado cumpriu parte da pena restritiva de direitos imposta, o tempo que ele cumpriu ser abatido da pena privativa de liberdade que ele cumprir em razo da reconverso (parte final do ¤ 4¡ do art. 44 do CP). 19 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 671/672 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 123 Entretanto, alm da reconverso obrigatria, h tambm hiptese de reconverso facultativa, nos termos do art. 44, ¤ 5¡ do CP: ¤ 5o Sobrevindo condenao a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execuo penal decidir sobre a converso, podendo deixar de aplic- la se for possvel ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) Nesse caso, o Juiz da execuo ir avaliar se o condenado pode cumprir a pena restritiva de direitos imposta juntamente com a pena privativa de liberdade (que o camarada acabou de receber). Se for possvel, o Juiz PODE manter a pena restritiva de direitos imposta e o condenado cumprir ambas, simultaneamente; se no for possvel, haver a reconverso para a pena privativa de liberdade anteriormente aplicada.20 EXEMPLO: Imagine que fulano tenha sido condenado a pena de 02 anos de deteno, substituda por restritiva de direitos consistente na prestao de servios comunidade. Enquanto cumpria a pena alternativa, fulano foi condenado a uma pena privativa de liberdade que no foi suspensa (sursis) nem convertida em restritiva de direitos. Nesse caso, o cumprimento de ambas invivel, pois fulano no pode ao mesmo tempo estar preso e cumprir a pena de prestao de servios comunidade. Assim, dever haver a reconverso da restritiva de direito em privativa de liberdade. Porm, se no exemplo acima, a pena restritiva de direitos imposta fosse de prestao pecuniria, no haveria nenhum impedimento ao cumprimento simultneo desta com a nova pena privativa de liberdade imposta, de forma que o Juiz da execuo poderia deixar de reconvert- la. CUIDADO! No se admite a reconverso se o condenado deixa de pagar a pena de multa, pois o CP s admite a reconverso no caso de descumprimento das penas restritivas de direitos e no no caso de descumprimento da pena multa. CUIDADO II! No se deve confundir pena de MULTA com pena de PRESTAÌO PECUNIçRIA. A primeira uma modalidade de pena, a outra uma espcie de pena RESTRITIVA DE DIREITOS. No primeiro caso, NÌO POSSêVEL A CONVERSÌO EM PRISÌO pelo no pagamento. No segundo caso POSSêVEL, conforme entendimento do STJ.21 20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 699 21 HC 133.942/MG, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 20/03/2012 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 123 (ii) Perda de bens e valores A perda de bens e valores, tal qual a pena de prestao pecuniria, uma modalidade de pena restritiva de direitos que atinge o patrimnio financeiro do condenado.23 Poder ter, como teto, dois parmetros: ¥ Montante do prejuzo causado ¥ Montante do proveito obtido pelo agente ou porterceiro com a prtica do delito Perceba, caro aluno, que esta pena s poder ser aplicada nas hipteses de crimes que gerem algum prejuzo ao sujeito passivo ou tragam algum benefcio ao sujeito ativo ou a terceira pessoa. No confundam a pena de perdimento de bens, art. 45, ¤ 3¡ do CP (modalidade de pena restritiva de direitos), com o confisco, previsto no art. 91, II do CP (perda de bens em razo da condenao). A pena de perdimento de bens incide sobre o patrimnio lcito do condenado, sendo, portanto, uma pena propriamente dita. J o confisco no pena, mas efeito da condenao, e incide sobre o patrimnio ilcito do agente, constitudo pelo produto do crime e pelos instrumentos do delito, desde que estes consistam em coisas cujo fabrico, alienao, uso, porte ou deteno constitua fato ilcito. (iii) Prestao de servios comunidade A pena de prestao de servios comunidade consiste, nos termos do art. 46, ¤¤ 1¡ e 2¡ do CP: Art. 46. A prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas aplicvel s condenaes superiores a seis meses de privao da liberdade. (Redao dada pela Lei n¼ 9.714, de 1998) ¤ 1o A prestao de servios comunidade ou a entidades pblicas consiste na atribuio de tarefas gratuitas ao condenado. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) ¤ 2o A prestao de servio comunidade dar-se- em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos 23 Est prevista no art. 45, ¤ 3¡ do CP: ¤ 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-, ressalvada a legislao especial, em favor do Fundo Penitencirio Nacional, e seu valor ter como teto - o que for maior - o montante do prejuzo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequncia da prtica do crime. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 123 congneres, em programas comunitrios ou estatais. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) De plano, vocs podem perceber que se trata de pena restritiva de direitos somente cabvel nas condenaes a pena privativa de liberdade superior a 06 meses. Embora o CP se refira a Òentidades pblicasÓ, a Doutrina entende que, semelhana do que ocorre com a pena de prestao pecuniria, esta pode ter como destinatria entidade privada, desde que possua destinao social.24 A Doutrina entende, ainda, que a pena no pode ser prestada em Igrejas, por no se tratar de servio comunidade, e pelo fato de que seria uma ofensa ao princpio do Estado laico (art. 19, I da Constituio). O ¤ 1¡ determina que a pena deva ser cumprida mediante a atribuio de tarefas gratuitas ao condenado. Ou seja, diferentemente do que ocorre no caso de trabalho realizado pelo preso no estabelecimento prisional, quando em cumprimento de pena privativa de liberdade, aqui o condenado no recebe nada pelo trabalho, exatamente porque esta a prpria pena. Na pena privativa de liberdade a execuo das tarefas no a pena (que a privao da liberdade), moÕtivo pelo qual naqueles casos o preso deve receber retribuio salarial. O ¤ 3¡ estabelece que as tarefas sejam atribudas de acordo com as aptides do condenado. Vejamos: ¤ 3o As tarefas a que se refere o ¤ 1o sero atribudas conforme as aptides do condenado, devendo ser cumpridas razo de uma hora de tarefa por dia de condenao, fixadas de modo a no prejudicar a jornada normal de trabalho. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) Assim, no pode o Juiz determinar a um pintor que preste servio de carpintaria em uma escola, pois no se enquadra dentro das suas aptides, sendo impossvel de ser cumprida. A pena no pode, ainda, ser vexatria, humilhante ou possuir qualquer outra caracterstica contrria sua finalidade. O sistema de cumprimento adotado pelo CP o da hora-tarefa, ou seja, cada hora de tarefa realizada ser computada como um dia da condenao. EXEMPLO: Imagine que fulano foi condenado a 08 meses de deteno, tendo sua pena sido convertida em restritiva de direitos, consistente na prestao de servios comunidade. Assim, cada hora-tarefa cumprida por fulano corresponder a um dia de cumprimento da pena. 24 Em nenhuma hiptese ser possvel a prestao de servios a entidades privadas que visem lucro. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 682 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 123 Entretanto, o ¤ 4¡ estabelece que se pena aplicada for superior a um ano, para que no se torne muito extensa, poder ser cumprida em menor tempo, mas nunca inferior metade. ¤ 4o Se a pena substituda for superior a um ano, facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior metade da pena privativa de liberdade fixada. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) Imagine, no exemplo anterior, que a condenao de fulano tenha sido a dois anos de recluso. Nesse caso, o CP possibilita que fulano realize duas horas-tarefa por dia, o que lhe far abater dois dias de cumprimento da pena, que ser cumprida na metade do tempo previsto. No entanto, o cumprimento no pode se dar em menos da metade do tempo previsto! (iv) Interdio temporria de direitos A pena de interdio temporria de direitos est prevista no art. 47 do CP, e pode consistir em: Art. 47 - As penas de interdio temporria de direitos so: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - proibio do exerccio de cargo, funo ou atividade pblica, bem como de mandato eletivo; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - proibio do exerccio de profisso, atividade ou ofcio que dependam de habilitao especial, de licena ou autorizao do poder pblico;(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) III - suspenso de autorizao ou de habilitao para dirigir veculo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)> IV - proibio de freqentar determinados lugares. (Includo pela Lei n¼ 9.714, de 1998) V - proibio de inscrever-se em concurso, avaliao ou exame pblicos. (Includo pela Lei n¼ 11.250, de 2011) As duas primeiras hipteses so modalidades de penas restritivas de direitos especficas, pois s podem ser aplicadas quando o crime for cometido no exerccio do cargo ou funo pblica, ou, na segunda hiptese, no exerccio de atividade que dependa de habilitao especial, licena ou autorizao do poder pblico. Esta a previso do art. 56 do CP: Art. 56 - As penas de interdio, previstas nos incisos I e II do art. 47 deste Cdigo, aplicam-se para todo o crime cometido no exerccio de profisso, atividade, ofcio, cargo ou funo, sempre que houver violao dos deveres que lhes so inerentes. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) EXEMPLO: Se um funcionrio pblico comete um crime de leso corporal, sem qualquer relao com o exerccio das funes, no pode lhe ser imposta a pena suspenso de exerccio de cargo ou funo pblica. Da mesma forma, se um mdico condenado pelo crime de DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 123 furto, no poder ser privado do exerccio de sua atividade, pois o crime praticado no guarda qualquer relao com o exerccio da atividade. No devemos confundir esta pena com o efeito da condenao previsto noart. 92, I do CP. A pena de suspenso de autorizao ou habilitao para dirigir veculo (inciso III) somente se aplica nos casos de crimes culposos cometidos no trnsito. Nos termos do art. 57 do CP: Art. 57 - A pena de interdio, prevista no inciso III do art. 47 deste Cdigo, aplica-se aos crimes culposos de trnsito. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Entretanto, com a edio do Cdigo de Trnsito Brasileiro (Lei 9.503/97), este dispositivo perdeu muito de sua utilidade, pois o CTB cuida com certa mincia da matria, inclusive no que tange aplicao desta pena de interdio. Entretanto, isto no tema para a nossa aula. CUIDADO! Esta pena no pode ser confundida com o efeito da condenao previsto no art. 92, III do CP: Art. 92 - So tambm efeitos da condenao: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) (...) III - a inabilitao para dirigir veculo, quando utilizado como meio para a prtica de crime doloso. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) A pena restritiva de direitos consistente na suspenso do direito de dirigir uma pena que se aplica aos crimes culposos cometidos no trnsito. J o efeito da condenao, consistente na inabilitao para dirigir, ocorre quando o veculo utilizado como meio para a prtica de crime doloso (atropelamento doloso, por exemplo).25 Por sua vez, a proibio de frequentar determinados lugares uma pena de difcil fiscalizao, pois, primeiramente, a Lei no estabeleceu quais so os lugares, ficando a critrio do Juiz26. Em segundo lugar, a ausncia de mecanismos hbeis para a realizao da fiscalizao dificulta demais a aplicao desta pena. Entretanto, a Doutrina entende que se trata de uma pena constitucional, e que mesmo a expresso vaga Òdeterminados lugaresÓ no ofende o princpio da legalidade, na medida em que esta uma pena alternativa, sendo originariamente prevista a pena privativa de liberdade, perfeitamente bem delimitada. Finalizando com chave-de-ouro, o inciso V (includo pela Lei 11.250/11) prev uma quinta modalidade de interdio de direitos, 25 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 688/689 26 Entende-se que o lugar deva ter alguma relao com o delito cometido, e que seja um lugar que exera influncia crimingena sobre o condenado (um lugar que propicie a ele a prtica do delito). BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 690/691 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 123 consistente na impossibilidade de o condenado se inscrever em concurso, avaliao ou exame pblico. A Lei no disse por quanto tempo, mas por lgica, em se tratando de uma pena substitutiva, esta pena ter como durao o mesmo perodo da pena privativa de liberdade aplicada. (v) Limitao de fim de semana Est regulamentada pelo art. 48 do CP: Art. 48 - A limitao de fim de semana consiste na obrigao de permanecer, aos sbados e domingos, por 5 (cinco) horas dirias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Pargrafo nico - Durante a permanncia podero ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribudas atividades educativas.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Trata-se de uma pena raramente aplicada, em razo da praticamente inexistncia, no Brasil, de casas de albergado e congneres. O STJ entende que se essa pena for aplicada, no havendo casa de albergado em que possa ser cumprida, no pode o condenado ser submetido a estabelecimento prisional, por ser medida mais gravosa que a pena imposta. (FGV Ð 2012 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM) Com relao aos critrios para substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, assinale a alternativa correta. a) A substituio nunca poder ocorrer se o ru for reincidente em crime doloso. b) Somente far jus substituio o ru que for condenado a pena no superior a 4 (quatro) anos. c) Em caso de descumprimento injustificado da pena restritiva de direitos, esta ser convertida em privativa de liberdade, reiniciando-se o cumprimento da integralidade da pena fixada em sentena. d) Se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituda por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. COMENTçRIOS: A) ERRADA: Item errado, pois embora esta seja a vedao prevista no art. 44, II do CP, o ¤3¼ do mesmo art. 44 excepciona a regra, estabelecendo que mesmo nestes casos o Juiz poder realizar a DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 123 substituio, desde que no se trate de reincidncia especfica (mesmo crime) e que a medida seja recomendvel. B) ERRADA: Item errado, pois o ru condenado por crime culposo pode ter sua pena substituda, independentemente da quantidade de pena aplicada, nos termos do art. 44, I do CP. C) ERRADA: Item errado, pois o tempo cumprido de pena restritiva de direitos ser abatido da pena privativa de liberdade a executar, nos termos do art. 44, ¤4¼ do CP. D) CORRETA: Item correto, pois esta a exata previso do art. 44, ¤2¼, parte final, do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA D. 1.5.3. Pena de multa A pena de multa pode ser conceituada como a penalidade (sano penal) consistente no pagamento de determinada quantia em dinheiro e destinada ao Fundo Penitencirio Nacional. Nos termos do art. 49, e seus ¤¤, do CP: Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitencirio da quantia fixada na sentena e calculada em dias-multa. Ser, no mnimo, de 10 (dez) e, no mximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 1¼ - O valor do dia-multa ser fixado pelo juiz no podendo ser inferior a um trigsimo do maior salrio mnimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salrio. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 2¼ - O valor da multa ser atualizado, quando da execuo, pelos ndices de correo monetria. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) O critrio utilizado para a fixao da pena de multa o do dia- multa. O valor do Òdia-multaÓ ser arbitrado pelo Juiz, em montante que varie entre 1/30 (um trigsimo) e 5 vezes o valor do maior salrio mnimo vigente Ë POCA DO FATO! Perceba, caro aluno, que a aplicao da pena de multa obedece a um sistema BIFçSICO, no qual o Juiz: a) Primeiro fixa a quantidade de dias-multa. b) Depois, fixa o valor de cada dia multa. O produto da multiplicao do nmero de dias multa pelo valor de cada dia multa ser o montante total da condenao. EXEMPLO: Imagine que um ru condenado ao pagamento de 10 dias- multa, considerando-se cada dia multa como 1/30 do maior salrio mnimo vigente (exemplificativamente, R$ 600,00). Assim, 1/30 de R$ 600,00 igual a R$ 20,00. Desta forma, o valor total da condenao ser de 10 (quantidade de dias-multa) x R$ 20,00 (valor do dia-multa). Logo, DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 123 a pena de multa ser fixada em R$ 200,00 (Duzentos reais). Este critrio possibilita o exerccio do princpio da individualizao da pena, pois confere ao Juiz uma amplitude enorme na fixao do valor da pena de multa. A Doutrina entende que27: A quantidade de dias-multa calculada com base no fato criminoso e na personalidade do agente(circunstncias do art. 59 do CP). O valor de cada dia-multa fixado com base na situao econmica do infrator. O art. 60 do CP prev que a pena de multa deve ser fixada levando- se em conta a situao econmica do ru, entretanto, essa fixao com base na situao econmica do ru se refere fixao do valor do dia- multa. Alm disso, seu ¤ 1¡ permite a majorao da pena de multa em at trs vezes, caso mesmo sendo aplicada ao mximo, o Juiz considere que ela ainda insuficiente. Art. 60 - Na fixao da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, situao econmica do ru. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 1¼ - A multa pode ser aumentada at o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situao econmica do ru, ineficaz, embora aplicada no mximo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Ressalto a vocs que esse sistema de aplicao da pena de multa genrico, ou subsidirio. Assim, nada impede que a Legislao Especial, e at mesmo o CP, prevejam situaes especiais nas quais o critrio para a aplicao da pena de multa seja outro. O pagamento da pena de multa deve se dar em at 10 dias a contar do trnsito em julgado da sentena, podendo o Juiz, considerando as circunstncias e a requerimento do condenado, permitir o parcelamento do seu pagamento (art. 50 do CP). O CP permite, ainda, que a pena de multa seja descontada diretamente na remunerao do condenado, salvo na hiptese de ter sido aplicada cumulativamente com a pena privativa de liberdade (¤ 1¡ do art. 50 do CP), E NÌO PODE INCIDIR SOBRE RECURSOS QUE SEJAM INDISPENSçVEIS AO SUSTENTO DO INFRATOR E DE SUA FAMêLIA (¤ 2¡ do art. 50 do CP). Conforme j havia adiantado a vocs, no cumprida espontaneamente a pena de multa, no pode haver converso em 27 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Curso de Direito Penal. JusPodivm. Salvador, 2015, p. 529/530 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 123 pena privativa de liberdade28, muito menos reconverso (porque nunca houve converso). Nesse caso, a multa ser considerada como dvida de valor e executada pelo procedimento de cobrana da dvida ativa da Fazenda Pblica (Execuo Fiscal).29 A Doutrina e a Jurisprudncia entendem, em razo disso, que embora o no cumprimento da pena de multa no possa gerar a converso em pena privativa de liberdade, isto no lhe retira seu carter de pena. Assim, aplicada pena de multa e sobrevindo a morte do infrator, estar extinta a punibilidade30, nos termos do art. 107, I do CP, j que no se pode estender os efeitos da pena aos sucessores do infrator, por fora do art. 5¡, XLV da Constituio, que ressalvou apenas a obrigao de reparar o dano e o perdimento de bens. Por fim, o art. 52 do CP prev que, sobrevindo doena mental ao condenado, ficar suspensa a pena de multa: Art. 52 - suspensa a execuo da pena de multa, se sobrevm ao condenado doena mental. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 1.6. Aplicao das penas A aplicao da pena o ato mediante o qual o Juiz, aps o processo criminal, proferindo sentena penal condenatria, efetivamente aplica a sano penal ao infrator. A doutrina o classifica como um ato discricionrio do juridicamente vinculado, ou seja, o Juiz possui certo grau de discricionariedade na fixao da pena, mas deve respeitar os limites estabelecidos pela Lei. O sistema de aplicao da pena estabelecido pelo CP o trifsico, no que tange pena privativa de liberdade, pois ela fixada aps a superao de trs etapas: Art. 68 - A pena-base ser fixada atendendo-se ao critrio do art. 59 deste Cdigo; em seguida sero consideradas as circunstncias atenuantes e agravantes; por ltimo, as causas de diminuio e de aumento. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 1.6.1. Etapas da fixao da pena privativa de liberdade Como vimos, na fixao da pena privativa de liberdade se adota um sistema trifsico. Da seguinte forma: SISTEMA TRIFçSICO DE APLICAÌO DA PENA PRIVATIVA DE 28 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 530/531 29 Art. 51 - Transitada em julgado a sentena condenatria, a multa ser considerada dvida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislao relativa dvida ativa da Fazenda Pblica, inclusive no que concerne s causas interruptivas e suspensivas da prescrio. (Redao dada pela Lei n¼ 9.268, de 1¼.4.1996) 30 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 531 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 123 LIBERDADE ¥ Fixao da pena-base ¥ Aplicao de agravantes e atenuantes ¥ Aplicao de causas de aumento e diminuio da pena 1.6.1.1. Fixao da pena-base Assim dispe o art. 59 do CP: Art. 59 - O juiz, atendendo culpabilidade, aos antecedentes, conduta social, personalidade do agente, aos motivos, s circunstncias e consequncias do crime, bem como ao comportamento da vtima, estabelecer, conforme seja necessrio e suficiente para reprovao e preveno do crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Essas circunstncias mencionadas no art. 59 so chamadas de circunstncias judiciais, e so levadas em considerao pelo Juiz para a fixao da pena-base. Quando favorveis ao agente, trazem a pena- base para prximo do mnimo previsto. Quanto mais desfavorveis, elevam a pena-base para mais prximo do mximo previsto. CUIDADO! Nesta etapa, ainda que as circunstncias judiciais sejam extremamente favorveis ao condenado, no pode o Juiz fixar a pena- base abaixo do mnimo legal. Alm disso, as circunstncias judiciais possuem um carter subsidirio, ou seja, s podem ser levadas em considerao se no tiverem sido consideradas na previso do tipo penal e no constituam circunstncias legais (agravantes ou atenuantes) ou causas de aumento e diminuio da pena. EXEMPLO: Imagine que Jos condenado por agredir um senhor de 85 anos. O Juiz no pode agravar a pena-base em razo das circunstncias do crime (superioridade de foras em relao vtima, que pessoa vulnervel), pois essa circunstncia prevista no art. 61, II, h do CP como uma circunstncia legal (agravante). Vejamos: Art. 61 - So circunstncias que sempre agravam a pena, quando no constituem ou qualificam o crime:(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - a reincidncia; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - ter o agente cometido o crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) (...) h) contra criana, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grvida; (Redao dada pela Lei n¼ 10.741, de 2003) Assim, se o Juiz aumentasse a pena-base por aquele motivo, e depois aplicasse a circunstncia legal agravante, haveria o que se chama de Bis in idem, que a considerao de uma mesma circunstncia duas vezes em prejuzo do ru, o que no permitido (Ou dupla punio pelo DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 123 mesmo fato). E se o crime for qualificado, e o agente tiver praticado o crime mediante a prtica de diversas qualificadoras? Nesse caso, o entendimento majoritrio o de que o Juiz deve levar apenas uma qualificadora em considerao para qualificar o crime, utilizando as demais como circunstncias agravantes (se previstas) ou circunstnciasjudiciais (que agravam a pena-base). EXEMPLO: Imaginem que Ronaldo cometeu homicdio por motivo torpe, mediante emboscada e com a finalidade de assegurar a ocultao de outro crime. Estas trs situaes (motivo torpe, emboscada e finalidade de assegurar a ocultao de outro crime) so qualificadoras do homicdio. Vejamos: ¤ 2¡ Se o homicdio cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; (...); IV - traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - recluso, de doze a trinta anos. Nesse caso, o Juiz considerar apenas um dos fatores para qualificar o crime, utilizando os demais como agravantes ou circunstncias judiciais que aumentam a pena-base. Como todas as trs situaes so circunstncias agravantes genricas, o Juiz dever utilizar as outras duas como agravantes. Nos termos do art. 61, II do CP: Art. 61 - So circunstncias que sempre agravam a pena, quando no constituem ou qualificam o crime:(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) (...) II - ter o agente cometido o crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) por motivo ftil ou torpe; b) para facilitar ou assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime; c) traio, de emboscada, ou mediante dissimulao, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossvel a defesa do ofendido; Portanto, a utilizao de algum fato como circunstncia judicial se d de maneira subsidiria, ou seja, somente se este fato ainda no tenha sido levado em conta na prpria definio do crime ou no se trate de circunstncia agravante ou causa de aumento de pena. Na fixao da pena-base, o Juiz deve partir do mnimo legal, e s poder sair desse patamar se estiverem presentes circunstncias desfavorveis, devendo fundamentar a sua deciso. DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 123 Algumas questes costumam ser bem polmicas. Vamos a elas: ¥ Maus antecedentes Ð O STJ e o STF entendem que a mera existncia de Inquritos Policiais e aes penais em curso, sem trnsito em julgado31, no podem ser considerados como maus antecedentes para aumento da pena-base, pois isso seria violao ao princpio da presuno de inocncia (smula 444 do STJ) ¥ Condenao anterior Ð No pode ser considerada como mau antecedente, pois j considerada como reincidncia (agravante). ¥ Consequncias do crime - Para que possam caracterizar circunstncia judicial apta a aumentar pena base, devem ser consequncias que no sejam as naturais do delito Ð EXEMPLO: O Juiz no pode aumentar a pena base de um homicdio consumado ao argumento de que a consequncia do crime foi grave, j que a vtima morreu. Ora, em todo homicdio consumado LîGICO que a vtima morreu! ¥ Gravidade abstrata do delito e aumento da pena base ou fixao de regime de cumprimento de pena mais gravoso Ð No pode o julgador aumentar a pena base apenas por entender que o delito , abstratamente, grave (pois isso j foi levado em conta pelo legislador ao fixar os patamares mnimo e mximo). Alm disso, tal circunstncia tambm no pode ser utilizada para a fixao de regime prisional mais gravoso que o naturalmente previsto para aquela quantidade de pena aplicada. Smula 718 do STF: Smula 718 do STF A OPINIÌO DO JULGADOR SOBRE A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME NÌO CONSTITUI MOTIVAÌO IDïNEA PARA A IMPOSIÌO DE REGIME MAIS SEVERO DO QUE O PERMITIDO SEGUNDO A PENA APLICADA. 31 No julgamento do HC 126.292 o STF decidiu que o cumprimento da pena pode se iniciar com a mera condenao em segunda instncia por um rgo colegiado (TJ, TRF, etc.). Isso significa que o STF relativizou o princpio da presuno de inocncia, admitindo que a ÒculpaÓ (para fins de cumprimento da pena) j estaria formada nesse momento (embora a CF/88 seja expressa em sentido contrrio). Isso significa que, possivelmente, teremos (num futuro breve) alterao nesta smula do STJ e na jurisprudncia consolidada do STF, de forma que aes penais em curso passem a poder ser consideradas como maus antecedentes, desde que haja, pelo menos, condenao em segunda instncia por rgo colegiado (mesmo sem trnsito em julgado). HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 17.2.2016. DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 123 1.6.1.2. Segunda fase: anlise das agravantes e atenuantes So circunstncias legais, que agravam ou atenuam a pena fixada inicialmente (pena-base). So consideradas ÒgenricasÓ por estarem previstas na parte geral do CP. Existem, entretanto, atenuantes especficas, previstas para determinados tipos penais, como, por exemplo, a prevista no art. 398 do CTB Ð Cdigo de Trnsito Brasileiro. As agravantes genricas esto previstas nos arts. 61 a 62 do CP, e SÌO UM ROL TAXATIVO (somente aquelas). Nos termos do CP, as agravantes genricas so: Art. 61 - So circunstncias que sempre agravam a pena, quando no constituem ou qualificam o crime:(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - a reincidncia; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - ter o agente cometido o crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) por motivo ftil ou torpe; b) para facilitar ou assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime; c) traio, de emboscada, ou mediante dissimulao, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossvel a defesa do ofendido; d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; e) contra ascendente, descendente, irmo ou cnjuge; f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relaes domsticas, de coabitao ou de hospitalidade, ou com violncia contra a mulher na forma da lei especfica; (Redao dada pela Lei n¼ 11.340, de 2006) g) com abuso de poder ou violao de dever inerente a cargo, ofcio, ministrio ou profisso; (Redao dada pela Lei n¼ 9.318, de 1996) h) contra criana, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grvida; (Redao dada pela Lei n¼ 10.741, de 2003) i) quando o ofendido estava sob a imediata proteo da autoridade; j) em ocasio de incndio, naufrgio, inundao ou qualquer calamidade pblica, ou de desgraa particular do ofendido; l) em estado de embriaguez preordenada. Agravantes no caso de concurso de pessoas Art. 62 - A pena ser ainda agravada em relao ao agente que: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - promove, ou organiza a cooperao no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - coage ou induz outrem execuo material do crime; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) III - instiga ou determina a cometer o crime algum sujeito sua autoridade ou no-punvel em virtude de condio ou qualidade pessoal; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 123 J as atenuantes genricas (favorveis ao ru) esto previstas no art. 65 do CP, e so um ROL MERAMENTEEXEMPLIFICATIVO (conforme preconiza o art. 66 do CP), ou seja, podem ser utilizadas outras circunstncias no previstas naquela lista. Nos termos do CP: Art. 65 - So circunstncias que sempre atenuam a pena: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentena; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - o desconhecimento da lei; (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) III - ter o agente:(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontnea vontade e com eficincia, logo aps o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequncias, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob coao a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influncia de violenta emoo, provocada por ato injusto da vtima; d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; e) cometido o crime sob a influncia de multido em tumulto, se no o provocou. Art. 66 - A pena poder ser ainda atenuada em razo de circunstncia relevante, anterior ou posterior ao crime, embora no prevista expressamente em lei. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) A Doutrina entende, ainda, que as agravantes s se aplicam aos crimes dolosos (majoritria), exceto a agravante da reincidncia.32 As circunstncias legais (agravantes e atenuantes genricas) so de aplicao obrigatria pelo Juiz. Em qualquer caso, a aplicao de uma agravante nunca pode levar a pena a ficar acima do mximo previsto para o crime. Assim, se o Juiz, ao fixar a pena base, a fixa no mximo legal, de nada servir a agravante genrica. Da mesma forma, sendo fixada a pena-base no mnimo legal, a aplicao da atenuante no ter qualquer utilidade, pois a pena j estar no mnimo legal (smula 231 do STJ). A Lei Penal, entretanto, no estabelece uma quantidade de diminuio ou aumento que deva ser aplicada. Esse critrio do Juiz. Com relao s agravantes, destacamos a reincidncia, por ser extremamente complexa. Vamos estud-la detalhadamente. (I)REINCIDæNCIA 32 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 516 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 123 A reincidncia a prtica de um crime aps ter o agente sido condenado por sentena irrecorrvel em outro crime, no Brasil ou no exterior (art. 63 do CP). No entanto, possvel a reincidncia no caso de prtica de contraveno aps ter sido o agente condenado por sentena irrecorrvel pela prtica de crime ou contraveno. No entanto, a prtica de crime aps a condenao criminal irrecorrvel por contraveno NÌO GERA REINCIDæNCIA. Assim: INFRAÌO ANTERIOR INFRAÌO POSTERIOR RESULTADO CRIME CRIME REINCIDENTE CRIME CONTRAVENÌO REINCIDENTE CONTRAVENÌO CONTRAVENÌO REINCIDENTE CONTRAVENÌO CRIME PRIMçRIO Resumindo, a prtica de contraveno penal aps a condenao irrecorrvel por qualquer infrao penal (contraveno ou crime), gera reincidncia. J a prtica de crime s gera a condio de reincidente se a condenao anterior se deu por outro crime, no gerando este efeito no caso de condenao anterior por contraveno. Assim, temos a absurda hiptese de algum praticar duas contravenes e ser reincidente. J no caso de prtica de um crime posteriormente a uma condenao por contraveno, SERç PRIMçRIO! Trata-se de brecha legislativa!33 Nos termos do art. 63 do CP: Art. 63 - Verifica-se a reincidncia quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentena que, no Pas ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Para que seja provada a reincidncia, necessrio que haja certido do cartrio judicial acerca da condenao anterior (STJ). A reincidncia pode ser: a) real Ð quando o agente comete novo crime aps cumprir a pena anterior. b) ficta ou presumida Ð quando o agente pratica novo crime aps a condenao anterior, pouco importando se tenha ou no cumprido a pena. O CP ADOTOU A TEORIA PRESUMIDA. A reincidncia pode, ainda, ser: 33 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 523 DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 123 a) genrica Ð os crimes praticados so diversos. b) especfica Ð os crimes praticados so previstos no mesmo tipo penal. Em regra, no se distingue uma da outra (genrica da especfica), mas h situaes em que a Lei estabelece consequncias diferentes para o reincidente genrico e para o especfico (essa ltima sempre considerada mais grave). A reincidncia s ocorrer se o crime novo for praticado no perodo de at cinco anos a partir da data EM QUE A PENA ANTERIOR SE EXTINGUIU (e no a data da sentena), computando-se o perodo de prova da suspenso condicional da pena ou do livramento condicional, se no tiver havido revogao. ESSE PERêODO SE CHAMA PERêODO DEPURADOR. CUIDADO! No crime anterior, se houve a extino da punibilidade antes de ser proferida sentena condenatria irrecorrvel, NUNCA HAVERç REINCIDæNCIA, pois no chegou a haver condenao irrecorrvel. Assim, temos o reincidente (aquele que se enquadra nas situaes explicadas) e o primrio (aquele que no se enquadra nestas situaes). Todavia, a Jurisprudncia criou a figura do TECNICAMENTE PRIMçRIO34, que aquele camarada que possui condenao definitiva, mas no reincidente, por no ter praticado crime aps a condenao definitiva no outro, mas antes desta, ou por ter praticado esta nova infrao aps o PERêODO DEPURADOR. Cuidado! Os crimes militares e os crimes polticos no geram reincidncia no campo penal comum.35 (II) DISPOSIÍES GERAIS ACERCA DA SEGUNDA FASE DE APLICAÌO DA PENA Havendo coexistncia entre uma agravante e uma atenuante, no h, a princpio, compensao de uma por outra, devendo prevalecer 34 Boa parte da Doutrina entende que essa figura no existe. A pessoa seria, apenas, PRIMçRIO. GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 524 35 Art. 64 - Para efeito de reincidncia: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) (...) II - no se consideram os crimes militares prprios e polticos.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 05 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 123 aquela que for considerada preponderante. Mas qual ser a preponderante? Ser preponderante: ¥ Menoridade do agente (ser menor de 21 anos poca do fato) Ð PREPONDERA SOBRE TODAS!36 ¥ Aquelas relativas aos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidncia. ¥ Outras circunstncias Nos termos do art. 67 do CP: Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidncia. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Mas e se a atenuante e a agravante se referirem a fatores que se encontram no mesmo patamar? Nesse caso, a sim haver a compensao
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